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Pró-Reitoria Acadêmica Curso de Nutrição Trabalho de Conclusão de Curso Autor: Kaline Gabriela Bião Ferreira Orientador: MSc. Maria Fernanda Castioni Gomes Brasília - DF 2017 JEJUM INTERMITENTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA KALINE GABRIELA BIÃO FERREIRA JEJUM INTERMITENTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA Artigo apresentado ao curso de graduação em nutrição da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Nutrição. Orientadora: MSc. Maria Fernanda Castioni Gomes Brasília 2017 Artigo de autoria de Kaline Gabriela Bião Ferreira, intitulado “JEJUM INTERMITENTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA” apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Nutrição da Universidade Católica de Brasília, em 08 de junho de 2017, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada: Prof.ª MSc. Maria Fernanda Castioni Gomes Orientador Nutrição - UCB Prof.ª. Dra. Fabiani Lage Rodrigues Beal Nutrição - UCB Prof.ª. MSc. Fernanda Bassan Lopes da Silva Nutrição – UCB Brasília 2017 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus em primeiro lugar, por ter fortalecido a minha fé e saúde para concluir este trabalho. A minha família e amigos, por todo amor, apoio e incentivo. A professora orientadora Maria Fernanda, pela ajuda e conhecimentos passados. SUMÁRIO 1. Introdução..............................................................................................................4 2. Material e métodos................................................................................................5 3. Obesidade e dietas da era tecnológica...................................................................5 3.1 Dieta do jejum intermitente...................................................................................6 3.1.1 Protocolos mais utilizados...............................................................................7 4. Resultados e Discussão............................................................................................8 5. Considerações finais..............................................................................................14 6. Referências bibliográficas.....................................................................................16 4 JEJUM INTERMITENTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA KALINE GABRIELA BIÃO FERREIRA Resumo: Com o crescente aumento da obesidade e do uso de dietas para emagrecimento, o jejum intermitente surgiu na mídia como uma “dieta da moda” que consiste em privar-se de alimentação por longos períodos e isso inclui variados protocolos, como o jejum de dia alternado, jejum de dia inteiro, alimentação com restrição de tempo (TRF) entre outros. Há inúmeros relatos na literatura acerca de seus benefícios à saúde, abrangendo aspectos como glicemia, peso corporal, perfis lipídicos e de citocinas inflamatórias. Além disso, há descrições de que o jejum intermitente proporciona impactos positivos na longevidade, porém em alguns estudos verificou-se que a dieta levou a casos de hiperfagia em humanos e animais. Assim torna-se imprescindível que as pesquisas sejam mais aprofundadas com relação aos seus benefícios e malefícios à saúde a longo prazo. O presente trabalho procura analisar por meio de revisão de literatura os possíveis efeitos metabólicos dos protocolos de dietas que preconizam o jejum intermitente. Palavras-chave: Jejum intermitente. Longevidade. Benefícios. 1. INTRODUÇÃO O sobrepeso e a obesidade apresentam causas multifatoriais, incluindo fatores genéticos, fisiológicos, metabólicos e psicológicos. Dessa forma, mudanças no estilo de vida podem estar relacionados ao aumento significativo no número de pessoas com sobrepeso e obesidade (GUEDES et al., 2010). A sociedade enfatiza o ideal de magreza, com diversas propagandas na mídia sobre dietas ditas como “milagrosas” que prometem a perda de peso de forma fácil e rápida (APETITO et al., 2010). A indústria do emagrecimento é responsável por propagar a ideia de um corpo magro ou artifícios que facilitem o processo de perda de peso. Por isso, muitas vezes por influência da mídia pessoas obesas utilizam diversos meios para emagrecer sendo através de dietas, usando produtos light e diet, prática de exercícios intensos entre outros (BAPTISTA, 2013). O jejum intermitente, o jejum em dias alternados e outras formas de restrição calórica periódica estão ganhando popularidade nos meios de comunicação entre leigos e cientistas em razão dos seus possíveis benefícios à saúde (HORNE; MUHLESTEIN; ANDERSON, 2015). 