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A Sociedade dos Genes e a Existência Humana

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Texto: "A sociedade dos genes"
- insetos sociais são paradigmas do autossacrifício e da cooperação
- formigueiros e corais são coletividades em que os indivíduos exercem funções especializadas
- se no início a vida na Terra era atomizada, desde então a tendência é de crescente aglutinação; a vida tornou-se antes um jogo de equipe do que uma luta solitária
- bactérias são um aglomerado de centenas de genes; protozoários são aglomerados ainda maiores, com milhares de genes; animais como os trilobitas são aglomerados de um bilhão de células; animais modernos podem ter trilhões de células
- formigueiros são aglutinações sociais que podem conter mais de um milhão de corpos; aves e mamíferos também se organizam socialmente, por vezes dividindo funções entre corpos individuais
- do ponto de vista filosófico, formigueiros e caravelas são organismos em que grupos de indivíduos exercem funções de órgãos
- cada organismo, por sua vez, é uma coletividade de células que cooperam entre si formando um todo harmonioso; mesmo células podem ser o resultado da colaboração simbiótica entre bactérias
- o organismo é resultado da cooperação entre genes
- Williams e Hamilton (década de 60): "revolução do gene egoísta" > indivíduos agem não pelo bem do grupo ou mesmo pelo próprio bem, eles agem em benefício de seus genes
- o fato de haver uma descendência é prova do sucesso reprodutivo de antepassados, ou seja, o fato de haver cópias de um gene no presente é prova do seu valor no passado
- em geral o interesse dos genes e do indivíduo coincidem, mas nem sempre isso é verdadeiro; agir em benefício do gene pode significar agir em benefício da prole, de parentes ou do grupo
- seres vivos são programados para agir de forma a aumentar a probabilidade de que seus genes, ou cópias de seus genes, prosperem
- Williams: "como regra geral, ao ver um animal agir em benefício de outro, o biólogo moderno conclui que um indivíduo está sendo manipulado por outro, ou agindo com sutil egoísmo"
- os genes causadores de um comportamento que aumenta a probabilidade de sobrevivência e reprodução necessariamente prosperam às custas dos que não o fazem
- comportamentos intrigantes do ponto de vista do indivíduo ou da espécie tornam-se possíveis de serem explicados à luz da teoria do gene egoísta
- Dawkins: "somos máquinas de sobrevivência... programados para preservar moléculas egoístas chamas genes"
- paradoxalmente, a teoria do gene egoísta abre espaço para o altruísmo individual
- motivações para o altruísmo não são mais importantes que a ação altruísta em si
- Hamilton e Trivers: relação entre pais e filhos, machos e fêmeas e entre parceiros na sociedade não é de satisfação mútua mas de luta para explorar a relação
- interesses comuns x conflito de interesses
- abelha operária: egoísmo individual é limitado pelo interesse egoísta das outras operárias; a harmonia coletiva da colmeia só existe porque a rebelião egoísta dos indivíduos é reprimida
- lei da igualização e renda líquida: lucro sobre um bem público é proporcional ao tributo pago, ou seja, o benefício obtido é proporcional ao custo investido
- teoria de escolha pública: interesse público é sobrepujado pelo interesse próprio > exploração do altruísmo obrigatório
- no câncer, células tumorais prosperam sobre as células normais
- doenças características do envelhecimento podem ser entendidas como processos degenerativos em que linhagens celulares sobrevivem às custas do organismo
- Charlton: parasitismo endógeno
- no embrião, mecanismos de controle impedem que células mutantes prosperem; a linhagem germinativa é segregada no início do desenvolvimento
- "a impressionante harmonia do desenvolvimento reflete não o interesse comum de agentes independentes e cooperadores, mas a compulsória harmonia de uma máquina bem projetada"; o corpo é o triunfo da harmonia sobre o egoísmo celular
- cromossomos podem ser parasitas, utilizando o aparato celular em seu próprio benefício; mesmo genes podem ser aproveitadores, deturpando a segregação na meiose e prosperando às custas do organismo
- o organismo é apenas a soma de partes egoístas; a cooperação prevalece porque o interesse egoísta de cada parte limita o egoísmo das outras partes
- Leigh: "é como tivéssemos de lidar com um parlamento de genes: cada um age no interesse próprio, mas se sua ação prejudica os outros, eles se juntam para sufocá-la"
Texto: "Por que as pessoas existem?"
- Simpson: "Aquilo que quero esclarecer agora é que todas as tentativas de responder a esta pergunta feitas antes de 1859 são totalmente desprovidas de valor e que estaremos em melhor posição se simplesmente as ignorarmos por completo."
- implicações da teoria evolucionista ainda não são bem compreendidas
- altruísmo e egoísmo: importância nas interações entre indivíduos e na vida social
- "On agression" (Lorenz), "The social contract" (Ardrey) e "Love and hate" (Eibl-Eibesfeldt): enfoque no bem da espécie ou do grupo ao invés do indivíduo ou do gene
- organismo: "máquina de sobrevivência" criada pelos genes
- condições ambientais > propriedades dos genes (alta competitividade > "egoísmo implacável")
- egoísmo do gene leva, frequentemente, ao comportamento individual egoísta, porém, em algumas condições, os objetivos egoístas do gene são alcançados por meio de uma forma limitada de altruísmo
- evolução é um processo amoral; biologicamente, somos preparados para o egoísmo ("Tratemos então de ensinar a generosidade e o altruísmo, porque nascemos egoístas.")
- seleção natural favorece a evolução do comportamento egoísta
- egoísmo: comportamento que leva ao aumento da probabilidade de sobrevivência do indivíduo e à diminuição da probabilidade de sobrevivência do outro
- altruísmo: comportamento que leva à diminuição da probabilidade de sobrevivência do indivíduo e ao aumento da probabilidade de sobrevivência do outro
- mesmo influência mínima sobre o comportamento e a probabilidade de sobrevivência e reprodução gera grande impacto evolutivo quando se considera um longo período de tempo
- abordagem comportamental, não subjetiva: efeito do comportamento sobre a perspectiva de sobrevivência do suposto altruísta e do suposto beneficiário
- consequências do comportamento: curto prazo x longo prazo (comportamentos aparentemente altruístas se revelam egoístas quando se considera seus efeitos em longo prazo > efeito do comportamento sobre a perspectiva de sobrevivência pode ser o oposto daquilo que se pensava inicialmente)
- exemplos de comportamentos aparentemente egoístas: infanticídio (guinchos), canibalismo (louva-a-deus), autopreservação (pinguins-imperadores); competição por alimento, território ou parceiros sexuais
- exemplos de comportamentos aparentemente altruístas: suicídio (abelhas), alarme (pássaros), manobra de distração (aves); cuidado parental
- tanto o comportamento egoísta quanto o comportamento altruísta podem ser explicados pela teoria do gene egoísta
- crítica à seleção de grupo ("pelo bem do grupo" ou "pelo bem da espécie"): perpetuação da espécie é consequência da reprodução e não função dela; animais não se comportam de forma a favorecer a perpetuação da espécie; altruísmo não é consequência natural dessa tendência
- nível de análise? espécie, raça, indivíduo?
