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CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1891 PAPEL ESTRUTURADOR DO ESTADO 1- ORGANIZADOR 2- INCENTIVADOR 3- REGULADOR A Constituição de 1891, que teve a participação destacada de Rui Barbosa, era liberal, mas de um liberalismo abstrato, tendo sido considerada o ápice da teorização, monismo formalista (das elites), tendo criado um problema que ainda hoje é apontado, qual seja, o da divisão de rendas entre União e Estados, que, imediatamente após a promulgação gerou uma campanha para revisá-la 80. Em realidade, o confronto se devia principalmente à distribuição da arrecadação de impostos entre União e Estados Federados, já que esboçara-se a idéia de uma federação nos moldes dos Estados Unidos, que não encontrava porém, nenhuma sustentação na realidade brasileira caracterizada por um Estado que fora imperial e centralizado. 1 - ORGANIZADOR A Constituição de 1891 foi criticada pelo fato de ter se omitido de manifestar sobre a ordem econômica e igualmente outros temas já mencionados e regulados em outras Constituições. Em resumo, tudo ficou afeto à legislação ordinária, e, portanto, à mercê da classe política representativa de um sistema atrasado, alicerçado exclusivamente na agricultura. A despeito da incompreendida política industrial intentada por Rui Barbosa nos primórdios da república, continuava o café sendo o principal sustentáculo da economia republicana, com o diferencial de basear-se, então, no trabalho livre e não mais escravo. É importante destacar que em razão da defesa desse produto de exportação e do esforço para assegurar a sua posição de destaque nos mercados internacionais é que se processaram, no âmbito infraconstitucional, as medidas iniciais de intervenção mais ativa do Estado no domínio econômico. Essa intervenção se processou inicialmente por iniciativa dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro que em 1906 celebraram o Convênio de Taubaté, regulando os elementos da intervenção. Posteriormente, a União Federal passou a intervir diretamente na matéria, criando, inclusive, fórmulas novas de pessoas jurídicas de direito público, obedecendo a sistemas de descentralização funcional, muito semelhantes às pessoas jurídicas de direito privado, distinguindose, porém, dessas, pelo desempenho de funções de serviço público. A análise do mecanismo de intervenção do Estado na política cafeeira, intimamente ligada ao comportamento da taxa cambial, demonstrava de forma convincente que a economia cafeeira conseguia, dentro dessa política, socializar as perdas e privatizar os lucros no período em questão. Acolhendo as propostas do Convênio de Taubaté, o governo federal passou a comprar e a estocar o excedente do café no mercado para ser vendido quando os preços normalizassem. Com os estoques e produção aumentando cada vez mais, o prejuízo era inevitável. Para os agricultores, que continuavam plantando, o prejuízo era um problema do governo, já que seus lucros estavam garantidos. Ficou reconhecida a competência privativa da União para a instituição de bancos emissores, (art 7º, § 1º), relembrando-se que, à época, a emissão de moeda era cometida a vários bancos, pois vigorava o padrão ouro. Obviamente considerando que se tratava afinal de política monetária, nada mais normal que a competência privativa fosse da União. Da mesma forma, foi reconhecida competência privativa da União para a criação e manutenção de alfândegas (art 7º, § 2º), o que na realidade não tem pertinência com sistema ou regime econômico, pois as alfândegas são relacionadas ao controle de entrada e saída de mercadoria e, portanto, aos impostos de importação e exportação. Não há na Constituição de 1891 nada precisamente claro sobre sistema econômico conquanto dali possa ser extraído: A interpretação de que os serviços de telégrafos e correios embora indicados como preferencialmente cabíveis à União, poderiam ser realizados pelos Estados. É assim que se pode entender o constante no art. 9º, § 1º, inciso 2º, de que “compete exclusivamente aos Estados decretar contribuições concernentes aos seus telégrafos e correios”, e no art. 9º, § 4º sobre “permissão de criação, pelos Estados, do direito de estabelecerem linhas telegráficas entre os diversos pontos de seus