Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 HIDRÁULICA BÁSICA MÓDULO 2 TÓPICO 1 PROFESSORA ESPECIALISTA MARIANNE SILVESTRE TEIXEIRA ALMEIDA 2 INTRODUÇÃO No Módulo I, as tubulações consideradas vão de um ponto a outro transportando uma vazão constante, isto é, a vazão na extremidade de jusante é igual à da extremidade de montante. Além disso, o diâmetro era constante e a tubulação única, ou seja, tubulação simples. Na prática, porém, a maioria dos casos não é assim. As tubulações mudam de diâmetro, existem linhas paralelas, no percurso saem ou entram vazões e os tubos interligam mais de dois pontos extremos. São os chamados Sistemas de Tubulações ou Sistemas de Tubulações Complexas (Figura 1). Figura 1 - Tubulações complexas. Para uma melhor análise desses casos, cabe definir alguns conceitos e nomenclaturas. É o caso de Nó, de Trecho, de Malha e de Anel. Chama-se genericamente de Nó, qualquer ponto que represente uma quebra de continuidade na tubulação, podendo ser cruzamento de mais de um tubo, uma mudança de direção, uma mudança de diâmetro, etc. Pode-se ainda chamar de Nó Virtual, qualquer ponto de uma tubulação, normalmente usado para caracterizar ou calcular valores nesses pontos. Em um Nó, a soma das vazões de entrada é igual à soma das vazões de saída (Figura 2). Figura 2 - Representação de um nó. 3 Chama-se de trecho a porção da tubulação entre dois nós. Chama-se genericamente de malha ou de anel um circuito formado por dois tubos que interligam dois nós por caminhos diferentes ou um circuito que, saindo de um nó, retorna a esse mesmo nó. É o caso mais normal em cidades, onde as redes de distribuição formam malhas acompanhando as malhas das ruas, envolvendo quarteirão por quarteirão e interligando-se nos cruzamentos (Figura 3). Figura 3 - Nós, malhas e anéis. Especificamente, chama-se de anel um circuito de tubulações que envolve determinada região onde existem outras tubulações e até outras malhas. Chama-se de sistema ramificado ou em derivações, quando é composto de dois ou mais tubos que, partindo de um mesmo ponto, se ramificam, divergindo a partir daí e não mais se reúnem num só ponto. 4 MÓDULO II SISTEMAS DE TUBULAÇÕES Tópico 1 – Encanamentos Equivalentes Pode-se levar água de um lugar para outro, ou por um só tubo de determinado diâmetro, ou por dois ou mais tubos de diâmetro menor instalados em paralelo, ou ainda por dois ou mais tubos de diâmetro maiores e menores instalados em série. Observa-se que pode chegar mais ou menos água em cada configuração ou sistemas de tubulação que se possa imaginar para unir dois pontos. Diz-se que um sistema de tubulações é equivalente a outro sistema ou a uma tubulação simples quando é capaz de conduzir a mesma vazão com a mesma perda de carga total (com a mesma energia). É um dos problemas mais usados na prática. Por exemplo: Pode-se substituir uma tubulação de diâmetro 600 mm por duas tubulações paralelas? De que diâmetro? Se tivermos um projeto de uma adutora de 2 km com D = 400 mm e o almoxarifado dispuser de 1,5 km de tubos de D = 300 mm e 1,5 km de tubos com D = 500 mm, é possível construir uma adutora equivalente? Com quantos metros de cada diâmetro? Os seguintes casos podem ser considerados (representados na Figura 1): a) Uma tubulação simples equivalente a outra; b) Uma tubulação equivalente a um sistema de tubulações Em série Em paralelo Malhados Basicamente existem dois tipos de problemas a ser considerado: A) Conhecidos: a. Os diâmetros dos trechos; b. Os comprimentos dos trechos; c. As cotas piezométricas de entrada e saída; d. As rugosidades dos trechos. 