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TCC: GABINETE DE LEITURA LUZ PURUFICADORA DA INSTRUÇÃO

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5 
 
 
UNIP – Universidade Paulista 
Educação a Distância 
Curso: Pedagogia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GABINETE VIÇOSENSE DE LEITURA: LUZ PURIFICADORA DA 
INSTRUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
GILTON BARRETO DE CASTRO RA: 1521696 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA/CE 
 2017 
 
GILTON BARRETO DE CASTRO RA: 1521696 
 
 
 
 
 
 
GABINETE VIÇOSENSE DE LEITURA: LUZ PURIFICADORA DA INSTRUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
Trabalho Monográfico – Curso de Graduação – Licenciatura em Pedagogia, 
apresentado à comissão julgadora da UNIP Interativa, sob a orientação do professor 
Eduardo Mendes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA/CE 
 2017 
GILTON BARRETO DE CASTRO RA: 1521696 
 
 
 
 
 
 
GABINETE VIÇOSENSE DE LEITURA: LUZ PURIFICADORA DA INSTRUÇÃO 
 
 
 
 
Trabalho Monográfico – Curso de Graduação – Licenciatura em Pedagogia, 
apresentado à comissão julgadora da UNIP Interativa, sob a orientação do professor 
Eduardo Mendes. 
 
 
 
 
Aprovado Em: 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
___________________________________________________ 
Prof. 
Universidade Paulista - Unip 
___________________________________________________ 
Prof. 
Universidade Paulista - Unip 
___________________________________________________ 
Prof. 
Universidade Paulista - Unip 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
Dedico a presente monografia a todos os professores do curso, ao orientador 
do trabalho, aos familiares, amigos e a todos aqueles que de certa forma 
contribuíram para a realização deste projeto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus que me concedeu durante todo esse período força e perseverança 
para o desenvolvimento deste trabalho. 
A minha família pelo apoio e amor dedicado a mim. 
Ao Orientador Eduardo mendes, que se disponibilizou para que este trabalho 
fosse realizado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palavras formam um dicionário, dicionários 
formam livros, livros formam uma biblioteca, 
bibliotecas formam um povo educado. Quando 
Deus formou a Bíblia, palavras encheram as 
bibliotecas do mundo inteiro, pois tudo o que 
está escrito dentro delas foi criado por meio de 
Sua infinita sabedoria. 
Helgir Girdo 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2 
CAPÍTULO I: GABINETE DE LEITURA ..................................................................... 6 
1.1. Gabinete Viçosense de Leitura ................................................................ 10 
1.2. Instrução e Civismo .................................................................................. 15 
1.3. Jornal Polyanthéa e o segundo aniversário do Gabinete Viçosense de 
Leitura ........................................................................................................ 18 
 
CAPÍTULO II: DA DIRETORIA ................................................................................. 20 
2.1. Diretoria Primitiva e Sócios Fundadores .................................................... 20 
2.2. Segunda Diretoria ......................................................................................... 20 
2.3. Diretoria do Gabinete Viçosense de Leitura (1928-1929) ..........................24 
2.4. Diretoria do Gabinete Viçosense de Leitura (1929-1930) ......................... 24 
2.5. Das Sedes ...................................................................................................... 25 
2.6. Registro de algumas Sessões e Conferências memoráveis que marcaram 
a vida sócio-cívico cultural do Gabinete Viçosense de Leitura ......................... 32 
2.7. Termo de Comodato celebrado entre o Gabinete Viçosense de Leitura e a 
Câmara Municipal de Viçosa do Ceará .................................................................. 37 
 
CAPÍTULO III: CURSO NOTURNO VALDIVINO ELIAS DE ALENCAR ................. 40 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 46 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 46 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1 Banda de Música “Marreta” do ano de 1934. 
Figura 2 Banda de Música “Marreta” do ano de 1937. 
Figura 3 Folhas de rosto de livros pertencentes ao Gabinete Viçosense de 
Leitura e que foram doados pelo ex-presidente da Câmara Municipal de Viçosa do 
Ceará, Sr. Ernesto Fontenele ao Memorial Clóvis Beviláqua. 
Figura 4 Folha de rosto do recibo original pertencente ao Gabinete Viçosense de 
Leitura. 
Figura 5 Folha de rosto de um exemplar do Jornal “Polyanthéa” de 1918 
pertencente ao Gabinete Viçosense de Leitura. 
Figura 6 Residência pertencente aos herdeiros de José Maria Mapurunga. 
Figura 7 Residência pertencente aos herdeiros de Raimunda Fontenelle de 
Castro. 
Figura 8 Antiga residência de Felizardo Pacheco Fontenelle, hoje “O Pão da 
Vida”, antes de sua reforma. 
Figura 9 Antiga residência de Felizardo Pacheco Fontenelle, hoje “O Pão da 
Vida”, após reformado. 
Figura 10 Theatro Pedro II, o terceiro mais antigo do Estado do Ceará. 
Figura 11 Prédio do antigo Gabinete Viçosense de Leitura e atual Câmara 
Municipal de Viçosa do Ceará, através do “Termo de Comodato”. 
Figura 12 Folha de rosto do Orçamento da Câmara Municipal de Viçosa do Ceará 
para o ano de 1919. 
Figura 13 Folha de orçamento da Câmara Municipal de Viçosa para o ano de 
1919. 
Figura 14 Carta de Valdivino Elias de Alencar, datada de 1903, quando o mesmo 
foi a Europa fazer tratamento de saúde. 
Figura 15 Documento original do Major Valdivino Elias de Alencar recebendo os 
bens patrimoniais da Prefeitura das mãos do Intendente Municipal de Viçosa, José 
Joaquim Fontenelle Sobrinho, no ano de 1912. 
 
 
 
RESUMO 
 
O Gabinete Viçosense de Leitura, um ótimo ponto de entretenimento, teve 
sua sede inaugurada na cidade de Viçosa do Ceará, no dia 13 de fevereiro de 1916, 
com apoio de nossos conterrâneos e a presença de intelectuais de uma sociedade 
elitista. Foi construído com um pronunciado gosto artístico e paulatinamente foi se 
combatendo o analfabetismo, que foi um dos maiores entraves de nosso progresso. 
Muitos desses gabinetes de leitura surgiram no Brasil e especialmente no Ceará, 
impulsionados pela Maçonaria e pela República Positivista. De uma beleza 
arquitetônica, possuiu um importante acervo bibliográfico, ampliando assim os 
conhecimentos de seus associados, merecedor de todos os aplausos, pela elevação 
cultural da cidade. Os fundadores do Gabinete Viçosense de Leitura se 
preocupavam com o nível de instrução de seus compatriotas e por isso criaram o 
Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar. E para dar um maior dinamismo as 
atividades do gabinete viçosense, foram criadas as conferências e as sessões 
cívicas. O Gabinete Viçosense de Leitura serviu como uma espécie de laboratório 
onde os intelectuais viçosenses iniciavam seus trabalhos, configurando como um 
espaço iniciativo para a vida pública, onde muito de obras literárias que se 
encontravam em suas estantes, eram de doações aleatórias. Assim sendo, este 
trabalho procura construir sua interpretaçãodo momento histórico, valorizando a 
memória, preservando o passado como guia para o futuro, favorecendo assim novas 
experiências e mostrando a cultura e a história desse povo. Os caminhos 
metodológicos percorridos durante esta pesquisa foi buscar conhecimentos sobre os 
fatos, os documentos, as atividades cívicas com influências pedagógicas de uma 
sociedade burguesa. Neste trabalho foram apresentados os resultados das análises 
efetuadas, que foram divididos em dados, divididos nas seguintes seções, servindo 
para formulação de novas hipóteses: Introdução – onde foi apresentada uma 
metodologia dentro da pesquisa histórica, com tarefa investigativa dentro de pontos 
teóricos, conceituais e metodológicos, como objeto de investigação e avaliação; 
Gabinetes de Leitura – um pouco da história, a formação leitora por volta da metade 
do século XIX, o início de suas atividades no Norte do Ceará e o exercício das 
virtudes intelectuais de seus associados; Gabinete Viçosense de Leitura – o seu 
caráter literário-recreativo, a sua ordem moral, intelectual e cívica, congregando 
valores mentais, onde se tinha o Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar, voltado 
para “os pobres” e que tinha como idealizador Camerino Telles e grande benfeitor, 
Monsenhor José Carneiro da Cunha; Instrução e Civismo – lema em sua bandeira e 
empregada por seus associados, exaltando o pensamento e o bem-estar da 
sociedade; Jornal Polyanthéa – o único jornal impresso de todos os Gabinetes de 
Leitura da Zona Norte; Da Diretoria – sua diretoria primitiva e seus associados com 
suas sessões extraordinárias; Das sedes do Gabinete – Suas sedes temporárias 
que funcionaram em casas situadas hoje no centro histórico e pertenciam a seus 
associados; Registro de Sessões e Conferências – datada dos anos de 1919, 1922, 
1923, 1924, 1925 e 1928 onde se registra algumas sessões e conferências; Termo 
de Comodato – traz em suas cláusulas um Termo de Comodato entre o Gabinete 
Viçosense de Leitura e a Câmara Municipal de Viçosa do Ceará, datada de 1985 e 
que tem prazo indeterminado, podendo o Gabinete Viçosense solicitar o prédio a 
qualquer momento; Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar – teve um papel 
fundamental para a educação viçosense, desconhecida por muitos iniciada antes do 
curso do Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL; Considerações Finais – 
percebe-se a importância dessa instituição literária na formação de cidadãos 
conscientes e responsáveis e que há muitas surpresas a serem desvendadas como 
fontes, acervos particulares e memórias a serem recolhidas e aprofundadas em 
novas pesquisas sobre o Gabinete Viçosense de Leitura. 
 
