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Gestaltismo e organizacao perceptiva

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Gestaltismo e a 
Organização Perceptiva
Psicologia da Percepção
Profa. Ms. Janine Reis T. Pereira
 Os sete sábios cegos 
Numa cidade da Índia viviam sete sábios cegos. 
Como seus conselhos eram sempre excelentes, todas as pessoas que tinham problemas os consultavam.
Embora fossem amigos, havia certa rivalidade entre eles que, de vez em quando, discutiam sobre qual seria o mais sábio.
 Certa noite, depois de muito conversarem acerca da verdade da vida e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna na montanha.
 Disse aos companheiros: - Somos cegos para que possamos ouvir e compreender melhor do que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí brigando como se quisessem ganhar uma competição. Não agüento mais! Vou-me embora. 
 No dia seguinte, chegou à cidade um comerciante montado num elefante imenso. Os cegos jamais haviam tocado nesse animal e correram para a rua ao encontro dele.
 O primeiro sábio apalpou a barriga do animal e declarou: - Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar os seus músculos e eles não se movem; parecem paredes...
 - Que bobagem! - disse o segundo sábio, tocando na presa do elefante - Este animal é pontudo como uma lança, uma arma de guerra... 
Ambos se enganam - retrucou o terceiro sábio, que apertava a tromba do elefante. - Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia...
 - Vocês estão totalmente alucinados! - gritou o quinto sábio, que mexia as orelhas do elefante - Este animal não se parece com nenhum outro. Seus movimentos são ondeantes, como se seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante... 
 Vejam só! - Todos vocês estão completamente errados! - irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante - Este animal é como uma rocha com uma cordinha presa no corpo. Posso até me pendurar nele. 
E assim ficaram horas debatendo, aos gritos, os seis sábios. Até que o sétimo sábio cego, o que agora habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança. Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:
 - Assim os homens se comportam diante da verdade. Pegam apenas uma parte, pensam que é o todo, e continuam tolos...!
 Lenda Hindu. Aletriam – Contos e Histórias 
			Os sábios cegos e o elefante
Gestaltismo e Organização Perceptual
- Tipos de processamento da percepção:
Os estímulos são tratado como inputs (entradas)
Processamento botton-up: O reconhecimento se inicia com a retirada de informações básica dos receptores. Estas são integradas e processadas pelo sistema visual antes que o estímulo seja percebido.
Processamento top-down: 
 - a percepção é organizada pelo contexto, pela experiência passada, pelo conhecimento geral, pela disposição perceptual e pelas expectativas.
 A Abordagem da Gestalt
Psicologia da Gestalt: (1910, Alemanha)
Gestalt, palavra alemã que se refere a dar forma ou contorno
se opunha à ideia estruturalista dominante de que a percepção é uma combinação de sensações individuais que podem se reduzir a elementos simples e particulares.
Entendia que a percepção não podia ser compreendida pelas simples decomposição de seus componentes. As unidades básicas do processo perceptivo são as próprias percepções (as “gestalts”)
“O todo é diferente das somas das partes” – A percepção do todo domina a percepção de suas partes.
É a relação entre o que se percebe que faz surgir uma configuração total única.
A psicologia da Gestalt enfatiza o papel único da estrutura geral e da relação entre os componentes na produção da organização perceptual.
Giuseppe Arcimboldo
– A percepção figura-fundo:
Para vermos o mundo de forma organizada, em que objetos e superfícies estão fisicamente separados, é fundamental que a cena que vista contenha algumas partes que se destaquem das demais.
Edgar Rubin, 1915
- Figura: parte que possui forma distinta e nitidamente definida
- Fundo: o restante, o entorno da figura
Estamos dispostos a perceber tridimensionalmente os objetos fazendo com que eles se destaquem um em relação ao outro e em relação ao fundo, evitando que todos fossem vistos num mesmo plano (ponto de vista evolutivo)
Oyama (1960): experimento quantitativo que corroborou o princípio de que a parte menor tende a ser observada como figura.
Propriedades do campo perceptivo
As principais diferenças perceptuais entre figura e fundo
Figura:
Possui contorno delimitando sua forma
Parece mais próxima do observador e à frente do fundo
Parece causar maior impressão, exerce maior dominância e é mais lembrada
Sugere maior quantidade de associações significativas
Geralmente é mais luminosa
Fundo:
Aparece relativamente sem forma definida
Localização menos precisa
Menor impressão, exerce menor dominância e é menos lembrado
Geralmente menos luminosa
Pesquisas sugerem que a percepção figura fundo não é adquirida por aprendizado, sendo independente da experiência;
A percepção figura-fundo requer certo grau de interpretação perceptual do cenário como um todo (processamento top-down).
Figuras ambíguas ou reversíveis:
 Configurações em que figura e fundo são reversíveis em função de mudanças da atenção
Vaso de Rubin (Perfil ou Vaso?)
- Princípios de Agrupamento da Gestalt:
Identificar as propriedades das figuras que nos permitem perceber as formas.
Evidenciam tendência para a percepção de características globais e coerentes do ambiente visual com base no arranjo, localização e interação de seus constituintes
1 – Proximidade: Os elementos são agrupados conforme a proximidade que se percebe entre eles
2 – Similaridade: os elementos que se assemelham tendem a ser agrupados juntos
3 – Conectividade Uniforme: Há a percepção de uma única unidade quando os elementos parecem estar fisicamente ligados
Destaca-se que nossa percepção é mais influenciada pelas linhas de conectividade do que ela proximidade ou singularidade.
4 – Boa continuidade: agrupam-se perceptualemnte os elementos que parecem seguir na mesma direção
 
