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Material Sentenca Penal 27 04 2018

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TÍTULO 11
SENTENÇA PENAL
1. A TO S PR O C ESSU A IS D O jU IZ
E notório o maior rigor terminológico do Código de Processo C ivil ao tratar do conceito de 
sentença, decisões interlocutórias e despachos. Segundo a redação do art. 162, caput, do CPC, os 
atos do juiz consistem em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. Sentença, segundo o CPC, 
é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei (CPC, art. 
162, §1°). Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão 
incidente (CPC, art. 162, §2°), ao passo que despachos são todos os demais atos do juiz praticados 
no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma 
(CPC, art. 162, §3°).
No âmbito processual penal, a verdade é que não há consenso na doutrina acerca de uma clas-
sificação uniforme, o que acaba por prejudicar, a depender do caso concreto, a definição do recurso 
adequado para a impugnação de determinada decisão, já que a natureza jurídica do provimento é 
de fundamental importância para se fixar a via impugnativa adequada.
Sem embargo dessa falta de sistematização, pensamos ser possível, inicialmente, a classificação 
dos atos processuais do juiz no seguinte sentido:
a) atos reais ou materiais: não solucionam questões, nem tampouco determinam quaisquer 
providências, subdividindo-se em: a.l) atos instrutórios: consistem na realização de inspeções em 
pessoas ou coisas; a.2) atos de documentação: ato de rubricar folha dos autos, subscrever termos 
de audiência, etc;
b) provimentos judiciais: abrangem os despachos de mero expediente, as decisões interlocutórias 
e as sentenças.
2. C LA SSIFIC A Ç Ã O D O S PR O V IM EN T O S JU D IC IA IS
A despeito dessa falta de consenso na doutrina processual penal acerca de uma classificação 
dos provimentos judiciais, pensamos ser possível trabalhar-se com os conceitos e classificações a 
seguir apresentados.
2.1. Despachos de mero expediente
Despachos de mero expediente são aqueles destinados ao impulso do processo, desprovidos 
de qualquer carga decisória, cujo objetivo é impulsionar o curso do procedimento em direção ao 
ato culminante, que é a sentença. Exemplos: determinação de intimação das testemunhas para a 
audiência una de instrução e julgamento, ciência às partes acerca da juntada de laudo pericial, etc.
De acordo com o art. 93, XIV, da Constituição Federal, os servidores do Poder Judiciário 
receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter 
decisório.
Pelo menos em regra, tratando-se de decisões que não acarretam qualquer gravame às partes, 
pode-se dizer que os despachos de mero expediente são irrecorríveis. Todavia, se caracterizada a 
presença de error in procedendo, não se pode descartar a possibilidade de utilização da correição
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RENATO BRASILEIRO DE LIMA MANUAL DE PROCESSO PENAL
parcial, providência administrativo-judicial cabível contra despachos do juiz que possam importar 
em inversão tumultuária do processo sempre que não houver recurso específico previsto em lei.
2.2. Decisões interlocutórias simples e mistas (não terminativas e terminativas)
Decisão interlocutória é aquela dotada de carga decisória, podendo acarretar (ou não) a extinção 
do processo, porém sem enfrentamento do mérito principal, ou seja, sem se pronunciar quanto à 
culpabilidade ou inocência do acusado.
Decisão interlocutória simples é aquela que resolve questões processuais controvertidas no curso 
do processo, sem acarretar sua extinção. Resolvem incidentes processuais ou questões atinentes à 
regularidade formal do processo, sem extinguir o procedimento ou uma de suas etapas. Exemplos: 
decisão que decreta a prisão temporária; conversão da prisão em flagrante em preventiva; concessão 
de liberdade provisória, com ou sem fiança; decisão de rejeição das exceções de coisa julgada, litis- 
pendência e ilegitimidade de parte; recebimento da denúncia ou queixa; decisão que julga procedente 
a exceção de incompetência, etc.
Em regra, essas decisões interlocutórias simples são irrecorríveis, salvo se porventura listadas 
no rol do art. 581 do CPP, quando, então, será cabível a interposição do recurso em sentido estrito. 
