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Teorias do concurso de pessoas. Prof. Gabriel Habib. Grupo de estudos no Periscope, Instagram e Facebook

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Grupo estudo Prof. Gabriel Habib - 7/02/2018 
Teorias do concurso de pessoas 
Periscope, Instagram e Facebook 
 
 
O tema de hoje é muito simples, mas cai em concurso. 
Qual é a grande vantagem disso? Quando o tema é simples e cai em 
concurso todo mundo consegue pontuar. A nossa missão, no concurso, é fazer 
pontos. Quem passa no concurso afinal de contas? Quem faz mais pontos na 
prova. O critério é um só, objetivo, ou seja, fazer a pontuação mínima. Quem 
fizer aquela pontuação mínima estará aprovado para as próximas fases: aberta 
discursiva, oral. Fez a pontuação mínima na prova oral estará apto para tomar 
posse. Então a missão do candidato na prova é fazer o maior número de 
pontos possíveis. 
O tema é curto, mas fundamental, qual seja, teorias do concurso de 
pessoas. É evidente que o tema de hoje é muito amplo e nem caberia numa 
live do (PIF). Desta forma, será feito um corte no tema e serão abordadas as 
três teorias do tema que disputam a seguinte questão: diante de um concurso 
de pessoas quantos crimes são praticados? Se dez pessoas praticarem o 
crime de roubo quantos crimes são praticados? Teremos 1 (um) crime só ou 
dez crimes? E se das dez pessoas (concorrentes) sete forem autores e três 
partícipes? Teremos um crime para os autores e outro para os partícipes? 
E uma segunda pergunta: é o mesmo crime? Tem um exemplo muito 
interessante do Zaffaroni. “A” aponta uma arma para “B” (vítima) e “C” subtrai 
os bens da vítima. Diante disso, pergunta Zaffaroni, “A” responderia pelo crime 
de ameaça e “C” pelo crime de furto? É possível cindir e cada qual responde 
pelo crime autônomo? Se houver duas pessoas previamente ajustadas, ter-se-
á um crime para cada uma? Essa é a questão. 
O tema, apesar de ter sua complexidade, é simples. Assim, trataremos de 
forma objetiva e sintética e não superficial. 
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Em primeiro lugar três teorias disputam essa temática e que buscam 
explicar quantos crimes existiria em hipóteses de concursos de pessoas. Quais 
sejam: 1) teoria unitária ou monista ou monística; 2) teoria dualista; 3) 
teoria pluralista. 
Como eu já disse: em direito está tudo nos nomes. O nome da teoria diz 
muita coisa. O nome de um princípio diz tudo. O nome de um instituto diz tudo. 
Ou seja, olhem sempre para o nome da teoria, do princípio ou do instituto. 
Se quisermos definir quantos crimes existirão quando houver concurso de 
pessoas, a pergunta é essa; a teoria monista (mono, uma, unitária, monística) 
preconiza que existe apenas um crime não importando se são duas ou várias 
pessoas. Em outras palavras, para esta teoria, em qualquer hipótese de 
concurso de pessoas, haverá tão somente uma infração penal. Assim, se há 
duas, dez ou vinte pessoas concorrendo para um crime de roubo, haverá 
apenas um crime de roubo em concurso de pessoas. Como regra geral, além 
de ser um só, é um mesmo crime. 
Para ilustrarmos tomamos o exemplo do Zaffaroni dito anteriormente. No 
caso do exemplo, “A” não responderá por ameaça e “C” não responderá por 
furto; pois se temos um crime só ambos responderão por roubo. Vamos além. 
Como regra geral o crime (roubo) é o mesmo para “A” e “C”. 
Na segunda teoria dualista (dual, duelo, dois) se pode concluir que 
havendo concurso de pessoas sempre haverá dois crimes. Um para os autores 
e outro para os partícipes. 
A terceira teoria chama-se pluralista que vem de plural, pluralismo, 
pluralidade. Esta teoria preconiza como o nome sugere uma pluralidade de 
crimes. Isto é, haveria um crime para cada concorrente. Se tivermos dez 
pessoas praticando um roubo teremos dez crimes de roubo. Mais uma vez 
utilizando o exemplo do Zaffaroni: se “A” e “C” praticaram o crime teremos dois 
crimes; se “A”, “C”, “D” e “E” praticaram o crime teremos quatro crimes. 
➢ Qual foi a teoria adotada pelo CP? 
A resposta para esta pergunta está na lei, ou seja, no CP. Mais 
precisamente no art. 29, mas tal resposta é dada de forma indireta e não direta. 
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“Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas 
penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. 
Se o art. 29 do CP tem como título “Do Concurso de Pessoas” e diz que 
quem concorre de qualquer modo para O CRIME a conclusão é a de que 
havendo concurso de pessoas há apenas um crime. Quem dos alunos já teve 
essa percepção lendo o CP? Desta forma, a teoria adotada pelo CP foi a 
unitária ou monista ou monística. 
Como já dito, como regra geral, além de ser apenas um crime é o mesmo 
crime. 
Exemplo 1: “A” e “B” praticando um crime de estelionato teremos apenas 
um crime de estelionato. Se “A” e “B”, funcionário públicos, praticam um crime 
de concussão teremos o mesmo crime de concussão. Se um prefeito 
municipal e o governador do estado exigem vantagem indevida de uma 
empreiteira para autorizarem uma obra no município e no estado da mesma 
empreiteira ambos cometem o mesmo crime de concussão. Resumo: é um 
crime só em, em regra, o mesmo crime. 