5 Dietas de jejum intermitente incluem padrões alimentares nos quais os indivíduos realizam de forma alternada e por tempo prolongado, períodos de pouco ou nenhuma ingestão energética com períodos de ingestão alimentar normal. Já o termo alimentação com restrição de tempo (TRF) é usado para descrever um padrão alimentar em que a ingestão de alimentos é restrita por uma janela de tempo de 8 horas ou menos todos os dias (MATTSON; LONGO; HARVIE, 2016). Períodos curtos de jejum poderiam ser benéficos para reutilizar reservas de gordura e de açúcar, mas também renovaria o sistema imunitário, pela eliminação de parte dos leucócitos e a estimulação de uma nova produção de células brancas pela medula óssea. Esse processo poderia ser útil para a população idosa e para as pessoas tratadas por quimioterapia por renovar o sistema imunológico e por diminuir a incidência das doenças infecciosas ligadas ao envelhecimento ou ao câncer (PEYTAVIN, 2016). O objetivo deste presente trabalho consistiu em analisar os possíveis benefícios e malefícios do jejum intermitente para a saúde. 2. MATERIAL E MÉTODOS A metodologia do presente trabalho consistiu em fazer uma revisão bibliográfica referente ao tema proposto. As buscas foram realizadas nas bases de dados bibliográficas Scielo, Pubmed e Google acadêmico, sendo selecionados trinta e quatro artigos de revisão e originais, três livros online e um site publicados a partir de 2004 escritos em inglês, português e espanhol. Utilizou-se como base os termos “intermittent fasting”, “jejum”, “longevidade”. 3. OBESIDADE E DIETAS DA ERA TECNOLÓGICA A obesidade é motivo de preocupação ao redor do mundo devido ao aumento na sua prevalência e na sua relação com as várias doenças. O excesso de peso corporal tende a piorar e responder, cada vez menos, às intervenções com o passar dos anos (SILVA; BITTAR, 2012). Fatores como a tecnologia, urbanização e o enriquecimento da população estão alterando os hábitos alimentares e associado a isso está o excesso do consumo de 6 alimentos, o sedentarismo que contribuem para o aumento do consumo de calorias e consequentemente levando a obesidade (MELO et al., 2017). A mudança no padrão alimentar da populaçãomundial está caracterizada pelo alto consumo de carnes processadas, frituras, alimentos industrializados e ricos em açúcar, sendo chamada de dieta ocidental. Dessa forma, diversos estudos têm demonstrado que isso está diretamente relacionado ao excesso de peso e suas consequências (CANUTO, 2013). Com o aumento da prevalência da obesidade e informações nos diversos meios de comunicação, a veiculação de dietas sem embasamento científico tem sido motivo de uma grande preocupação para a comunidade científica (ABREU et al, 2013). A procura da sociedade pela perda e controle de peso leva à busca de dietas por meio da mídia. Apesar disso, muitas dessas dietas da moda podem trazer consequências prejudiciais ao organismo humano (BETONI; ZANARDO; CENI, 2010). Hoje em dia observa-se um aumento na busca pela beleza e pelo corpo perfeito. As imposições da sociedade por um corpo magro, não consideraram os aspectos relacionados à saúde. Além disso, a realização de dietas para o controle de peso pelo público feminino está aumentando consideravelmente (WITT; SCHNEIDER, 2011). A mídia tem participado diretamente na imposição de padrões de beleza que influenciam no desenvolvimento de transtornos alimentares. Dessa forma, hábitos alimentares são produzidos com o objetivo de manter disseminado os padrões divulgados pelos meios de comunicação, como as “dietas da moda” (BARBOSA; SILVA, 2016). 3.1. DIETA DO JEJUM INTERMITENTE O jejum intermitente reúne diversos protocolos de jejum específicos, o mais comum é o indivíduo abster-se de alimentação por períodos mais longos do que o habitual. Além disso, esse método vem ganhando popularidade devido aos seus aparentes benefícios para a saúde (TINSLEY; LA BOUNTY, 2015). Os jejuns intermitentes geralmente envolvem um dia de alimentação, onde a comida é consumida de forma irrestrita (ad libitum) ao longo de um período de 24 horas, alternado com um dia de jejum, em que a ingestão de alimentos é completamente restrita ou parcialmente reduzida (VARADY, 2011). 