Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/255637894 Reflexos primitivos e reações posturais como sinais indicativos de alterações neurossensoriomotoras .... Article · January 2003 CITATIONS 7 READS 8,033 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: EFEITO DO TREINO ESPECÍFICO NA HABILIDADE DE ALCANCE MANUAL EM LACTENTES PRÉ-TERMOS View project Reaching behavior in infants: effects of body position and short-term training View project Elaine Leonezi Guimarães Universidade Federal do Triangulo Mineiro (U… 15 PUBLICATIONS 31 CITATIONS SEE PROFILE Eloisa Tudella Universidade Federal de São Carlos 85 PUBLICATIONS 622 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Elaine Leonezi Guimarães on 07 July 2014. The user has requested enhancement of the downloaded file. Pediatria (São Paulo) 2003;25(1/2):28-35 28 Reflexos primitivos e reações posturais Guimarães EL, Tudella E. Artigo Original Original Article Artículo Original Reflexos primitivos e reações posturais como sinais indicativos de alterações neurossensoriomotoras em bebês de risco* Primitive reflexes and postural reactions as indicative signs of neuro-sensory-motor changes in risk infants Los reflejos primitivos y reacciones de posturas como señales indicativos de alteraciones neuro-sensorio-motoras en niños de riesgo Elaine Leonezi Guimarães1, Eloisa Tudella2 Berçário do Hospital Universitário Alzira Velano da Universidade Federal de Alfenas. Alfenas, MG, Brasil. Santa Casa de Cari- dade de Machado. Machado, MG, Brasil Resumo Objetivo: verificar a importância dos reflexos primitivos e das reações posturais na detecção de alterações neurossensorio- motoras de bebês de risco durante os primeiros 6 meses de vida. Casuística e Métodos: foram estudados durante 6 meses 13 bebês de risco para lesão neurológica, com idade gestacional média de 33,7 semanas (DP = 3,2). Desde o nascimento as crianças foram avaliadas mensalmente, sempre na data de aniversário, considerando uma variação de mais ou menos 7 dias. Os dados foram coletados em três fichas contendo a escala de “Avaliação do desenvolvimento neurossensoriomotor do bebê de risco”: 1) Anamnese, 2) Avaliação dos reflexos primitivos e 3) Avaliação das reações posturais. Resultados: os reflexos primitivos mostraram alguma alteração em 75% dos bebês com 30, 60 e 90 dias, 57,1% com 120, e 61,5% com 180 dias de idade. Houve redução significativa na pontuação de reflexos alterados entre os momentos 30, 60 e 90 dias versus 120 e 180 dias. A progressiva normalização dos reflexos primitivos tendeu a ocorrer. As reações posturais mostraram alguma alteração em 100% dos bebês com 30 e 120 dias, 87,5% com 60 e 90 dias e 92,3% com 180 dias de idade. Houve significativo aumento na pontuação de posturas anormais entre as avaliações de 60 e 90 dias e 120 e 180 dias (p < 0,01). As reações posturais anômalas tenderam a aumentar durante os 6 primeiros meses de vida. Conclusões: durante os 6 primeiros meses de vida as alterações de reflexos primitivos e as posturais foram muito freqüentes entre crianças de risco neurológico limitado, além de terem muitas vezes evolução temporal oposta na mesma criança. Desta forma os aspectos neurológicos avaliados não foram específicos para identificar crianças com lesões cerebrais nos primeiros 6 meses de vida. Descritores: Desenvolvimento infantil. Transtornos psicomotores, diagnóstico. Doenças do sistema nervoso, diagnóstico. Re- flexo. Postura. Condições patológicas, sinais e sintomas. Exame neurológico. Recém-nascido de baixo peso, crescimento e desenvolvimento. Prematuro, crescimento e desenvolvimento. Grupos de risco. 1 Mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal de São Carlos, SP. Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Araraquara, SP (UNIARA) e Faculdades Integradas FAFIBE de Bebedouro, SP 2 Professora Doutora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, São Carlos, SP * Baseado em Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal de São Carlos, 2001 * Apresentado na 16ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental FeSBE; 2001; Caxambú, MG; Brasil. Anais. p.41 * Apresentado no 14º Congresso Nacional da Associação Brasileira de Paralisia Cerebral; 2001; São Paulo, SP; Brasil. Anais. p.24 Pediatria (São Paulo) 2003;25(1/2):28-35 29 Reflexos primitivos e reações posturais Guimarães EL, Tudella E. Abstract Objective: to verify the primitive reflexes and postural reactions value for detection of neuro-sensory-motor damage in risk infants during the first six months. Casuistic and Methods: during 6 months thirteen babies, in risk for neurological damage were studied with mean gestational age of 33.7 weeks (SD = 3.2). Since the birthday the children were monthly examined, considering a 7 days variation . The data were collected in three files containing the scale of “Assessment of neuro-sensory-motor development of high-risk infants”: 1) Anamnesis file, 2) Primitive reflexes file and 3) Postural reactions file. Results: the primitive reflexes were abnormal in 75% of the infants at 30th, 60th and 90th day-exam, 57.1% at 120th day-exam, and 61.5% at 180th day-exam. There was a significant reduction considering abnormal reflexes scale between 30th, 60th, 90th day versus 120th and 180th day evaluations. The postural reactions presented disturbances in all infants at 30th and 120th day-exam, in 87.5% at 60th and 90th day-exam, and 92.3% in 180th day-exam. There was a significant increase on abnormal postural reactions scale between the 60th and 90th day evaluation versus the 120th and 180th ones (p < 0.01). Abnormal postural reactions progressively increased in the first 6 months. Conclusions: limited risk children for neurological damage presented a high frequency of abnormal reflexes and postural reactions during the first 6 months of life; additionally contradictory results are observed for the same child in different instants. So, the neurological aspects evaluated were unespecific to identify damaged children in the first 6 months of life. Keywords: Child development. Psychomotor disorders, diagnosis. Nervous system diseases, diagnosis. Reflex. Posture. Pathologic conditions, signs and symptoms. Neurologic examination. Infant, low birth weight, growth and development. Infant, premature, growth and development. Risk groups. Resumen Objetivo: verificar la importancia de los reflejos primitivos y de las reacciones de posturas en el descubrimiento precoz de señales indicativos de alteraciones neuro-sensorio-motoras en niños de riesgo durante los primeros 6 meses de vida. Casuística y Métodos: fueron estudiados durante 6 meses trece niños de riesgo para lesión neurológica, con edad gestacional media de 33,7 semanas (DP = 3,2). Desde el nacimiento los niños fueron evaluados mensualmente, siempre en lo mismo dia, considerando una variación de mas o menos 7 dias. Los datos fueron colectados en tres fichas conteniendo la escala de “Evaluación del desarrollo neuro- sensorio-motor del niño de riesgo”. 1) Anamnesis, 2) Evaluación de los reflejos primitivos y 3) Evaluación de las reacciones de postura. Resultados: Los reflejos primitivos mostraron alguna alteración en 75% de los niños com 30, 60 y 90 dias, 57,1% con 120, y 61,5% con 180 dias de edad. Hubo reducción singificativa en la pontuación de reflejos alterados entre los momentos 30, 60 y 90 dias versus 120 y 180 dias. La progresiva normalización de los refejos primitivos tendió a ocurrir. Las reacciones de postura morstraron alguna alteración en 100% de los niños con 30 y 120 dias, 87,5% con 60 y 90 dias y 92,3% con 180 dias de edad. Hubo significativo aumento enla puntuación de posturas anormales entre las evaluaciones de 60 y 90 dias y 120 y 180 dias (p < 0,01). Las reacciones de postura anormales tendieron a aumentar durante los 6 primeros meses de vida. Conclusiones: Durante los 6 primeros meses de vida las alteraciones de los reflejos primitivos y las de postura fueron muy frecuentes entre los niños de riesgo neurológico limitado; ademas de que muchas veces la evolución temporal fue opuesta en el mismo niño. De esta forma los aspectos neurológicos evaluados no fueron específicos para identificar niños con lesiones cerebrales en