 
 
PALAVRAS CHAVES: Analfabetismo. Conhecimentos. Instrução. Dinamismo. 
Pedagógico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 The Viçosense de Leitura Office, a great entertainment spot, was inaugurated 
in Viçosa do Ceará on February 13, 1916, with the support of our countrymen and 
the presence of intellectuals from an elitist society. It was built with a pronounced 
artistic taste and was gradually combating illiteracy, which was one of the major 
obstacles of our progress. Many of these reading cabinets have appeared in Brazil 
and especially in Ceará, driven by Freemasonry and the Positivist Republic. Of an 
architectural beauty, it possessed an important bibliographical collection, thus 
expanding the knowledge of its associates, deserving of all the applause, for the 
cultural elevation of the city. The founders of the Viçosa de Reading Office were 
concerned about the level of education of their compatriots and for that reason they 
created the Valdivino Elias de Alencar Night Course. And in order to give a greater 
dynamism to the activities of the office in Vicosense, conferences and civic sessions 
were created. The Viçosense de Leitura Office served as a kind of laboratory where 
the intellectuals from the city of Viçosa began their work, configuring it as an initiatory 
space for public life, where much of the literary works on their shelves were of 
random donations. Thus, this work seeks to build its interpretation of the historical 
moment, valuing memory, preserving the past as a guide for the future, thus favoring 
new experiences and showing the culture and history of this people. The 
methodological paths covered during this research was to seek knowledge about 
facts, documents, civic activities with pedagogical influences of a bourgeois society. 
In this paper, the results of the analyzed analyzes were presented, divided into data, 
divided into the following sections, and used to formulate new hypotheses: 
Introduction - where a methodology was presented within the historical research, with 
a research task within theoretical, conceptual and as an object of research and 
evaluation; Reading Cabinets - a bit of history, the reading formation around the 
middle of the nineteenth century, the beginning of its activities in the North of Ceará 
and the exercise of the intellectual virtues of its associates; Viçosense de Leitura 
Office - its literary and recreational character, its moral, intellectual and civic order, 
bringing together mental values, where one had the Valdivino Elias de Alencar Night 
Course, aimed at "the poor" and whose idealizer was Camerino Telles and great 
benefactor, Monsignor José Carneiro da Cunha; Education and Citizenship - a motto 
on its flag and employed by its members, extolling the thought and well-being of 
society; Polyanthéa Newspaper - the only printed newspaper of all the Reading 
Offices of the North Zone; The Board of Directors - its senior management and its 
associates with its extraordinary sessions; From the offices of the Cabinet - Their 
temporary headquarters that functioned in houses situated in the historic center and 
belonged to their associates; Record of Sessions and Conferences - dated from the 
years 1919, 1922, 1923, 1924, 1925 and 1928 where some sessions and 
conferences are recorded; Term of Commodity - includes in its clauses a Term of 
Commodity between the Office Viçosa de Reading and the Municipal Council of 
Viçosa do Ceará, dated 1985 and that has an indeterminate term, and the Viçosense 
Office can request the building at any time; Night Course Valdivino Elias de Alencar - 
played a key role in the education of Viçosa, unknown to many initiated before the 
course of the Brazilian Movement of Literacy - MOBRAL; Final Thoughts - the 
importance of this literary institution in the formation of conscious and responsible 
citizens is noticed and that there are many surprises to be unveiled as sources, 
private collections and memories to be gathered and deepened in new researches 
about the Viçosense Office of Reading. 
 
 
 
KEYWORDS: Illiteracy. Knowledge. Instruction. Dynamism. Pedagogical. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O presente trabalho é uma pesquisa bibliográfica e documental sobre o 
Gabinete Viçosense de Leitura, uma ideia louvável que contou com apoio de 
conterrâneos viçosenses. 
A escolha do tema se constituiu em uma metodologia de análise de materiais 
textuais e documentais com a possibilidade de fazer ligações entre as diversas 
áreas do conhecimento, estabelecendo relações e comparações e possibilitando o 
conhecimento histórico numa relação crítica com o saber. 
O percurso metodológico adotado nas diversas etapas da pesquisa, 
elaborado a partir de um trabalho de pesquisa bibliográfica, em fontes, periódicos, 
documentos, livros e internet, nos leva a compreender, as diversas etapas do 
processo de formação e integração desta associação literária, educacional e 
recreativa. 
Dentrodo universo dessa pesquisa histórica, a presente pesquisa aborda 
aspectos históricos, dentro de um contexto de produção de conhecimento, 
reafirmando a importância em definir e expor com clareza os métodos aplicados 
dentro de uma avaliação aprofundada. 
Essa pesquisa vem expressar os interesses e necessidades de diversos 
sujeitos sociais e seus diálogos com a cultura acumulada historicamente, como 
objeto de investigação e avaliação. 
Como tarefa investigativa realizado neste ano, o presente estudo apresenta 
pontos teóricos, conceituais e metodológicos relevantes que configuram a trajetória 
seguida na feitura do trabalho. 
Baseada nos pressupostos da história do Gabinete Viçosense de Leitura se 
procurou construir um texto com o intento em buscar elementos que possibilitem 
melhor a compreensão do enfoque investigativo. 
 
No início do século XX, os fundadores e colaboradores do Gabinete 
Viçosense de Leitura exaltavam sua existência como “obra de valor 
e mérito.” Entre os vários discursos comemorativos do aniversário 
deste Gabinete, vê-se a insistência na defesa da importância da 
instituição que mantinha aberta ao público sua biblioteca, assim 
como assegurava para “os pobres” aulas noturnas, curso com 
matrícula gratuita, além de suas reuniões em promoção, 
“propaganda da cultura cívica.” (BARBOSA & LIMA, 2008, p. 47-48.) 
Através do presente trabalho se buscou enriquecer a pesquisa com 
informações relevantes apontando novas pistas a serem seguidas e possibilitando o 
enriquecimento das informações, principalmente as que foram feitas por periódicos. 
Constatou-se que a leitura e a escrita se tornaram consequência de processo 
de trabalho sério e comprometido que foi desenvolvido pelos intelectuais no 
Gabinete Viçosense de Leitura. 
O Gabinete Viçosense de Leitura está localizado na cidade de Viçosa do 
Ceará, cidade serrana que fica a 350 Km de Fortaleza, possui setenta e dois 
casarões tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) desde 
2003, além da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, com seus trezentos e 
dezessete anos de Missão; o Theatro Pedro II, o terceiro mais antigo do Estado do 
Ceará e o Gabinete Viçosense de Leitura, atual Câmara Municipal de Viçosa do 
Ceará. 
Viçosa do Ceará é uma cidade que possui 1.300 Km² e uma população de 60 
mil habitantes, fundada pelos jesuítas e onde esteve o imortal Vieira, grande Orador 
Sacro da Língua Portuguesa. Terra de Clóvis Beviláqua (o maior jurisconsulto da 
América Latina), do abolicionista e herói da Guerra da Tríplice Aliança (Brigadeiro 
Tibúrcio) e de Marechal Bezerril Fontenelle (último governador da Província do 
Ceará). 
No tempo do Gabinete Viçosense de Leitura, Viçosa respirava um ambiente 
cultural, tendo vários jornais, duas bandas de música (Marreta e Democrata), ali 
funcionando o Instituto Araripe Júnior, educandário dirigido pelo intelectual paulista 
Aluízio Coimbra. Recebia, de quando em quando, conferencistas como Antônio 
Bezerra, Leonardo Mota, Assis Brasil e outros. 
Era a Viçosa pacata, de cadeiras nas calçadas para conversas informais, de 
assíduas frequências às praças para assistir as bandas de músicas Marreta e 
Democrata que se apresentavam no coreto, para os namoricos nos bancos, mas 
sempre realçando a presença dos mais poderosos e dos ricos comerciantes. 
O Gabinete Viçosense de Leitura mostra-se como um ambiente utilizado por 
uma sociabilidade masculina e se caracterizavam pela criação de cursos noturnos e 
bibliotecas e seus salões serviram muitas vezes, principalmente em datas cívicas, 
para os conferencistas onde todos eram cordialmente recebidos. 
O Gabinete Viçosense de Leitura teve suma importância na interação e 
integração no meio social, com intervenção pedagógica no contexto social, 
educacional e cultural, moldando a consciência da comunidade. 
Infelizmente não foi possível fazer um estudo no acervo literário do gabinete, 
para um estudo aprofundado no campo de investigação, junto às possibilidades 
históricas, suas considerações passadas, os léxicos explorados, uma análise 
enquanto Gabinete de Leitura, dentro de um contexto histórico. 
Para LE GOFF, o que importa, 
 
É mostrar, na primeira perspectiva, através de alguns exemplos, o tipo de 
relações que as sociedades históricas mantiveram com o seu passado e o 
lugar que a história ocupa no presente. (LE GOFF, 1990, p. 17). 
 
 
Figura1: Banda de Música “Marreta” do ano de 1934. – Acervo fotográfico: Memorial Pe. 
Antônio Vieira sj. Figura 2: Banda de Música “Marreta” do ano de 1977. Erroneamente no 
acervo do Memorial Pe. Antônio Vieira sj., a mesma se encontra com o nome de “Democrata”. 
 
Nas cidades interioranas que tiveram seus gabinetes de leituras, os gabinetes 
e seus fundadores aparecem sempre como parte integrante da história intelectual de 
suas cidades, como promotores de leitura. 
Essa inserção espacial contribuía, fundamentalmente, para a estruturação 
das sociabilidades, ao passo que a diversidade de espaços evidenciava as várias 
situações de vida em sociedade. 
Como justificativas para o presente trabalho têm-se a necessidade de 
entender o processo metodológico, a sua importância e a necessidade de articular 
entre a pesquisa e o ensino, a pesquisa bibliográfica fundamentada nos 
conhecimentos. 
Como resultado nota-se a importância histórica e um melhor entendimento 
dessa evolução, socialmente condicionada por uma realidade histórica concreta. 
LE GOFF, destaca que a história da história 
 
não se deve preocupar apenas com a produção histórica 
profissional, mas com todo um conjunto de fenômenos que 
constituem a cultura histórica ou, melhor, a mentalidade histórica de 
uma época. (LE GOFF, 1990, p. 39). 
 
Como objetivo geral, pretende-se contribuir para os estudos históricos que 
servirão de comparação, observação e futuras análises históricas. 
A relevância da pesquisa está no fato de que se espera contribuir para o 
estudo histórico, desempenhando um papel importante, na medida em que 
contempla pesquisa e reflexão, contribuindo no sentido de valorizar a história dos 
indivíduos. 
No dizer de LE GOFF 
 
A memoria coletiva foi posta em jogo de forma importante na luta 
das forças sociais pelo poder. Tornarem-se senhores da memória e 
do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, 
dos grupos e dos indivíduos que dominaram ou dominam as 
sociedades históricas. (LE GOFF, 1990, p. 368). 
 
