Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
5 UNIP – Universidade Paulista Educação a Distância Curso: Pedagogia GABINETE VIÇOSENSE DE LEITURA: LUZ PURIFICADORA DA INSTRUÇÃO GILTON BARRETO DE CASTRO RA: 1521696 FORTALEZA/CE 2017 GILTON BARRETO DE CASTRO RA: 1521696 GABINETE VIÇOSENSE DE LEITURA: LUZ PURIFICADORA DA INSTRUÇÃO Trabalho Monográfico – Curso de Graduação – Licenciatura em Pedagogia, apresentado à comissão julgadora da UNIP Interativa, sob a orientação do professor Eduardo Mendes. FORTALEZA/CE 2017 GILTON BARRETO DE CASTRO RA: 1521696 GABINETE VIÇOSENSE DE LEITURA: LUZ PURIFICADORA DA INSTRUÇÃO Trabalho Monográfico – Curso de Graduação – Licenciatura em Pedagogia, apresentado à comissão julgadora da UNIP Interativa, sob a orientação do professor Eduardo Mendes. Aprovado Em: BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Prof. Universidade Paulista - Unip ___________________________________________________ Prof. Universidade Paulista - Unip ___________________________________________________ Prof. Universidade Paulista - Unip DEDICATÓRIA Dedico a presente monografia a todos os professores do curso, ao orientador do trabalho, aos familiares, amigos e a todos aqueles que de certa forma contribuíram para a realização deste projeto. AGRADECIMENTOS A Deus que me concedeu durante todo esse período força e perseverança para o desenvolvimento deste trabalho. A minha família pelo apoio e amor dedicado a mim. Ao Orientador Eduardo mendes, que se disponibilizou para que este trabalho fosse realizado. Palavras formam um dicionário, dicionários formam livros, livros formam uma biblioteca, bibliotecas formam um povo educado. Quando Deus formou a Bíblia, palavras encheram as bibliotecas do mundo inteiro, pois tudo o que está escrito dentro delas foi criado por meio de Sua infinita sabedoria. Helgir Girdo SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2 CAPÍTULO I: GABINETE DE LEITURA ..................................................................... 6 1.1. Gabinete Viçosense de Leitura ................................................................ 10 1.2. Instrução e Civismo .................................................................................. 15 1.3. Jornal Polyanthéa e o segundo aniversário do Gabinete Viçosense de Leitura ........................................................................................................ 18 CAPÍTULO II: DA DIRETORIA ................................................................................. 20 2.1. Diretoria Primitiva e Sócios Fundadores .................................................... 20 2.2. Segunda Diretoria ......................................................................................... 20 2.3. Diretoria do Gabinete Viçosense de Leitura (1928-1929) ..........................24 2.4. Diretoria do Gabinete Viçosense de Leitura (1929-1930) ......................... 24 2.5. Das Sedes ...................................................................................................... 25 2.6. Registro de algumas Sessões e Conferências memoráveis que marcaram a vida sócio-cívico cultural do Gabinete Viçosense de Leitura ......................... 32 2.7. Termo de Comodato celebrado entre o Gabinete Viçosense de Leitura e a Câmara Municipal de Viçosa do Ceará .................................................................. 37 CAPÍTULO III: CURSO NOTURNO VALDIVINO ELIAS DE ALENCAR ................. 40 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 46 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Banda de Música “Marreta” do ano de 1934. Figura 2 Banda de Música “Marreta” do ano de 1937. Figura 3 Folhas de rosto de livros pertencentes ao Gabinete Viçosense de Leitura e que foram doados pelo ex-presidente da Câmara Municipal de Viçosa do Ceará, Sr. Ernesto Fontenele ao Memorial Clóvis Beviláqua. Figura 4 Folha de rosto do recibo original pertencente ao Gabinete Viçosense de Leitura. Figura 5 Folha de rosto de um exemplar do Jornal “Polyanthéa” de 1918 pertencente ao Gabinete Viçosense de Leitura. Figura 6 Residência pertencente aos herdeiros de José Maria Mapurunga. Figura 7 Residência pertencente aos herdeiros de Raimunda Fontenelle de Castro. Figura 8 Antiga residência de Felizardo Pacheco Fontenelle, hoje “O Pão da Vida”, antes de sua reforma. Figura 9 Antiga residência de Felizardo Pacheco Fontenelle, hoje “O Pão da Vida”, após reformado. Figura 10 Theatro Pedro II, o terceiro mais antigo do Estado do Ceará. Figura 11 Prédio do antigo Gabinete Viçosense de Leitura e atual Câmara Municipal de Viçosa do Ceará, através do “Termo de Comodato”. Figura 12 Folha de rosto do Orçamento da Câmara Municipal de Viçosa do Ceará para o ano de 1919. Figura 13 Folha de orçamento da Câmara Municipal de Viçosa para o ano de 1919. Figura 14 Carta de Valdivino Elias de Alencar, datada de 1903, quando o mesmo foi a Europa fazer tratamento de saúde. Figura 15 Documento original do Major Valdivino Elias de Alencar recebendo os bens patrimoniais da Prefeitura das mãos do Intendente Municipal de Viçosa, José Joaquim Fontenelle Sobrinho, no ano de 1912. RESUMO O Gabinete Viçosense de Leitura, um ótimo ponto de entretenimento, teve sua sede inaugurada na cidade de Viçosa do Ceará, no dia 13 de fevereiro de 1916, com apoio de nossos conterrâneos e a presença de intelectuais de uma sociedade elitista. Foi construído com um pronunciado gosto artístico e paulatinamente foi se combatendo o analfabetismo, que foi um dos maiores entraves de nosso progresso. Muitos desses gabinetes de leitura surgiram no Brasil e especialmente no Ceará, impulsionados pela Maçonaria e pela República Positivista. De uma beleza arquitetônica, possuiu um importante acervo bibliográfico, ampliando assim os conhecimentos de seus associados, merecedor de todos os aplausos, pela elevação cultural da cidade. Os fundadores do Gabinete Viçosense de Leitura se preocupavam com o nível de instrução de seus compatriotas e por isso criaram o Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar. E para dar um maior dinamismo as atividades do gabinete viçosense, foram criadas as conferências e as sessões cívicas. O Gabinete Viçosense de Leitura serviu como uma espécie de laboratório onde os intelectuais viçosenses iniciavam seus trabalhos, configurando como um espaço iniciativo para a vida pública, onde muito de obras literárias que se encontravam em suas estantes, eram de doações aleatórias. Assim sendo, este trabalho procura construir sua interpretaçãodo momento histórico, valorizando a memória, preservando o passado como guia para o futuro, favorecendo assim novas experiências e mostrando a cultura e a história desse povo. Os caminhos metodológicos percorridos durante esta pesquisa foi buscar conhecimentos sobre os fatos, os documentos, as atividades cívicas com influências pedagógicas de uma sociedade burguesa. Neste trabalho foram apresentados os resultados das análises efetuadas, que foram divididos em dados, divididos nas seguintes seções, servindo para formulação de novas hipóteses: Introdução – onde foi apresentada uma metodologia dentro da pesquisa histórica, com tarefa investigativa dentro de pontos teóricos, conceituais e metodológicos, como objeto de investigação e avaliação; Gabinetes de Leitura – um pouco da história, a formação leitora por volta da metade do século XIX, o início de suas atividades no Norte do Ceará e o exercício das virtudes intelectuais de seus associados; Gabinete Viçosense de Leitura – o seu caráter literário-recreativo, a sua ordem moral, intelectual e cívica, congregando valores mentais, onde se tinha o Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar, voltado para “os pobres” e que tinha como idealizador Camerino Telles e grande benfeitor, Monsenhor José Carneiro da Cunha; Instrução e Civismo – lema em sua bandeira e empregada por seus associados, exaltando o pensamento e o bem-estar da sociedade; Jornal Polyanthéa – o único jornal impresso de todos os Gabinetes de Leitura da Zona Norte; Da Diretoria – sua diretoria primitiva e seus associados com suas sessões extraordinárias; Das sedes do Gabinete – Suas sedes temporárias que funcionaram em casas situadas hoje no centro histórico e pertenciam a seus associados; Registro de Sessões e Conferências – datada dos anos de 1919, 1922, 1923, 1924, 1925 e 1928 onde se registra algumas sessões e conferências; Termo de Comodato – traz em suas cláusulas um Termo de Comodato entre o Gabinete Viçosense de Leitura e a Câmara Municipal de Viçosa do Ceará, datada de 1985 e que tem prazo indeterminado, podendo o Gabinete Viçosense solicitar o prédio a qualquer momento; Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar – teve um papel fundamental para a educação viçosense, desconhecida por muitos iniciada antes do curso do Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL; Considerações Finais – percebe-se a importância dessa instituição literária na formação de cidadãos conscientes e responsáveis e que há muitas surpresas a serem desvendadas como fontes, acervos particulares e memórias a serem recolhidas e aprofundadas em novas pesquisas sobre o Gabinete Viçosense de Leitura. PALAVRAS CHAVES: Analfabetismo. Conhecimentos. Instrução. Dinamismo. Pedagógico. ABSTRACT