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UNIDADE 2 ANALISES DE PROJETOS Introdução A perfeita democracia é algo a ser buscado indefinidamente, pois haverá sempre o grupo ou o indivíduo a discordar das decisões. No entanto, o valor maior está nos canais abertos para as reivindicações, o debate e as escolhas democráticas, pois democracia é uma eterna procura, principalmente onde reina a multiplicidade cultural. A democracia perfeita e estável é encontrada apenas nos livros, como em Utopia, obra de Thomas Morus, lançada em 1516. Pelo título do livro, é possível imaginar que democracia não é algo fácil de ser atingido. Uma sociedade real está em eterna manutenção de seus direitos adquiridos e continua a lutar, pela justiça social, econômica e ambiental. Muitas são as instâncias da sociedade que estimulam essas lutas: conselhos, associações, sindicatos, partidos, enfim, entidades que reivindicam seus direitos de classe. Sendo a escola o espaço educador por concepção e efeito, é nela que as primeiras lições de democracia devem ser ensinadas para que seus educandos, no futuro, saibam os caminhos para lutar por suas próprias reivindicações, individuais ou coletivas. Libâneo (1998, p. 71) define o processo educativo como “um fenômeno social, enraizado nas contradições, nas lutas sociais, de modo que é nos embates da práxis social que vai se configurando o ideal de formação humana”. Dessa maneira, é inerente ao processo o conhecimento e a prática da democracia, e a escola é um dos melhores lugares para esse aprendizado. Yus (2002, p. 178) classifica alguns valores essenciais para a escola democrática, tais como: “solidariedade, colaboração, experimentação compartilhada, buscando um delicado equilíbrio entre interesses individuais e coletivos”. Em um país de regime democrático e com valores constitucionais baseados na transparência, na justiça e na liberdade, não ensinar democracia nas escolas deixaria um vácuo muito significativo na educação do aluno. Ora, se é este o regime que adotamos para o nosso país, como não ensinar, desde cedo, o que é democracia? Aliás, não ensinar esse princípio iria contra a própria lei federal. Na Constituição Federal (1988), foi aprovado o art. 206, em que está citado o princípio de gestão democrática na educação juntamente com os princípios de obrigatoriedade, gratuidade, liberdade e igualdade. A gestão democrática na educação é um direito cujas normativas são encontradas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (nº 9.394/1996). Os artigos 14 e 15 contêm elementos indutores da gestão democrática, como pode ser verificado a seguir: Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15 – Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público. (BRASIL, 1996). Para instaurar esses verdadeiros sistemas de decisão democrática chamados instâncias colegiadas ou órgãos colegiados, como os conselhos escolares, os grêmios estudantis e as associações de pais e mestres nas escolas de todo o Brasil, mais políticas públicas estão sendo legisladas e Gestão Democrática na Educação executadas. Na Lei nº 13.005/2014, que aprovou o Plano Nacional de Educação (PNE) e cuja vigência está prevista para dez anos, portanto, até 2024, é colocada a gestão escolar democrá- tica entre as diretrizes e também nas metas. A sexta diretriz do PNE visa a promover “o princípio da gestão democrática da educação pública” e, entre as metas, a 19 é a mais específica quando se refere à gestão escolar: [...] assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto. (BRASIL, 2014). Ainda nessa mesma meta, são citados o conselho escolar e o conselho municipal de educação como peças estratégicas na gestão democrática escolar, incentivando, inclusive, a formação de conselheiros. A comunidade escolar, no PNE, é um destaque na elaboração de documentos como o projeto político pedagógico. Comunidade escolar pode ser conceituada como a soma de todos os agentes envolvidos na escola, tais como: os componentes do corpo docente e discente; os pais ou os responsáveis legais pelos alunos; os funcionários; pessoas físicas que vivem no entorno da escola (vizinhos) e jurídicas (associações empresariais, de bairro), enfim, todos têm o direito de opinar na educação das crianças e jovens, pois a lei assim assegura. A lei prevê, inclusive, uma autonomia pedagógica da escola ao ponto de a comunidade, devidamente instituída em algum órgão colegiado, poder interferir diretamente na elaboração do currículo, na administração e na gestão financeira da escola. Assegura ainda o direito dos pais e da comunidade em geral a serem participantes da avaliação institucional do estabelecimento de ensino, o que inclui a atuação dos professores. Os resultados provenientes dessa avaliação serviriam de indicadores para subsidiar ações baseadas em um planejamento estratégico, tal como está sugerido na Estratégia 7.3 do Anexo do PNE. A Associação da Escola de Gestores do Ministério da Educação (MEC) explica que é [...] preciso distinguir as diferenças entre conselhos de educação na gestão dos sistemas de ensino e a natureza própria dos conselhos escolares ou equivalentes no interior das instituições de ensino; bem como distinguir natureza dos conselhos escolares e a dos órgãos auxiliares da escola, como as denominadas associações de pais e mestres, caixa escolar e outros mecanismos de apoio à gestão da escola. (SILVA et al., 2014). Cada um dos órgãos colegiados tem sua atribuição; o conselho escolar é considerado, entre todos os outros, o órgão máximo da escola. Cabe ao conselho escolar, segundo o MEC (BRASIL, 2014), [...] deliberar sobre as normas internas e o funcionamento da escola; participar da elaboração do Projeto Político-Pedagógico; analisar as questões encaminhadas pelos diversos segmentos da escola, propondo sugestões; acompanhar a execução das ações pedagógicas, administrativas e financeiras da escola e mobilizar a comunidade escolar e local para a participação em atividades em prol da melhoria da qualidade da educação, como prevê a legislação. (BRASIL, 2014). No entanto, para que haja mais participação da comunidade em todo o processo de gestão democrática, é necessário que se publiquem as informações, os problemas da escola, as soluções e os projetos. A comunicação é um passo estratégico para atingir mais participantes e, assim, oferecer um caráter realmente democrático, com transparência e ampla participação. Para tanto, a informatização do sistema de participação democrática na escola é um meio