- seleção de grupo (Wynne-Edwards): grupos altruístas prevalecem sobre grupos egoístas
- teoria ortodoxa: seleção individual ou seleção do gene
- grupos altruístas tendem a ser invadidos por indivíduos egoístas, que possuem maior valor reprodutivo
- extinção do grupo é um processo mais lento do que a competição individual
- no curto prazo, indivíduos egoístas prosperam às custas dos indivíduos altruístas
- nível da seleção de grupo? classe, nação, raça, espécie? seres vivos?
- nível de altruísmo desejável (ética) x nível de altruísmo esperado (biologia)
- teoria da continuidade do plasma germinativo (Weismann) > Adaptation andnatural selection (Williams): seleção opera no nível mais baixo
- gene: unidade fundamental de seleção (replicação, variação, competição e hereditariedade)
Dawkins, R. (2009). O gene egoísta (3a ed.). São Paulo, SP: Companhia das Letras.
Texto: "Agressão: a estabilidade e a máquina egoísta"
- para uma "máquina de sobrevivência", outra "máquina de sobrevivência" é parte do ambiente que podem representar tanto a possibilidade de conflito quanto de exploração
- genes programam suas "máquinas de sobrevivência" para que elas façam o melhor uso possível do seu ambiente
- "máquinas de sobrevivência" da mesma espécie causam influências diretas (competição, reprodução); "máquinas de sobrevivência" de outras espécies causam influências diretas e indiretas (competição, predação, parasitismo)
- para uma "máquina de sobrevivência", assassinato de rivais pode não ser a melhor estratégia
- assassinato e canibalismo entre animais da mesma espécie são raros na natureza ("animais lutam com luvas nos punhos e espadas sem fio")
- belicosidade sem reservas envolve custos além de benefícios; num sistema complexo de rivalidades, a eliminação de um rival não produz necessariamente um benefício
- belicosidade seletiva pode trazer benefícios, mas também envolve custos e riscos > agressão depende de uma relação de custo-benefício
- comportamentos atenuados (lutas ritualizadas, guerras de desgaste) são mais adaptativos já que trazem maior benefício para os indivíduos no longo prazo
- Smith: conceito de estratégia evolutivamente estável (EEE)
- estratégia: comportamento pré-programado de uma "máquina de sobrevivência"
- EEE: estratégia adotada pela maioria dos indivíduos de uma população que não pode ser superada por uma estratégia alternativa; uma vez atingida a EEE, desvios são penalizados pela seleção natural
- "pacto" ou "coalizão: acordo sobre benefício entre os indivíduos de uma coletividade que é o maior possível
- ganho médio numa condição de "pacto" ou "coalizão" é superior à EEE, mas está sujeita ao "abuso" ou à "traição" interna
- "abuso" ou "traição": situação em que a vantagem individual no curto prazo é superior à vantagem individual no longo prazo prevista por um "pacto" ou "coalizão"; a possibilidade de "abuso" ou "traição" explica a instabilidade e a tendência ao colapso dos "pactos" e "coalizões"
- uma EEE não é a estratégia mais vantajosa para o indivíduo, mas é a estratégia mais vantajosa que resiste à invasão
- EEE se opõe à seleção de grupo: o "grupo" é resultado da interação entre indivíduos (situação de estabilidade), não uma unidade de seleção
- o conflito de interesses individuais leva à EEE; a seleção de grupo favoreceria os "pactos" e "coalizões"
- seleção em um nível inferior leva à ilusão de unidade num nível superior ("coleção de entidades egoístas pode vir a se assemelhar com um todo organizado")
- EEE depende da situação inicial, das estratégias concorrentes, dos custos e benefícios envolvidos, das assimetrias e das oscilações espaciais e temporais
- assimetria: condição de desigualdade intrínseca entre os adversários (tamanho, "armas", relação de custo-benefício e situações arbitrárias)
- estratégia condicional: depende da estratégia do adversário
- comportamento pode ser EEE resultante de uma estratégia condicional dependente de uma assimetria (guerra de desgaste, defesa territorial, hierarquia de dominância, predação)
- pool gênico é um conjunto evolutivamente estável quando não pode ser invadido por nenhum gene novo
- um gene é selecionado com base no seu desempenho em relação ao pano de fundo do conjunto evolutivamente estável que é o pool gênico existente
- corpos bem adaptados são produtos de um conjunto evolutivamente estável de genes egoístas
Dawkins, R. (2009). O gene egoísta (3a ed.). São Paulo, SP: Companhia das Letras.
Texto: "Social life"
- vida em grupo: custos x benefícios
- benefícios: diminuição da predação, aumento da eficiência da caça, aumento da eficiência da defesa territorial e do cuidado com a prole, troca de informações
- custos: aumento da transmissão de doenças infecciosas, aumento da competição
- custos x benefícios > tamanho ótimo do grupo e desenvolvimento de mecanismos de ajuste
- hipótese do cérebro social: interação social x desenvolvimento cerebral
- o volume cerebral se relaciona com o sistema de acasalamento e tamanho do grupo; em mamíferos e aves, um maior volume cerebral está associado à monogamia e à poliginia; em primatas, um maior volume cerebral está associado à promiscuidade
- cooperação: comportamento que beneficia outro indivíduo que não o ator
- altruísmo legítimo x altruísmo ilegítimo
- altruísmo legítimo: apenas entre indivíduos aparentados (seleção de parentesco)
- benefício mútuo (altruísmo ilegítimo): comportamento beneficia tanto o doador quanto o receptor
- benefício colateral: benefício é resultado da existência do indivíduo no grupo
- altruísmo recíproco (reciprocidade direta): troca de benefícios entre indivíduos ao longo do tempo
- condições para manutenção da reciprocidade direta: interações repetidas entre indivíduos, valor do recurso para o doador e o receptor, possibilidade de retribuição diferencial: c < wb
- reciprocidade indireta: "boa reputação" do doador leva ao recebimento de benefícios no futuro
- condições para manutenção da reciprocidade indireta: interações repetidas entre indivíduos do grupo, valor do recurso para o doador e o receptor, possibilidade de retribuição diferencial, troca de informações: c < qb
- punição: benefício para aquele que pune aproveitadores é resultado da "boa reputação" no grupo
- humanos: ações coletivas são resultado da combinação das vantagens da "boa reputação", do risco do ostracismo e da possibilidade de punição
Grabbers, N. (2009). Evolution and genetics for psychology. Oxford, United Kingdom: Oxford University Press.