5 Pede-se: As vazões em cada trecho As cotas piezométricas em cada nó. B) Conhecidos: a. Os comprimentos dos trechos; b. As cotas piezométricas de entrada e saída; c. A vazão em cada trecho; d. A rugosidade em cada trecho. Pede-se: Os diâmetros em cada trecho; As cotas piezométricas em cada nó. Os problemas do tipo A são matematicamente determinados, já que é possível montar um sistema de equações igual ao número de incógnitas, pois : Para cada nó haverá uma equação representando que a soma das vazões afluentes é igual à soma das vazões efluentes: ∑ 𝑄𝑎 = ∑ 𝑄𝑒 (“n” equações) E para cada trecho a diferença de altura piezométrica entre os dois nós do trecho (montante e jusante), poder ser traduzido por: ∆𝐻𝑓 = 𝐻𝑚 − 𝐻𝑗 = 𝐶 𝑣2 2𝑔 𝐿1 = 𝐶 𝑄1 2 𝐷𝑡 5 𝐿1 (“t” equações) Logo para (n + t) incógnitas, haverá (n + t) equações. Os problemas do tipo B são matematicamente indeterminados (diversas soluções), pois havendo (n + t) incógnitas, só existem t equações, já que neste tipo B as equações de continuidade são identidades sem sentido algébrico, uma vez que as vazões em torno do nó são todas conhecidas. Para tentar resolver as indeterminações desse tipo de problema usam-se fatores alheios à hidráulica, do tipo: Arbitram-se limites máximos e mínimos de pressão e velocidade; Custo mínimo Para resolver esses problemas do tipo B, costuma-se trabalhar por tentativas e deve-se ter cuidado para não chegar a soluções fora de sentido prático. 6 1.1 Uma tubulação simples equivalente a outra. Considerando-se duas tubulações, a primeira de diâmetro D1, comprimento L1 e coeficiente de rugosidade K1 e a segunda de D2, comprimento L2 e coeficiente de rugosidade K2, para que a segunda tubulação seja equivalente à primeira é necessário que a perda de carga total hf seja a mesma para o mesmo valor de Q. Para a perda de carga, a pode-se escrever: 𝐽 = 𝐾𝑄2 𝐷5 Sendo K uma constante (K = 0,0827.f) A perda de carga total será: ℎ𝑓 = 𝐽. 𝐿 = 𝐾𝑄2𝐿 𝐷5 Para a primeira tubulação: ℎ𝑓 = 𝐽. 𝐿 = 𝐾1𝑄 2𝐿1 𝐷1 5 e para a segunda: ℎ𝑓 = 𝐽. 𝐿 = 𝐾2𝑄 2𝐿2 𝐷2 5 . Igualando essas duas expressões para assegurar a equivalência das tubulações 1 e 2, obtém-se: 𝐾1𝑄 2𝐿1 𝐷1 5 = 𝐾2𝑄 2𝐿2 𝐷2 5 → 𝐿2 = 𝐿1 𝐾1 𝐾2 ( 𝐷2 𝐷1 ) 5 Expressão que permite calcular o comprimento L2 de uma tubulação equivalente a outra de diâmetro e rugosidade diferentes. Entretanto, essa equação só e resolvível por tentativas. Caso os coeficientes de rugosidade possam ser admitidos como iguais, a equação toma a forma a seguir algebricamente resolvível: 𝐿2 = 𝐿1 ( 𝐷2 𝐷1 ) 5 Se fosse adotada a fórmula de Hazen-Williams, resultaria a seguinte relação (algebricamente resolvível). 𝐿2 = 𝐿1 ( 𝐶2 𝐶1 ) 1,85 ( 𝐷2 𝐷1 ) 4,87 Caso os coeficientes de rugosidade possam ser admitidos iguais, toma a forma : 𝐿2 = 𝐿1 ( 𝐷2 𝐷1 ) 4,87 7 1.2 Sistema de tubulação em série ou mistos Na prática nem sempre as tubulações possuem diâmetro uniforme, ou seja, nem sempre uma tubulação tem diâmetro constante. Tubulação em série é uma terminologia usada para indicar uma sequencia de tubos de diferentes diâmetros acoplados entre si, conforme a Figura 4. A vazão em todos os tubos é a mesma. As perdas de carga em cada trecho de tubo são diferentes, mas a perda de carga total é igual à soma das perdas de carga de cada trecho ou tubo. Figura 4 - Sistema de tubulação em série. Desprezando-se as perdas de carga acidentais, a linha decarga piezométrica pode ser representada como apresentado na Figura 4. Desta forma, quanto menor o diâmetro, maior a perda de carga (para uma mesma Q) e maior também a inclinação