The Viçosense de Leitura Office, a great entertainment spot, was inaugurated in Viçosa do Ceará on February 13, 1916, with the support of our countrymen and the presence of intellectuals from an elitist society. It was built with a pronounced artistic taste and was gradually combating illiteracy, which was one of the major obstacles of our progress. Many of these reading cabinets have appeared in Brazil and especially in Ceará, driven by Freemasonry and the Positivist Republic. Of an architectural beauty, it possessed an important bibliographical collection, thus expanding the knowledge of its associates, deserving of all the applause, for the cultural elevation of the city. The founders of the Viçosa de Reading Office were concerned about the level of education of their compatriots and for that reason they created the Valdivino Elias de Alencar Night Course. And in order to give a greater dynamism to the activities of the office in Vicosense, conferences and civic sessions were created. The Viçosense de Leitura Office served as a kind of laboratory where the intellectuals from the city of Viçosa began their work, configuring it as an initiatory space for public life, where much of the literary works on their shelves were of random donations. Thus, this work seeks to build its interpretation of the historical moment, valuing memory, preserving the past as a guide for the future, thus favoring new experiences and showing the culture and history of this people. The methodological paths covered during this research was to seek knowledge about facts, documents, civic activities with pedagogical influences of a bourgeois society. In this paper, the results of the analyzed analyzes were presented, divided into data, divided into the following sections, and used to formulate new hypotheses: Introduction - where a methodology was presented within the historical research, with a research task within theoretical, conceptual and as an object of research and evaluation; Reading Cabinets - a bit of history, the reading formation around the middle of the nineteenth century, the beginning of its activities in the North of Ceará and the exercise of the intellectual virtues of its associates; Viçosense de Leitura Office - its literary and recreational character, its moral, intellectual and civic order, bringing together mental values, where one had the Valdivino Elias de Alencar Night Course, aimed at "the poor" and whose idealizer was Camerino Telles and great benefactor, Monsignor José Carneiro da Cunha; Education and Citizenship - a motto on its flag and employed by its members, extolling the thought and well-being of society; Polyanthéa Newspaper - the only printed newspaper of all the Reading Offices of the North Zone; The Board of Directors - its senior management and its associates with its extraordinary sessions; From the offices of the Cabinet - Their temporary headquarters that functioned in houses situated in the historic center and belonged to their associates; Record of Sessions and Conferences - dated from the years 1919, 1922, 1923, 1924, 1925 and 1928 where some sessions and conferences are recorded; Term of Commodity - includes in its clauses a Term of Commodity between the Office Viçosa de Reading and the Municipal Council of Viçosa do Ceará, dated 1985 and that has an indeterminate term, and the Viçosense Office can request the building at any time; Night Course Valdivino Elias de Alencar - played a key role in the education of Viçosa, unknown to many initiated before the course of the Brazilian Movement of Literacy - MOBRAL; Final Thoughts - the importance of this literary institution in the formation of conscious and responsible citizens is noticed and that there are many surprises to be unveiled as sources, private collections and memories to be gathered and deepened in new researches about the Viçosense Office of Reading. KEYWORDS: Illiteracy. Knowledge. Instruction. Dynamism. Pedagogical. INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma pesquisa bibliográfica e documental sobre o Gabinete Viçosense de Leitura, uma ideia louvável que contou com apoio de conterrâneos viçosenses. A escolha do tema se constituiu em uma metodologia de análise de materiais textuais e documentais com a possibilidade de fazer ligações entre as diversas áreas do conhecimento, estabelecendo relações e comparações e possibilitando o conhecimento histórico numa relação crítica com o saber. O percurso metodológico adotado nas diversas etapas da pesquisa, elaborado a partir de um trabalho de pesquisa bibliográfica, em fontes, periódicos, documentos, livros e internet, nos leva a compreender, as diversas etapas do processo de formação e integração desta associação literária, educacional e recreativa. Dentrodo universo dessa pesquisa histórica, a presente pesquisa aborda aspectos históricos, dentro de um contexto de produção de conhecimento, reafirmando a importância em definir e expor com clareza os métodos aplicados dentro de uma avaliação aprofundada. Essa pesquisa vem expressar os interesses e necessidades de diversos sujeitos sociais e seus diálogos com a cultura acumulada historicamente, como objeto de investigação e avaliação. Como tarefa investigativa realizado neste ano, o presente estudo apresenta pontos teóricos, conceituais e metodológicos relevantes que configuram a trajetória seguida na feitura do trabalho. Baseada nos pressupostos da história do Gabinete Viçosense de Leitura se procurou construir um texto com o intento em buscar elementos que possibilitem melhor a compreensão do enfoque investigativo. No início do século XX, os fundadores e colaboradores do Gabinete Viçosense de Leitura exaltavam sua existência como “obra de valor e mérito.” Entre os vários discursos comemorativos do aniversário deste Gabinete, vê-se a insistência na defesa da importância da instituição que mantinha aberta ao público sua biblioteca, assim como assegurava para “os pobres” aulas noturnas, curso com matrícula gratuita, além de suas reuniões em promoção, “propaganda da cultura cívica.” (BARBOSA & LIMA, 2008, p. 47-48.) Através do presente trabalho se buscou enriquecer a pesquisa com informações relevantes apontando novas pistas a serem seguidas e possibilitando o enriquecimento das informações, principalmente as que foram feitas por periódicos. Constatou-se que a leitura e a escrita se tornaram consequência de processo de trabalho sério e comprometido que foi desenvolvido pelos intelectuais no Gabinete Viçosense de Leitura. O Gabinete Viçosense de Leitura está localizado na cidade de Viçosa do Ceará, cidade serrana que fica a 350 Km de Fortaleza, possui setenta e dois casarões tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) desde 2003, além da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, com seus trezentos e dezessete anos de Missão; o Theatro Pedro II, o terceiro mais antigo do Estado do Ceará e o Gabinete Viçosense de Leitura, atual Câmara Municipal de Viçosa do Ceará. Viçosa do Ceará é uma cidade que possui 1.300 Km² e uma população de 60 mil habitantes, fundada pelos jesuítas e onde esteve o imortal Vieira, grande Orador Sacro da Língua Portuguesa. Terra de Clóvis Beviláqua (o maior jurisconsulto da América Latina), do abolicionista e herói da Guerra da Tríplice Aliança (Brigadeiro Tibúrcio) e de Marechal Bezerril Fontenelle (último governador da Província do Ceará). No tempo do Gabinete Viçosense de Leitura, Viçosa respirava um ambiente cultural, tendo vários jornais, duas bandas de música (Marreta e Democrata), ali funcionando o Instituto Araripe Júnior, educandário dirigido pelo intelectual paulista Aluízio Coimbra. Recebia, de quando em quando, conferencistas como Antônio Bezerra, Leonardo Mota, Assis Brasil e outros. Era a Viçosa pacata, de cadeiras nas calçadas para conversas informais, de assíduas frequências às praças para assistir as bandas de músicas Marreta e Democrata que se apresentavam no coreto, para os namoricos nos bancos, mas sempre realçando a presença dos mais poderosos e dos ricos comerciantes. O Gabinete Viçosense de Leitura mostra-se como um ambiente utilizado por uma sociabilidade masculina e se caracterizavam pela criação de cursos noturnos e bibliotecas e seus salões serviram muitas vezes, principalmente em datas cívicas, para os conferencistas onde todos eram cordialmente recebidos. O Gabinete Viçosense de Leitura teve suma importância na interação e integração no meio social, com intervenção pedagógica no contexto social, educacional e cultural, moldando a consciência da comunidade. Infelizmente não foi possível fazer um estudo no acervo literário do gabinete, para um estudo aprofundado no campo de investigação, junto às possibilidades históricas, suas considerações passadas, os léxicos explorados, uma análise enquanto Gabinete de Leitura, dentro de um contexto histórico. Para LE GOFF, o que importa, É mostrar, na primeira perspectiva, através de alguns exemplos, o tipo de relações que as sociedades históricas mantiveram com o seu passado e o lugar que a história ocupa no presente. (LE GOFF, 1990, p. 17). Figura1: Banda de Música “Marreta” do ano de 1934. – Acervo fotográfico: Memorial Pe. Antônio Vieira sj. Figura 2: Banda de