necessário, mais do que isso, é de suma importância. Exemplo disso é a elaboração do projeto político pedagógico: a abertura a sugestões e emendas convida a comunidade, em meio real ou virtual, a participar de decisões que caberiam ao conselho escolar aprovar ou não. Nesse caso, o PPP cumpriria sua meta de ser essencialmente público, isto é, de criação coletiva e não um documento elaborado pela equipe pedagógica apenas. Como não há vínculo empregatício dos cidadãos que se dispõem a trabalhar voluntariamente pela escola pública, doando seu tempo e sua energia sem remuneração, é necessária que haja uma consciência coletiva determinante, cujo único objetivo seja a melhoria da qualidade de ensino/aprendizagem. Afinal, todos dependem da formação desses jovens cujas escolhasinfluenciarão os passos de uma sociedade inteira. Há um ditado africano que diz: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Nesse sentido, cabe ressaltar que, em uma comunidade, todos os adultos são responsáveis pelas crianças, mesmo que não haja aproximação parental, geográ- fica (vizinhança) ou de frequências esporádicas (clube, igreja, a própria escola, etc.). Basta ser adulto para que seja transmitida, também a ele, a função de educador. Para embasar a discussão teórica da gestão democrática, recorreu-se a autores como Bernardo Toro, Howard Gardner, Paulo Freire, José Carlos Libâneo, Edgard Morin, George Snyders, entre outros. São pensadores da atualidade na área da educação com concepções convergentes para um mundo mais solidário, justo e democrático. Segundo Gadotti (1999, p. 276), “para deixarem de ser países de terceiro mundo, como pejorativamente se costuma dizer, será necessário inverter as prioridades e passar a investir massivamente nas políticas sociais”. E não há outra política que possa ser mais amplamente executada, em termos de ideologia, que a área educacional. Embora os benefícios tendam a ser obtidos em médio e longo prazo, é um investimento seguro de evolução social. Alvarez (1991) apud Hernandez (2007, p. 65) relata que “dos colégios jesuítas até a atualidade, privilegia-se as relações de poder sobre as de saber”. Hoje, com leis como esta – a LDB –, é possível estar presente e opinar, como profissional e cidadão, nas decisões estratégicas para a educação atingir níveis de excelência. É preciso, portanto, tornar o “político mais pedagógico e o pedagógico mais político”, como afirma Moreira (2003, p. 63). Schools of trust (Escolas da confiança, tradução livre) é um documentário sobre escolas democráticas, aquelas que valorizam as escolhas dos alunos. O alemão Thomas Möller, junto com um amigo educador, viajou pela Alemanha, Holanda, Israel, Porto Rico e Brasil para produzir o filme. Disponível no link: <http://www.youtube.com/ watch?v=AQZev-QX1EU#at=160>. 2.1 Os desafios da gestão democrática e a ação docente De certo modo, os educadores de profissão são os executores das ideias dos pensadores, que, se somadas às suas próprias vivências, adaptam-nas às culturas locais e também aos documentos normativos oficiais, como o Plano Nacional de Educação, os Parâmetros Curriculares, o projeto político pedagógico da escola, entre outros. Segundo Charlot (2008, p. 20), “o professor deve, agora, pensar de modo, ao mesmo tempo, ‘global’ e ‘local’. Há de preparar seus alunos para uma sociedade globalizada e também, de ‘ligar a escola à comunidade’”. No entanto, muitas são as dúvidas oriundas dos professores, relativas ao processo educacional democrático. Pois, de acordo com Moacir Gadotti, [...] caminhamos para uma mudança da própria função social da escola. Entre nós, chamamos essa nova educação de educação popular, não porque ela seja destinada apenas às camadas populares, mas [...] pelo caráter popular, socialista e democrático que essa concepção traz. (GADOTTI, 1999, p. 268). A profissão docente carrega, por si só, um caráter de transformação. Uma profissão que vai além de um encargo de deveres. É também uma possibilidade de exercer o direito de expor sua opinião a jovens em formação. Centenas de pessoas podem sofrer a influência de um único professor ou pedagogo ao longo da carreira. Ao considerar esse aspecto, Giroux (1997, p. 75) nomeia os professores como “intelectuais transformadores”, dois adjetivos que dão uma conotação de responsabilidade social que a profissão possui. Da mesma forma que o docente deve conhecer com propriedade preceitos inerentes à sua disciplina, ele deve também – e tem o direito de – colocar suas opiniões ideológicas oriundas da sua vivência. O professor é empoderado por um sistema social que, ao mesmo tempo em que lhe concede um diploma – obtido pelos seus próprios méritos do formando –, também lhe dá o aval e a oportunidade para ensinar seus alunos. Miguel Arroyo (2013, p. 73) sugere que “[...] o conhecimento, acumulado sobre ambos (docentes e alunos) se fosse incorporado aos currículos, como pretendem tantos docentes, poderia contribuir para visões mútuas mais realistas, base para relacionamentos mais humanos.”. O fato é que não há como desvincular os ensinamentos técnico-científicos, próprios da disciplina, do conjunto de experiências pessoais que são transmitidas – nem sempre de forma voluntária – no trato com os alunos e com o sistema escolar como um todo. A gestão democrática inicia na sala de aula mais do que em qualquer outro lugar. Em sessão plenária, Moreira (2010) cita Paulo Freire quando faz uma abordagem do professor como um “subversivo” no sentido de preparar o aluno para a luta democrática, além de ele mesmo, o professor, ser um ser inacabado e, portanto, [...] em formação e que, portanto, tem o que aprender e isto busca ao ensinar; tem um projeto de ensino assentado em um projeto de sociedade; assume compromisso social, político e ideológico em relação ao projeto que tem de sociedade; ensina com esperança e amor; não é assistencialista, ama ao instrumentalizar para a autonomia; age na dimensão do diálogo horizontal; alfabetiza para a reflexão, para expressão, para autoria, para ação; fomenta a reflexão para ação; compreende o processo educativo como processo de empoderamento – empowerment, não só na dimensão individual da vida do educando, mas na dimensão da sua atuação político-social na construção de uma sociedade humana. (FREIRE apud MOREIRA, 2010, p. 15). Este é o aspecto do professor, de um agente crítico e capaz de empoderar o aluno na sua vivência, para elevar sua sensibilidade de justiça e lutar pelos seus direitos, em um espírito contínuo e