los primeros 6 meses de vida. Palabras clave: Desarrollo infantil. Trastornos psicomotores, diagnóstico. Enfermedades del sistema nervioso, diagnóstico. Reflejo. Postura. Condiciones patologicas, signos y sintomas. Examen neurológico. Recien nacido de bajo peso, crescimiento y desarrollo. Prematuro, crescimiento y desarrollo. Grupos vulnerables. Introdução É crescente a população de bebês com risco de apresentar lesão neurológica perinatal1. Em especial, são os prematuros e os RN de baixo peso ao nasci- mento, que podem apresentar paralisia cerebral nos primeiros meses de vida2-6. É importante que os afe- tados neurologicamente sejam identificados. Isto pos- sibilita uma terapêutica precoce com um programa de estimulação, que busca melhorar o desenvolvimento neurossensoriomotor7,8. Crianças com lesões cerebrais graves podem ser identificadas logo após o nascimento, ou no primeiro trimestre, devido às anormalidades evidentes no tônus e na postura com persistência ou exacerbação dos re- flexos primitivos. Entretanto, as formas leve e modera- da são mais difíceis de serem diagnosticadas nos seis primeiros meses pelos testes neurológicos padroniza- dos, que podem se mostrar pouco específicos9-15. Den- tre os sinais clínicos indicativos de alterações no de- Pediatria (São Paulo) 2003;25(1/2):28-35 30 Reflexos primitivos e reações posturais Guimarães EL, Tudella E. senvolvimento neurossensoriomotor do bebê de ris- co, a atividade reflexa e as reações posturais pare- cem ter importância15. Alguns autores afirmam que dentre os reflexos tôni- cos, o reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA), quan- do persiste após os 3 meses, é o de maior importância para o diagnóstico precoce de encefalopatia16-19; segun- do outros, deve-se valorizar a persistência além dos 7 meses de vida20-22. De fato, se o RTCA fixar-se ao com- portamento da criança impedirá o desenvolvimento das coordenações visocefálica e oculomanual7,23-28. A au- sência do reflexo nos primeiros meses de vida tam- bém pode ser considerado como um sinal indicativo de encefalopatia27. O RTCA, portanto, deveria ser ava- liado quando houvesse uma suspeita de lesão neuro- lógica, atentando-se para a idade da criança, segun- do estes autores. Quanto ao reflexo tônico labiríntico (RTL), há unani- midade quanto à sua anormalidade, sendo o mais fre- qüente na criança com encefalopatia grave; é de gran- de importância para o diagnóstico precoce7,12,18-23,29,30. É caracterizado pela hipertonia extensora de pescoço e tronco, levando a uma postura de hiperextensão glo- bal (opistótono). Quanto ao reflexo de Moro, considera-se que a sua persistência após o sexto mês de vida pode indicar sus- peita de lesão neurológica19,21,22. Entretanto, Wolraich25 considera sua persistência anormal após o terceiro mês de vida. É importante verificar ainda a intensidade, bem como a freqüência, com que o reflexo se manifesta; os casos mais intensos também podem indicar anormali- dade12,25,30,31. A ausência deste reflexo nos primeiros meses de vida é considerado um sinal precoce de le- são do sistema nervoso central16,30. O reflexo de preensão palmar é considerado um sinal indicativo de encefalopatia grave quando está presente após o sexto mês de vida, quando há oponência de polegar ou ainda se está ausente des- de o nascimento16,17,21,31. Quanto ao reflexo de sucção, a ausência ao nasci- mento e durante os primeiros meses é indício de gra- ve comprometimento do sistema nervoso central16,21,32. Em relação ao reflexo de marcha automática, sua persistência além do segundo ou terceiro mês de vida pode ser considerado sinal precoce de lesão neuro- lógica7,21. Entretanto, a ausência de reflexo desde as primeiras horas de vida é considerado sinal precoce de encefalopatia grave16. Quanto ao reflexo de suporte positivo, têm sido sugerido que uma resposta exacerbada ou ausente nos primeiros 6 meses de idade, pode ser indicativa de lesão neurológica22,25,30. Esta avaliação apresenta uma relevância especial para o diagnóstico de encefalopatia pelos reflexos tônicos observáveis nes- ta situação17,29. Em relação às