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alimentos 2

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE 
FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roberta Tassinari de Sousa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A LEI DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS E A 
INSEGURANÇA TRAZIDA AO SUPOSTO PAI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Governador Valadares - MG 
2010 
 
 1 
ROBERTA TASSINARI DE SOUSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A LEI DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS E A 
INSEGURANÇA TRAZIDA AO SUPOSTO PAI 
 
 
 
 
Monografia apresentada como requisito 
para obtenção do grau de bacharel em 
Direito pela Faculdade de Direito, Ciências 
Administrativas e Econômicas, da 
Universidade Vale do Rio Doce. 
 
Orientadora: Luciana da Cunha Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Governador Valadares - MG 
2010 
 
 2 
ROBERTA TASSINARI DE SOUSA 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A LEI DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS E A 
INSEGURANÇA TRAZIDA AO SUPOSTO PAI 
 
 
 
Monografia apresentada como requisito 
para obtenção do grau de Bacharel em 
Direito pela Faculdade de Direito, Ciências 
Administrativas e Econômicas, da 
Universidade Vale do Rio Doce. 
 
 
 
 
Governador Valadares, 24 de junho de 2010. 
 
 
 
Banca Examinadora: 
 
 
 
____________________________________________________ 
Profª. Drª : Luciana da Cunha Pereira - Orientadora 
Universidade Vale do Rio Doce 
 
 
 
____________________________________________________ 
Prof. Herbert Campos Dutra 
 Universidade Vale do Rio Doce 
 
 
 
 
____________________________________________________ 
 Profª. Sara Edwirgens Barros Silva 
Universidade Vale do Rio Doce 
 
 3 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 Agradeço a Deus ensinando-me a cada dia o caminho que leva a vitória. 
 
Aos meus familiares, por tudo o que representam e pelo exemplo de 
perseverança e alegria de vida... 
 
A minha orientadora Luciana da Cunha Pereira pela atenção e 
disponibilidade. 
 
Aos meus colegas de curso que tornaram esta jornada mais solidária e 
mais agradável. 
 
 Agradeço a todos... 
 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “O ser humano, por natureza, é desde a sua 
concepção; como tal, segue o seu fadário até o momento que 
lhe foi reservado como derradeiro; nessa dilação temporal, 
mais ou menos prolongada, a sua dependência dos alimentos 
é uma constante, posta como condição de vida” 
 
Yussef Said Cahali, 2009. 
 
 5 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho objetivou analisar a relevância no ordenamento jurídico e a 
garantia da estrutura familiar na aplicabilidade da Lei n.11.804/08 que introduziu os 
chamados “alimentos gravídicos”. Este direito é garantido à mulher no período de 
gestação, em prol do nascituro e convertido em favor do mesmo quando houver o 
nascimento com vida. Assim, o alimento gravídico aprecia a obrigação de alimentos, 
tendo em vista que o nascituro não tem capacidade para se auto-sustentar e carece 
de auxílio. Foi possível observar que independentemente de lei, o nascituro tem 
direito a alimentos e ao pleno desenvolvimento do processo de gestação, pois o seu 
direito fundamental à vida é garantido na Constituição, sem a necessidade de rótulos 
ou alteração dos dispositivos vigentes. A análise dos achados revelou que a Lei 
11.804 de 05 de novembro de 2008, com cunho social, busca resgatar o amparo a 
mulher grávida que no decorrer da gestação não fique jogada a sorte até o 
nascimento com vida do nascituro, mesmo com frágeis indícios de paternidade. Daí 
o intuito de aprofundar os estudos sobre alimentos gravídicos, acreditando que o 
magistrado seja cauteloso com os indícios de paternidade, para que o suposto pai 
não venha sofre danos morais. A presente pesquisa, de cunho metodológico, 
estritamente bibliográfico, fundamentou-se em autores como: Cahali (2009); Dias 
(2008, 2009); Fonseca (2009); Freitas (2009); Cardoso (2009); Caldeira (2009); 
Parizatto (2008); Lomeu (2009); Rizzardo (2008); Venosa (2005, 2007) e outros. 
 
 
Palavras chave: Alimentos Gravídicos; Nascituro; Dignidade humana; Lei n. 
11.804/2008. 
 
 
 
 
 6 
ABSTRACT 
 
 
This study aimed to analyze the relevance of the legal system and the security of 
family structure on the applicability of the Act n.11.804/08 which introduced the so-
called "food gestational periods. This right is guaranteed to women during pregnancy 
and con ¬ poured on to the child when there is a live birth. Thus, food appreciates the 
pregnancy maintenance in order that the child is unable to sustain itself and needs 
help. We found that regardless of law, the unborn child has the right to food toss and 
full development of the process of gestation, since their fundamental right to life is 
guaranteed in the Constitution, without the need for labels or alter existing 
arrangements. The analysis of the findings revealed that Law 11,804 of 06 November 
2008, with social, seeks to rescue the support that pregnant women throughout 
pregnancy does not get the chance to move the birth of life of the unborn, even with 
weak evidence paternity. Hence the aim of further studies on food gestational 
periods, believing that the judge be careful with the evidence of paternity, that the 
alleged father will not suffer damage, since it is also protected by law. This research, 
of a methodological strictly bibliographical, was based on authors such as Cahali 
(2009), Dias (2008, 2009), Fonseca (2009), Freitas (2009); Cardoso (2009); Caldeira 
(2009); Parizatto (2008); Lomeu (2009); Rizzardo (2008); Events (2005, 2007) and 
others. 
 
 
 
Keywords: Food gravid; Unborn; Human dignity; Law 11804/2008. 
 
 
 7 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9 
2 BASE E DIREITOS DA FAMÍLIA....................................................................... 11 
2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA...................................... 11 
3 DOS ALIMENTOS EM GERAL.......................................................................... 16 
3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO...................................................... 16 
3.2 CONCEITO DE ALIMENTOS........................................................................... 19 
3.3 LEGITIMIDADE E FUNDAMENTAÇÃO LEGAL.............................................. 20 
3.4 ATRIBUTOS DA OBRIGAÇÃO LEGAL DE ALIMENTOS................................ 22 
3.4.1 Inalienabilidade........................................................................................... 22 
3.4.2 Irrenunciabilidade....................................................................................... 22 
3.4.3 Reciprocidade.............................................................................................. 23 
3.4.4 Solidariedade............................................................................................... 23 
3.4.5 Transmissibilidade...................................................................................... 24 
3.4.6 Imprescritibilidade...................................................................................... 25 
3.4.7 Irrepetibilidade............................................................................................ 25 
3.4.8 Alternatividade............................................................................................ 26 
3.4.9 Periodicidade...............................................................................................27 
3.4.10 Anterioridade............................................................................................. 27 
3.4.11 Atualidade.................................................................................................. 28 
4 NASCITURO E ALIMENTOS............................................................................. 29 
4.1 NASCITURO E O DIREITO AO ALIMENTO.................................................... 30 
5 ALIMENTOS GRAVÍDICOS............................................................................... 33 
5.1 CONCEITO DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS................................................... 33 
5.2 A INOVAÇÃO TRAZIDA PELA LEI Nº 11.804/2008........................................ 34 
5.2.1 Aspectos processuais................................................................................ 34 
5.2.2 Possibilidade de conversão, revisão e extinção dos alimentos 
gravídicos........................................................................................................ 
 
36 
5.2.3 Viabilidade de indenização do réu............................................................. 38 
5.3 TEORIA CONCEPCIONISTA EM REALIDADE COM A LEI DE ALIMENTOS 
GRAVÍDICOS................................................................................................... 
 
41 
 
 
 8 
6 CRÍTICA SOBRE A LEI DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS E A 
INSEGURANÇA TRAZIDA AO SUPOSTO PAI.............................................. 
 