territórios, entre estes e os de outros Estados, que se não acharem servidos por linhas federais, podendo a União desapropriá-las quando for de interesse geral”. Não se pode extrair da Constituição se o setor ferroviário era estatal ou privado, conquanto se saiba que veio a ser privado e explorado por estrangeiros, notadamente ingleses, eis que a Constituição limitou-se a estabelecer, no seu art. 13, que o “direito da União e dos Estados de legislarem sobre a viação férrea e navegação interior será regulado por lei federal”. Pode-se extrair que havia terras e minas da União, sem se determinar se todas as minas (subsolo) seriam de propriedade da União. E isto se pode extrair quando o art. 34, número 29, estipula que compete privativamente ao Congresso Nacional “legislar sobre terras e minas de propriedade da União”. Além desses três temas que se relacionam ao sistema econômico, e que a Constituição não foi direta para determinar suficientemente a situação correspondente, houve outro tema na Constituição que foi tratado com mais clareza: foi a regra do art. 13, parágrafo único, sobre navegação de cabotagem (“ A navegação de cabotagem será feita por navios nacionais”). Neste caso, os motivos não eram de direcionamento econômico em si, mas muito mais de preocupação com a segurança nacional. 2- INCENTIVADOR A Constituição de 1891, fiel ao espírito do liberalismo econômico da época, nem mesmo se deu ao trabalho de indicar posições ou idéias que deveriam ser consideradas e que deveriam orientar a busca do desenvolvimento econômico. Numa nação que tivera sua origem e desenvolvimento num centralismo evidente, mesmo com a proclamação da República e uma propensão, pelo menos teórica, de adotar um modelo marcadamente federativo, não houve preocupação em estabelecer qual o campo que o governo deveria ocupar para incentivar o desenvolvimento ou mesmo qual o papel que caberia ao governo na economia. Convém lembrar que o fato de a época ser caracterizada pelo liberalismo econômico, não impedia que governos de vários países tivessem uma noção, e levassem essa noção à prática, como forma de incentivar o desenvolvimento interno, tanto que, muito antes, governos já haviam estabelecido companhias com os particulares para exploração do comércio, como a Companhia das Índias Ocidentais, por exemplo, criada pelos holandeses. O que a Constituição deixou claro, muito mais como linha de defesa da segurança nacional do que como diretriz econômica, foi resguardar a exploração da navegação de cabotagem para navios nacionais. No campo da declaração dos direitos, seguindo a linha das constituições liberais, a livre iniciativa foi garantida como o “livre exercício de qualquer profissão moral, intelectual e industrial” no artigo 72, § 24 e ficaram asseguradas a brasileiros e estrangeiros, como invioláveis, a liberdade, a segurança pessoal e a propriedade “em toda a sua plenitude, salvo a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização prévia” (art.72 caput e § 17). 3 - REGULADOR As unidades federativas do país podiam estabelecer quaisquer direitos que não lhes fossem negados pela Constituição. Assim, era possível que organizassem forças militares próprias, que criassem uma Justiça própria, que contraíssem empréstimos no exterior e que decretassem o valor dos impostos sobre a exportação de suas mercadorias. Essas duas últimas possibilidades, particularmente, colaboraram muito para a hegemonia econômica dos estados exportadores (principalmente São Paulo) nos anos seguintes, porque trouxe, a eles, a renda de impostos sobre exportações, além dos empréstimos, que contribuíram para o sucesso comercial do café. * A situação econômica do país no momento da elaboração dessas Cartas dava o direcionamento para o legislador. Em alguns momentos, elas foram instrumentos de manipulação do poder e consequentemente da economia, por interesses escusos. Mas em outros, abriram caminhos para o crescimento da economia brasileira, visando o bem comum, que é a finalidade do Estado. * É possível observar que a Constituição de 1891, no plano teórico, se mostrava mais justa, equilibrada e liberal que a anterior, apesar de apresentar falhas. Mas, na prática, ela acabou por assegurar o controle da elite agrária sobre a máquina administrativa, política e