Texto: "Uma mão lava a outra?"
- vida em grupo: custos x benefícios
- vantagens: caça de presas maiores (hienas, aranhas), conservação de calor (pinguins-imperadores), maior eficiência na locomoção (peixes, aves), proteção contra predadores (antílopes, gnus)
- rebanho egoísta: exploração egoísta de um indivíduo por outro; tendência à formação de grupos é resultado de impulsos egoístas individuais
- comportamentos aparentemente altruístas escondem motivações egoístas: gritos de alarme (pássaros), stotting (gazelas-de-Thomson)
- gritos de alarme: proteção de parentes em grupos familiares (seleção de parentesco); alerta para evitar atrair a atenção de predadores (teoria "cave"), alerta para buscar refúgio sem abandonar o grupo (teoria "nunca abandone as fileiras") > para o animal que dá o alarme, risco de fazê-lo é menor do que não o fazer
- stotting: comportamento dirigido ao predador; capacidade de salto é indicativo da saúde e do vigor do animal
- insetos sociais: castas especializadas na produção (rainha) e na criação (operárias); esterilidade das operárias implica no desvio do investimento em filhos (parentesco de 1/2) para irmãs bilaterais (parentesco de 3/4) > rainha é uma "máquina de fazer irmãs" > seleção de parentesco
- operárias tem parentesco de 3/4 com suas irmãs e de 1/4 com seus irmãos; rainha tem parentesco de 1/2 com seus filhos de ambos os sexos > conflito de interesses sobre a proporção ideal entre filhas e filhos: rainha "prefere" 1:1 enquanto as operárias "preferem" 3:1 > desvio na proporção do sexo na direção da "preferência" das operárias
- altruísmo recíproco ou benefício mútuo: ambos os indivíduos se beneficiam da cooperação mútua (formigas e fungos, formigas e afídeos)
- mutualismo (simbiose): benefício mútuo envolvendo organismos de espécies diferentes
- formigas e fungos: alimentação (formigas), proteção e reprodução (fungos)
- formigas e afídeos: alimentação (formigas), proteção e reprodução (afídeos)
- assimetria entre as espécies pode levar à evolução da cooperaçãomútua: genes para associação e cooperação são favorecidos no pool gênico dos indivíduos das espécies envolvidas
- os próprios genes podem ser vistos como unidades simbióticas formadoras de colônias; vírus podem ser vistos como genes "rebeldes" que adotam formas alternativas de propagação
- uma associação de benefício mútuo só poderá evoluir se o benefício for maior do que o custo para cada indivíduo
- altruísmo recíproco retardado: tipo de cooperação que envolve um intervalo de tempo entre um "favor" e sua "retribuição" (peixes-limpadores)
- a capacidade para o reconhecimento individual e a memória de longo prazo são condições necessárias para a evolução do altruísmo recíproco retardado
- "trapaceiro" e "rancoroso" são estratégias evolutivamente estáveis
- zona de atração de uma EEE: conjunto das frequências que, quando alcançadas, fazem com que uma população tenda a essa EEE
- frequência crítica de uma EEE: frequência mínima a partir da qual se estabelece a zona de atração de uma EEE
- EEE alcançada depende da situação inicial, das estratégias concorrentes e dos custos e benefícios envolvidos
- uma EEE se define pela resistência à invasão por estratégias alternativas; uma EEE pode inclusive levar a população à extinção
- ser humano: capacidade de reconhecimento individual e a memória de longo prazo favorecem a evolução do altruísmo recíproco retardado
- características psicológicas como a inveja, a culpa, a gratidão e a empatia podem ter evoluído em associação à capacidade para a retribuição, a trapaça e a detecção de trapaceiros
- a evolução da habilidade para o cálculo, por sua vez, pode ter evoluído em associação à capacidade para enganar e detectar a trapaça
Dawkins, R. (2009). O gene egoísta (3a ed.). São Paulo, SP: Companhia das Letras.
Artigo: A evolução da bondade
Biólogos discutem até que ponto existe benevolência entre os seres vivos.
por Jerônimo Teixeira
Muitos biólogos acreditam que somos todos seres egoístas, que buscam apenas espalhar os próprios genes e perpetuar a linhagem a que pertencemos - até em nossos atos mais benevolentes. Mas será mesmo que não existe altruísmo? Novas pesquisas mostram que a evolução pode se dar em termos bem mais caridosos do que costumamos imaginar
É uma ironia amarga que ainda seja necessário promover campanhas contra a fome. Se você reparar bem, os hábitos sociais da espécie humana são de uma generosidade proverbial no que diz respeito à comida. Em virtualmente todas as culturas, grandes festas são acompanhadas de comilança. Estamos sempre oferecendo comida aos outros, seja na forma de um casual chiclete ou de uma recepção formal. E quem já não entrou numa daquelas ridículas disputas para pagar a conta no restaurante? O problema é saber se essas práticas sociais realmente se qualificam como exemplos de generosidade. Em inglês, um ditado muito corrente no mundo dos negócios diz que there’s no free lunch – traduzindo, “não existe almoço grátis”. Se um conhecido que você não vê há anos resolve convidá-lo para um churrasco, a desconfiança é imediata – será que ele vai pedir dinheiro emprestado?
Existe ou não almoço grátis? Esse é um dos grandes debates da biologia contemporânea. O gesto desinteressado do verdadeiro altruísmo parece ser uma impossibilidade evolutiva. Um comportamento só pode ser qualificado de altruísta se ele traz benefícios para os outros e custos para quem o pratica. Ou seja, o altruísta está diminuindo sua aptidão para favorecer a dos outros. Suas chances de sobreviver e de reproduzir são menores, enquanto todos os demais – inclusive os egoístas – levam vantagem. A longo prazo, o altruísta deveria ser levado à extinção, deixando o campinho livre para que o egoísmo grasse como erva daninha.