 Dependendo do campo de visão que nosso olhar alcança, passado e 
distância, é possível ver refletida a luta pela memória e a luta da lembrança contra o 
esquecimento. 
 Lembrar e esquecer são partes indissociáveis do mesmo processo 
(ZUMTHOR, 1997). Logo, o esquecimento é uma face da memória; não é 
exatamente a memória. O mesmo se pode dizer da recordação, outra face desse 
processo dialético que chamamos de memória. 
Este trabalho tem o objetivo de fomentar a evolução dos saberes humanos, 
fundamentada na execução de métodos e técnicas de pesquisa, onde os dados 
foram recolhidos e registrados ordenamente, consultados em fontes, periódicos, 
livros históricos e entrevistas, contribuindo assim, para o processo ensino 
aprendizagem. 
 
1. GABINETES DE LEITURA 
 
Os gabinetes de leitura surgiram na Europa entre os séculos XVII e XVIII e 
são conhecidos como o século das luzes, gerado sob o impacto da Revolução 
Industrial e Revolução Francesa. 
Espaço de leitura associado a local de entretenimento é o que caracteriza os 
gabinetes de leitura europeus entre o final do século XVII e ao longo do século XIX. 
 Já no Ceará, especificamente na Zona Norte do Estado, esses espaços foram 
campos de uma culturae de grupos letrados, de instrução das primeiras letras com 
seus cursos noturnos e de entretenimento. 
Nessa época os livros circulavam em todos os oceanos e até a metade do 
século XX foram criadas as bases para a produção cultural de jornais e livros. 
 LE GOFF, diz que a evolução das sociedades na segunda metade do século 
XX 
 
classifica a importância do papel que a memória coletiva desempenha. (LE 
GOFF, 1990, p. 409) 
 
Talvez poucas pessoas saibam que Benjamin Franklin, inventor dos para-
raios, foi também inventor dos Gabinetes de Leitura. 
 
Em 1810, quando Franklin era ainda aprendiz de tipógrafo em Boston, ávido 
em conseguir livros com que satisfizesse a sua paixão literária e científica, juntou-se 
vários amigos da sua idade, formando uma associação e por meio de 
modestíssimas quotas, reuniu um pequeno capital para comprar livros que todos os 
sócios tinham direito de ler, podendo assim ilustrar-se em grande despesa. Pouco a 
pouco a modesta sociedade foi tomando vulto e popularidade, até ao ponto de que 
as autoridades superiores da cidade conseguiram certa quantidade destinada a 
importar livros da Inglaterra que pôs a disposição da sociedade de leitura, com a 
única condição de que qualquer habitante de Boston os pudesse ler mediante uma 
pequena quota para fundo da mesma sociedade. 
 
E foi por volta da metade do século XIX é que se começou a se delinear a 
formação de leitores, pois havia total precariedade no país na prestação de serviços 
de educação, cultura e informação. 
 
De forma corriqueira o uso do termo gabinete, oriundo do francês 
antigo “cabinet” era utilizado para referenciar cômodos particulares 
de casas opulentas do século XIX. Pequenas ou amplas salas 
reservadas de usos diversos, compreendendo diferentes 
modalidades: “Gabinete de Estudo”, “Gabinete de Física”, “Gabinete 
do Rei”, “Laboratório”, “Aposento” ou Gabinete de Leitura. 
(SCHAPOCHINK, 1999, p. 39). 
 
 O surgimento dessa instituição é coincidente com a expansão do mercado 
livreiro europeu que veio ao encontro de uma população que almejara dominar o 
universo de gênero do romance que, então florescia. 
 
Os indícios recolhidos pela pesquisa indicam que a presença dos romances 
nos acervos dos gabinetes de leitura de Camocim, Ipú e Viçosa, se não 
passara completamente despercebida, dada a sua quantidade considerável, 
também não foi considerada digna de destaque que quando surgiu ocasião 
de comentá-los na imprensa. (LIMA, p.179). 
 
 Os gabinetes de leitura que se fixaram no Brasil, principalmente os do Norte 
do Ceará, se diferenciavam das “boutiques à lire” francesas pela consulta e 
empréstimo gratuitos do acervo. 
 
É possível que a constituição dos gabinetes de leitura tenha sido influenciada 
pela sociedade francesa pré-revolucionária, ou mais precisamente pelas 
chamadas “boutiques à lire”, em cujo empréstimo de livros pagava-se uma 
determinada quantia”. (MADEIRA, 2005, p. 1). 
 
Os gabinetes de leitura chegaram ao Ceará a partir da segunda metade do 
século XIX, mais precisamente no dia 14 de novembro de 1875, data inaugural do 
primeiro Gabinete, em Baturité, voltados para o crescimento moral, intelectual e 
produtivo da nação. 
 
Criados todos (à exceção de Baturité e Fortaleza) depois da seca de 
1878 a 1879, as associações do tipo Gabinete de Leitura iam 
absorver as primeiras inquietações intelectuais dos pequenos 
núcleos de classe média de antigas vilas que o novo surto do 
progresso iam transformando as cidades: Assim, surgiram gabinetes 
de leitura em Aracati (1879), Granja (1880), Pereiro (1883), Campo 
Grande (1884, ainda quando vila, pois só foi elevada à cidade em 
1938, com o nome de Guaraciaba do Norte), Ipú (1886, ano de sua 
elevação a cidade, o que explica a animação do Gabinete, que 
chegou a contar com 114 sócios), Barbalha (1889), Camocim (1913) 
e, finalmente, Viçosa (1916). (TINHORÃO, 2006, p. 36). 
 
O destino dessas associações ia revelar uma curiosa identidade com o dos 
“cidadãos prestimosos” que as dirigiam: seriam comportadas e improdutivas. O 
Gabinete Cearense de Leitura de Fortaleza, em todo o caso, ainda cumulou os dois 
mil volumes doados à Biblioteca Pública da cidade, ao encerrar sua brilhante 
existência, depois de onze anos de inatividade, ao contrário do Gabinete Viçosense 
de Leitura de Viçosa do Ceará, onde seus livros desapareceram, bem como suas 
belíssimas estantes que até hoje desconhecemos na sua totalidade o seu destino 
final. 
 
 
Figura 3: Folhas de rosto de livros pertencentes ao Gabinete Viçosense de Leitura e que foram 
doados pelo ex-Presidente da Câmara Municipal de Viçosa do Ceará, Sr. Ernesto Fontenele ao 
Memorial Clóvis Beviláqua – Acervo fotográfico do autor. 
 
Que fecunda semente, que teve esses intelectuais ao findar esta biblioteca, 
para que educasse a inteligência dos seus contemporâneos, com ânsia de mais 
saber, onde os muitos sócios recorriam para passar algumas horas de enlevo 
espiritual e adquirindo úteis conhecimentos e lendo bons livros. 
De contribuição valiosa, muito mereceu aplausos e a muitos serviu de 
estímulos. Entre os livros do gabinete havia lá de Camões, Quintino Cunha, Clóvis 
Beviláqua e Amélia Beviláqua. 
Afirmava Joaquim Alerano, em discurso publicado no Polyanthéa: 
 
Mas não foi somente o Curso nocturno o único título com que o 
Gabinete Viçosense tem se imposto à estima publica. Ignaugurou e 
franqueou ao publico, uma biblioteca composta de algumas 
centenas de livros de importantes autores; entre estes salientam-se 
obras de Sylvio Romero, Clóvis Beviláqua, Barão Studart, César 
Cantu, Roberto Southey, José de Alencar, etc. Havidos esses 
volumes por dádivas ou compra. (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). 
 
Seus associados passavam horas esquecidas, a escolher brochuras, a 
consultar livros e revistas, a farejar estantes. 
Qualquer pessoa tinha acesso livre para consultar os livros. Porém, para 
poder levá-los para leitura domiciliar, era necessário que a pessoa fosse associada 
ao Gabinete. 
Os gabinetes das cidades do interior, entretanto, iam apenas arredar as 
estantes e transformarem-se em clubes de dança. Esse fim melancólico dos 
gabinetes de leitura cearenses, porém, tinha uma explicação: o adensamento das 
populações urbanas, ampliando as camadas da classe média, tornava o interesse 
pelas coisas do espírito a preocupação de uma minoria. E isso era mais do que 
lógico, pois, se as estruturas das novas cidades cearenses já eram bastante amplas 
para justificar a criação dos gabinetes, não ofereciam um mínimo de condições para 
o desenvolvimento prático das ideias assimiladas em horas e horas de leitura. 
 
JOUTARD (1977) reencontra no próprio seio de uma comunidade histórica 
através dos documentos escritos do passado e depois através dos 
testemunhos orais do presente, como ela viveu e vive o seu passado, como 
constituir a sua memória coletiva e como esta memória lhe permite fazer face 
a acontecimentos muito diferentes daqueles que findam a sua memória numa 
mesma linha e encontrar ainda hoje a sua identidade. (LE GOFF, 1990, p. 
409). 
 
E foi para erguer um templo ao livro e festejar os seus preciosos frutos que o 
Gabinete Viçosense de Leitura nascera para banir de seus horizontes, um dos 
marcos da escravidão, que é o analfabetismo. 
Concretamente, a contribuição dos gabinetes de leitura à luta contra o 
analfabetismo se dava através da organização dos “Cursos Noturnos” 
organizados, ministrados e mantidos pelos sócios. (LIMA, 2009, p. 4). 
 
 E eis como, na impossibilidade de exercitar as suas virtudes intelectuais, no 
campo da inteligência, a classe média das cidades do interiordo Ceará acabou 
transformando os próprios salões dos gabinetes de leitura em campo para o 
exercício mudano das virtudes físicas da dança. 
 