7 Nos últimos anos, várias versões do jejum intermitente, incluindo a restrição de energia intermitente (IER) e alimentação com restrição de tempo (TRF) tem recebido um interesse substancial como estratégias alimentares alternativas para controle de peso e melhora da saúde metabólica. Apesar disso, tem sido motivo de grande preocupação dos acadêmicos devido a sua disseminação por leigos (ANTONI et al., 2017). 3.1.1. Protocolos mais utilizados Os diversos protocolos do jejum intermitente podem ser agrupados em jejum de dia alternado, jejum de dia inteiro e períodos alternados com horas de jejum e alimentação. Sendo que a maioria dos estudos usou o jejum de dia alternado ou jejum de dia inteiro em estudos com animais e humanos (PARK et al., 2016). Quadro 1 – Mostra a comparação entre os diferentes protocolos do jejum intermitente. Protocolos Criadores Características Períodos de jejum Leangains ou Método 16/8 Martin Berkhan, 2010 *Janela de alimentação de 8 horas. *Realizar 2,3 refeições ou mais na janela de alimentação. *Treino com pesos 3 vezes na semana. *Consumir BCAA minutos antes dos exercícios. 16 horas para homens. 14 horas para mulheres. EAT-STOP-EAT Brad Pilon, 2007 *Jejum 1 ou 2 vezes por semana *Líquidos não calóricos liberados. *Exercícios de resistência 3 vezes por semana. 24 horas 5:2 Michael Mosley e Mimi Spencer, 2013 Alimentação normal por cinco dias da semana. Dois dias consecutivos com consumo de 500 calorias para mulheres e 600 calorias para homens. Warrior Diet Ori Hofmekler, 2004 Dois ciclos: undereating (jejum) e overeating (alimentar-se por 4 horas). Undereating: 20 horas (durante o dia). 8 BCAA- aminoácidos de cadeia ramificada. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Possíveis benefícios de dietas que preconizam o jejum intermitente Alguns trabalhos procuram avaliar modificações no perfil lipídico e metabolismo de glicose após intervenções dietéticas com jejum intermitente, o quadro abaixo destacou alguns mais importantes. Autor Duração e participantes Características Resultados KEMPLEL et al., 2012 Sem grupo controle 54 mulheres obesas 10 semanas: 2 semanas com dieta habitual e 8 semanas de jejum intermitente. 2 grupos: (jejum intermitente + dieta líquida) e (jejum intermitente + dieta sólida). 6 dias da semana: 240 kcal no café da manhã/almoço e 400-600 kcal no jantar. Jejum no último dia da semana (consumo de água + 120 kcal de suco em pó, por 24 horas). Perda de peso média de 3,2kg Jejum + dieta líquida: Colesterol: -10% LDL: -9% Jejum + dieta sólida: Colesterol: -3% LDL: - 4% VARADY et al., 2009 Sem grupo controle 16 obesos (12 mulheres e 4 homens) 10 semanas: 2 semanas com dieta habitual, 4 semanas com jejum de dias alternados e 4 semanas de jejum em dias alternados com acompanhamento com nutricionista. Consumo de 25% das suas necessidades energéticas nos dias de jejum (1200 – 1400 calorias). Alimentação irrestrita nos outros dias. Perda de peso média de 5,6 kg. Colesterol: - 4,3% LDL: - 9,6% (após 8 semanas de jejum). Triglicerídeos: -7% (2ª fase) -6,4% (3ª fase) ARNASON; BOWEN; MANSELL, 2017 10 adultos com DM2 confirmada, obesos e que faziam uso de Metformina. Duração de 6 semanas 2 semanas de alimentação habitual. 2 semanas com jejum de 18-20h/dia e alimentação irrestrita nas outras horas. 2 semanas de alimentação habitual com acompanhamento. Perda de peso médio de - 1,395 kg IMC = - 0,517 kg/m² Glicose da manhã em jejum: - 6,10% 9 Ao analisar o estudo de Kemplel et al., (2012), observou-se que o jejum interminte combinado com a restrição calórica é uma estratégia eficaz para a perda de peso e redução de risco cardiovascular em mulher obesas, atráves da diminuição dos seus principais marcadores. Os achados de Varady et al., 2009 sugerem que após três fases o jejum de dia alternado pode ser uma estratégia possível para ajudar obesos na perda de peso e na diminuição do risco de doenças cardiovasculares. Apesar de ser um estudo observacional os resultados indicaram que a prática diária do jejum intermitente, porém, a curto prazo, possivelmente seria uma intervenção alimentar segura e tolerável em pacientes com DM2 podendo melhorar fatores como o peso corporal e a glicemia em jejum. Entretanto, por ser uma pesquisa piloto esses achados são exploratórios, uma investigação maior e mais longa é necessária (ARNASON; BOWEN; MANSELL, 2017). Rothschild publicou um artigo de revisão avaliando 