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MÓDULO 1 direito administrativo

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 Direito Administrativo - Prof. Evandro Borges 
O Direito Administrativo é fascinante e paradoxal, pois, de forma simultânea, harmoniza interesses contrapostos, tutelando os Interesses Públicos frente a eventuais arroubos egoísticos do interesse privado, ao mesmo tempo em que protege o administrado (cidadão) do sempre indesejável e intolerável arbítrio estatal. 
(Prof. Evandro Borges)
I. DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Noções Fundamentais de Direito Administrativo
	
Introdução
Desde o seu surgimento como ramo jurídico autônomo, o Direito Administrativo trata da complexa relação mantida entre o Estado e os cidadãos, sendo que, mais recentemente (após a Constituição Federal de 1.988), constata-se a ampliação de seu conteúdo, com o acréscimo de funções e serviços assumidos pelo Poder Público através de seu aparato estatal, aparato este a ser desvelado neste primeiro capítulo, onde trataremos dos aspectos gerais do Sistema Administrativo Brasileiro (o Regime Jurídico; as Fontes; as Regras Interpretativas e os Princípios que norteiam a atividade estatal).
1.1 Origem
O Direito Administrativo, como ramo autônomo da Ciência Jurídica (e do Direito Público), da maneira como é visto atualmente, teve seu nascimento nos fins do século XVIII, com a implantação do Estado de Direito, no período que se sucedeu à Revolução Francesa.
1.2. Conceito
Muitos e diversificados são os conceitos doutrinários atribuídos ao Direito Administrativo, mas uma boa síntese conceitual pode ser extraída da autora Maria Sylvia Di Pietro (2010, p. 47), segundo a qual o Direito Administrativo é “o ramo do direito público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública”. 
Vejamos os principais aspectos desse conceito.
Órgãos públicos: são centros de competência instituídos para o desempenho de funções estatais, por meio de seus agentes, cuja atuação é imputada à pessoa jurídica a que pertencem. 
Pessoas jurídicas administrativas: são autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e associações públicas (Administração Pública indireta). 
Pessoas jurídicas políticas: (ou simplesmente pessoas políticas) são a União, os Estados membros, o Distrito Federal e os Municípios (Administração Pública direta).
Atividade jurídica não contenciosa: isso implica dizer que a nossa jurisdição contenciosa é una, ou seja, é realizada somente pelo Poder Judiciário, de forma que as questões discutidas em sede administrativa poderão ser revistas em âmbito judicial.
Saiba disto!
Pode-se dizer que Direito Administrativo é o conjunto dos princípios jurídicos que tratam da Administração Pública, suas entidades, órgãos, agentes públicos, enfim, tudo o que diz respeito à maneira como se atingir as finalidades do Estado.
1.3 O Sistema administrativo brasileiro
Desde a primeira Constituição Republicana Brasileira (1891), o direito pátrio adota o sistema da jurisdição única, o que possibilita à Administração e aos administrados buscar soluções para as lides existentes entre ambos e correções para os atos administrativos viciados, dispondo do direito comum e da proteção do Poder Judiciário (que é uno na decisão de litígios de qualquer natureza, seja ela pública ou privada).
1.4. Regime Jurídico Administrativo (Regime Jurídico Público)
A Administração Pública, quando pratica suas atividades de interesse público, goza de prerrogativas, mas também se submete a sujeições.
PRERROGATIVAS são "privilégios" que não existem no direito privado e têm por finalidade a consecução do interesse coletivo, ou seja, são atos praticados exclusivamente pela Administração, mas não pelo particular. São exemplos a rescisão e a alteração unilateral de contratos administrativos; a aplicação de sanções administrativas ao infrator do contrato; a desapropriação etc.
SUJEIÇÕES são "restrições" a que a Administração, em regra, deve se sujeitar, e o particular não. Podemos citar, por exemplo, a realização de licitação. A Administração, em regra, deverá realizar licitação para aquisição de bens ou serviços, já os particulares, pretendendo a mesma contratação, só realizarão licitação se desejarem.
