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Direito das Coisas I 08/02/18 Res = Coisa; alguns autores chamam de direito das coisas e outros chamam de direitos reais Bens ≠ Coisas (Art.1196) Só é real o que a lei diz; Art.1225, CC O direito das coisas traz um complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes as coisas suscetíveis de apropriação pelo ser humano. Traz o complexo de normas pelas quais as coisas se subsumam à vontade humana, as coisas existem para atender as necessidades do ser humano. Coisa se difere dos bens, para alguns doutrinadores coisa é gênero do qual os bens são espécie. Caio Mário faz a distinção entre bens e coisas levando em consideração a materialidade destas. Então tudo que for imaterial e intangível você reserva o vocábulo bem, já o que for material e tangível você reserva o vocábulo coisa. Entretanto esclarece o autor que o ser humano muito embora seja material e tangível não é uma coisa pois é dotado de personalidade jurídica, entretanto depois que morre aí sim o seu cadáver é uma coisa, nada impede que você possa destiná-lo por exemplo para estudos anatômicos. Direitos pessoais obrigacionais X Direitos reais 1. Toda e qualquer obrigação têm pelo menos 2 sujeitos, o Credor (ativo) e o Devedor (Passivo). 2. O objeto é a prestação. 3. É um direito transitório 4. São frutos da inteligência humana (As obrigações não estão tipificadas, pode-se ter uma relação com qualquer um) 5. Quanto a abrangência, os direitos obrigacionais vão se referir somente àquelas partes envolvidas na relação, são relativos 6. São dotados de sequela (marca do titular sobre a coisa, por mais longe que a coisa vá, a marca do titular está lá) podendo ser visível ou jurídica 1. Nos direitos reais também há pelo menos 2 sujeitos, o ativo, sendo o titular do direito o proprietário; e o passivo, a coletividade. 2. O objeto é a coisa. 3. Os direitos reais podem ser perpétuos, exceto quando se tem uma força antagônica a eles. 4. São direitos tipificados, não podem ser criados. 5. Os direitos das coisas são absolutos, são erga-omnes. 6. Os direitos reais requerem registro (Art.1227 e Art.1245, CC). Se for acima de 30 SM, requer também escritura pública (Art.108, CC) Obs.: Os direitos reais sobre coisas móveis se transmitem com a tradição e a propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. (Art.1226 e 1267, CC) A tradição pode ser real ou ficta, através do simbolismo. Princípios fundamentais dos direitos reais - Princípio da tipicidade - Os direitos reais são tipificados, devem estar na lei. - Princípio da publicidade ou da visibilidade - O direito real requer registro, no cartório de registros públicos, produzindo efeito erga omnes. - Princípio do absolutismo - Os direitos reais são absolutos, são exercidos em face de todos. - Princípio da aderência - O proprietário exerce a senhoria sobre a coisa, a coisa se subordina ao dono. Obrigação proptem rem: Ela só existe em decorrência da própria coisa, ela surge da coisa, ela acompanha a coisa, é uma obrigação ambulatória. EX: Pagamento de condomínio (Caso não pague, quem sofre as consequências é a própria coisa) 22/02/18 Propriedade / Posse / Detenção No brasil só é direito real o que a lei determina como sendo direito real, que é regido pelo princípio da tipicidade. Um exemplo é o art. 1.225, CC. Tecnicamente no nosso ordenamento, a propriedade surge a partir de um título, por se tratar de um ato de formal, em regra a propriedade surge a partir de sua escritura pública. Já a posse constitui um estado de fato. Por sal vez a detenção é uma posse mitigada, neste caso ele tem todos as características de um possuidor, porém neste caso a lei o tira esse poder, de posse. Neste caso o detentor está em regra cumprindo ordem de alguém (art. 1.198, CC). O código não define posse, ele apenas diz quem considera possuidor, de acordo com o art. 1096, CC. O possuidor é quem de fato alguns dos poderes inerentes a propriedade. Segundo Ihering, a posse é verificada na conduta de dono, sempre que haja o exercício de fato dos poderes inerentes a propriedade. Natureza jurídica: O ordenamento jurídico tutela a posse, protege a posse, sendo assim, para Ihering, a posse um direito. Para Windscheid, a posse é um fato. No ponto de vista de Savigny, a posse é ao mesmo tempo um direito e um