reações posturais, sugere-se que o desenvolvimento retardado ou anormal dos meca- nismos de equilíbrio na postura seja um dos sinais que possam indicar encefalopatia7,21. Levitt21 e Molnar22 afirmam que a reação de endireitamento cervical, se persistente após o quinto mês de vida, pode ser um sinal indicativo de lesão cerebral. Outro sinal neuroló- gico desfavorável seria a ausência da reação de Landau após o 6º mês de vida; teria valor no reconhe- cimento de alterações neurossensoriomotoras20,26. Diante do exposto, o presente estudo buscou ava- liar a importância do exame seqüencial dos reflexos primitivos e das reações posturais como sinais indicativos de alterações no desenvolvimento neurossensoriomotor de bebês de risco, durante os primeiros meses de vida. Casuística e Métodos Casuística Foi realizado estudo prospectivo no ano de 2000, com recém-nascidos selecionados no Berçário do Hospital Universitário “Alzira Velano” da cidade de Alfenas, MG e da Santa Casa de Caridade de Macha- do, MG. O estudo foi aprovado pelos Comitês de Éti- ca dos Hospitais envolvidos. Todos os casos conside- rados de algum risco de lesão neurológica, pelos mé- dicos pediatras e neonatologistas, foram avaliados e selecionados por um médico pediatra. Foi obtida au- torização por escrito dos pais para a participação no estudo. Foram excluídos os bebês portadores de alte- rações genéticas, deficiência auditiva e visual e porta- dores de malformações graves do sistema nervoso central reconhecíveis no berçário. Treze bebês foram selecionados em 2 meses, 8 eram do sexo masculino e 5 do sexo feminino, com peso ao nascer médio de 2,156 g (DP = 660 g) e idade gestacional média de 33,7 semanas (DP = 3,2 semanas). Pediatria (São Paulo) 2003;25(1/2):28-35 31 Reflexos primitivos e reações posturais Guimarães EL, Tudella E. Dos 13 bebês selecionados, 12 (92,3%) necessita- ram de internação hospitalar por mais de 5 dias, 9 (69,2%) permaneceram em incubadora e 5 (38,4%) necessita- ram de fototerapia por 5 ou mais dias, 3 (23,0%) apre- sentaram insuficiência respiratória, 5 (38,4%) desenvol- veram icterícia neonatal, 4 (30,7%) sofreram hipóxia, 4 (30,7%) eram gemelares, 1 (7,6%) nasceu com apre- sentação pélvica (parto vaginal), 1 (7,6%) teve aspira- ção de mecônio, 12 (92,3%) eram prematuros e 4 (30,7%) eram pequenos para a idade gestacional. Todos apre- sentaram mais de um aspecto clínico compatível com a ocorrência de lesão neurológica cerebral. Métodos Para coletar os dados sobre Reflexos Primitivos e Reações Posturais, utilizaram-se as fichas da escala “Ava- liação do desenvolvimento neurossensoriomotor do bebê de risco”33, observando-se os seguintes reflexos primiti- vos34: tônico labiríntico em supino, tônico labiríntico em prono, tônico cervical assimétrico espontâneo e evocado, Moro, preensão palmar, suporte positivo, marcha auto- mática e extensão cruzada. Os reflexos foram quantificados da seguinte forma: zero - para apresenta- ção normal; 1 - para apresentação incompleta ou incom- patível para a idade; e 2 - para apresentação exacerbada. As Reações Posturais avaliadasforam34: postural cervical, colocação plantar, endireitamento da cabe- ça, equilíbrio em decúbito dorsal, equilíbrio em decúbito ventral, Landau, pára-quedas e extensão protetora dos membros superiores para frente. A pontuação utiliza- da nessa categoria, de acordo com a idade, foi: zero - para reação postural completa; 1 - para apresentação fraca; 2 - quando nenhum dos componentes da rea- ção estivesse presente. Em cada avaliação qualquer alteração caracterizou um resultado anormal. Para a análise dos dados coletados foi realizada compara- ção estatística com o teste não paramétrico t de Student para as médias de pontuação total de risco. As informações dos prontuários das mães e dos bebês foram anotadas no roteiro de anamnese e as informações das avaliações neurológicas nas fichas da escala utilizada. Procedimentos No estudo os bebês foram solicitados a comparecer mensalmente até os 120 dias e com 180 dias. Quatro foram avaliados aos 30 dias de idade, 8 aos 60 dias, 8 aos 90 dias, 7 aos 120 dias e