Buscar

OS DOIS MÉTODOS E O NÚCLEO DURO DA TEORIA ECONÔMICA, Luiz Carlos Besser-Pereira

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

OS DOIS MÉTODOS E O NÚCLEO DURO DA TEORIA ECONÔMICA
Luiz Carlos Bresser-Pereira
	O problema teórico central enfrentado pelos economistas é a escolha do método que usarão para a investigação. Alguns economistas como Smith, Malthus e Marx utilizaram o método histórico dedutivo: generalizavam a partir da observação da realidade econômica.
A idéia da adoção do método hipotético-dedutivo veio com Sturart Mill (1836), sugerindo que assim a economia perderia seu caráter impreciso, apesar de não ter feito uso pleno do método, que só começou a ser usado na escola neoclássica.
Possibilitada pela abordagem hipotética-dedutiva, as teorias econômicas foram reduzidas ao uso de modelos matemáticos, nos anos 1930, fazendo com que engenheiros e físicos se juntassem à profissão. Entretanto, Keynes mostrou a consequência do método hipotético-dedutivo e a “matematização” do pensamento econômico, e então usando apenas o método histórico-dedutivo ele mudou a perspectiva do pensamento econômico e a formulação do método econômico.
Depois de um tempo, Arroz e Debreu voltaram a usar o método hipotético-dedutivo e Solow transformava a teoria econômica do crescimento compatível com o equilíbrio geral. E um pouco depois, aceitou-se as expectativas racionais pela teoria macroeconômica neoclássica, permitindo que seja compatível com o equilíbrio geral.
O primeiro sinal da crise do uso da teoria econômica clássica foi quando os bancos centrais deixaram de usar a política de metas monetárias. Atualmente, é fácil perceber que o uso do método hipotético-dedutivo (teoria macroeconômica neoclássica e teoria neoclássica do crescimento) é incapaz de explicar e entender para prever o comportamento da heterogênea realidade social e institucional. 
Como afirmou Mark Blaug, a teoria econômica moderna está doente, já que os economistas gradualmente estão convertendo o análise econômica com rigor analítico (utilizando apenas a matemática), em vez da relevância empírica.
Em todas as ciências, é utilizada a indução e a dedução, porém, geralmente uma se sobrepõe à outra. Muitos economistas acreditam que o único método totalmente científico é o hipotético-dedutivo, porque possibilita hipóteses precisas e quantificáveis, permitindo uma teoria precisa e matemática. Entretanto, o histórico-dedutivo não parte de simples suposições, mas da observação dos fenômenos e realidades. Ambos os dois são dedutivos, porém um é hipotético e o outro é histórico.
O método que deveria ser mais usado pela ciência econômica é o método histórico-dedutivo, por ser uma ciência social que tem o objetivo complexo e aberto. É melhor recorrer apenas secundariamente ao método hipotético-dedutivo. Claro, que em alguns casos, o que melhor ajudará em uma conclusão, é o hipotético, cujo princípio é o raciocínio.
Descartes e Kant observaram que a matemática consiste em evidências precisas e certeiras, mas que não tem outro objetivo além da construção racional. E quando se trata de ciências substantivas, elas têm um objetivo complexo, que só pode ser analisado por meio da dedução e da indução, se forem sistematicamente combinadas.
O problema dos dois métodos não está apenas na área da economia, mas também na área da filosofia e na ciência política. Enquanto o método hipotético-dedutivo tende a conclusões idealistas, o método histórico-dedutivo tem conclusões realistas.
A história do pensamento econômico sofre grandes alterações ao longo do tempo, desde os grandes economistas mercantilistas e clássicos o que introduziram como ciência social histórico-dedutivo. Depois com Stuart Mill, tenta dar à teoria econômica uma precisão semelhante à da matemática, mesmo sabendo que isso seria impossível, mas pode ser aproximado. Nos anos 1970, a teoria econômica se tornou a mais radicalmente hipotético-dedutiva de todas as ciências substantivas. Então, este modelo enfrentará problemas como a falta de capacidade explicativa e de previsão, que o modelo hipotético-dedutivo não é capaz de saná-las. 
O método histórico-dedutivo também pode ser chamado de empírico-dedutivo, porém há uma diferença. O segundo é principalmente analítico, e o primeiro é analítico e também dialético. Nas ciências sociais deve-se pensar historicamente, mas também em termos dialéticos. A realidade social está relacionada à história, porque está em constante mudança a cada dia. 
A economia é uma ciência substantiva, em que seu objetivo são as propriedades de estabilização, crescimento e distribuição dos sistemas econômicos. 
