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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO ANTÔNIO HENRIQUE CORREIA RONALD ALEXANDRE MARTINS FUNDAMENTOS DE CARTOGRAFIA E GPS BRASÍLIA-DF 2005 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS i ÍNDICE APRESENTAÇÃO 2 1. GEOPROCESSAMENTO E CARTOGRAFIA 3 2. CARTOGRAFIA 5 2.1. DEFINIÇÃO DE CARTOGRAFIA 5 2.2. CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS DE APOIO À CARTOGRAFIA 6 2.2.1. Astronomia 6 2.2.2. Topografia 6 2.2.3. Geodésia 7 2.2.4. Posicionam ento Global por Satélites 7 2.2.5. Aerofotogrametria 8 2.2.6. Sensoriamento Remoto 10 2.2.7. Ciência da Computação 12 2.3. DIVISÃO DA CARTOGRAFIA 13 2.4. CARTOGRAFIA GERAL 13 2.5. CARTOGRAFIA TEMÁTICA 15 3. GEODÉSIA 17 3.1. DEFINIÇÃO DE GEODÉSIA 17 3.2. MODELOS TERRESTRES 17 3.2.1. Modelo Real 17 3.2.2. Modelo Físico 18 3.2.3. Modelos Geométricos 19 3.2.3.1. Modelo Elipsoidal 19 3.2.3.2. Modelo Esférico 20 3.2.3.3. Modelo Plano 21 3.3. SISTEMAS GEODÉSICOS DE REFERÊNCIA 21 3.3.1. Introdução 21 3.3.1.1. Datum Horizontal ou Planimétrico 22 3.3.1.2. Datum Vertical ou Altimétrico 22 3.3.2. Sistema Geodésico de Referência Clássico 23 3.3.3. Sistema Geodésico de Referência Moderno 23 3.3.4. Sistemas Geodésicos de Referência Adotados no Brasil 23 3.4. PROJETO MUDANÇA DE REFERENCIAL GEODÉSICO 24 4. SISTEMAS DE COORDENADAS 28 4.1. SISTEMAS DE COORDENADAS GEOGRÁFICAS E GEODÉSICAS 28 4.2. SISTEMA DE COORDENADAS GEOCÊNTRICO TERRESTRE 31 4.3. SISTEMA DE COORDENADAS PLANAS CARTESIANAS 32 4.4. SISTEMA DE COORDENADAS PLANAS POLARES 33 4.5. SISTEMA DE COORDENADAS DE IMAGEM (MATRICIAL) 34 4.6. TRANSFORMAÇÃO ENTRE SISTEMAS GEODÉSICOS 34 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS ii 5. PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS 36 5.1. INTRODUÇÃO 36 5.2. CLASSIFICAÇÃO DAS PROJEÇÕES 37 5.2.1. Quanto ao Método de Construção 39 5.2.1.1. Projeções Geométricas 39 5.2.1.2. Projeções Analíticas 40 5.2.1.3. Projeções Convencionais 40 5.2.2. Quanto ao Tipo de Superfície de Projeção 41 5.2.2.1. Projeção Plana ou Azimutal 41 5.2.2.2. Projeção por Desenvolvim ento 41 5.2.3. Quanto à Posição da Superfície de Projeção 43 5.2.4. Quanto às Propriedades Intrínsecas 43 5.2.4.1. Projeções Eqüidistantes 45 5.2.4.2. Projeções Equivalentes 45 5.2.4.3. Projeções Conformes 45 5.2.4.4. Projeções Afiláticas 45 5.3. PROJEÇÕES MAIS USUAIS 46 5.3.1. Projeção Cônica Conforme de Lambert 46 5.3.2. Projeção Policônica Ordinária ou Americana 47 5.3.3. Projeção Cilíndrica Equatorial Conforme (Projeção de Mercator) 48 5.3.4. Projeção UTM 48 6. ESCALAS 52 6.1. INTRODUÇÃO 52 6.2. ESCALA NUMÉRICA 53 6.3. ESCALA EQUIVALENTE OU NOMINAL 53 6.4. ESCALA GRÁFICA 53 6.5. PRECISÃO GRÁFICA 54 6.6. ESCOLHA DA ESCALA 54 7. MAPAS, CARTAS E PLANTAS 56 7.1. DEFINIÇÕES 56 7.2. CARTA INTERNACIONAL DO MUNDO AO MILIONÉSIMO - CIM 57 7.3. ÍNDICE DE NOMENCLATURA E ARTICULAÇÃO DE FOLHAS 59 7.4. MAPA ÍNDICE 60 7.5. CARTA TOPOGRÁFICA 62 7.5.1. Quadriculado de Coordenadas Planas Cartesianas (Projeção UTM) 62 7.5.1.1. Obtenção de Coordenadas 62 7.5.1.2. Obtenção de Direções 64 7.5.2. Coordenadas Geodésicas 66 7.5.3. Representação Planimétrica 67 7.5.4. Elementos de Altimetria 70 7.5.4.1. Curvas de Nível 70 7.5.4.2. Declividade 72 7.5.4.3. Eqüidistância 72 7.5.4.4. Perfil Topográfico 72 7.5.5. Dados Marginais 74 7.5.6. Precisão Cartográfica 74 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS iii 8. FUNDAMENTOS DO POSICIONAMENTO GPS 76 8.1. INTRODUÇÃO 76 8.2. A CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA GPS 77 8.2.1. O Segmento Espacial 78 8.2.2. O Segmento de Controle 79 8.2.3. O Segmento de Usuários 79 8.3. OS SINAIS GPS 79 8.4. OS TIPOS DE EFEMÉRIDES 81 8.5. O FORMATO RINEX 82 8.6. OS PRINCIPAIS ERROS ASSOCIADOS ÀS OBSERVAÇÕES 82 8.6.1. Erros Relacionados aos Satélites 83 8.6.2. Erros Relacionados aos Sinais 84 8.6.3. Erros Relacionados aos Receptores 87 8.6.4. Erros Relacionados à Estação 87 8.7. AS PRINCIPAIS TÉCNICAS DE POSICIONAMENTO GPS 88 8.7.1. Posicionamento Absoluto 88 8.7.2. Posicionamento Relativo 88 8.7.3. Posicionamento Diferencial 89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 90 ANEXO - SISTEMA CARTOGRÁFICO DO DISTRITO FEDERAL (SICAD) Antônio Henrique Correia Ronald Alexandre Martins FUNDAMENTOS DE CARTOGRAFIA E GPS Brasília-DF, 2005 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 2 APRESENTAÇÃO Para atingir o objetivo principal da presente disciplina, qual seja apresentar os conhecimentos básicos de Cartografia e do Sistema de Posicionamento Global (Global Positioning System - GPS) que são indispensáveis aos pesquisadores e profissionais que atuam na área de Geoprocessamento e SIG, este material de apoio didático está dividido nos seguintes capítulos: q O Capítulo 1 aborda a forte relação existente entre o Geoprocessamento e a Cartografia; q O Capítulo 2 apresenta uma visão geral sobre a Cartografia, suas divisões e as diversas ciências e tecnologias que lhe servem de apoio; q O Capítulo 3 apresenta alguns fundamentos da Geodésia, os diferentes modelos utilizados para representar a Terra, os Sistemas Geodésicos de Referência e o atual Projeto de Mudança do Referencial Geodésico; q O Capítulo 4 descreve os procedimentos para a localização de um ponto na superfície terrestre a partir dos diversos Sistemas de Coordenadas existentes; q O Capítulo 5 trata dos principais Sistemas de Projeção Cartográfica, dando destaque aos utilizados no Brasil; q O Capítulo 6 apresenta os principais aspectos que envolvem o conceito de escala; q O Capítulo 7 descreve as principais diferenças entre Mapas, Cartas e Plantas, apresentando a nomenclatura de documentos cartográficos em uso no Brasil e as informações existentes em uma Carta Topográfica; q O Capítulo 8 apresenta os fundamentos do posicionamento espacial por satélites artificiais referentes ao sistema norte americano GPS. Ao final desta apostila também se encontra um anexo contendo as informações básicas sobre o Sistema Cartográfico do Distrito Federal - SICAD, base para os trabalhos realizados no Distrito Federal. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 3 CAPÍTULO GEOPROCESSAMENTO E CARTOGRAFIA O Geoprocessamento é considerada a mais moderna e eficiente tecnologia para o processamento de dados espaciais. Ele utiliza diversas técnicas para a coleta, o armazenamento, o tratamento, a análise e o uso integrado da informação espacial, conforme se observa na Fig. 1.1. Figura 1.1 - Definição de Geoprocessamento. (Fator GIS, 1998) O Geoprocessamento dispõe de valiosas ferramentas para aplicações em praticamente todas as áreas que lidam com recursos geograficamente distribuídos. Costuma-se dizer que sempre que o “onde” aparecedentre as questões e problemas que precisam ser resolvidos por um sistema informatizado, é necessário se valer das ferramentas do Geoprocessamento. Áreas como a Engenharia, Geografia, Geologia, Pedologia, Agricultura, Arquitetura, Navegação, Turismo, Meteorologia, Transportes, Urbanismo, além de muitas outras, têm se beneficiado bastante da tecnologia Geoprocessamento (Timbó, 2001). COLETA Cartografia Sensoriamento Remoto Fotogrametria Topografia GPS Dados Alfanuméricos ARMAZENAMENTO Banco de Dados TRATAMENTO e ANÁLISE Modelagem de Dados Geoestatística Aritmética Lógica Análise de Redes Análise Topológica Reclassificação USO INTEGRADO GIS LIS AM/FM CADD Conjunto de técnicas relacionadas ao tratamento da informação espacial UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 4 Entre a Cartografia e o Geoprocessamento existe uma forte relação interdisciplinar: o espaço geográfico. A Cartografia vai apresentar o modelo de representação de dados para os processos que ocorrem no espaço geográfico. O Geoprocessamento vai utilizar técnicas matemáticas e computacionais para tratar os processos que ocorrem no espaço geográfico (D’Alge, 1999). As informações extraídas do espaço geográfico são combinadas através dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), do inglês “Geographical Information Systems - GIS”, que constituem um conjunto poderoso de ferramentas para coletar, armazenar, recuperar, transformar e visualizar dados sobre o mundo real (Burrough e McDonnell, 1998). Segundo Maguire et al. (1991), uma razão histórica que reforça a relação Cartografia/Geoprocessamento é a precedência das iniciativas de automação da produção cartográfica em relação aos esforços iniciais de concepção e construção das ferramentas de SIG. A Fig. 1.2 sintetiza esta discussão, estendendo-a às áreas de Sensoriamento Remoto, CAD (Computer Aided Design) e Gerenciamento de Banco de Dados. Figura 1.2 - Relações interdisciplinares entre SIG e outras