todos os 13 foram reavaliados aos 180 dias de idade. As avaliações fo- ram realizadas sempre na data de aniversário, consi- derando uma variação de 7 dias antes ou depois desta. Resultados Quanto à avaliação dos reflexos primitivos constatou- se que 75,0% dos lactentes com 30, 60 e 90 dias apre- sentaram pontuação superior a zero, 57,1% aos 120 dias, e 61,5% aos 180 dias. Em relação às reações posturais, pôde-se constatar que 100% dos bebês com 30 e 120 dias, 87,5% com 60 e 90 dias e 92,3% com 180 dias de idade, apresentaram pontuação acima de zero. Estes re- sultados podem ser observados na Figura 1. A proporção de crianças com alguma alteração dos reflexos primitivos manteve-se dos 30 aos 90 dias, en- quanto que a partir de 120 dias houve um decréscimo. A proporção de crianças com alguma alteração das rea- ções posturais foi maior do que a de Reflexos Primiti- vos, e estável durante os 6 meses da avaliação. A análise individual dos bebês foi feita de acordo com a pontuação obtida. Na categoria reflexos pri- mitivos, observou-se, de modo geral, redução com o avanço etário. Aos 180 dias, 53,8% dos bebês apresentaram pontuação sugestiva de risco, ou seja, maior que “zero”. Apenas 1 bebê obteve pontuação “zero” aos 60 dias; 2 aos 90 dias; 3 aos 120 dias e 5 aos 180 dias de idade. Desses, verificou-se que os bebês 6 e 13 obtiveram pontuação zero em todas as idades avaliadas. Estes resultados podem ser ob- servados na Figura 2. Figura 1 – Freqüência de bebês com alterações dos refle- xos primitivos e das reações posturais, durante os primeiros 6 meses de vida. F re q ü ên ci a d e al te ra çõ es Reflexos primitivos Reações posturais Pediatria (São Paulo) 2003;25(1/2):28-35 32 Reflexos primitivos e reações posturais Guimarães EL, Tudella E. A análise individual dos bebês para a categoria rea- ções posturais verificou que 92,3% dos bebês apre- sentaram pontuação sugestiva de risco, ou seja, aci- ma de “zero”, aos 180 dias de idade. Apenas o bebê 13 apresentou pontuação “zero” em todas as avalia- ções. Muitas crianças apresentaram uma elevação na pontuação aos 6 meses de idade. Estes resultados podem ser observados na Figura 3. Para reflexos primitivos, a análise estatística com o teste t de Student evidenciou maior pontua- ção nas idades de 30, 60, 90 dias em relação à dos 120 e 180 dias (p < 0,01). Na avaliação das reações posturais verificou-se um valor estatisti- camente menor (p < 0,01), aos 30, 60, 90 e 120 dias em relação à de 180 dias. Discussão No estudo realizado verificou-se que aos 180 dias, 73% dos bebês analisados apresentaram alguma alte- ração nas avaliações de reflexos e posturas. Entretan- to, a literatura considera muitos desses sinais como sendo transitórios, se for considerado o ajuste na idade Figura 2 – Distribuição dos bebês com as respectivas pontuações para a categoria reflexos primitivos, de acordo com a idade (30, 60, 90, 120 e 180 dias). P on tu aç ão Bebês Figura 3 – Distribuição dos bebês com as respectivas pontuações para a categoria reações posturais, de acordo com a idade (30, 60, 90, 120 e 180 dias). P on tu aç ão Bebês Pediatria (São Paulo) 2003;25(1/2):28-35 33 Reflexos primitivos e reações posturais Guimarães EL, Tudella E. cronológica para as crianças prematuras. A rigor a real taxa de lesão neurológica desta coorte avaliada na pesquisa não pôde ser obtida, pelo limita- do período de seguimento das crianças. De qualquer modo, a taxa observada de desenvolvimento alterado é muito elevada para o perfil das crianças. Isto pode ser creditado aos critérios de avaliação. Os resultados deste estudo foram obtidos por meio de avaliações dos bebês nos primeiros quatro meses de idade (120 dias) e reavaliados aos 180 dias. Qualquer alteração no de- senvolvimento neurossensoriomotor na avaliação dos reflexos primitivos e reações posturais foi considera- da anormal, o que nem sempre corresponde à lesão neurológica6,14,34. Os resultados da literatura estimam que cerca de 25 a 29% dos bebês que requerem assistência neonatal inten- siva têm comprometimento neurológico ou retardo no desenvolvimento35. Cioni et al.36 