Caracterizado error in procedendo, que importe em inversão tumultuária do processo, e desde que 
não haja recurso específico previsto em lei, é possível a interposição de correição parcial. De todo 
modo, quando irrecorríveis, as interlocutórias simples poderão ter seu conteúdo impugnado por 
ocasião de futura e eventual apelação, em matéria preliminar, valendo lembrar que, na hipótese 
de se tratar de nulidade relativa, deve ter havido oportuna arguição (CPP, art. 571), sob pena de 
preclusão. Nada impede, ademais, a utilização das ações autônomas de impugnação, como o habeas 
corpus e o mandado de segurança.
Decisões interlocutórias mistas são aquelas que extinguem o processo, sem julgamento de 
mérito, as que determinam o fim de uma etapa do procedimento, tangenciando o mérito do direito 
de punir (v.g., pronúncia), e as que resolvem procedimentos incidentais de maneira definitiva. Em 
síntese, são aquelas que, julgando ou não o mérito, põem fim ao procedimento ou a uma de suas 
fases. Tais decisões são denominadas de interlocutórias porquanto são proferidas no curso de um 
processo ou procedimento, antes de se completar totalmente e se extinguir o procedimento com 
a decisão definitiva de seu mérito em sentido estrito. Diferenciam-se das interlocutórias simples 
porquanto acarretam a extinção do processo ou a extinção de uma fase do procedimento criminal.
O instrumento adequado para a impugnação de decisões interlocutórias mistas é o recurso 
em sentido estrito, mas desde que tal decisão conste do rol do art. 581 do CPP. Caso contrário, 
a impugnação adequada será a apelação, com fundamento no art. 593, II, do CPP. As decisões 
interlocutórias mistas subdividem-se em:
a) interlocutória m ista terminativa (ou decisões com força de definitivas): são aquelas que 
extinguem o processo, sem julgamento do mérito, bem como aquelas que resolvem um procedimento 
incidental de maneira definitiva, sem possibilidade de reexame no mesmo grau. Exemplos: rejeição 
da peça acusatória; procedência das exceções de coisa julgada e de litispendência; impronúncia;1 
decisão que determina o cancelamento do sequestro, porque resolve o incidente em caráter definitivo, 
sem possibilidade de reexame no mesmo grau; decisão que indefere pedido de restituição de coisa 
apreendida, independentemente de futura condenação, porque a coisa é ilícita; decisões que julgam
1. Equivocadamente, o art. 416 do CPP refere-se à impronúncia como sentença. Porém, como não há efetiva análise do 
mérito principal para fins de condenação ou absolvição, tal decisão não pode ser considerada espécie de sentença.
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MANUAL DE PROCESSO PENAL SENTENÇA PENAL
procedentes exceções de litispendência, de coisa julgada, de ilegitimidade ad causam de parte, em 
que o processo principal é extinto, porém sem julgamento de mérito; impronúncia, etc.
b) interlocutória mista náo terminativa: põe fim a uma etapa do procedimento, tangenciando 
o mérito, porém sem causar a extinção do processo. É o que ocorre, a título de exemplo, com a 
pronúncia, que encerra um juízo de admissibilidade da imputação de crime doloso contra a vida, 
autorizando que o acusado seja submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri.
2.3. Decisões definitivas
São aquelas que julgam o mérito, acarretando a extinção do processo ou do procedimento. 
Quando se diz “julgar o mérito”, significa dizer julgar o direito de punir do Estado, leia-se, dizer 
se o Estado tem (ou não) o direito de punir o acusado. Quando se julga o mérito principal, a 
decisão estará analisando a procedência ou improcedência do pedido de condenação do acusado,para fins de prolação de sentença condenatória ou absolutória. No entanto, o mérito também pode 
ser julgado sem condenação, nem absolvição. De fato, quando o juiz julga extinta a punibilidade, 
está julgando o mérito, já que está reconhecendo que o direito de punir do Estado não existe ou 
deixou de existir, porém não ingressa na análise do “mérito principal” para declarar a inocência ou 
a culpabilidade do acusado.