áreas. (Maguire et al., 1991) Atualmente, os conhecimentos de Cartografia necessários ao SIG desfrutam de um grande desenvolvimento, principalmente no que se refere à habilidade de se construir mapas digitais que efetivamente comuniquem as idéias e questões geográficas necessárias ao indivíduo. Vários programas têm sido desenvolvidos com o objetivo de viabilizar a utilização dos produtos resultantes das novas tecnologias de captação e processamento da informação espacial, como é o caso das imagens de satélites, dos dados obtidos por levantamentos com GPS e das imagens retificadas de fotografias aéreas, ou seja, as ortofotos (ou ortoimagens) digitais. Graças às novas possibilidades oferecidas por estes produtos digitais, pode-se constatar significativas renovações nos métodos cartográficos atuais. SENSORIAMENTO REMOTO COMPUTER-AIDED DESIGN CARTOGRAFIA COMPUTACIONAL GERENCIADOR DE BANCO DE DADOS SSIIGG UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 5 CAPÍTULO CARTOGRAFIA 2.1. DEFINIÇÃO DE CARTOGRAFIA O vocábulo CARTOGRAFIA foi criado pelo historiador português Visconde de Santarém, em carta de 8 de dezembro de 1839, escrita em Paris, e dirigida ao historiador brasileiro Adolfo de Varnhagen. Antes da divulgação e consagração do termo, o vocábulo usado tradicionalmente era COSMOGRAFIA (Oliveira, 1993). Dentre os vários conceitos de Cartografia consagrados na literatura, pode-se destacar a definição a seguir, a qual resume os principais aspectos desta disciplina: Cartografia é “a Ciência e a Arte que se propõe a representar por meio de mapas, cartas, plantas e outras formas gráficas, os diversos ramos do conhecimento humano sobre a superfície e o ambiente terrestre e seus diversos aspectos”. Ciência, quando utiliza o apoio científico da Astronomia, da Matemática, da Física, da Geodésia, da Topografia, da Agrimensura, da Geografia, da Geologia, da Estatística e de outras ciências para alcançar exatidão compatível com o mapeamento a ser realizado. Arte, quando recorre às leis estéticas da simplicidade e da clareza, buscando atingir o ideal artístico de beleza em seus produtos. A Cartografia destaca-se como sendo uma das mais antigas ciências de que se tem conhecimento, pode-se dizer que ela teve origem na mais remota antigüidade, quando o homem primitivo já sentia necessidade de registrar o espaço ao seu redor a fim de marcar os lugares mais importantes para a sua sobrevivência. Ao registrar nas paredes das cavernas os locais onde havia abundância de água e alimentos, situações de perigo, redutos de outras tribos, etc., utilizando-se de instrumentos rudimentares, o homem primitivo estava desenvolvendo um trabalho de cartografia na sua forma mais primitiva (Timbó, 2001). Desde então, a Cartografia tem evoluído em seus métodos e instrumentos, de tal sorte que, nos dias atuais, lança mão de inúmeras ferramentas tecnológicas, como medidores a laser, sensores remotos orbitais, computação gráfica, entre outros, para produzir documentos cartográficos com as mais diferentes finalidades e para as mais diversas áreas de aplicações. "Uma vez, há muito tempo, um viajante chegou a Ahaggar, no Saara, e perguntou a um velho chefe da tribo Tuareg o caminho para Tombuctu. O chefe não pronunciou uma só palavra. Cobriu com areia uma parte do solo em sua frente e representou a grande planície arenosa do Saara. Sobre a areia formou “montinhos” alargados para representar as dunas do deserto. As mesetas rochosas representou com pedras planas. Prontamente surgiu diante das vistas do viajante um modelo perfeito do relevo da região, não só em direções e distâncias, mas também no que se refere à natureza do terreno. Diante disso, explanações não foram mais necessárias. Através dessa linguagem universal, compreendeu o viajante o caminho a seguir, melhor do que com palavras." UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 6 Desse ponto de vista, pode-se considerar a existência da chamada dualidade cartográfica: “A Cartografia é uma ciência tão antiga quanto à espécie humana e tão nova quanto o jornal de hoje”. 2.2. CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS DE APOIO À CARTOGRAFIA Para atingir seus objetivos, a Cartografia se apoia em diversas tecnologias e ciências, algumas já bem consolidadas e outras em constante evolução. A seguir são descritas as mais significativas. 2.2.1. ASTRONOMIA A Astronomia é a mais antiga ciência de apoio à Cartografia. Utilizada para determinar a posição geográfica de pontos (coordenadas sobre a superfície terrestre). Os observatórios astronômicos, desde remotas datas, determinam e divulgam as coordenadas das estrelas em relação à Esfera Celeste. Um observador na Terra, ao observar uma estrela de coordenadas já conhecidas e utilizando a trigonometria esférica, pode determinar as coordenadas geográficas de sua posição terrestre (Timbó, 2001). Em 27 de abril de 1500, o Mestre João Emenelaus, físico da esquadra de Cabral, desceu a terra e por meio do astrolábio tomou a altura do Sol ao meio dia e determinou a latitude de 17 graus para o Ilhéu da Coroa Vermelha. Foi, portanto, a primeira medição dessa natureza no Brasil (Oliveira, 1993). Nos dias atuais as medições astronômicas de posição foram praticamente substituídas por metodologiasmais modernas que serão abordadas no decorrer deste texto. Figura 2.1 - Astrolábio do séc. XVII. 2.2.2. TOPOGRAFIA É a ciência que utiliza técnicas para determinação da posição tridimensional relativa de pontos na superfície terrestre. A Topografia atua em pequenas extensões, desconsiderando, portanto, os efeitos da curvatura da Terra. Emprega instrumentos que medem ângulos e distâncias, calculando posições através da geometria e da trigonometria plana. Com o desenvolvimento das estações topográficas automáticas (Estações Totais), estas técnicas ganharam bastante produtividade na aquisição de dados, passando a ser UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 7 largamente utilizadas nos dias de hoje. Figura 2.2 - Equipamentos topográficos modernos. 2.2.3. GEODÉSIA A Geodésia é a ciência que estuda a forma e as dimensões da Terra e estabelece o apoio básico (malha de pontos geodésicos com posição geográfica precisa) para dar suporte à elaboração de mapas. A Geodésia utiliza instrumentos semelhantes aos de Topografia, porém, dotados de alta precisão e associados a métodos mais sofisticados (Timbó, 2001). Calcula posições utilizando cálculos geodésicos complexos, onde se leva em consideração o efeito da curvatura terrestre. Figura 2.3 - Marco geodésico de apoio. 2.2.4. POSICIONAMENTO GLOBAL POR SATÉLITES O Sistema de Posicionamento Global - GPS foi projetado de forma que, em qualquer lugar da Terra e a qualquer instante, existam, pelos menos, quatro satélites visíveis acima do horizonte para um observador. Esta situação garante a condição geométrica mínima necessária à determinação da posição em tempo real. Assim, qualquer usuário equipado com um receptor de sinais GPS poderá determinar a sua posição em tempo real (Timbó, 2001) O sistema GPS é capaz de fornecer posições geográficas com baixa, média ou alta precisão, de acordo com o tipo de equipamento utilizado e a metodologia adotada na coleta e no processamento dos sinais (Timbó, 2001). UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 8 Figura 2.4 – Constelação do GPS. Figura 2.5 – Posicionamento por GPS. 2.2.5. AEROFOTOGRAMETRIA A Aerofotogrametria é a técnica utilizada para a elaboração de cartas topográficas e baseia-se na obtenção de medidas terrestres precisas através de fotografias aéreas especiais, obtidas com câmera métrica e com recobrimento estereoscópio. As fotografias são parcialmente sobrepostas, em faixas paralelas, recobrindo toda a área a ser mapeada. Figura 2.6 – Vôo fotogramétrico. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 9 A Aerofotogrametria compreende as seguintes fases: q Planejamento e execução do vôo: consiste em determinar, com antecedência, dados importantes do vôo fotogramétrico, como a distância focal da câmera aérea, a altura de vôo, a superposição longitudinal e lateral das fotos, o número de fotos por faixa, o número de faixas do vôo, o total de fotos, a qualidade dos filmes, etc. (Fig. 2.6); q Trabalho de laboratório: consiste na revelação dos filmes, produção das fotos em papel e diapositivos para serem utilizadas nas fases de restituição e reambulação; q Levantamento dos pontos de apoio terrestre: consiste na medição, através de levantamento topográfico/geodésico, das coordenadas de pontos que sejam bem identificáveis tanto nas fotografias como no terreno, chamados pontos de controle (Fig. 2.7); Figura 2.7 – Apoio de campo. q Aerotriangulação: consiste na determinação precisa de coordenadas de terreno de pontos medidos nas fotografias, com a finalidade de aumentar o conjunto de pontos de controle, sem a necessidade de trabalho de campo, visando a economia de custos; q Reambulação das fotos: consiste na coleta de dados em campo, de informações relativas aos acidentes naturais e artificiais e tudo mais que não pode ser obtido diretamente das fotografias. As informações de campo (toponímia), que depois farão parte do mapa, são anotadas sobre as fotografias pelos reambuladores; q Restituição fotogramétrica: consiste na construção do mapa a partir dos diapositivos fotográficos montados em pares estereoscópicos, ajustados e georreferenciados através dos pontos de controle (cada ponto da fotografia estará associado a uma coordenada no terreno). Através de equipamentos denominados restituidores, a geometria do momento exato da tomadas das fotografias é reproduzida (projeção cônica), permitindo-se realizar a representação das feições existentes no terreno (estradas, matas, rios, morros, etc.) em uma carta (projeção ortogonal) (Fig. 2.8). UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 10 Figura 2.8 – Restituição. 2.2.6. SENSORIAMENTO REMOTO Entende-se por Sensoriamento Remoto a utilização conjunta de modernos sensores, equipamentos para a obtenção remota de dados, processamento e transmissão de dados, provenientes de aeronaves, espaçonaves, satélites etc., com o objetivo de estudar o ambiente terrestre através do registro e da análise das interações entre a radiação eletromagnética e as substâncias componentes do planeta Terra, em suas mais diversas manifestações (Timbó, 2001). O advento dos sistemas sensores orbitais veio complementar a Aerofotogrametria, principalmente para a atualização de cartas e mapas, mostrando seu grande potencial na obtenção de informações temáticas. Cabe ressaltar que a Aerofotogrametria é um caso particular do Sensoriamento Remoto, no que se refere ao nível de aquisição de dados (aerotransportado). Figura 2.9 – Sensores remotos. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 11 Figura 2.10 – Imagem de satélite. Os sistemas sensores, geralmente, podem ser imageadores (Fig. 2.9) e não imageadores, sendo os primeiros os que vêm sendo mais estudados e aplicados no campo da Cartografia, especialmente na fotogrametria e na fotointerpretação. O produto gerado pelos sistemas sensores imageadores são as imagens digitais (Fig. 2.10) ou analógicas (em papel, transparência, etc.), podendo ser em preto e branco, cores naturais, falsas cores e outras formas, o que permite uma grande variedade de aplicações na Cartografia, como por exemplo: q Mapeamento Planimétrico: os produtos mais usuais são imagens georreferenciadas para a projeção cartográfica desejada; q Mapeamento Planialtimétrico: neste caso, os efeitos do relevo são levados em consideração, por meio de um Modelo Numérico de Terreno, que é composto por uma grade regularmente espaçada com as cotas de cada ponto, sendo obtido por meio de formação de pares estereoscópicos de imagens; q Mapeamento Temático: a imagem é georreferenciada de acordo com a projeção cartográfica desejada e, em seguida, pormeio de processamento digital, gera-se uma imagem temática segundo os mais variados temas (áreas desmatadas, cobertura vegetal, declividade do terreno, etc.); q Carta-Imagem: são imagens de satélite georreferenciadas no formato de folhas de carta, com a sobreposição de uma grade de coordenadas e informações auxiliares que são extraídas de outros mapas ou cartas. As vantagens apresentadas por este tipo de produto para a atualização cartográfica são evidentes, especialmente para as áreas onde não existem cartas tradicionais ou as mesmas se encontram desatualizadas. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 12 2.2.7. CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO O advento e o desenvolvimento da computação nas últimas décadas veio contribuir para um grande avanço tecnológico da Cartografia. Dentro deste tópico podem ser destacados os seguintes avanços: desenvolvimento das ferramentas de computação gráfica (Computer Aided Design - CAD), algoritmos para processamento digital de imagens, sistemas de gerenciamento de bancos de dados, programas com arquitetura baseada em sistemas de informações geográficas, mesas digitalizadoras, scanners de grande formato (Fig. 2.11), plotters e fotoplotters de alta resolução, estações fotogramétricas digitais (Fig. 2.12), dentre outros (Timbó, 2001). Figura 2.11 – Scanners de grande formato. Figura 2.12 – Estações fotogramétricas digitais. Essas grandes inovações tecnológicas e científicas têm levado a uma revisão do conceito tradicional da Cartografia. Taylor (1991) sugere que a Cartografia seja vista como “a organização, apresentação, comunicação e utilização da geoinformação em forma gráfica, digital ou analógica”. A partir desse novo enfoque, a Cartografia Analógica é substituída pela Cartografia Digital, a qual não representa apenas um processo de UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 13 automação de métodos manuais, mas um meio para se buscar ou explorar novas maneiras de lidar com os dados espaciais. 2.3. DIVISÃO DA CARTOGRAFIA A Cartografia pode ser dividida em três grandes grupos, de acordo com o conteúdo a ser representado: Geral, Especial e Temática. q Cartografia Geral: retrata basicamente a superfície topográfica do terreno, os acidentes geográficos naturais e as obras do homem. Destina-se ao uso geral, sendo base para as demais, atendendo planejamentos de obras de engenharia, operações militares, etc.; q Cartografia Especial: destina-se exclusivamente a atender um uso específico, uma técnica ou uma ciência; q Cartografia Temática: expressa determinados conhecimentos particulares (temas). Os mapas e cartas também seguem a classificação acima. A Tab. 2.1 a seguir mostra, de forma resumida, as subdivisões e alguns exemplos para fins de esclarecimento. Tendo em vista que a Cartografia Geral serve como base para as demais, e que qualquer mapa que apresente informações diferentes da simples representação do terreno pode ser considerado um produto da Cartografia Temática, esta apostila abordará principalmente estes dois assuntos, pois são importantes para a maioria dos usuários de SIG. 2.4. CARTOGRAFIA GERAL Como se observa na Tab. 2.1 a seguir, a Cartografia Geral subdivide-se em cadastral, topográfica e geográfica, de acordo com a escala de representação. A Cartografia Geral, como o próprio nome diz, objetiva fornecer ao usuário uma base cartográfica com possibilidades de aplicações generalizadas, de acordo com a precisão geométrica e tolerâncias permitidas pela escala. Do ponto de vista estratégico, a mais importante subdivisão é, sem dúvida, a Cartografia Topográfica, pois compreende as cartas que cobrem todo o país sistematicamente e servem de apoio para todos os trabalhos que requeiram uma base cartográfica nas escalas de 1:250.000 a 1:25.000. As folhas do mapeamento sistemático do Brasil foram estabelecidas a partir do enquadramento na Carta Internacional do Mundo ao Milionésimo. A Tab. 2.2 fornece uma visão da quantidade de cartas existentes segundo cada escala. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 14 Tabela 2.1 - Classificação de mapas e cartas (IBGE, 1998). Divisão Subdivisão Definição Cadastral escalas > 1:25.000 Representação em escala grande e com maior nível de detalhamento, apresentando grande precisão geométrica, normalmente utilizada para regiões metropolitanas. As escalas mais usuais na representação cadastral são: 1:1.000, 1:2.000, 1:5.000, 1:10.000 e 1:15.000. Topográfica escalas £ 1:25.000 e ³ 1:250.000 Carta elaborada a partir de levantamentos aerofotogramétricos e geodésicos ou compilada de outras cartas topográficas em escalas maiores. Inclui os acidentes naturais e artificiais, em que os elementos planimétricos (sistema viário, obras, etc.) e altimétricos (relevo através de curvas de nível, pontos colados, etc.) são geometricamente bem representados. Geral Geográfica escalas < 1:250.000 Carta em que os detalhes planimétricos e altimétricos são generalizados, os quais oferecem uma precisão de acordo com a escala de publicação. A representação planimétrica é feita através de símbolos, enquanto que a representação altimétrica é feita, em geral, através de cores hipsométricas. Náutica Representa as profundidades, a natureza do fundo do mar, as curvas batimétricas, bancos de areia, recifes, faróis, bóias, as marés e as correntes de um determinado mar, as áreas terrestres e marítimas. Elaboradas de forma sistemática pela Diretoria de Hidrografia e Navegação - DHN. Aeronáutica Representação particularizada dos aspectos cartográficos do terreno, destinada a apresentar além de aspectos culturais e hidrográficos, informações suplementares necessárias à navegação aérea, pilotagem ou ao planejamento de operações aéreas. Elaboradas de forma sistemática pelo Instituto de Cartografia Aeronáutica - ICA. Militar Em geral, são elaboradas na escala 1:25.000, representando os acidentes naturais do terreno, indispensáveis ao uso das forças armadas. Pode representar uma área litorânea, características topográficas e náuticas de trafegabilidade, a fim de que ofereça a máxima utilidade em operações militares. Geoidal Representa as ondulações geoidais em relação ao elipsóide, através de uma série de linhas ou curvas que unem os pontos de mesma altura geoidal para um determinado datum e elipsóide de referência. Especial Existem outros tipos, tais como, mapa magnético, astronômico, meteorológico, entre outros. Temática São cartas e mapas, em qualquer escala, destinados a um tema específico, necessários às pesquisas socio-econômicas, de recursos naturais e estudos ambientais, como por exemplo, atlas nacional, regional e estadual. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 15 Tabela 2.2 - Quantidade de folhas do mapeamento sistemático brasileiro (IBGE, 1998). Escala N° Total de Folhas N° de Folhas Executadas % Mapeada 1:1.000.000 46 46 100,0 1:500.000 154 68 44,0 1:250.000 556 529 95,1 1:100.000 3.049 2.087 68,4 1:50.000 11.928 1.641 13,7 1:25.000 47.712 548 1,2 Obs.: Estes dados são do ano de 1998 e referem-seapenas ao mapeamento realizado pelo IBGE e pela DSG. Não estão computados os levantamentos realizados pelos Institutos Estaduais. 2.5. CARTOGRAFIA TEMÁTICA Enquanto a Cartografia Geral trabalha com um produto cartográfico de forma geométrica e descritiva, a Cartografia Temática busca uma solução analítica e explicativa para a representação de aspectos físicos e culturais, sua ocorrência e distribuição espacial. O objetivo dos mapas temáticos é o de fornecer, com o auxílio de símbolos qualitativos e/ou quantitativos dispostos sobre uma base de referência - geralmente extraída das cartas topográficas e mapas - as informações referentes a um determinado tema ou fenômeno que está presente ou age no território mapeado. Quaisquer fenômenos físico, social, biológico, político, etc., que tenham uma vinculação com o espaço terrestre, são passíveis de serem representados, o que justifica a grande diversificação dos temas envolvidos. A Cartografia Temática pode ser subdividida em três tipos: q Cartografia de notação ou de inventário: registra os fenômenos na sua distribuição espacial, sob a forma de cores ou de tonalidades muito variadas, complementadas muitas vezes por sinais gráficos característicos. Estabelece um levantamento qualitativo dos elementos representados. Como exemplos gerais podem-se citar os mapas geológicos, pedológicos, de uso da terra, etnográficos, de distribuição de vegetação, etc.; q Cartografia estatística ou analítica: registra os fenômenos sob um ponto de vista estatístico. Estabelece um levantamento quantitativo, classificando, ordenando e hierarquizando os elementos a representar. Pode-se analisar apenas um fenômeno (como a produção agrícola de trigo no Brasil), vários fenômenos em conjunto (como a produção agrícola do Estado da Bahia), ou mesmo a análise de fenômenos compostos (como a balança comercial do país). Como exemplos gerais podem-se citar os mapas de densidade populacional, de distribuição por pontos, de fluxo de mercadorias, de precipitação pluviométrica, de isolinhas, etc.; e q Cartografia de síntese : registra fenômenos em conjunto e suas inter-relações, de forma global e subjetiva. Para isso, reúne as informações de vários documentos, UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 16 fundindo-as em uma só. Como exemplos gerais podem-se citar os mapas históricos, geomorfológicos, morfo-estruturais, de áreas homogêneas, etc. O Quadro 2.1 mostra dois exemplos de mapas temáticos do Brasil: um de potencialidade agrícola dos solos e outro de densidade populacional. Nota-se que ambos os mapas têm uma legenda representativa associada. O Quadro 2.2 apresenta uma comparação resumida entre a Cartografia Geral e a Cartografia Temática. Quadro 2.1 - Exemplos de mapas temáticos (IBGE, 1998). Potencialidade agrícola dos solos Densidade populacional Quadro 2.2 - Comparação entre a Cartografia Geral e a Cartografia Temática (IBGE, 1998). CARTOGRAFIA GERAL CARTOGRAFIA TEMÁTICA Atende a um público amplo e diversificado (vários usuários). Atende a um público especializado e reduzido (usuários específicos). Representação de elementos físicos ligados à topografia do terreno. Representação de quaisquer elementos, inclusive os de natureza abstrata. Os produtos sempre servem de base para outras representações. Os produtos raramente servem de base para outras representações. Em geral, os elementos podem ser usados por um longo tempo. Duração mais limitada, pois as informações são superadas com maior rapidez. Trata basicamente de informações qualitativas. Trata de informações qualitativas e quantitativas. A produção dos documentos exige conhecimento especializado em Cartografia. Em geral, os documentos podem ser produzidos por pessoas não especializadas em Cartografia. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 17 CAPÍTULO GEODÉSIA 3.1. DEFINIÇÃO DE GEODÉSIA A Geodésia é uma ciência complexa, que engloba o estudo de princípios de astronomia, física e matemática. Pode ser definida como “a ciência que estuda a determinação precisa da forma e das dimensões da Terra e das variações do seu campo gravitacional”. No Brasil, a Geodésia é divida em quatro grandes áreas de estudo: q Geodésia Geométrica: considera a determinação da posição relativa de pontos na superfície terrestre através de um modelo matemático e de métodos geométricos (medições angulares e lineares, verticais e horizontais relacionadas por meios de princípios geométricos e trigonométricos); q Geodésia Física: considera a determinação da superfície terrestre através do estudo da direção e da intensidade da gravidade, das superfícies equipotenciais e das perturbações no campo gravífico, baseando-se em princípios físicos; q Geodésica Astronômica: considera os métodos de posicionamento pontual na superfície da Terra por meio de observações de outros corpos celestes ; q Geodésia Espacial ou por Satélite: considera a determinação da posição sobre a superfície terrestre por meio da observação de satélites artificiais. 3.2. MODELOS TERRESTRES Pode-se distinguir basicamente três tipos de abordagens diferentes para caracterizar a forma e as dimensões da Terra, de acordo com o objetivo do trabalho a ser realizado: q o modelo real, baseado na verdadeira forma da terra; q o modelo físico, baseado em conceitos físicos, envolvendo o campo de forças atuantes no planeta como um todo; e q o modelo geométrico, baseado em conceitos puramente matemáticos. 3.2.1. MODELO REAL É a representação da Terra, limitada pela camada mais baixa da atmosfera (troposfera) e as massas sólidas e líquidas do planeta, ou seja, é a superfície contínua UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 18 definida pelos oceanos e continentes. Em outras palavras, representa a verdadeira forma da Terra, com suas montanhas, vales, oceanos e outras incontáveis saliências e reentrâncias geográficas (Fig. 3.1). Este modelo é importante por representar a superfície onde, efetivamente, são executadas as medições e observações cartográficas. Devido à sua forma irregular, é impossível representar a superfície real através de uma função analítica. Mesmo que se estabeleça um limite de proximidade entre os pontos da superfície terrestre, será impossível a sua caracterização, devido à impossibilidade de medir todos os pontos sobre a superfície da terra e devido às deformações sofridas por esses pontos ao longo do tempo (como por exemplo, as alterações causadas por intemperismo, terremotos ou movimento de placas tectônicas). Figura 3.1 - Superfície real. 3.2.2. MODELO FÍSICO Ao campo de forças gerado pela interação da força da gravidade terrestre e pela força centrífuga (devido a rotação da Terra), dá-se o nome de Campo Gravífico, o qual sofre variações ou anomalias, por influência de fatores como a distribuição irregular de massas de diferentes densidades na superfície terrestre. Com base nas linhas de força do campo gravífico, definem-se as superfícies equipotenciais (Fig. 3.2), que apresentam o mesmo potencial e são perpendiculares às linhas de força do campo. Figura 3.2 - Superfícies equipotenciais. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 19 a b Considerando-se que as linhas de força do campo gravífico são curvas reversas, e que a superfície da Terra é, devido às suas irregularidades, cortada por diferentes equipotenciais, adotou-se uma superfície como base para as medidas geodésicas: o Geóide . Compreende-se por geóide “uma superfície equipotencial coincidente com o nível médio dos mares, suposto homogêneo e livre de perturbações de qualquer natureza, e que se prolonga sob os continentes de modo tal que a direção da força de gravidade em qualquer de seus pontos é normal a ela”. O valor do Nível Médio dos Mares (NMM) pode ser obtido por meio de equipamentos denominados marégrafos, que são instalados no litoral. Esses aparelhos registram continuamente o movimento das marés, determinando a sua posição média, após um período de 19 anos (ciclo maregráfico). Existem outras aproximações do geóide, baseadas nos estudos de anomalias da gravidade e de harmônicos esféricos, denominados geóides matemáticos, com por exemplo, os modelos GEM, EGM, OSU, etc. 3.2.3. MODELOS GEOMÉTRICOS A adoção do geóide como superfície de referência depende do conhecimento do campo gravífico terrestre, o que ainda é muito limitado. Além disso, o equacionamento matemático do geóide é muito complexo, o que o distancia de um uso mais prático nos levantamentos geodésicos. Por esse motivo, a Geodésia procura adotar modelos matemáticos rígidos para representar a Terra, o que torna os cálculos geodésicos bem mais simples. Esses modelos são apresentados a seguir: 3.2.3.1. Modelo Elipsoidal Figura 3.3 - Elipsóide de revolução. Baseados em observações e estudos ao longo de anos, chegou-se à conclusão de que o nosso planeta é ligeiramente achatado nos pólos. Diante dessa descoberta, a Geodésia adotou como forma matemática aproximada de representação da Terra, o Elipsóide. Visando obter simplicidade nos cálculos geodésicos, aceitou-se o Elipsóide de Revolução como o modelo matemático que mais se aproxima da forma da Terra. Existem teorias que pregam a utilização do Elipsóide Escaleno, porém o ganho de UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 20 precisão nestas determinações não é significativo face ao aumento de complexidade nas operações matemáticas. O elipsóide de revolução (Fig. 3.3) é definido como sendo o sólido geométrico gerado por uma elipse que gira em torno do seu eixo menor (eixo polar). Suas características principais podem ser vistas na Tab. 3.1. Tabela 3.1 - Características matemáticas do elipsóide de revolução. Características Fórmula Expressão Geral do Elipsóide de Revolução: (a = semi-eixo maior; b = semi-eixo menor) 1 b z a yx 2 2 2 22 =+ + 1.º Achatamento (ou Achatamento Polar) (f) a ba f - = Excentricidade (e) 2 22 2 a ba e - = 3.2.3.2. Modelo Esférico Dentro de determinados limites de precisão, pode-se adotar como modelo matemático para a Terra, como um todo, a Esfera. Por definição, esfera é o lugar geométrico dos pontos eqüidistantes de um outro ponto dado, denominado centro. O modelo esférico é um caso particular (mais simples) do modelo elipsoidal, onde a = b = raio (Fig. 3.4). Este sólido é empregado como superfície auxiliar em certos desenvolvimentos geodésicos e em aplicações cartográficas de natureza mais simples. Raio Raio Figura 3.4 - Modelo esférico. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 21 3.2.3.3. Modelo Plano Existem casos onde, independente da tolerância requerida, é possível considerar a simplificação do modelo terrestre para um Plano. São situações em que os instrumentos ou métodos utilizados não detectam as pequenas variações da curvatura da Terra, ou que, embora negligenciada, produzem um resultado dentro da tolerância estabelecida. Figura 3.5 - Modelo plano. A conseqüência imediata, em termos de posicionamento, da aceitação desse modelo, é a redução dos dados à superfície de referência por meio de uma projeção ortogonal (Fig. 3.5). As distâncias observadas são sumariamente aceitas como se medidas sobre o plano de referência e nele representadas. Os ângulos são tomados como se observados segundo o mesmo plano do horizonte. O modelo plano é usado nas operações topográficas, que são vistas como um subconjunto das operações geodésicas, onde é possível aceitar cálculos, sem a influência do efeito de curvatura da Terra, para uma distância de até 50km aproximadamente. 3.3. SISTEMAS GEODÉSICOS DE REFERÊNCIA 3.3.1. INTRODUÇÃO A adoção de uma superfície matemática rígida para representar a Terra não é suficiente para definir o posicionamento de um ponto sobre a superfície terrestre. Para isso, faz-se necessária a definição de um sistema de coordenadas associado aos pontos da superfície terrestre, chamado Sistema Geodésico de Referência (SGR). A implantação de um SGR é dividida em duas partes: definição e materialização na superfície terrestre (IBGE, 2000): q a definição compreende a adoção de um elipsóide de revolução sobre o qual são aplicadas injunções de posição e orientação espacial; e q a materialização consiste no estabelecimento de uma rede geodésica de pontos interligados na superfície terrestre cujas coordenadas são conhecidas. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 22 As injunções de posição e orientação espacial para o elipsóide de revolução em relação à superfície física são feitas através da preservação do paralelismo entre os eixos de rotação da Terra real e do elipsóide, e de um ponto origem chamado Datum, ao qual devem estar referenciadas todas as posições. 3.3.1.1. Datum Horizontal ou Planimétrico É o ponto de referência (origem) para o posicionamento horizontal (coordenadas planimétricas) de um sistema. De acordo com a sua localização, o sistema geodésico pode ser Topocêntrico ou Geocêntrico. Quando a localização do datum horizontal está sobre a superfície terrestre, o sistema é chamado Topocêntrico ou Local (Fig. 3.6). Quando o datum horizontal está situado próximo ao centro de massa da Terra, o sistema é chamado Geocêntrico ou Global (Fig. 3.7). Esse último é utilizado, principalmente, em Geodésia Espacial, para o posicionamento através do uso de satélites artificiais. Figura 3.6 - Sistema geodésico local. Figura 3.7 - Sistema geodésico global. Para se determinar o datum horizontal na superfície terrestre são necessários anos de observações e cálculos. Normalmente este ponto é escolhido num local de máxima coincidência entre o geóide e o elipsóide. 3.3.1.2. Datum Vertical ou Altimétrico É o ponto de referência (origem) para o posicionamento vertical (coordenadas altimétricas) de um sistema. Como as altitudes são referidas ao nível médio dos mares, ou seja, à superfície do geóide, a determinação do datum vertical envolve a utilização de uma rede de marégrafos para o estabelecimento do nível médio dos mares. Após anos de medições, faz-se então um ajustamento dos resultados encontrados, encontrando-se a referência “zero” para o NMM. Um dos marégrafos passa a ser ponto de referência do datum vertical. UNIVERSIDADEDE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 23 3.3.2. SISTEMA GEODÉSICO DE REFERÊNCIA CLÁSSICO É o sistema concebido antes da era da Geodésia Espacial, com a utilização de métodos e procedimentos geodésicos tradicionais (triangulação, poligonação e trilateração). É um sistema topocêntrico, onde os parâmetros definidores estão vinculados a um ponto na superfície física da Terra. Nesse sistema, as redes altimétrica e planimétrica são distintas. Alguns exemplos são: Córrego Alegre, SAD-69, etc. 3.3.3. SISTEMA GEODÉSICO DE REFERÊNCIA MODERNO É um sistema recente, geocêntrico, concebido durante a era da Geodésia Espacial, com a utilização de métodos e procedimentos mais refinados como, por exemplo, a observação do campo gravitacional terrestre a partir de satélites artificiais e a consideração dos parâmetros físicos da velocidade de rotação da Terra. Isso garante uma maior precisão às coordenadas medidas, cujos valores não são fixos; eles variam em relação ao tempo. Alguns exemplos são: ITRS, SIRGAS, etc. O referencial mais preciso existente na atualidade é o ITRS (International Terrestre Reference System), sendo as suas realizações denominadas de ITRFyy (International Terrestre Reference Frame, ano yy). Como as coordenadas das estações sobre a superfície terrestre variam em função do tempo, é necessário redefinir periodicamente seus valores. Por este motivo, a denominação dada à materialização do ITRS vem acompanhada pelo ano em que foi estabelecida. Por exemplo, ITRF94 é a realização referente ao ano de 1994 (IBGE, 2000). A última realização do ITRS é o ITRF97, época 1997.0. Este é o sistema de referência mais preciso até hoje realizado. Seus parâmetros de posição (coordenadas