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24/08/16 1 IED – Aula 3 Abordando aula 4: O DIREITO COMO CIÊNCIA E SUA METODOLOGIA Profa. Leila Beuttenmüller A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO · A ideia do Direito Natural: O jusnaturalismo. · O Positivismo Jurídico. · O Normativismo jurídico. · O Pós-positivismo e a crítica à Teoria Pura do Direito de Kelsen - Miguel Reale e a estrutura tridimensional do Direito. 2 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Os atos da conduta humana que desencadeiam o movimento do Direito são eles próprios conteúdo de normas jurídicas, e só nesta medida é que interessam para o estudo da ciência jurídica. 3 FUNDAMENTOS DO DIREITO CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS JURÍDICAS Generalidade Imperatividade Heteronomia Coercibilidade Bilateralidade-atributiva Abstratividade Alteridade 4 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS JURÍDICAS Generalidade Para todos “A norma jurídica é preceito de ordem legal que obriga a todos que se acham em igual situação jurídica (Paulo Nader). 5 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS JURÍDICAS Imperatividade Poder de império “O caráter imperativo da norma jurídica significa imposição de vontade e não mero aconselhamento” (Paulo Nader 6 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 24/08/16 2 Imperatividade Processo: AI 165029720128260000 SP 0016502-97.2012.8.26.0000 Relator(a): Sebastião Flávio Julgamento: 09/05/2012 Órgão Julgador: 25ª Câmara de Direito Privado Publicação: 18/05/2012 Ementa ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. Restituição da coisa apreendida à parte que é financiada, por ineficácia do negócio. Demora da parte obrigada em cumprir a ordem judicial em tal sentido. Não incursão desta na sanção temporária. Concretização da prestação jurisdicional que poderia dar-se por intermédio de ato de império do Estado. Impossibilidade, em tais circunstâncias, de aplicação daquela sanção, que se destinaria apenas a suprir a própria omissão do órgão judiciário. Indeferimento do requerimento para a realização dos atos executórios que importariam a satisfação de sanção temporária. Agravo para reversão de tal conclusão denegado. (grifo nosso) 7 Heteronomia Imposto ou garantido pela lei Independe da vontade de seus destinatários. Adesão espontânea às leis Ex: Imposto de renda. 8 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Coercibilidade Porque o dever jurídico deve ser cumprido sob pena de sofrer o devedor os efeitos da sanção organizada, aplicável pelos órgãos especializados da sociedade. 9 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Bilateralidade-atributiva normas jurídicas: imperativo-atributiva Entre indivíduos (partes) que se colocam como sujeitos, um de direitos e outro de obrigações. “ A cada direito corresponde um dever.” Ex: empregado X empregador 10 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Abstratividade Previsão abstrata dos fatos Generalidade Objetivando atingir o maior número possível de situações “Se o método legislativo pretendesse abandonar a abstratividade em favor da causuística, para alcançar os fatos como ocorrem singularmente com todas as suas variações e matizes, além de se produzir leis códigos muito mais extensos, o legislador não atingiria seu objetivo, pois a vida social é mais rica do que a imaginação do homem e cria acontecimentos novos e de formas imprevisíveis. (Paulo Nader). 