pulsante de democracia. José Carlos Libâneo atribui ao professor uma série de necessidades contemporâneas, uma delas é [...] a formulação de temas geradores, após levantamento de características da realidade local e da identificação de problemas mais significativos para o grupo de alunos, de forma que possibilitem a compreensão mais globalizante dessa realidade por meio da contribuição de várias disciplinas. (LIBÂNEO, 2007, p. 43). E, para completar a ideia de temas geradores, Libâneo (2007, p.44) acrescenta o papel desses temas na elaboração de um projeto: • enunciar situações problemáticas significativas; • traduzir uma nova relação entre currículo, escola e comunidade; • refletir sobre a realidade global e interdisciplinar; • permitir ao mesmo tempo a compreensão do tema gerador a partir do conhecimento e da criação de novos conhecimentos; • olhar de forma crítica e contextualizada a realidade local, geográfica, social e cultural. (LIBÂNEO, 2007, p. 68). Enquanto a escola autoritária executar valores baseados na imposição de regras, ela continuará ensimesmada, desvinculada do resto da sociedade; uma ilha onde todas as decisões tomadas independem do que se passa no mundo, pois o único interesse é o da transmissão de conteúdos específicos em que cada professor tem a única e exclusiva responsabilidade sobre sua disciplina. Há pais que optariam por esse sistema e nesse tipo de escola matriculariam seus filhos. Contudo, pais que querem educar seus filhos com virtudes como transparência, tolerância, respeito às diversidades e outros valores inerentes à democracia querem que seus filhos tenham professores tais como denominou Giroux (1997, p. 18): “aqueles que trabalham incansavelmente, dedicados à promoção da democracia e melhoria da qualidade de vida humana”. Para complementar essa ideia e defender uma escola democrática, lança-se mão dos preceitos defendidos pelo filósofo colombiano Bernardo Toro. Ele listou as sete competências necessárias que uma pessoa deve ter para estar preparada para as necessidades do século XXI. 1. Domínio da leitura e da escrita; 2. Capacidade de fazer cálculos e resolver problemas; 3. Capacidade de analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e situações;4. Capacidade de compreender e atuar em seu entorno social; 5. Receber criticamente os meios de comunicação; 6. Capacidade de localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada; 7. Capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo. (TORO, 1999, p. 116). O último item da listagem demonstra a necessidade de colocar os alunos juntos, em equipes (grupos), para que possam desenvolver habilidades como acatar a vontade do outro e também argumentar com a propriedade de quem acredita em outra concepção que não a do colega. Essa constante negociação é um aprendizado, tanto para a vida comunitária quanto para o trabalho. Ninguém aprende sozinho ou, como coloca Freire (1987, p. 68), “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Mundo este que está se alimentando e sendo alimentado por fenômenos relativos à globalização, como a convivência com a diversidade oriunda das migrações voluntárias ou impostas por motivos naturais (terremoto, por exemplo), econômicos, políticos, orientação sexual e convicção de cada indivíduo e também a coletiva (religião). E, diante desse cenário de múltiplos tons, encontra-se o professor para gerenciar, administrar, gerir as relações humanas que acontecem dentro da sala de aula e, além disso, deve executar o seu saber técnico-científico com demonstrações, orienta- ções de pesquisa, sugestões, avaliações e todas as atribuições para as quais ele se licenciou. De acordo com Freire (2002, p. 41-43), “ensinar exige reconhecimento e assunção da identidade cultural”, isto é, fazer com que o aluno valorize sua própria origem cultural, em uma tentativa de evitar atitudes de desqualificação do outro, como xingamentos, apelidos e todas que demonstrem algum tipo de intolerância com a diferença. Outro teórico da contemporaneidade, Snyders, apud Gadotti (1999, p. 305), eleva ainda mais a categoria de escola como espaço de aprendizado para as relações pessoais quando cita a “visão do caráter contraditório da escola, que não é nem apenas reprodutora, nem revolucionária, mas local de confronto de interesses de classes antagônicas”. E cada vez mais as diferenças se acentuam: imigrantes e suas culturas concentradas em um mesmo ambiente, assim como jovens com suas orientações sexuais diversas, modos de vestir, de falar e até mesmo o tipo de música que é ouvida pode gerar conflito. Trata-se do multiculturalismo. O papel do professor, então, de acordo com Snyders, apud Gadotti (1999, p. 305), “é assumir sua posição de orientador na evolução da criança”. Em uma proposta pedagógica que tem o desenvolvimento de projetos de forma contínua, esse professor deve estar preparado para mediar as relações. Em que ponto das ideias de Morin, com os sete saberes necessários e Toro com as sete competências necessárias para o século XXI listadas por Bernardo Toro (2002) e os de Edgard Morin confluem para as relações humanas? Resposta: no aspecto sobre a compreensão humana, Morin cita a necessidade de compreender uns aos outros, como compreender nossos vizinhos, nossos parentes, nossos pais. Para complementar, Toro coloca a capacidade de compreender e atuar em seu entorno social. É nos acordos firmados entre as instâncias escola e família; equipe-pedagógica e professores; professor e alunos e; escola e comunidade, que o espectro da democracia “emoldura” a escola. Ainda que nesse regime não haja possibilidade de agradar a todos, nele é possível negociar, estabelecer debates e, então, de maneira organizada e respeitosa, chegar a um consenso de maioria. Em uma escola democrática, a obra de arte do professor, como apregoa Demo (2004, p. 97), é o aluno que sabe pensar. De acordo com o autor, a produção de texto permitiria uma avalia- ção evolutiva do aluno, à medida que os textos fossem escritos. E se o professor, ainda segundo Demo (2004, p. 97), “souber orientar e avaliar, o aluno percebe o que é argumentar, fundamentar, questionar”. Pedro Demo, PhD em Sociologia e professor da Universidade de Brasília (UnB), defende a importância da prática da pesquisa científica na escola, desde os anos iniciais. Qual a sua interpretação para a frase que o professor Doutor Pedro Demo escreveu no livro Profissão do futuro e reconstrução do conhecimento? “É incongruente ocupar o tempo todo com aula, porque evita-se