1.1. Gabinete Viçosense de Leitura. 
 
Graças ao esforço e boa vontade de uma plêiade de homens ilustres de 
Viçosa do Ceará, fundaram uma sociedade de caráter literária, educacional e 
cultural, que foi o Gabinete Viçosense de Leitura. 
Homens cultos que garantiram um dado perfil de civilidade ao povo 
desprovido da cultura das letras, onde tinha como característica muito forte, a 
ausência do poder público na promoção da educação. 
Os intelectuais que tomaram a frente do Gabinete Viçosense de Leitura eram 
homens cuja vida profissional e o social permitia que mantivessem uma ligação mais 
sólida com a cidade e que tinha como grande parte seu tempo ocioso. 
Para LE GOFF, não podemos esquecer os verdadeiros lugares da história, 
 
aqueles onde se devem procurar, não a sua elaboração, não a 
produção, mas os criadores e os denominadores da memória coletiva: 
“Estados, meios sociais e políticas, comunidades de experiências 
históricas ou de gerações, levadas a constituir os seus arquivos em 
função dos usos diferentes que fazem da memória. (LE GOFF, 1990, 
p. 408). 
 
São incalculáveis os benefícios de ordem moral e intelectual que tem 
espalhado em Viçosa, o Gabinete Viçosense de Leitura durante a sua longa 
existência de triunfos e vitórias. 
De significativa atuação política e de função didática, voltada à educação 
popular, o Gabinete Viçosense de Leitura tratava de questões pertinentes, como 
falamos anteriormente, à sociedade, a educação e a cultura. 
O Gabinete Viçosense de Leitura foi um estímulo à inteligência dos filhos 
desta terra, congregando valores mentais, onde se trocou ideias, fizeram 
conferências e que representou algo de nossa tradição e cultura. A leitura passou a 
ser atributo classificador, digno de admiração. 
 
É possível caracterizar esses espaços como campos de uma cultura 
letrada se fazendo pouco a pouco, onde se nota o movimento de 
alfabetização, a constituição da instrução nas primeiras letras, e por 
que não dizer, através da implantação de instituições de leitura e 
escrita, cujo exemplo, mais comum eram os gabinetes de leitura e a 
produção e circulação de jornais. (BARBOSA & LIMA, 2008, p. 45.) 
 
Em Viçosa do Ceará, era fundado o Gabinete Viçosense de Leitura em 13 
de fevereiro de 1916, com o Lema “Instrução e Civismo”, pelo seu presidente 
Rev.mo Pe. José Carneiro da Cunha e um grupo entusiasta e progressista, uma 
plêiade de homens ilustres, ao todo, vinte e três, que aqui existia, durante a Magna 
sessão iniciada às 18h30 min, na qual salientou, em seu eloquente discurso, que o 
prédio fora totalmente construído durante sua administração. Na sessão inaugural 
fora, proferidas eloquentes palavras recordando a criação de tão útil instituição. 
 
O Gabinete de Leitura Viçosense foi fundado no dia 13 de fevereiro de 
1916 durante uma reunião entre homens letrados da cidade, a maioria 
funcionários públicos como o próprio anfitrião do grupo, Camerino 
Telles. (LIMA, 2011, p. 56). 
 
 Era uma Sociedade Lítero-recreativa que tinha o fim de promover sessões 
nas grandes datas históricas, realizar festas cívicas, brilhantemente sempre 
decorado para os eventos, cheios das principais famílias e cavaleiros; organizar uma 
biblioteca, repleta de tomos dos maiores e melhores escritores nacionais e 
estrangeiros, onde estavam à disposição de todos os associados, como uma fonte 
de instrução para mocidade com a necessidade de instruir o povo para a formação 
de bons cidadãos. O plano de ação foi logo ampliado. Em apenas quatro meses, foi 
instalado um curso noturno, pioneiro no Ceará, para o desenvolvimento e instrução 
popular. 
 
O Gabinete de Leitura de Viçosa parece ter conseguido um grau de 
notoriedade e aceitação como não se verificou em nenhuma das 
demais cidades estudadas. (LIMA, 2011, p. 58). 
 
Quando se inaugurou o Gabinete Viçosense de Leitura, Monsenhor José 
Carneiro da Cunha além de ser o Presidente desta Associação benemérita era o 
Intendente Municipal (18/06/1919 a 14/07/1920). Era um período onde o Estado do 
Ceará e Viçosa do Ceará sofria com a gripe e a seca. 
 
Em 1918, foi eleito presidente do Gabinete o padre José Carneiro da 
Cunha, vigário da Freguesia de Nossa Senhora da Assunção de 
Viçosa. Tido como homem culto e inteligente, o padre Carneiro 
trabalhou para construir a sede definitiva do Gabinete, o que foi 
conseguido com a ajuda do Major Felizardo de Pinho Pessoa, o qual 
teria doado o terreno, atrás da Igreja Matriz. (LIMA, 2011, p. 58) 
 
O Padre Carneiro foi, sucessivamente, eleito, para dirigir a sociedade 
por vários períodos. Com o seu dinamismo, a sua tenacidade e 
devotamento à terra que a transformou em segundo berço. (PASSOS, 
p. 32) 
 
Cidadão de muito caráter, sacerdote de intocável conduta e pastor dos mais 
sensíveis, sempre o procurou – através de um misto de austeridade, polidez e 
afeição – difundir nos seus paroquianos um acendrado espírito de religiosidade; 
propagar entre os mesmos as acrisoladas virtudes da fé e da caridade e, sobretudo, 
despertar nos corações dos fiéis o respeito e o amor pelas coisas divinas. 
Francisco Caldas da Silveira, em comemoração ao segundo aniversário do 
Gabinete Viçosense de Leitura, em seu discurso transcrito para o jornal “Polyanthéa: 
 
A primeira iniciativa do Gabinete Viçosense de Leitura foi fundar o 
Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar, para os filhos dos 
operários e cujos professores eram os próprios sócios do Gabinete. 
No mês que me foi destinado, tive, como professor-auxiliar, Cândido 
do Espírito Santo Magalhães Filho (Candoca), que, como eu, não 
residia na cidade e sim no sítio Careta, vizinho ao sítio Olaria, onde 
eu residia. (SILVEIRA, 1999, p. 66). 
 
 Como um novo espaço de práticas de sociabilidade e lazer, naquela época, o 
Gabinete Viçosense de Leitura, de profundo caráter social e institucional, foi 
recebido pela sociedade viçosense marcado por traços de civilidade e elitismo, que 
se configurava em um importante atrativo á frequência do mesmo. 
 É interessante ainda notar que o Gabinete Viçosense de Leitura funcionou 
como uma norma de estabilidade, civilidade e moralidade, enquanto a cidade era 
desenhada com ares de crescimento e saber. 
 
(...) É no seio dessa associação benemérita onde o filho do pobre, 
do proprietário, do deserdado, da fortuna vae beber a luz 
purificadora da instrução; aprender a amar a pátria, seus servidores 
e seus heroes e ter a compreensão nítida de seus deveres para com 
a família, a sociedade e a mesma pátria.(POLYANTHÉA, 1918, p. 
3). 
 
 E acrescenta: 
 
Ditosa a terra que como Viçosa, póde festejar, entre as bênçãos 
ardentes e fervorosas de seus habitantes, a victoria do bem sobre o 
mal; o ressurgimento da luz radiosa da instrução, onde só existiam, 
até então, as trevas hediondas do analfabetismo; o despertar cívico 
de um povo adormecido pelo frio glacial do indiferentismo.” 
(POLYANTHÉA, 1918, p. 3). 
 
Joaquim Alerano Bandeira Barros, vice-presidente do Gabinete Viçosense de 
Leitura, e Juiz Municipal de Viçosa do Ceará, figura de relevo na magistratura 
cearense, e que se distinguiu pela sua cultura e sua conduta, escreve para o 
“Poyanthéa”, na Edição Especial comemorativa ao segundo aniversário do Gabinete 
Viçosense de Leitura: 
 
Muito antes do movimento contra o analfabetismo que se iniciou no 
Sul do Brasil, já o Gabinete Viçosense começava sem ruídos e sem 
reclamos com a maior modéstia, um curso noturno onde os 
pequenos desvalidos, operários, ocupados duranteo dia, podessem 
receber a instrucção das primeiras letras; pois só a fundação de 
escolas pode ser o meio pratico de combater a ignorância. Sem 
auxílio dos poderes públicos unicamente sustentando pela 
benemerência dos seus consocios, poude o Gabinete Viçosense 
manter o Curso, colhendo resultados apreciáveis.(POLYANTHÉA, 
1918, p. 1). 
 
Ao Gabinete de Leitura seguiram-se os primeiros jornais, mas foram poucos 
durante a segunda metade do século XIX. O Gabinete de Leitura em Viçosa parece 
ter conseguido um grau de notoriedade e aceitação como não se verificou em 
nenhuma das demais cidades citadas. 
 
A cidade de Viçosa do Ceará tornou-se um dos principais pontos de 
convergência na circulação de jornais publicados em outras regiões, 
pólo consumidor da informação impressa, onde também se identificava 
a publicação de jornais a emergência de um gabinete de leitura. 
(LIMA, 2008, p. 47). 
 
O Gabinete Viçosense de Leitura em todos os seus momentos foram 
dominados pelo entusiasmo que desde o primeiro dia os acompanhou que 
concorreu para a glória de seu torrão. 
 
O gabinete muito contribuiu para o progresso de Viçosa o do Ceará. 
Tinha a inestimável vantagem de ser um campo neutro onde se 
reuniam pessoas de valor, integrante das diversas correntes 
políticas que dividiam o estado e que uniam esforços em benefícios 
da comunidade. Contribuía assim, para acalmar paixões e 
desvanecer rancores, tão comuns nas agitadas lutas políticas do 
hinterland brasileiro. (BARROS, 1980, p. 247). 
 
Os fundadores e colaboradores do Gabinete Viçosense de Leitura exaltavam 
sua existência como “Obra de valor e mérito”. Entre os vários discursos 
consecutivos comemorativos de aniversário deste gabinete, vê-se a insistência na 
defesa da importância da Instituição que mantinha aberta ao público sua biblioteca, 
assim como assegurava para “os pobres” aulas noturnas, curso com matrícula 
gratuita, além de suas reuniões em promoção: “propaganda da cultura-cívica.” 
 