5 – Destino Comum: elementos que parecem “se mover” na mesma direção são agrupados perceptivamente
Ex: Ola no estádios; Cardume
6 – Simetria: A figuras mais naturais, mais equilibradas e simétricas são preferencialmente agrupadas em comparação com as assimétricas
7 – Fechamento: Favorece a percepção de figuras mais completas; tendência a perceber figuras incompletas como completas.
Os princípios de agrupamento da Gestalt não atuam isoladamente ou funcionam independentes um do outro. Ao contrário, eles interagem entre si construindo uma percepção mais coerente e significativa
- Lei da Boa Forma ou Lei da Pregnância (Lei de Pragnanz)
A boa forma é a mais simples e mais estável! Sua qualidade tende a ser inversamente proporcional à quantidade de informações.
 são mais fáceis de serem lembradas
Evidencias apontam que o todo é melhor percebido que suas partes! Ex: parte de letras x letras; letras x palavras
Contorno Subjetivos
Contornos aparentes ou ilusórios: Primeiramente estudados por Kanizsa – através de uma porção vazia do campo visual produz-se o surgimento de bordas ou contornos.
Recentemente, argumenta-se, sobretudo, que este fenômeno seja decorrente de efeitos de contraste da luminosidade em regiões adjacentes
Superposição aparente: Efeito semelhante à percepção de uma figura central cobrindo ou se sobrepondo a elementos situados nas bordas
Quando mais o aspecto de sobreposição se configurar, mais clara e contundente é a formação dos contornos subjetivos.
Quando os elementos indutores do contorno são eles mesmos figuras completas, o contorno subjetivo não é claro ou não acontece. Desta forma, o contornosubjetivo se relaciona diretamente aos elementos indutores nos cantos das figuras.
Existem variáveis cognitivas que participam deste processo: familiaridade com estímulo, atenção seletiva, entre outros.
Rock (1986): efeitos da luminosidade são uma invenção cognitiva para dar sentido à percepção
De acordo com pesquisas, a percepção do contorno subjetivo pode ser um subproduto de um mecanismo de processamento espacial natural do sistema da visão.
Predisposição perceptual
Predisposição perceptual: forma de preparação (primming) ou prontidão em se perceber o mundo a partir da experiência passada e do contexto ambiental.
A percepção do ambiente se deve a certas predisposições e intenções do próprio observador, bem como aos tipos e qualidade dos processos cognitivos;
Experiências, lembranças, expectativas, sugestões e o próprio contexto direcionam a percepção = prontidão ou tendenciosidade para organizar as informações visuais de uma determinada maneira
A predisposição visual é produto de um processamento top-down.
Efeito Stroop: Atraso ou perturbação na realização de atividades incongruente (Predisposição perceptual automática x leitura)

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