estimaram que 5 a 15% das crianças prematuras com peso inferior a 1.500 gra- mas evoluam com anormalidades neurológicas graves e 25 a 50% apresentem distúrbios cognitivos e compor- tamentais. Mas o grupo estudado não era composto por crianças de elevado risco, sendo o percentual de lesão neurológica certamente menor que o detectado na pre- sente avaliação37. Desta forma, fica indiretamente eviden- ciada a reduzida especificidade dos testes realizados. Quando se fez a avaliação da intensidade das alte- rações neurológicas, através da pontuação (Figuras 2 e 3), foram constatadas diferenças temporais. A variação na pontuação de risco foi observada entre as duas categorias – reflexos primitivos e reações posturais, para diferentes faixas etárias: antes dos 4 me- ses de idade (120 dias) foi possível detectar alterações nos reflexos primitivos e, posteriormente, o atraso de re- ações posturais. É relevante salientar que o exame neu- rológico utilizado para a avaliação pode mostrar algu- mas alterações qualitativas antes dos 4 meses de idade, podendo assim facilitar a detecção precoce de lesões neurológicas. A avaliação aos 120 dias constituiu uma marca divisória da apresentação dos reflexos e reações posturais (Figura 1). Isso pode ser explicado por ocorrer nesta fase o desaparecimento de diversos reflexos do bebê normal e aparecerem algumas reações posturais. Ressalta-se que os sinais de retardo motor podem ser seguidos pelo aparecimento de padrões anormais de postura e de movimento, em associação ao tônus postural anormal, levando assim a um retardo na aquisi- ção dos mecanismos de equilíbrio postural4,21. Conclusões Foi observado um elevado percentual de alterações no desenvolvimento neurossensoriomotor em crianças com limitado risco neurológico, através da avaliação dos reflexos primitivos e das reações posturais. Muitas crian- ças tiveram avaliações contraditórias segundo as duas categorias de exames neurológicos realizadas em dife- rentes momentos, durante os 6 primeiros meses de vida. Os testes mostraram grande sensibilidade mas, possi- velmente, limitada especificidade. Referências 1. Fontes JAS. Assistência materno infantil. Rio de Janei- ro: Cultura Médica; 1984. 2. Marcondes E. Pediatria básica. 8ª ed. São Paulo: Sarvier; 1994. v.1, p.333-8. 3. Papousek H, Papousek M. Learning and cognition in the everyday life of human infants. Adv Stud Beh 14:127- 63, 1967. 4. Tudella E. Tratamento precoce no desenvolvimento neuromotor de crianças com diagnóstico sugestivo de paralisia cerebral. [Dissertação Mestrado]. Rio de Ja- neiro:Universidade Gama Filho; 1989. 5. Brandão JS. Bases do tratamento por estimulação pre- coce da paralisia cerebral, ou, dismotria cerebral ontogenética. 2ª ed. São Paulo: Memnon; 1992. 6. Diament AJ, Cypel S. Neurologia infantil. 3ª ed. São Paulo: Atheneu; 1996. p.471- 83. 7. Brandão JS. Tratamento precoce na paralisia cerebral. In: Lianza S. Medicina de reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1985. p.241-65. 8. Lopes SMB, Lopes JMA. Follow-up do recém-nascido de alto risco. Rio de Janeiro: Medsi; 1999. 9. Souza RCT. Vigilância neuromotora de lactentes acome- tidos por indicadores de risco para asfixia perinatal no primeiro trimestre de vida. [Dissertação de Mestrado]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 1998. 10. Ellenberg JH, Nelson KB. Early recognition of infants at righ risk for cerebral palsy: examination at age four months. Dev Med Child Neurol 1981;23:705-16. 11. Harris SR, Swanson MW, Andrews MS, Sells CJ, Pediatria (São Paulo) 2003;25(1/2):28-35 34 Reflexos primitivos e reações posturais Guimarães EL, Tudella E. Endereço para correspondência: Elaine Leonezi Guimarães Rua XV de Novembro, 475 - Vila Jacon CEP: 14720-000 - Taiúva - SP - Brasil Tel.: 0XX - (17) 91220255 / (17) 33426705 / (16) 32461158 e-mail: eleonezi13@yahoo.com.br, elaine.fisioterapia@fafibe.br Recebido para publicação: 29/08/2002 Aceito para publicação: 12/12/2002 Robinson NM, Bennett FC, et al. Predictive value of the movement assessment of infants. J Dev Beh Pediatr 1984;5:336. 