44 
7 CONCLUSÃO................................................................................................... 48 
REFERÊNCIAS................................................................................................... 50 
ANEXOS.............................................................................................................. 55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O presente trabalho tem como tema os alimentos gravídicos, que são 
aqueles alimentos destinados à mulher gestante e têm sua previsão expressa na Lei 
n. 11.804 de 05 de Novembro de 2008, trazendo significativa repercussão no meio 
jurídico. 
O objetivo geral é demonstrar a possibilidade legal da genitora, 
representando o nascituro, pleitear prestação alimentícia junto ao possível genitor, 
bem como a possível indenização em favor deste, caso venha a ser demonstrado ao 
final, por eventuais meios probatórios legais, o equívoco apontado pela mãe, no 
sentido de não ser verdadeira a presunção da paternidade. 
Trata-se de uma reflexão sobre as implicações jurídicas que a Lei n. 
11.804/2008 trouxe ao cenário jurídico brasileiro, sobretudo, se o nascituro tem 
direitos alimentícios, uma vez que, a lei abraça seus direitos desde a concepção 
pelo art. 2º do código civil brasileiro de 2002. 
A obrigação de prestar alimentos ao filho surge mesmo antes do seu 
nascimento. A recente Lei assegura o que chama de Alimentos Gravídicos, ou seja, 
alimentos à gestante, que se converte em alimentos ao filho (a) quando de seu 
nascimento. 
 O que a nova Lei enseja de forma salutar, é afastar dispositivos dos 
projetos que traziam todo um novo e moroso procedimento, imprimindo um rito bem 
mais curto do que a lei de alimentos, e não com a intenção de tratar com 
desigualdade aos credores de alimentos do procedimento que a Lei 5.478 de 1968 
traz. Mas não afasta o questionamento quanto ao Princípio da Igualdade. 
 A possibilidade de entrar com pedido de investigação de paternidade não 
é barrada pela lei, ao mesmo tempo tal lei não deixará de fixar alimentos gravídicos 
desde a concepção, ou seja, se fixados alimentos gravídicos, sobrevindo a ação 
investigatória de paternidade, os alimentos já estarão fixados e serão devidos desde 
a concepção do nascituro, e não a partir da citação da investigatória. 
 A referida lei sustenta que após o recebimento da inicial deferida, o réu 
terá um prazo para oferecer defesa que poderá negar suposta paternidade. Porém, 
essa negativa não impede a fixação dos alimentos e nem a manutenção do seu 
pagamento. 
 10 
 Sendo assim, o reconhecimento da paternidade não é o primordial do 
pedido da ação, a lei não esta condicionada à declaração imediata da paternidade e 
tampouco está à mercê da prévia realização de exame de DNA. É possível afirmar 
que tal determinação ensejaria manobras do suposto pai, no sentido de evitar a 
concretização do ato, como fugir do oficial de justiça, sendo este encontrado 
somente após o nascimento do nascituro, perdendo-se, assim, a finalidade da Lei n. 
11.804/2008. (DIAS, 2009). 
Através de ação própria o réu da ação de alimentos poderá pleitear 
indenização contra a mãe que promover o pedido de alimentos gravídicos, se ficar 
demonstrada má fé ou o exercício abusivo do seu direito. 
Este trabalho visa promover algumas considerações, a fim de evidenciar 
pontos importantes e polêmicos, que será desenvolvido em cinco capítulos. 
Sempre que entra em vigência uma nova lei, surgem questionamentos a 
respeito de qual norma aplicar diante de situações constituídas na vigência da 
legislação pretérita e que perpassam para o tempo da nova lei. E são esses limites 
que o presente trabalho tem a intenção de questionar. Eventual possibilidade de 
conflitos entre as “leis” e resguardando os direitos da pessoa humana. 
O primeiro capítulo versa sobre a base e direitos da família considerando o 
princípio da dignidade da pessoa humana disposto na Constituição Federal. O 
segundo capítulo analisa o instituto alimentos, sua evolução histórica, conceitos, 
legitimidade e fundamentação legal, bem como as características da obrigação 
alimentar. No terceiro capítulo a proposta é analisar alimentos ao nascituro, aspecto 
bastante controvertido no meio jurídico. O quarto capítulo busca entender os 
alimentos gravídicos - Lei n. 11.804, que entrou em vigor no dia 05 de novembro de 
2008 e a forma como ele será exercido no ordenamento jurídico brasileiro. A 
proposta para o quinto capítulo versa sobre a insegurança que a citada lei trouxe 
para o suposto pai. Por fim, às considerações finais sobre o estudado realizado. 
As citações aqui apresentadas foram embasadas nas fontes 
metodológicas utilizadas, ou seja, em legislações que abordam o assunto tratado, 
pesquisas bibliográficas, artigos jurídicos, doutrina e texto sobre o assunto, 
sobretudo com aporte em revistas e sites jurídicos que versem sobre o direito de 
família. 
 
 
 11 
2 BASE E DIREITOS DA FAMÍLIA 
 
 
2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
 A dignidade é o núcleo dos valores descritos na Constituição e o fator que 
pauta a defesa da família como instituição formadora da sociedade; a igualdade é 
tratada no que diz respeito ao tratamento de homem mulher e filhos e filhas e estes 
entre si, como norteador do respeito que deve haver entre estes; a liberdade é 
orientadora dos passos que estes membros da família devem trilhar na construção 
do conforto da família e para que assim seja construída uma ponte para a realização 
e respeito do que está descrito nos demais princípios; proteção dos valores sociais e 
proteção do menor também estão inseridas neste contexto generalista dos princípios 
gerais e fundamentais. (DIAS, 2009). 
 Segundo Pereira (2006, p. 25) 
 
 
O art. 1º da Constituição da República do Brasil bem traduz alguns 
exemplos de princípios expressos: a soberania; a cidadania; a dignidade da 
pessoa humana; os valores do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo 
político. Estes princípios fundamentais expressos na Carta Magna são os 
princípios gerais a partir dos quais todo ordenamento jurídico deve irradiar, 
e nenhuma lei ou texto normativo podem ter nota dissonante da deles. Eles 
são os orientadores da nossa ordem jurídicae traduzem o mais cristalino e 
alto espírito do Direito. 
 
 
 Para Dias (2009, p. 59) “é no direito das famílias em que mais se sente o 
reflexo dos princípios eleitos pela Constituição Federal, que consagrou como 
fundamentais valores sociais dominantes”. Os princípios que regem o direito das 
famílias não podem distanciar-se da atual concepção da família dentro de sua feição 
desdobrada em múltiplas facetas. A Constituição consagra alguns princípios, 
transformando-os em direito positivo, primeiro passo para a sua aplicação. Desta 
forma devemos recorrer a tal fonte insubstituível de nosso ordenamento para 
fundamentarmos nossa análise do referido ramo jurídico sempre que necessário for. 
 Venosa (2005) afirma que a Constituição Federal de 1988 consagra a 
proteção à família no artigo 226, compreendendo tanto a família fundada no 
casamento, como a união de fato, a família natural e a família adotiva. De há muito, 
 12 
diz o mestre, o país sentia necessidade de reconhecimento da célula familiar 
independentemente da existência de matrimônio. 
 A convivência familiar também é regulada através das normas 
consagradas por outros estatutos como o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA, Lei 8.069/1990) e do Estatuto do Idoso (Lei n.º 10.741/2003), ofertando de 
maneira ampla a proteção integral a todos os membros das famílias. 
 De acordo com Venosa (2005, p. 22): 
 
[...] a célula básica da família, formada por pais e filhos, não se alterou 
muito com a sociedade urbana. A família atual, contudo, difere das formas 
antigas no que concernem as suas finalidades, composição e papel de pais 
e mães. [...] a família deixa de ser uma unidade de produção na quais 
todos trabalhavam sob a autoridade de um chefe. [...] Os conflitos sociais 
gerados pela nova posição social dos cônjuges, as pressões econômicas, a 
desatenção e o desgaste das relações tradicionais fazem aumentar o 
número de divórcios. [...] a unidade familiar, sob o prisma social e jurídico, 
não mais temo como baluarte exclusivo o matrimônio. A nova família 
estrutura-se independentemente das núpcias. 
 
 
 A família como formação social, na visão de Perlingieri (2002) é garantida 
pela Constituição não por ser portadora de um direito superior ou superindividual, 
mas por ser o local ou instituição onde se forma a pessoa humana. 
 O respeito à dignidade da pessoa humana pressupõe assegure-se 
concretamente os direitos sociais previstos no artigo 6º da Constituição Federal, que 
por sua vez está atrelado ao artigo 225, normas essas que garantem como direitos 
sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, assim como 
o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Acrescento a esta lista a 
proteção estatal à família como base da sociedade. 
 Nesse quadro, superficialmente traçado, há inexoravelmente novos 
conceitos desafiadores a incitar o legislador e o jurista, com premissas 
absolutamente diversas daquelas encontradas no Código Civil de 1916. Como 
também, o desenvolvimento tecnológico demonstra hoje ser possível a certeza da 
paternidade biológica, a fecundação artificial etc. em questões que superam as mais 
imaginosas ficções científicas de passado bem próximo. 
 A Constituição de 1988 e o Código Civil de 2002 colocam a família sob o 
enfoque da tutela individualizada dos seus membros, ou seja, a visão constitucional 
antropocêntrica coloca o homem como centro da tutela estatal, valorizando o 
 13 
indivíduo e não apenas a instituição familiar. Este princípio no direito de família pode 
assegurar outros tantos direitos e garantias. Este princípio é decorrente do artigo 1º, 
inciso III, da Constituição Federal. (MELO, 2006). 
 Gonçalves (2005) ressalta que este princípio é decorrente do artigo 1º, 
inciso III, da Constituição Federal. Para o autor, o Direito de Família o mais humano 
de todos os ramos do Direito. Em razão disso, e também pelo sentido ideológico e 
histórico de exclusões, é que se torna imperativo pensar o Direito de Família na 
contemporaneidade com a ajuda e pelo ângulo dos Direitos Humanos, cuja base e 
ingredientes estão, também, diretamente relacionados à noção de cidadania. 
 A evolução do conhecimento científico, os movimentos políticos e sociais 
do século XX e o fenômeno da globalização provocaram mudanças profundas na 
estrutura da família e nos ordenamentos jurídicos de todo o mundo, Todas essas 
mudanças trouxeram novos ideais, provocaram um declínio do patriarcalismo e 
lançaram as bases de sustentação e compreensão dos Direitos Humanos, a partir 
da noção da dignidade da pessoa humana, hoje insculpida em quase todas as 
instituições democráticas. (GONÇALVES, 2005). 
 Diniz (2005) ministra que referido princípio constitui base da comunidade 
familiar, garantido o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus 
membros, principalmente da criança e do adolescente, e crítica juristas, que ante a 
nova concepção de família, falam em crise, desagregação e desprestígio, 
salientando que a família passa, sim, por profundas modificações, mas como 
organismo natural, ela não se acaba e como organismo jurídico está sofrendo uma 
nova organização. 
 Sustenta Dias (2009, p. 61) que: 
 
O princípio da dignidade da pessoa humana é o maior, fundante do estado 
Democrático de Direito, sendo afirmado já no artigo da Constituição Federal. 
A preocupação com a promoção dos direitos humanos e da justiça social 
levou o constituinte a consagrar a dignidade da pessoa humana como valor 
nuclear da ordem constitucional. 
 
