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1 “UM TEXTO DECISIVO”: (RE) LEITURAS DE “O PERCEVEJO” PELO TEATRO BRASILEIRO Cássia Abadia da Silva* RESUMO: Ao tomar “O Percevejo”, texto dramatúrgico escrito em 1928 pelo russo Vladímir Maiakóvski e suas encenações no Brasil se tem a finalidade de pensar a historicidade, a qual faz interligar duas áreas do conhecimento distintas, História e Teatro, não é por acaso que escolhemos trabalhar com “um texto decisivo”, que nos remete a um contexto histórico importante da Rússia soviética e da própria vida de seu autor, quem dedicou toda sua produção artística em prol do ideal revolucionário. Contudo este texto teatral ganha outra historicidade com suas (re) leituras para os palcos do Rio de Janeiro (1981) e de São Paulo (1983), tendo em vista que a sociedade brasileira passava por um momento decisivo de sua história, o fim da ditadura militar e a redemocratização. Deste modo quais foram às intenções do diretor brasileiro, Luís Antonio Martinez Corrêa ao realizar este empreendimento? Que temas foram levantados? Qual foi a recepção da crítica especializada e do público em geral? Estas são algumas questões que norteiam nossa reflexão. PALAVRAS-CHAVE: História; Teatro brasileiro; “O Percevejo”; Vladímir Maiakóvski. A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. Segundo a bela imagem de Michel de Certeau, o leitor é um caçador que percorre terras alheias. Apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente – o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores. Toda história da leitura supõe, em seu principio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro lhe pretende impor. Mas esta liberdade leitora não é jamais absoluta. Ela é cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções e hábitos que caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. Os gestos mudam segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as razões de ler. Novas atitudes são inventadas, outras se extinguem. Do rolo antigo ao códex medieval, do livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história das maneiras de ler. Elas colocam em jogo a relação entre o corpo e o livro, os possíveis usos da escrita e as categorias intelectuais que asseguram sua compreensão.1 * Mestranda em História na linha “História e Cultura” do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia (PPGHI – UFU), bolsista CNPq. Graduada em História pela mesma instituição. 1 CHARTIER, Roger. A aventura do livro – do leitor ao navegador: conversações com Jean Lebrun. 1ª reimpressão. São Paulo: Editora Unesp/ Imprensa Oficial, 2009, p.77. 2 Irresistível não começar este texto acerca da nossa apresentação oral sem nos remeter a presença mais que esperada nesta quarta edição do congresso internacional de história, o historiador Roger Chartier, nome de grande destaque quando se toma como referência teórico-metodológica a história cultural, assim como a historiografia francesa e temas ligados à história dos livros e da leitura. Deste modo tomamos as palavras inicias do capítulo “O leitor entre limitações e liberdade” do seu livro “A aventura do livro – do leitor ao navegador”, que se trata de uma conversa mais que instigante com Jean Lebrun que lhe indaga questões sobre as diferentes formas de escrita, suporte e circulação dos textos, desde sua forma “clássica” em livros aos virtuais (formas que convivemos e manuseamos em nossa contemporaneidade), o papel do autor, do leitor dentre outras, além das belas imagens que compõe o mesmo. O trecho escolhido dessa obra de Chartier também nos instiga a refletir a propósito das questões que escolhemos discutir tanto em nossa apresentação, quanto nesta escrita sobre, afinal propomos pensar sobre a leitura de um texto dramático, quais foram suas apropriações, lembrando que toda “leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados”, não menos importante é pensar a maneira que seus leitores tomaram com contato com mesmo e sua releitura para os palcos. Contudo primeiramente gostaria de comentar donde advém esta proposta, um pouco de nossa trajetória. A saber, as questões que ora apresentamos são algumas considerações da nossa pesquisa de mestrado que está sendo desenvolvida no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia. “Da Rússia soviética aos palcos brasileiros: em cena “O Percevejo” de Vladímir Maiakóski” (título de nossa pesquisa) tem como eixo central de análise e reflexão o texto teatral “O Percevejo” e suas encenações. Cabe destacar que a obra em conjunto do russo Vladímir Maiakóvski sempre nos chamou atenção, principalmente a poética e a teatral. Já nosso primeiro contato com o percevejo se deu através do texto, em seu formato de livro, publicação de 2009 da editora 34, tradução de Luís Antonio Martinez Corrêa, revisão e posfácio de Boris Schnaiderman. Logo de início ficamos encantados com o conteúdo do mesmo e intrigados com aquela publicação, pois a obra dramatúrgica de tal autor ainda era inédita neste formato para o grande público. 