estudar”. NÓS QUEREMOS SABER! A execução diária desse papel requer constante aprimoramento, estudo e debate por parte desse profissional. Cabe a ele exigir de si mesmo e das instâncias competentes uma educação contínua, tanto de sua disciplina quanto das questões ideológicas e operacionais que envolvem a prática pedagógica. A formação do docente, segundo Dourado (2007, p. 924), “implica aprofundamento sobre a natureza das instituições educativas e suas finalidades, bem como as prioridades institucionais, os processos de participação e decisão, em âmbito nacional, nos sistemas de ensino e nas escolas”. Além dos vínculos ideológicos assumidos durante sua vivência político-educacional pelos quais passou o professor nos bancos escolares ou no seu cotidiano, é importante que ele se inteire dos programas e projetos ofertados pelo poder público para poder aplicá-los em sala de aula. Exemplos atuais são o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI), o Programa Mais Educação e o Programa Relação Escola-Comunidade. As características da escola, lançadas na base de dados do Governo Federal, permitem ou não a adesão da escola a esses programas, que têm por objetivo a melhoria da qualidade da escola pública nos quesitos de acesso aos materiais pedagógicos, estímulo à pesquisa, segurança alimentar, proteção à criança e ao adolescente... Enfim, uma série de aspectos que a escola e seu currículo tradicional deixam a desejar para a educação pública de qualidade e que tendem a melhorar com a ampliação da jornada escolar e o suprimento de carências materiais. 2.2 O projeto político pedagógico (PPP): do tradicional à pedagogia de projetos Pensadores da educação, citados neste texto, como Morin, Toro, Libâneo e Freire, têm em comum a crítica contra a educação tradicional, o modelo de “educação bancária”, como diria Freire. E não são apenas os autores e seus livros que condenam esse tipo de metodologia. A posição em que se encontra o Brasil em rankings mundiais como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (OECD, 2015) fez com que o Brasil ocupasse o 60º lugar em um total de 76 países avaliados. Diante dos fatos, que não podem ser contestados, surge a possibilidade de fazer valer a liberdade permitida pela legislação brasileira no sentido da autonomia pedagógica que as escolas possuem para elaborar seus planos pedagógicos, mais especificamente, o projeto político pedagógico (PPP). Libâneo (2007, p. 47) ressalta que “a organização escolar interdisciplinar é um modo de efetivar a atitude interdisciplinar e se expressa na elaboração coletiva do projeto pedagógico e nas práticas de organização e gestão da escola”. Para implementar uma nova metodologia, como a pedagogia de projetos, é necessário romper barreiras na forma tradicional que vem sendo construída, afinal, um dos princípios para a elaboração do PPP é a ampla participação da comunidade escolar. O PPP tem como foco a organiza- ção da escola como um todo, em que, conforme afirma Freire (1979, p. 56) “o aluno é o centro e o motivo para se trabalhar o conhecimento e o desenvolvimento humano”. Esse documento baseia-se em um propósito comum que envolve o aprendizado do aluno, a educação em geral e o saber social a ser apropriado por todos os segmentos. Entre as principais questões a serem elaboradas pelo PPP da escola, estão os seguintes tópicos: missão, clientela, aprendizagem, família, recursos, diretrizes pedagógicas e plano de ação. A relevância dos temas o faz um documento essencial para consulta sempre que necessário, por todos os grupos da escola, isto é, da equipe pedagógica aos alunos, todos devem acessá-lo. Freire (1979, p.43) coloca o PPP como um documento que possui as seguintes finalidades: “ser orientador do presente e construtor do futuro”, ou seja, ao mesmo tempo em que representa um rumo definido, é uma ferramenta fundamental para que os atores envolvidos reflitam e discutam permanentemente os problemas vividos pela escola e busquem alternativas viáveis para cada momento. Dessa forma, colabora na formação continuada dos atores que o alimentam, sendo 13 ao mesmo tempo um canal de participação efetiva para todos, dado o seu caráter de constante aperfeiçoamento e evolução. Veiga explica que o PPP é um [...] instrumento transformador de grande importância para que a escola, como palco de inovação, investigação e produção de conhecimento torne-se autônoma por um referencial teórico metodológico que permita a construção de sua identidade e exerça seu direito à diferença, à singularidade, à transparência, à solidariedade e à participação. (Veiga, 1988, p. 31) Quanto ao conteúdo, pode-se dizer que o PPP define a dimensão pedagógica, a forma de gestão, os controles normativo-burocráticos e a gestão financeira da associação de pais, mestres e funcionários (APMF). É, portanto, um documento amplo e diversificado. É na dimensão pedagógica que se busca consolidar os valores que estão no projeto por meio de conteúdos curriculares, métodos, processos de avaliação, programas especiais, critérios próprios de organização da vida escolar, perfil e formação continuada da equipe docente, e também do estabelecimento de acordos, parcerias e cooperação técnica. Quanto ao processo de construção, é importante ressaltar que ele é planejado e construído por representantes de toda a comunidade escolar. Os envolvidos constroem a missão da escola que precisa ser compartilhada por todos os seus usuários e que representa o horizonte ao qual se quer chegar com os alunos no final do curso que a escola oferece. Durante o processo de construção, supõe-se uma negociação que resulta em consensos elaborados entre diversos grupos que podem ter concepções distintas. A elaboração do PPP deve basear-se em um diagnóstico resultante de uma avaliação institucional em que todos os envolvidos respondem a um questionário que gera dados para a tomada de decisões. Com esses dados, a escola se reconhece em sua identidade, suas limitações e necessidades, favorecendo, assim, o surgimento de lideranças e ressignificações do papel de cada um na comunidade. De acordo com Corazza apud Moreira (1997, p. 128) “Ao rever o que já está instituído, a coletividade pode fazer uma análise coletiva da sua história, da legislação, dos conteúdos, métodos, formas organizativas da escola”. O PPP é elaborado e previsto para quatro anos, mas tem flexibilidade, é dinâmico, sujeito a revisões e reinterpretações constantes: nunca está pronto, está sempre em construção, porém deve ser