Saiba disto!
O Regime Jurídico Administrativo (regime jurídico público) é o conjunto de características de direito administrativo que coloca a Administração em uma posição de supremacia em relação ao particular, em razão das prerrogativas para a efetiva realização do interesse público, observadas determinadas restrições ou sujeições.
1.5 Fontes do Direito Administrativo
As Fontes são a exteriorização do direito, ou seja, como ele se revela, como se forma. Vejamos as principais fontes do Direito Administrativo.
Lei: em sentido amplo, é fonte primária do direito administrativo, e abrange essa expressão a Constituição, as leis ordinárias, delegadas e complementares, bem como os regulamentos administrativos.
Doutrina: estudo de caráter científico que os juristas realizam a respeito do direito, formando o sistema teórico aplicável ao Direito Positivo, seja com o propósito meramente especulativo de conhecimento e sistematização, seja com a finalidade prática de interpretar as normas jurídicas.
Jurisprudência: conjunto uniforme e constante de decisões judiciais sobre casos análogos (reiteração dos julgamentos em um mesmo sentido), que culmina por penetrar e integrar a própria Ciência Jurídica. Uma decisão isolada não constitui jurisprudência, pois é necessário que se repita e sem maiores variações.
Costumes: (também chamado de direito consuetudinário), refere-se à norma jurídica não escrita, originada da reiteração de certa conduta por determinado grupo de pessoas, durante certo tempo, com a consciência de sua obrigatoriedade. No Direito Administrativo, é considerada uma fonte secundária ou subsidiária.
1.6 Pressupostos interpretativos do Direito Administrativo 
Além da utilização analógica das regras do Direito Privado, deve-se considerar: 
- desigualdade jurídica entre a Administração Pública e os administrados: as leis administrativas visam a assegurar a supremacia do Poder Público sobre os indivíduos; 
- presunção de legitimidade dos atos emanados da Administração Pública: a Administração Pública fica dispensada de provar a legitimidade de seus atos; 
- necessidade do Poder Discricionário para que o Estado atinja seus objetivos: é o poder administrativo (sujeito à legalidade), não se confunde com arbitrariedade, que é contra a vontade da lei. 
1.7 Princípios norteadores da Administração Pública
No direito administrativo, os princípios são proposições anteriores e superiores às normas, que traçam vetores direcionais para os atos administrativos. Constituem-se, no alicerce, fundamento e base de um sistema, condicionam as estruturas subsequentes e lhes garante validade.
Os princípios não necessitam estarem presentes na legislação, pois têm validade e lançam seus efeitos independentemente de positivação. Se presentes na lei, diz-se que são normas principiológicas.
Importante lembrar que são de observância obrigatória, sendo mais grave transgredi-los do que a uma norma, pois implica ofensa a todo sistema de comandos.
Saiba disto!
Não existe hierarquia entre os princípios. Cada um tem sua importância e não se diz que um prevalece sobre o outro. Na aplicação ao caso concreto é que se acaba, indiretamente, conferindo mais valor a um ou a outro, mas isso não implica dizer que exista hierarquia. 
1.7.1 Princípios administrativos constitucionais
Estão previstos no art. 37 caput da CF/88, que "a Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência". Assimforma-se, pela inicial de cada princípio, a sigla LIMPE. 
Legalidade
Impessoalidade
Moralidade
Publicidade
Eficiência
Vejamos cada um deles.
Legalidade: prevê, no âmbito do direito administrativo, que o administrador público está, em toda sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum e deles não podendo se afastar, sob pena de praticar ato inválido e ficar sujeito à responsabilização disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. 
Nesse viés administrativo, a legalidade é denominada legalidade stricto sensu, vez que o administrador só pode fazer o que é previsto e permitido pela lei.