da linha piezométrica. Dada uma tubulação com duas seções, uma de comprimento L1, diâmetro D1 e rugosidade C1, e outra de comprimento L2, diâmetro D2 e rugosidade C2, determinar o diâmetro único para uma canalização equivalente. Empregando-se a Fórmula Universal: J = KQ2 D5 , as perdas de carga resultarão no 1º trecho: hf1 = J1L1 = K1 Q2 D1 5 L1 e no 2º trecho: hf2 = J2xL2 = K2 Q2 D2 5 L2, sendo a perda de carga total: hf = hf1 + hf2 = ( K1Q 2L1 D1 5 + K2Q 2L2 D2 5 ) E para um conduto que seja equivalente: hf = KeQ 2 De 5 L 8 Igualando as equações, teremos: LKe De 5 = L1K1 D1 5 + L2K2 D2 5 Generalizando, encontra-se, para condutos em série. LKe De 5 = L1K1 D1 5 + L2K2 D2 5 + L3K3 D3 5 + ⋯ Que é a chamada regra de Dupuit. Ou aplicando a fórmula de Hazen-Williams: L 𝐶𝑒 1,85𝐷𝑒 4,87 = L1 C1 1,85D1 4,87 + L2 C2 1,85D2 4,87 + ⋯ + Ln Cn 1,85Dn 4,87 E quando os coeficientes de rugosidade podem ser admitidos como iguais, a fórmula acima fica: L D4,87 = L1 D1 4,87 + L2 D2 4,87 + ⋯ + Ln Dn 4,87 Normalmente, no dimensionamento de condutos, são encontrados diâmetros não comerciais. Como, por exemplo, cita-se um caso: D = 133 mm. Se for escolhido o diâmetro comercial 125 mm, este não irá fornecer a vazão desejada ou a perda ultrapassará o limite de projeto. Se for escolhido 150 mm, que é o imediatamente superior, a vazão será maior que a de projeto ou a perda de carga será menor que a projetada. Nesse caso, o problema pode ser resolvido com a colocação de um registro para aumentar a perda de carga total e consequentemente reduzir a vazão até o projetado. Porém, esta saída não é a mais econômica, pois o custo das tubulações cresce exponencialmente com o diâmetro. Então, a melhor solução técnica e econômica é fazer uma associação em série, ou seja, colocar um trecho do conduto com o diâmetro comercial imediatamente superior, e um trecho com o diâmetro comercial imediatamente inferior, de tal forma que este conduto misto seja equivalente ao projetado. Porém, quais os comprimentos de cada diâmetro? Suponha que o comprimento total seja L e os comprimentos de cada trecho seja m L1 e L2, de tal forma que: J L = J1L1 + J2L2 Fazendo: L1 = L − L2 9 JL = J1(L − L2) + J2L2 JL = J1L − J1L2 + J2L2 Rearranjando: L2(J2 − J1) = L (J − J1) → L2 = (J − J1) (J2 − J1) L Em que: L2 = comprimento do trecho de diâmetro D2; J = Perda de carga unitária no conduto de diâmetro não comercial; J1 = perda de carga unitária no conduto de diâmetro comercial D1; J2 = perda de carga unitária no conduto de diâmetro comercial D2; e L = o comprimento total da canalização. 1.3 Sistema de tubulações em paralelos ou múltiplos Duas ou mais tubulações são ditas em paralelo quando unem dois pontos conhecidos. Duas ou mais tubulações nessas condições forma o que se convencionou chamar de rede ou malha. A vazão em cada um dos tubos em paralelo é função do diâmetro, do comprimento, do coeficiente de rugosidade e da diferença de pressão entre as extremidades desse tubo. Observa-se que a diferença de pressão entre as extremidades é igual para todos os tubos de um sistema em paralelo. Assim as perdas de carga em cada tubo são idênticas e iguais a hf uma vez que cada uma das extremidades dos trechos convergem em um mesmo ponto (um a montante e outro a jusante), e em cada um destes pontos só pode existir uma única pressão. Também se pode afirmar que a soma das vazões de cada tubo é igu al à vazão total afluente (e a efluente). Pode-se então escrever um sistema de equações de perda de carga, sendo uma equação pata cada tubo, para o primeiro: ℎ𝑓 = 𝐾1 𝑄1 2 