respeitado na forma em que foi legitimamente redigido, enquanto estiver em vigor. Embora as políticas educativas centralizadas acabaram por fomentar a configuração de sistemas educativos uniformes, rígidos e burocráticos. Sistemas onde prevalecem os critérios administrativo-burocráticos em detrimento daqueles de natureza pedagógica, protagonizando modelos educativos mais direcionados para a transmissão de conhecimentos e a obtenção de resultados visíveis a curto prazo do que para as dimensões humanas e sociais que devem servir de esteio aos processos de ensino-aprendizagem. (MORGADO, 2003, p. 79). Dessa forma, Gadotti (1999) coloca as circunstâncias ideais da escola que interage e que é capaz de intervir no sistema educacional com suas próprias qualidades e peculiaridades locais. O papel da escola (cidadã), nesse contexto é contribuir para criar as condições que viabilizem a cidadania, através da socialização da informação, da discussão, da transparência, gerando uma nova mentalidade, uma nova cultura, em relação ao caráter público do espaço da cidade. (GADOTTI, 1999, p. 197). Ainda que seja um projeto político pedagógico tradicional, ele deve ser construído coletivamente e não apenas pela equipe pedagógica. No entanto, em comparação com o PPP desenvolvido com base na pedagogia de projetos, as diferenças são mais profundas, como será visto a seguir. 2.2.1 O PPP e a pedagogia de projetos O projeto político pedagógico de uma instituição que pretende implantar a metodologia de pedagogia de projetos deve ter a temática da integração do currículo como desencadeadora de tudo o que nele será escrito pela coletividade da escola. Entenda-se essa integração não apenas entre as disciplinas escolares, mas também orientado pelas características locais, culturais. Afinal, segundo Silva (2003, p. 299), “se concebido adequadamente, o PPP revela quem é a comunidade escolar, quais são os desafios com relação à sua boa formação, e a conquista da autonomia e da gestão democrática”. A LDB (Lei no 9394/96), em seu artigo 13, afirma que é dever dos professores “participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino”. Não apenas participar da elaboração, mas, é claro, executá-lo. Primeiramente, conceber a missão e a visão da escola, itens que devem ser colocados logo no início do documento. Essas concepções (missão e visão) são inseridas para nortear o rumo a ser seguido para formar aquele tipo de pessoa e que tipo de educação é necessário para que isso aconteça. De acordo com Nogueira (2005, p. 39), “os objetivos macro da escola não devem ser esquecidos”, como, por exemplo, formação para o trabalho. Segundo a Organização para a Coopera- ção e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apud Hernández (1988, p. 51) “é inútil formar para o trabalho, pois as transformações técnicas das empresas tornam o conteúdo obsoleto. O que se deve deixar claro no PPP é que é necessário estudar por toda a vida”. Criar o desejo, no aluno, de nunca parar de aprender. Rafael Yus relembra que a temática da integração do currículo [...] esteve em discussão durante a segunda metade do século XX, acusando um forte ressurgimento nos anos 80 ante a tomada de consciência da ‘explosão’ do conhecimento, do aumento das ordens governamentais relacionadas com quantidades indeterminadas de temas, dos horários fragmentados de ensino, dos interesses sobre a relevância do currículo, da falta de conexão e de relações entre as disciplinas. (YUS, 2002, p. 186). Os projetos pedagógicos dentro da escola que pretende institucionalizar essa prática não devem ser aplicados aleatoriamente, sem discussão ou planejamento. Pelo contrário. Devem ser amplamente debatidos entre todas as instâncias da escola de modo que haja democracia e conexão. Portanto, não pode ser apenas mais um projeto interdisciplinar cuja função é apenas servir de vitrine para a escola em eventos ou mesmo uma obrigatoriedade imposta pela direção. Gandin e Franke revelam que [...] muitas escolas dizem que estão trabalhando com projetos, quando, na verdade, apenas realizam algumas atividades ‘juntando disciplinas’ que na maioria das vezes são pensadas apenas pelos professores e nada tem de participativas. Os alunos são meros executores do que é proposto por seus professores [...] este tipo de atividade não pode ser chamado de projeto. (GANDIN; FRANKE, 2005, p. 30). Implantar verdadeiramente a pedagogia de projetos significa inserir uma cultura de colaboração constante, de criatividade na elaboração e de muita organização, adequada, é claro, a esse modo de trabalhar. Pois, de acordo com Gandin e Franke (2005, p. 30), esse formato “rompe com a lógica linear tradicional, incentiva a cooperação e a autodeterminação, valoriza a pesquisa e as contribuições das diferentes áreas do conhecimento”. Em outras palavras, exige uma prática diária. O currículo integrado, de acordo com Hernández (1988, p. 52) “pretende organizar os conhecimentos escolares a partir de grandes temas-problema. Ensina estratégias de busca, ordenação, análise, interpretação e representação da informação”. Um PPP escrito e colocado em práticacom currículo integrado significa um avanço rumo a uma metodologia necessária para a contemporaneidade. Alguns puristas criticam a adesão aos projetos pedagógicos no quesito currículo, pois dizem que ele reduz os conteúdos. Como a quantidade não tem se revelado eficiente nas provas oficiais às quais são submetidos os alunos das escolas, em níveis nacional e internacional, a redução com aprofundamento pode se revelar mais apropriada. Nogueira (2005, p. 22) sugere que seja criado “um documento que justifique a exclusão de certos conteúdos”, cabendo ao professor essa tarefa. As vantagens de trabalhar com projetos pedagógicos, segundo Adriana Gandin, são aqui listadas: • O professor não será mais o único a falar; os alunos estarão em constantes estudos, debates, conclusões, construindo seu saber; • quase não haverá o que hoje se chama de indisciplina, porque, tendo o que fazer, buscando algo que tem significado, alunos e alunas estarão ocupados com algo sobre o qual tem poder e isso vai mantê-los envolvidos; • provavelmente poder-se-á, com a implantação maciça da metodologia de projetos, encaminhar a questão da avaliação de um modo coerente com a realidade e com o que é realmente importante e significativo. Gandin (2001, p. 56). Para complementar, é necessário ressaltar que, além da integração entre as disciplinas, a pedagogia de projetos permite a variação do uso dos instrumentos pedagógicos e de mídias como rádio, vídeo, música, blogs, vlogs e outras que aprimorem a criatividade e as habilidades dos alunos que, em uma metodologia tradicional, são preteridas por métodos obsoletos. Hernández (1988, p. 180) alerta para que a proposta interdisciplinar seja “real e de fácil aceitação e implantação”; para tanto, ela deve levar em conta as reais condições que existem no estabelecimento de ensino. Afinal, o projeto político pedagógico não é a exposição de um sonho,e sim uma proposta factível. 