3 Depois de alguns anos de inquietação quanto a essa obra, decidimos torná-la nosso objeto de pesquisa, começamos nossa caminhada procurando saber um pouco mais sobre a sua circulação, como o público brasileiro teria a recebido, qual a posição e os comentários da crítica especializada, que assuntos teriam surgido, afinal essa foi à primeira questão do tempo do historiador, que nos fez estudá-la. Chamava muito a nossa atenção aquele livro ser publicado naquele momento, 80 anos depois de sua escrita, os temas levantados de certa forma nos incomodava, como falar de futuro, ou mesmo fazer projeções sobre o futuro? Tanto no campo da historiografia, quanto na sociedade como um todo tivemos uma mudança radical em relação a tal temporalidade, se antes as pessoas se valiam do conhecimento histórico para “reparar” os erros do passado e tentar não cometê-los no futuro, ou para realizar projeções, com todos os acontecimentos “catastróficos”, “eventos traumáticos” do século XX, essa crença em relação ao futurismo entrou em crise e assim no campo da história vemos emergir um novo regime histórico que vem de encontro com as próprias atitudes das pessoas, o presentismo2. Nossa contemporaneidade vive um paradoxo, se por um lado os indivíduos apresentam um enorme interesse pelo o passado, pela memória, por outro lhes buscam apenas como uma forma de entretenimento e curiosidade, nossa relação com tempo evidenciam cada vez mais esse regime do presentismo, não só pela sensação de aceleração do tempo, mas pelo temor que causa pensar sobre o futuro, afinal o que parece prevalecer é o aqui e agora, amanhã deixa para amanhã. Para que nosso (futuro) leitor possa entender um pouco mais dessas inquietações ressaltadas acima voltemos para algumas informações sobre o texto e seu enredo. Escrito entre 1928 e 1929 é considerado o ápice da produção teatral do dramaturgo, a obra-prima da arte de vanguarda russa, “um texto decisivo” como chama Boris 2 Para maiores informações sobre o regime presentista e a relações com tempo na contemporaneidade consultar as seguintes obras e autores: GUIMARÃES, Manuel Luiz Salgado. O presente do passado: as artes de Clio em tempos de memória. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel; GONTIJO, Rebeca (orgs.). Cultura política e leituras do passado: Historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. GUMBRECHT, Hans Ulrich. Depoisde “depois de aprender com a história”, o que fazer com o passado agora? In: NICOLAZZI, Fernando; MOLLO, Helena Miranda; ARAUJO, Valdei Lopes (orgs.). Aprender com a história? O passado e o futuro de uma questão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011. HARTOG, François. Memória, história, presente. In: ___. Regimes de historicidades: Presentismo e experiência do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. 4 Schanaiderman no posfácio da publicação de “O Percevejo” 3. Além disso, o texto é considerado como uma tomada de consciência do autor em relação aos rumos que estava tomando o processo revolucionário, se em “Mistério-Bufo”4 texto teatral de 1918 encontramos a exaltação referente à Revolução Russa, a crença na construção de outra sociedade, de um novo homem, assim constrói uma narrativa marcada por metáforas bíblicas como o dilúvio e a peregrinação rumo à terra prometida, a qual seria para Maiakóvski a sociedade comunista. Contudo a ansiada revolução tão cantada e propagada por artistas e pela a população tornou-se um fardo demasiadamente pesado, uma peregrinação sem fim, que ao em vez de encontrarem leite e mel se defrontaram com a perseguição e eliminação das vozes destoantes em relação ao processo de stanilização, assim “O Percevejo” apresenta um olhar crítico em relação às medidas adotadas pelo governo principalmente econômicas que acarretou a alta dos produtos, a cena inicial onde os personagens estão numa feira mostra os preços exorbitantes e por outro lado o consumo excessivo e a busca por produtos supérfluos, a disseminação dos costumes pequenos burgueses. O enredo da peça é