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CENTRO UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE TANCREDO NEVES – UNIPTAN Sentença da Corte Interamericana de Direitos humanos Kelma da Silva Souza Sofia Chaves Resende Yara Christina Alves de Andrade São João Del Rei 2018 Fonte:JUS.COM.BR Em 1992, nosso país ratificou a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conhecida como o Pacto de San José da Costa Rica, e, em 1998, houve o reconhecimento da jurisdição da Corte Interamericana, órgão previsto naquela Convenção com competência para julgar os Estados-partes por violações de direitos humanos. A primeira condenação do Estado Brasileiro pela Corte Interamericana foi em 2006, no Caso Damião Ximenes Lopes, o que sugeriu a oportunidade de se pesquisar os mecanismos possíveis de cumprimento das sentenças proferidas por este órgão internacional. Tudo começou em 22 de novembro de 1999, quando a brasileira Irene Ximenes Lopes Miranda exerceu seu direito de petição perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Deixando cientes as autoridades internacionais sobre as atrocidades cometidas contra seu irmão Damião Ximenes Lopes, que culminaram com sua morte dentro de uma clínica psiquiátrica em Sobral-CE. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos é um órgão também criado pelo Pacto de San José com competência para examinar as comunicações encaminhadas por indivíduos ou entidades não-governamentais contendo violação de direito humano por um Estado-parte. Nesse sentido, foi a denúncia de Irene, que alegou culpa do Estado Brasileiro pela morte de seu irmão, uma vez que a clínica em que ele foi internado prestava serviços públicos pelo SUS – Sistema Único de Saúde, além de ser injustificável a demora na prestação judicial e omissão na condução da investigação dos fatos. Em regra, ao receber a denúncia, a Comissão decide sobre sua admissibilidade, solicita informações ao governo denunciado e, se entender necessário, pode ainda encaminhar o caso para julgamento pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Vale ressaltar que somente a Comissão e os próprios Estados-partes possuem legitimidade para encaminhar um caso à Corte, que é formada por sete juízes indicados pelos Estados-membros da OEA – Organização dos Estados Americanos. Sua competência em juízo deriva de declaração específica reconhecendo-a, o que foi feito pelo Brasil mediante o Decreto Legislativo nº 89, de 3 de dezembro de 1998. Após longa análise do caso de Damião Ximenes Lopes (caso nº 12.237), a Comissão Interamericana o apresentou para julgamento pela Corte em outubro de 2002. Verificou-se que Damião fora vítima de maus tratos e tortura que o levaram à morte dentro de uma clínica psiquiátrica conveniada ao SUS onde estava internado para tratamento. Somada a essa barbárie, foi constatada a lentidão da Justiça Brasileira no desfecho dos processos civil e criminal que, após sete anos depois do ocorrido, ainda não haviam sido concluídos. Sendo assim, o Brasil acabou sendo condenado por violação dos direitos consagrados nos artigos 4º (direito à vida), 5º (direito à integridade pessoal), 8º (direito às garantias judiciais) e 25 (direito à proteção judicial) do Pacto de San José. Esta sentença impôs ao Brasil a obrigação de pagar uma indenização aos familiares da vítima, além de condená-lo às medidas de não repetição. Assim, realizando programas de capacitação para os profissionais de atendimento psiquiátrico do SUS, dentre outras políticas públicas, a fim de se evitar a ocorrência de fatos similares no futuro. A Corte Interamericana tem construído sólida jurisprudência no sentido de se distinguir reparações e indenizações no sentido de que a primeira constitui gênero e a segunda espécie. Assim, costuma utilizar o conceito de reparação integral que contempla os seguintes elementos: a) garantia de não repetição (o Estado deve assegurar que os atos lesivos não se repetirão); b) obrigação de investigar os fatos e sancionar os responsáveis (trata-se de medida que exige o devido processo legal e o tempo razoável para o seu desfecho); c) reparação material de natureza pecuniária e simbólica (indenização). É de conhecimento geral que a natureza dos direitos protegidos e reconhecidos por uma sentença da Corte já é motivo bastante para o Estado brasileiro buscar mecanismos que assegurem a efetividade da tutela jurisdicional deferida e não coloque obstáculos que possam significar, em última instância, a negação da própria justiça. No entanto, o Brasil ainda não se posicionou legalmente sobre a forma de cumprimento das decisões da Corte, apesar de já ter sido condenado novamente e ainda existirem outros processos em trâmite contra nosso país para serem julgados. A despeito da falta de legislação interna orientando a forma a ser seguida, o Estado Brasileiro não se furtou ao cumprimento das sentenças condenatórias da Corte. Em relação às políticas públicas que devem ser implementadas pelo Estado como "medida de não-repetição", no caso específico de Damião Ximenes Lopes, algumas foram adotadas e reconhecidas na própria sentença, com destaque para a aprovação da Lei nº 10.216/2001, a Lei da Reforma Psiquiátrica. Não contente, a Corte reiterou a necessidade de o Estado brasileiro continuar desenvolvendo um programa de formação e capacitação de médicos psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, auxiliares de enfermaria e todo o pessoal vinculado à prestação do serviço público de saúde mental. Ainda no caso de Damião, em relação à indenização pecuniária a ser paga pelo governo brasileiro, foi editado um Decreto (nº 6.185/2007) autorizando a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República a dar cumprimento à sentença exarada pela Corte Interamericana. Considerando a criação prévia de uma rubrica orçamentária "para pagamento de indenização a vítimas de violações das obrigações contraídas pela União por meio de adesão a tratados internacionais de proteção de direitos humanos".
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