2.3 A gestão do projeto político pedagógico A elaboração do projeto político pedagógico deve ser feita pela comunidade escolar constituída em diferentes instâncias. Em uma escola pública, os funcionários representam o poder constituí- do. Deles, dos funcionários públicos de modo geral, se espera que prestem seus serviços para o bem público, pois em sua personificação executar os serviços em contrapartida decorrentes dos impostos pagos pela população e que a ela devem retornar para prestar os serviços públicos de primeira necessidade, como a educação. Ao diretor eleito pela comunidade cabe uma responsabilidade ainda maior, ou melhor, duas: a de representar o Poder Público como executor das normativas inerentes ao seu cargo e, também, representar os anseios da comunidade no que diz respeito ao cumprimento dos princípios democráticos durante a gestão que lhe foi outorgada pelo voto de professores, funcionários, pais de alunos e alunos (quando maiores de 16 anos, dependendo da legislação específica de cada legislação municipal e estadual). O diretor, eleito democraticamente, adquire um papel de protagonista nas questões pedagógicas e administrativas da escola, e melhor será quanto mais partilhar as funções. No artigo 14 da Lei de Diretrizes e Bases na Educação Nacional – LDB – Lei nº 9394/96 o artigo 1º garante a “participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola”. Esse direito deve ser usufruído por uma comunidade que se preocupa com seus jovens e, por decorrência, com o futuro. A participação coletiva contribui com um avanço rumo à gestão democrática da escola e formação contínua de verdadeiros cidadãos. Quanto mais esmiuçado for o PPP em sua elaboração, maior é a probabilidade de executá-lo. A abertura para emendas não é falta de competência na hora de elaborar e sim a percepção de que sempre há o que pode ser melhorado. Um PPP não é fechado hermeticamente no sentido de não poder ser mudado, pelo contrário, o cotidiano escolar está sempre mudando, novas maneiras de utilizar a estrutura escolar ou de executar alguma função são criadas e devem ser incluídas no documento, como emendas e substitutivos. Por exemplo, se o corpo docente ou o próprio conselho escolar considerar adequada a retirada de alguns conteúdos do currículo tidos como irrelevantes para os alunos daquela escola, deve documentar uma justificativa no PPP e extraí-los do programa, pois essa autonomia pedagógica está respaldada na própria LDB, no artigo 15. Se porventura os professores resolverem mudar de opinião, em uma nova circunstância, mais uma vez o documento poderá ser modificado. Afinal, uma escola é dinâmica em todos os aspectos que a compõem. No entanto, de nada adianta abrir o PPP uma vez por ano – ou a cada cinco anos, dependendo do tempo de sua vigência – apenas para fazer modificações. O ideal seria que todos tivessem acesso, inclusive os alunos, para se informarem, questionarem, debaterem e modificarem os tópicos sempre que necessário. Hernández (1988, p. 65) explica que os “PPPs dão meios para refazer a escola, pois tentamos reorganizar o espaço e o tempo, a relação entre os docentes e os alunos e redefine o discurso sobre o saber escolar”. Entre tantas outras, sua atribuição é estimular o acesso ao conhecimento dos professores dos documentos oficiais pré-selecionados (leis, resoluções, portarias, projeto político pedagógico) que regem a estrutura e o funcionamento do ensino em todas as instâncias, da Constituição Federal ao regimento escolar. Juntos – pedagogos e professores – poderão acessar o calendário de participação em eventos para promover seus projetos nos níveis municipal, estadual e federal. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem, de H. A. Giroux. Neste livro, o autor norte-americano, representante da pedagogia crítica, reflete sobre o papel ideológico, além do técnico-científico, do professor. NÃO DEIXE DE LER... Uma atribuição dos pedagogos e pedagogas, nesse quesito, para estimular e valorizar ainda mais os projetos desenvolvidos, é acompanhar os calendários de eventos de projeção municipal, estadual e até federal. São mostras, concursos de vídeo, dança, palestras, peças de teatro, visitas monitoradas, atividades como concursos, apresentações, olimpíadas de disciplinas e adesão a programas e projetos. Uma visita pedagógica planejada em detalhes, como a metodologia, quais disciplinas pode suscitar um projeto pedagógico completo. O PPP, nesse caso, é um “trilho” a ser percorrido pelos fazeres pedagógicos e que leva ao cumprimento da missão proposta no próprio projeto político pedagógico, como meta a ser perseguida. Uma vez o PPP tendo sido construído por todos, com canais abertos – inclusive virtuais – para opiniões e debates e de amplo conhecimento, a missão da escola, portanto, seria conhecida de todos. As decisões a serem tomadas diante das pautas do conselho escolar, do conselho de classe, ou no dia a dia mesmo, seriam facilitadas pelo conhecimento do objetivo que cada escola deve ter em relação aos procedimentos corretos no sentido de atenderem aos propósitos da escola. Uma questão de posicionamento ideológico presente nas atitudes de cada um que conhece o projeto político pedagógico porque teria participado de sua construção. Assim como pode existir o caminho inverso: a cada circunstância, um comportamento. Uma escola que não conhece seu PPP age conforme os acontecimentos surgem, em um laissez-faire (termo francês que significa o verbo deixar: “deixar as coisas acontecerem”) constante, gerando desencontros, contratempos e desentendimentos. Não é o cargo de diretor ou diretora que tem o poder irrestrito na tomada de decisões. Há o conselho escolar, que decide, em assembleias ordinárias e extraordinárias, a partir das seguintes formas: • consultiva – quando é feita consulta sobre questões importantes da escola; • deliberativa – quando aprova, decide e vota sobre assuntos pertinentes às ações da escola nos âmbitos administrativo, pedagógico