e velocidades) são produzidos a partir da combinação de um conjunto de técnicas espaciais de posicionamento, tais como VLBI (Very Long Baseline Interferometry), SLR (Satellite Laser Ranging), LLR (Lunar Laser Ranging), GPS (Global Positioning System) e DORIS (Doppler Orbitography and Radiolocation Integrated by Satellite) em mais de 500 estações distribuídas pelo mundo todo (IBGE, 2000) 3.3.4. SISTEMAS GEODÉSICOS DE REFERÊNCIA ADOTADOS NO BRASIL Atualmente, o sistema geodésico oficial do Brasil é o SAD-69 (South American Datum 1969). Porém, existem ainda muitos produtos cartográficos referenciados aos antigos sistemas: Córrego Alegre e Astro Datum Chuá. Com o advento dos satélites de posicionamento, principalmente o GPS, um outro sistema geodésico que tem sido utilizado no Brasil é o WGS-84 (World Geodetic System 1984). A Tab. 3.2 a seguir mostra os parâmetros dos principais sistemas geodésicos utilizados no Brasil. Um dos problemas típicos na criação da base de dados de um SIG no Brasil tem sido a coexistência de mais de um sistema geodésico de referência. Por exemplo, as diferenças entre Córrego Alegre e SAD-69 traduzem-se em discrepâncias de algumas dezenas de metros sobre a superfície do território brasileiro. Essas discrepâncias podem ser negligenciadas para projetos que envolvam mapeamentos em escala pequena, mas são absolutamente preponderantes para escalas maiores que 1:250.000 (D’Alge, 1999). É o caso, por exemplo, do monitoramento do desflorestamento na Amazônia Brasileira, que usa uma base de dados formada a partir de algumas cartas topográficas na escala 1:250.000, vinculadas ao sistema Córrego Alegre e outras vinculadas ao SAD-69. Assim, é de fundamental importância que todo usuário de SIG observe a origem UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 24 dos dados geográficos com que está trabalhando, a fim de evitar incompatibilidades no seu trabalho de geoprocessamento. Apesar dos diferentes data, a tarefa de conversão de um datum para outro é baseada em equações simples, que a maioria dos programas de geoprocessamento está habilitado a realizar, através do conhecimento dos parâmetros de transformação. Tabela 3.2 - Sistemas geodésicos mais utilizados no Brasil Elipsóide Sistema Geodésico Datum Horizontal Datum Vertical Nome Parâmetros Vértice Chuá SAD-69 j = -19° 45' 41",65 l = -48° 06' 04",06 h = 763,28 m Q = 03° 32' 00",98 N = 0 m UGGI-67 a = 6.378.160,00 b = 6.356.774,72 f = 1/298,25 Córrego Alegre CÓRREGO ALEGRE j = -19° 50' 14",91 l = -48° 57' 41",98 h = 683,31 m Q = 0° N = 0 m Imbituba-SC Hayford 1924 a = 6.378.388,00 b = 6.356.911,95 f = 1/297 WGS-84 Geocêntrico GRS-80 a = 6.378.137,00 b = 6.356.752,51 f = 1/298,257223563 NOTA: Sobre o termo “DATUM”, alguns autores o consideram apenas como o ponto de origem; outros, como a superfície de referência (elipsóide); e ainda há outros que o utilizam como sinônimo de Sistema Geodésico. 3.4. PROJETO MUDANÇA DE REFERENCIAL GEODÉSICO A rede planimétrica de alta precisão do Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) é constituída, atualmente, por mais de 5000 estações geodésicas cujas coordenadas estão referidas ao referencial oficialmente adotado desde a década de 70: o SAD-69. O termo “alta precisão“, entretanto, deve ser entendido como uma classificação relativa aos métodos e instrumentos utilizados nos levantamentos no decorrer do seu estabelecimento. Sabe-se, através do reajustamento da rede planimétrica realizado em 1996, que a precisão das coordenadas geodésicas de uma estação estabelecida por triangulação e poligonação não é melhor que meio metro, podendo chegar a um metro (IBGE, 1996). Nos dias de hoje, pode-se alcançar precisão centimétrica, ou até milimétrica, através de observações GPS. Objetivando o atendimento dos padrões atuais de posicionamento global, verifica- se que é necessária a adoção de um referencial geocêntrico no Brasil, em substituição ao UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 25 topocêntrico, SAD-69, utilizado. Esta mudança garante a manutenção da qualidade dos levantamentos por satélite realizados em território nacional, uma vez que referenciar os resultados obtidos ao SAD-69 implica na degradação da precisão. Outro fator determinante diz respeito à necessidade de se buscar uma compatibilidade com os demais países sul-americanos, adotando-se, no continente, um referencial geodésico único para as atividades cartográficas. Além disso, outra consideração a ser feita diz respeito ao intercâmbio das informações espaciais digitais, o qual é comprometido tendo em vista os diversos referenciais em uso hoje em dia (IBGE, 2002) Em face do exposto, pode-se concluir que os níveis atuais de precisão obtidos no posicionamento geodésico tornam obrigatória a adoção de sistemas de referência que forneçam um georreferenciamento a nível global e que considerem a variação temporal das coordenadas de acordo com a dinâmica terrestre. Com o objetivo de se compatibilizar os sistemas geodésicos utilizados pelos países da América do Sul, foi criado em 1993 o projeto SIRGAS (Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas), com vistas a promover a definição e estabelecimento de um referencial único compatível em termos de precisão com a tecnologia GPS. Os primeiros resultados do SIRGAS se traduziram em uma das redes de referência continentais mais precisas do mundo. Ela é composta por 58 estações distribuídas pelo continente, com coordenadas determinadas por GPS e referidas a rede de referência internacional ITRF94. Em outras palavras, o SIRGAS é uma densificação do ITRF na América do Sul. Das 58estações, 11 se situam no território brasileiro, das quais 9 coincidem com estações da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC), a rede geodésica ativa GPS implantada pelo IBGE no Brasil (IBGE, 2002). Figura 3.8 - Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo - RBMC. (IBGE,2004) UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 26 A RBMC (Fig. 3.8) é uma rede de estações GPS permanentes composta atualmente por 20 (vinte) estações em operação (Fortaleza, Brasília, Curitiba, Presidente Prudente, Bom Jesus da Lapa, Manaus, Viçosa, Cuiabá, Imperatriz, Porto Alegre, Salvador, Recife, Crato, Rio de Janeiro, Santa Maria, Belém, Varginha, Uberlândia, Montes Claros e Governador Valadares), 1 (uma) em fase de teste (Amapá) e 4 (quatro) em fase de implantação (Boa Vista, São Gabriel da Cachoeira, Porto Velho e Cachimbo), que serve de suporte para a utilização da tecnologia GPS no Brasil (IBGE, 2005). Em decorrência da permanente coleta de observações, a RBMC permite o cálculo contínuo das coordenadas sobre a superfície terrestre, monitorando, deste modo, as deformações da crosta terrestre. Dessa forma, é possível quantificar a variação temporal das coordenadas do Sistema Geodésico Brasileiro, proporcionando, assim, um referencial constantemente atualizado aos usuários (IBGE, 2004). Na Fig. 3.9 é possível verificar que as diferenças em coordenadas entre os sistemas SAD-69 e SIRGAS são, horizontalmente, da ordem de 60 a 70 metros na direção nordeste. Figura 3.9 - Vetores de deslocamento horizontal entre SAD-69 e SIRGAS. (IBGE,2000) Com o objetivo de desenvolver, documentar e apresentar estudos e pesquisas relacionados aos impactos sobre a mudança do referencial, vários órgãos, instituições e universidades ligados à área de geodésia formaram 8 (oito) grupos de trabalho, todos sob a coordenação do IBGE, os quais são responsáveis pelos estudos decorrentes desta proposta de mudança: q GT 1 - Suporte e Atendimento ao Usuário: Realizar as atividades de suporte aos usuários. Para tanto, deverá: ter representação estadual; ter entendimento dos problemas dos usuários e propor recomendações de curto, médio e longo prazo; UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 27 q GT 2 - Definição do Sistema de Referência Geodésico: Promover o estudo sobre qual sistema adotar; constantes geométricas; constantes físicas e demais parâmetros; q GT 3 - Conversão de Referenciais: Realizar a determinação de parâmetros de conversão; desenvolvimento de aplicativos, entre outros estudos; q GT 4 - Definição de Modelo Geoidal: Determinar o Modelo Geoidal adequado ao novo referencial; q GT 5 - Conversão da Cartografia: Promover o estudo dos problemas inerentes à conversão da cartografia sistemática e da cartografia cadastral; q GT 6 - Normalização e Legislação: Realizar um Inventário da Legislação vigente, avaliar e adequar a Legislação Geodésica e Cartográfica à utilização do novo referencial; q GT 7 - Impactos da Mudança do Referencial: Avaliar os impactos da mudança nas áreas de Documentação Legal e Tributária, Geodésia, Cartografia, SIG e Informações Espaciais; q GT 8 - Divulgação: Realizar as atividades de divulgação de todo o processo, através da editoração e divulgação de manuais, glossários, “folder”, participação e realização de eventos, manutenção da homepage do Projeto e disseminação de relatórios e instrumentos diversos. Assim, o Projeto de Mudança do Referencial Geodésico (PMRG) vai promover a adoção no país de um novo sistema de referência, mais moderno, de concepção geocêntrica e compatível com as mais recentes tecnologias de posicionamento. No final de 2004, o IBGE definiu que o SIRGAS seria o referencial a ser adotado oficialmente no Brasil, em substituição ao SAD-69. Iniciou-se então o chamado Período de Transição, que deve durar até 2014, em que o novo sistema e os sistemas vigentes (Córrego Alegre e SAD-69) poderão ser oficialmente utilizados. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 28 CAPÍTULO SISTEMAS DE COORDENADAS A principal característica que os dados inseridos em um Sistema de Informações Geográficas devem apresentar é a possibilidade da localização geográfica da informação disponível. Para tanto, é necessário associar os dados existentes a um sistema de coordenadas. Os principais sistemas de coordenadas utilizados em Geoprocessamento são os seguintes: q Sistema de Coordenadas Geográficas; q Sistema de Coordenadas Geodésicas; q Sistema de Coordenadas Geocêntrico Terrestre; q Sistema de Coordenadas Planas Cartesianas; q Sistema de Coordenadas Planas Polares; q Sistema de Coordenadas de Imagem. A importância de se conhecer esses sistemas e a interligação entre eles reside no fato de que muitas operações realizadas pelo usuário de SIG são baseadas em algumas transformações entre diferentes sistemas de coordenadas que garantem a relação entre um ponto na tela do computador e as suas coordenadas geográficas. 4.1. SISTEMAS DE COORDENADAS GEOGRÁFICAS E GEODÉSICAS Como foi visto no Capítulo 3, existem diversos modelos de representação da Terra. A principal diferença quando se fala em coordenada geográfica e coordenada geodésica está relacionada ao modelo matemático adotado: a primeira diz respeito à representação feita através de uma esfera (Modelo Esférico), a segunda, por meio de um elipsóide de revolução (Modelo Elipsoidal). Em ambos os sistemas, cada ponto da superfície terrestre é localizado pela interseção de um Meridiano com um Paralelo. Num modelo esférico, os meridianos são círculos máximos cujos planos contêm o eixo de rotação. Já num modelo elipsoidal, os meridianos são elipses definidas pelas interseções, com o elipsóide, dos planos que contêm o eixo de rotação. O Meridiano de origem ou inicial é aquele que passa pelo antigo observatório britânico de Greenwich, na Inglaterra, escolhido convencionalmente como a origem (0°). Tanto no modelo esférico como no modelo elipsoidal os paralelos são círculos cujo plano é perpendicular ao eixo de rotação e que vão diminuindo de tamanho até que se reduzam a pontos nos pólos Norte e Sul. O Equador é o círculo máximo que divide a UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 29 Terra em dois hemisférios, Norte e Sul, e é considerado como o paralelo de origem (0°). Com base nos meridianos e paralelos, a localização de um determinado ponto da superfície terrestre é dada por um conjunto de coordenadas definidas por uma Longitude e uma Latitude. Tanto no modelo esférico (Longitude Geográfica) quanto no modelo elipsoidal (Longitude Geodésica), a longitude de um ponto é definida como o ângulo diedro entre os planos do meridiano origem (Greenwich) e do meridiano que contém o ponto, sendo positivo a leste de Greenwich (0° a +180°) e negativo a oeste (0° a -180°). As longitudes são a base para a contagem dos fusos horários. No modelo esférico, a Latitude Geográfica de um ponto é o ângulo entre o Equador e ponto considerado, medido sobre o meridiano que contém o ponto. No modelo elipsoidal, existirão duas latitudes: a Latitude Geodésica, queé o ângulo entre a normal ao elipsóide no ponto considerado e sua projeção no plano equatorial; e a Latitude Geocêntrica, que é o ângulo entre o raio vetor desse ponto e sua projeção no plano equatorial. Todas as latitudes são medidas sobre o meridiano que contém o ponto, sendo positivas ao Norte do Equador (0° a +90°) e negativas ao Sul (0° a -90°). Para fins de posicionamento, utiliza-se a latitude geodésica como coordenada. A Fig. 4.1 ilustra a diferença entre a Latitude Geodésica e a Latitude Geocêntrica. Figura 4.1 - Latitudes Geodésica e Geocêntrica. Para fins de comparação, as Fig. 4.2 e 4.3 ilustram, respectivamente, o Sistema de Coordenadas Geográficas e o Sistema de Coordenadas Geodésicas. Com relação às coordenadas altimétricas, é importante ressaltar que a altitude de um ponto é dada sempre em relação ao nível médio dos mares, ou seja, a referência para a altimetria é o geóide . A altitude em relação ao geóide é chamada altitude ortométrica. Quando se utiliza um modelo geométrico como referência para a altimetria, o termo usado é altura geométrica. Nos casos de um modelo elipsoidal, particularmente, também se usa a expressão altura elipsoidal. O GPS fornece esta medida aos seus usuários, relativa ao sistema WGS-84. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 30 Altura geométrica ou elipsoidal (h) é a distância vertical medida sobre a normal, que se estende do ponto considerado até o seu homólogo sobre a superfície de referência (esfera ou elipsóide). A normal do lugar em um determinado ponto da superfície terrestre é definida pela direção perpendicular à superfície de referência (esfera ou elipsóide) que passa pelo ponto (Fig. 4.2 e 4.3). Figura 4.2 - Sistema de Coordenadas Geográficas. Figura 4.3 - Sistema de Coordenadas Geodésicas. Altitude Ortométrica (H) é a distância medida sobre a vertical do lugar, que se estende do ponto considerado até o seu homólogo sobre o geóide. A vertical do lugar de um ponto sobre a superfície terrestre é a direção tangente à linha de força do campo gravífico no ponto considerado (Fig. 4.4). Ela é materializada pela direção do fio de prumo. Figura 4.4 - Vertical do lugar. A redução da altura medida em relação ao elipsóide para a altitude medida em relação ao geóide é feita através da determinação da ondulação ou desnível geoidal. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 31 Ondulação Geoidal ou Desnível Geoidal (N) de um ponto da superfície terrestre é o afastamento linear entre o elipsóide e o geóide no ponto considerado, contado sobre a normal. Para fins práticos, pode ser considerada igual à diferença entre a altitude ortométrica e a altura elipsoidal (Fig. 4.5). A ondulação geoidal pode ser obtida por meio de Mapas Geoidais, os quais representam linhas de isovalores da ondulação geoidal (N), relativos a um dado elipsóide. Entretanto, esses mapas nem sempre estão disponíveis. Figura 4.5 - Ondulação geoidal. 4.2. SISTEMA DE COORDENADAS GEOCÊNTRICO TERRESTRE O Sistema Geocêntrico Terrestre ou Sistema Cartesiano Terrestre (Fig. 4.6) é um sistema cartesiano tridimensional com origem no centro de massa da Terra, caracterizado por um conjunto de três eixos coordenados (X, Y, Z), mutuamente perpendiculares, de modo que: q Eixo X: coincide com a projeção do Meridiano de Greenwich sobre o plano do Equador; q Eixo Y: está no plano do Equador e coincide com a direção ortogonal ao eixo X, no sentido anti-horário; q Eixo Z: coincide com o eixo de rotação da Terra. Este sistema é conhecido pela sigla em inglês ECEF (Earth-Centered, Earth- Fixed). O termo “Earth-Centered" indica que a origem dos eixos (0,0,0) está localizada no centro de massas da Terra, determinado após o estudo da órbita descrita pelos satélites artificiais. O termo "Earth-Fixed" indica que os eixos coordenados são fixos em relação à Terra, ou seja, eles acompanham os movimentos do planeta. Trata-se de um sistema de coordenadas muito importante para a transformação de coordenadas entre sistemas diferentes. Assumindo-se um modelo elipsoidal para a Terra, onde (X, Y, Z) denota as coordenadas de um determinado ponto no sistema geocêntrico terrestre dadas em metros e (j, l, h) denota as coordenadas homólogas no sistema de coordenadas geodésicas, as relações matemáticas que realizam as UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 32 transformações entre estes dois sistemas são mostradas na Tab. 4.1. Figura 4.6 - Sistema de Coordenadas Geocêntrico Terrestre. Tabela 4.1 - Transformação entre Coordenadas Geodésica s e Geocêntricas. Transformação Formulação Coordenadas Geodésicas para Geocêntricas (j, l, h) ® (X, Y, Z) ï ï î ï ï í ì - = = ï î ï í ì += += += 2 22 2 22 2 a ba