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CAPÍTULO IV - CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

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CAPÍTULO IV
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
Introdução
A doutrina apresenta vários modos de classificar as Constituições, não havendo uniformidade do ponto de vista sobre o assunto. (1)
As Constituições conhecidas são, conforme o critério classificatório, de tipos diversos, adotados segundo circunstâncias históricas preponderantemente políticas e não jurídicas. (3)
Quanto ao Conteúdo: Materiais e Formais
A Constituição material é concebida em sentido amplo e em sentido estrito. No primeiro, identifica-se como a organização total do Estado, com regime político. No segundo, designa as normas constitucionais escritas ou costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regula a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos e os direitos fundamentais. Neste caso, Constituição só se refere à matéria essencialmente constitucional; as demais, mesmo que integrem uma Constituição escrita, não seriam constitucionais. (1)
A Constituição Formal é o peculiar modo de existir do Estado reduzido, sob a forma escrita, a um documento solenemente estabelecido pelo poder constituinte e somente modificável por processos e formalidades nela própria estabelecidos. (1)
Quanto à Forma: Escrita e Não Escritas
Considera-se escrita a Constituição, quando codificada e sistematizada num texto único, elaborado reflexivamente e de um jato por um órgão constituinte, encerrando todas as normas tidas como fundamentais sobre a estrutura do Estado, a organização dos poderes constituídos, seu modo de exercício e limites de atuação, os direitos fundamentais (políticos, individuais, coletivos, econômicos e sociais). (1)
Constituição escrita é o agrupamento de regras supremas do Estado, num documento único e articulado, inspirado em princípios informativos que refletem o modo de pensar e agir vigentes. (2)
A Constituição escrita pode ser, quanto ao conteúdo, analítica ou sintética:
Analítica: busca enfrentar todas as hipóteses do universo jurídico atingido, o que a leva a incluir matérias de típico caráter não constitucional. Foi a opção brasileira de 1988.
Sintética: abre espaço à exegese constitucional, como se constata com a Constituição americana, que sofreu alterações em seus duzentos anos de existência. (3)
Não escrita é a Constituição cujas normas não constam de um documento único e solene, mas se baseie principalmente nos costumes, na jurisprudência e em convenções e em textos constitucionais esparsos, com é a Constituição inglesa. (1)
Constituição costumeira, consuetudinária ou não-escrita, é o conjunto de tradições, usos, costumes e regras fundamentais que regem a vida jurídica de determinada sociedade. (2)
Quanto ao Modo de Elaboração: Dogmáticas e Históricas
O conceito de Constituição dogmática é o conexo com o de Constituição escrita, como o de Constituição histórica o é com Constituição não escrita. (1)
Constituição dogmática, sempre escrita, é a elaborada por um órgão constituinte, e sistematiza os dogmas ou idéias fundamentais da teoria política e do Direito dominantes no momento. Constituição histórica ou costumeira, não escrita, é, ao contrário, a resultante de uma lenta formação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos, que se cristalizam como normas fundamentais da organização de determinado Estado, e o exemplo ainda vivo é o da Constituição inglesa. (1)
Quanto à Origem: Populares e Outorgadas
São populares ou democráticas as Constituições que se originam de um órgão constituinte composto por representantes do povo, eleitos para o fim de as elaborar e estabelecer. Outorgadas são as elaboradas e estabelecidas sem a participação do povo, aquelas que o governante – Rei, Imperador, Presidente, Junta, Ditador – por si ou por interposta pessoa ou instituição, outorga, impõe, concede ao povo. (1)
As Constituições democráticas resultam da vontade popular, expressa por uma Assembléia Constituinte, eleita para a elaboração da Constituição, no exercício do poder constituinte. Outorgada é a Constituição em que não há colaboração do povo na sua elaboração: o governo a concede graciosa e unilateralmente. (4)