12. Burns YR, O’Callaghan M, Tudehope DI. Early identification of cerebral palsy in high risk infants. Aust Pediatr J 1989;25:215-9. 13. Gonçalves VMG. Exame neurológico evolutivo em defi- cientes mentais. [Dissertação de Mestrado]. São Pau- lo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Pau- lo; 1984. 14. Funayama C. Exame neurológico em crianças. Medici- na (Ribeirão Preto) 1996;29:32-43. 15. Amiel-Tison C, Grenier A. Valoración neurológica de recién nacido y del lactente. Barcelona: Toray-Masson; 1981. 16. Figueiredo HB. Diagnóstico precoce da paralisia cere- bral. In: Fontes JAS. Assistência materno-infantil. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 1984. 17. Duarte JP. Paralisia cerebral. In: Lianza S. Medicina da reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1985. p.230-40. 18. Bobath K. A deficiência motora em pacientes com parali- sia cerebral. São Paulo: Manole; 1979. 19. Capute AJ, Shapiro BK, Accardo PJ, Wactchel RC, Rosa A, Palmer FB. Motor functions associated primitive refflex profiles. Dev Med Child Neurol 1982;24:662-9. 20. Saint-Anne Dargassies S. As bases do desenvolvimento neurológico do lactente. São Paulo: Manole; 1980. 21. Levitt S. Tratamiento de la paralisis cerebral y del retraso motor. Buenos Aires: Panamericana; 1982. p.14-27: Princípios del tratamiento. 22. Molnar GE. Cerebral Palsy: prognosis and how to judge it. Pediatr Ann 1979;8:596-605. 23. Flehmig I. Desenvolvimento normal e seus desvios no lactente. Rio de Janeiro: Atheneu; 1987. 24. Benavides Gonzáles HMB, Fernándes Carrocera LA, Venta Sobero JA, Bravo Cabreara Z, Lozano Gonzáles CH. Motricidad liberada: una maniobra pronóstica en niños con enfermidad motora cerebral. Bol Méd Hosp Infantil Méx 1988;45:359-65. 25. Wolraich ML. The practical assessment and management of children with disorders of development and learning. Chicago: Year Book; 1987. p.164-93: Disorders of motor development. 26. Bobath KA. Uma base neurofisiológica para o tratamento da paralisia cerebral. 2ª ed. São Paulo: Manole; 1984. 27. Ross G, Lipper E, Auld PA. Early predictors of neurodevelopmental outcome of very low-birthweight infants at three years. Dev Med Child Neurol 1986;28:171-9. 28. Bobath B, Bobath KA. Diferenciação entre padrões pri- mitivos e anormais. In: Bobath B. Desenvolvimento motor nos diferentes tipos de paralisia cerebral. São Paulo: Manole; 1990. p.19-22. 29. Bobath K. The normal postural reflex mechanism and its deviation in children with cerebral palsy. Physiotherapy 1971;57:515-25. 30. Capute AJ, Accardo PT, Vining EP, Rubenstein JE, Walchier JR, Harryman S, et al. Primitive reflex profile. Phys Ther 1978;58:1061-5. 31. Nelson KB, Ellenberg JH. Neonatal signs as predictors of cerebral palsy. Pediatrics 1979;64:225-32. 32. Alves CRJ. Organização dos parâmetros temporais da suc- ção não-nutritiva do recém-nascido pré-termo: caracteriza- ção e efeitos de um protocolo de intervenção. [Dissertação de Mestrado]. São Carlos: Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade de São Carlos; 1999. 33. Guimarães EL. Estudo para detecção precoce de si- nais indicativos de alterações no desenvolvimento neuro-sensório-motor em bebês de risco. [Disserta- ção de Mestrado]. São Carlos; Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de São Carlos; 2001. 34. Pinto E V, Vilanova LCP, Vieira RM. O Desenvolvimen- to do comportamento da criança no primeiro ano de vida: padronização de uma escala para a avaliação e o acompanhamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, FAPESP; 1997. 35. Sweeney JK, Swanson MW. Neonatos e bebês de risco: manejo em UTIN e acompanhamento. In: Umphred DA. Fisioterapia neurológica. São Paulo: Manole; 1994. p.181. 36. Cioni G, Ferrari F, Einspieler C, Paolicelli PB, Barbani MT, Prechtl HFR. Comparison between observation of spontaneous movements and neurologic examination in preterm infants. J Pediatr 1997;130:704-11. 37. Prechtl HFR. Qualitative changes of spontaneous movements in fetus and preterm infants are a marker of neurological dysfunction. Early Hum Dev 1990;23: 151-8. View publication statsView publication stats
Compartilhar