Música “Marreta” do ano de 1977. Erroneamente no acervo do Memorial Pe. Antônio Vieira sj., a mesma se encontra com o nome de “Democrata”. Nas cidades interioranas que tiveram seus gabinetes de leituras, os gabinetes e seus fundadores aparecem sempre como parte integrante da história intelectual de suas cidades, como promotores de leitura. Essa inserção espacial contribuía, fundamentalmente, para a estruturação das sociabilidades, ao passo que a diversidade de espaços evidenciava as várias situações de vida em sociedade. Como justificativas para o presente trabalho têm-se a necessidade de entender o processo metodológico, a sua importância e a necessidade de articular entre a pesquisa e o ensino, a pesquisa bibliográfica fundamentada nos conhecimentos. Como resultado nota-se a importância histórica e um melhor entendimento dessa evolução, socialmente condicionada por uma realidade histórica concreta. LE GOFF, destaca que a história da história não se deve preocupar apenas com a produção histórica profissional, mas com todo um conjunto de fenômenos que constituem a cultura histórica ou, melhor, a mentalidade histórica de uma época. (LE GOFF, 1990, p. 39). Como objetivo geral, pretende-se contribuir para os estudos históricos que servirão de comparação, observação e futuras análises históricas. A relevância da pesquisa está no fato de que se espera contribuir para o estudo histórico, desempenhando um papel importante, na medida em que contempla pesquisa e reflexão, contribuindo no sentido de valorizar a história dos indivíduos. No dizer de LE GOFF A memoria coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta das forças sociais pelo poder. Tornarem-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos e dos indivíduos que dominaram ou dominam as sociedades históricas. (LE GOFF, 1990, p. 368). Dependendo do campo de visão que nosso olhar alcança, passado e distância, é possível ver refletida a luta pela memória e a luta da lembrança contra o esquecimento. Lembrar e esquecer são partes indissociáveis do mesmo processo (ZUMTHOR, 1997). Logo, o esquecimento é uma face da memória; não é exatamente a memória. O mesmo se pode dizer da recordação, outra face desse processo dialético que chamamos de memória. Este trabalho tem o objetivo de fomentar a evolução dos saberes humanos, fundamentada na execução de métodos e técnicas de pesquisa, onde os dados foram recolhidos e registrados ordenamente, consultados em fontes, periódicos, livros históricos e entrevistas, contribuindo assim, para o processo ensino aprendizagem. 1. GABINETES DE LEITURA Os gabinetes de leitura surgiram na Europa entre os séculos XVII e XVIII e são conhecidos como o século das luzes, gerado sob o impacto da Revolução Industrial e Revolução Francesa. Espaço de leitura associado a local de entretenimento é o que caracteriza os gabinetes de leitura europeus entre o final do século XVII e ao longo do século XIX. Já no Ceará, especificamente na Zona Norte do Estado, esses espaços foram campos de uma culturae de grupos letrados, de instrução das primeiras letras com seus cursos noturnos e de entretenimento. Nessa época os livros circulavam em todos os oceanos e até a metade do século XX foram criadas as bases para a produção cultural de jornais e livros. LE GOFF, diz que a evolução das sociedades na segunda metade do século XX classifica a importância do papel que a memória coletiva desempenha. (LE GOFF, 1990, p. 409) Talvez poucas pessoas saibam que Benjamin Franklin, inventor dos para- raios, foi também inventor dos Gabinetes de Leitura. Em 1810, quando Franklin era ainda aprendiz de tipógrafo em Boston, ávido em conseguir livros com que satisfizesse a sua paixão literária e científica, juntou-se vários amigos da sua idade, formando uma associação e por meio de modestíssimas quotas, reuniu um pequeno capital para comprar livros que todos os sócios tinham direito de ler, podendo assim ilustrar-se em grande despesa. Pouco a pouco a modesta sociedade foi tomando vulto e popularidade, até ao ponto de que as autoridades superiores da cidade conseguiram certa quantidade destinada a importar livros da Inglaterra que pôs a disposição da sociedade de leitura, com a única condição de que qualquer habitante de Boston os pudesse ler mediante uma pequena quota para fundo da mesma sociedade. E foi por volta da metade do século XIX é que se começou a se delinear a formação de leitores, pois havia total precariedade no país na prestação de serviços de educação, cultura e informação. De forma corriqueira o uso do termo gabinete, oriundo do francês antigo “cabinet” era utilizado para referenciar cômodos particulares de casas opulentas do século XIX. Pequenas ou amplas salas reservadas de usos diversos, compreendendo diferentes modalidades: “Gabinete de Estudo”, “Gabinete de Física”, “Gabinete do Rei”, “Laboratório”, “Aposento” ou Gabinete de Leitura. (SCHAPOCHINK, 1999, p. 39). O surgimento dessa instituição é coincidente com a expansão do mercado livreiro europeu que veio ao encontro de uma população que almejara dominar o universo de gênero do romance que, então florescia. Os indícios recolhidos pela pesquisa indicam que a presença dos romances nos acervos dos gabinetes de leitura de Camocim, Ipú e Viçosa, se não passara completamente despercebida, dada a sua quantidade considerável, também não foi considerada digna de destaque que quando surgiu ocasião de comentá-los na imprensa. (LIMA, p.179). Os gabinetes de leitura que se fixaram no Brasil, principalmente os do Norte do Ceará, se diferenciavam das “boutiques à lire” francesas pela consulta e empréstimo gratuitos do acervo. É possível que a constituição dos gabinetes de leitura tenha sido influenciada pela sociedade francesa pré-revolucionária, ou mais precisamente pelas chamadas “boutiques à lire”, em cujo empréstimo de livros pagava-se uma determinada quantia”. (MADEIRA, 2005, p. 1). Os gabinetes de leitura chegaram ao Ceará a partir da segunda metade do século XIX, mais precisamente no dia 14 de novembro de 1875, data inaugural do primeiro Gabinete, em Baturité, voltados para o crescimento moral, intelectual e produtivo da nação. Criados todos (à exceção de Baturité e Fortaleza) depois da seca de 1878 a 1879, as associações do tipo Gabinete de Leitura iam absorver as primeiras inquietações intelectuais dos pequenos núcleos de classe média de antigas vilas que o novo surto do progresso iam transformando as cidades: Assim, surgiram gabinetes de leitura em Aracati (1879), Granja (1880), Pereiro (1883), Campo Grande (1884, ainda quando vila, pois só foi elevada à cidade em 1938, com o nome de Guaraciaba do Norte), Ipú (1886, ano de sua elevação a cidade, o que explica a animação do Gabinete, que chegou a contar com 114 sócios), Barbalha (1889), Camocim (1913) e, finalmente, Viçosa (1916). (TINHORÃO, 2006, p. 36). O destino dessas associações ia revelar uma curiosa identidade com o dos “cidadãos prestimosos” que as dirigiam: seriam comportadas e improdutivas. O Gabinete Cearense de Leitura de Fortaleza, em todo o caso, ainda cumulou os dois mil volumes doados à Biblioteca Pública da cidade, ao encerrar sua brilhante existência, depois de onze anos de inatividade, ao contrário do Gabinete Viçosense de Leitura de Viçosa do Ceará, onde seus livros desapareceram, bem como suas belíssimas estantes que até hoje desconhecemos na sua totalidade o seu destino final. Figura 3: Folhas de rosto de livros pertencentes ao Gabinete Viçosense de Leitura e que foram doados pelo ex-Presidente da Câmara Municipal de Viçosa do Ceará, Sr. Ernesto Fontenele ao Memorial Clóvis Beviláqua – Acervo fotográfico do autor. Que fecunda semente, que teve esses intelectuais ao findar esta biblioteca, para que educasse a inteligência dos seus contemporâneos, com ânsia de mais saber, onde os muitos sócios recorriam para passar algumas horas de enlevo espiritual e adquirindo úteis conhecimentos e lendo bons livros. De contribuição valiosa, muito mereceu aplausos e a muitos serviu de estímulos. Entre os livros do gabinete havia lá de Camões, Quintino Cunha, Clóvis Beviláqua e Amélia Beviláqua. Afirmava Joaquim Alerano, em discurso publicado no Polyanthéa: Mas não foi somente o Curso nocturno o único título com que o Gabinete Viçosense tem se imposto à estima publica. Ignaugurou e franqueou ao publico, uma biblioteca composta de algumas centenas de livros de importantes autores; entre estes salientam-se obras de Sylvio Romero, Clóvis Beviláqua, Barão Studart, César Cantu, Roberto Southey, José de Alencar, etc. Havidos esses volumes por dádivas ou compra. (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). Seus associados passavam horas esquecidas, a escolher brochuras, a consultar livros e revistas, a farejar estantes. Qualquer pessoa tinha acesso livre para consultar os livros. Porém, para poder levá-los para leitura domiciliar, era necessário que a pessoa fosse associada ao Gabinete. Os gabinetes das cidades do interior, entretanto, iam apenas arredar as estantes e transformarem-se em clubes de dança. Esse fim melancólico dos gabinetes de leitura cearenses, porém, tinha uma explicação: o adensamento das populações urbanas, ampliando as camadas da classe média, tornava o interesse pelas coisas do espírito a