 
Figura 4: Folha de rosto do recibo original pertencente do Gabinete Viçosense de 
Leitura. Acervo: Gilton Barreto de Castro 
Durante anos a fio, o Gabinete contribuiu para a instrução dos 
viçosenses e serviu de palco para solenidades cívicas, quase 
sempre seguidas de festas dançantes memoráveis, lembradas até 
hoje pelos viçosenses com mais anos de vida. (MAPURUNGA, 
2017, p. 128). 
 
A cultura há esse tempo entendida como apanhado de conhecimento de 
habilidades erudito era encarado como dote, prenda e, por conseguinte, despertava 
muito interesse junto às elites locais, uma vez que se podia utilizar como instrumento 
de distinção. 
Nessa época procurava-se um discurso democrático, procurando se articular 
com nossa herança de desigualdade, 
 
1.2. Instrução e Civismo. 
 
Como duas ações, duas potências, dois elementos ou dois motores entre si, a 
Instrução e o Civismo, se relacionam um com o outro. 
A fim de propagarem a Instrução e o Civismo pelo povo viçosense, nasceu o 
Gabinete Viçosense de Leitura, em meio à falta de instrução no sertão e escassez 
de escolas. 
E foi na instrução das primeiras letras onde se nota o movimento da 
alfabetização e onde os exemplos de civismos foram edificantes, com ideias de 
progresso e instrução. 
Aurélio traz o significado de Instrução, no Dicionário Aurélio Português Online: 
 
1. Ato ou efeito de instruir; 2. Conjunto de conhecimentos 
adquiridos na escola; 3. Conhecimentos de uma pessoa; 4. 
Conjunto das informações e indagações com que se instaura 
uma causa; fase do processo em que se reúnem os meios de 
prova e a maneira de os utilizar; 5. Ordens, mandado; 6. 
Esclarecimentos relativos ao modo de usar alguma coisa; 7. 
Atou ou efeito de instruir; 8. Conjunto de Conhecimentos 
adquiridos na escola; 9. Conhecimentos de uma pessoa; 10. 
Conjunto de informações e indagações com que se instaura uma 
causa; fase do processo em que reúnem os meios de prova e a 
maneira de os utilizar. (AURÉLIO, 2017). 
 
O peso do texto, os sentidos das figuras de linguagem, a iluminação da 
escrita, certamente apontam para a arregimentação de alguns valores fundamentais 
em torno do civismo. 
Afirmava Pe. Carneiro, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: 
 
De resto represo n’alma o mais vivo interêsse, que uno a ardente 
votos pelo progresso, desenvolvimento e conservação do “Gabinete 
Viçosense de Leitura”, que vem precisamente correspondendo a 
uma necessidade imperiosa Synthetisada na divisa de seu 
estandante – Instrucção e Civismo. (POLYANTHÉA, 1918, p. 2). 
 
Já Edmundo Bezerril Fontenelle, em discurso publicado no jornal 
“Polyanthéa”: 
 
Como é comovedor o ver-se, no curso, às horas das lições, os 
bancos cheios de criancinhas pobres, atenciosas e ávidas do saber, 
recurvadas sobre os livros, como que suplicando àquellas letras 
grandes do ABC que lhes deem aquillo de que tanto precisam – a 
instrucção!” (POLYANTHÉA, 1918:, p. 3). 
 
A instrução aperfeiçoa o espírito e o eleva às alturas das coisas mais 
sublimes, dá brilho a inteligência, modifica as más naturezas, exalta o pensamento, 
ensina-lhe o hábito do sofrimento, prepara o espírito para as grandes emoções; em 
suma, ela é a principal locomotiva do aperfeiçoamento da inteligência e do bem 
estar da sociedade. 
 
[...] a nossa bandeira, em cujo centro se acha inscrita a legenda de 
“Instrução e Civismo”, jamais vacilou, jamais teve um momento de 
recuo, pelo contrário avançou sempre altiva e serena, galharda e 
imponente, conduzida por esse pelotão de bravos e destemidos 
soldados, que aí vedes sempre devotado à causa do saber, e, de 
vitória em vitória, de triunfo em triunfo conseguiu tremular na 
Bastilha do Analfabetismo e arrancar das galés da ignorância, do 
cárcere negro da estupidez, essa mocidade que as vedes alegre, 
risonha e prazenteira. (SILVEIRA: 1999, p. 76-77). 
 
 Durante a inauguração do Gabinete Viçosense de Leitura se viu distintos 
familiares e cavaleiros da elite local na patriótica festa de instrução e civismo, 
fazendo-os compreender com grandeza e simplicidade toda a grande missão que a 
cada um compete no sentido de trabalhar pela Pátria e para a Pátria acima de tudo, 
aliada aos mais nobres sentimentos de gratidão e amizade e cujo esplendor refletia 
evidentemente na direção do Monsenhor José Carneiro da Cunha. 
Afirmava Joaquim Alerando, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: 
 
Tornando uma escola de civismo o Gabinete Viçosense comemora 
as datas celebres de nossa historia por meio de sessões 
extraordinárias, e por sua iniciativa, a estatua de Felipe Camarão, 
bravo índio filho de Viçosa, segundo uma debatida tradição, foi 
erecta na praça da matriz desta cidade, no 1º aniversário da 
fundação do Gabinête. (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). 
 
 E com mais ardente admiração pelo vosso passado, exalto nessas linhas o 
vosso valor e a vossa energia em prol das nossas tradições do nosso povo bom e 
civilizado, pelos trabalhos de seus associados com honestidade, caráter, instrução e 
civismo. 
Afirmava Lívio Pacheco, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: 
 
E todos na comunhão de um só pensamento como se por encanto 
fundissem todas as forças uma só vontade, incansáveis têm 
sabiamente cumprido com os seus deveres. Incitando, ensinando 
com bons exemplos a pratica do civismo e da moral mais pura, o 
que tem trazido para a “bela filha do mar de pedra” o 
engrandecimento da instrucção, a paz do lar do bem estar da 
família. Que bello e edificante exemplo digno de ser imitado! 
(POLYANTHÉA, 1918, p. 4). 
 
A instrução era tema recorrente entre os membros do Gabinete, 
associadaconstantemente ao civismo como faceta fundamental que 
definia a ação dos “devotados ao culto das letras e sobretudo da 
Pátria.” As grandes letras do ABC ganhavam força e sentido na 
organização da cidade, dos seus valores, comportamentos, de suas 
ideias. (BARBOSA & LIMA, 2008, p. 48.) 
 
 Aurélio traz o significado de Civismo, no Dicionário Aurélio Português Online: 
 
1. Zelo em contribuir para o progresso da pátria. (AURÉLIO, 
2017). 
 
O civismo é o mesmo que civilismo e vem do latim civis, que quer dizer cidadão. 
Consiste no respeito aos valores as práticas assumidas, as instituições sociais, 
refletindo o direcionamento de estrutura, com atitude ativa, consciente e construtiva, 
demonstrando dedicação, fidelidade ou admiração à Pátria. 
 
1.3. Jornal Polyanthéa e o segundo aniversário do Gabinete Viçosense de 
Leitura. 
 
O jornal Polyanthéa trouxe em suas páginas, discursos proferidos pelos 
seguintes sócios: Gil Filgueiras, Joaquim Alerano, Padre Carneiro, Manuel Paiva, 
João Magalhães, Edmundo B. Fontenele, F. Menescal Carneiro, Francisco Caldas, 
Justo Pinho Pessoa, Mário Passos, Carvalho Filho, Adalberto Brígido Maia, Gil 
Filgueiras e Lívio Pacheco. 
 
 
Figura 5: Folha de rosto de um exemplar do Jornal Polyanthéa de 1918 pertencente ao 
Gabinete Viçosense de Leitura. Acervo pertencente ao autor. 
 
Abaixo do nome “Polyanthéa” trazia a seguinte expressão: “SALVE 13 DE 
FEVEREIRO DE 1918!”, e mais abaixo um pensamento de Guerra Junqueira: 
 
Há mais luz nas vinte e cinco letras do abecedário do que em todas 
as constelações do firmamento. (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). 
 
Em entrevista concedida a nós, a senhora Tereza Cristina Mapurunga de 
Miranda Magalhães, pedagoga e Curadora do Memorial Pe. Antônio Vieira sj., assim 
nos relatou sobre o segundo aniversário do Gabinete Viçosense de Leitura: 
 
Pelos jornais da época se verifica que foi, verdadeiramente, 
imponente a celebração de seu segundo aniversário. As duas 
bandas de música percorreram as ruas da cidade. A festa deve de 
ser antecipada para 12 de fevereiro, porque 13 ia cair em uma 
quarta-feira de cinzas. Distribuiu-se uma “Polyanthéa”, editada na 
cidade de Camocim, Estado do Ceará. Às 19 horas houve uma 
Sessão Solene em sua Sede Social, sito à Praça General Tibúrcio. 
O Dr. Alerano de Barros apresenta minucioso relatório da gestão 
bienal 13/02/1916 a 13/02/1918. 
 
O Gabinete Viçosense de leitura manteve regular biblioteca, chagando a 
catalogar centenas de livros, mais lidos e mais procurados naquela época. Pelo 
Porto de Camocim, chegavam livros vindos do Rio de Janeiro/RJ ou da Europa para 
saciar a fome do saber dos viçosenses, um foco de luz que irradiou benéficas ações 
com a boa vontade das pessoas que o instituíram e que prestou relevantes serviços. 
 
Camocim constitui, pois o ponto inicial do percurso feito pelos livros 
após sua chegada àquele porto a bordo dos navios das companhias 
de navegação a vapor que o incluíam em seus trajetos. A interligação 
entre os trens e os paquetes a vapor acontecia em Camocim, Dali, 
uma diversidade de mercadorias importadas, inclusive livros, ganhava 
a bordo do trem ou, no caso de Viçosa, em lombos de burros e 
jumentos conduzidos por estafetas cujo oficio compreendia a 
realização semanal do percurso de ladeiras que ligava a cidade de 
Viçosa – sobre a Serra da Ibiapaba – à cidade de Granja. (LIMA, 2011, 
p. 27-28). 
 
Caro alunos: oxalá que este nobilitante exemplo de amor aos livros, 
demonstrado por aqueles de vossos colegas que estão incluídos neste 
quadro de honra, seja segundo e imitado por todos vós, para felicidade 
nossa, recompensa ao Gabinete Viçosense de Leitura e glória de 
nossa querida Viçosa. (SILVEIRA, 1999, p. 77). 
 