fato. Já os nossos tribunais superiores entendem a posse como fato, que pode produzir efeitos. Classificação da posse: - Posse direta (imediata) e posse indireta (mediata): Tem posse direta à aquela pessoa que está diretamente ligada ao bem. Conserva a posse indireta à aquela pessoa que transferiu a posse direta através de uma relação jurídica. Ex: No contrato de locação, o locador que tem a posse direta. Quem conserva a posse direta é o locatário/inquilino. No comodato, o comodatário tem a posse direta e o comodante possui a posse indireta. O possuidor direto tem ação possessória em face do indireto. – Art. 1.197, CC. - Posse justa: é justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária, é posse isenta de vícios. - Posse injusta: configura uma posse com vícios, citados acima (violência, clandestinidade e precariedade). Posse violenta é aquela adquirida por atos de violência, por atos de força. Posse clandestina é aquela que é adquirida às espreitas, na clandestinidade. Posse precária (aluguel) é aquela que é transferida por uma relação jurídica, por uma relação de confiança, sendo assim precariedade não cessa, não convalesce. OBS: Posse violenta e posse clandestina são posses por vício que uma hora cessam, são vícios que convalescem. Interversão do caráter possessório: o locatário pode usucapir o locador, caso o locador por algum motivo suma sem deixar mandatário, herdeiro ou representante, ficando o locatário sem ninguém para se reportar, e assim, ficando o imóvel como se fosse seu, havendo assim uma interversão do caráter da posse. - Posse de boa fé: constitui posse de boa fé se o possuidor desconhece o vício ou obstáculo que impede a aquisição da coisa. – Art. 1.201, CC. - Posse de má fé: quando o possuidor não ignora o vício ou obstáculo que impede a aquisição da coisa. OBS: O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. Título justo: isento de vícios. Justo título: contem defeito, porém não possível se identificar esse defeito primariamente. - Posse ad usucapionem: é aquela capaz da gerar usucapião. - Posse ad interdicta: é aquela que pode ser defendida pelos interditos possessórios. Porém não gera a usucapião. Reintegração de posse: na hipótese de esbulho (perda posse por um ato injusto). Manutenção da posse: na hipótese de turbação, na turbação não se chaga a perder a posse, porém já se tem alguns dos seus direitos possessórios restringidos. Interdito proibitório: para a hipótese de ameaça da posse. 01/03/18 - Posse de força nova ou nova: a posse é de força nova quando ela data de menos de ano e dia. Neste caso o rito é o das ações possessórias. Admitindo pedido liminar. - Posse de força de velha ou velha: a posse é de força velha quando ela datar de mais de ano e dia. Neste caso o rito é o ordinário, comum. Não admitindo pedido liminar. - Posse natural: é aquela que a pessoa exerce naturalmente, quando a pessoa está de fato exercendo os poderes sobre a propriedade. - Posse civil ou jurídica: é aquela que é transmitida pela lei, sem a necessidade de atos físicos (atos de apreensão) sobre a coisa. Exemplo: cláusula constituti possessório. OBS: A cláusula constituti não se presume, ela deve constar expressamente, ou estar expressa de maneira que se presuma. Posse pro diviso: se a posse é localizada em determinadas partes do imóvel, diz-se que a posse é pro diviso. Posse pro indiviso: se por ventura os compossuidores têm posse somente de partes ideaisda coisa, diz-se que a posse é pro indiviso. Exemplo: herança antes da partilha. Composse: quando vários compossuidores estão exercendo a posse, a figura de um possuidor não a exclui a do outro. (Art. 1.199, CC) Teorias acerca da posse: - Teoria subjetiva (Savigny): Savigny parte de dois elementos para explicar o que era a posse, um elemento subjetivo, do qual ele chamou de “corpus”, que consiste na detenção física sobre a coisa. E um elemento subjetivo, o qual, ele designou como “animus”, que se revela na intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio, na vontade de tê-la com sua, de exercer a propriedade como se fosse o seu titular. A teoria foi muito criticada, posto que nunca conseguiu explicar a posse do locatário. - Teoria objetiva (Ihering): Na teoria de Ihering, para que exista posse, basta o elemento objetivo, pois a posse se revela na maneira