Essas decisões definitivas subdividem-se em:
a) sentença definitiva ou decisão definitiva em sentido estrito: é a decisão em que o juiz aprecia 
o “mérito principal”, condenando ou absolvendo o acusado;
b) decisões definitivas em sentido amplo ou decisões terminativas de mérito: são aquelas em 
que o juiz decide o mérito e extingue o processo ou o procedimento, mas não condena, nem tam-
pouco absolve o acusado. Nesse ponto, convém lembrar que o processo penal não se resume ao de 
natureza condenatória. Portanto, não existe mérito apenas no sentido de se julgar procedente (ou 
não) o pedido de condenação do acusado. Com efeito, as ações autônomas de impugnação (habeas 
corpits, revisão criminal e mandado de segurança) também possuem seu próprio pedido, que não 
é a pretensão punitiva e, portanto, têm seu próprio mérito, que pode ser matéria exclusivamente 
processual. Assim, quando se extingue o processo referente a uma ação autônoma de impugnação, 
tem-se aí uma decisão definitiva em sentido amplo, já que o mérito desta ação foi resolvido e o 
respectivo processo penal náo condenatório foi extinto.
2.4. Sentença
Para o Código de Processo Penal, sentença é tão somente a decisão que julga o mérito prin-
cipal, ou seja, a decisão judicial que condena ou absolve o acusado. A contrario sensu, as decisões 
que extinguem o processo sem julgamento de mérito, segundo o CPP, são tratadas como decisões 
interlocutórias mistas.
Em sentido estrito, sentença é o pronunciamento final do juízo de Io grau, geralmente um 
juiz singular (monocrático), mas o CPP também se refere à sentença quanto às decisões finais de 
juízos colegiados de Io grau, tais como aquelas oriundas do Tribunal do Júri e dos Conselhos de 
Justiça, no âmbito da Justiça Militar. Em sentido amplo, a sentença também abrange os acórdãos, 
que são decisões dos Tribunais, desde que haja julgamento do mérito. Quando o acórdão transita 
em julgado, é denominado aresto.
A expressão “sentença definitiva” a que se refere, por exemplo, o art. 82 do CPP, não se confunde 
com “sentença transitada em julgado” (v.g., art. 282 do CPP). Sentença definitiva é aquela que põe 
fim ao processo com julgamento de mérito. Sentença transitada em julgado é aquela contra a qual
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RENATO BRASILEIRO DE LIMA MANUAL DE PROCESSO PENAL
não cabe mais recurso, seja em virtude da preclusão das impugnações cabíveis, seja em virtude do 
esgotamento da via recursal disponível.
Em síntese, como sugere Avena, a identificação de um provimento judicial pode ser feita através 
de alguns questionamentos:2
1) Cuida-se de ato de mera movimentação (impulso) processual, sem qualquer carga decisória? 
Em caso afirmativo, haverá despacho de mero expediente.
2) Trata-se de uma decisão condenatória ou absolutória proferida pelo juiz? Em caso positivo, 
haverá sentença.
3) Trata-se de uma decisão que, não sendo despacho nem sentença, põe termo ao procedimento, 
importando em seu arquivamento após o trânsito em julgado? Em caso positivo, haverá decisão 
interlocutória mista terminativa.
4) Trata-se de uma decisão que, não sendo despacho nem sentença, põe termo a uma fase do 
procedimento, dando início a outra, sem imporrar, contudo, em arquivamento após o trânsito em 
julgado? Em caso positivo, haverá decisão interlocutória mista não terminativa.