“ O objetivo é entender e explicar esses sistemas e prever seus desenvolvimentos, de tal forma que os agentes econômicos possam ou se ajustar a eles, ou influenciá-los por meio da política econômica. “
Compreender os sistemas econômicos é o que as principais escolas econômicas objetivam, sendo o método mais adequado o método histórico-dedutivo, o que não significa que os economistas não devem usar o método hipotético-dedutivo.
Com o uso do método, tenta-se chegar a uma visão geral do sistema econômico e formular modelos que relacionam regularidades e tendências observadas de modo a formar uma teoria. Os sistemas econômicos são sistemas sociais ou históricos baseados no trabalho, coordenados pelo mercado e outras instituições, e orientados para a produção de riqueza.
A economia estuda apenas os sistemas modernos (os sistemas capitalistas), que tem como base duas instituições econômicas principais: mercados e dinheiro, que determinam a alocação de recursos e a distribuição de renda.
Em todos os países, os mercados e o dinheiro são regulados pelo Estado, sendo assim, esses sistemas econômicos tem o objetivo relacionados com os objetivos políticos da sociedade (sobrevivência, estabilidade, bem-estar e sustentabilidade ambiental).
“ A economia deve explicar, em primeiro lugar, como os sistemas reais alocam recursos escassos; em segundo lugar, como eles permanecem relativamente estáveis através de todo o ciclo econômico; em terceiro lugar, como se desenvolvem; e quarto, como distribuem a renda gerada. “
Para o estudo de sistemas complexos e que estão em mudança, o método mais adequado é o histórico-dedutivo, porque é baseado na observação da realidade econômica histórica, sendo cada evento único, mas que estão sempre relacionados com outros eventos, então, a partir disso, esses eventos podem ter uma regularidade ou tendências, o que facilita o estudo. Porém, nem sempre esses eventos têm regularidades, sendo que ela só se materializa quando os eventos possuem semelhanças básicas e tendem a se repetir num período de tempo.
No processo da formação de uma teoria, primeiro os economistas observam as realidades econômicas que o cercam, e terá uma intuição. Depois, incorpora a intuição em seus conhecimentos já adquiridos dos processos econômicos. Porém, no caso do que foi observado ser uma novidade, ele terá que criar novos conceitos e ferramentas adicionais para dar suporte à teoria. Logo depois terá que fazer uma hipótese provisória e recorrerá ao raciocínio dedutivo, e a incorporará aos fatos para ver se eles confirmam a teoria. A abdução, dedução e indução são complementares, um é impossível sem outro. Já os métodos hipotético-dedutivo e histórico-dedutivo são diferentes, o primeiro corresponde ao tempo lógico e o segundo trabalha com o tempo histórico.
As ferramentas econométricas limitam a verificação de algumas características específicas de um problema mais amplo e complexo, e os resultados não correspondem ao esperado. Porém, o método histórico-dedutivo deve partir da observação da realidade, e essa observação pode ser reforçada pela econometria. E em seguida testas os modelos em termos de sua utilização prática, só assim é possível chegar a previsões efetivamente confiáveis e eficazes.
O método hipotético-dedutivo utiliza, em todo o seu processo, noções de matemática e de lógica. Ele parte do pressuposto de que, tendo as condições iniciais definidas, é possível saber quais serão as conseqüências. Porém, este método, não leva em consideração as irregularidades. O que não é previsto,oriundo dos processos históricos reais, é ignorado.
O que leva ao fracasso esse tipo de método é o pressuposto homo economicus. Esse pressuposto não é falso, mas com realidades tão complexas e em mudança não podem ser analisadas por apenas condições iniciais, e não consegue abranger a realidade presente nos sistemas econômicos. 
Várias economistas gostam de utilizá-la, porque tem certo fascínio quando chegam a uma teoria que consegue ser clara, abrangente e precisa, porém, não tem correspondência com uma realidade tão complexa e em mudança.
O que se pode inferir dos métodos histórico-dedutivo e do hipotético-dedutivo são que, cada um, com suas diferenças, são úteis de alguma forma para a economia e e outras áreas também. Porém, pela economia ser uma disciplina social aplicada, para conseguir achar uma conclusão, condizente com a realidade, o método histórico-dedutivo seja mais eficaz, porque busca na história seus argumentos e consequências. Enquanto o hipotético-dedutivo é mais matemática, não considera algumas variáveis da história, e não se aplica muito bem à realidade.

Outros materiais