como o proprietário age em face da coisa. A conduta deve ser analisada objetivamente, sem pesquisar a intenção do agente. A posse é então a visibilidade do domínio, que é a exteriorização da propriedade. Assim, a posse é protegida, pois ela representa como o domínio se manifesta. Para Ihering, “corpus” e “animus” se misturam, o importante é o que ele denominou de “affection tenendi”, que gera a posse. Questionado sobre se se trata de posse ou de propriedade, ele disse não saber, por isso que o ordenamento protege a posse. Teorias sociológicas: Desde os idos de 1900, já se trata de teorias sociológicas sobre a posse na Europa. Tais teorias dão ênfase ao caráter econômico e a função social da posse, aliadas ao direito de propriedade, que também deve exercer a sua função social. Originária: quando não se tem nenhuma relação jurídica de transferência antecedente. Exemplo: caça e pesca; usucapião. Derivada: quando há uma relação jurídica de transferência anterior. Exemplo: doação 08/03/18 Efeitos da posse Possibilidade de sua defesa: a posse pode ser defendida. Autotutela da posse: Art.1.210, §1°, CC, consiste na legítima defesa da posse. Sistema jurisdicional: através das ações tipicamente possessórias, que também são chamados de interditos possessórios. OBS: As ações possessórias consistem nos meios técnicos para defender a posse, só pode usar de ação possessória quem teve posse e a perdeu. As ações possessórias consistem em: reintegração da posse, manutenção da posse e interdito proibitório. Características dos interditos: Reintegração da posse: Usa-se para o esbulho (perda da posse por um ato ilícito). Manutenção da posse: Hipótese de turbação (tem alguns de seus direitos possessórios restringidos, porém não chega a perder a posse). Interdito possessório: Em hipótese de ameaça. Fungibilidade: O magistrado não irá indeferir o pedido por se tratar de um pedido com interdito incorreto, pois, uma ameaça pode se tornar em uma perda de posse em questão de horas, portanto, o magistrado irá usar da fungibilidade para sentenciar, levando em consideração o mal que está sendo sofrido naquele dado momento, mesmo que diferente do que foi solicitado na petição. Cumulação de pedido: Consiste na possibilidade de pedidos expostos no art. 555, CPC. Segundo a doutrina e a jurisprudência, pode-se alentar outros pedidos além dos descritos no art. 555, porém, caso sejam feitos pedidos além do art. 555, o processo irá para o rito ordinário e não mais permanecerá no rito especial. Ação dúplice (art. 556, CPC): é aquela que o réu na contestação pode fazer pedido em face do autor. OBS: Ação possessória é meio de tutela da posse perante uma ameaça, turbação ou esbulho. Sua propositura instaura o juízo possessório. A ação petitória é meio de tutela dos direitos reais, como a propriedade por exemplo. No juízo possessório não adianta alegar domínio, pois só se discute posse. No juízo petitório discute-se domínio, sendo a posse discussão secundária. Frutos da posse: Fruto é qualquer utilidade que se retira da coisa e renova periodicamente. Quanto a origem, os frutos podem ser: - Naturais, quando ele vem da natureza. - Industriais, quando vem da atuação do homem sobre a matéria prima, transformando a matéria prima. C - Civis, se referem aos rendimentos que a coisa fornece, por exemplo, o aluguel. Quanto ao estado, os frutos podem ser: - Pendentes, quando ainda está preso a coisa que o produziu. - Percipiendos, quando já podem ter sido colhidos, mas ainda não foram. - Colhidos ou percebidos, quando já foi percebido ou colhido, não está mais preso a coisa. - Estantes, quando estão armazenados. - Consumidos, quando já não existem mais, por já terem sido consumidos. OBS: a diferença de fruto para produto, é que o produto não se renova. Benfeitorias: são melhoramentos, pressupõe mão de obra humana e também a existência da coisa. Diante disso, as benfeitorias podem ser, voluptuárias, úteis ou necessárias. - Benfeitorias voluptuárias: quando de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. - Benfeitorias úteis: quando aumentam ou facilitam o uso do bem. - Benfeitorias necessárias: quando se tem por fim conservar o bem ou evitar que ele se deteriore. (art. 96, CC) OBS: O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. (art. 1.219, CC) Usucapião: também pode