11 estudos que tinham analisado os efeitos da TRF em humanos de quatro, sete, oito, dez e dozes horas com duração de duas e quatro semanas. Com base no quadro a seguir constatou-se que a TRF pode ser uma intervenção dietética eficiente para melhorar alguns fatores de risco metabólicos, como os níveis de glicose, perfis lipídicos e sensibilidade à insulina. Destaca-se que a maioria desses estudos foram feitos durante o Ramadã e pela noite (ROTHSCHILD et al., 2014). Quadro 2 – Comparativo entre os estudos sobre jejum intermitente segundo estudo de revisão de Rothschild Referências Indivíduos TRF e duração % Perda de peso Colesterol total LDL HDL TG Fatores glicoregulatórios HALBERG et al, 2005 8 homens com sobrepeso 4 hrs/2 semanas - - - - - ↑ absorção de glicose ↑ supressão da lipólise pela insulina RAVANSHAD et al, 1999 91 homens com peso normal 7 hrs/ 4 semanas - - - - - ↓ 27% glicose 10 TEMIZHAN et al, 2000 52 – Homens e mulheres com peso normal 8 hrs/ 4 semanas ↓5% (M) ↓8% (M) ↓11% (M) ↑3% (M) ↓19% (M) Glicose ↑18% (M) ↓5% (F) ↓10% (F) ↓12% (F) ↑2% (F) ↓29% (F) ↑22% (F) NEMATY et al, 2012 82 – Homens e mulheres com sobrepeso 10 hrs/ 4 sem. ↓2% ↓5% ↓12% ↑11% ↓19% - FAKHRZADEH et al, 2003 91 – homens e mulheres com peso normal 12 hrs/ 4 semanas ↓2% (M) ↓24% (M) ↓37%( M) ↑21% (M) ↓37% (M) Glicose ↓31% (M) ↓2% (F) ↓29% (F) ↓35% (F) ↑31% (F) ↓19% (F) ↓27% (F) Fonte: Adaptada de ROTHSCHILD et al, 2014. Um estudo submeteu voluntários humanos saudáveis a 60 horas de jejum e amostras de sangue recolhidas às 12 e 60 horas. Os autores observaram uma diminuição da glicose plasmática em 30% e na insulina em 50%. Um aumento significativo na extensão da lipólise e oxidação da gordura e um aumento moderado na extensão da proteólise e oxidação de proteínas. Este aumento da oxidação da gordura fornece o substrato para a gliconeogênese e compensa o declínio da oxidação dos carboidratos e da glicogenólise, confirmando assim a troca de combustíveis metabólicos. A alimentação em dias alternados é considerado uma variação de jejum completo que é mais fácil de manter por períodos mais longos e tem benefícios metabólicos (AZEVEDO; IKEOKA; CARAMELLI, 2013). Foram recrutados cinquenta voluntários saudáveis (21 homens e 29 mulheres) praticavam jejum no Ramadã para a investigação de citocinas pró-inflamatórias circulantes, células imunes e avaliações antropométricas. As análises foram realizadas uma semana antes do jejum do Ramadã, no final da terceira semana do Ramadã, e um mês após o término do mês do Ramadã Ao final do estudo observou-se que houve uma perda de peso médio de 71,82 kg (antes), de 70,58 kg (durante) e de 71,92 kg (após). Com 11 relação ao percentual de gordura corporal ocorreu um decrécimo de 24,12% (antes), 20,28% (durante) e 30,48% (após). Já com as citocinas pró-inflamatórias verificou se que durante ocorreu uma diminuição de 78% de IL-1, 57% de IL-6 e 71% de TNF-∞. Os valores de células imunes também diminuiram, sendo 14,1% (leucócitos), 14,1% (granulócitos), 11,2% (monócitos) e 29,3% de linfócitos. No entanto, esse estudo apresentou uma limitação, pois o protocolo usado provavelmente pode deixar de fornecer uma melhor comparação entre os parâmetros em função da duração prolongada da investigação, que durou de 10 a 16 horas para alguns, nem todos os participantes seguiram a mesma duração (FARIS et al, 2012). A maioria dos estudos mostrou efeitos positivos nos marcadores de saúde metabólica e composição corporal, em parte devido aos efeitos demonstrados pelo jejum intermitente nos tecidos metabólicos, que foram o aumento da sensibilidade à insulina e diminuição da gordura hepática, nos vasos sanguíneos ocorreu o aumento de óxido nítrico e diminuição do estresse oxidativo. No tecido adiposo houve aumento da deposição de triglicerídeos e aumento da sensibilidade à insulina. Nas ilhotas pancreáticas houve um declínio relacionado a idade metabólica. Já no músculo esquelético ocorreu um aumento da captação de glicose e dimunuição da resistência à insulina. Assim, conclui-se que o uso de jejum intermitente pode melhorar a perda de peso e a saúde cardiovascular de indivíduos com sobrepeso e obesidade (BROWN; MOSLEY; ALDRED, 2013). As hipóteses de que os regimes de jejum intermitente influenciam a regulação metabólica ocorrem através de efeitos sobre a biologia circadiana, a microbiota gastrintestinal e comportamentos de estilo de vida