preocupação de uma minoria. E isso era mais do que lógico, pois, se as estruturas das novas cidades cearenses já eram bastante amplas para justificar a criação dos gabinetes, não ofereciam um mínimo de condições para o desenvolvimento prático das ideias assimiladas em horas e horas de leitura. JOUTARD (1977) reencontra no próprio seio de uma comunidade histórica através dos documentos escritos do passado e depois através dos testemunhos orais do presente, como ela viveu e vive o seu passado, como constituir a sua memória coletiva e como esta memória lhe permite fazer face a acontecimentos muito diferentes daqueles que findam a sua memória numa mesma linha e encontrar ainda hoje a sua identidade. (LE GOFF, 1990, p. 409). E foi para erguer um templo ao livro e festejar os seus preciosos frutos que o Gabinete Viçosense de Leitura nascera para banir de seus horizontes, um dos marcos da escravidão, que é o analfabetismo. Concretamente, a contribuição dos gabinetes de leitura à luta contra o analfabetismo se dava através da organização dos “Cursos Noturnos” organizados, ministrados e mantidos pelos sócios. (LIMA, 2009, p. 4). E eis como, na impossibilidade de exercitar as suas virtudes intelectuais, no campo da inteligência, a classe média das cidades do interiordo Ceará acabou transformando os próprios salões dos gabinetes de leitura em campo para o exercício mudano das virtudes físicas da dança. 1.1. Gabinete Viçosense de Leitura. Graças ao esforço e boa vontade de uma plêiade de homens ilustres de Viçosa do Ceará, fundaram uma sociedade de caráter literária, educacional e cultural, que foi o Gabinete Viçosense de Leitura. Homens cultos que garantiram um dado perfil de civilidade ao povo desprovido da cultura das letras, onde tinha como característica muito forte, a ausência do poder público na promoção da educação. Os intelectuais que tomaram a frente do Gabinete Viçosense de Leitura eram homens cuja vida profissional e o social permitia que mantivessem uma ligação mais sólida com a cidade e que tinha como grande parte seu tempo ocioso. Para LE GOFF, não podemos esquecer os verdadeiros lugares da história, aqueles onde se devem procurar, não a sua elaboração, não a produção, mas os criadores e os denominadores da memória coletiva: “Estados, meios sociais e políticas, comunidades de experiências históricas ou de gerações, levadas a constituir os seus arquivos em função dos usos diferentes que fazem da memória. (LE GOFF, 1990, p. 408). São incalculáveis os benefícios de ordem moral e intelectual que tem espalhado em Viçosa, o Gabinete Viçosense de Leitura durante a sua longa existência de triunfos e vitórias. De significativa atuação política e de função didática, voltada à educação popular, o Gabinete Viçosense de Leitura tratava de questões pertinentes, como falamos anteriormente, à sociedade, a educação e a cultura. O Gabinete Viçosense de Leitura foi um estímulo à inteligência dos filhos desta terra, congregando valores mentais, onde se trocou ideias, fizeram conferências e que representou algo de nossa tradição e cultura. A leitura passou a ser atributo classificador, digno de admiração. É possível caracterizar esses espaços como campos de uma cultura letrada se fazendo pouco a pouco, onde se nota o movimento de alfabetização, a constituição da instrução nas primeiras letras, e por que não dizer, através da implantação de instituições de leitura e escrita, cujo exemplo, mais comum eram os gabinetes de leitura e a produção e circulação de jornais. (BARBOSA & LIMA, 2008, p. 45.) Em Viçosa do Ceará, era fundado o Gabinete Viçosense de Leitura em 13 de fevereiro de 1916, com o Lema “Instrução e Civismo”, pelo seu presidente Rev.mo Pe. José Carneiro da Cunha e um grupo entusiasta e progressista, uma plêiade de homens ilustres, ao todo, vinte e três, que aqui existia, durante a Magna sessão iniciada às 18h30 min, na qual salientou, em seu eloquente discurso, que o prédio fora totalmente construído durante sua administração. Na sessão inaugural fora, proferidas eloquentes palavras recordando a criação de tão útil instituição. O Gabinete de Leitura Viçosense foi fundado no dia 13 de fevereiro de 1916 durante uma reunião entre homens letrados da cidade, a maioria funcionários públicos como o próprio anfitrião do grupo, Camerino Telles. (LIMA, 2011, p. 56). Era uma Sociedade Lítero-recreativa que tinha o fim de promover sessões nas grandes datas históricas, realizar festas cívicas, brilhantemente sempre decorado para os eventos, cheios das principais famílias e cavaleiros; organizar uma biblioteca, repleta de tomos dos maiores e melhores escritores nacionais e estrangeiros, onde estavam à disposição de todos os associados, como uma fonte de instrução para mocidade com a necessidade de instruir o povo para a formação de bons cidadãos. O plano de ação foi logo ampliado. Em apenas quatro meses, foi instalado um curso noturno, pioneiro no Ceará, para o desenvolvimento e instrução popular. O Gabinete de Leitura de Viçosa parece ter conseguido um grau de notoriedade e aceitação como não se verificou em nenhuma das demais cidades estudadas. (LIMA, 2011, p. 58). Quando se inaugurou o Gabinete Viçosense de Leitura, Monsenhor José Carneiro da Cunha além de ser o Presidente desta Associação benemérita era o Intendente Municipal (18/06/1919 a 14/07/1920). Era um período onde o Estado do Ceará e Viçosa do Ceará sofria com a gripe e a seca. Em 1918, foi eleito presidente do Gabinete o padre José Carneiro da Cunha, vigário da Freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Viçosa. Tido como homem culto e inteligente, o padre Carneiro trabalhou para construir a sede definitiva do Gabinete, o que foi conseguido com a ajuda do Major Felizardo de Pinho Pessoa, o qual teria doado o terreno, atrás da Igreja Matriz. (LIMA, 2011, p. 58) O Padre Carneiro foi, sucessivamente, eleito, para dirigir a sociedade por vários períodos. Com o seu dinamismo, a sua tenacidade e devotamento à terra que a transformou em segundo berço. (PASSOS, p. 32) Cidadão de muito caráter, sacerdote de intocável conduta e pastor dos mais sensíveis, sempre o procurou – através de um misto de austeridade, polidez e afeição – difundir nos seus paroquianos um acendrado espírito de religiosidade; propagar entre os mesmos as acrisoladas virtudes da fé e da caridade e, sobretudo, despertar nos corações dos fiéis o respeito e o amor pelas coisas divinas. Francisco Caldas da Silveira, em comemoração ao segundo aniversário do Gabinete Viçosense de Leitura, em seu discurso transcrito para o jornal “Polyanthéa: A primeira iniciativa do Gabinete Viçosense de Leitura foi fundar o Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar, para os filhos dos operários e cujos professores eram os próprios sócios do Gabinete. No mês que me foi destinado, tive, como professor-auxiliar, Cândido do Espírito Santo Magalhães Filho (Candoca), que, como eu, não residia na cidade e sim no sítio Careta, vizinho ao sítio Olaria, onde eu residia. (SILVEIRA, 1999, p. 66). Como um novo espaço de práticas de sociabilidade e lazer, naquela época, o Gabinete Viçosense de Leitura, de profundo caráter social e institucional, foi recebido pela sociedade viçosense marcado por traços de civilidade e elitismo, que se configurava em um importante atrativo á frequência do mesmo. É interessante ainda notar que o Gabinete Viçosense de Leitura funcionou como uma norma de estabilidade, civilidade e moralidade, enquanto a cidade era desenhada com ares de crescimento e saber. (...) É no seio dessa associação benemérita onde o filho do pobre, do proprietário, do deserdado, da fortuna vae beber a luz purificadora da instrução; aprender a amar a pátria, seus servidores e seus heroes e ter a compreensão nítida de seus deveres para com a família, a sociedade e a mesma pátria.(POLYANTHÉA, 1918, p. 3). E acrescenta: Ditosa a terra que como Viçosa, póde festejar, entre as bênçãos ardentes e fervorosas de seus habitantes, a victoria do bem sobre o mal; o ressurgimento da luz radiosa da instrução, onde só existiam, até então, as trevas hediondas do analfabetismo; o despertar cívico de um povo adormecido pelo frio glacial do indiferentismo.” (POLYANTHÉA, 1918, p. 3). Joaquim Alerano Bandeira Barros, vice-presidente do Gabinete Viçosense de Leitura, e Juiz Municipal de Viçosa do Ceará, figura de relevo na magistratura cearense, e que se distinguiu pela sua cultura e sua conduta, escreve para o “Poyanthéa”, na Edição Especial comemorativa ao segundo aniversário do Gabinete Viçosense de Leitura: Muito antes do movimento contra o analfabetismo que se iniciou no Sul do Brasil, já o Gabinete Viçosense começava sem ruídos e sem reclamos com a maior modéstia, um curso noturno onde os pequenos desvalidos, operários, ocupados duranteo dia, podessem receber a instrucção das primeiras letras; pois só a fundação de escolas pode ser o meio pratico de combater a ignorância. Sem auxílio dos poderes públicos unicamente sustentando pela benemerência dos seus consocios, poude o Gabinete Viçosense manter o Curso, colhendo resultados apreciáveis.