11 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Alteridade Alter (latim): outro Vínculo social Normas Convivência 12 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 24/08/16 3 O direito é heterônomo, bilateral e coercível, enquanto a moral é autônoma, unilateral e incoercível.” (Paulo Dourado de Gusmão) Direito é a ordenação heterônoma, coercível e bilateral atributiva das relações de convivência, segundo uma integração normativa de fatos conforme valores. ( Miguel Reale) 13 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO DIREITO NATURAL Pensamento Jusnaturalista Direito justo Proteção contra arbítrio do governo Expressão da natureza humana Absoluto e Universal 14 Deduzível dos princípios da razão A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO De res publica (AC) – Roma, Cícero e Atenas Influência reformas jurídicas e políticas Ø Declaração de Independência (1776) - Estados Unidos Ø Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) -Revolução Francesa. Ø Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) - ONU “O fim de toda associação é a proteção dos d i r e i t o s n at u r a i s i m p r e s c r i t í ve i s d o homem” (Art. 2º., Declaração dos Direitos do Homem de 1789) 15 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Direito natural > Direito positivo Direito justo por natureza Independente da vontade do legislador Derivado natureza humana (jusnaturalismo) princípios da razão (jusracionalismo) Consciência de todos os homens Direito perfeito - modelo para o legislador Direito ideal 16 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Direito natural eterno imutável universal É constituído por um conjunto de princípios, e não de regras, de caráter universal, eterno e imutável. (Paulo Nader). 17 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO Justiça Inspira o Direito Positivo - um lugar e um tempo Princípios fundamentais de proteção ao homem Ordenamento jurídico substancialmente justo Direito espontâneo: experiência + razão Ex: Conceito de justiça do Empregador - conceito de justiça do empregado. ESCRITO CRIADO PELA SOCIEDADE FORMULADO PELA SOCIEDADE 18 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO 24/08/16 4 POSITIVISMO JURÍDICO Doutrina de Comte: Positivismo pretendia ser a filosofia da ciência Passível de estudo científico, fundado em dados reais Doutrina do direito positivo Opõe-se à Teoria do Direito natural Positivismo jurídico : “não existe o u t r o d i r e i t o s e n ã o a q u e l e positivo” (Bobbio ) 19 A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO DIREITO POSITIVO Experiência jurídica Antijusnaturalista - natureza jurídica ao direito natural Antijusracionalista - negando o poder legislativo da razão Vontade do legislador ou do juiz Ciência do direito França LEI CÓDIGO DIREITO ESTATAL ESCRITO PRECEDENTES JUDICIAIS 20 FUNDAMENTOS DO DIREITO POSITIVISMO JURÍDICO Não satisfaz as exigências sociais de justiça Valor segurança Filiação do direito a determinações do Estado, mostra-se alheio à sorte dos homens. O direito não se compõe exclusivamente de normas As regras jurídicas têm sempre um significado, um valor a realizar. 21 FUNDAMENTOS DO DIREITO POSITIVISMO JURÍDICO A lei não pode abarcar todo o jus. A lei, sem condicionantes, é uma arma para o bem ou para o mal. “Como não há verdades sem germes de erros, não há erros sem alguma parcela de verdade. “a observação daquilo que se vê é o ponto de partida para chegaràquilo que não se vê”.(Carlenutti) 22 FUNDAMENTOS DO DIREITO TEORIA PURA DO DIREITO DE KELSEN Relação direito e ciência: objeto da ciência do direito Normas jurídicas + conduta humana regulada por estas Teoria estática do Direito: Normas reguladoras da conduta Teoria dinâmica do Direito: Conduta humana regulada (atos de produção, aplicação ou observância determinados por normas jurídicas) Dualismo: dinâmica subordinada à estática - validade formal 23 TEORIA PURA DO DIREITO DE KELSEN Ordenamento jurídico positivo: conjunto das normas válidas Pirâmide de normas aspecto estático aspecto dinâmico Validade formal: cada norma retira de uma outra que lhe é superior, na escala hierárquica do ordenamento jurídico, a sua existência e validade. 