marcado por duas temporalidades distintas, as 4 primeiras cenas (As compras, O alojamento, Casamento vermelho, Incêndio) se passam em 1929 quando o personagem principal, Prissípkin, abandona sua condição de proletário, rompe com o partido e decide se casar com a filha do dono de salão de beleza, a pequena burguesa, assim ele e seu companheiro Baian (que perderá seus bens com a derrubada do Czar) vão a feira juntamente com a Mãe da noiva comprar algumas coisas para o esperado casamento vermelho, lá o ex-operário demostra fascínio por produtos efêmeros que ele faz sua futura sogra comprar, além disso, encontram sua (antiga) namorada, Zóia que descobre estar abandonada, que foi trocada por outra. No alojamento seus antigos companheiros de “classe” percebem que a ruptura de Prissípkin foi a tal ponto que havia até trocado de nome, perturbada com toda situação Zóia tenta se suicidar. Mas passemos para o casamento e sua festa onde acontece um grande incêndio, ao apagarem as chamas os bombeiros encontram os corpos de todos, menos um, que os mesmos concluem ter sido totalmente consumido pelo fogo. 3 SCHNAIDERMAN, Boris. Um texto decisivo. In: MAIAKÓVSKI, Vladímir. O percevejo. Tradução de Luís Antônio Martinez Côrrea. São Paulo: Editora 34, 2009, p. 85-101. 4 Conferir maiores detalhes quanto essa instigante que também se encontra disponível para os leitores brasileiros, traduzida pela especialista em línguas orientais da Universidade de São Paulo, Arlete Cavaliere: MAIAKÓVSKI, Vladímir. Mistério-bufo. São Paulo: Editora 34, 2012. 5 A partir da quinta cena há uma passagem temporal de 50 anos, ou seja, estamos em 1979, a cena se inicia com pesquisadores em um anfiteatro discutindo sobre uma descoberta, um corpo num bloco de gelo encontrado em um porão, após algumas avaliações consideram que se trata de uma espécie de grande prestígio no início do século XX, o operariado, logo em seguida é locado em votação se aquele corpo deveria ser descongelado ou não pelo Instituto de Ressureição, vence o descongelamento e para grande surpresa se trata de nosso velho companheiro Prissípkin que congelou com os jatos de água no incêndio de sua festa de casamento, sua primeira reação é pensar que está acordando de mais uma de suas bebedeiras, contudo ao observar aquele mundo do futuro que se dá conta do acontecido, o único elo com o passado parece ser Zóia que agora é enfermeira, mas ela o renega e arrepende por ter tentado tirar sua vida por causa dele. Ironicamente também é descongelado um percevejo, parasita extremamente combatido nas primeiras décadas, alvo de várias campanhas sanitárias, por outro lado Prissípkin com seus hábitos se torna condenável por aquela sociedade extremamente organizada, elemento subversivo e perigoso, afinal ele é responsável por espalhar diversos vírus como a bajulação, a paixão, a bebedeira. Seu fim trágico é servir de alimento para o percevejo, companheiros de descongelamento, ambos enjaulados e em exposição no Zoológico. Ainda imersos no tempo presente nos voltamos para a recepção do livro, como teria sido esse contato com o descongelado Maiakósvki? Ao tomar algumas críticas que circularam em jornais de projeção nacional como a folha de São Paulo e Estado de São Paulo percebemos uma grande preocupação com dados biográficos do autor, seu envolvimento político, seus casos amorosos e sua morte trágica, num segundo plano encontramos o enredo do livro, parecido com o que fizemos acima, entretanto com menos detalhes, João Pereira Coutinho faz um balanço final em seu texto apontando para algo significativo, observem: A publicação de "O Percevejo" permite aos leitores brasileiros revisitar o funesto presságio de Maiakóvski: uma visão do futuro que só peca por modesta. A destruição que Stálin promoveria na União Soviética, e que na realidade prolongava a violência sistemática inaugurada por Lênin, apenas pode ser comparável com a barbárie nazista. Mas a publicação de "O Percevejo" permite igualmente corrigir o abuso praticado em 1981, quando a sua encenação no Rio de Janeiro levou o elenco a alterar o final sombrio da peça com a inclusão de um poema de esperança; no fundo, a esperança de que os brasileiros talvez precisassem depois dos anos da ditadura [1964-85]. 6 O gesto, para além de abusivo, apenas partilha do mesmo tipo de ingenuidade que condenou Maiakóvski: a ingenuidade dos que acreditam que os ideais triunfarão onde os homens fracassaram. O destino da União Soviética no século 20 não autoriza essa fantasiosa distinção. 