modificáveis. Alterações negativas nesses sistemas podem produzir um ambiente metabólico hostil que predispõe os indivíduos ao desenvolvimento da obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer (PATTERSON et al, 2015). Alguns regimes de jejum e TRF podem impor um ritmo diurno na ingestão de alimentos, resultando em melhores oscilações na expressão dos genes do relógio circadiano que reprogramam os mecanismos moleculares do metabolismo energético e regulação do peso corporal (HATORI; VOLLMERS; ZARRINPAR et al, 2012 apud PATTERSON et al, 2015, p.7). O jejum intermitente pode influenciar diretamente a microbiota do intestino. Estudos sugerem que as mudanças na composição e função metabólica da microbiota intestinal em indivíduos obesos podem permitir que uma "microbiota obesa" adquira mais energia da dieta do que uma "microbiota magra" e assim influenciar a absorção de energia, gastos e armazenamento 12 (FAITH; RIDAURA; REY et al, 2013; TURNBAUGH et al, 2006; KASER; TILGER, 2011 apud PATTERSON et al, 2015, p.7). 4.2 Possíveis malefícios de dietas que preconizam o jejum intermitente Autor Duração e objetos de estudo Resultados CHAUSSE et al., 2014 Ratos machos Ciclos de 24hrs de jejum intermitente 3 semanas Hiperfagia durante os períodos de alimentação. Expressão aumentada de AGRP e NPY no hipotálamo. CERQUEIRA, 2011 100 ratos 9 meses 4 grupos - Controle: alimentação irrestrita. Restrição calórica: 60% dieta padrão e complementação. Restrição completa: 60% menor e sem suplementação. Dieta intermitente: alimentação em dias alternados. Animais com dieta intermitente – hiperfagia, perda de massa muscular e mesma quantidade de gordura visceral. Absorviam glicose, mas aproveitavam menos – acúmulo de radicais livres. De acordo com o estudo de Chausse et al., 2014 foi encontrada uma expressão aumentada dos neurotransmissores orexigênicos AGRP e NPY (responsáveis por estimular o apetite), no hipotálamo de animais submetidos ao jejum intermitente, mesmo nos dias de alimentação, o que poderia explicar o padrão de overeating. Juntos, esses efeitos fornecem uma explicação para a menor eficiência de conversão de energia observada. Dessa forma, os autores descobriram que o jejum intermitente promove alterações na função hipotalâmica que explicam as diferenças na massa corporal e na ingestão calórica. Os animais que passaram pelo jejum a cada dois dias tinham oito vezes mais peróxido de hidrogênio que adere a uma molécula chamada receptor de insulina. Que por sua vez, pode acionar outras moléculas e fazer com que a glicose entre nas células. A autora relata que a insulina continua se ligando ao receptor, mas a resposta do receptor é menor que a normal e a consequência é que as células, principalmente as dos músculos, vão receber e metabolizar menos glicose do que necessitam perdendo assim uma adequada regulação metabólica (CERQUEIRA et al, 2011). 13 Autor Duração e participantes Características Resultados SCHAUMBERG et al., 2015 128 participantes Maioria do sexo feminino Média de 18 anos IMC dentro da média Consulta 24 hrs antes do jejum. Auto monitoramento da ingestão alimentar por 36 hrs. Jejum de 24 hrs com bebidas não calóricas liberadas. 25 – Comeram exageradamente 36 hrs antes do jejum. 4 - Comportamentos compensatórios antes do jejum. 28 - Comeram exageradamente após o jejum, 12 destescomeram muito antes do jejum. Os comportamentos compensatórios relatados antes do jejum incluem o uso de laxantes, diuréticos e provocação de vômitos. As diferenças individuais na regulação emocional ou consciência da fome e do apetite, podem servir como intermediários na relação entre jejum e distúrbios alimentares fornecendo mais explicações sobre os fatores que contribuem para esses comportamentos (SCHAUMBERG et al, 2015). Ao analisar a relação do jejum com a longevidade observou-se que o mecanismo biológico responsável pelo efeito da restrição calórica na longevidade ainda é desconhecido, no entanto, algumas hipóteses têm sido propostas, tais como: hipótese da redução da gordura corporal e sinalização da insulina, e hipótese da redução da produção de espécie reativa de oxigênio e atenuação dos danos oxidativos (GENARO; SARKIS; MARTINE, 2009). Um estudo realizado em humanos investigou os efeitos da realização de dias alternados de jejum durante um período de 3 anos. Nesse estudo os participantes foram divididos aleatoriamente em dias alternados de restrição