2.5. Sentenças definitivas, decisões definitivas e com força de definitivas
O art. 593, I e II, do CPP, faz menção a essas decisões, assim conceituadas pela doutrina:
a) sentenças definitivas (CPP, art. 593, I): são aquelas que põem fim ao processo após o 
esgotamento do procedimento na Ia instância com julgamento do mérito, para fins de absolver ou 
condenar o acusado;
b) decisões definitivas em sentido estrito (ou terminativas de mérito): são aquelas que 
põem fim à relação processual ou ao procedimento mediante julgamento do mérito, sem, todavia, 
condenarem ou absolverem o acusado, tais como as que resolvem incidente de restituição de coisa 
apreendida, que declaram extinta a punibilidade, que autorizam levantamento de sequestro de bens;
c) decisões com força de definitivas (ou interlocutórias mistas): são aquelas que põem fim 
a uma fase do procedimento (não terminativas) ou ao processo (terminativas), sem o julgamento do 
mérito (v.g., rejeição da peça acusatória em face da inépcia da denúncia ou queixa).3
2.6. Decisões executáveis, não executáveis e condicionais
Essa classificação leva em consideração a aptidão da decisão judicial para produzir efeitos 
imediatos:
a) decisões executáveis: são aquelas que podem ser executadas imediatamente. E o que se dá 
com a sentença absolutória, a qual acarreta a imediata solrura do acusado;
b) decisões não executáveis: são aquelas que não admitem a execução imediata. Talvez o 
melhor exemplo de decisão não executável no processo penal seja uma sentença condenatória, cuja 
execução está condicionada ao seu trânsito em julgado, em fiel observância ao princípio da presunção 
de inocência (CF, art. 5o, LVII);
c) decisões condicionais: são aquelas que carecem de um acontecimento futuro e incerto, 
tal como se dá com a decisão que julga extinta a punibilidade do agenre em virtude do decurso 
do período de prova da suspensão condicional do processo e da verificação do cumprimento das 
condições acordadas (Lei n° 9.099/95, art. 89, §5°).
2. AVENA, Norberto. Processo penal esquematizado. 2s ed. São Paulo: Método, 2010. p. 983.
3. No sentido do texto: STF, Pleno, AP 488/SE, Rei. Min. Ellen Gracie, j. 11/09/2008, DJe 202 23/10/2008.
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2.7. Decisões subjetivamente simples, subjetivamente plúrim as e subjetivamente 
complexas
Essa classificação leva em conta o órgão jurisdicional prolator da decisão:
a) decisões subjetivamente simples: são aquelas proferidas por apenas uma pessoa (juízo 
monocrático ou singular). Exemplo: sentença absolutória proferida por juiz singular em processo 
referente a crime patrimonial;
b) decisões subjetivamente plúrimas: são aquelas proferidas por órgão colegiado homogêneo, 
como câmaras, turmas ou seções dos Tribunais (v.g., acórdão proferido por Turma do T R F/la Região 
que, em recurso da defesa, conclui pela absolvição do acusado);
c) decisões subjetivamente complexas: são aquelas proferidas por órgão colegiado heterogêneo, 
a exemplo do Tribunal do Júri, em que o Conselho de Sentença decide sobre o crime e autoria, ao 
passo que ao juiz presidente incumbe a fixação da pena.
2.8. Decisões suicidas, vazias e autofágicas
Decisão suicida é aquela cujo dispositivo (ou conclusão) contraria sua fundamentação, sendo, 
portanto, considerada nula, a não ser que o vício seja sanado pelo órgão jurisdicional em virtude da 
interposição de embargos declaratórios.
Decisões vazias são aquelas passíveis de anulação por falta de fundamentação. Diante da 
ausência de motivação do ato jurisdicional, é possível o reconhecimento de sua nulidade absoluta, 
haja vista o disposto no art. 93, IX, da Constituição Federal.
Decisões autofágicas são aquelas em que há o reconhecimento da imputação, mas o juiz acaba 
por declarar extinta a punibilidade, a exemplo do que ocorre com o perdão judicial.
2.9. Decisões condenatórias, deciaratórias, constitutivas (positivas e negativas), 
mandamentais e executivas
É comum acreditar-se que o processo penal se resume àquele de natureza condenatória, em que 
há uma pretensão deduzida em juízo pelo Ministério Público (ou pelo querelante), objetivando-se 
o reconhecimentoda responsabilidade penal do acusado pela prática do delito a ele imputado, com 
a consequente aplicação de uma pena privativa de liberdade, restritiva de direitos ou de multa.