A luta pela sobrevivência parece favorecer mais os George Soros do que as madres Teresas. E no entanto ainda existem altruístas entre nós (ou não?). Como pode ter evoluído uma característica que parece antievolutiva? Há várias explicações. Antes de voltarmos ao almoço, é preciso remontar à história dessa discussão na biologia.
Egoísmo molecular
Para o biólogo Edward O. Wilson, da Universidade de Harvard, Estados Unidos, a evolução do altruísmo é o problema teórico central da sociobiologia, ciência que busca entender em bases biológicas o comportamento social de animais. A questão já intrigava o próprio naturalista inglês Charles Darwin, que em 1871, na obra A Origem do Homem, utilizou a seleção de grupo para explicar a evolução da moralidade humana. O comportamento moral, ensina Darwin, não traz vantagem para o indivíduo, que lucraria mais desobedecendo as regras para agir de acordo com sua vontade própria. Mas uma tribo regida por valores que enfatizem “o espírito de patriotismo, fidelidade, obediência, coragem e solidariedade” certamente será mais coesa e organizada e assim terá maiores chances de vitória na disputa por recursos naturais ou territórios com tribos menos virtuosas. A seleção natural, portanto, agiria não somente sobre indivíduos, mas também sobre grupos competidores.
Darwin, no entanto, colocava mais ênfase na seleção individual, na luta de cada um contra todos, e não desenvolveu plenamente o conceito de seleção de grupo. Na primeira metade do século 20, os cientistas usavam os diferentes níveis de seleção sem muito rigor. Recorriam ao grupo ou ao indivíduo conforme a idiossincrasia ou a conveniência ditassem. A seleção de grupo ganhou versões esquisitas. Acreditava-se até que os pássaros regulariam o número de ovos para evitar a explosão populacional, garantindo assim que todos tivessem seu quinhão de recursos naturais. A algazarra das aves em seus ninhos seria uma prova da natureza conscienciosa dessas criaturas: cantando e ouvindo suas parceiras cantar, elas conseguiriam aferir a densidade populacional da espécie. Ninguém ainda provou que as aves são capazes de conduzir essa curiosa forma de censo. Alguns ornitólogos sugerem que os pássaros na verdade diminuem o número de ovos quando há pouca comida.
Vale lembrar que Darwin montou a teoria da seleção natural sem sequer desconfiar da existência dos genes. Na primeira metade do século passado, genética e evolução foram combinadas no que os biólogos chamam de teoria sintética. E, a partir dos anos 60, uma nova revolução científica deu a primazia absoluta ao gene na luta pela sobrevivência. Essas pequenas seções do DNA são as unidades replicadoras básicas. Graças à sua habilidade ímpar de produzir cópias de si mesmos, os genes que você carrega em cada uma de suas células já estiveram presentes nos seus antepassados e serão transmitidos a seus descendentes. Você, leitor, é só um recipiente transitório. Portanto, é no interesse do gene – e não do indivíduo e muito menos do grupo – que a seleção natural opera. Os nomes fundamentais dessa corrente são os biólogos George C. Williams, da Universidade Estadual de Nova York, Estados Unidos, e William Hamilton, falecido em 2000, considerado um dos maiores teóricos da evolução de todos os tempos.
Hamilton desenvolveu o conceito de seleção de parentesco. Quando você come na casa de um parente, pode ter certeza de que esse não é um free lunch: ele já está pago em moeda genética. Nossa generosidade em relação aos parentes começa no DNA. Segundo a teoria de Hamilton, o sacrifício por um parente compensa na proporção da semelhança genética com ele. Assim, a aptidão reprodutiva de um indivíduo não se mede apenas pelo número de filhos que ele consegue ter, mas também inclui parentes próximos que carregam frações de sua carga genética. Você compartilha, por exemplo, metade dos genes com seu irmão ou irmã (na verdade, todos nós compartilhamos cerca de 90% do genoma, mas estamos considerando só os genes que variam na espécie humana). Portanto, do ponto de vista evolutivo, vale a pena se sacrificar por um irmão se o sacrifício custar a você no máximo a metade do benefício que traz a ele.
A melhor síntese da teoria talvez esteja em um gracejo do geneticista britânico J.B.S. Haldane, antecessor de Hamilton.Perguntado se daria a vida por um irmão, Haldane respondeu: “Não, mas daria por dois irmãos ou oito primos”.
Ainda mais feliz na síntese foi outro biólogo inglês – Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, Reino Unido. Em 1976, o título do seu livro O Gene Egoísta resumiu tudo o que a biologia mais recente estava propondo. Na trilha de Williams e Hamilton, Dawkins enfatiza o papel fundamental da genética na seleção natural. Para ele, nós somos apenas “máquinas de sobrevivência”, robôs a serviço dos genes – e “nós” inclui todos os seres vivos, da bactéria ao físico quântico. A imagem do robô atraiu muita crítica. Nas edições mais recentes do livro, uma nota de Dawkins esclarece que não somos controlados pelo nosso genoma. Sempre que usamos um método contraceptivo, por exemplo, contrariamos o desígnio único do gene: fazer cópias de si mesmo.
A despeito (ou por causa) de toda polêmica, os princípios expostos em O Gene Egoísta tornaram-se, na expressão do próprio Dawkins, “ortodoxia de manual”. Ou pelo menos é assim entre os cientistas, já que o senso comum conservou idéias anteriores a Williams e Hamilton. Pergunte a um amigo – que não seja biólogo, bem entendido – como funciona a seleção natural. Provavelmente, lá pelas tantas ele vai falar em “perpetuação da espécie”. Dawkins ensina que não é isso que está realmente em causa. Exemplo cruel mas esclarecedor: quando um leão junta-se a um novo grupo de fêmeas, ele muitas vezes mata os filhotes que elas tiveram com outros machos. Ele não está minimamente interessado em perpetuar a espécie. Quer apenas que as leoas estejam devotadas exclusivamente aos seus filhotes, herdeiros de sua preciosa carga genética.
