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Aula 2 Responsabilidade Civil

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Responsabilidade Civil 
Profa Camila Pannain
Aula 2
O Abuso de Direito
Parte I
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Para caracterização do abuso de direito, lembra-nos Daniel Boulos, basta a ilicitude objetiva, ou seja, não se exige a prova da intenção de prejudicar (dolo ou culpa).
Responsabilidade Pelo Abuso de Direito
No nosso sistema de responsabilidade convivem os artigos 186, que define ato ilícito, o art. 187, que define abuso de direito e o art. 927. Temos, então, um tripé, montando nosso sistema de responsabilidade civil.
Responsabilidade Pelo Abuso de Direito
Continuação: Os Elementos da Responsabilidade Civil
Parte II
O Nexo Causal
liame ou vínculo que une o agente ao resultado danoso
Teoria da Equivalência de Condições (Teoria da Conditio Sine Qua Non)
Teoria da Causalidade Adequada
Teoria da Causalidade Direta e Imediata
Teorias Explicativas
Para esta teoria, todo e qualquer antecedente fático que concorra para o resultado é causa.
O grande problema dessa teoria é que pode levar o intérprete a uma espiral infinita de situações.
Q: A empresa Lego foi prejudicada pelo jornal dinamarquês que publicou charges de Maomé porque os países árabes passaram a boicotar todos os produtos dinamarqueses. Se a Lego resolvesse responsabilizar o jornal, qual dessas teorias explicativas do nexo causal mais favoreceria a pretensão da Lego? 
Teoria da Equivalência de Condições (Conditio Sine Qua Non)
Considera que causa é apenas o antecedente fático abstratamente adequado à consumação do resultado.
Para esta segunda teoria, nem todo antecedente é causa: causa é apenas aquele antecedente apropriado, abstratamente idôneo para determinado resultado. Essa teoria parte de um juízo de probabilidade porque, para ela, causa é apenas o antecedente apropriado, em tese, abstratamente apto a produzir aquele resultado.
Teoria da Causalidade Adequada
Exemplos:
Passageiro prestes a pegar o avião, vai ao banheiro do aeroporto por conta de um desarranjo. Alguém coloca durepox no banheiro e ele fica duas horas preso na cabine do banheiro. Ele perde o primeiro avião, vai à companhia aérea e explica que ficou preso no banheiro por conta de uma brincadeira sem-graça e é embarcado no vôo seguinte, duas horas depois. O avião cai e ele morre. O cidadão que o prendeu no banheiro deu causa ao resultado morte? 
Dou um leve tapa na cabeça de alguém: “E aí, como está?”. O cidadão sofria de fragilidade craniana e morre. Pergunta: Aquele que deu um leve tapa na cabeça deu causa ao resultado? 
Caso do ciclista atropelado sem capacete.
Teoria da Causalidade Adequada
Causa é apenas o antecedente que determina o resultado como consequência sua direta e imediata.
Essa terceira teoria é muito parecida com a segunda. A diferença é o enfoque que você dá à matéria. Quer você faça o raciocínio pela teoria da causalidade adequada, quer você raciocine por essa teoria, você pode chegar ao mesmo resultado. Acontece que essa terceira teoria é mais objetiva, mais simples de ser aplicada a despeito da complexidade do caso concreto. Essa terceira teoria foi desenvolvida pela doutrina do professor Agostinho Alvim.
Teoria da Causalidade Direta e Imediata
Para essa teoria você não pergunta se a causa é adequada. Você pergunta se a causa é direta. Você vai indagar se há um vínculo necessário entre o resultado e a causa. Exemplo clássico dos livros de direito penal: Caio soca a cara de Tício numa partida de futebol. Névio leva Tício ao hospital. Na curva, o carro tomba, capota e Tício morre. Caio deu causa ao resultado morte? Não. Porque o soco não foi causa direta do resultado. 
Teoria da Causalidade Direta e Imediata
Não existe unanimidade na doutrina. A teoria com que os civilistas menos se identificam é a primeira. 
Os autores em direito civil se dividem entre a segunda e a terceira teorias. Alguns entendem que a teoria adotada foi a segunda (Sérgio Cavalieri Filho e doutrina Maj.) e outros autores entendem que foi a terceira (Gustavo Tepedino, Carlos Alberto Gonçalves e Pablo Stolze).
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos (ou seja, a indenização devida) só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.
Qual dessas teorias foi a adotada pelo Código Civil? 
Concorrência de causas ou de culpas – ocorre quando a atuação da vítima também favorece a ocorrência do dano, somando-se ao comportamento causal do agente.
Consequência: redução da indenização na proporção da contribuição da vítima. – 945, CC (exceção – Direito do Consumidor – culpa exclusiva da vítima)
Causas concorrentes
Outra causa, que juntando-se à principal, concorre para o resultado. 
Importância: verificar a interrupção do nexo
Causa absolutamente independente em relação à conduta do agente – rompe o nexo (Ex: ingerir veneno antes de levar 1 tiro; derrame cerebral concomitante ao tiro)
Causa relativamente independente – relevância de identificação de sua preexistência, concomitância ou superveniência à conduta do agente.
Em geral, quando preexistentes ou concomitantes, não excluem o nexo causal.(Ex: doença congênita ou parada cardíaca)
Se for superveniente poderá romper o nexo causal se a causa por si só determinar a ocorrência do evento danoso. (Ex: ambulância)
Concausas
Karl Larenz
A um sujeito só pode ser imputado um fato se ele criou ou incrementou um risco proibido relevante e se o resultado decorreu desse risco.
Ex: embriaguez ao volante, omissão de socorro
Consequência: limitação do nexo de causalidade
Teoria da imputação objetiva do resultado e a responsabilidade civil
A Responsabilidade Civil Subjetiva
Parte III
Deriva da inobservância de um dever de conduta previamente imposto pela ordem jurídica mediante atuação voluntária do agente. 
Abordada em sentido amplo, abrange o dolo e a culpa em sentido estrito.
Conceito de Culpa
Voluntariedade do comportamento
Previsibilidade
Violação de um dever de cuidado
Elementos da culpa
Culpa contratual
Culpa extracontratual
Culpa in vigilando (responsabilização prévia por 3.º)
Culpa in eligendo
Culpa in custodiendo (no passado: guarda de coisas ou animais – CC/02 - objetiva)
Culpa in comittendo ou culpa in faciendo – ato positivo em violação a dever jurídico
Culpa in omittendo, in negligendo, in non faciendo – abstenção culposa
Culpa in contrahendo – comportamento danoso da parte que se nega a celebrar o contrato esperado prejudicando o legítimo interesse da outra (AC591028295 TJRS)
Espécies de Culpa
Culpa grave (atuação como se tivesse querido o resultado)
Culpa leve (falta de diligência média)
Culpa levíssima (um diligentíssimo pater familias guardaria o devido cuidado)
Efeitos de indenização: 944 caput X §ú
Graus da Culpa em Sentido Estrito
2 posições:
Imprudência – o agente resolve desnecessariamente enfrentar o perigo
Negligência – omissão na observância do dever de cuidado
(Imperícia – falta de aptidão ou habilidade específica. Q: Prof. Rodolfo Pamplona – advogado que perde o prazo? Médico que erra a técnica? = motorista sem habilitação?)
OBS1: Espécie de negligência técnica ou profissional?
OBS2: Questões objetivas.
Formas de Manifestação da Culpa em Sentido Estrito
Responsabilidade Objetiva e Atividade de Risco
Parte IV
A noção de responsabilidade civil era calcada na idéia de culpa por conta do resgate que o direito francês fez ao direito romano. No momento em que o direito ingressa no século XX, diante da dificuldade de se provar a culpa, desenvolveu-se a chamada teoria do risco.
 