econômica do Brasil, até o episódio conhecido como Revolução de 1930. * A economia do país era profundamente baseada no café e dominada pelos estados de São Paulo e Minas Gerais. Economia na constituição; Art. 7o E’ da competencia exclusiva da União decretar: 1° Impostos sobre a importação de procedencia estrangeira; 2° Direitos de entrada, sahida e estada de navios, sendo livre o commercio de cabotagem ás mercadorias nacionaes, bem como ás estrangeiras que já tenham pago imposto de importação; 3° Taxas de sello, salvo a restricção do art. 9º 4° Taxas dos correios e telegraphos federaes; § 1º Tambem compete privativamente á União: 1° A instituição de bancos emissores; 2° A creação e manutenção de alfandegas. § 2º Os impostos decretados pela União devem ser uniformes para todos os Estados. Art. 9º E’ da competencia exclusiva dos Estados decretar impostos: 1° Sobre a exportação de mercadorias de sua propria producção; 2° Sobre immoveis ruraes e urbanos; 3° Sobre transmissão de propriedade; 4° Sobre industrias e profissões. § 1° Tambem compete exclusivamente aos Estados decretar: 1° Taxas de sello quanto aos actos emanados de seus respectivos governos e negocios de sua economia; 2° Contribuições concernentes aos seus telegraphos e correios. § 2° E’ isenta de impostos, no Estado por onde se exportar, a producção dos outros Estados. § 3° Só é licito a um Estado tributar a importação de mercadorias estrangeiras quando destinadas ao consumo no seu territorio, revertendo, porém, o producto do imposto para o Thesouro Federal. Art. 10. E’ prohibido aos Estados tributar bens e rendas federaes ou serviços a cargo da União, e reciprocamente. Art. 11. E’ vedado aos Estados, como á União: 1° Crear impostos de transito pelo territorio de um Estado, ou na passagem de um para outro, sobre productos de outros Estados da Republica, ou estrangeiros, e bem assim sobre os vehiculos, de terra e agua, que os transportarem; 2° Estabelecer, subvencionar, ou embaraçar o exercicio de cultos religiosos; 3° Prescrever leis retroactivas. Art. 12. Além das fontes de receita discriminadas nos arts. 7o e 9o, é licito á União, como aos Estados, cumulativamente, ou não, crear outras quaesquer, não contravindo o disposto nos arts. 7o, 9o e 11 n. 1 CAPITULO IV Das Attribuições do Congresso Art. 34. Compete privativamente ao Congresso Nacional: 1° Orçar a receita, fixar a despeza federal annualmente e tomar as contas da receita e despeza de cada exercicio financeiro; 2° Autorizar o Poder Executivo a contrahir emprestimos, e a fazer outras operações de credito; 3° Legislar sobre a divida publica, e estabelecer os meios para o seu pagamento; 4° Regular a arrecadação e a distribuição das rendas federaes; 5° Regular o commercio internacional, bem como o dos Estados entre si e com o Districto Federal, alfandegar portos, crear ou supprimir entrepostos; Volume II – 1891 71 6° Legislar sobre a navegação dos rios que banhem mais de um Estado, ou se estendam a territorios estrangeiros; 7° Determinar o peso, o valor, a inscripção, o typo e a denominação das moedas; 8° Crear bancos de emissão, legislar sobre ella, e tributal-a; 9° Fixar o padrão dos pesos e medidas; Art. 66. E’ defeso aos Estados: 2° Rejeitar a moeda, ou a emissão bancaria em circulação por acto do Governo Federal; Substitua-se o art. 34 da Constituição pelo seguinte: “Art. 34. Compete privativamente ao Congresso Nacional: 1° orçar, annualmente, a Receita e fixar, annualmente, a Despeza e tomar as contas de ambas, relativas a cada exercicio financeiro, prorogado o orçamento anterior, quando até 15 de janeiro não estiver o novo em vigor; 2° autorizar o Poder Executivo a contrahir emprestimos, e a fazer outras operações de credito; 3° legislar sobre a divida publica, e estabelecer os meios para o seu pagamento; 4° regular a arrecadação e a distribuição das rendas federaes; 5° legislar sobre o commercio exterior e interior, podendo autorizar as limita- ções exigidas pelo bem publico, e sobre o alfandegamento de portos e a creação ou suppressão de entrepostos; 7° determinar o peso, o valor, a inscripção, o typo e a denominação das moedas; 8° crear bancos de emissão, legislar sobre ella, e tributal-a; 9° fixar o padrão dos pesos e medidas;
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