De todos os gabinetes de leitura fundados no Ceará, apenas Viçosa do 
Ceará, em comemoração ao aniversário de seu Gabinete, confeccionou um jornal. 
Na ocasião, muitos de seis associados, escreveram algo sobre o Gabinete 
Viçosense de Leitura, o Curso Noturno Valdivino Elias de Alencar e Felipe Camarão 
(estatueta que fora colocada na praça que o mesmo emprestara seu nome), a atual 
Praça Clóvis Beviláqua. 
 
Ali havia uma excelente Biblioteca, que por medida de segurança, 
está guardada na residência do Dr. Geminiano de Pinho Pessoa, em 
Viçosa...” (PASSOS, p. 32-33). 
 
A sociedade também mantinha um curso de alfabetização para 
crianças e adultos, movimento este que podemos classificar como 
precursor do “Movimento Brasileiro de Alfabetização” – MOBRAL – 
ainda realizavam festas cívicas, conferências, enfim, tudo que 
tivesse conexão com as letras e às artes. (PASSOS, p. 33). 
 
José Alerano, no Jornal Polyanthéa, Edição especial, assim comentou 
sobre a Biblioteca do Gabinete Viçosense de Leitura: 
 
Mas não foi somente o Curso Nocturno o único titulo com que o 
Gabinete Viçosense tem se imposto à estima pública ignaugurou e 
franqueou ao publico, uma biblioteca composta de algumas 
centenas de livros de importantes autores (POLYANTHÉA, 1918, p. 
2). 
Em 1925, padre José Carneiro permanecia na presidência e, de 
acordo com Luiz Barros, apresentou relatório anual onde consta que 
o gabinete contava com oitenta sócios e seiscentos volumes entre 
os quais figurava a “História Universal” de Cesare Cantu e várias 
obras de Clóvis Beviláqua (LIMA, 2010, p. 15). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. DA DIRETORIA: 
 
2.1. Diretoria Primitiva e Sócios Fundadores. 
 
O Gabinete de Leitura Viçosense era formado por homens letrados, 
servidores públicos e pessoas da alta sociedade. Foi instalado com a seguinte 
diretoria: 
 
Diretoria primitiva: Dr. Joaquim Alerano Bandeira Barros – 
(presidente); Camerino Telles de Souza – (vice-presidente); 
Adalberto Brígido Maia – (1º secretário); José Joaquim de Carvalho 
Filho, (2º secretário); Dr. Manuel Simplício Paiva, (orador aclamado, 
juiz municipal de Viçosa de 1915 a 1919, sendo removido para a 
cidade de Granja/CE); Dr. Djalma Ribeiro Soares – (vice-orador); 
João Phorphirio Magalhães – (tesoureiro); Deocleciano Fontenelle 
Pacheco – (bibliotecário). (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). 
 
 Quantos livros passaram nas mãos do bibliotecário, pois ele é aquele que 
trabalha na sombra para que o livro se faça sol. 
 
Sócios Fundadores: Era composto de 23 (vinte e três) sócios: Dr. 
Joaquim Alerano Bandeira Barros, Camerindo Telles de Souza, Pedro 
Telles de Souza, Adalberto Brígido Maia, José Joaquim de Carvalho 
Filho, Dr. Manoel Simplício Paiva, João Phorphírio Magalhães, 
Deocleciano Fontenelle Pacheco, Padre José Carneiro da Cunha, Dr. 
Djalma Ribeiro Soares, Cel. Constantino Correia, Antônio Francisco da 
Silva, Justo de Pinho Pessoa, Edmundo Bezerril Fontenelle, João 
Freire de Bezerril, Raymundo José Fontenelle, Francisco Caldas da 
Silveira, Joaquim Ferreira de Carvalho Filho, Francisco Felipe 
Fontenelle, Francisco Pereira Lopes, Tristão Vieira, João Benício 
Fontenelle e José Alfredo da Silveira. (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). 
 
2.2. Segunda Diretoria: 
 
Em 1918, foi eleito presidente do Gabinete o padre José Carneiro da 
Cunha para dirigir a sociedade por vários períodos, vigário da 
Freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Viçosa. Tido como 
homem culto e inteligente, o padre Carneiro trabalhou para construir a 
sede definitiva do Gabinete e que o Palácio recebe o seu nome: 
“Palácio Monsenhor Carneiro”. O restante da diretoria foi formada por: 
Dr. José Alerano Bandeira de Barros (vice-presidente), Francisco 
Caldas da Silveira (1º secretário), João Porphirio Magalhães (2º 
secretário), Dr. Manuel SimplícioPaiva (orador oficial), Coronel 
Constantino Correia (2º orador oficial), Mario Passos (tesoureiro) e Gil 
do Amarante Filgueiras (bibliotecário). (POLYANTHÉA, 1918, p. 1). 
 
O padre Carneiro foi, sucessivamente, eleito, para dirigir a sociedade por 
vários períodos. 
Afirmava Adalberto Brígido Maia, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: 
 
Todos os membros do Gabinete Viçosense, devem confiar sem reservas na 
altivez e na integridade do ilustre Sr. Padre José Carneiro, na sua força e na 
sua victalidade. Devem confiar, acima de tudo, nesse maravilhoso espírito de 
iniciativa e de ordem, de enthusiasmo e de perceverança, de trabalho e de 
patriotismo, que vai guiar os destinos desta pujante sociedade. 
(POLYANTHÉA, 1918, p. 4). 
 
Já João Magalhães, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: 
 
A nova Directoria, a quem vão ser confiados os destinos de nossa 
agremiação, é a prova segura e evidente da manutenção do Gabinete. Della 
fazem parte verdadeiros apóstolos do bem, cujos nobilitantes esforços tantas 
vezes postos em pratica, nos deverão servir de edificantes exemplos em tudo 
o que concerne ao progresso de nossa pátria. (POLYANTHÉA, 1918, p. 2). 
 
 A Sessão Extraordinária Solene do Gabinete Viçosense de Leitura aconteceu 
ás 19 horas, na Praça General Tibúrcio, onde situava a sede do “Gabinete”. 
Estiveram presente quase todos os sócios efetivos e cooperadores, grande número 
de famílias. A Sessão foi aberta pelo Presidente, em seguida a filarmônica Euterpe 
Franco Rabelo executou o Hino Nacional. Em seguida o Sr. Presidente fez uso da 
palavra declarando que a presente Sessão tinha por fim solenizar com máximo 
esplendor a passagem auspiciosa do segundo aniversário desta filantrópica 
instituição e a posse da nova diretoria que deve reger a Sociedade no seu terceiro 
ano, e a leitura do Relatório que, conforme preceituam os Estatutos, cabia-lhe 
apresentar o término de seu mandato. Depois da leitura do substancioso documento 
social, o Sr. Presidente produziu uma belíssima saudação aos seus consócios em 
geral e particular, à nova Diretoria, concitando-os a que unidos e fortes trabalhem 
como até agora, pelo progresso do “Gabinete”. Convidou em seguida ao novo 
presidente eleito para prestar o compromisso estatual e tomar posse. Este, depois 
de empossado solenemente no alto posto de diretor supremo de nossos destinos 
sociais, convidou aos demais membros que compõem a ova Diretoria para 
ocuparem as respectivas cadeiras. Terminadas estas formalidades, o novo 
presidente proferiu eloquente discurso sobre o ato concitando o povo viçosense a 
trabalhar sempre e sempre pelo progresso e adiantamento desta Associação. Na 
ocasião se deu a inauguração do retrato do eminente consócio honorário e glorioso 
brasileiro, Dr. Clóvis Beviláqua, e a aposição do retrato do Major Valdivino Elias de 
Alencar, um grande amigo de Viçosa e patrono do Curso Noturno. Dando 
prosseguimento a uma das partes mais importantes da festa, estendeu-se em 
erudita dissertação sobre a personalidade dos dois homenageados. Deu, em 
seguida, a palavra aos oradores inscritos: Coronel Constantino Correia, (vice-orador) 
que produziu brilhante e patriótica alocução alusiva ao magno acontecimento; 
Adalberto Brígido Maia, que felicitou o “Gabinete” em nome de seu homônimo de 
Camocim, que representava; Francisco Caldas da Silveira; e Mário passos que 
pronunciou eloquente saudação aos camocinenses, representados nesta festa pelos 
senhores Antônio Zeferino Veras, José Carlos Veras, Antônio Fernando Barros e 
Adalberto Brígido Maia. Encerrou a sessão ao som do Hino Nacional desta vez 
executado pela banda “União Viçosense”. A ata foi lavrada por Francisco Caldas da 
Silveira e assinada por demais membros. 
 
A posse da nova Diretoria verificou-se durante a sessão solene em 
comemoração ao 1º aniversário de fundação do gabinete, em 13 de fevereiro 
de 1917, constando, ainda, da programação comemorativa dessa grandiosa 
data a inauguração, na então Praça da Matriz, da estátua de Dom Antônio 
Felipe Camarão. Essa estátua media 68 cm de altura, ligada a um pedestal de 
bronze de 1,16 m, trabalho da Fundição Cearense, tendo figurado na 
Exposição de Chicago, em 1893. (SILVEIRA: 1999, p. 79). 
 
Hoje, atualmente a estatueta se encontra no Paço Municipal, em um de seus 
salões principais, localizado no Solar da Marcela, espaço cultural e que hoje 
infelizmente funciona a Prefeitura Municipal de Viçosa do Ceará. 
 Pela relação política e pelo acirramento verificado no cenário político da 
cidade, em pouquíssimas ocasiões as duas bandas de música – Marreta e 
Democrata – tocaram juntas. 
 
 Afirmava Manuel Paiva, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: 
 
É assim o Gabinete de Leitura uma perfeita realidade, que se vae 
cada vez mais afirmando entre nós, como um centro de conveniência 
e sociabilidade donde desapareceram as rixas e dissenções 
partidárias para se estabelecer o império da união e da concordia, - a 
confraternização, emfim, da família viçosense. (POLYANTHÉA, 1918, 
p. 2). 
 