ser chamada de prescrição aquisitiva. Consiste em um meio de aquisição da propriedade móvel e imóvel, porém, também é um efeito da posse. Consiste em um modo originário de aquisição da propriedade, pois não existe relação jurídica antecedente. Para se declarar a usucapião, os requisitos devem ser todos preenchidos. Requisitos: Posse mansa e pacífica, deve ser exercida por um lapso temporal exigido por lei, a coisa deve ser hábil de gerar a usucapião (bem público não gera usucapião), deve haver inercia do titular do bem. Sua natureza jurídica é de sentença declaratória, de acordo com o art. 1.238, CC. 22/03/18 Usucapião Extraordinário (art. 1.238, CC): Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. OBS: O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Ordinária (art. 1.242, CC): Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. OBS: Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. Usucapião constitucional: Especial urbana (pro moradia pro misero) e especial rural (pro labore) Especial urbana (art. 183, CF/88, reproduzido no art. 1.240, CC): Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Especial rural (art. 191, CF/88, reproduzido no art. 1.239, CC): Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia,adquirir-lhe-á a propriedade. OBS: Tal modalidade não se contenta com a simples posse, é necessário que o usucapiente more e trabalhe na terra, pois o objetivo é a fixação do homem no campo. A doutrina e a jurisprudência informam que não cabe soma ou adição de posses, denominada accessio possessoris, assim, o possuidor não pode acrescentar a sua posse a de seus antecessores, pois teriam que estar presentes as mesmas qualidades das posses adicionadas. Usucapião administrativa (art. 1.071, NCPC): O NCPC criou uma nova modalidade de usucapião que a doutrina tem chamado de usucapião administrativa, cujo o pedido é feito diretamente no cartório de registro de imóvel, evitando-se assim, a via judicial. Questão: João Doria é possuidor de imóvel urbano há mais de 5 anos, cuja a metragem é de 350 m2, JD objetiva adquirir referido bem utilizando-se das regras atinentes a usucapião constitucional urbana e para tanto, ajuíza ação desprezando 100 metros do imóvel, é possível tal pretensão, justifique? R: Esta hipótese não é possível, pois tem fraude a lei, JD está procurando burlar o prazo legal da lei para aquela metragem em específico. Não podem ser usucapidos os bens naturalmente indisponíveis, como por exemplo, o ar, o mar, a água. Os legalmente indisponíveis, como por exemplo os bens de uso comum do povo, os de uso especial. Os bens indisponíveis por vontade humana, como aqueles clausulados com a cláusula de inalienabilidade, entretanto neste ponto há entendimento do STJ no sentido de que pode haver burla a lei, pois poderia-se clausular imóvel com o objetivo de afastar possível pretensão aquisitiva, a matéria é controvertida. Transmissão da posse – Art. 1.206 e 1.207, CC A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor, e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. OBS: A possibilidade de accessio possessoris que poderá efetivar-se a título universal, como ocorre na sucessão hereditária e a título singular, como se dá por exemplo na união de posses entre o possuidor atual e o anterior, fato que necessita de prova da relação jurídica entre eles. Quando a sucessão é feita pelo herdeiro, ele continua de pleno direito a posse de seu antecessor, entretanto, quando é feita de forma singular, faculta-se a união de posses, ou seja, o novo possuidor irá verificar a conveniência de unir ou não a sua posse com a do seu antecessor. A doutrina critica o tratamento diferenciado que é dado pela legislação. Propriedade – Art. 1.228, CC É direito real por excelência, pois o proprietário reúne em si as três faculdades inerentes ao domínio, são elas o ius utendi (consiste na faculdade de usar), ius fruendi (faculdade de fruir, gozar), ius abutendi (faculdade de dispor). A lei também dá ao proprietário o direto de reivindicar a sua propriedade (Art. 1.228, CC). O proprietário possui propriedade plena. Características da propriedade: Elasticidade: A lei permite que o proprietário possa abrir mão de um ou alguns dos poderes inerentes a propriedade. Exemplo: usufruto
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