energética e em grupo controle. O grupo da restrição energética podia consumir 1 litro de leite e 2-3 peças de fruta no dia de jejum e aproximadamente 2300 Kcal/dia (9600 kJ/d) no outro dia. Enquanto que o grupo controle era alimentado com aproximadamente 2300 Kcal/dia (9600 kJ/d) todos os dias. Verificou-se que os participantes do grupo com dias alternados de jejum passaram 14 menos tempo no hospital e tiveram uma taxa de mortalidade mais baixa do que no grupo controle (CARDOSO, 2009). Até hoje, a restrição calórica é a única intervenção não genética que tem sido consistentemente encontrada para prolongar a vida em uma variedade de espécies. Os principais estudos iniciais em roedores revelaram que os ratos alimentados com dietas com restrição calórica de 55-65% durante a sua vida apresentaram uma média 35-65% maior e um tempo de vida máximo do que os ratos que comiam de forma irrestrita (ANTON; LEEUWENBURGH, 2013). Para determinar a extensão do dano oxidativo nos nervos periféricos estudou-se os nervos ciáticos de ratos com idades de 8, 18, 29 e 38 meses mantidos em regime ad libitum ou dieta com 40% de restrição calórica. Encontrou-se uma acúmulo de substratos poliubiquitinados, a ocorrência destas estruturas foi menos frequente nos nervos de roedores mantidos numa dieta de calorias reduzidas ao longo da vida. Marcadores para a peroxidação lipídica, inflamação e infiltração de células imunitárias estão todos elevados em nervos de ratos alimentados à vontade, enquanto que a restrição alimentar é capaz de atenuar esses processos deletérios com a idade. Juntos, estes resultados mostram que a restrição dietética é um meio eficiente de desafiar os danos oxidativos relacionados com a idade e manter um estado mais jovem em nervos periféricos (OPALACH et al, 2010). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se que o jejum intermitente oferece inúmeros possíveis benefícios à saúde como a melhora dos perfis lipídicos (colesterol total, LDL, triglicerídeos), aumento da captação de glicose e redução de peso corporal. Houve um decréscimo de citocinas pró inflamatórias e diminuição da resistência à insulina. Há evidências de que o jejum intermitente está associado a longevidade, as hipóteses estariam relacionadas com a redução da gordura corporal e de produção de radicais livres e consequente diminuição dos danos oxidativos, além disso, ocorreu maior sinalização da insulina. Entretanto, alguns estudos demonstraram que ao realizar o jejum intermitente, os animais apresentaram hiperfagia. Já em humanos, além da hiperfagia também exibiram comportamentos compensatórios como o uso de laxantes, diuréticos e provocação de vômitos. Contudo, o jejum intermitente pode trazer possíveis benefícios à saúde, mas seu 15 uso como intervenção nutricional ainda não está claro, visto que os estudos disponíveis na literatura não são de longo prazo. Dessa forma, são necessárias investigações mais aprofundadas a fim de determinar até que ponto sua aplicação é segura. Intermittent fasting: a literature review Abstract: With the increasing increase in obesity and the use of diets for weight loss, intermittent fasting has emerged in the media as the "fad diet," which consists of depriving oneself of food for long periods and this includes various protocols such as daytime fasting alternating, full-day fasting, time-restricted feeding (TRF), and so on. There are numerous reports in the literature about its health benefits, covering aspects such as glycemia, body weight, lipid profiles, inflammatory cytokines. In addition, there are descriptions that intermittent fasting has positive impacts on longevity, but in some studies it has been found that diet has led to cases of hyperphagia in humans and animals. However, in spite of these results it is imperative that the research be further developed in relation to its benefits and harms in the long term. Keywords: Intermittent fasting. Longevity. Benefits. 16 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, Edeli Simioni de et al. Parâmetros nutricionais de dietas anunciadas na imprensa leiga destinada ao público masculino e feminino. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 6, n. 3, p.206-213, set./dez. 2013. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faenfi/article/view/13479/10680>. Acesso em: 09 maio 2017. ANTONI, Rona et al. 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