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Direitos reais de garantia •Pessoal ou fidejussória: uma pessoa estranha à relação obrigacional principal se responsabiliza pelo pagamento da dívida, caso o devedor deixe de cumprir a obrigação. Terceira pessoa se obriga por meio de fiança a solver o débito não satisfeito pelo devedor principal. •Real: O próprio devedor ou alguém por ele oferece um bem para garantir a satisfação do crédito. O bem fica vinculado à satisfação. • Daí por diante, pouco importa o estado em que se venha encontrar o patrimônio do devedor, uma vez que a coisa está ligada ao cumprimento daquela obrigação. CONCEITO DE DIREITO REAL DE GARANTIA: é o que “confere ao credor a pretensão de obter o pagamento da dívida com o valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. Sua função é garantir ao credor o recebimento da dívida, por estar vinculado determinado bem ao seu pagamento. O direito do credor concentra-se sobre determinado elemento patrimonial do devedor. Os atributos de sequela e preferência atestam sua natureza substantiva e real.” (Orlando Gomes) • Art. 1.419. Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem dado em garantia fica sujeito, por vínculo real, ao cumprimento da obrigação. Modalidades de garantia real O Código Civil brasileiro contempla, no Título em epígrafe (TÍTULO X - Do Penhor, da Hipoteca e da Anticrese / CAPÍTULO I Disposições Gerais), as seguintes modalidades de garantia: penhor, hipoteca e anticrese (art. 1.419). Distinção entre os direitos reais de garantia Quanto ao objeto: •Como regra: penhor recai em coisas móveis, enquanto a hipoteca e a anticrese, em bens imóveis. • Tal distinção não pode ser considerada absoluta, não só porque se admite penhor de imóveis, mas também hipotecas de móveis, como, por exemplo, a hipoteca de navios e aviões (e até de automóveis, como sucede em algumas legislações). Quanto à titularidade da posse do bem dado em garantia: •No penhor (como regra) e na anticrese, a coisa deve ser entregue ao credor, que passa a ser seu possuidor direto. Na hipoteca, a coisa conserva-se em poder do devedor ou de quem o dá em garantia, não ocorrendo o deslocamento da posse. • Obs. Hoje, admitem-se formas de penhor nas quais o bem continua em poder do proprietário, não se verificando a tradição que investe o credor pignoratício em sua posse. Quanto à forma do exercício do direito: •o penhor e a hipoteca distinguem-se da anticrese, porque tanto o credor pignoratício quanto o hipotecário podem, no caso de inadimplemento da obrigação, promover a venda judicial da coisa gravada para, com o preço apurado, satisfazeremse preferencialmente. O credor anticrético não dispõe do jus vendendi, mas tão somente do direito de reter a coisa enquanto a dívida não for paga. -> Os direitos reais de garantia como acessórios da obrigação principal Sendo os direitos reais de garantia acessórios da obrigação, cujo cumprimento asseguram, seguem o destino desta. Assim, extinta a obrigação principal, desaparece o direito real de garantia, mas a recíproca não é verdadeira. 2. Requisitos dos direitos reais de garantia 2.1. Requisitos subjetivos Para a validade da garantia real, a lei exige, além da capacidade geral para os atos da vida civil (arts. 3 e 4), a especial para alienar. Art. 1.420. Só aquele que pode alienar poderá empenhar, hipotecar ou dar em anticrese; (...) - Justifica-se a exigência porque o bem dado em garantia pode, não paga a dívida, ser vendido em hasta pública. - Além do domínio, tem que ter a livre disposição da coisa. • §1º do art. 1.420 do CC: A propriedade superveniente torna eficaz, desde o registro, as garantias reais estabelecidas por quem não era dono. • Opera-se a revalidação da garantia real concernente a bens que não estão, em si mesmos, impossibilitados de serem alienados, mas que não o podem ser pelo agente em razão de não lhe pertencerem, como, por exemplo, o que adquiriu a non domino. A garantia que era ineficaz revigora-se com a aquisição ulterior do domínio, como se nunca tivesse padecido do defeito. • No instante em que se constituiu a garantia, o proprietário não era proprietário da coisa. Entretanto, o domínio superveniente acaba por validar o ato praticado para proteger a boa-fé daquele que contratou na convicção de que o devedor era o proprietário. 