(POLYANTHÉA, 1918, p. 1). Ao Gabinete de Leitura seguiram-se os primeiros jornais, mas foram poucos durante a segunda metade do século XIX. O Gabinete de Leitura em Viçosa parece ter conseguido um grau de notoriedade e aceitação como não se verificou em nenhuma das demais cidades citadas. A cidade de Viçosa do Ceará tornou-se um dos principais pontos de convergência na circulação de jornais publicados em outras regiões, pólo consumidor da informação impressa, onde também se identificava a publicação de jornais a emergência de um gabinete de leitura. (LIMA, 2008, p. 47). O Gabinete Viçosense de Leitura em todos os seus momentos foram dominados pelo entusiasmo que desde o primeiro dia os acompanhou que concorreu para a glória de seu torrão. O gabinete muito contribuiu para o progresso de Viçosa o do Ceará. Tinha a inestimável vantagem de ser um campo neutro onde se reuniam pessoas de valor, integrante das diversas correntes políticas que dividiam o estado e que uniam esforços em benefícios da comunidade. Contribuía assim, para acalmar paixões e desvanecer rancores, tão comuns nas agitadas lutas políticas do hinterland brasileiro. (BARROS, 1980, p. 247). Os fundadores e colaboradores do Gabinete Viçosense de Leitura exaltavam sua existência como “Obra de valor e mérito”. Entre os vários discursos consecutivos comemorativos de aniversário deste gabinete, vê-se a insistência na defesa da importância da Instituição que mantinha aberta ao público sua biblioteca, assim como assegurava para “os pobres” aulas noturnas, curso com matrícula gratuita, além de suas reuniões em promoção: “propaganda da cultura-cívica.” Figura 4: Folha de rosto do recibo original pertencente do Gabinete Viçosense de Leitura. Acervo: Gilton Barreto de Castro Durante anos a fio, o Gabinete contribuiu para a instrução dos viçosenses e serviu de palco para solenidades cívicas, quase sempre seguidas de festas dançantes memoráveis, lembradas até hoje pelos viçosenses com mais anos de vida. (MAPURUNGA, 2017, p. 128). A cultura há esse tempo entendida como apanhado de conhecimento de habilidades erudito era encarado como dote, prenda e, por conseguinte, despertava muito interesse junto às elites locais, uma vez que se podia utilizar como instrumento de distinção. Nessa época procurava-se um discurso democrático, procurando se articular com nossa herança de desigualdade, 1.2. Instrução e Civismo. Como duas ações, duas potências, dois elementos ou dois motores entre si, a Instrução e o Civismo, se relacionam um com o outro. A fim de propagarem a Instrução e o Civismo pelo povo viçosense, nasceu o Gabinete Viçosense de Leitura, em meio à falta de instrução no sertão e escassez de escolas. E foi na instrução das primeiras letras onde se nota o movimento da alfabetização e onde os exemplos de civismos foram edificantes, com ideias de progresso e instrução. Aurélio traz o significado de Instrução, no Dicionário Aurélio Português Online: 1. Ato ou efeito de instruir; 2. Conjunto de conhecimentos adquiridos na escola; 3. Conhecimentos de uma pessoa; 4. Conjunto das informações e indagações com que se instaura uma causa; fase do processo em que se reúnem os meios de prova e a maneira de os utilizar; 5. Ordens, mandado; 6. Esclarecimentos relativos ao modo de usar alguma coisa; 7. Atou ou efeito de instruir; 8. Conjunto de Conhecimentos adquiridos na escola; 9. Conhecimentos de uma pessoa; 10. Conjunto de informações e indagações com que se instaura uma causa; fase do processo em que reúnem os meios de prova e a maneira de os utilizar. (AURÉLIO, 2017). O peso do texto, os sentidos das figuras de linguagem, a iluminação da escrita, certamente apontam para a arregimentação de alguns valores fundamentais em torno do civismo. Afirmava Pe. Carneiro, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: De resto represo n’alma o mais vivo interêsse, que uno a ardente votos pelo progresso, desenvolvimento e conservação do “Gabinete Viçosense de Leitura”, que vem precisamente correspondendo a uma necessidade imperiosa Synthetisada na divisa de seu estandante – Instrucção e Civismo. (POLYANTHÉA, 1918, p. 2). Já Edmundo Bezerril Fontenelle, em discurso publicado no jornal “Polyanthéa”: Como é comovedor o ver-se, no curso, às horas das lições, os bancos cheios de criancinhas pobres, atenciosas e ávidas do saber, recurvadas sobre os livros, como que suplicando àquellas letras grandes do ABC que lhes deem aquillo de que tanto precisam – a instrucção!” (POLYANTHÉA, 1918:, p. 3). A instrução aperfeiçoa o espírito e o eleva às alturas das coisas mais sublimes, dá brilho a inteligência, modifica as más naturezas, exalta o pensamento, ensina-lhe o hábito do sofrimento, prepara o espírito para as grandes emoções; em suma, ela é a principal locomotiva do aperfeiçoamento da inteligência e do bem estar da sociedade. [...] a nossa bandeira, em cujo centro se acha inscrita a legenda de “Instrução e Civismo”, jamais vacilou, jamais teve um momento de recuo, pelo contrário avançou sempre altiva e serena, galharda e imponente, conduzida por esse pelotão de bravos e destemidos soldados, que aí vedes sempre devotado à causa do saber, e, de vitória em vitória, de triunfo em triunfo conseguiu tremular na Bastilha do Analfabetismo e arrancar das galés da ignorância, do cárcere negro da estupidez, essa mocidade que as vedes alegre, risonha e prazenteira. (SILVEIRA: 1999, p. 76-77). Durante a inauguração do Gabinete Viçosense de Leitura se viu distintos familiares e cavaleiros da elite local na patriótica festa de instrução e civismo, fazendo-os compreender com grandeza e simplicidade toda a grande missão que a cada um compete no sentido de trabalhar pela Pátria e para a Pátria acima de tudo, aliada aos mais nobres sentimentos de gratidão e amizade e cujo esplendor refletia evidentemente na direção do Monsenhor José Carneiro da Cunha. Afirmava Joaquim Alerando, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: Tornando uma escola de civismo o Gabinete Viçosense comemora as datas celebres de nossa historia por meio de sessões extraordinárias, e por sua iniciativa, a estatua de Felipe Camarão, bravo índio filho de Viçosa, segundo uma debatida tradição, foi erecta na praça da matriz desta cidade, no 1º aniversário da fundação do Gabinête. (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). E com mais ardente admiração pelo vosso passado, exalto nessas linhas o vosso valor e a vossa energia em prol das nossas tradições do nosso povo bom e civilizado, pelos trabalhos de seus associados com honestidade, caráter, instrução e civismo. Afirmava Lívio Pacheco, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: E todos na comunhão de um só pensamento como se por encanto fundissem todas as forças uma só vontade, incansáveis têm sabiamente cumprido com os seus deveres. Incitando, ensinando com bons exemplos a pratica do civismo e da moral mais pura, o que tem trazido para a “bela filha do mar de pedra” o engrandecimento da instrucção, a paz do lar do bem estar da família. Que bello e edificante exemplo digno de ser imitado! (POLYANTHÉA, 1918, p. 4). A instrução era tema recorrente entre os membros do Gabinete, associadaconstantemente ao civismo como faceta fundamental que definia a ação dos “devotados ao culto das letras e sobretudo da Pátria.” As grandes letras do ABC ganhavam força e sentido na organização da cidade, dos seus valores, comportamentos, de suas ideias. (BARBOSA & LIMA, 2008, p. 48.) Aurélio traz o significado de Civismo, no Dicionário Aurélio Português Online: 1. Zelo em contribuir para o progresso da pátria. (AURÉLIO, 2017). O civismo é o mesmo que civilismo e vem do latim civis, que quer dizer cidadão. Consiste no respeito aos valores as práticas assumidas, as instituições sociais, refletindo o direcionamento de estrutura, com atitude ativa, consciente e construtiva, demonstrando dedicação, fidelidade ou admiração à Pátria. 1.3. Jornal Polyanthéa e o segundo aniversário do Gabinete Viçosense de Leitura. O jornal Polyanthéa trouxe em suas páginas, discursos proferidos pelos seguintes sócios: Gil Filgueiras, Joaquim Alerano, Padre Carneiro, Manuel Paiva, João Magalhães, Edmundo B. Fontenele, F. Menescal Carneiro, Francisco Caldas, Justo Pinho Pessoa, Mário Passos, Carvalho Filho, Adalberto Brígido Maia, Gil Filgueiras e Lívio Pacheco. Figura 5: Folha de rosto de um exemplar do Jornal Polyanthéa de 1918 pertencente ao Gabinete Viçosense de Leitura. Acervo pertencente ao autor. Abaixo do nome “Polyanthéa” trazia a seguinte expressão: “SALVE 13 DE FEVEREIRO DE 1918!”, e mais abaixo um pensamento de Guerra Junqueira: Há mais luz nas vinte e cinco letras do abecedário do que em todas as constelações do firmamento. (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). Em entrevista concedida a nós, a senhora Tereza Cristina Mapurunga de Miranda Magalhães, pedagoga e Curadora do Memorial Pe. Antônio Vieira sj., assim nos relatou sobre o segundo aniversário do Gabinete Viçosense de Leitura: Pelos jornais da época se verifica que foi, verdadeiramente, imponente a celebração de seu segundo aniversário. As duas bandas de música percorreram as ruas da cidade. A festa deve de ser antecipada para 12 de fevereiro, porque 13 ia cair em uma quarta-feira de cinzas. Distribuiu-se uma “Polyanthéa”, editada na cidade de Camocim, Estado do Ceará. Às 19 horas houve uma Sessão Solene em sua Sede Social, sito à Praça General