Já o particular (administrado) pode fazer tudo o que a lei não proíbe. A essa legalidade, que é aplicada ao particular, é dado o nome de lato sensu e tem assento constitucional no art. 5°, II, com a seguinte redação: "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".
Saiba disto!
Pelo princípio geral (lato sensu) da legalidade, o cidadão pode fazer tudo o que não esteja expressamente proibido em lei, já pelo princípio específico da legalidade (stricto sensu), a Administração Pública só pode agir conforme previsto/autorizado em lei.
Impessoalidade: esse princípio deve ser analisado sob dois aspectos. O primeiro traduz a idéia de que a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou a beneficiar pessoas determinadas, vez que é sempre o interesse público (geral e impessoal) que deverá nortear o comportamento do administrador. Outro aspecto importante refere-se aos atos praticados pelos agentes públicos, que devem ser imputados à Administração (e não ao administrador). Nesse aspecto, podemos asseverar que as realizações governamentais não são do funcionário ou da autoridade gestora, mas da entidade pública em nome de quem as produziu. Nessa lógica, para exemplificar, uma obra pública não é feita pelo Prefeito, mas sim pela Prefeitura Municipal, pois o gestor (Prefeito) é apenas um representante temporário da Administração (Prefeitura).
Tal princípio consta no art. 37, §1º, da CF/88: “A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”.
Cabe mencionar também o que diz a Lei 9.784/99, em seu art. 2º, parágrafo único, inciso III, segundo o qual, nos processos administrativos, serão observados os critérios de objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades.
	Saiba disto!
São duas as vertentes do princípio da impessoalidade. Na primeira, qualquer ato da Administração deve zelar pelo interesse público, não pessoal. Na outra, os atos são imputados à entidade a que se vincula o agente público, não a ele próprio.
Moralidade: além das questões legais, os atos administrativos devem pautar-se pela moralidade, afinal, como já diziam os romanos, “non omne quod licet honestum est” (nem tudo o que é legal é honesto). Todavia a análise da moralidade depende de uma série de fatores como cultura, lugar, clima, entre outros, pois nem sempre o que é moral e aceito em uma determinada região será em outra. 
Obedecendo a esse princípio, o administrador, além de seguir o que a lei determina, deve pautar sua conduta na moral comum, fazendo o que for mais útil ao interesse público. Tem de separar, além do bem do mal, legal do ilegal, justo do injusto, conveniente do inconveniente, também o honesto do desonesto. É a moral interna da instituição que condiciona o exercício de qualquer dos poderes, mesmo o discricionário.
Assim, em síntese, é possível dizer que o princípio da moralidade implica a observância, pelo administrador público, de padrões de ética e honestidade normalmente aceitos. 
A Constituição Federal faz diversas menções a esse princípio. Uma delas, prevista no art. 5º, LXXIII, trata da ação popular contra ato lesivo à moralidade administrativa. Em outra, o constituinte determinou a punição mais rigorosa da improbidade (art. 37, § 4º). Há ainda o art. 14, § 9º, em que se visa a proteger a probidade e a moralidade no exercício de mandato, e o art. 85, V, que considera a improbidade administrativa crime de responsabilidade. Esse princípio também está previsto no art. 2° da Lei 9.784/99.
	Saiba disto!
O princípio da moralidade diz respeito à moral interna da instituição, que deve pautar os atos dos agentes públicos, como complemento à lei. Os atos devem ser, além de legais, honestos, e seguir os bons costumes e a boa administração.
Publicidade: trata da obrigatoriedade de levar ao conhecimento de todos a prática dos atos da Administração Pública, isso visa a imprimir transparência aos atos e a possibilitar a qualquer pessoa questionar e controlar a atividade administrativa.