 Segundo Sarmento (2000, p. 58) “sua essência é difícil de ser capturada 
em palavras, mas incide sobre uma infinidade de situações que dificilmente se 
podem elencar de antemão”. 
 Para Rothenburg (1999, p. 65): 
 
 14 
Talvez possa ser identificado como sendo o princípio de manifestação 
primeira dos valores constitucionais, carregado de sentimentos e emoções. 
É impossível uma compreensão exclusivamente intelectual e, como todos 
os outros princípios, também é sentido e experimentado no plano dos 
afetos. 
 
 O princípio da dignidade humana, de acordo com Pereira (2006, p. 68) é o 
“mais universal de todos os princípios. É um macro princípio do qual se irradiam 
todos os demais: liberdade, autonomia privada, cidadania, igualdade e 
solidariedade, uma coleção de princípios éticos”. 
 No dizer de Sarmento (2000, p. 60): 
 
Representa o epicentro axiológico da ordem constitucional, irradiando 
efeitos sobre todo o ordenamento jurídico e balizando não apenas os atos 
estatais, mas toda a miríade de relações privadas que se desenvolvem no 
seio da sociedade. 
 
 O direito das famílias está umbilicalmente ligado aos direitos humanos, 
que têm por base o princípio da dignidade da pessoa humana, versão axiológica da 
natureza humana. Significa também, igual dignidade para todas as entidades 
familiares. Assim, é indigno dar tratamento diferenciado às várias formas de filiação 
ou os vários tipos de constituição de família, como o que se consegue visualizar a 
dimensão do espectro desse princípio, que tem contornos cada vez mais amplos. 
(DIAS, 2009). 
 Portanto, a dignidade da pessoa humana encontra na família o solo 
apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção 
independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares 
preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares - o afeto, a 
solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum , 
permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada partícipe com base em 
ideais pluralistas, solidaristas, democráticos e humanistas. 
 Perlingieri (2002, p. 243) ministra que: 
 
A família é valor constitucionalmente garantido nos limites de sua 
conformaçãoe de não contraditoriedade aos valores que caracterizam as 
relações civis, especialmente a dignidade humana: ainda que diversas 
possam ser as suas modalidades de organização, ela é finalizada à 
educação e à promoção daqueles que a ela pertencem. O merecimento de 
tutela da família não diz respeito exclusivamente às relações de sangue, 
mas, sobretudo, àquelas afetivas, que se traduzem em uma comunhão 
espiritual e de vida 
 15 
 Afirma Dias (2009), a família adquiriu função instrumental para a melhor 
realização dos interesses afetivos e existenciais de seus componentes. Nesse 
contexto de extrema mobilidade das configurações familiares, novas formas de 
convívio vêm sendo improvisadas em torno da necessidade - que não se alterou - de 
criar os filhos. No contexto do mundo globalizado, ainda que continue ela a ser 
essencial para a própria existência da sociedade e do Estado, houve uma completa 
reformulação do conceito de família. O alargamento conceitual das relações 
interpessoais acabou deitando reflexos na conformação da família, que não possui 
mais um significado singular. 
 Assim, afetividade, novos conceitos de família, dignidade, liberdade e 
igualdade andam em conjunto na preceituação dos fundamentos normativos do 
Direito de Família contemporâneo, trazendo uma nova leitura da célula primaz da 
sociedade. 
 A relação de família sofreu alterações consideráveis e tanto a constituição 
quanto a legislação ordinária subseqüente procurou atender à necessidade e tornar 
sua aplicação prática de forma rápida e definitiva. Foram fundamentais para essa 
efetiva aplicação normativa a existência dos preceitos fundamentais constantes em 
nossa Carta Maior e estes preceitos estão intimamente ligados com tais avanços, 
devendo ser respeitados e defendidos pelos operadores do direito, buscando sua 
execução e buscando sua melhoria na evolução dos textos normativos de acordo 
com o que for necessário a generalidade e globalização dos preceitos. (MELO, 
2006). 
 Portanto, a dignidade é o mais universal dos princípios, dando origem aos 
demais aqui já apresentados (liberdade, autonomia privada, cidadania, igualdade e 
solidariedade). É o princípio que faz da família um dos mais protegidos patrimônios 
capazes de serem construídos. 
 
 
 
 
 
 16 
3 DOS ALIMENTOS EM GERAL 
 
 
3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO 
 
 
 De acordo com Cahali (2009) a evolução histórica do instituto no direito 
romano terá conhecido a obrigação alimentícia fundada em várias causas: a) na 
convenção; b) no testamento; c) na relação familiar; d) na relação de patronato; e) 
na tutela. No direito canônico, em seus primeiros tempos, dilargou substancialmente 
o âmbito das obrigações alimentares, inclusive na esfera de relações extra 
familiares. No direito comparado as legislações dos países civilizados cuidam da 
obrigação por alimentos em extensões variáveis, seja quanto à natureza (côngruos 
ou necessários), seja quanto às pessoas que a ela estaria vinculada. No direito 
brasileiro pré-codificado nas Ordenações Filipinas, o texto mais expressivo a 
respeito da obrigação alimentar (pelo menos mais citado na doutrina) encontra-se no 
Liv. 1, Tít. LXXXVIII, 15, na medida em que, embora provendo sobre a proteção 
orfanológica, traz a indicação dos elementos que comporiam a obrigação. 
 Segundo Dias (2009) em um primeiro momento o poder familiar - com o 
nome pátrio poder - era exercido pelo homem, considerado a cabeça do casal, o 
chefe da sociedade conjugal. Assim era dele a obrigação de prover o sustento da 
família o que se convertia em obrigação alimentar quando do rompimento do 
casamento. O modo como a lei regula as relações familiares acaba refletindo no 
tema alimentos. O Código Civil de 1916, com o nítido intuito de proteger a família 
quando de sua edição acabou perpetrando uma das maiores atrocidades contra 
crianças e adolescentes: simplesmente não permitia o reconhecimento dos filhos 
ilegítimos, ou seja, filhos havidos fora do casamento. Com isso não podiam eles 
buscar a própria identidade nem os meios para prover a sua subsistência. 
 Afirma Dias (2009) somente 30 anos após foi permitido ao filho de homem 
casado promover em segredo de justiça ação de investigação de paternidade 
apenas para buscar alimentos. Embora reconhecida a paternidade, a relação de 
parentesco não era declarada, o que só podia ocorrer depois de dissolvido o 
casamento do genitor. 
 17 
 Já alertava Beviláquia (1971, p. 332 apud DIAS, 2009, p. 322): “a falta é 
cometida pelos pais, e a desonra recai sobre os filhos. A indignidade está no fato do 
incesto e do adultério, mas a lei procede como se estivesse nos frutos infelizes 
dessas uniões condenadas”. Somente em 1989 (Lei n. 7.841/1989) é que foi 
admitido o reconhecimento dos filhos “espúrios”, em face do princípio da igualdade 
entre os filhos, consagrado pela Constituição Federal. 
 Em relação à obrigação alimentar decorrente do casamento, era idêntico o 
perfil conservador e patriarcal da família. Existia somente a obrigação alimentar do 
marido em favor da mulher inocente e pobre, apesar de o Código atribuir a ambos os 
cônjuges o dever de mútua assistência. O casamento era indissolúvel, extinguia-se 
exclusivamente por morte ou anulação. Porém, havia a possibilidade de o 
matrimônio terminar pelo desquite, o que dava ensejo à separação de fato dos 
cônjuges, à dispensa do dever de fidelidade e ao término do regime de bens. Mas o 
vínculo matrimonial permanecia inalterado. Como o casamento não se dissolvia, 
mantinha-se o encargo assistencial, ao menos do homem para com a mulher, a 
depender da sua inocência e necessidade, assim reconhecida na ação de desquite. 
(DIAS, 2009). 
 O dever de sustento somente cessava no caso de abandono do lar sem 
justo motivo. A preocupação não era com a necessidade, mas com a conduta moral 
da mulher, pois a sua honestidade era condição para obter pensão alimentícia. 
 Ressalta Dias (2009) que o conceito de honestidade, com relação às 
mulheres, sempre esteve ligado à sua sexualidade, ou melhor, com a abstinência 
sexual. O exercício da liberdade sexual fazia cessar a obrigação alimentar, sem 
qualquer questionamento quanto à possibilidade de ela conseguir se manter ou não. 
Assim, a castidade integrava o suporte fático do direito a alimentos. Para fazer jus a 
eles, a mulher precisava provar não só a sua necessidade, mas também que era 
pura e recatada, além de fiel ao ex-marido. 
 O dever alimentar entre os cônjuges passou a ser recíproco com a Lei do 
Divórcio, n. 6.515, de 26 de dezembro de 1977. Porém, exclusivamente o consorte 
responsável pela separação é que pagava alimentos ao inocente. Pois, o cônjuge 
que tivesse conduta desonrosa ou praticasse qualquer ato que violasse os deveres 
do casamento, tornando insuportável a vida em comum, era condenado a pagar 
pensão àquele que não teve culpa pelo rompimento do vínculo afetivo. A lei não 
dava margem a outra interpretação (LD, art.19): “o cônjuge responsável pela 
 18 
separação judicial prestará ao outro, se dela necessitar a pensão que o juiz fixar”. 
Ou seja, na interpretação de Dias (2009, p. 456): 
 
O culpado pela separação não tinha direito de pleitear alimentos, pretensão 
assegurada exclusivamente a quem não havia dado causa ao fim do 
matrimônio. Só o inocente fazia jus à pensão alimentícia. Assim, a 
demanda precisava envolver a perquirição da causa do rompimento da vida 
em comum. O autor da ação, para ser contemplado com alimentos, 
necessitava provar, além da necessidade, tanto sua inocência como a 
culpa do réu. Até a simples iniciativa judicial de buscar a separação excluía 
o direito de pleitear alimentos. 
 