Tibúrcio. O Dr. Alerano de Barros apresenta minucioso relatório da gestão bienal 13/02/1916 a 13/02/1918. O Gabinete Viçosense de leitura manteve regular biblioteca, chagando a catalogar centenas de livros, mais lidos e mais procurados naquela época. Pelo Porto de Camocim, chegavam livros vindos do Rio de Janeiro/RJ ou da Europa para saciar a fome do saber dos viçosenses, um foco de luz que irradiou benéficas ações com a boa vontade das pessoas que o instituíram e que prestou relevantes serviços. Camocim constitui, pois o ponto inicial do percurso feito pelos livros após sua chegada àquele porto a bordo dos navios das companhias de navegação a vapor que o incluíam em seus trajetos. A interligação entre os trens e os paquetes a vapor acontecia em Camocim, Dali, uma diversidade de mercadorias importadas, inclusive livros, ganhava a bordo do trem ou, no caso de Viçosa, em lombos de burros e jumentos conduzidos por estafetas cujo oficio compreendia a realização semanal do percurso de ladeiras que ligava a cidade de Viçosa – sobre a Serra da Ibiapaba – à cidade de Granja. (LIMA, 2011, p. 27-28). Caro alunos: oxalá que este nobilitante exemplo de amor aos livros, demonstrado por aqueles de vossos colegas que estão incluídos neste quadro de honra, seja segundo e imitado por todos vós, para felicidade nossa, recompensa ao Gabinete Viçosense de Leitura e glória de nossa querida Viçosa. (SILVEIRA, 1999, p. 77). De todos os gabinetes de leitura fundados no Ceará, apenas Viçosa do Ceará, em comemoração ao aniversário de seu Gabinete, confeccionou um jornal. Na ocasião, muitos de seis associados, escreveram algo sobre o Gabinete Viçosense de Leitura, o Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar e Felipe Camarão (estatueta que fora colocada na praça que o mesmo emprestara seu nome), a atual Praça Clóvis Beviláqua. Ali havia uma excelente Biblioteca, que por medida de segurança, está guardada na residência do Dr. Geminiano de Pinho Pessoa, em Viçosa...” (PASSOS, p. 32-33). A sociedade também mantinha um curso de alfabetização para crianças e adultos, movimento este que podemos classificar como precursor do “Movimento Brasileiro de Alfabetização” – MOBRAL – ainda realizavam festas cívicas, conferências, enfim, tudo que tivesse conexão com as letras e às artes. (PASSOS, p. 33). José Alerano, no Jornal Polyanthéa, Edição especial, assim comentou sobre a Biblioteca do Gabinete Viçosense de Leitura: Mas não foi somente o Curso Nocturno o único titulo com que o Gabinete Viçosense tem se imposto à estima pública ignaugurou e franqueou ao publico, uma biblioteca composta de algumas centenas de livros de importantes autores (POLYANTHÉA, 1918, p. 2). Em 1925, padre José Carneiro permanecia na presidência e, de acordo com Luiz Barros, apresentou relatório anual onde consta que o gabinete contava com oitenta sócios e seiscentos volumes entre os quais figurava a “História Universal” de Cesare Cantu e várias obras de Clóvis Beviláqua (LIMA, 2010, p. 15). 2. DA DIRETORIA: 2.1. Diretoria Primitiva e Sócios Fundadores. O Gabinete de Leitura Viçosense era formado por homens letrados, servidores públicos e pessoas da alta sociedade. Foi instalado com a seguinte diretoria: Diretoria primitiva: Dr. Joaquim Alerano Bandeira Barros – (presidente); Camerino Telles de Souza – (vice-presidente); Adalberto Brígido Maia – (1º secretário); José Joaquim de Carvalho Filho, (2º secretário); Dr. Manuel Simplício Paiva, (orador aclamado, juiz municipal de Viçosa de 1915 a 1919, sendo removido para a cidade de Granja/CE); Dr. Djalma Ribeiro Soares – (vice-orador); João Phorphirio Magalhães – (tesoureiro); Deocleciano Fontenelle Pacheco – (bibliotecário). (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). Quantos livros passaram nas mãos do bibliotecário, pois ele é aquele que trabalha na sombra para que o livro se faça sol. Sócios Fundadores: Era composto de 23 (vinte e três) sócios: Dr. Joaquim Alerano Bandeira Barros, Camerindo Telles de Souza, Pedro Telles de Souza, Adalberto Brígido Maia, José Joaquim de Carvalho Filho, Dr. Manoel Simplício Paiva, João Phorphírio Magalhães, Deocleciano Fontenelle Pacheco, Padre José Carneiro da Cunha, Dr. Djalma Ribeiro Soares, Cel. Constantino Correia, Antônio Francisco da Silva, Justo de Pinho Pessoa, Edmundo Bezerril Fontenelle, João Freire de Bezerril, Raymundo José Fontenelle, Francisco Caldas da Silveira, Joaquim Ferreira de Carvalho Filho, Francisco Felipe Fontenelle, Francisco Pereira Lopes, Tristão Vieira, João Benício Fontenelle e José Alfredo da Silveira. (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). 2.2. Segunda Diretoria: Em 1918, foi eleito presidente do Gabinete o padre José Carneiro da Cunha para dirigir a sociedade por vários períodos, vigário da Freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Viçosa. Tido como homem culto e inteligente, o padre Carneiro trabalhou para construir a sede definitiva do Gabinete e que o Palácio recebe o seu nome: “Palácio Monsenhor Carneiro”. O restante da diretoria foi formada por: Dr. José Alerano Bandeira de Barros (vice-presidente), Francisco Caldas da Silveira (1º secretário), João Porphirio Magalhães (2º secretário), Dr. Manuel SimplícioPaiva (orador oficial), Coronel Constantino Correia (2º orador oficial), Mario Passos (tesoureiro) e Gil do Amarante Filgueiras (bibliotecário). (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). O padre Carneiro foi, sucessivamente, eleito, para dirigir a sociedade por vários períodos. Afirmava Adalberto Brígido Maia, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: Todos os membros do Gabinete Viçosense, devem confiar sem reservas na altivez e na integridade do ilustre Sr. Padre José Carneiro, na sua força e na sua victalidade. Devem confiar, acima de tudo, nesse maravilhoso espírito de iniciativa e de ordem, de enthusiasmo e de perceverança, de trabalho e de patriotismo, que vai guiar os destinos desta pujante sociedade. (POLYANTHÉA, 1918, p. 4). Já João Magalhães, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: A nova Directoria, a quem vão ser confiados os destinos de nossa agremiação, é a prova segura e evidente da manutenção do Gabinete. Della fazem parte verdadeiros apóstolos do bem, cujos nobilitantes esforços tantas vezes postos em pratica, nos deverão servir de edificantes exemplos em tudo o que concerne ao progresso de nossa pátria. (POLYANTHÉA, 1918, p. 2). A Sessão Extraordinária Solene do Gabinete Viçosense de Leitura aconteceu ás 19 horas, na Praça General Tibúrcio, onde situava a sede do “Gabinete”. Estiveram presente quase todos os sócios efetivos e cooperadores, grande número de famílias. A Sessão foi aberta pelo Presidente, em seguida a filarmônica Euterpe Franco Rabelo executou o Hino Nacional. Em seguida o Sr. Presidente fez uso da palavra declarando que a presente Sessão tinha por fim solenizar com máximo esplendor a passagem auspiciosa do segundo aniversário desta filantrópica instituição e a posse da nova diretoria que deve reger a Sociedade no seu terceiro ano, e a leitura do Relatório que, conforme preceituam os Estatutos, cabia-lhe apresentar o término de seu mandato. Depois da leitura do substancioso documento social, o Sr. Presidente produziu uma belíssima saudação aos seus consócios em geral e particular, à nova Diretoria, concitando-os a que unidos e fortes trabalhem como até agora, pelo progresso do “Gabinete”. Convidou em seguida ao novo presidente eleito para prestar o compromisso estatual e tomar posse. Este, depois de empossado solenemente no alto posto de diretor supremo de nossos destinos sociais, convidou aos demais membros que compõem a ova Diretoria para ocuparem as respectivas cadeiras. Terminadas estas formalidades, o novo presidente proferiu eloquente discurso sobre o ato concitando o povo viçosense a trabalhar sempre e sempre pelo progresso e adiantamento desta Associação. Na ocasião se deu a inauguração do retrato do eminente consócio honorário e glorioso brasileiro, Dr. Clóvis Beviláqua, e a aposição do retrato do Major Valdivino Elias de Alencar, um grande amigo de Viçosa e patrono do Curso Noturno. Dando prosseguimento a uma das partes mais importantes da festa, estendeu-se em erudita dissertação sobre a personalidade dos dois homenageados. Deu, em seguida, a palavra aos oradores inscritos: Coronel Constantino Correia, (vice-orador) que produziu brilhante e patriótica alocução alusiva ao magno acontecimento; Adalberto Brígido Maia, que felicitou o “Gabinete” em nome de seu homônimo de Camocim, que representava; Francisco Caldas da Silveira; e Mário passos que pronunciou eloquente saudação aos camocinenses, representados nesta festa pelos senhores Antônio Zeferino Veras, José Carlos Veras, Antônio Fernando Barros e Adalberto Brígido Maia. Encerrou a sessão ao som do Hino Nacional desta vez executado pela banda “União Viçosense”. A ata foi lavrada por Francisco Caldas da Silveira e assinada por demais membros. A posse da nova Diretoria verificou-se durante a sessão solene em comemoração ao 1º aniversário de fundação do gabinete, em 13 de fevereiro de 1917, constando, ainda, da programação comemorativa dessa grandiosa data a inauguração, na então Praça da Matriz, da estátua de Dom Antônio Felipe Camarão. Essa