Carne Sexy
A teoria do gene egoísta pode parecer uma forma desencantada de ver o mundo vivo. Ela contradiz não só as noções mais vulgares (e simpáticas) de evolução que circulam por aí. Desafia também aquele papo new age de viver em harmonia com a natureza, de entrar em sintonia com a mãe terra. Pois é: nada disso tem sustentação na ciência de Williams, Hamilton e Dawkins. A natureza não é harmônica e guarda tantos ou mais exemplos de egoísmo quanto de altruísmo. Tome os pingüins, por exemplo. Do alto das geleiras onde se agrupam, é difícil discernir se há predadores no mar abaixo. Se fossem altruístas, cada um se ofereceria para pular primeiro e verificar se a barra está limpa. Não é o que acontece: geralmente, um pingüim empurra o outro e vê se a vítima não é atacada.
A seleção de parentesco tem sido utilizada para explicar a extraordinária organização que vemos nos chamados insetos sociais. Se a cooperação em um formigueiro ou em uma colméia parece impecável, é porque geralmente todos são filhos da mesma rainha, o que os torna geneticamente semelhantes. Quando uma abelha operária resolve colocar ovos – o que raramente ocorre –, suas colegas os destroem, pois o filho de uma “irmã” será geneticamente mais distante delas do que os filhos da rainha-mãe. No formigueiro, as coisas são mais simples: todas as operárias são estéreis. “Em muitos sentidos, nós, humanos, somos menos cooperativos do que os insetos sociais”, diz o biólogo Robert Trivers, da Universidade de Rutgers, em Nova Jersey, Estados Unidos. Mas, complementa ele, é preciso entender que são dois sistemas muito distintos: “Entre as formigas, há parentesco próximo e, em geral, muito pouco conflito interno.
Entre nós, há um sistema de altruísmo recíproco com um meio de troca – o dinheiro – que uniu o mundo inteiro em uma economia interligada, mas com muito mais conflito interno e muito menos altruísmo”.
Em 1971, Trivers formulou, com o incentivo de Hamilton, a teoria do altruísmo recíproco, que é, de forma simplificada, a idéia de que uma mão lava a outra. Para explicar esses modelos, os biólogos utilizam formulações matemáticas, valendo-se especialmente da teoria dos jogos, que elabora equações capazes de explicar o mecanismo de várias formas de disputa social (para saber mais, leia a matéria “Tudo está em jogo”, na edição de abril de 2002).
Com a reciprocidade em mente, podemos voltar ao hipotético almoço do primeiro parágrafo. Afinal, por que somos aparentemente tão generosos com comida? A sociobiologia encontra as raízes desse comportamento nos primórdios do Homo sapiens, quando ainda vivíamos em tribos de caçadores-coletores. Claro que não podemos saber como era a organização social do homem primitivo, mas algumas pistas podem ser buscadas entre os caçadores-coletores do mundo moderno. Estudos antropológicos têm revelado características comuns mesmo em culturas geograficamente afastadas, como os ache do Paraguai e os !kung do deserto de Kalahari, no sul da África. Há uma divisão sexual do trabalho: as mulheres coletam raízes e frutos; os homens saem à caça. Os vegetais obtidos pelas mulheres são geralmente consumidos somente pela família; a carne trazida pelos homens é dividida com a tribo de forma igualitária.
É a reciprocidade em prática: uma vez que o sucesso da caçada depende não somente de habilidade e esforço, mas também de sorte, é provável que mesmo um bom caçador muitas vezes termine o dia de mãos vazias. Por isso, é essencial que ele possa contar com uma porção da caça dos outros. Influi aqui também o fato de a carne ser um bem perecível. O caçador não seria capaz de comer sozinho um dos mamutes que ainda andavam por aí quando surgiu o ser humano.
Mas o que impede o Macunaíma da tribo de vadiar enquanto seus companheiros arriscam-se na caçada? E por que o bom caçador deveria dividir seu produto de forma tão equânime? Foi ele quem caçou – por que não ficaria com pedaço maior? Nesse ponto entra o sistema de recompensas e punições que reforça o altruísmo recíproco. Recusar-se a dividir carne seria quebrar a etiqueta e expor-se à vergonha pública. E o bom caçador também tem suas vantagens: é considerado o homem mais sexy da tribo. Consegue parceiras com mais facilidade, seja para o casamento, seja para casos extraconjugais.
Ecossistemas Projetados
Os modelos de seleção de parentesco e altruísmo recíproco, como se viu, abrem espaço para algumas formas de altruísmo. Mas quem faz o bem somente aos seus não é generoso – é nepotista. E podemos qualificar de altruísmo aquilo que fazemos com vistas a uma retribuição futura? Fica a sensação de que, sob a pele de cordeiro do altruísmo, vamos sempre encontrar um lobo egoísta. Aliás, é exatamente o que afirmou em 1974 o biólogo americano Michael Ghiselin: “Arranhe um altruísta, e você verá um egoísta sangrar”. A biologia, amparada pela teoria dos jogos, parece identificar um fundo de interesse em qualquer gesto desprendido. Peter Singer, filósofo norte-americano da Universidade de Princeton, conhecido por sua defesa dos direitos dos animais, certa vez argumentou que os bancos de sangue seriam uma prova de altruísmo. O sangue estocado serve igualmente a doadores e não-doadores; portanto, ninguém doa sangue com vistas a um benefício no futuro.
O biólogo Richard Alexander, da Universidade de Michigan, Estados Unidos, retrucou lembrando que olhamos com respeito o sujeito que volta de um banco de sangue com algodão e esparadrapo no braço. A retribuição vem na forma do reconhecimento social.
Mais recentemente, porém, alguns cientistas voltaram a admitir a seleção de grupo. É o que diz o biólogo David Sloan Wilson, da Universidade Estadual de Nova York: “Não há dúvida de que o preconceito contra a seleção de grupo está diminuindo, mas em um ritmo terrivelmente lento e baseado mais em fatores sociológicos do que intelectuais. A maior parte dos manuais ainda a trata como heresia, fundamentando-se em obras escritas antes de o estudante universitário médio ter nascido”. A seleção de grupo foi, para ele, uma força poderosa (mas não única) na evolução da espécie humana.
Sloan Wilson trabalhou em parceira com o filósofo Elliott Sober, da Universidade de Wisconsin, Estados Unidos, para compor Unto Others (“Para os outros”, sem tradução em português), uma defesa da seleção em “múltiplos níveis”. O livro recorda que o próprio William Hamilton,tido como o papa da seleção individual, admitiu a seleção de grupo em um trabalho de 1975. A proposta básica de Unto Others é a de que seleção individual e de grupo podem coexistir, ainda que trabalhem em sentidos opostos – daí a expressão “seleção em múltiplos níveis”. Já vimos que o altruísta, sendo o único a pagar a conta da bondade, sacrifica a própria aptidão reprodutiva em prol dos demais e portanto tende a desaparecer. Sloan Wilson e Sober demonstram matematicamente que isso é verdade apenas para a seleção individual. Uma proporção maior de altruístas pode trazer vantagens adaptativas para o grupo, que assim terá melhores chances na competição com rivais.