Exceções: 
São as exceções que mais caem nas provas. 
Têm-se duas pessoas, previamente ajustadas, com condutas relevantes 
que vão praticar uma infração penal. Nesse caso teremos uma infração penal 
para cada um. 
Exemplo 2: o governador do Estado, que é um agente público, solicita 
vantagem indevida (propina) de um empreiteiro para autorizar uma obra. 
Nesse caso, estão previamente ajustados, o governador que solicitou e o 
empreiteiro que pagou. São duas pessoas? São. Estão previamente ajustados? 
Sim. As condutas são relevantes? Sim. Só que, nesse caso, temos um crime 
para cada um. O governador ao solicitar praticou o crime de corrupção passiva 
e o empreiteiro, ao pagar a vantagem solicitada, praticou o crime de corrupção 
ativa. Tem-se, portanto, um crime para cada um. Não é possível, nesse caso, 
fazê-los responderem pelo mesmo crime. Essa é uma exceção. 
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Exemplo 3: a mulher quer realizar o aborto consentido e alguém realiza 
nela o aborto. A gestante praticou o crime de consentimento no aborto (art. 
124, CP). O auto-aborto ou o aborto consentido é um crime de mão 
própria. Ou seja, somente a gestante pode praticá-lo. Portanto, em 
quaisquer hipóteses, em qualquer caso, em qualquer exemplo, em qualquer 
prova, em qualquer caso concreto, a gestante SEMPRE estará no art. 124, CP. 
Não há a possibilidade da conduta da gestante ser tipificada em outro tipo de 
aborto que não seja o art. 124, CP. 
Exemplo 4: a gestante que consentiu que o médico praticasse aborto 
cometerá o crime do art. 124, CP. E o médico praticou o crime tipificado no art. 
126, CP. Ou seja, temos um crime cometido pela gestante e outro cometido 
pelo médico que nela realizou a manobra abortiva por ela consentida. Nesse 
caso não tem como tipificar a conduta do médico no art. 124, CP pelo fato 
deste crime ser de mão própria e, evidentemente, o médico não é mulher, não 
é gestante. Da mesma forma, não é possível tipificar a conduta da gestante no 
art. 126, CP, pois o crime dela é o do art. 124, CP. Assim sendo, temos um 
crime para cada um. Neste caso não se pode afirmar, segundo a teoria 
monista, que eles praticaram um crime só (foram dois) e nem que praticaram o 
mesmo crime (foram dois: arts. 124 e 126 do CP). 
Exemplo 5: descaminho e facilitação de descaminho. “A” vai entrar no 
Brasil com mercadoria permitida, mas sem pagar o tributo devido (imposto de 
importação). “B” é o fiscal da alfândega no aeroporto. “A” avisa “B” que tal hora 
estará passando pelo aeroporto com a mala cheia de produtos importado e faz 
uma descrição física sua e de suas roupas. Quando “A” chega ao encontro de 
“B” este sinaliza para passar. Com isso, “A” praticou o crime de descaminho e 
“B”, em princípio, seria partícipe do crimepraticado por “A”. No entanto, para a 
conduta de “B” há um tipo penal autônomo que é o crime de facilitação de 
contrabando ou descaminho (art. 318, CP). Por isso, “A” está no art. 334 e “B” 
no art. 318 ambos do CP e eles estão previamente ajustados. 
Ou seja, para concluir o raciocínio, existe hipótese em que - no concurso 
de pessoas - não será apenas um crime, mas sim dois. E, por consequência 
lógica, não será o mesmo crime e sim diverso. Nesses casos, como se tem 
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um único crime para cada concorrentes, excepcionalmente, a teoria 
adotada foi a pluralista. Isto é, um crime para cada concorrente. 
➢ Como são dois crimes é possível falar em teoria dualista? 
Não. Pois a teoria dualista preconizava um crime para os autores e outro 
para os partícipes. Não é o caso retratado no exemplo 5. 
Nos casos dos exemplos 2 a 5 afasta-se a teoria monista e aplica a teoria 
pluralista. Ou seja, como regra geral, adota-se a teoria monista (unitária, 
monística) e, em casos excepcionais, adota-se a teoria pluralista. Já a teoria 
dualista não foi adotada em nenhuma hipótese. 
Veja que é perfeitamente possível ensinar um tema complexo de forma 
acessível, objetiva, sintética (não superficial). 
Em algumas doutrinas para mencionar a exceção à teoria monista dizem 
assim: “estamos diante, nesse caso, diante de uma exceção pluralista à teoria 
monista”. Há, nessa frase, uma falta de clareza. Não é uma exceção pluralista 
à teoria monista. É preferível dizer assim: é uma exceção na qual se adota a 
teoria pluralista em detrimento da monista. 
 Por isso que no Brasil, não se pode falar que o CP adotou a teoria 
monista e ponto. Da mesma forma não se pode falar que, no Brasil, foi adotada 
a teoria pluralista e ponto. O correto é dizer que, em regra geral, no Brasil, 
adota-se a teoria monista ou unitária e, excepcionalmente, adota-se a 
teoria pluralista. É por isso, diz a doutrina, que no Brasil foi adotada a 
teoria monista mitigada, moderada, temperada ou matizada. Em outras 
palavras, a teoria monista foi relativizada diante de algumas hipóteses nas 
quais se aplica a teoria pluralista. 
Questão de prova: Candidato, qual a teoria adotada no Brasil no tem 
concurso de pessoas? “Excelência, foi a teoria monista mitigada, moderada, 
matizada ou relativizada.” 
Fim 
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