estátua media 68 cm de altura, ligada a um pedestal de bronze de 1,16 m, trabalho da Fundição Cearense, tendo figurado na Exposição de Chicago, em 1893. (SILVEIRA: 1999, p. 79). Hoje, atualmente a estatueta se encontra no Paço Municipal, em um de seus salões principais, localizado no Solar da Marcela, espaço cultural e que hoje infelizmente funciona a Prefeitura Municipal de Viçosa do Ceará. Pela relação política e pelo acirramento verificado no cenário político da cidade, em pouquíssimas ocasiões as duas bandas de música – Marreta e Democrata – tocaram juntas. Afirmava Manuel Paiva, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: É assim o Gabinete de Leitura uma perfeita realidade, que se vae cada vez mais afirmando entre nós, como um centro de conveniência e sociabilidade donde desapareceram as rixas e dissenções partidárias para se estabelecer o império da união e da concordia, - a confraternização, emfim, da família viçosense. (POLYANTHÉA, 1918, p. 2). Ora, se existiam dois clubes sociais também devi haver DUAS BANDAS DE MÚSICA, como efetivamente existiam no caso a “Euterpe Viçosense” dos Marretas e “Euterpe Franco Rabelo” dos Democratas... Como tantas divisões, é de admirar que houvesse apenas uma Igreja, esta católica, onde se encontravam todos, para seus atos religiosos apesar de o Vigário (Pe. Carneiro) ser sabidamente UM DOS CHEFES DEMOCRATAS!!! (...) Que, tocava, era sempre a Banda Democrata, do Partido do Vigário. A “Música Marreta”, nunca. (FONTENELE, 2010, p. 226). A banda “Democrata” ou “Euterpe Franco Rabelo”, fundada em 1912, era ligada politicamente ao partido do Major Felizardo de Pinho. Já a banda “Marreta”, ou “Euterpe Viçosense”, era ligada politicamente ao grupo de Deocleciano Fontenele Pacheco, o “seu Dedé” da Farmácia. Recordo com nítida impressão das duas bandas de música, uma pertencente aos “Marretas” sob a responsabilidade de João Benício Fontenele, e outra dirigida pelos “Democratas”, administrada pelo Horácio Fontenele Magalhães. (ARAGÃO, 1992, p. 71). No final do ano de 1919, importantes alterações se verificaram no quadro social do Gabinete Viçosense de Leitura, como, por exemplo, a admissão, na Sessão do dia 02 de novembro do major Felizardo de Pinho Pessoa para a categoria de Sócio Cooperador, por proposta do consócio José Joaquim de Carvalho Filho (Carvalhinho), bem assim, os pedidos formulados pelo Dr. Manuel Simplício Paiva: de renúncia do cargo de Orador e de transferência para a categoria Sócio Correspondente, por motivo de sua remoção para o vizinho município de Granja. Igualmente importantes foram os afastamentos – por motivos políticos – e posteriores desligamentos, a pedido, do quadro social do Gabinete Viçosense de leitura, dos sócios fundadores Deocleciano Fontenelle Pacheco, Constantino Correia, João Phorphírio Magalhães e João Benício Fontenelle. A convivência entre atividades de caráter puramente intelectuais e literárias com outras voltadas para a diversão se mostra problemática e contribui de maneira indireta, para o declínio dos gabinetes influenciando a construção da memória destas instituições. (LIMA, 2011, p. 49). Semelhante aos seus congêneres da região norte cuja trajetória investigamos, o Gabinete de Leitura Viçosense entrou em declínio em algum momento da primeira metade do século XX. As fontes consultadas não permitem apurar a data de seu fechamento, muito menos as circunstâncias de tal evento. Sabe-se, porém, que os gabinetes de leitura estudados neste trabalho experimentaram lento processo de estagnação.O encerramento de suas trajetórias constitui fato pouco lembrado pela memória local. (LIMA, 2011, p. 59). 2.3. Diretoria do Gabinete Viçosense de Leitura (13/02/1928 a 13/02/1929). Em sessão solemne, efetuada a 13 do corrente, pela passagem do 12º aniversário do “Gabinete Viçosense de Leitura” de Viçosa, Estado do Ceará, tomou posse a seguinte directoria que deverá reger os destinos daquela sociedade, no anno social de 1928 a 1929. Presidente: dr. Joaquim Alerando Bandeira de Barros; Vice-Presidente: Felizardo de Pinho Pessoa (reeleito); 1º Secretário: Levino Pinheiro; 2º Secretário: Lauro Rodrigues; Thesoureiro: Ângelo de Siqueira Passos Filho (reeleito); bibliotecário: Salústio Pinho Pessoa (reeleito); Orador-oficial: dr. Joaquim Olympio da Silveira Carvalho; Vice-orador: Justo de Pinho Pessoa. (DIARIO NACIONAL, 1928, p. 5). 2.4. Diretoria do Gabinete Viçosense de Leitura (13/02/1929 a 13/02/1930). Em 1929, em memorável sessão realizada no dia 13 de janeiro, Francisco Caldas da Silveira foi, para o período de 13 de fevereiro de 1929 a 13 de fevereiro de 1930, eleito Presidente do Gabinete Viçosense de Leitura, cuja nova Diretoria era constituída ainda dos seguintes cidadãos: Major Felizardo de Pinho Pessoa (vice-presidente); José Joaquim de Carvalho Filho (1º secretário); Raimundo Pacheco (2º secretário); Dr. Joaquim Alerano Bandeira Barros (orador); Dr. Joaquim Olímpio da Silveira Carvalho (vice-orador); Francisco das Chagas Pindaira Pacheco (tesoureiro); Angelo de Siqueira Passos Filho (bibliotecário). (SILVEIRA, 1999, p. 123). Na Sessão de 31 de março de 1929 durante a qual teve lugar a posse da nova Diretoria do gabinete Viçosense de Leitura, ficou registrado, em Ata, o que se segue: - Usou da palavra o consórcio Padre José Carneiro, quem em frases buriladas e repassadas de grande entusiasmo, produziu belíssima alocução, congratulando-se com o gabinete e com todos os consócios presentes, pela posse do novo Presidente, dizendo que Caldas da Silveira, com a capacidade de trabalho que lhe é peculiar, com a sua força de vontade titânica, vinha por certo soerguer o Gabinete da apatia em que se encontra, nestes últimos anos, dando uma fase de verdadeira prosperidade para o 13º ano que se inicia. (SILVEIRA, 1999, p. 123). 2.5. Das Sedes do Gabinete. Primeiramente a Fundação teve lugar na residência de Camerino Teles de Sousa, sergipano leal e dedicado, sempre pronto a patrocinar as coisas nobres, se não foi quem primeiro cogitou a fundação do Gabinete Viçosense de Leitura. Muito concorreu para desperta entre os viçosenses o sentimento de amor aos livros e consequentemente para o levantamento intelectual de nossa terra amada. Era Gerente da Casa Comercial denominada Pernambucana – sito á Rua Lamartine Nogueira, casa, então, de propriedade de Lúcio da Silveira Freire. Com a extinção da Casa Comercial, retirou-se desta cidade Camerino Teles de Sousa, grande e esforçado amigo do Gabinete Viçosense de Leitura. Figura 6: Residência pertencente aos herdeiros de José Maria Mapurunga. Acervo fotográfico do autor. A entidade passou a funcionar à Praça da Matriz, hoje Praça Clóvis Beviláqua, em uma dependência da casa de propriedade de João Porphírio Magalhães, hoje pertencente aos familiares do Sr. José Maria Mapurunga. Novamente transferida para uma dependência da casa sito á Praça General Tibúrcio, hoje de propriedade de dona Raimunda Fontenelle Castro. Figura 7: Residência pertencente aos herdeiros de Raimunda Fontenelle Castro. Acervo fotográfico do autor. Em seguida, transferida para uma dependência da casa, de Felizardo Pacheco Fontenelle, hoje onde se encontra “O Pão da Vida” e depois foi transferida para o Theatro Pedro II, sito à Rua Lamartine Nogueira. Figura 8 - Antiga residência de Felizardo Pacheco Fontenelle, hoje “O Pão da Vida”, antes de sua reforma. Acervo fotográfico do autor Figura 9 - Antiga residência de Felizardo Pacheco Fontenelle, hoje “O Pão da Vida”, após reformado. Acervo fotográfico do autor. Do Theatro Pedro II foi transferido para a sede própria, graças ao dinamismo, abnegação do Monsenhor José Carneiro da Cunha e de um grupo de amigos dedicados entre os quais é de justiça mencionar José Joaquim de Carvalho (Carvalhinho), Justo de Pinho Pessoa e Alfredo Fontenelle. O atual prédio da Câmara Municipal de Viçosa do Ceará foi construído em 1918, com o objetivo de sediar o Gabinete Viçosense de Leitura, agremiação criada em 1916. Dispunha de uma biblioteca, de um mobiliário refinado e até de jornal de cunho literário. Figura 10: Theatro Pedro II, o terceiro mais antigo do Estado do Ceará. Acervo fotográfico do autor. Afirmava Justo de Pinho, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: Em o transcurso do segundo anno da fundação do Gabinete Viçosense de leitura, não podemos deixar olvidado o nome de um moço, que, tendo tomado a hombros a idéia de fundar aqui em Viçosa um núcleo literário, muito concorreu para despertar entre nós o sentimento de amor aos livros e consequentemente para o alevantamento intelectual desta gleba amada. (POLYANTHÉA, 1918, p. 3). Com o seu dinamismo, a sua tenacidade e devotamento à terra que a transformou em segundo berço, o novel Presidente quis dar ao Gabinete uma sede própria. Não hesitou. Começou a erguer o prédio, atrás de sua Matriz. Era um homem extraordinário, com sobeja capacidade de trabalho, persistente ao máximo, pois enquanto não via o seu ideal concretizado, não parava. (PASSOS, p. 32). Na Sessão do dia 22 de dezembro de 1918 do Gabinete Viçosense de Leitura o Presidente Padre José Carneiro da Cunha propôs a construção da sede própria do Gabinete, idéia unanimamente apoiada pelos consócios, ficando, desde logo, decididos que o capital exigido