A seleção de grupo já foi utilizada com sucesso nas granjas. Descobriu-se que os melhores resultados são obtidos selecionando para reprodução não as galinhas que individualmente põem mais ovos, mas os grupos de galinhas mais produtivos. Mais recentemente, Wilson está utilizando esses princípios para pesquisar ecossistemas microbiais em conjunto com seu aluno William Swenson. Eles criam comunidades com bilhões de micróbios de diferentes espécies. Depois, selecionam aqueles que apresentam propriedades como, por exemplo, a capacidade de decompor lixo tóxico. Os resultados, diz Wilson, têm sido positivos e abrem a possibilidade de, no futuro, projetarmos ecossistemas inteiros. “Os experimentos levam a seleção de grupo um passo adiante, pois lidam com ecossistemas de múltiplas espécies”, diz Wilson.
“Sem dúvida, as abordagens do gene egoísta e da seleção em múltiplos níveis são equivalentes. As duas estão corretas”, diz o físico e biólogo Rob Boyd, da Universidade da Califórnia, Estados Unidos. As divergências parecem dizer respeito não aos fatos, mas à interpretação. Um exemplo é o caso da divisão da carne em tribos de caçadores-coletores. Em Unto Others, Sober e Sloan Wilson partem dos mesmos dados etnográficos, mas reformulam as perguntas. Afinal, por que surgiria um sistema de punições e retribuições para encorajar a generosidade do caçador? Os dois autores dizem que, na medida em que os atos de punir e recompensar também envolvem algum custo – embora menor do que o esforço despendido em uma caçada –, eles também poderiam ser considerados altruístas.
Para Boyd, a evolução cultural pode ser tão importante quanto a genética na evolução do altruísmo. De certo modo, ele as considera como duas forças inextrincáveis no desenvolvimento social de nossa espécie – afinal, a sofisticação lingüística que é a base da cultura humana não seria possível se a capacidade de aprender uma língua não estivesse codificada em nosso genoma. De outra parte, muitos dos mecanismos emocionais que dão base a nosso sistema moral – a culpa ou a vergonha, por exemplo – podem ter sido depurados pela seleção natural ao longo de nossa evolução como primatas sociais. Na medida em que nos agrupamos em tribos maiores, com uma divisão do trabalho mais complexa e especializada, a necessidade de cooperação extrapolou os limites da família e nos obrigou a cooperar com estranhos. Essas novas exigências sociais teriam exercido sua pressão sobre a seleção entre grupos humanos, favorecendo o surgimento da moral. “A cultura está nos genes, mas os genes também dependem da cultura”, resume Boyd.
Texto: "Os bons rapazes terminam em primeiro"
- em um mundo de "genes egoístas", "a amabilidade morre uma morte darwiniana"; podem os "bons rapazes" terminarem em primeiro?
- Trivers: altruísmo recíproco (benefício mútuo)
- Axelrod: jogo dilema do prisioneiro
- dilema do prisioneiro
: dois jogadores anônimos possuem, cada um, duas escolhas, "cooperar" e "trair"
- na versão simples, o jogo é constituído de uma única rodada e a pontuação obtida por cada jogador depende da escolha do seu adversário; cada jogador desconhece a escolha do adversário e os pontos obtidos para cada resultado possível são conhecidos pelos dois jogadores
- quatro resultados possíveis: "recompensa" (os dois jogadores escolhem "cooperar" e recebem o mesmo número de pontos), "punição" ("os dois jogadores escolhem "trair" e recebem o mesmo número de pontos), "tentação" e "ganho do trouxa" (um jogador escolhe "trair" enquanto o outro escolhe "cooperar"; o jogador que trai recebe os pontos da "tentação" enquanto o que coopera recebe os pontos do "ganho do trouxa")
- classificação dos pontos recebidos de acordo com os resultados possíveis: "tentação" > "recompensa" > "punição" > "ganho do trouxa"
- quando dois jogadores absolutamente racionais se enfrentam num jogo do tipo dilema do prisioneiro simples, a melhor escolha em qualquer situação é "trair", ainda que o resultado obtido pelos dois jogadores seja ruim ("punição")
- o termo "dilema" faz alusão à lógica paradoxal do jogo: a traição mútua é inevitável, ainda que ambos os jogadores alcançassem um resultado muito melhor se optassem pela cooperação; isso decorre do fato de que cada jogador sabe que seu adversário poderá ceder à tentação de "trair"
- possibilidade de acordo ou confiança permitiria cooperação mútua > jogo dilema do prisioneiro repetido
- no jogo dilema do prisioneiro repetido, os jogadores jogam repetidamente a versão simples por um número indefinido de vezes; isso permite a cada jogador "testar" seu adversário quanto à possibilidade de cooperação mútua
- desenvolvimento da confiança entre os jogadores permite o ganho às custas da banca ao invés de às custas do adversário
- a cooperação mútua torna-se possível porque cada jogador tem conhecimento das escolhas anteriores do adversário e pode, na partida seguinte, retaliar uma traição
- aversão interativa do jogo permite aos jogadores explorarem estratégias variadas de cooperação e traição valendo-se de critérios como "retaliação" e "arrependimento"
- Axelrod: competição entre 14 estratégias diferentes no jogo dilema do prisioneiro repetido; a estratégia vencedora seria aquela que obtivesse a maior soma de pontos
- resultado: estratégia vencedora foi a mais simples - "olho por olho"
- "olho por olho" é uma estratégia que começa cooperando e, a partir da segunda partida, repete a escolha anterior do adversário (ou seja, coopera se ele tiver cooperado e trai se ele tiver traído)
- as características das estratégias que obtiveram os melhores resultados foram "amabilidade" e "indulgência"
- "amabilidade": característica da estratégia que só trai em retaliação a uma traição anterior; uma estratégia que não é "amável" é chamada de "maldosa"
- "indulgência": característica da estratégia que após trair em retaliação a uma traição anterior, volta a cooperar se o adversário se mostrar "arrependido"; uma estratégia que não é "indulgente" é chamada de "inclemente"
- o sucesso de cada estratégia depende das estratégias concorrentes
- Axelrod e Hamilton: análise do jogo dilema do prisioneiro repetido sob a ótica do conceito de EEE > existiriam estratégias que seriam boas em qualquer situação?