Ora, se existiam dois clubes sociais também devi haver DUAS 
BANDAS DE MÚSICA, como efetivamente existiam no caso a 
“Euterpe Viçosense” dos Marretas e “Euterpe Franco Rabelo” dos 
Democratas... Como tantas divisões, é de admirar que houvesse 
apenas uma Igreja, esta católica, onde se encontravam todos, para 
seus atos religiosos apesar de o Vigário (Pe. Carneiro) ser 
sabidamente UM DOS CHEFES DEMOCRATAS!!! (...) Que, tocava, 
era sempre a Banda Democrata, do Partido do Vigário. A “Música 
Marreta”, nunca. (FONTENELE, 2010, p. 226). 
 
 A banda “Democrata” ou “Euterpe Franco Rabelo”, fundada em 1912, era 
ligada politicamente ao partido do Major Felizardo de Pinho. Já a banda “Marreta”, 
ou “Euterpe Viçosense”, era ligada politicamente ao grupo de Deocleciano Fontenele 
Pacheco, o “seu Dedé” da Farmácia. 
 
Recordo com nítida impressão das duas bandas de música, uma 
pertencente aos “Marretas” sob a responsabilidade de João Benício 
Fontenele, e outra dirigida pelos “Democratas”, administrada pelo 
Horácio Fontenele Magalhães. (ARAGÃO, 1992, p. 71). 
 
 No final do ano de 1919, importantes alterações se verificaram no quadro 
social do Gabinete Viçosense de Leitura, como, por exemplo, a admissão, na 
Sessão do dia 02 de novembro do major Felizardo de Pinho Pessoa para a categoria 
de Sócio Cooperador, por proposta do consócio José Joaquim de Carvalho Filho 
(Carvalhinho), bem assim, os pedidos formulados pelo Dr. Manuel Simplício Paiva: 
de renúncia do cargo de Orador e de transferência para a categoria Sócio 
Correspondente, por motivo de sua remoção para o vizinho município de Granja. 
Igualmente importantes foram os afastamentos – por motivos políticos – e 
posteriores desligamentos, a pedido, do quadro social do Gabinete Viçosense de 
leitura, dos sócios fundadores Deocleciano Fontenelle Pacheco, Constantino 
Correia, João Phorphírio Magalhães e João Benício Fontenelle. 
 
A convivência entre atividades de caráter puramente intelectuais e literárias 
com outras voltadas para a diversão se mostra problemática e contribui de 
maneira indireta, para o declínio dos gabinetes influenciando a construção da 
memória destas instituições. (LIMA, 2011, p. 49). 
 
Semelhante aos seus congêneres da região norte cuja trajetória 
investigamos, o Gabinete de Leitura Viçosense entrou em declínio em algum 
momento da primeira metade do século XX. As fontes consultadas não 
permitem apurar a data de seu fechamento, muito menos as circunstâncias 
de tal evento. Sabe-se, porém, que os gabinetes de leitura estudados neste 
trabalho experimentaram lento processo de estagnação.O encerramento de 
suas trajetórias constitui fato pouco lembrado pela memória local. (LIMA, 
2011, p. 59). 
 
2.3. Diretoria do Gabinete Viçosense de Leitura (13/02/1928 a 13/02/1929). 
 
Em sessão solemne, efetuada a 13 do corrente, pela passagem do 12º 
aniversário do “Gabinete Viçosense de Leitura” de Viçosa, Estado do Ceará, 
tomou posse a seguinte directoria que deverá reger os destinos daquela 
sociedade, no anno social de 1928 a 1929. Presidente: dr. Joaquim Alerando 
Bandeira de Barros; Vice-Presidente: Felizardo de Pinho Pessoa (reeleito); 1º 
Secretário: Levino Pinheiro; 2º Secretário: Lauro Rodrigues; Thesoureiro: 
Ângelo de Siqueira Passos Filho (reeleito); bibliotecário: Salústio Pinho 
Pessoa (reeleito); Orador-oficial: dr. Joaquim Olympio da Silveira Carvalho; 
Vice-orador: Justo de Pinho Pessoa. (DIARIO NACIONAL, 1928, p. 5). 
 
2.4. Diretoria do Gabinete Viçosense de Leitura (13/02/1929 a 13/02/1930). 
 
Em 1929, em memorável sessão realizada no dia 13 de janeiro, Francisco 
Caldas da Silveira foi, para o período de 13 de fevereiro de 1929 a 13 de 
fevereiro de 1930, eleito Presidente do Gabinete Viçosense de Leitura, cuja 
nova Diretoria era constituída ainda dos seguintes cidadãos: Major Felizardo 
de Pinho Pessoa (vice-presidente); José Joaquim de Carvalho Filho (1º 
secretário); Raimundo Pacheco (2º secretário); Dr. Joaquim Alerano Bandeira 
Barros (orador); Dr. Joaquim Olímpio da Silveira Carvalho (vice-orador); 
Francisco das Chagas Pindaira Pacheco (tesoureiro); Angelo de Siqueira 
Passos Filho (bibliotecário). (SILVEIRA, 1999, p. 123). 
 
Na Sessão de 31 de março de 1929 durante a qual teve lugar a posse da 
nova Diretoria do gabinete Viçosense de Leitura, ficou registrado, em Ata, o 
que se segue: - Usou da palavra o consórcio Padre José Carneiro, quem em 
frases buriladas e repassadas de grande entusiasmo, produziu belíssima 
alocução, congratulando-se com o gabinete e com todos os consócios 
presentes, pela posse do novo Presidente, dizendo que Caldas da Silveira, 
com a capacidade de trabalho que lhe é peculiar, com a sua força de vontade 
titânica, vinha por certo soerguer o Gabinete da apatia em que se encontra, 
nestes últimos anos, dando uma fase de verdadeira prosperidade para o 13º 
ano que se inicia. (SILVEIRA, 1999, p. 123). 
 
2.5. Das Sedes do Gabinete. 
 
Primeiramente a Fundação teve lugar na residência de Camerino Teles de 
Sousa, sergipano leal e dedicado, sempre pronto a patrocinar as coisas nobres, se 
não foi quem primeiro cogitou a fundação do Gabinete Viçosense de Leitura. Muito 
concorreu para desperta entre os viçosenses o sentimento de amor aos livros e 
consequentemente para o levantamento intelectual de nossa terra amada. 
Era Gerente da Casa Comercial denominada Pernambucana – sito á Rua 
Lamartine Nogueira, casa, então, de propriedade de Lúcio da Silveira Freire. Com a 
extinção da Casa Comercial, retirou-se desta cidade Camerino Teles de Sousa, 
grande e esforçado amigo do Gabinete Viçosense de Leitura. 
 
 
Figura 6: Residência pertencente aos herdeiros de José Maria Mapurunga. 
Acervo fotográfico do autor. 
 
A entidade passou a funcionar à Praça da Matriz, hoje Praça Clóvis 
Beviláqua, em uma dependência da casa de propriedade de João Porphírio 
Magalhães, hoje pertencente aos familiares do Sr. José Maria Mapurunga. 
Novamente transferida para uma dependência da casa sito á Praça General 
Tibúrcio, hoje de propriedade de dona Raimunda Fontenelle Castro. 
 
 
Figura 7: Residência pertencente aos herdeiros de Raimunda Fontenelle Castro. 
Acervo fotográfico do autor. 
 
Em seguida, transferida para uma dependência da casa, de Felizardo 
Pacheco Fontenelle, hoje onde se encontra “O Pão da Vida” e depois foi transferida 
para o Theatro Pedro II, sito à Rua Lamartine Nogueira. 
 
Figura 8 - Antiga residência de Felizardo Pacheco Fontenelle, hoje “O Pão da Vida”, antes de 
sua reforma. Acervo fotográfico do autor Figura 9 - Antiga residência de Felizardo Pacheco 
Fontenelle, hoje “O Pão da Vida”, após reformado. Acervo fotográfico do autor. 
 
Do Theatro Pedro II foi transferido para a sede própria, graças ao dinamismo, 
abnegação do Monsenhor José Carneiro da Cunha e de um grupo de amigos 
dedicados entre os quais é de justiça mencionar José Joaquim de Carvalho 
(Carvalhinho), Justo de Pinho Pessoa e Alfredo Fontenelle. 
O atual prédio da Câmara Municipal de Viçosa do Ceará foi construído em 
1918, com o objetivo de sediar o Gabinete Viçosense de Leitura, agremiação criada 
em 1916. Dispunha de uma biblioteca, de um mobiliário refinado e até de jornal de 
cunho literário. 
 
 
Figura 10: Theatro Pedro II, o terceiro mais antigo do Estado do Ceará. 
Acervo fotográfico do autor. 
 
Afirmava Justo de Pinho, em discurso publicado no jornal Polyanthéa: 
 
Em o transcurso do segundo anno da fundação do Gabinete 
Viçosense de leitura, não podemos deixar olvidado o nome de um 
moço, que, tendo tomado a hombros a idéia de fundar aqui em Viçosa 
um núcleo literário, muito concorreu para despertar entre nós o 
sentimento de amor aos livros e consequentemente para o 
alevantamento intelectual desta gleba amada. (POLYANTHÉA, 1918, 
p. 3). 
 
Com o seu dinamismo, a sua tenacidade e devotamento à terra que a 
transformou em segundo berço, o novel Presidente quis dar ao 
Gabinete uma sede própria. Não hesitou. Começou a erguer o prédio, 
atrás de sua Matriz. Era um homem extraordinário, com sobeja 
capacidade de trabalho, persistente ao máximo, pois enquanto não via 
o seu ideal concretizado, não parava. (PASSOS, p. 32). 
 
Na Sessão do dia 22 de dezembro de 1918 do Gabinete Viçosense de Leitura 
o Presidente Padre José Carneiro da Cunha propôs a construção da sede 
própria do Gabinete, idéia unanimamente apoiada pelos consócios, ficando, 
desde logo, decididos que o capital exigido seria levantado por meio de ações 
no valor de 50$000 (cinquenta mil réis), cada. (SILVEIRA, 1999, p. 95). 
 