2.2. Requisitos objetivos Art. 1.420 do Código Civil (segunda parte): “só os bens que se podem alienar poderão ser dados em penhor, anticrese ou hipoteca.” Os bens dados em garantia devem se materialmente e juridicamente possíveis. Não se pode dar em garantia um lote na lua ou alguma coisa furtada. Não podem ser objeto de garantia, sob pena de nulidade, os bens fora do comércio, como os públicos, os inalienáveis enquanto assim permanecerem, o bem de família. Art. 1420 § 2o A coisa comum a dois ou mais proprietários não pode ser dada em garantia real, na sua totalidade, sem o consentimento de todos; mas cada um pode individualmente dar em garantia real a parte que tiver. (Art. 1.314) No caso do Art. 1420 §2º, para atender ao princípio da especialização, que orienta o registro imobiliário, deve-se descrever todo o imóvel, esclarecer que ele se encontra em comum e indicar que a garantia incide em determinada parte ideal do bem. 2.3. Requisitos formais Impõe a lei a observância de formalidades para que os contratos de penhor, hipoteca e anticrese tenham eficácia em relação a terceiros, atentando para a sua repercussão social, derivada do fato de destacarem do patrimônio do devedor um bem que era garantia comum a todos os credores, para se tornar segurança de um só. Essa eficácia é alcançada pela especialização e pela publicidade. A especialização é a descrição pormenorizada, no contrato, do bem dado em garantia, do valor do crédito, do prazo fixado para pagamento e da taxa de juros, se houver. Art. 1424 Art. 1.424. Os contratos de penhor, anticrese ou hipoteca declararão, sob pena de não terem eficácia: I - o valor do crédito, sua estimação, ou valor máximo; II - o prazo fixado para pagamento; III - a taxa dos juros, se houver; IV - o bem dado em garantia com as suas especificações. A publicidade é dada pelo registro do título constitutivo no Registro de Imóveis (hipoteca, anticrese e penhor rural, cf. arts. 1.438 e 1.492 do CC e 167 da LRP) ou no Registro de Títulos E se esses requisitos não estiverem presentes? • A ausência desses requisitos não acarreta a nulidade do contrato, mas apenas a sua ineficácia!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!, pois não produz os efeitos próprios de um direito real. Valerá apenas como direito pessoal, vinculando somente as partes que intervieram na convenção. Em consequência, o credor fica privado da sequela, da preferência e da ação real, restando-lhe apenas o direito de participar do concurso de credores, na condição de quirografário. • A ausência dos requisitos apontados impede que se constitua direito real, mas não impede que se produzam efeitos entre as partes. 3. Efeitos dos direitos reais de garantia Art. 1.422. O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir a coisa hipotecada ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credores, observada, quanto à hipoteca, a prioridade no registro. O principal efeito das garantias reais consiste no fato de o bem, que era segurança comum a todos os credores e que foi separado do patrimônio do devedor, ficar afetado ao pagamento prioritário de determinada obrigação. 4 efeitos principais: a) direito de preferência ou prelação; b) direito de sequela; c) direito de excussão; (=execução) e d) indivisibilidade3.1. Direito de preferência • Preferência é a primazia deferida a determinado credor, em virtude da natureza de seu crédito, de receber, preterindo aos concorrentes. O bem gravado é aplicado à satisfação exclusiva da dívida. • Consiste a preferência, concedida ao seu titular, de pagar-se com o produto davenda judicial da coisa dada em garantia, excluídos os demais credores, que não concorrem com o primeiro no tocante a essa parte do patrimônio do devedor. • Somente após o pagamento daquele que tem a preferência é que as sobras serão rateadas entre os demais credores. • Tem ele o direito de receber do preço obtido na execução da coisa onerada, de preferência a qualquer outro, de modo geral, o quanto baste para o seu pagamento integral. Se o preço for insuficiente, continuará credor sem privilégio, do que faltar. A sua condição quanto a essa parte será, assim, a de credor quirografário. • Obs. A aludida primazia não beneficia o credor anticrético. O direito dele é regulado no art. 1.423 do Código Civil, que lhe assegura, em compensação, a prerrogativa de “reter em seu poder o bem, enquanto a dívida não for paga”, direito que se extingue “decorridos quinze anos da data de sua constituição”. 