- "robustez": característica da estratégia que alcança bons resultados contra uma ampla variedade de estratégias concorrentes
- nova competição entre 64 estratégias convertia o número de pontos em "descendentes", cópias da estratégia que se enfrentariam na "geração" seguinte
- em termo evolutivos, uma estratégia "robusta" é aquela que se torna numerosa na população e se sai bem contra suas cópias
- análise da sucessão evolutiva mostrou a variação do sucesso de cada estratégia no decorrer do tempo > após mil "gerações", as estratégias "sobreviventes" eram predominantemente "amáveis" e "retaliadoras", como "olho por olho"
- estratégias "amáveis" e "retaliadoras" são imunes à invasão por estratégias "maldosas", mas são suscetíveis à invasão por outras estratégias "amáveis"
- estratégias muito "amáveis"
 e "indulgentes" tendem a ser invadidas por estratégias "maldosas"
- "olho por olho" não é, a rigor, uma EEE, porque é suscetível à invasão por outras estratégias amáveis ou combinações variadas de estratégias muito "amáveis" e "indulgentes" e estratégias"maldosas" > conceito de estratégia coletivamente estável
- estratégias coletivamente estáveis concorrentes possuem diferentes zonas de atração e frequências críticas
- a situação inicial determina qual das estratégias coletivamente estáveis se tornará dominante na população
- forças não orientadas como a viscosidade da população podem levar a população para a zona de atração da estratégia coletivamente estável alternativa
- uma estratégia "invejosa" é aquela em que o jogador busca obter um ganho superior ao do adversário ao invés de cooperar com ele e explorar a banca
- estratégias "invejosas", no geral, não se saem bem no jogo dilema do prisioneiro repetido
- jogos de soma zero: vitória de um jogador acarreta derrota do adversário
- jogos de soma não zero: ambos os jogadores podem ganhar às custas da banca
- em situações do cotidiano, pessoas podem ser manipuladas para perceber um jogo de soma não zero como um jogo de soma zero
- em jogos de soma não zero, a cooperação é possível quando a "sombra do futuro" é suficientemente longa
- previsão sobre o fim do jogo faz com que os jogadores fiquem tentados a "trair": quanto maior for a estimativa sobre a duração do jogo, maior será a tendência dos jogadores para adotar estratégias "amáveis", "indulgentes" e "não invejosas"; quanto menor for a estimativa sobre a duração do jogo, maior será a tendência dos jogadores para adotar estratégias "maldosas", "inclementes" e "invejosas"
- Primeira Guerra Mundial: política "viva e deixe viver" > importância da previsibilidade e do ritual na manutenção de um padrão estável de confiança mútua
- jogos dilema do prisioneiro repetido na natureza: figueiras e vespas-do-figo, Hypoplectrus nigricans, morcegos-vampiros
Dawkins, R. (2009). O gene egoísta (3a ed.). São Paulo, SP: Companhia das Letras.
Texto: "Tudo está em jogo"
- no cotidiano, frequentemente o interesse individual se choca com o interesse coletivo
- se os indivíduos agissem apenas de acordo com seus próprios interesses, o resultado seria a ruína de todos
- Nash: estudo sobre a dinâmica de situações que configuram conflitos de interesse
- Neumann (década de 40): criador do ramo da Matemática conhecido por Teoria dos Jogos > objetivo: compreender a lógica dos processos de decisão (o que é preciso para haver colaboração entre os jogadores? em quais situações o mais racional é não cooperar? quais políticas devem ser adotadas para assegurar a colaboração entre os jogadores?)
- premissa: jogadores tendem a se comportar de forma a maximizar o ganho individual
- indivíduos tendem a explorar o grupo, obtendo benefícios às custas dos outros; como todos agem da mesma forma, o resultado é a ruína coletiva > tragédia dos comuns
- a tragédia dos comuns é o resultado da exploração individual de recursos coletivos; a tragédia dos comuns só pode ser evitada introduzindo no jogo regras que estimulem o altruísmo ou punam o egoísmo individual
- uma forma de prevenir a tragédia dos comuns é dividir o recurso coletivo entre os indivíduos > custos e benefícios passam a ser individuais
- estratégia de equilíbrio: situação em que o interesse individual coincide com o interesse coletivo
- utilidade: resultado buscado pelos jogadores
- estratégia de jogo é função da utilidade que o jogador atribui a um resultado
- jogos de soma zero: vitória de um jogador implica na derrota do adversário > sem possibilidade de cooperação entre os jogadores
- jogo dilema do prisioneiro: lógica individual leva à traição mútua > resultado é ruim para ambos os jogadores
- Axelrod (década de 80): jogo dilema do prisioneiro repetido
- estratégia vitoriosa: "olho por olho"
- "olho por olho" começa cooperando e depois repete o lance anterior do adversário
- "olho por olho" é uma estratégia "amável", "vingativa", "generosa" e "transparente"
- a perspectiva de reencontro no futuro é condição para que "olho por olho" possa prosperar; para que a cooperação se estabeleça, a sombra do futuro deve ser longa; quando a sombra do futuro é curta, a tentação de trair prevalece
- seres humanos buscam a cooperação em razão do seu benefício no longo prazo; procuramos parecer confiáveis para podermos nos engajar em jogos de soma não zero
- emoções dão credibilidade aos jogadores no contexto social; por meio delas, nos afirmamos como jogadores confiáveis que buscam a cooperação
Referência:
Kalko, A., & Nobrega, C. (2002, abril). Tudo está em jogo. Superinteressante. Recuperado de
http://super.abril.com.br/ciencia/tudo-esta-jogo-442854.shtml
Texto: "Histórias incríveis sobre apatia e altruísmo"
- Becker: escolhas econômicas x sentimentos
- Bernheim, Shleifer e Summers: altruísmo estratégico (competição entre irmãos)
- altruísmo legítimo (catástrofes): por quê?
- Homo economicus: decisões racionais baseadas em interesses próprios
- motivação: altruísmo legítimo x interesse próprio > ação (intenção?)