24 24/08/16 5 TEORIA PURA DO DIREITO DE KELSEN VALIDADE DA NORMA CONDIÇÕES DE SUA PRODUÇÃO OU APLICAÇÃO DINÂMICA ESTÁTICA ORDENAMENTO JURÍDICO NORMA FUNDAMENTAL PRESSUPOSTO LÓGICO DO SISTEMA NORMATIVO 25 TEORIA PURA DO DIREITO DE KELSEN Na proposição da ciência jurídica, a ligação entre os elementos fáticos (conduta como pressuposto e consequência punitiva, permissiva ou autorizativa, como resultado) é produzida por uma norma jurídica. Se "A" é, "B" é (causalidade) Se "A" é, "B" deve ser (imputação) 26 TEORIA PURA DO DIREITO DE KELSEN NORMA JURÍDICA Não descrição dos fatos sociais (condutas humanas) Interferência na ordem natural ou social dos fatos: Ø atribuindo responsabilidades Ø conferindo poderes Ø interditando condutas Conteúdo das normas (fatos e valores) intocado IMPERATIVIDADE 27 TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO Miguel Reale: O Direito é uma realidade tridimensional Presentes na substância do jurídico Inseparáveis pela realidade dinâmica do Direito FATO VALOR NORMA 28 TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO MUNDO DO SER aprecia a realidade social como ela de fato é QUADRO DE IDÉIAS E VALORES MUNDO DO DEVER-SER modelo de sociedade desejado 29 TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO À medida que a norma deseja reproduzir o ser podemos a f i r mar que nos encontramos diante de uma sociedade de essência conservadora; ao contrário, quando o dever-ser procura modificar o ser, pode ser entendida como verdadeira à afirmativa de que nos confrontamos com u m a s o c i e d a d e e m i n e n t e m e n t e progressiva. (Paulo Nader, 2009) 30 24/08/16 6 TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO O “Fato”, é uma dimensão do Direito, é o acontecimento social que envolve interesses básicos para o homem e que por isso enquadra-se dentro dos assuntos regulados pela ordem jurídica (social, econômico, geográfico, demográfico, de ordem técnica, etc.). 31 TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO O “Valor” é o elemento moral do Direito se toda obra humana é impregnada de sentido ou valor, igualmente o Direito: ele protege e procura realizar valores fundamentais da vida social, notadamente, a ordem, a segurança e a justiça (conferindo ao fato determinada significação que deve ser preservada). 32 FUNDAMENTOS DO DIREITO TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO A “Norma” consiste no padrão de compor tamento social imposto aos indivíduos, que devem observá-la em determinadas circunstâncias (relação ou medida que integra o fato ao valor) . 33 FUNDAMENTOS DO DIREITO TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO Ex.: “Matar alguém” - pena de 6 a 12 anos (norma) - dispõe sobre um fato de matar uma pessoa (fato social) e visa assegurar a vida (bem maior do homem - valor). Ex.: Os pais devem prestar assistência a seus filhos (norma) - dispõe sobre a proteção aos menores (fato social) e visa assegurar a educação e o bem estar do menor, com vistas ao progresso social (valor). 34 TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO Eficácia (Fato => Ser => Sociologia Jurídica) Vigência (Norma => Dever Ser => Ciência do Direito) Fundamento (Valor => Poder Ser => Filosofia do Direito) 35 36 RECURSO ESPECIAL Processo: REsp 445990 / MG RECURSO ESPECIAL 2002/0084648-7 Relator(a): Ministro FRANCIULLI NETTO (1117) Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento: 09/11/2004 Data da Publicação/Fonte: DJ 11/04/2005 p. 225 Ementa: RECURSO ESPECIAL - EXECUÇÃO FISCAL - PENHORA - BENS DE FAMÍLIA - LEI N. 8.009/90 - ÚNICO IMÓVEL DA FAMÍLIA LOCADO A TERCEIROS - IMPENHORABILIDADE - PRECEDENTES. Predomina nesta egrégia Corte Superior de Justiça o entendimento