Em determinados casos (quando o interesse público ou segurança o justificarem) esse princípio pode ser relativizado, tanto que a CF/88 prevê diversas exceções, tais como as que estão presentes em alguns incisos do art. 5º (XIV; XXXIII; XXXIV; LX; LXXII). Na legislação infraconstitucional também há a previsão de casos especiais em que se deva conferir sigilo ao ato (art. 20 CPP, art. 155 CPC, art. 3º, § 3º, da Lei 8.666/93).
Embora exista entendimento jurisprudencial do no sentido de que “a publicidade surte os efeitos previstos somente se feita através de órgão oficial, que é o jornal, público ou não, que se destina à publicação de atos estatais, não bastando assim a mera notícia veiculada na imprensa” (STF, RE 71.652), não devemos confundir a publicidade com a publicação em Diário Oficial, vez que aquela é gênero, enquanto que esta é espécie. 
	Saiba disto!
Pelo princípio da publicidade, os atos administrativos devem ser públicos, e as exceções devem ser legalmente previstas e atender ao interesse público. 
Em 16/05/2012 entrou em vigor a Lei nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação), que garante aos cidadãos brasileiros o acesso aos dados oficiais do Executivo, Legislativo e Judiciário. Cada órgão público terá um Serviço de Informação ao Cidadão (SIC) para garantir a transparência dos dados públicos.
Com isso, o Brasil passa a compor, com outros 91 países, o grupo de nações que reconhecem que as informações guardadas pelo Estado são um bem público. Além dos gastos financeiros e de contratos, a lei garante o acompanhamento de dados gerais de programas, ações, projetos e obras.
Eficiência: esse princípio reflete a obrigação da Administração Pública em desenvolver mecanismos para o exercício de uma atividade administrativa célere, organizada e com qualidade. Importante também é o aspecto econômico, que deve pautar as decisões, levando-se em conta sempre a relação custo-benefício. A Administração Pública deve estar atenta à sua estrutura e organização, e evitar a manutenção de órgãos/entidades subutilizados, ou que não atendam às necessidades da população. 
Para fins de concurso público, esse princípio é um dos mais relevantes, pois embora não exista hierarquia entre os princípios, este acaba tendo maior grau de interesse, já que foi o último introduzido na Constituição por meio da EC nº 19/98 (a chamada Reforma Administrativa), que deu nova redação ao art. 37, entre outros.
Está previsto também no art. 6°, §1° da Lei 8.987/95, que trata das concessões e permissões de serviços públicos, assim como no art. 6°, inciso X, do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90): “São direitos básicos do consumidor: a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral”.
	Saiba disto!
O princípio da eficiência prega a maximização de resultados em qualquer ação da Administração Pública, que deve ser rápida, útil, econômica, voltada para os melhores resultados esperados por todos.
1.7.2 Demais princípios informadores da Administração Pública
Além dos princípios mencionados no art. 37, caput da CF/88, o DireitoAdministrativo norteia-se também por princípios infraconstitucionais. Para facilitar a assimilação deles, sugerimos a expressão CHA em PARIS.
Continuidade do serviço público
Hierarquia
Autotutela
em
Presunção de legitimidade
Autoexecutoriedade
Razoabilidade
Isonomia
Supremacia do interesse público
Teceremos breves comentários sobre cada um deles.
Continuidade do serviço público: o Estado deve prestar serviços públicos para atender às necessidades da coletividade. Essa prestação não pode ser interrompida, uma vez que as demandas públicas são contínuas. 
Por esse princípio, há limitações ao direito de greve dos servidores públicos (art. 37, VII, CF/88), dos militares (art. 142, § 3º, IV, CF/88) e a existência de substitutos que preencham funções públicas vagas temporariamente.
No campo dos contratos administrativos, podemos ver que também esse princípio se faz notar. Esse será um item próprio a ser estudado com mais detalhes, mas cito como exemplo: aquele que contrata com a Administração Pública não pode invocar a excecptio non adimpleti contractus (exceção de contrato não cumprido - arts. 476 e 477 do CC), ou seja, ainda que não receba o pagamento devido, deve continuar prestando o serviço público delegado, em regra por 90 dias (art. 78, XV, da Lei 8.666/93). Também é previsto no art. 6°, §1° da Lei 8.987/95 que trata das concessões e permissões de serviços públicos.