Em 13 de fevereiro de 1919, no Gabinete Viçosense de Leitura, ao encerrar a 
sessão solene em comemoração ao 3º aniversário de fundação da 
agremiação, o seu Presidente, Pe. José Carneiro da Cunha, convidou todos 
os presentes para a cerimônia de assentamento da pedra fundamental da 
futura sede social, em terreno localizado atrás da Igreja Matriz, sendo a 
referida pedra levada desde o Theatro Pedro II, então sede provisória, pelas 
senhoritas da sociedade, indo á frente do cortejo a Bandeira Nacional, 
conduzida por um dos sócios. (SILVEIRA: 1999, p. 96). 
Na sessão de 15 de agosto de 1919, do Gabinete Viçosense de Leitura foi 
designado para compor a Comissão encarregada da construção da desse 
própria do Gabinete, Francisco Caldas da Silveira, juntamente com os 
consócios Tristão Vieira e Francisco das Chagas Pindayra Pacheco, da qual 
faziam parte desde a sua constituição os consócios Padre José Carneiro da 
Cunha, seu presidente e Antônio Honório Passos. (SILVEIRA, 1999, p. 98). 
 
 
Figura 11: Prédio do antigo Gabinete Viçosense de Leitura e atual Câmara Municipal de 
Viçosa do Ceará, através de “Termo de Comodato.” Acervo fotográfico do autor. 
 
 Nesta ocasião foi designado para compor a Comissão encarregada da 
construção na sede própria do Gabinete, juntamente com os consórcios Tristão 
Vieira e Francisco das Chagas Pindayra Pacheco, da qual faziam parte desde a sua 
constituição os consócios Padre José Carneiro da Cunha, seu presidente e Antônio 
Honório Passos. 
 E no dia 13 de maio de 1920, quatro anos após o sonho de Camerino Teles 
de Souza, o presidente Padre José Carneiro da Cunha, numa magna sessão cívica, 
com a Bandeira nacional, tremulando noalto do novo edifício, inaugurava a sede 
própria do Gabinete Viçosense de Leitura. 
 
O edifício-sede do Gabinete Viçosense de Leitura foi solenemente 
inaugurado em 13 de maio de 1920, pelo seu Presidente Revm.º, 
padre José Carneiro da Cunha, durante a Magna Sessão iniciada às 
18h30min, na qual salientou, em seu eloquente discurso que o prédio 
fora totalmente construído durante sua administração. Nessa ocasião, 
além do discurso do orador-Oficial Joaquim Alerano Bandeira Barros 
que, ao iniciar a sua oração, ao “Gabinete”, a oferta de um quadro 
contendo o retrato do Padre José Carneiro da Cunha, resultado de 
uma coleta realizada sobre inspiração do consórcio Dr. Júlio de 
Siqueira Carvalho, usaram da palavra enaltecendo o grandioso evento, 
os consórcios Dr. Atualpa Barbosa Lima, Médico, Dr. Antônio de 
Albuquerque, Juiz Municipal, Gil do Amarante Filgueiras, Telegrafista e 
Lívio Pacheco, Poeta. A banda de Música “Euterpe Franco Rabelo”, 
sob a regência do maestro Raimundo Juvêncio, da qual meu pai era 
um dos incentivadores, foi a responsável pela parte musical, durante 
Sessão Solene e, finda esta, durante o suntuoso Baile que nos amplos 
salões da nova sede se realizou encerrando os memoráveis festejos 
comemorativos da solene inauguração do prédio próprio do Gabinete 
Viçosense de Leitura.”(SILVEIRA, 2005, p. 46) 
 
 Um edifício na qual veio acomodar toda a Associação, com salas para 
sessões e conferências, sala de direção, de secretaria, da biblioteca Clóvis 
Beviláqua, do curso noturno, visando satisfazer uma necessidade de seus 
associados, onde poderiam se reunir. 
 
O curso noturno, porém, foi criado antes da própria biblioteca, refletindo a 
importância e a urgência a ele atribuída, denuncia que sua criação era a 
prioridade do Gabinete. (LIMA, 2011, p. 83) 
 
Não foi à traça e nem a poeira que devorou o Gabinete Viçosense de Leitura 
e sim o indiferentismo de alguns que não se interessam pelo progresso intelectual e 
cultural de nossa terra. Quis o destino, que o Gabinete Viçosense de Leitura 
desaparecesse com seus associados cheios de vida e trabalho. Desfrutando este 
campo antagônico, impróprio, deixando o gabinete de ser literário para tornar-se 
dançante; foi o bastante para em breve desaparecer, abandonado de vez sua 
biblioteca, já reputada como uma das melhores da serra de Ibiapaba. Morreu o 
Gabinete Viçosense de Leitura e o meio intelectual muito perdeu com o seu 
desaparecimento. 
Eram nos bailes que a sociedade civilizada, moderna e burguesa de Viçosa 
tentava, a todo instante, mostrar e propagandear seus ares de elegância e civilidade. 
Desde a sua construção, até os anos da década de 1980, foi palco de festas 
dançantes e de festejos carnavalescos. Seu prédio foi restaurado e ocupado pela 
Câmara Municipal em 11 de outubro de 1986, sob a responsabilidade da Mesa 
Diretora. 
 
Com o decorrer dos tempos, em outras administrações, a finalidade cultural 
do gabinete foi fenecendo, até que nos dias atuais apesar de conservar sua 
primitiva denominação, transformou-se em mero clube dançante-recreativo. 
(PASSOS, p. 33). 
 
Sobre o Gabinete Viçosense de Leitura, Dr. Manuel Simplício Paiva, no dia 6 
de agosto de 1920, da cidade de Granja, escreve uma carta dirigida a Francisco 
Caldas da Silveira e se expressa da seguinte maneira: 
 
Por aqui me tenho dado regularmente, sem esquecer, porém os bons tempos 
vividos ai, na amena e estimulante convivência do nosso “Gabinete” que 
pretendo visitar em sua nova instalação até o dia 13 de fevereiro de 21. 
(SILVEIRA: 2005, p. 47). 
 
 Já residindo em sua terra natal, Caiçara/PB e deixando o Ceará, escreve 
novamente a Francisco Caldas da Silveira, em 1 de julho de 1921: 
 
Aí em Viçosa foi onde melhores amigos fiz, mercê do “Gabinete” de que 
conservarei gratas e imorredouras impressões. (SILVEIRA, 2005, p. 48). 
 
 Francisco Caldas da Silveira, hoje com o título de Patriarca de Viçosa do 
Ceará, envia para o “Bahú-Velho, de Caio Passos: 
 
Quando o “GABINETE” foi fundado em 1916, eu era menino da carta 
de ABC. Naquele recuado 1916 que nascia das cinzas da seca do 
“quinze”, o “GABINETE” era para mim, apenas um divertimento, uma 
simples curiosidade de menino que só pensa em brincadeira, fazer 
diabruras pelas ruas. Gostava imensamente de acompanhar a Banda 
Rabelista, com o seu carneirinho branco, pintado de verde-amarelo 
que servia de “mascote” da música do “Mestre Duca” e apanhar as 
flechas dos foguetes quando havia festa cívica em sua sede ali na 
esquina da antiga casa do alegre e divertido casal – José Augusto e 
Sá Munda. O “GABINETE” manteve por dilatados anos, A Biblioteca 
“Clóvis Beviláqua”, e o Curso Noturno de Alfabetização “Valdivino de 
Alencar (SILVEIRA, 2005, p.310) 
 
 Já o escritor José Mapurunga, roteirista de televisão e tem peças teatrais 
encenadas no Brasil e em alguns países de Língua Portuguesa, escreve: 
 
Essas festas também aconteciam em datas significativas, como passagem de 
ano, dias de reis, carnaval. Estendiam-se também aos bailes elegantes que 
abrilhantavam os concursos de beleza, como de Rainha do café. Com a 
passagem do tempo, foi perdendo a função de instruir, servindo apenas para 
bailes. No turbilhão das querelas políticas, foi que, em 1930, surgiu o 
contraponto do Gabinete, o Catete, associação sob o patrocínio público dos 
marretas, com as mesmas atribuições do Gabinete. Numa época de 
radicalização política, como foram os anos de 1930, quem ia as festas do 
Gabinete, não comparecia às do Catete, sendo que recíproca era verdadeira. 
(MAPURUNGA, 2017, p. 128 e 129). 
 
A escritora Tereza Cristina Mapurunga de Miranda Magalhães, nos revela em 
sua entrevista a nós concedido: 
 
As festas do gabinete tiveram merecida e justa fama em toda a zona serrana. 
Eram muito bem organizadas e havia grande animação. O carnaval de 1930, 
por exemplo, marcou época com os blocos dos fidalgos, circassianas e 
japoneses. Deste último fizeram parte Geni Siqueira e Homero Silveira. O 
povo de Viçosa sempre teve fama de ser dançador e festeiro. Qualquer 
pretexto servia para se improvisar uma festa, máxime quando havia 
aniversário de pessoas mais gradas da cidade. Então, um grupo de rapazes e 
moças, com uma das Bandas de Música, faziam um “assalto”, invadiam uma 
casa esse improvisava um baile até altas horas da noite. Pode-se dizer que 
tal grêmio constituiu uma das grandes realizações de Viçosa de outrora. Fruto 
de um trabalho de equipe, de um grupo animado, conseguiu realizar muitas 
coisas em uma cidade do interior, servindo de promissor exemplo às outras 
comunidades cearenses. 
 
O Gabinete como assim é chamado até hoje, é parte importante da memória 
de diversas gerações de viçosenses, palco de flertes que deixaram recordações e 
de namoros que deram em casamentos duráveis. 
 
A memória do Gabinete de Leitura aparece como objeto de estratégias de 
manipulação por meio do silêncio imposto com o objetivo de produzir um 
esquecimento em torno desta instituição cujo espólio teria sido indevidamente 
apropriado por alguns de seus antigos sócios. O silêncio funciona, pois, como 
uma maneira de evitar a construção de uma memória que qualificasse o 
Gabinete como patrimônio social, convertendo-o em patrimônio particular. 
(LIMA, 2011, p. 197). 
 
 O edifício do Gabinete Viçosense de Leitura está de pé. Soberbo e 
imponente atestando a sua capacidade realizadora. 
 Era costume o Gabinete ser visitado por todos os que passavam por 
Viçosa.” 
 
Mais uma vez, a invocação ao passado do Gabinete tome como mote os 
bailes, ou seja, percebe-se ainda uma vez a proeminência, no âmbito da 
memória

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