segundo o qual a locação a terceiros do único imóvel de propriedade da família não afasta o benefício legal da impenhorabilidade do bem de família (art. 1º da Lei n. 8.009/90). Com efeito, o escopo da lei é proteger a entidade familiar e, em hipóteses que tais, a renda proveniente do aluguel pode ser utilizada para a subsistência da família ou mesmo para o pagamento de dívidas (cf. REsp 462.011/PB, da relatoria deste Magistrado, DJ 02.02.2004). "Dentro de uma interpretação teleológica e valorativa, calcada inclusive na teoria tridimensional do Direito-fato, valor e norma (Miguel Reale), faz jus aos benefícios da Lei 8.009/90 o devedor que, mesmo não residindo no único imóvel que lhe pertence, utiliza o valor obtido com a locação desse bem como complemento da renda familiar, considerando que o objetivo da norma foi observado, a saber, o de garantir a moradia familiar ou a subsistência da família" (REsp 159.213/ES, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJ 21.06.99). Recurso especial improvido. 315979-RJ, RESP 302781-SP 24/08/16 7 37 RECURSO ESPECIAL Processo: REsp 445990 / MG RECURSO ESPECIAL 2002/0084648-7 Relator(a): Ministro FRANCIULLI NETTO (1117) Órgão Julgador: T2 - SEGUNDA TURMA Data do Julgamento: 09/11/2004 Data da Publicação/Fonte: DJ 11/04/2005 p. 225 Acórdão: Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator." Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Castro Meira e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins. Resumo Estruturado: IMPENHORABILIDADE, UNIDADE, IMOVEL RESIDENCIAL, PROPRIEDADE, EXECUTADO, INDEPENDENCIA, DEVEDOR, LOCAÇÃO, BEM, TERCEIRO, OBJETIVO, COMPLEMENTAÇÃO, RENDA, SUBSISTENCIA, FAMILIA, PAGAMENTO, DIVIDA, NÃO OCORRENCIA, PERDA, QUALIDADE, BEM DE FAMILIA, PREVALENCIA, INTERPRETAÇÃO TELEOLOGICA, ARTIGO, LEI FEDERAL, 1990, OBSERVANCIA, JURISPRUDENCIA, STJ. Referência Legislativa: LEG:FED LEI:008009 ANO:1990 ART:00001 Veja: STJ - RESP 159213-ES (RDR 15/385), AGRG NO AG 385692-RS, RESP 183042-AL, RESP 462011-PB, RESP 315979-RJ, RESP 302781-SP CASO CONCRETO 1 – AULA 4 Três amigos acabaram de ler no jornal que Madalena, 19 anos, separada, mãe de três filhos, que ganha um salário mínimo trabalhando como empregada doméstica, foi condenada pelo Tribunal do Júri a três anos de prisão por ter cometido aborto. O primeiro amigo afirma que o Tribunal do Júri aplicou corretamente a lei, visto que a conduta de Madalena constitui crime contra a vida (Código Penal). O segundo amigo discorda, sustentando que a condenação foi injustificada, porque a leisobre o aborto não é quase nunca aplicada. O terceiro afirma que o problema é de cunho filosófico, envolvendo reflexões sobre o moralmente certo ou errado e que houve uma injustiça, já que o caso foi resolvido segundo a letra da lei e não às exigências da justiça. Examine o caso apresentado procurando aplicar os conhecimentos adquiridos sobre a Teoria Tridimensional do Direito 38 Examine o caso apresentado procurando aplicar os conhecimentos adquiridos sobre a Teoria Tridimensional do Direito R. cada amigo limitou-se a analisar a questão observando apenas um de seus vértices, quais sejam, o normativo, quando tão somente subsume o caso à norma; o da eficácia da norma, ao apontar que tal artigo está em desuso e, por fim, o do fundamento ou melhor, da ausência de fundamento da norma legal. Quando em verdade o mestre Reale nos ensina que o fenômeno jurídico apresentar três dimensões que não guardam uma relação hierárquica entre si e que devem ser analisadas e sopesadas, a fim de que se possa bem analisar o fenômeno jurídico. 39 Ap rend eram a aula mu ito i mpo rtan te de hoje ? ...Eu já aprendi . . . Vou aplicá-la como se exige de um bom acadêmico e profissional que sou!!!
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