3.2. Direito de sequela É o direito de reclamar e perseguir a coisa, em poder de quem quer que ela se encontre, para sobre ela exercer o seu direito de excussão, pois o valor do bem está afeto à satisfação do crédito. Assim, quem adquire imóvel hipotecado está sujeito a vê-lo levado à hasta pública para pagamento da dívida que está a garantir. O vínculo não se descola da coisa cujo valor está afetado ao pagamento da dívida. Se o devedor a transmite a outrem, ela continua onerada, transferindo-se, com ela, o gravame. 3.3. Direito de excussão Art. 1.422. O credor hipotecário e o pignoratício têm o direito de excutir a coisa hipotecada ou empenhada, e preferir, no pagamento, a outros credores, observada, quanto à hipoteca, a prioridade no registro. Os credores hipotecário e pignoratício têm o direito de promover a venda da coisa em hasta pública. É requisito que a obrigação esteja vencida. • Ressalva o aludido dispositivo que, havendo mais de uma hipoteca sobre o mesmo bem, observar-se-á “a prioridade no registro”. Significa dizer que o credor da segunda hipoteca tem a garantia do bem hipotecado, mas goza do privilégio em segundo plano, em relação à primeira. O seu direito preferencial tem início depois de satisfeito o credor da hipoteca registrada em primeiro lugar, embora privilegiadamente em face dos quirografários. A ordem dos registros é que determina a prevalência da garantia e não a data do contrato. • Art. 1.428. É nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento. • Parágrafo único. Após o vencimento, poderá o devedor dar a coisa em pagamento da dívida. Art. 1.430. Quando, excutido o penhor, ou executada a hipoteca, o produto não bastar para pagamento da dívida e despesas judiciais, continuará o devedor obrigado pessoalmente pelo restante. 3.4. Indivisibilidade Art. 1.421. O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa exoneração correspondente da garantia, ainda que esta compreenda vários bens, salvo disposição expressa no título ou na quitação. A garantia adere ao bem gravado por inteiro e em cada uma de suas partes. Enquanto vigorar, não se pode eximir tal bem do ônus real e muito menos aliená-lo parcialmente. Em regra, o pagamento parcial de uma dívida não acarreta a liberação da garantia na proporção do pagamento efetuado, ainda que esta compreenda vários bens. A coisa inteira continuará garantindo o remanescente da dívida. • Obs. Admite-se que as partes convencionem a exoneração parcial, seja no instrumento de constituição, seja em momento posterior. Pode-se permitir a liberação proporcional dos bens gravados na medida da redução do débito. Neste caso, prevalece a exoneração por partes, independentemente da especificação no recibo. • Obs. Quando o credor der a quitação, poderá mencionar que está liberando, por exemplo, determinados bens sobre os quais incide a garantia. Art. 1.429. Os sucessores do devedor não podem remir parcialmente o penhor ou a hipoteca na proporção dos seus quinhões; qualquer deles, porém, pode fazê-lo no todo. Parágrafo único. O herdeiro ou sucessor que fizer a remição fica sub-rogado nos direitos do credor pelas quotas que houver satisfeito. O sucessor do devedor não pode liberar o seu quinhão, pagando apenas a sua cota-parte na dívida. Terá, para tanto, de pagar a totalidade do débito, sub-rogando-se nos direitos do credor pelas cotas dos coerdeiros. Remição, em matéria de direitos reais de garantia, significa liberação da coisa gravada, mediante pagamento do credor. Tem o devedor o direito de efetuar a remição, mas ela só liberará os bens dados em garantia se for total. Não se admite remição parcial, por contrariar o princípio da indivisibilidade do direito real de garantia.
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