 A Lei n. 8.971/1994, art. 1º e Lei n. 9.278/1996, art. 7º, os conviventes 
gozavam de situação privilegiada, se confrontada com a do casamento. O encargo 
alimentar não estava condicionadoà postura dos parceiros quando do fim do 
relacionamento. A ausência do elemento culpa pelo término do convívio limitava o 
âmbito de cognição da demanda de alimentos, se comparada com a ação 
decorrente da relação de casamento. Para Dias (2009, p. 457) tal incongruência foi 
encarada pela jurisprudência como nítida afronta ao princípio da isonomia: 
 
Casamento e união estável têm origem em um vínculo afetivo, nada 
justificando a distinção. Como a justiça não consegue conviver com o 
imponderável, nem dar tratamento diferenciado e mais restritivo a direitos 
de igual natureza, passou a ser dispensada a perquirição da culpa quando 
a lide envolvia alimentos a cônjuges. 
 
 Na vigência do Código Civil de 1916, o dever alimentar de origens 
diversas era regrado em distintos diplomas legais e de modo diferenciado. Assim, 
sustenta Dias (2009, p. 457): 
a. A lei civil disciplinava os alimentos que decorriam do vínculo de 
consangüinidade e da solidariedade familiar. 
b. A Lei do Divórcio e a legislação da união estável regulavam os 
alimentos derivados do dever de mútua assistência. Somente em se 
tratando da obrigação alimentar entre cônjuges indagava-se da 
responsabilidade pelo fim do casamento. 
c. O Código anterior vedava a renúncia aos alimentos, havendo tão só a 
possibilidade de não serem cobrados (CC/1916, art. 404). 
d. No desquite, não era admitida a renúncia, somente a dispensa da 
pensão, em face de Súmula do STF - “No acordo de disquete não se 
 19 
admite renúncia aos alimentos, que poderão ser pleiteados 
ulteriormente, verificados os pressupostos legais”. 
e. A Lei do Divórcio nada dizia. No entanto, a jurisprudência passou a 
reconhecer a possibilidade de renúncia na separação e no divórcio. Ou 
seja, os parentes não podiam renunciar aos alimentos, mas os 
cônjuges, sim. 
f. De acordo com CC/1916, art. 402, a obrigação alimentar era 
intransmissível. A Lei do Divórcio consagrava a transmissibilidade da 
obrigação de prestar alimentos aos herdeiros do devedor (LD, art. 23). 
A tendência consolidada na jurisprudência era admitir a transmissão 
exclusivamente da dívida alimentar, isto é, das prestações vencidas e 
não pagas até a data do falecimento do devedor de alimentos. Morto o 
alimentante, extinguia-se o dever de pagar alimentos ao cônjuge 
sobrevivente. 
 Independentemente da origem do encargo, a identificação de culpa limita 
o valor dos alimentos, mas não os exclui, o que já é um avanço, o Código Civil em 
vigor volta o questionamento da responsabilidade. 
 Como afirma Cahali (2009), o Código Civil atual em seus artigos 1.694 a 
1.710, trata promiscuamente dos alimentos, não se sabe se por falha, 
desconhecimento ou real intenção. Não distingue a origem da obrigação, se 
decorrente do poder familiar, do parentesco ou do rompimento do casamento ou da 
união estável. A ausência de diferenciação quanto à natureza do encargo tem 
gerado sérias controvérsias em sede doutrinária. 
 
 
3.2 CONCEITO DE ALIMENTOS 
 
 
 Afirma Parizatto (2008, p. 139): 
 
 
Não obstante o termo utilizado pelos dispositivos legais “alimentos” tem-se 
que esses indicam o que serve para a alimentação em si, mas também o 
necessário à educação, moradia, vestuário, saúde, lazer entre outras 
despesas para a sobrevivência de alguém. 
 20 
 Beviláqua (1980, p. 863 apud PARIZATTO, 2008, p. 139) define que: 
“alimentos, na terminologia jurídica significam sustento, habitação, vestuário, 
tratamento por ocasião de moléstia, e, quando o alimentário for menor, educação e 
instrução”. Assim, têm-se que os alimentos abrangem a manutenção da vida, o 
tratamento e a convalescência de doenças, as vestimentas e as despesas de 
habitação. Alimentos seriam tudo quanto é necessário para o sustento do 
alimentado. 
 Portanto, em virtude da presunção de necessidade que tem o alimentando 
de receber meios para sua subsistência, é que se admite até mesmo a prisão civil do 
devedor inadimplente de alimentos, como meio coercitivo para tanto. É que se o 
devedor de alimentos deixa de cumprir com sua obrigação a tempo e modo, o 
alimentante fica desprovido de recursos para se manter, prejudicando-o, eis que a 
fome não espera. Daí a seriedade que se impõe a tal instituto de modo a se coibir à 
falta de pagamento de pensão alimentícia ou a protelação indevida da mesma. 
(PARIZATTO, 2008). 
 Dias (2009, p. 459) assinala que para o direito, alimento não significa 
somente o que assegura a vida. Enquanto, Rodrigues (2004, p. 375) afirma que a 
obrigação alimentar tem um fim precípuo: “atender às necessidades de uma pessoa 
que não pode prover a própria subsistência”. 
 O Código Civil de 2002 não define o que sejam alimentos. Preceito 
constitucional assegura a crianças e adolescentes direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura e à dignidade (CF. 
art. 207). (DIAS, 2009). 
 Assim, afirma Dias (2009), quem sabe aí se possa encontrar o parâmetro 
para a mensuração de a obrigação alimentar. Talvez o seu conteúdo possa ser 
buscado no que entende a lei por legado de alimentos (CC art 1920): sustento, cura, 
vestuário e casa, além de educação, se o legatário for menor. 
 
 
3.3 LEGITIMIDADE E FUNDAMENTAÇÃO LEGAL 
 
 
 A legitimidade do instituto está estabelecida no atual Código Civil em seu 
artigo 1.694 que “estabelece que os parentes, os cônjuges ou companheiros podem 
 21 
pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível 
com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua 
educação”. 
 O artigo 1.696 do CC estabelece que “o direito à prestação de alimentos é 
recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a 
obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros”. Para, o artigo 1.697 
estabelece que “na falta dos ascendentes cabe a obrigação dos descendentes 
guardadas a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos, 
como unilaterais”. 
 O Código Civil em seu artigo 1.698 estabelece que: 
 
Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em 
condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer 
os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar 
alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, 
e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a 
integrar a lide. 
 
 O Código Civil assegura em seu artigo 1.705 que: “Para obter alimentos, o 
filho havido fora do casamento pode acionar o genitor, sendo facultado ao juiz 
determinar, a pedido de qualquer das partes, que a ação se processe em segredo 
de justiça”. No artigo 1.703 é expresso que “para a manutenção dos filhos, os 
cônjuges separados judicialmente contribuirão na proporção de seus recursos” 
 Portanto, a responsabilidade da relação alimentícia é em primeiro lugar 
dos pais e filhos, depois de ascendentes, depois de descendentes e por último dos 
irmãos. 
 É de se observar que a prestação alimentícia é inerente ao poder familiar, 
onde ambos os genitores tem o dever de suprir as necessidades básicas dos filhos 
menores. 
 Enfim, a fundamentação legal do instituto está expressa no atual Código 
Civil, objeto da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que cuida do assunto nos 
artigos 1.694 a 1.710 - Subtítulo III, Capítulo VI, Livro IV, Direito de Família. 
 
 
 
 
 22 
3.4 CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO LEGAL DE ALIMENTOS 
 
 
3.4.1 Inalienabilidade 
 
 
 Esclarece Dias (2009) que o direito alimentar não pode ser transacionado, 
sob pena de prejudicar a subsistência do credor. Apenas com relação aos alimentos 
pretéritos são lícitas transações. Ainda assim, em se tratando de alimentos devidos 
a menor, o acordo necessita submeter-se à chancela judicial e prévia manifestação 
do Ministério Público.Reconhecida a inconveniência da transação, não deve ser 
homologada. Flagrado conflito de interesses entre o credor e seu representante, 
cabe a nomeação de um curador ao alimentando para buscar a cobrança do débito. 
Na separação e divórcio extrajudiciais, cabe a fixação de alimentos em favor dos 
cônjuges ou dos filhos maiores. 
 Embora indisponível o direito aos alimentos, são perfeitamente válidas as 
convenções estipuladas entre as partes com vistas a fixação da pensão presente ou 
futura, e ao modo de sua prestação. (CAHALI, 2009). 
 
 
3.4.2 Irrenunciabilidade 
 
 
 No artigo 404 do Código Civil/1916 vedava a renúncia aos alimentos. 
Segundo Dias (2009) com relação ao desquite, a matéria foi sumulada pelo STF 
(Súmula 379) no mesmo sentido. A Lei do Divórcio silenciou sobre o ponto. 
 Rodrigues (2004) diz que a jurisprudência aceitava a renúncia até mesmo 
para poupar as partes, por exemplo, da constrangedora prova da culpa para buscar 
a inexistência da obrigação. Com isso reconhecia-se a possibilidade de renúncia à 
pensão, sob o fundamento de que a irrenunciabilidade estava prevista somente no 
Código Civil, que tratava apenas dos alimentos decorrentes do parentesco. Como 
inexistia regra nesse sentido na Lei do Divórcio e nas leis reguladoras da união 
estável, a justiça aceitava a renúncia manifestada por cônjuges e companheiros. 
 23 
 Segundo Dias (2009) o Código Civil consagra a irrenunciabilidade aos 
alimentos, admitindo apenas que o credor não exerça o direito (art. 1.707). Como 
não está prevista qualquer exceção, inúmeras são as controvérsias que existem em 
sede doutrinária. Mas a lei é clara: não é mais possível admitir a renúncia. Todavia, 
pode haver a dispensado pagamento da pensão, o que não veda ulterior pretensão 
alimentar. 
 