Quanto à Unidade Documental: Orgânicas e Inorgânicas
Constituições orgânicas contêm escrita, num texto único, toda a matéria constitucional sistematizada, e as inorgânicas apresentam suas normas dispersas em vários documentos (Israel e Nova Zelândia). (4)
Quanto à Estabilidade: Rígidas, Flexíveis e Semi-Flexíveis
Rígida é a Constituição somente alterável mediante processos, solenidades e exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os de formação das leis ordinárias ou complementares. Ao contrário, a Constituição é flexível quando pode ser livremente modificada pelo legislador segundo o mesmo processo de elaboração das leis ordinárias. Na verdade, a própria lei ordinária contrastante muda o texto constitucional. Semi-flexível é a Constituição que contém uma parte rígida e outra flexível. (1)
Constituição rígida é aquela que não pode ser alterada a não ser mediante processos diferentes dos processos válidos para a elaboração das leis ordinárias, ou seja, a que é dotada de certo grau de imutabilidade, em razão do procedimento especial, que deve ser rigidamente observado para sua modificação. No bojo da própria Constituição está indicado seu processo de revisão. (2)
Pelo critério da mutabilidade, facilitada ou dificultada, as Constituições são rígidas e não-rígidas. Compreendem aspectos próprios:
Rígidas: o quorum para a alteração é maior, embora sejam sempre modificáveis. Sua maior vantagem está na garantia de estabilidade e na facilidade da exegese jurisprudencial. Sua desvantagem maior está em que, sendo pouco modificáveis, tendem à desatualização. Salvo nos países em que a tradição garanta sua sobrevivência, tendem ao desrespeito, pois se afastam da realidade sócio-política em que deve ser aplicadas;
Não-rígidas: há quorum comum para sua alteração, o que torna fácil a mudança, ao sabor da ocasião. Provoca dificuldade de exegese jurisprudencial, fazendo-as instáveis, portanto, contrárias a um dos elementos essenciais do Direito, nos países de estrutura instável. (4)
Constituição semi-rígida é aquela cujos dispositivos podem ser modificados, em parte, por meio de procedimentos que ela própria determinou, sendo, assim, sob este aspecto, rígida, e, em parte, pelo processo legislativo comum ou ordinário, sendo assim, sob este aspecto, flexível. (2)
A Constituição flexível é a que pode ser alterada a qualquer momento, mediante o mesmo procedimento empregado para o procedimento legislativo comum ou ordinário. Assim, nenhuma norma especial é exigida para a alteração do texto constitucional flexível. E o texto da Constituição é omisso a respeito de seu processo de alteração. (2)
Nenhuma norma jurídica é imutável, perene. Nem mesmo a regra jurídica constitucional. Algumas Constituições são elaboradas para durar mais e, por isso, o processo para alterá-las é mais complexo do que o utilizado para a alteração das leis ordinárias e complementares. Assim, o grau de estabilidade da Constituição rígida é enorme. (2)
A estabilidade das Constituições não deve ser absoluta, não pode significar imutabilidade. Não há Constituição imutável diante da realidade social cambiante, pois não é ela apenas um instrumento de ordem, mas deverá sê-lo, também, de progresso social. Deve-se assegurar certa estabilidade constitucional, certa permanência e durabilidade das instituições, mas sem prejuízo da constante, tanto quanto possível, perfeita adaptação das Constituições às exigências do progresso, da evolução e do bem-estar social. A rigidez relativa constitui técnica capaz de atender a ambas as exigências, permitindo emendas, reformas e revisões, para adaptar as normas constitucionais às novas necessidades sociais, mas impondo processo especial e mais difícil para essas modificações formais, que o admitido para a alteração da legislação ordinária. (1)
	CONSTITUIÇÃO FEDERAL
	Art. 60. § 2º. A proposta (de Emenda Constitucional)será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.
Art. 69. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.
A Constituição pode ser, ao mesmo tempo, escrita e flexível, como também pode ser costumeira e rígida. (2)
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
	José Afonso da Silva
José Cretella Júnior
Walter Ceneviva
Kildare Gonçalves Carvalho

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