	Saiba disto!
O princípio da continuidade estabelece a necessidade de que a Administração Pública não interrompa a prestação de seus serviços, pois são fundamentais e essenciais à coletividade.
Hierarquia: os órgãos da Administração Pública devem ser estruturados de forma tal que haja uma relação de coordenação e subordinação entre eles, cada um titular de atribuições definidas na lei.
Como consequência desse princípio, surge a possibilidade de revisão de atos dos subordinados, delegação e avocação de atribuições. Desse princípio resultam ainda outros poderes, como o poder disciplinar, que é uma decorrência ou instrumento necessário para tornar eficaz essa relação de poder.
Essa relação hierárquica só existe nas atividades administrativas, não nas legislativas nem judiciais.
	Saiba disto!
O princípio da hierarquia determina que haja coordenação e subordinação entre os órgãos da Administração Pública, com a possibilidade de revisão de atos, delegação, avocação e punição.
	
Autotutela: a Administração deve cuidar de si mesma, tendo, por conseguinte, o poder-dever de anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-Ios, por motivos de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial, conforme Súmulas 346 e 473 do STF:
Súmula 346: “A Administração Publica pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.”
Súmula 473: “A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação Judicial.”
	Saiba disto!
Não confunda esse princípio com a tutela administrativa! Esta diz respeito ao poder da Administração Direta controlar e fiscalizar as entidades que cria (Administração Indireta). Assim tutela é controle externo, autotutela é controle próprio, interno.
Presunção de legitimidade: abrange dois aspectos: o primeiro quanto à certeza dos fatos (presunção de verdade); o segundo quanto à perfeita conformidade com a legislação (presunção de legalidade). Como a Administração Pública deve obediência ao princípio da legalidade, presume-se que todos seus atos estejam de acordo com a lei. 
Essa presunção admite prova em contrário, a ser produzida por quem alega. É chamada então de relativa, ou juris tantum (lembre da diferença com a presunção absoluta, juris et de jure, que não admite prova em contrário).
Com esse atributo, é possível a execução direta, imediata, das decisões administrativas, inclusive podendo criar obrigações ao particular, independentemente de sua concordância e executadas por seus próprios meios.
	Saiba disto!
Em face do atributo da presunção de legitimidade, tomam-se como existentes os fatos alegados e como legais os atos administrativos praticados, até prova em contrário. É uma presunção relativa, “juris tantum”.
Autoexecutoriedade: a Administração poderá converter em atos materiais as suas pretensões jurídicas, pelas próprias mãos, sem ter de se socorrer do judiciário. No exercício dessa prerrogativa, a Administração deve observar uma estrita obediência à lei, para não cometer excessos ou abusos. Como exemplo, podemos citar a demolição de prédio que ameaça ruir, e o internamento compulsório de pessoa com doença contagiosa.
Saiba disto! 
Em razão da autoexecutoriedade, a administração pode executar diretamente seus atos e fazer cumprir determinações, sem precisar recorrer ao judiciário, até com uso de força, se necessário.
Razoabilidade: é um princípio voltado especialmente para o controle dos atos administrativos, em especial os discricionários, em que a lei dá duas ou mais opções válidas ao administrador. Se este toma alguma decisão destituída de razoabilidade ou coerência, tal será ilegítima, ainda que dentro da lei.
Em obediência a esse mandamento, as decisões têm de ser fundamentadas adequadamente, fatos relevantes devem ser levados em conta, e devem, sobretudo, guardar proporção entre os meios e o fim a que se destina. Pelo critério da razoabilidade é que se busca a melhor maneira de concretizar a utilidade pública postulada pela norma; é a congruência lógica entre as situações postas e decisões administrativas tomadas.