- altruísmo x outros fatores motivacionais > estudos experimentais
- Nash (década de 50): experimentos com o "dilema do prisioneiro", problema da teoria dos jogos e teste clássico de cooperação estratégica
- Ultimatum (década de 80): jogador A recebe uma quantia que pode dividir com o jogador B; se o jogador B aceita a oferta do jogador A, ambos dividem a quantia; se o jogador B recusa a oferta do jogador A, ambos saem sem ganhar nada
- geralmente o jogador A oferece uma proporção razoável da quantia recebida para o jogador B: por quê? (evitar rejeição? altruísmo?)
- motivação do jogador A: propósito egoísta motiva comportamento aparentemente altruísta
- Ditactor: jogador B é obrigado a aceitar as condições de partilha impostas pelo jogador A; condições: jogadores anônimos, lance único, ausência de punição para o comportamento egoísta; duas possibilidades de partilha (meio a meio ou favorecendo o ditador)
- altruísmo x egoísmo: sentimentos diferentes > comportamentos diferentes
- Ditactor: impulso altruísta? (75% dos participantes dividiam a quantia meio a meio); replicações sistemáticas e variações levaram ao mesmo resultado > Homo altruisticus?
- doação de órgãos: oferta inferior à demanda > possibilidade de doação de órgãos por doadores vivos
- Irã: compra de órgãos pelo governo; EUA: International Kidney Exchange Ltda. > National Organ Transplant Act: proibição do comércio de órgãos
- economia comportamental: análise das motivações humanas na tomada de decisões
- List: laboratório x mundo real
- experimento com figurinhas: cliente define valor para uma figurinha e o negociador lhe entrega a figurinha de valor correspondente; negociador pode trapacear oferecendo figurinhas de valor mais baixo do que o estipulado e cliente pode retaliar ofertando valores mais baixos para as figurinhas
- resultado do experimento em situação controlada pelo experimentador: clientes ofereciam valores altos e negociadores lhes davam figurinhas de valor compatível (clientes confiavam e negociadores correspondiam com honestidade)
- modificação do experimento para situação real: clientes e negociadores em seus postos
- resultado do experimento modificado: negociadores trapaceavam; negociadores de outras cidades trapaceavam mais do que negociadores locais (preocupação com a reputação ou com a retaliação do cliente)
- resultados dos experimentos de campo contradiziam os resultados dos experimentos de laboratório
- "confiança" e "honestidade" seriam verdadeiros ou apenas resultado da forma como o experimento era conduzido?
- versão modificada do Ditactor: jogador A poderia doar parte da quantia recebida ou ainda tirar um dólar do jogador B
- resultados: doações diminuíram e parte dos jogadores optou por tomar um dólar dos outros jogadores (onde foi parar o altruísmo?)
- numa outra versão, em que o jogador A também poderia tomar todo o dinheiro do jogador B, as doações feitas pelo jogador A foram ainda menores e boa parte optou por tomar todo o dinheiro do jogadorB
- numa quarta variação do experimento, em que os jogadores deveriam trabalhar para receber o dinheiro, tanto as doações quanto as tomadas de dinheiro diminuíram
- o comportamento varia quando novas opções são oferecidas > os resultados do último experimento são mais condizentes com a realidade
- problemas dos experimentos de laboratório: viés de seleção dos participantes, escrutínio do experimentador
- Bateson: experimento com a "caixa da honestidade" (fotografias de flores x fotografia de olhos) > pessoas doavam três vezes mais quando se sentiam observadas
- outros fatores: comportamento humano é influenciado por um conjunto complexo de incentivos, costumes sociais, referências e experiências anteriores; decisão é resultado das possibilidades de escolha e dos incentivos envolvidos
- contexto do laboratório é excessivamente artificial: o que se viu foi "cooperação forçada" e não altruísmo
- altruísmo impuro: motivação é parecer bom ou se sentir bem
- conclusão: as pessoas reagem a incentivos e são manipuláveis
Dubner, S. J., & Levitt, S. D. (2010). Superfreakonomics: o lado oculto do dia a dia. Rio de Janeiro, RJ: Campus.
Texto: "O dilema do prisioneiro"
- jogo dilema do prisioneiro: interesse individual x interesse coletivo (bem comum); benefício individual depende da decisão do outro
- o jogo dilema do prisioneiro se configura quando: o benefício individual é máximo quando há benefício próprio e prejuízo do outro (ganho/perda), alto quando há benefício próprio e do outro (ganho/ganho), baixo quando há prejuízo próprio e prejuízo do outro (perda/perda) e mínimo quando há prejuízo próprio e benefício do outro (perda/ganho)
- tradução matemática do jogo dilema do prisioneiro: se ambos cooperam: 3/3 pontos ("recompensa"), se ambos traem: 1/1 ponto ("punição"), se um trai e outro coopera: 5/0 ("tentação"/"pagamento do trouxa"); "tentação" > "recompensa" > "punição" > "pagamento do trouxa"
- o jogo dilema do prisioneiro prevê que dois jogadores, prevendo o custo/benefício da sua decisão e considerando a decisão do outro, chegam à situação perda/perda
- a conclusão do jogo dilema do prisioneiro é que é sempre mais vantajoso trair do que cooperar ("egoísmo lógico")
- situação prevista pelo jogo dilema do prisioneiro não corresponde à realidade: pessoas frequentemente cooperam entre si
- indivíduos egoístas, guiados pelo interesse próprio, podem cooperar entre si e trabalhar pelo bem comum
- quando o jogo dilema do prisioneiro é repetido infinitas vezes entre os mesmos jogadores, o comportamento de um jogador torna-se função do comportamento prévio do parceiro; nessa situação, os jogadores tendem a cooperar, se beneficiando mutuamente
- quando dois jogadores disputam uma situação do tipo "dilema do prisioneiro" a melhor estratégia, para qualquer jogador com qualquer adversário é a "olho por olho"
- "olho por olho" iguala o comportamento do jogador com o comportamento prévio do adversário
- características da estratégia "olho por olho": amabilidade, retaliação, perdão e clareza
- "olho por olho" favorece a cooperação entre os jogadores, permitindo que ambos se beneficiem
- reciprocidade é "a troca de favores egoisticamente desejados"; quanto mais frequentemente dois indivíduos interagem, mais provável é que eles cooperem entre si
- a condição para que "olho por olho" funcione é a existência de uma relação estável e repetitiva; encontros frequentes favorecem a cooperação, encontros esporádicos estimulam a deserção
Ridley, M. (2000). As origens da virtude: um estudo biológico da solidariedade. Rio de Janeiro, RJ: Record.

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