 
3.4.3 Reciprocidade 
 
 
 Como já foi estudado a obrigação alimentar e recíproca entre cônjuges 
companheiros (art. 1.694) e parentes (art. 1.696). É mutuo o dever de assistência a 
depender das necessidades de um e das possibilidades do outro. 
 Com relação aos alimentos decorrentes do poder familiar não há falar 
em reciprocidade (CF, art. 229). Porém, no momento em que os filhos atingem a 
maioridade, cessa o poder familiar e surge, entre pais e filhos, obrigação alimentar 
recíproca em decorrência do vínculo de parentesco. 
 Para Dias (2009, p. 462): 
 
Ainda que exista o dever de solidariedade da obrigação alimentar a 
reciprocidade só é invocável respeitando um aspecto ético. Assim, o pai 
que deixou de cumprir com os deveres inerentes ao poder familiar não 
pode invocar a reciprocidade da obrigação alimentar para pleitear 
alimentos dos filhos quando atingirem eles a maioridade. 
 
 Cahali (2009, p. 110) diz que “à evidência, reciprocidade não significa que 
duas pessoas devam entre si alimentos ao mesmo tempo, mas apenas que o 
devedor alimentar hoje pode tornar-se credor alimentar no futuro”. 
 
 
3.4.4 Solidariedade 
 
 
 Segundo Cahali (2009) nunca declinou a lei a natureza de a obrigação 
alimentar. O silêncio do Legislador sempre ensejou acirrada controvérsia. 
 24 
 Segundo Dias (2009) como a solidariedade não se presume (Código Civil, 
art. 265), pacificaram-se doutrina e jurisprudência entendendo que o dever de 
prestar alimentos não era solidário, mas subsidiário e de caráter complementar, pois 
condicionado às possibilidades de cada um dos obrigados. Sua natureza divisível 
sempre serviu de justificativa para reconhecer que não se trata de obrigação 
solidária. Assim, no caso de existir mais de uma obrigação, cada um responde pelo 
encargo que lhe foi imposto, não havendo responsabilidade em relação à totalidade 
da dívida alimentar. 
 
 
3.4.5 Transmissibilidade 
 
 
 Afirma Dias (2009) que o Código Civil concede tratamento uniforme ao 
dever alimentar e prevê (Código Civil, 1.700): a obrigação de prestar alimentos 
transmite-se aos herdeiros do devedor. O Código Civil anterior, que regulava os 
alimentos entre parentes, dizia que o encargo era intransmissível (Código Civil/1916 
402). A Lei do Divórcio, ao tratar do dever entre cônjuges, consagrava sua 
transmissibilidade (LD, art. 23). As leis reguladoras da união estável nada diziam. A 
aparente contradição legislativa era solvida pela jurisprudência, atentando ao fato de 
serem encargos diferenciados: a lei civil regulava os alimentos entre parentes, e a 
Lei do Divórcio tratava da obrigação entre cônjuges. 
 A doutrina sustenta que cabe a imposição do encargo alimentar até ser 
ultimada a partilha dos bens, mediante a devida compensação, para que o 
alimentado-herdeiro não receba duplamente. Essa, porém, não é a orientação da 
jurisprudência, em face dos claros termos da lei. As parcelas recebidas a título de 
alimentos não são compensadas do seu quinhão hereditário. Mas o que se transmite 
é a obrigação alimentar, que pode ser cobrada dos sucessores. 
 Para isso não é necessário que o encargo tenha sido imposto 
judicialmente antes do falecimento do alimentante. A ação de alimentos pode ser 
proposta depois da morte do alimentante. Devedor não é apenas quem se acha 
obrigado por débitos vencidos, mas também a pessoa legalmente obrigada à 
prestação, mesmo que esteja em dia com os pagamentos ou não lhe tenha sido 
 25 
cobrada a prestação. O herdeiro que não está na posse do acervo hereditário pode 
promover ação de alimentos, no foro do seu domicílio, e não no juízo do inventário. 
 Os herdeiros não respondem por encargos superiores às forças da 
herança (Código Civil, 1.792). Não havendo bens, ou sendo insuficiente o acervo 
hereditário para suportar o pagamento, não há como responsabilizar pessoalmente 
os herdeiros pela manutenção do encargo. Surge o direito de pleitear os alimentos 
frente aos parentes. Mas é obrigação de outra origem, tendo por fundamento a 
solidariedade familiar (Código Civil, art. 1.694) (DIAS, 2009). 
 
 
3.4.6 Imprescritibilidade 
 
 
 Segundo Rizzardo (2008) o direito aos alimentos é imprescritível. A todo 
tempo o necessitado está autorizado a pedir alimentos. 
 Para Parizatto (2008) tem-se como imprescritível o direito a alimentos. No 
que se refere ao exercício da pretensão a alimentos, é de se observar que o Código 
Civil em seu artigo 206, parágrafo 2º, estabelece que prescreva em dois anos, a 
pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem. 
Anteriormente o prazo era de cinco anos (Código Civil/1916, art. 178, parág. 10º, I). 
 
 
3.4.7 Irrepetibilidade 
 
 
 Sustenta (Dias, 2009, p. 463-464): 
 
Talvez um dos mais salientes princípios que rege o tema dos alimentos 
seja o da irrepetibilidade. Como se trata de verba que serve para garantir a 
vida e destina-se à aquisição de bens de consumo para assegurar a 
sobrevivência. Assim, inimaginável pretender que sejam devolvidos. Esta 
verdade é tão evidente que até é difícil sustentá-la. Não há como 
argumentar o óbvio. Provavelmente por esta lógica ser inquestionável é 
que o legislador não se preocupou sequer em inseri-la na lei. Daí que o 
princípio da irrepetibilidade é por todos aceitos mesmo não constando do 
ordenamento jurídico. 
 
 26 
 Portanto, em nome da irrepetibilidade, afirma Dias (2009) não se pode dar 
ensejo ao enriquecimento injustificado. É o que se vem chamando de relatividade da 
não restituição. 
 Conforme Madaleno (1999, p. 57), “soa sobremaneira injusto não restituir 
alimentos claramente indevidos, em notória infração ao princípio do não 
enriquecimento sem causa”. A boa-fé é um princípio agasalhado pelo direito (Código 
Civil, art. 113 e 422). Admite-se a devolução exclusivamente quando comprovado 
que houve má-fé ou postura maliciosa do credor. 
 
 
3.4.8 Alternatividade 
 
 
 Em regra, os alimentos são pagos em dinheiro, dentro de determinada 
periodicidade. O parente podefornecer uma prestação pecuniária, ou fornecer 
hospedagem e sustento ao parente, bem como educação, quando menor (Código 
Civil, art. 1.701). 
 Segundo Rizzardo (2008) há de se considerar tal faculdade de acordo 
com as circunstâncias, como sugere o parágrafo único, pelo qual “compete ao juiz, 
se as circunstâncias o exigirem, fixar a forma do cumprimento da prestação”. Com 
efeito, cumpre se examine cada caso em particular. 
 Afirma Cahali (2009), contudo, o poder de disposição do magistrado, não 
pode ser levado ao extremo de permitir a contraprestação de serviços do devedor ao 
credor, ou de disciplinar o modo de vida do alimentado. 
 O descumprimento da obrigação comporta execução de obrigação de 
fazer, com a estipulação de pena pecuniária (CPC 461 § 5°). Sendo a obrigação 
prestada por terceiro, este fica sub-rogado no direito do credor, podendo fazer uso 
da demanda executória. (DIAS, 2009). 
 
 
 
 
 
 
 27 
3.4.9 Periodicidade 
 
 
 A pensão alimentícia é paga, em geral, mensalmente, menos quando se 
estipula a satisfação através da entrega de gêneros alimentícios ou rendimentos de 
bens. (RIZZARDO, 2008). 
 De acordo com Dias (2009, p. 468): 
 
Como o encargo de pagar alimentos tende a estender-se no tempo - ao 
menos enquanto o credor deles necessitar -, indispensável que seja 
estabelecida a periodicidade para seu adimplemento. Quase todos 
percebem salários ou rendimentos mensalmente, daí a tendência de 
estabelecer este mesmo período de tempo para o atendimento de a 
obrigação alimentar. No entanto, nada impede que seja outro o lapso: 
quinzenal, semanal e até semestral. 
 
 Essas estipulações dependem da concordância das partes ou da 
comprovação por parte do devedor da necessidade de que assim seja. De qualquer 
modo, dispondo o encargo do prazo que tiver em qualquer hipótese, cabível o uso 
da demanda executória. Mesmo que os alimentos sejam fixados semestralmente - o 
que é comum quando os devedores se dedicam à agricultura -, tal não retira a 
atualidade da obrigação para a cobrança pelo rito da coação pessoal (CPC, art. 
733). 
 
 
3.4.10 Anterioridade 
 
 
 Trata-se de encargo que necessita ser cumprido antecipadamente. Como 
os alimentos destinam- se a garantir a subsistência do credor, precisam ser pagos 
com antecedência, tendo vencimento antecipado. Esta regra encontra-se expressa 
na lei ao tratar do legado de alimentos (Código Civil, art. 1.928, parágrafo único): “se 
as prestações forem deixadas a título de alimentos, pagar-se-ão no começo de cada 
período. 
 Para Dias (2009, p. 469), 
 
 28 
[...] nada justifica deixar de aplicar tão salutar regra em toda e qualquer 
obrigação de natureza alimentar. Assim, a partir do dia em que os 
alimentos são fixados, já são devidos. Deve o devedor ser intimado para 
pagar imediatamente, cabendo ao juiz fixar-lhe um prazo razoável, quem 
sabe entre três ou cinco dias. Nunca, porém, pode ser determinado o 
pagamento - como ocorre diuturnamente - para o mês subseqüente ao 
vencido. Não há como pretender que o credor espere o decurso de 30 dias 
para receber os alimentos. 
 