seria levantado por meio de ações no valor de 50$000 (cinquenta mil réis), cada. (SILVEIRA, 1999, p. 95). Em 13 de fevereiro de 1919, no Gabinete Viçosense de Leitura, ao encerrar a sessão solene em comemoração ao 3º aniversário de fundação da agremiação, o seu Presidente, Pe. José Carneiro da Cunha, convidou todos os presentes para a cerimônia de assentamento da pedra fundamental da futura sede social, em terreno localizado atrás da Igreja Matriz, sendo a referida pedra levada desde o Theatro Pedro II, então sede provisória, pelas senhoritas da sociedade, indo á frente do cortejo a Bandeira Nacional, conduzida por um dos sócios. (SILVEIRA: 1999, p. 96). Na sessão de 15 de agosto de 1919, do Gabinete Viçosense de Leitura foi designado para compor a Comissão encarregada da construção da desse própria do Gabinete, Francisco Caldas da Silveira, juntamente com os consócios Tristão Vieira e Francisco das Chagas Pindayra Pacheco, da qual faziam parte desde a sua constituição os consócios Padre José Carneiro da Cunha, seu presidente e Antônio Honório Passos. (SILVEIRA, 1999, p. 98). Figura 11: Prédio do antigo Gabinete Viçosense de Leitura e atual Câmara Municipal de Viçosa do Ceará, através de “Termo de Comodato.” Acervo fotográfico do autor. Nesta ocasião foi designado para compor a Comissão encarregada da construção na sede própria do Gabinete, juntamente com os consórcios Tristão Vieira e Francisco das Chagas Pindayra Pacheco, da qual faziam parte desde a sua constituição os consócios Padre José Carneiro da Cunha, seu presidente e Antônio Honório Passos. E no dia 13 de maio de 1920, quatro anos após o sonho de Camerino Teles de Souza, o presidente Padre José Carneiro da Cunha, numa magna sessão cívica, com a Bandeira nacional, tremulando noalto do novo edifício, inaugurava a sede própria do Gabinete Viçosense de Leitura. O edifício-sede do Gabinete Viçosense de Leitura foi solenemente inaugurado em 13 de maio de 1920, pelo seu Presidente Revm.º, padre José Carneiro da Cunha, durante a Magna Sessão iniciada às 18h30min, na qual salientou, em seu eloquente discurso que o prédio fora totalmente construído durante sua administração. Nessa ocasião, além do discurso do orador-Oficial Joaquim Alerano Bandeira Barros que, ao iniciar a sua oração, ao “Gabinete”, a oferta de um quadro contendo o retrato do Padre José Carneiro da Cunha, resultado de uma coleta realizada sobre inspiração do consórcio Dr. Júlio de Siqueira Carvalho, usaram da palavra enaltecendo o grandioso evento, os consórcios Dr. Atualpa Barbosa Lima, Médico, Dr. Antônio de Albuquerque, Juiz Municipal, Gil do Amarante Filgueiras, Telegrafista e Lívio Pacheco, Poeta. A banda de Música “Euterpe Franco Rabelo”, sob a regência do maestro Raimundo Juvêncio, da qual meu pai era um dos incentivadores, foi a responsável pela parte musical, durante Sessão Solene e, finda esta, durante o suntuoso Baile que nos amplos salões da nova sede se realizou encerrando os memoráveis festejos comemorativos da solene inauguração do prédio próprio do Gabinete Viçosense de Leitura.”(SILVEIRA, 2005, p. 46) Um edifício na qual veio acomodar toda a Associação, com salas para sessões e conferências, sala de direção, de secretaria, da biblioteca Clóvis Beviláqua, do curso noturno, visando satisfazer uma necessidade de seus associados, onde poderiam se reunir. O curso noturno, porém, foi criado antes da própria biblioteca, refletindo a importância e a urgência a ele atribuída, denuncia que sua criação era a prioridade do Gabinete. (LIMA, 2011, p. 83) Não foi à traça e nem a poeira que devorou o Gabinete Viçosense de Leitura e sim o indiferentismo de alguns que não se interessam pelo progresso intelectual e cultural de nossa terra. Quis o destino, que o Gabinete Viçosense de Leitura desaparecesse com seus associados cheios de vida e trabalho. Desfrutando este campo antagônico, impróprio, deixando o gabinete de ser literário para tornar-se dançante; foi o bastante para em breve desaparecer, abandonado de vez sua biblioteca, já reputada como uma das melhores da serra de Ibiapaba. Morreu o Gabinete Viçosense de Leitura e o meio intelectual muito perdeu com o seu desaparecimento. Eram nos bailes que a sociedade civilizada, moderna e burguesa de Viçosa tentava, a todo instante, mostrar e propagandear seus ares de elegância e civilidade. Desde a sua construção, até os anos da década de 1980, foi palco de festas dançantes e de festejos carnavalescos. Seu prédio foi restaurado e ocupado pela Câmara Municipal em 11 de outubro de 1986, sob a responsabilidade da Mesa Diretora. Com o decorrer dos tempos, em outras administrações, a finalidade cultural do gabinete foi fenecendo, até que nos dias atuais apesar de conservar sua primitiva denominação, transformou-se em mero clube dançante-recreativo. (PASSOS, p. 33). Sobre o Gabinete Viçosense de Leitura, Dr. Manuel Simplício Paiva, no dia 6 de agosto de 1920, da cidade de Granja, escreve uma carta dirigida a Francisco Caldas da Silveira e se expressa da seguinte maneira: Por aqui me tenho dado regularmente, sem esquecer, porém os bons tempos vividos ai, na amena e estimulante convivência do nosso “Gabinete” que pretendo visitar em sua nova instalação até o dia 13 de fevereiro de 21. (SILVEIRA: 2005, p. 47). Já residindo em sua terra natal, Caiçara/PB e deixando o Ceará, escreve novamente a Francisco Caldas da Silveira, em 1 de julho de 1921: Aí em Viçosa foi onde melhores amigos fiz, mercê do “Gabinete” de que conservarei gratas e imorredouras impressões. (SILVEIRA, 2005, p. 48). Francisco Caldas da Silveira, hoje com o título de Patriarca de Viçosa do Ceará, envia para o “Bahú-Velho, de Caio Passos: Quando o “GABINETE” foi fundado em 1916, eu era menino da carta de ABC. Naquele recuado 1916 que nascia das cinzas da seca do “quinze”, o “GABINETE” era para mim, apenas um divertimento, uma simples curiosidade de menino que só pensa em brincadeira, fazer diabruras pelas ruas. Gostava imensamente de acompanhar a Banda Rabelista, com o seu carneirinho branco, pintado de verde-amarelo que servia de “mascote” da música do “Mestre Duca” e apanhar as flechas dos foguetes quando havia festa cívica em sua sede ali na esquina da antiga casa do alegre e divertido casal – José Augusto e Sá Munda. O “GABINETE” manteve por dilatados anos, A Biblioteca “Clóvis Beviláqua”, e o Curso Noturno de Alfabetização “Valdivino de Alencar (SILVEIRA, 2005, p.310) Já o escritor José Mapurunga, roteirista de televisão e tem peças teatrais encenadas no Brasil e em alguns países de Língua Portuguesa, escreve: Essas festas também aconteciam em datas significativas, como passagem de ano, dias de reis, carnaval. Estendiam-se também aos bailes elegantes que abrilhantavam os concursos de beleza, como de Rainha do café. Com a passagem do tempo, foi perdendo a função de instruir, servindo apenas para bailes. No turbilhão das querelas políticas, foi que, em 1930, surgiu o contraponto do Gabinete, o Catete, associação sob o patrocínio público dos marretas, com as mesmas atribuições do Gabinete. Numa época de radicalização política, como foram os anos de 1930, quem ia as festas do Gabinete, não comparecia às do Catete, sendo que recíproca era verdadeira. (MAPURUNGA, 2017, p. 128 e 129). A escritora Tereza Cristina Mapurunga de Miranda Magalhães, nos revela em sua entrevista a nós concedido: As festas do gabinete tiveram merecida e justa fama em toda a zona serrana. Eram muito bem organizadas e havia grande animação. O carnaval de 1930, por exemplo, marcou época com os blocos dos fidalgos, circassianas e japoneses. Deste último fizeram parte Geni Siqueira e Homero Silveira. O povo de Viçosa sempre teve fama de ser dançador e festeiro. Qualquer pretexto servia para se improvisar uma festa, máxime quando havia aniversário de pessoas mais gradas da cidade. Então, um grupo de rapazes e moças, com uma das Bandas de Música, faziam um “assalto”, invadiam uma casa esse improvisava um baile até altas horas da noite. Pode-se dizer que tal grêmio constituiu uma das grandes realizações de Viçosa de outrora. Fruto de um trabalho de equipe, de um grupo animado, conseguiu realizar muitas coisas em uma cidade do interior, servindo de promissor exemplo às outras comunidades cearenses. O Gabinete como assim é chamado até hoje, é parte importante da memória de diversas gerações de viçosenses, palco de flertes que deixaram recordações e de namoros que deram em casamentos duráveis. A memória do Gabinete de Leitura aparece como objeto de estratégias de manipulação por meio do silêncio imposto com o objetivo de produzir um esquecimento em torno desta instituição cujo espólio teria sido indevidamente apropriado por alguns de seus antigos sócios. O silêncio funciona, pois, como uma maneira de evitar a construção de uma memória que qualificasse o Gabinete como patrimônio social, convertendo-o em patrimônio particular. (LIMA, 2011, p. 197). O edifício do Gabinete Viçosense de Leitura está de pé. Soberbo e imponente atestando a sua capacidade realizadora. Era costume o Gabinete ser visitado por todos os que passavam por Viçosa.” Mais uma vez, a invocação ao passado do Gabinete tome como mote os bailes, ou seja, percebe-se ainda uma vez a proeminência, no âmbito da memória
Compartilhar