É a teoria do risco que dá base à responsabilidade objetiva, que é aquela que dispensa a análise da culpa. 
A idéia da teoria do risco é a de que aquele que cria o risco deve responder por ele independentemente de culpa.
Introdução
Quando o codificador define o ato ilícito no art. 186, consagra a ilicitude subjetiva, baseada na culpa porque diz: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência”. Isso é dolo e culpa. 
Mas a culpa não é um elemento indispensável porque também existe no sistema de responsabilidade brasileiro, a ilicitude objetiva. O art. 187, ao definir abuso de direito, não invoca a noção de culpa porque há uma ilicitude objetiva. 
Introdução
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
 
Presença das duas formas de responsabilidade, a subjetiva, presente no art. 186, e a objetiva, presente no art. 187. O parágrafo único acrescenta hipóteses de responsabilidade objetiva, ao dizer:
 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Esse dispositivo traz a idéia de que haverá a responsabilidade objetiva na forma das leis especiais. Há muitos microssistemas no país que consagram a responsabilidade objetiva. O CDC é uma dessas leis, legislação ambiental, legislação do DPVAT (seguro obrigatório de veículos), responsabilidade do Estado. 
Introdução
Há responsabilidade objetiva na forma das leis especiais ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, em risco para o direito de outrem.
A responsabilidade objetiva justifica-se na medida em que o causador do dano, visando auferir um proveito, submete a vítima a uma probabilidade de lesão maior do que outros membros da coletividade .
Cuidado hermenêutico: risco-proveito
O risco-proveito
Enunciado 38 – Art. 927: a responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade.
A atividade de risco deve traduzir uma ação reiterada e habitual.
O risco-proveito
Exemplos: 
	A casa de João fica em região próxima a um aeroporto. Numa descida, o trem de pouso de uma aeronave cai na casa. A empresa está empreendendo uma atividade de risco visando a um proveito, em caráter habitual, impondo à vítima, João, um risco maior do que ao do resto da coletividade.
 
Algumas empresas químicas, siderúrgicas, ao se instalarem no interior, constroem estadas vicinais. Um caminhão da empresa tomba numa destas estradas e causa dano grave a um morador. Ele vai demandar a empresa com base na responsabilidade civil objetiva do § único, do art. 927 argumentando que esse causador do dano desenvolvia atividade habitual, visando auferir determinado proveito.
 
Nesses dois exemplos, não se poderia dizer que as vítimas eram consumidores equiparados? Os chamados bystanders? Não “esticar” a noção de terceiro equiparado a ponto de tornar todo e qualquer cidadão, em toda e qualquer situação consumidor equiparado. 
O risco-proveito

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