 
 Portando, fixados os alimentos e não pagos imediatamente, possível o uso 
da via executória, pois existe mora e a obrigação torna-se exigível. Na ação de 
oferta de alimentos, mister que o autor, quando do ingresso da ação, deposite em 
juízo o valor oferecido, pois se trata de obrigação já devida. Só estará liberado de tal 
depósito se comprovar que vem procedendo ao pagamento desde quando houve o 
rompimento do vínculo de convívio com o credor. (DIAS, 2009). 
 
 
3.4.11 Atualidade 
 
 
 Segundo Parizzato (2008, p. 144) “levando-se em consideração que a 
prestação alimentícia tem a finalidade de garantir a sobrevivência de alguém, tem-se 
que tal direito é atual, pois que visa a satisfação momentânea da pessoa, não se 
podendo, pois exigir-se alimentos de épocas passadas. 
 A Constituição Federal (CF, art. 7º, IV) veda a vinculação do salário 
mínimo para qualquer fim, mas os alimentos oriundos de indenização por ato ilícito 
têm como base de cálculo o salário mínimo (CPC, art. 475-Q § 4°). Pacífica a 
orientação doutrinaria e jurisprudencial admitindo esse indexador nas obrigações 
alimentares no âmbito do direito das famílias. (DIAS, 2009). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 29 
4 NASCITURO E ALIMENTOS 
 
 
 Segundo o dicionário jurídico o significado de nascituro é: “ser humano já 
concebido, mas ainda por nascer. Por uma ficção do direito, é considerado 
provisoriamente com certa capacidade jurídica: direito do “nascituro”. (FELIPPE, 
1999, p. 217). 
 Venosa (2007, p. 135) afirma que: 
 
O nascituro é um ente já concebido que se distingue de todo aquele que não 
foi ainda concebido e que poderá ser sujeito de direito no futuro, dependendo 
do nascimento, tratando-se de uma prole eventual. Essa situação nos remete 
à noção de direito eventual, isto é, um direito em mera situação de 
potencialidade, de formação, para que nem ainda foi concebido. É possível 
ser beneficiado em testamento o ainda não concebido. Por isso, entende-se 
que a condição de nascituro extrapola a simples situação de expectativa de 
direito. 
 
 Sob o prisma do direito eventual, os direitos do nascituro ficam sob 
condição suspensiva. A questão está longe de estar pacífica na doutrina. 
 Conforme Queiroz (2010), conhecida e fecunda é a discussão sobre a 
personalidade do nascituro, mormente a teor do texto do artigo 4º do Código Civil de 
1916: “A personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei 
põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro”, que vem praticamente 
repetido no texto do artigo 2º do novo Código Civil. 
 Neste contexto, digladiam-se os adeptos da teoria natalista, da teoria da 
personalidade condicional e da teoria concepcionista, afirma Queiroz (2010). 
 Segundo a teoria natalista, “o nascituro teria mera expectativa de direitos, 
mesmo porque a personalidade, na dicção do caput do artigo 4º do Código Civil de 
1.916, somente se adquiriria a partir do nascimento com vida”. (RODRIGUES, 1997, 
p. 37 apud QUEIROZ, 2010, p. 1). 
 Os adeptos da teoria da personalidade condicional, por sua vez, 
“asseveram que o nascituro teria direitos que estariam subordinados a uma condição 
suspensiva consistente no nascimento com vida”. (MONTEIRO, 1989, p. 58-59 apud 
QUEIROZ, 2010, p. 1). 
 30 
 Já para os partidários da teoria concepcionista “o nascituro é sujeito de 
direitos e obrigações desde o momento da concepção. (ALMEIDA, 2000, p. 161 
apud QUEIROZ, 2010, p. 1). 
 Segundo Queiroz (2010) argumentos em prol de uma ou de outra teoria há 
vários e respeitáveis, principalmente aqueles baseados na situação exclusivamente 
jurídica do tema, independentemente de assertivas de cunho ideológico, moral e 
religioso. 
 Portanto, a natureza jurídica dos direitos dos nascituros, e, principalmente, 
quais são esses direitos, têm despertada profunda controvérsia doutrinária. No 
entanto, afirma Almeida Júnior (2009): embora não seja considerada pessoa, tem a 
proteção legal dos seus direitos desde a concepção. Em suma, no ordenamento 
brasileiro, seja qual for a explicação dogmática, o nascituro, conquanto ainda não 
haja adquirido personalidade jurídica, tem direito que lhe seja compatível. Entre 
esses direitos extrai-se a proteção á vida, ao ponto da legislação penal punir o crime 
de aborto com pesadas penas. E essa vida é protegida desde que o óvulo 
fecundado esteja nidado no útero da mulher. 
 É a proteção da dignidade do nascituro que leva cada vez mais decisões 
no sentido de lhe conceder direitos das mais variadas matizes, não obstante ainda 
não sejam reconhecidas como pessoas para efeitos civis, na medida em que não 
detém personalidade jurídica, que somente se adquire com o nascimento com vida. 
 
 
4.1NASCITURO E O DIREITO AOS ALIMENTOS 
 
 
 Miranda (1974, p. 215 apud CAHALI, 2009, p. 346) acrescenta: 
 
O dever de alimentos em favor do nascituro pode começar antes do 
nascimento e depois da concepção, pois antes de nascer, existem 
despesas que tecnicamente se destinam à proteção do concebido e o 
direito seria inferior à vida se acaso recuasse atendimento a tais relações 
entre inter-humanos, solidamente fundadas em exigências de pediatria. 
 
 
 Tais cuidados não interessam à mãe; interessam ao concebido. A 
Constituição Federal de 1988 preocupou-se em tutelar as garantias fundamentais do 
homem, prevê em seu artigo 5º, caput, a proteção ao direito à vida, como cláusula 
 31 
pétrea, sendo que esse dispositivo da Carta Magna é interpretado por Moraes (2001, 
p. 20), nos seguintes termos: 
 
O início da mais preciosa garantia individual deverá ser dado pelo biólogo, 
cabendo ao jurista, tão somente, dar-lhe um enquadramento legal, pois do 
ponto de vista biológico a vida se inicia com a fecundação do óvulo pelo 
espermatozóide, resultando o ovo ou zigoto. Assim, a vida viável, começa 
com a nidação, quando se inicia a gravidez (...). 
 
 A Constituição, é importante ressaltar, protege a vida de forma geral, 
inclusive uterina. Em seu artigo 1º, III, assegura a dignidade da pessoa humana, 
impedindo que seja ameaçada a integridade física e a saúde de todos, inclusive do 
nascituro, o que consiste na plena proteção à dignidade deste ser humano ainda em 
formação, mas já protegido pelo ordenamento jurídico. 
 Por conseguinte, o ordenamento jurídico protege o nascituro, garantindo-
lhe a vida mediante a possibilidade de percepção de alimentos, incluído neste 
conceito todas as despesas necessárias ao seu nascimento, despesas estas, que 
compreendem a assistência médica-cirúrgica, pré-natal, a dieta adequada, o enxoval 
e as despesas referentes ao parto. 
 Venosa (2007) defende que ao nascituro é possível a prestação 
alimentícia, sob fundamento de que a lei ampara a concepção. 
 Queiroz (2010) sustenta que o Estatuto da Criança e do Adolescente, 
interpretado sistematicamente em meio ao ordenamento jurídico, ao tratar da 
proteção integral à criança, também incluiu os nascituros no rol dos destinatários de 
suas normas protetivas. Tal conclusão se confirma a partir da leitura, de alguns 
dispositivos específicos da Lei 8.069/90: 
• Artigo 7º “estabelece que a criança tem direito à proteção de sua vida e 
saúde, cumprindo às políticas sociais públicas garantir-lhe o 
nascimento sadio”. Ora, se a lei quer garantir o nascimento sadio da 
criança, evidentemente deve proporcionar-lhe condições adequadas 
que sejam anteriores ao fato do nascimento. 
• Assim é que o artigo 8º do mesmo estatuto assevera que a gestante 
terá acompanhamento médico durante a gestação, com vistas à 
proteção do nascituro. 
 Portanto, vê-se que não é propriamente a gestante a destinatária da 
norma protetiva - até porque ela pode ter mais do que dezoito anos de idade, 
 32 
estando fora do alcance do artigo 2º da Lei 8.069/90, mas sim o seu filho que ainda 
está por nascer. Segundo o ordenamento jurídico brasileiro, e principalmente a teor 
do Estatuto da Criança e do Adolescente, o nascituro é sujeito de direito, tendo, 
assim, personalidade, independentemente dos discutíveis textos do artigo 4º do 
Código Civil de 1916 e do artigo 2º do novo Código Civil, já citados. 
 Deve ser ainda, aplicado ao nascituro, o artigo 130 do atual Código Civil 
que prevê que o titular de direito individual pode praticar atos para conservar a 
condição suspensiva ou resolutiva de seu direito. 
 Ressalta Tepedino (1999, p. 22 apud QUEIROZ, 2010, 3), 
 
[...] espera-se tão-somente que tais modestas reflexões, que não excluem - 
antes recomendam - o seu aprofundamento, tampouco que não esgotam 
todos os possíveis argumentos no sentido de sua conclusão, possam 
contribuir para o aprimoramento da discussão acerca da personalidade do 
nascituro, sem perder de vista a necessidade da interpretação sistemática 
do ordenamento jurídico, sempre à luz do texto maior da Constituição. 
 