5 A fala acima nos remete não só a recepção do livro, mas também ao acontecimento artístico que foi sua encenação brasileira, as questões que suscitadas com essa (re) leitura para os nossos palcos, que parece desprezar ou não levar em consideração o fato de que “apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente – o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores” como destaca Roger Chartier naquele trecho que abre nosso presente texto, mas deixemos por enquanto essa discussão da recepção da peça. Primeiramente “O Percevejo – comédia fantástica em nove cenas” é levado aos palcos soviéticos em 1929 com todas as inovações teatrais possíveis, pois afinal contava com grandes nomes como Ródchenko responsável pela criação visual do espetáculos, o cenário e os figurinos e mais uma vez a parceria com Meyerhold enquanto diretor, ele que já havia trabalhado com Maiakóvski nas encenações de 1918 e 1922 de “Mistério- Bufo”. A adaptação de Maiakóvski para os palcos brasileiros para além de um projeto pessoal que acompanhava desde muito cedo o diretor e ator Luis Antonio Martinez Corrêa, que no início dos anos 70, lançou o grupo Pão e Circo juntamente com Analu Prestes. Encenou, com êxito, “O Casamento do Pequeno Burguês”, de Bertold Brecht e em 1978 dirigiu a “Ópera do Malandro” de Chico Buarque, significou todo um esforço de um grupo que primeiramente teve que enfrentar o cerceamento doregime militar ao iniciarem os ensaios em 1974 quando dois meses depois tiveram a peça censurada. Mas esse projeto ficou apenas congelado por alguns anos e foi retomado logo na década de 1980, pois afinal era preciso urgentemente quebrar a imensa parede de gelo que separa Maiakóvski dos espectadores brasileiros, cabe ressaltar que a obra 5 COUTINHO, João Pereira. O triste fim de Maiakóvski. Folha de São Paulo, 13 set. 2009. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1309200917.htm. Acesso em: 29 set. 2013. Consultar também a seguinte crítica: BERNARDINI, Aurora F. O trágico para além do político. O Estado de São Paulo. 08 agos. 2009. Disponível em: http://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,o-tragico-para-alem-do- politico,415760. Acesso em: 29 set. 2013. 7 principalmente a teatral de Maiakósvki era pouco conhecida por nós, como destaca um dos seus maiores tradutores Haroldo Campos em um artigo, o qual compunha o programa da peça e que foi posteriormente publicado no primeiro número da revista Percevejo: No momento, não há nenhum livro de poemas dele, em tradução brasileira, circulando por aqui. Miséria do nosso contexto cultural. Na União Soviética, as obras reunidas do poeta, editadas em 13 tomos, de 1955 a 1961, chegaram a ter 200.000 cópias de tiragem. No Brasil, porém, uma antologia de sua poesia, publicada pela editora Tempo Brasileiro, em 1967, com 3.000 exemplares, levou 13 anos para se esgotar! Maiakóvski merece isso? E dizem que são poetas os responsáveis pelo afastamento do público. É. Os poetas são sempre os culpados. 6 Cabe ressaltar que não existia nenhuma tradução do percevejo para português, sendo esta feita por Luis Antonio e sua equipe que contou os irmãos Maurício Arraes e Guel Arraes, Dedé Veloso (Gadelha), Ney Costa Santos, Fernando Horcades e João Carlos Motta. A adaptação parece ter seguido os mesmo princípios que costumava trabalhar em seu antigo grupo teatral7. Já As encenações também contaram com canções de Caetano Veloso e elogiados cenários e figurinos de Hélio Eichbauer. Mas afinal como Luis Antonio e sua equipe teria realizado a re(leitura) desta obra? Quais foram suas apropriações ao realizar a adaptação para os palcos do Teatro Dulcina em 1981 no Rio de Janeiro e do Teatro Sesc Pompéia em 1983 em São Paulo? Reunindo teatro, cinema e dança, “O Percevejo” de Luis Antonio ganha outros rumos em cena com a inserção de outras obras de Maiakóski, passagens de sua biográficas, segundo a crítica a encenação começava com a leitura da carta de suicido do “gigante de blusa amarela”, depois se seguia o texto original e na passagem para a segunda temporalidade tocava a canção “Oração do tempo” de Caetano Veloso, mas talvez a grande mudança tenha sido o final da adaptação quando também tocaria ao fundo um poema de Maiakóvski musicado também na voz de Caetano enquanto dançarinos faziam acrobacias, cena que visualmente seria muito bonita e que se 6 CAMPOS, Haroldo. Maiakóvski, 50 anos depois. In: Vladímir Maiakóvski: sua vida, seu mundo, seu tempo. O Percevejo, Rio de Janeiro: UNIRIO, Ano I, número 1, 1993, p.11. Cabe destacar que essa revista hoje de circulação virtual é uma homenagem a Luis Antonio Martinez Corrêa que lecionava na instituição responsável pela mesma, portanto levando o nome de um dos seus trabalhos. 