e financeiro;• normativa – quando elabora seu regimento, avalia e define diretrizes e metas de ações pertinentes à dinâmica do processo educativo, para um bom funcionamento da escola; • fiscalizadora/avaliativa – quando exerce o papel de controle. É, portanto, o fórum máximo de decisão da comunidade escolar. Porém, hierarquicamente, acima do conselho escolar, no âmbito da escola, está o projeto político pedagógico, que deve ser consultado em reuniões como documento mestre, afinal, ele teria sido elaborado por todos e a ele (ao PPP), para não serem incoerentes, todos devem seguir. Portal Em Diálogo é um site alimentado por projetos educacionais de estudantes de ensino médio de todo o Brasil. O site foi desenvolvido pelo Observatório Jovem do Rio de Janeiro, um grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do CNPq e vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação (Poseduc) da Universidade Federal Fluminense. O grupo iniciou suas atividades no ano de 2001 na Faculdade de Educação da UFF e passou a integrar o Programa de Pós-Graduação em Educação em 2003, caracterizando-se como grupo de estudo, pesquisa e extensão sobre o tema da juventude. No Poseduc, o grupo está vinculado à linha de pesquisa Práticas Sociais e Educativas de Jovens e Adultos do Campo de Confluência “Diversidade, Desigualdades Sociais e Educação”. Confira nos links: <http://www.emdialogo.uff.br/> e <http:// 2.3.1 Elementos enriquecedores dos projetos Carneiro (2011, p. 114) apresenta alguns itens (listados e adaptados a seguir) que podem auxiliar na condução dos projetos da escola e que, por sua vez, precisam estar descritos no projeto político pedagógico: a. adaptação dos conteúdos em temas vinculados à idade dos estudantes; b. desenvolvimento de competências sociais que favoreçam a integração do aluno ao seu meio; c. desenvolvimento de competências associadas ao mundo do trabalho – principalmente no ensino médio; d. identificação de disciplinas nas áreas temáticas (do tipo meio ambiente, esporte, saúde, educação, trabalho, artes, produções literárias, criações e produções musicais, segurança, equipamentos sociais, sexualidade, drogas, ética, religião, etc.) e das situações-problema em geral que motivam a aprendizagem (preconceito, desemprego, qualificação profissional, movimentos sociais); f. desenvolvimento de modelos de gestão colegiada de programações e eventos da escola e da comunidade escolar e local; g. envolvimento dos alunos em programas de estudo e de pesquisa, em atividades complementares de laboratório, em programas de estudo e de pesquisa, em ONGs e atividades voluntárias diversas; h. criação de agenda para a realização de feiras, mostras de arte, realização de gincanas, disputas de jogos, exposições de natureza variada, i. constituição de comitês, conselhos, colegiados, associações, clubes de interesse (de leitura, de pintura, de desenho, de organizações juvenis como diretórios e grêmios); j. inventário de experiências educacionais bem-sucedidas e sua disseminação; k. realização de festivais audiovisuais e de música, de poesia, de corais, de teatro, de bandas de inventores, de fabricação de bens de diferentes naturezas. Essas atividades inseridas no cotidiano dos alunos tendem a avivar a escola e a torná-la um ambiente estimulante para o desenvolvimento de ideias, um lugar de integração com a comunidade, de estímulo e potencialização de talentos e interação entre professores e alunos. Movimentos escolares dessa natureza tendem a aumentar o interesse dos alunos pelo estudo e também pelo convívio saudável entre seus pares, o que, por sua vez, diminui a evasão escolar, diminuindo, assim, o risco social ao qual os alunos estão expostos. E, para concluir este tópico, a frase do próprio Carneiro (2001, p. 89): “Não é apenas levar o jovem à escola. É preciso levar a escola ao jovem e deixar que ele seja cidadão, participando do processo educativo e tenha autonomia para plasmar a sua identidade”. 2.4 O que é um projeto educacional interdisciplinar e transdisciplinar Uma das definições para a palavra disciplina está relacionada ao ramo de conhecimento, à ciência ou à matéria dada pelo professor na escola. Acontece que a separação das disciplinas, da forma como foi concebida, não se enquadra na proposta educacional para um mundo cuja complexidade é que distingue, separa e compartimentaliza o conhecimento. Hernández (1988, p. 12) alerta que as “disciplinas são entendidas como fragmentos empacotados em compartimentos fechados, que pouco tem a ver com os problemas dos saberes fora da escola”. Edgard Morin faz críticas à organização do conhecimento escolar em disciplinas. Entre elas, ele afirma que [...] o conhecimento escolar – da forma como é ofertado – é inútil; que há impossibilidade de desenvolver projetos interdisciplinares; que os alunos são incapazes de realizar a síntese do conteúdo; que falta motivação dos alunos, que parte-se da disciplina como algo inquestionável; que as relações hierárquicas são reforçadas e que prioriza os mais adaptados e ignora os diferentes estilos cognitivos. (MORIN, 2005, p. 174). Diante dessa análise, surge a alternativa de trabalhar com o currículo integrado, buscando elementos que congreguem as disciplinas a fim de formar pontos de ligação durante a realização do projeto pedagógico. Apesar de o termo interdisciplinar ser considerado um neologismo, na Grécia Antiga já havia indícios de questionamentos nesse sentido. No Brasil, segundo Fazenda (1991, p. 34), é um termo que vem sendo “introduzido gradativamente desde 1972 nos documentos oficiais da educação”. E, embora não haja um sentido único para esse conceito, de acordo com a autora, existe um ponto em comum que tenta defini-lo: “intensidade das trocas entre especialistas e integração das disciplinas num mesmo projeto de pesquisa”. Não significa, portanto, um mero trabalho de equipes. Há outros conceitos que envolvem a relação das disciplinas entre si que aqui foram definidos pelo fundador e presidente do Centro Internacional de Pesquisas e Estudos Transdisciplinares 20 Laureate- International Universities Elaboração e análise de projetos (Ciret), órgão que já abrigava, em 2003, segundo Alvarenga et al. (2005), “167 membros, [...], dentre os quais, além do próprio fundador Nicolescu, pensadores como Edgard Morin, Gilbert Durand, Michel Cazenave, Geoffrey F. Chew, Nicolò Dallaporta, Giuseppe Del Re, Patrick Paul, Gaston Pineau, Ubiratan D´Ambrosio, dentre outros”. Conceito Exemplo Pluridisciplinaridade : é Estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo. O objeto é valorizado por várias disciplinas. Uma obra de arte pode ser vista sob diferentes olhares, de acordo com cada disciplina, porém a serviço de uma única disciplina. -Interdisciplinaridade é Transferência de métodos de uma disciplina para outra. Para superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, considerando-os indissociáveis com a contribuição das diversas ciências. Os métodos da Física, por exemplo, podem ser aplicados na medicina; no entanto, continuam separados até que surja uma nova disciplina, como na transdisciplinaridade. -Transdisciplinaridade é Ultrapassa o parâmetro disciplinar e tem como objetivo compreender o mundo presente. Estabelece inter-relações das diversas complexidades, dos diferentes níveis de realidade e contextos. Igualmente, o de fazer emergir novas figuras de saber ou um metassaber por relação aos saberes particulares, disciplinares. Não são disciplinas e sim conceitos transdisciplinares que são citados nos congressos: a teoria de sistemas; a teoria da auto-organização; a cibernética; certas partes da termodinâmica (sobretudo da termodinâmica prigoginiana): a teoria da informação; conceitos da linguística saussureana, como o conceito de código, mensagem, etc. Quadro 1 – Conceito de pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Fonte: Adaptado de Nicolescu, 1994, eAlvarenga, 2005. Dada a ampla finalidade a que se propõem, todas essas modalidades juntas fazem parte de um mesmo complexo, o complexo do conhecimento, daí se apresentarem, emprestando um termo do próprio Basarab Nicolescu (2001, p. 53) apud Alvarenga et al. (2005), como “flechas de um mesmo arco: o do conhecimento”. Hernández (1988, p. 54) sugere que “interdisciplinaridade não pode ser confundida como sinônimo de trabalho de equipes, algo que pode gerar o empobrecimento ou a simplificação do conhecimento”. É necessário, a priori, que haja um compartilhamento com os colegas professores, tal como explica Fazenda (1991, p. 34). O entrosamento é fundamental para o sucesso do trabalho da escola que coloca a pedagogia de projetos como escopo de seu trabalho. Nada mais recomendado para que haja um trabalho interdisciplinar efetivo do que a visão de conjunto do corpo docente. Para isso, são necessárias estratégias de comunicação que a própria equipe pedagógica deve favorecer, como painéis na sala dos professores, cadernos com recados e redes sociais eletrônicas que proporcionem a comunicação contínua entre os professores. 21 Figura 6 – Interdisciplinaridade. Fonte: Shutterstock, 2015. De acordo com Yus, um currículo integrado ou interdisciplinar inclui os seguintes aspectos: • combinação de disciplinas; • ênfase em projetos; • fontes que vão além dos livros didáticos; • relações entre conceitos; • unidades temáticas como princípios organizadores; • horários flexíveis; • agrupamentos flexíveis dos estudantes; • sistemas alternativos de avaliação. (YUS, 2002, p. 176). No entanto, para Hernández (1988, p. 46) “a transdisciplinaridade representa uma concepção da pesquisa baseada num marco de compreensão novo e compartilhada por várias disciplinas, que vem acompanhado por uma interpretação recíproca das epistemologias disciplinares”. Dessa forma, a cooperação dirige-se para a resolução de problemas. O processo da pesquisa é cumulativo. Para Yus (2002, p. 173), a transdisciplinaridade envolve várias disciplinas que se integram totalmente em torno de um tema amplo. Fazem parte de um continuum e um projeto transdisciplinar, segundo Carneiro (2001, p. 135), é um processo de fecundo enredamento. “São espaços que se entrecruzam, se interpenetram e se complementam, a exemplo de uma árvore frondosa sob cujo tronco estão feixes de raízes para lhe dar sustentação e alimentar de seiva, apesar da heterogeneidade dos galhos”. Para ilustrar a ideia, segue um exemplo de projeto com objetivos transdisciplinares: 22 Laureate- International Universities Elaboração e análise de projetos Figura 7 – Paisagem fictícia da pequena cidade do projeto. Fonte: Shutterstock, 2015. Confira um exemplo de um projeto que pode ser aplicado em uma turma de ensino médio. • Nome do projeto: A praça da cidade • Local: uma cidade de 15 mil habitantes • Quantidade de alunos: de 25 a 35 • Disciplinas envolvidas: Língua Portuguesa, Geografia, Biologia, Arte, Matemática e Sociologia • Justificativa do projeto: De acordo com os próprios alunos, foi constatado que uma das praças da cidade encontra-se em situação precária em termos de manutenção. O paisagismo está deteriorado, embora haja uma arborização com árvores centenárias. • Objetivo: Criar uma maquete da praça que corresponda às aspirações da população para que os alunos possam apresentá-la à prefeitura como sugestão de reforma paisagística, tendo em vista que a paisagem, conforme Bertrand (1972), é a confluência entre a Geografia e a Ecologia, portanto, um tema interdisciplinar. • Metodologia 23 Passo Disciplina Atividade Objetivo para os alunos 1 Língua Portuguesa Elaboração de questionário Diferenciar perguntas abertas e fechadas 2 Matemática Decodificação das respostas dos transeuntes Montar gráficos estatísticos 3 Geografia Desenho da praça Compreender escala cartográfica e transferir para a maquete 4 Biologia Fazer o levantamento florístico da praça Conhecer a classificação (taxonomia) dos vegetais 5 Sociologia Pesquisar sobre as hierarquias do poder público municipal Compreender como se dão as tramitações de projetos municipais 6 Matemática e Arte Montagem da maquete Desenhar e montar objetos embasados em geometria espacial e estética 7 Todas Apresentação do projeto na prefeitura Fluência e coerência na comunicação oral do projeto Quadro 2 – As disciplinas e seus objetivos. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. Com esse exemplo, o tema interdisciplinaridade é aparente, pois as questões são desenvolvidas a partir de várias disciplinas. No entanto, também pode ser considerado transdisciplinar devido ao objetivo do projeto. “Compreender o mundo atual” e, ainda, ter a possibilidade de mudá-lo, baseado em descobertas que foram efetuadas coletivamente. 24 Laureate- International Universities Síntese • Este capítulo tem a pretensão de elucidar alguns tópicos que se referem à gestão democrática na escola, principalmente em relação à gestão pedagógica. Com as leis que dão abertura para a personalização da gestão na escola, cabe aos agentes
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