 E com o advento da Lei n. 11.804 de 05 de novembro de 2008, o nascituro 
passa a pleitear alimentos, pois havendo indícios de paternidade, poderão os 
alimentos ser fixados, mesmo antes do nascimento, a fim de serem custeadas as 
despesas decorrentes do seu nascimento. Assim dispõe o art. 6º da citada lei: “o 
juiz, convencido da existência de indícios de paternidade, fixará alimentos gravídicos 
que perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da parte 
autora e as possibilidades da parte ré”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 33 
5 ALIMENTOS GRAVÍDICOS 
 
 
5.1 CONCEITO DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS 
 
 
 Existe a manifestação de vários autores sobre o assunto. 
 A Lei n. 11.804/2008, nos termos do seu art. 1º, concede a gestante o 
direito de buscar alimentos durante a gravidez - daí “alimentos gravídicos”. 
 Lomeu (2008, p. 58) afirma: 
 
Alimentos gravídicos compreendem-se aqueles devidos ao nascituro, mas 
percebidos pela gestante ao longo da gravidez. Em outras palavras, 
constituem-se valores suficientes para cobrir despesas inerentes ao 
período de gravidez e dela decorrentes, da concepção ao parto, ou que o 
magistrado considere pertinente. O rol, portanto, não é exaustivo. 
 
Agora, com o nome de gravídicos, os alimentos são garantidos desde a 
concepção. A explicitação do termo inicial da obrigação acolhe a doutrina que há 
muito reclamava a necessidade de se impor a responsabilidade alimentar com efeito 
retroativo a partir do momento em que são assegurados direitos ao nascituro. 
Ainda que inquestionável a responsabilidade parental desde a concepção, 
o silêncio do legislador sempre gerou dificuldade para a concessão de alimentos ao 
nascituro. Assim, em muito boa hora é preenchida injustificável lacuna (DIAS, 2009). 
 Nesses moldes, já afirmava Venosa (2007), o nascituro também pode 
demandar a paternidade, como autoriza o art. 1.609, parágrafo único. 
 Nesse sentido, vale ressaltar o valioso ensinamento de Pereira (2006, p. 
517-519): “Se a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a concepção, é de se 
considerar que o seu principal direito consiste no direito à mãe necessitada fossem 
recusados os recursos primários à sobrevivência do ente em formação em seu 
ventre”. 
 
 
 
 
 
 34 
5.2 A INOVAÇÃO TRAZIDA PELA LEI Nº 11.804/2008 
 
 
A inovação trazida pela Lei n. 11.804, de 05 de novembro de 2008, 
disciplina o direito de alimentos da mulher gestante e a forma como será exercido. 
 Afirma Dias (2009, p. 481-482): 
 
Bastam indícios da paternidade para a concessão dos alimentos, os quais 
irão perdurar mesmo após o nascimento, oportunidade em que a verba 
fixada se transforma em alimentos a favor do filho. Os alimentos mudam de 
natureza. Como deve ser atendido ao critério da proporcionalidade, 
segundo os recursos de ambos os genitores, nada impede que sejam 
estabelecidos valores diferenciados, vigorando um montante para o 
período da gravidez e valores outros, a título de alimentos ao filho, a partir 
do seu nascimento. Isto porque o encargo decorrente do poder familiar tem 
parâmetro diverso, pois deve garantir o direito do credor de desfrutar da 
mesma condição social do devedor (CC art. 1.694). 
 
 A transformação dos alimentos em favor do filho ocorre 
independentemente do reconhecimento da paternidade. Caso o genitor não conteste 
a ação e não faça o registro do filho, a procedência da ação deve ensejar a 
expedição do mandado de registro, sendo dispensável a instauração do 
procedimento de averiguação da paternidade para o estabelecimento do vínculo 
parenta. (DIAS, 2009). 
 Ressalta Dias (2009), é assegurada a revisão dos alimentos, sem aexigência da alteração do parâmetro possibilidade/necessidade. De forma salutar, 
foram afastados dispositivos do projeto que traziam todo um novo e moroso 
procedimento, imprimindo um rito bem mais emperrado do que o da Lei de 
Alimentos. Da redação originária permaneceu somente uma regra processual: a 
definição do prazo da contestação em cinco dias (Lei n.11.804/2008, 7º). Com isso 
fica afastado o poder discricionário do juiz de fixar o prazo para a defesa (Lei n. 
5.478/1968 5°, § 1°). 
 
 
5.2.1 Aspectos processuais 
 
 
 Freitas (2009, p. 36) afirma que: 
 35 
A natureza dos alimentos gravídicos é sui generis, tanto no aspecto 
material como processual. No tocante ao viés material, o instituto agrega 
elementos da pensão alimentícia e da responsabilidade civil. Da primeira, 
se apropria a primazia de tutela em relação a outras obrigações (inclusive 
permitindo execução nos moldes do art. 732 e 733); da segunda, a novel 
Lei se vale das regras de integral reparação patrimonial (já que a lei 
retroage o início da responsabilidade do suposto pai a “concepção”, ou 
seja, a data do acontecimento, como na responsabilidade civil (que juros e 
correção contam-se da data do fato e as medidas são de promover a 
restauração financeira do status quo ante). 
 
 A ação de alimentos gravídicos, evidentemente inicia-se com uma petição 
inicial, com a narrativa dos fatos. Diferentemente da ação de alimentos da Lei n. 
5.478, de 25 de julho de 1968 a ação de alimentos gravídicos não exige a prova pré-
constituída da paternidade. 
 Desse modo, afirma Almeida Júnior (2009) convencido da existência de 
indícios de paternidade, o juiz fixa os alimentos. Trata-se de juízo de cognição, que 
não denota prova inequívoca. A lei contentou-se com os indícios da paternidade. Em 
linhas gerais, quando houver um relacionamento estável entre pessoas de sexo 
diferente e a mulher engravidar, haverá indício da paternidade do parceiro (quer 
casado, quer companheiro, quer concubino, quer namorado), e o juiz poderá fixar os 
alimentos. 
 Segundo Cahali (2009) a Lei se limita a dispor que o réu será citado para 
apresentar resposta em cinco dias (art.7º), seguindo-se o enunciado genérico (art. 
11) no sentido de aplicação supletiva, nos processos regulados pele referida Lei, do 
Código de Processo Civil e da Lei de Alimentos. 
 Afirma Cahali (2009, p. 354): 
 
Essa dúplice remissão supletiva justifica a preocupação do professor 
Francisco José Cahali ao criticar o prazo especial de contestação, 
inovando quanto ao rito processual a ser adotado, criando um 
procedimento próprio de defesa, mas sem esclarecer como se seguirá o 
processo a partir de então, quando melhor teria sido manter o rito da Lei de 
Alimentos. 
 
 Portanto, reduzindo em alguns dias o prazo geral para a resposta, foi 
vetado o art. 5º do projeto que dispunha que “recebida a petição inicial, o juiz 
designará audiência de justificação onde ouvirá a parte autora e apreciará as provas 
da paternidade em cognição sumária, podendo tomar depoimento da parte ré e de 
testemunhas e requisitar documentos. 
 36 
 De acordo com Cahali (2009) fundamentou-se o veto em que o art. 5º, ao 
estabelecer o procedimento a ser adotado, determina que seja obrigatória a 
designação de audiência de justificação, procedimento que não é obrigatório para 
nenhuma outra ação de alimentos e que causará retardamento, por vezes, 
desnecessário para o processo. Vetado também o art. 8º do projeto, que dispunha 
que, havendo oposição à paternidade, condicionava a sentença de procedência do 
pedido do autor à realização de exame pericial, não se pode delimitar ainda mais a 
função do julgador na verificação da existência de indícios da paternidade do 
nascituro imputada à parte ré. 
 Afirma Cahali (2009, p. 355): 
 
Embora o legislador deixe transparecer certa liberdade, ao referir-se que 
bastaria para a fixação de alimentos gravídicos que esteja o juiz 
convencido da existência de indícios da paternidade (art. 6º), recomenda a 
prudência que tais indícios tenham alguma consistência, sejam seguros e 
veemente, especialmente diante do fato de a contribuição prestada pela 
parte ré ser considerada não repetível ou reembolsável. Seria leviandade 
pretender que o juiz deva satisfazer-se com uma cognição superficial. 
 
 Assim, conquanto os alimentos chamados gravídicos, obviamente, 
somente podem ser reclamados depois de verificada a gravidez se sujeita eles à 
regra do art. 13, 2º, da Lei 5.478/68: “Em qualquer caso, os alimentos fixados 
retroagem à data da citação” (na ação promovida pela genitora grávida) (CAHALI, 
2009). 
 
 
5.2.2 Possibilidade de conversão, revisão e extinção dos alimentos gravídicos 
 
 
 Segundo Cahali (2009, p. 354): 
 
Preservando o exato elastério do art. 2º do atual Código Civil, dispõe a 
nova Lei, no parágrafo único do art. 6º, que, após o nascimento com vida, 
os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor 
do menor até que uma das partes solicite a revisão. 
 
 37 
 Nessas linhas, nada impede que o juiz estabeleça um valor para a 
gestante e, atendendo ao critério da proporcionalidade, fixe novos alimentos para a 
criança. 
 A revisão dos alimentos gravídicos, que se torna inexistente após o 
nascimento com vida, esta descrito no artigo 7º da lei 11.804/2008: "O réu será 
citado para apresentar resposta em 5 (cinco) dias.", que se faz imprescindíveis pois 
são distintas as funções dos alimentos gravídicos e a pensão de alimentos, inclusive 
seus valores. 
 Como afirma Dias (2009, p. 532): 
 
A revisão dos alimentos é possível sempre que houver afronta ao princípio 
da proporcionalidade, quer porque houve alteração nas condições de 
qualquer das partes, quer porque esse princípio foi desatendido por 
ocasião da fixação dos alimentos. Desimporta que tenham sido fixados por 
acordo ou judicialmente. 
 