7 Conferir as considerações de Silvia Fernandes sobre em sua obra: Grupos teatrais: anos 70. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2000, p.22-23. 8 explicaria só para aqueles que tiveram o privilégio de assistir tais apresentações como destaca a crítica teatral, a qual estamos explorando e que em outra oportunidade pretendemos trabalhar de forma mais sistemática. Enfim encerro texto com uma indagação para os leitores: quais são os limites de uma leitura, de uma interpretação, de uma ressignificação de uma obra? Também deixo para apreciarem o chamado “final feliz” que Luis Antonio teria inserido em suas encenações com este poema em forma de música: Talvez quem sabe um dia por uma alameda do zoológico ela também chegará. Ela, que também amava os animais entrará sorridente assim como está na foto sobre a mesa Ela é tão bonita, Ela é tão bonita que, na certa, eles a ressuscitarão. O século trinta vencerá o coração destroçado já, pelas mesquinharias. Agora, vamos alcançar tudo o que não podemos amar na vida, com o estrelar das noites inumeráveis. 9 Ressuscita-me ainda que mais não seja, porque sou poeta e ansiava o futuro Ressuscita-me lutando contra as misérias do cotidiano. Ressuscita-me por isso. Ressuscita-me Quero acabar de viver o que me cabe, minha vida para que não mais existam amores servis Ressuscita-me Para que ninguém mais tenha que sacrificar-se por uma casa, um buraco Ressuscita-me Para que a partir de hoje a família se transforme e o pai seja pelo menos o Universo e a mãe seja pelo menos a Terra Estes versos correspondem ao final do poema longo “A propósito disto”; esta parte sub-titulada “Amor” foi musicado por Caetano Veloso para a montagem de O Percevejo, de Luís Antônio Martinez Corrêa. Tradução: Ney Costa Santos. Revisão: Boris Schnaiderman. Dossiê: Vladímir Maiakóvski: sua vida, seu mundo, seu tempo. O Percevejo, Rio de Janeiro: UNIRIO, Ano I, número 1, 1993, p.77. 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BERNARDINI, Aurora F. O trágico para além do político. O Estado de São Paulo. 08 agos. 2009. Disponível em: http://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,o-tragico-para- alem-do-politico,415760. Acesso em: 29 set. 2013. CAMPOS, Haroldo. Maiakóvski, 50 anos depois. In: Vladímir Maiakóvski: sua vida, seu mundo, seu tempo. O Percevejo, Rio de Janeiro: UNIRIO, Ano I, número 1, 1993. CHARTIER, Roger. A aventura do livro – do leitor ao navegador: conversações com Jean Lebrun. 1ª reimpressão. São Paulo: Editora Unesp/ Imprensa Oficial, 2009. COUTINHO, João Pereira. O triste fim de Maiakóvski. Folha de São Paulo, 13 set. 2009. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1309200917.htm. Acesso em: 29 set. 2013. FERNANDES, Sílvia. Grupos teatrais: anos 70. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2000. GUIMARÃES, Manuel Luiz Salgado. O presente do passado: as artes de Clio em tempos de memória. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel; GONTIJO, Rebeca (orgs.). Cultura política e leituras do passado: Historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. GUMBRECHT, Hans Ulrich. Depois de “depois de aprender com a história”, o que fazer com o passado agora? In: NICOLAZZI, Fernando; MOLLO, Helena Miranda; ARAUJO, Valdei Lopes (orgs.). Aprender com a história? O passado e o futuro de uma questão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011. HARTOG, François. Memória, história, presente. In: ___. Regimes de historicidades: Presentismo e experiência do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. JAKOBSON, Roman. A geração que esbanjou seus poetas. Tradução de Sônia Regina Martins Gonçalves. São Paulo: Cosac Naify, 2006. MAIAKÓVSKI, Vladímir. O percevejo.Tradução de Luís Antônio Martinez Côrrea. São Paulo: Editora 34, 2009. PEIXOTO, Fernando. Maiakóvski – Vida e Obra. Rio de Janeiro: Editora Fon-Fon e Seleta, 1970. RIBEIRO, Juscelino Batista. Estética e política na dramaturgia de Vladímir Maiakóvski. 2001. 156 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2001. RIPELLINO, Angelo Maria. Maiakóvski e o Teatro de Vanguarda. São Paulo: Perspectiva, 1971. SCHNAIDERMAN, Boris. Um texto decisivo. In: MAIAKÓVSKI, Vladímir. O percevejo. Tradução de Luís Antônio Martinez Côrrea. São Paulo: Editora 34, 2009, p. 85-101.
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