𝐷1 5 𝐿1 ∴ 𝑄1 = √ ℎ𝑓 𝐾1 √ 𝐷1 5 𝐿1 10 para o segundo: ℎ𝑓 = 𝐾2 𝑄2 2 𝐷2 5 𝐿2 ∴ 𝑄2 = √ ℎ𝑓 𝐾2 √ 𝐷2 5 𝐿2 e assim sucessivamente, até um total de n equações, igual ao número de tubos. Entretanto, o número de incógnitas é (n + 1), ou seja, as n vazões Q e a perda de carga hf. A equação a mais para tornar o sistema resolvível é: 𝑄 = 𝑄1 + 𝑄2 + ⋯ + 𝑄𝑛 Para um único conduto equivalente a um grupo de n tubos em paralelo, pode -se escrever: Q = √ hf Ke De 5 L como Q = Q1 + Q2 + ⋯ + Qn resulta, de um modo geral, √ 𝐷𝑒 5 𝐿𝐾𝑒 = √ 𝐷1 5 𝐿1𝐾1 + √ 𝐷2 5 𝐿2𝐾2 + ⋯ + √ 𝐷𝑛 5 𝐿𝑛𝐾𝑛 e se a dedução fosse feita partindo de Hazen-Willians, teríamos: 𝐷𝑒 2,63𝐶𝑒 𝐿0,54 = 𝐷1 2,63𝐶1 𝐿1 0,54 + 𝐷2 2,63𝐶2 𝐿2 0,54 + ⋯ + 𝐷𝑛 2,63𝐶𝑛 𝐿𝑛 0,54 11 Exercícios Resolvidos IMPORTANTE: Algumas atividades propostas não foram comentadas diretamente nos conteúdos expostos e que, portanto, deverá ser objeto de pesquisa e estudo complementar para solucionar as atividades. Todos os exercícios propostos estão resolvidos e comentados, e dessa forma, servem como referência para os estudos complementares. Pesquise nas bibliografias complementares, NBR’s e também em sites de internet confiáveis. Exercício 01: Uma tubulação de 250 mm de diâmetro tem 360 m de comprimento. Determinar o comprimento de uma tubulação equivalente de 200 mm de diâmetro, com a mesma rugosidade da primeira. Solução: Aplicando-se a equação 𝐿2 = 𝐿1 ( 𝐷2 𝐷1 ) 5 , temos: 𝐿2 = 360𝑚 ( 200 𝑚𝑚 250 𝑚𝑚 ) 5 = 360 𝑚 𝑥 0,33 = 119 𝑚 Isso quer dizer que em um trecho de 119 m de tubulação D = 200 mm, tem-se uma perda de carga equivalente a de um trecho de 360 m de tubulação D = 250 mm, admitida a mesma rugosidade. Exercício 02: Seja uma tubulação ligando dois pontos distantes 18 km, para conduzir uma vazão de 0,5 m³/s. Tal tubulação será construída parte em tubos de concreto de bom acabamento, D = 800 mm, (10 km) e parte em tubos de concreto de grés cerâmico vidrado, D = 600 mm (8 km), uma vez que se dispõe desses tubos no almoxarifado. Pergunta-se qual a perda de carga resultante, para que se possa especificar as bombas a serem instaladas. 12 Solução: Pelas informações fornecidas temos: 𝐿1 = 10000 𝑚; 𝐷1 = 800 𝑚𝑚 𝑒 𝐶1 = 130 𝐿2 = 8000 𝑚; 𝐷1 = 600 𝑚𝑚 𝑒 𝐶1 = 110 𝐿 = 𝐿1 + 𝐿2 = 10000 + 8000 = 18000 𝑚 Q = 0,500 m³/s Aplicando a equação abaixo, teremos: L 𝐶𝑒 1,85𝐷𝑒 4,87 = L1 C1 1,85D1 4,87 + L2 C2 1,85D2 4,87 ∴ 18000 C1,85D4,87 = 10000 1301,850,84,87 + 8000 1101,850,64,87 = 19,74 Logo, 𝐶𝑒 1,85𝐷𝑒 4,87 = 911,67 Pela fórmula de Hazen-Williams ℎ𝑓 = 10,646 𝑄1,85 𝐶1,85𝐷4,87 𝐿 → ℎ𝑓 = 10,646 . 0,51,85 911,67 18000 → ℎ𝑓 = 58,30 𝑚 Considerando um caso particular em que 𝐶1 = 𝐶3 = 130, teremos: 𝐶𝑒 1,85𝐷𝑒 4,87 = 911,67 → 𝐷𝑒 = √ 911,67 1301,85 4,87 = 0,637m ≅ 640 mm ℎ𝑓 = 10,646 .0,51,85 1301,850,6374,87 18000 = 57,69 m Exercício 03: Qual a tubulação de diâmetro equivalente único que substitui a condição a seguir, seguindo a mesma diretriz (mesmo traçado, ou seja, mesmo comprimento)? Solução: Neste caso os coeficientes de rugosidadesão iguais, logo: 𝐷1 = 100𝑚𝑚 𝐷2 = 150𝑚𝑚 𝐷3 = 200𝑚𝑚 200 m 700 m 100 m 13 L 𝐷5 = 𝐿1 D1 5 + 𝐿2 D2 5 + 𝐿3 D3 5 ∴ 1000 𝐷5 = 200 (0,1)5 + 700 (0,15)5 + 100 (0,2)5 D = 0,127 m (Diâmetro comercial mais próximo é 150 mm). Se a pergunta variar para: Qual o sistema equivalente composto de dois tubos de diâmetro comercial em série? Solução: Toma-se um D comercial, imediatamente maior que D e outro menor: L 𝐷5 = 𝐿 − 𝑥 D1c 5 + 𝑥 D2c 5 Sendo: L = 1000 m; D = 0,127; 𝐷1𝑐 = 0,150; 𝐷2𝑐 = 0,100 Substituindo os valores na fórmula, teremos 215 m para a tubulação de 150 mm e 785 m para a tubulação de 100 mm.
Compartilhar