Até o parto, a gestante reclama o auxílio-maternidade do futuro pai, agindo 
em nome próprio, em função do seu estado gravídico. Somente depois de dar a luz 
ao filho, passa a mesma a agir como representante do menor na execução ou 
revisão da pensão alimentícia que passa a ser devida a este. Colocada a questão 
nos termos da lei, afasta-se desde logo a discussão envolvendo o problema da 
legitimidade do Ministério Público para postular em juízo, em nome da mãe, a co-
participação do futuro pai nas “despesas adicionais” do período da gravidez, ainda 
que ressalve a hipóteses de ser a futura genitora menor ou incapaz. A típica “pensão 
alimentícia” em favor do filho menor, em forma de conversão, somente ser devida 
com seu nascimento com vida, ao adquirir o mesmo a condição de pessoa dotada 
de capacidade civil. (CAHALI, 2009). 
 Sustenta Freitas (2009, p. 37): 
 
Ocorrendo o nascimento com vida, a revisão dos alimentos deverá ser feita 
cumulativamente com a investigação de paternidade, caso não seja esta 
reconhecida, mediante exame de DNA, lembrando, é claro, que não há 
possibilidade de retroagir os valores já pagos se der negativo o referido 
exame, haja vista a natureza desta obrigação. 
 
 Portanto, a revisão independe do reconhecimento da paternidade, por 
serem os critérios fundantes da fixação do quantum da pensão de alimentos e dos 
 38 
alimentos gravídicos diferentes, não sendo suficientes ou demasiados. Essa revisão 
acontece de acordo com Lei Civil de 2002, verbis: 
 
Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação 
financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o 
interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, 
redução ou majoração do encargo. 
 
 Ressalta Freitas (2009) tal revisão poderá ser realizada, também, durante 
a gestação, embora pela morosidade processual, dificilmente se verá o fecho da 
demanda antes do nascimento do menor. Mas,após seu nascimento, quando 
convertido em pensão de alimentos, não há qualquer óbice à revisão do quantum 
devido a título de pensão alimentícia. 
 Quanto à extinção da ação dos alimentos gravídicos se dará 
automaticamente em casos de aborto ou de natimorto e, também, após o 
nascimento, comprovado que a paternidade não é daquele obrigado pelos alimentos 
gravídicos. (FREITAS, 2009). 
 
 
5.2.3 Viabilidade de indenização do réu 
 
 
 Quando o suposto pai, que demonstrou por prova pericial não ser o pai 
biológico, poderá ingressar com uma ação indenizatória em face da autora da ação 
de alimentos gravídicos por danos morais. 
 A base legal para esta ação indenizatória está presente no art. 186 do 
Código Civil: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito”. Portanto, a obrigação de indenizar está prevista no art. 927 do 
CC: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem fica obrigado 
a indenizá-lo”. 
Para Freitas (2009) uma da viabilidade de indenização do réu, se o 
resultado do exame de DNA for ao sentido da ausência de paternidade, além da má 
fé (multa por litigância ímproba), poderá a autora ser também condenada por danos 
materiais e/ou morais, se restar provado que se valeu do instituto para lograr auxílio 
 39 
financeiro de terceiro que sabia não se tratar do suposto pai. Isto, sem dúvida, 
configura-se exercício irregular de um direito, um ato ilícito e que é fundamento para 
a responsabilidade civil. 
Para Fonseca (2009, p.13): “Uma imputação de paternidade indevida, 
poderá destruir casamentos, uniões estáveis, bem como possibilitar o desembolso 
de quantia alimentar muitas vezes irrecuperável”. 
Nessa mesma linha, Caldeira (2009, p. 32) afirma que: 
 
Certamente, um indigitado pai que não for o pai biológico sofrerá graves 
danos na sua vida pessoal, familiar, financeira e profissional. Ações 
indenizatórias por dano moral provavelmente não serão capazes de reparar 
as perdas. No caso do suposto pai estar certo que não é o pai biológico, 
será aconselhável propor uma ação negatória de paternidade para, com o 
resultado do exame pericial, obter a exoneração da pensão alimentícia. 
 
 Dias (2008) entende que é preciso impor-se extremo cuidado e atenção na 
análise das provas produzidas contra o suposto pai, para não corre o risco de 
fomento de ações fundamentadas em indícios de paternidade. Por isso, Francisco 
José Cahali se diz simpático à rígida apuração da responsabilidade civil da mãe, 
caso a paternidade do réu venha a ser afastada após o pagamento de diversas 
parcelas da pensão. Segundo ele, mesmo vetado o artigo que previa tal 
responsabilização, há possibilidade de isso ocorrer, em face do Direito Comum 
(Código Civil), inclusive por danos morais, se preenchidos os requisitos. 
 Portanto, as pessoas que agirem ilicitamente deverá, caso a caso, 
responder por seus atos. Para coibir isso, o Poder Judiciário deverá agir com 
extremo rigor contra essas pessoas, afirma Dias (2008). 
 Na concepção do Instituto de Direito de Família - IBDFAM, a gestante 
pode ser responsabilizada por danos matérias e morais se a paternidade indicada 
for negativa, pois afronta o princípio constitucional do acesso à justiça, ao abrir um 
grave precedente de o réu ser indenizado pelo fato de ter sido acionado em juízo. 
(ALMADA, 2008). 
 O dano moral explora a possibilidade ou não de reparação de danos que 
são imateriais, estando presente em nosso ordenamento jurídico de forma 
expressiva na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, inciso V e X, que 
prescrevem: 
 
 40 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
 
[...] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem; 
 
[...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das 
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral 
decorrente de sua violação (BRASIL, 2008). 
 
 Para Cahali (2009), o dano moral é caracterizado "como a privação ou 
diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo na vida do homem e que são a 
paz, a tranqüilidade de espírito, a liberdade individual, a integridade física, a honra e 
os demais sagrados afetos”. 
 Foi vetado o artigo 10 do projeto de lei respectivo (Projeto 7376/2006), que 
dispunha sobre a responsabilidade da autora da ação quanto aos danos morais e 
materiais causados ao réu, no caso de resultado negativo do exame pericial da 
paternidade, nas razões de trata-se de norma intimidadora, pelo fato de criar 
hipótese de responsabilidade objetiva em detrimento ao exercício regular de um 
direito. 
 Porém, permanece a aplicabilidade da regra geral da responsabilidade 
subjetiva, constante do artigo 186 do Código Civil, já citado, pela qual a autora pode 
responder pela indenização cabível desde que verificada a sua culpa, ou seja, desde 
que verificado que agiu com dolo (vontade deliberada de causar o prejuízo) ou culpa 
em sentido estrito (negligência ou imprudência) ao promover a ação. 
 Portanto, afirma De Plácido e Silva (2008), que essa regra geral da 
responsabilidade civil está acima do princípio da irrepetibilidade dos alimentos, 
daquele princípio pelo qual se a pensão for paga indevidamente não cabe exigir a 
sua devolução. Portanto, não fica ao desabrigo aquele que é demandado numa ação 
de alimentos gravídicos caso se apure não ser o pai, sendo a ele assegurado o 
direito à reparação de danos morais e materiais com fundamento na regra geral da 
responsabilidade civil. 
 Afirma também Miranda (2000, p. 288): "os alimentos recebidos não se 
restituem, ainda que o alimentário venha a decair da ação na mesma instância, ou 
em grau de recurso". 
 Sustenta Arnold Wald (1981, p.32 apud CAHALI, 2009, p. 108): 
 41 
Admite-se a restituição dos alimentos quando quem os prestou não os 
devia, mas somente quando se fizer a prova de que cabia a terceiro a 
obrigação alimenta, pois o alimentado utilizando-se dos alimentos não teve 
nenhum enriquecimento ilícito. A norma adotada pelo nosso direito é 
destarte a seguinte: quem forneceu os alimentos pensando erradamente 
que os devia, pode exigir a restituição do valor dos mesmos do terceiro que 
realmente devia fornecê-los. 
 
 Torna-se claro para Cahali (2009), de todo o suposto pai que foi lesado, 
por não ser pai e realizou o pagamento de tais alimentos no período da gravidez e 
até mesmo após o parto, de todo não fica desamparado, apesar da irrepetibilidade 
de alimentos, este pode pleitear a restituição a aquele que realmente os deve. 
 Verifica-se, já existem instrumentos legais suficientes para se impor a 
obrigação do suposto pai. Portanto, não seria justa a criação de dispositivo na 
mesma lei que também que "especificamente" punisse com o mesmo rigor os casos 
comprovados de má intenção, quiçá na parte penal? Como fica o direito de ampla 
defesa? 
 Observa-se que os indícios de paternidades são frágeis, contudo, 
necessário é que o convencimento do magistrado seja cauteloso e mesmo com tais 
indícios não sendo fundamentados de forma sólida, e sendo evidenciada a 
necessidade da genitora não é acolhido seu pedido caso não conste o mínimo de 
veracidade em tais indícios. 
 
 
5.3 TEORIA CONCEPCIONISTA EM REALIDADE COM A LEI DE ALIMENTOS 
GRAVÍDICOS 
 
 A teoria concepcionista conta com alguns defensores, dentre os quais se 
destacam Cahali (2009), Vieira de Carvalho (2007) e outros. Esta teoria ancora-se 
nos seguintes fundamentos: 
I - O nascituro é titular de direitos

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