e )sen e - (1 a N onde sen h] )e - (1 [NZ sen cos h)(NY cos cos h) (N X j j lj lj , Coordenadas Geocêntricas para Geodésicas (X, Y, Z) ® (j, l, h) ï ï ï ï î ï ï ï ï í ì += = ÷ ø ö ç è æ ×=Y ï ï ï ï î ï ï ï ï í ì = ÷ ø ö ç è æ= ÷ ÷ ø ö ç ç è æ Y Y+ = 22 2 2 2' 0 0 32 0 32' YXd e - 1 e e b a d Z arctan onde N - cos d h X Y arctan cos e a - d sen e b Z arctan , j l j 4.3. SISTEMA DE COORDENAD AS PLANAS CARTESIANAS O Sistema de Coordenadas Planas Cartesianas (Fig. 4.7) baseia-se na escolha de dois eixos perpendiculares, cuja interseção (origem) é estabelecida como base para a localização de qualquer ponto do plano. Nesse sistema de coordenadas um ponto é UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 33 representado por dois números reais: um correspondente à projeção sobre o eixo X (horizontal) e outro à projeção sobre o eixo Y (vertical) (Fig. 4.7). Este sistema é utilizado para a representação da superfície terrestre num plano, para tal, deve estar associado a algum tipo de projeção cartográfica. Em outras palavras, não há sentido em se falar de coordenada plana sem mencionar o sistema de projeção que lhe deu origem (Timbó, 2001). Neste caso, a origem dos eixos coordenados é estabelecida em certos paralelos e meridianos terrestres, formando uma grade regular, cujas coordenadas são medidas em metros, e não em graus. A direção dos eixos X e Y são representadas pela direção Leste ou Este (E) e Norte (N), respectivamente (Fig. 4.8). Cabe ressaltar que a formulação matemática que associa as coordenadas planas com as coordenadas geodésicas será função do sistema de projeção empregado. Figura 4.7 - Sistema de Coordenadas Planas. Figura 4.8 - Grade regular. 4.4. SISTEMA DE COORDENAD AS PLANAS POLARES Apesar de não aparecer de forma explícita para o usuário de SIG, o sistema de coordenadas polares (Fig. 4.9) merece atenção por causa de suautilização no desenvolvimento das projeções cônicas (Fig. 4.10). Trata-se de um sistema simples, de relação direta com o sistema de coordenadas cartesianas, que substitui o uso de um par de coordenadas (x, y) por uma direção q e uma distância r para posicionar cada ponto no plano de coordenadas (D’Alge, 1999). Figura 4.9 - Coordenadas Planas Polares. Figura 4.10 - Mapa em Projeção Cônica. A relação entre as coordenadas planas e polares é apresentada na Tab. 4.2, onde r e q denotam, respectivamente, a distância do ponto à origem do sistema cartesiano e o ângulo formado com o eixo x. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 34 Tabela 4.2 - Transformação entre Coordenadas Cartesianas e Polares. Transformação Formulação Coordenadas Polares para Cartesianas (r, q) ® (x, y) î í ì qr= qr= seny cosx Coordenadas Cartesianas para Polares (x, y) ® (r, q) ï î ï í ì += ÷ ø ö ç è æ= 1/222 )y(x x y arctan r q 4.5. SISTEMA DE COORDENAD AS DE IMAGEM (MATRICIAL) A integração de Geoprocessamento com Sensoriamento Remoto depende do processo de inserção de imagens de satélite ou aéreas na base de dados do SIG. Para se realizar o georreferenciamento dessas imagens, necessita-se de uma relação entre o sistema de coordenadas de imagem e o sistema de referência da base de dados. O sistema de coordenadas de imagem tem origem no canto superior esquerdo da imagem e seus eixos são orientados nas direções das colunas e das linhas da imagem (Fig. 4.11). Os valores de colunas e linhas são sempre números inteiros que variam de acordo com a resolução espacial da imagem. A relação com um sistema de coordenadas planas é direta e faz-se através da multiplicação do número de linhas e colunas pela resolução espacial (D’Alge, 1999). Figura 4.11- Sistema de Coordenadas de Imagem. 4.6. TRANSFORMAÇÃO ENTRE SISTEMAS GEODÉSICOS Uma operação muito usual em Geoprocessamento, devido às diversas fontes de dados existentes, é a transformação de coordenadas segundo diferentes sistemas geodésicos. O processo básico de transformação é descrito a seguir. Considerando-se que os sistemas geodésicos são paralelos entre si, uma vez que a condição de paralelismo entre o eixo Z do elipsóide e o de rotação da Terra foi imposta, pode-se transformar as coordenadas de um ponto em um sistema “A” para um outro “B” por meio do vetor posição de um sistema em relação ao outro. Na Tab. 4.3, são descritos os procedimentos operacionais que devem ser seguidos para converter as coordenadas geodésicas do sistema A para o sistema B. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 35 Tabela 4.3 - Transformação entre Sistemas Geodésicos ( j , l, h )A ® ( j , l, h )B . Passo Procedimento Representação 1o Conversão das coordenadas geodésicas para geocêntricas, no sistema A (j, l, h)A ® (X, Y, Z)A 2o Conversão das coordenadas geocêntricas do sistema A para o sistema B, através de parâmetros de transformação (Dx, Dy, Dz) (X, Y, Z)A + (Dx,Dy,Dz)® (X, Y, Z)B 3o Conversão das coordenadas geocêntricas para geodésicas, no sistema B (X, Y, Z)B ® (j, l, h)B Na Tab. 4.4, são apresentados os parâmetros oficiais de transformação para o sistema SAD-69 a partir dos outros sistemas geodésicos em uso no Brasil (IBGE, 1989). Tabela 4.4 - Parâmetros oficiais de transformação para o Sistema Geodésico SAD-69. Parâmetros Córrego Alegre WGS84 Dx (m) 138,70 -66,87 Dy (m) -164,40 4,37 Dz (m) -34,40 -38,52 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 36 CAPÍTULO PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS 5.1. INTRODUÇÃO Todos os mapas e cartas são representações aproximadas da superfície terrestre. Isto ocorre porque não se pode passar de uma superfície curva para uma superfície plana sem que haja deformações. (D’Alge, 1999). A elaboração de um mapa requer um método que estabeleça uma correspondência biunívoca entre os pontos da superfície da Terra e seus homólogos no plano de projeção do mapa. Para tal, utilizam-se os sistemas de projeções cartográficas, que de modo genérico, são definidos pelas relações diretas (f1 e f2) e inversas (g1 e g2) que associam as coordenadas planas ou de projeção (x, y) às geodésicas (j, l), e vice- versa, respectivamente, conforme mostrado na Fig. 5.1. Figura 5.1 - Correspondência entre a superfície de referência e a de projeção. Qualquer sistema representará a superfície terrestre com deformações, que são tanto maiores quanto mais extensa for a região a representar. Tais deformações afetam os ângulos, as áreas e os comprimentos. Há sistemas que conseguem evitar algumas dessas deformações, mas não todas. Uma notável ilustração das deformações pode ser vista na figura 5.2, onde um mesmo rosto é desenhado sobre diversas projeções: globular, ortográfica, estereográfica e de Mercator. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 37 NOTA: O termo “DEFORMAÇÃO” não é bem utilizado, pois pode levar à idéia do desconhecimento de formas e estruturas aplicadas. Já o termo “DISTORÇÃO” estabelece que existe um conhecimento prévio do comportamento da deformação sofrida. Figura 5.2 - Exemplos de distorções sofridas em projeções. 5.2. CLASSIFICAÇÃO DAS PROJEÇÕES Como foi abordada anteriormente, a representação da Terra, considerada elipsoidal ou esférica, sobre uma superfície plana, acarreta distorções inevitáveis. Assim, diferentes técnicas de representação são aplicadas no sentido de se alcançar resultados que possuam certas propriedades favoráveis para um propósito específico. Com isso, há um número grande de diferentes projeções cartográficas, que podem ser classificadas conforme o Quadro 5.1 (Mello e D’Alge, 1996). Apesar de obedecerem a esta classificação, de uma maneira geral, as projeções são mais conhecidas através dos nomes de seus autores, como por exemplo, a projeção de Mercator, projeção de Gauss, projeção de Cassini, etc. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOPROCESSAMENTO 2005 FFuunnddaammeennttooss ddee CCaarrttooggrraaffiiaa ee GGPPSS 38 Quadro 5.1 - Classificação das Projeções Cartográficas. (Mello e D’Alge, 1996) 1) Quanto ao método de Construção • Geométricas • Analíticas • Convencionais • Perspectivas • Pseudo-perspectivas • Simples ou regulares • Modificadas ou irregulares 2) Quanto ao Tipo de Superfície Adotada • Planas ou Azimutais • Por Desenvolvimento • Cônicas • Cilíndricas • Poliédricas 3) Quanto a Posição da Superfície de Projeção • Planas ou Azimutais • Polares • Equatoriais ou meridianas • Oblíquas ou Horizontais • Por Desenvolvimento • Transversa • Normais • Horizontais ou Oblíquas • Cônicas ou Policônica • Cilíndricas • Equatoriais • Transversas ou Meridianas • Horizontais ou Oblíquas 4) Quanto as Propriedades Intrínsecas • Meridianas • Transversas • Azimutais ou Ortodrômicas • Equivalentes • Conforme • Afiláticas
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