Tem como subsidiário o princípio da proporcionalidade, que pode visto no art. 2º, parágrafo único, VI, da Lei 9.784/99: “Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de [...] adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público”.
Atenção! Esse princípio tem sido cobrado em diversos concursos, pois ganhou status ao ser citado em diversos julgados do STF. Assim dê bastante atenção a ele.
	Saiba disto!
As ações tomadas na esfera pública devem ser pautadas no princípio da razoabilidade, implicando coerência lógica entre os meios empregados e os fins almejados, considerando-se todas as situações e circunstâncias que afetem a solução, para, assim, agir com bom senso e proporcionalidade.
Isonomia: por esse princípio os administrados devem receber o mesmo tratamento (impessoal, igualitário e isonômico), não podendo a Administração estabelecer privilégios de tratamento entre os cidadãos. 
É por isso que existe a licitação, como meio de selecionar aquele que fornecerá bens e/ou serviços ao Estado. Outro exemplo é o Concurso Público para preenchimento de cargos, pois confere a todos os cidadãos (desde que atendido o edital), a mesma oportunidade de trabalhar na Administração (art. 5º, II e XXI, CF/88).
Naturalmente, esse princípio não é absoluto. Cabe à Administração Pública o regramento para a fruição de serviços públicos, o que não fere esse princípio. O que está vedada é a existência de privilégios ou favorecimentos de uns em detrimento de outros.
	Saiba disto!
Pelo princípio da isonomia, todos devem receber tratamento igualitário da Administração Pública. Sendo iguais, o tratamento não pode ser diferente. As diferenças devem ser consideradas e, atendendo ao princípio da razoabilidade, justificar as diferenças de tratamento.
Supremacia do interesse público: o interesse público prevalece face ao interesse do particular. Assim, havendo conflito entre o interesse coletivo e o individual, reconhece-se a predominância do primeiro. É o que ocorre, porexemplo, no caso de desapropriação por utilidade pública, em que determinado imóvel é disponibilizado para a construção de uma creche. O interesse do proprietário se conflita com o da coletividade que necessita dessa creche, mas, de acordo com esse princípio e a lei, haverá a desapropriação, com a consequente indenização do particular (art. 5º, XXIV, CF/88).
Outro caso exemplar é da requisição administrativa, prevista no art. 5º, XXV da CF/88.
Esse princípio deve ser seguido tanto no momento da elaboração da lei quanto no momento de sua execução, em um caso concreto, sempre vinculando a autoridade administrativa. Havendo atuação que não atenda ao interesse público, haverá o vício de desvio de poder ou desvio de finalidade, que torna o ato nulo.
O interesse público é indisponível. Assim os poderes atribuídos à Administração Pública têm a característica de poder-dever, que não podem deixar de ser exercidos, sob pena de ser caracterizada a omissão.
	Saiba disto!
A supremacia do interesse público é um princípio basilar da Administração Pública que deve ser observado tanto pelo legislador, no momento de produzir a lei, quanto pelo administrador, quando de sua execução. O interesse público é indisponível, tendo o agente público o poder-dever de agir de acordo com esse princípio.
Conclusão
Os tópicos até aqui abordados serão essenciais para a adequada compreensão de todos os temas que se seguirão nos estudos de Direito Administrativo, pois qualquer que seja o assunto abordado daqui por diante nesta matéria, o seu conteúdo só será devidamente assimilado se o relacionarmos com as Fontes, com as Regras Interpretativas e, especialmente, com os Princípios que balizam e legitimam a atividade administrativa.
Dicas de Leitura 
NETO, Luiz de Castro. Fontes do direito administrativo. São Paulo: CTE, 1977.
SILVA, Marcos Luiz da. Princípios supralegais do processo administrativo. Jus Navigandi, ano 8, n. 479, 29 out. 2004. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5885>. Acesso em: 22 dez. 2009.
	
Referências 
DI PIETRO, Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

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