Daí, todavia, não se pode concluir que a ação penal condenatória seja a única existente em sede 
processual penal. De fato, se lembrarmos que há ações de natureza não condenatória no âmbito 
processual penal, é fácil concluir que existe a possibilidade de decisões de outra natureza, além da 
condenatória.
Decisões deciaratórias são aquelas que se limitam a declarar uma situação jurídica preexistente 
(v.g., decisão judicial que extingue a punibilidade em face da morte do acusado).
A decisão constitutiva é aquela que tem como eficácia preponderante a modificação de situa-
ção jurídica, podendo ser de natureza positiva, quando faz surgir uma nova situação jurídica (v.g., 
decisão concessiva de reabilitação criminal, que conduz o acusado a um novo status, o de reabilita-
do),4 ou negativa, que importa em desconstituir um ato jurídico anterior, até então válido e eficaz
MANUAL DE PROCESSO PENAL SENTENÇA PENAL
4. Há quem entenda que a reabilitação tem natureza declaratória, pois nela haverá a declaração judicial de reinserção 
do sentenciado ao gozo de determinados direitos que foram atingidos pela condenação: TÁVORA, Nestor; ALENCAR, 
Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 43 ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2010. p. 653.
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RENATO BRASILEIRO DE UMA MANUAL DE PROCESSO PENAL
(v.g., a revisão criminal visa à desconstituição de sentença condenatória ou absolutória imprópria 
transitada em julgado).
A decisão mandamental pode ser encontrada no âmbito do habeas corpus, quando o juiz ou 
o Tribunal determinam a emissão de alvará de soltura ou a expedição de um salvo-conduto, retra-
tando um provimento judicial que consubstancia uma ordem a ser executada em prol da proteção 
da liberdade de locomoção do agente.
Também existe a possibilidade de sentença executiva no processo penal, ainda que em sede 
de processos instaurados de ofício ou a requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou 
mediante representação da autoridade policial (CPP, art. 127). E o que ocorre, a título de exemplo, 
com a medida assecuratória de sequestro, cabível quando houver indícios veementes de que os bens 
foram adquiridos com os proventos da infração penal (CPP, art. 125). A eficácia executiva fica evi-
denciada a partir da autorização de venda dos bens inscritos no registro de imóveis após a sentença 
condenatória transitada em julgado (CPP, art. 133).
3. E ST R U T U R A E R E Q U ISIT O S DA SE N T E N Ç A
Como observa a doutrina, a sentença encerra um silogismo, que é um raciocínio formado de 
três proposições, em que a premissa maior é o texto legal, a premissa menor, ou premissa fática, é 
o fato sub judice e, finalmente, a conclusão, que nada mais representa senão a subsunção do fato 
examinado à lei.5
Com efeito, a partir da prova constante dos autos, e, subsidiariamente, dos elementos informa-
tivos colhidos na fase investigatória, ao proferir a sentença, procura o juiz reconstruir, num trabalho 
intelectual, a situação fática imputada ao acusado e, com base no direito aplicável, concluir pela 
condenação ou absolvição, julgando procedente ou improcedente a pretensão punitiva deduzida 
por meio da peça acusatória.
O art. 381 do CPP estabelece que a sentença conterá: I - os nomes das partes ou, quando não 
for possível, as indicações necessárias para identificá-las; II - a exposição sucinta da acusação e da 
defesa; III — a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV — a indicação 
dos artigos de lei aplicados; V — o dispositivo; VI — a data e a assinatura do juiz.
Segundo a doutrina, esses requisitos subdividem-se em intrínsecos — relatório, fundamentação 
e dispositivo — e extrínsecos, os quais estão relacionados à autenticação da decisão.
3.1. Relatório
O relatório é um resumo da demanda. Nele, deve o juiz indicar os nomes das partes ou, quando 
não for possível, as indicações necessárias para sua identificação, fazer uma exposição sucinta da 
acusação formulada e das teses apresentadas pela defesa, apontando, ademais, os principais atos 
praticados no curso da persecução penal.
Costuma-se dizer que o objetivo do relatório é demonstrar que o juiz teve pleno contato com 
a demanda que está prestes a julgar, já que sua elaboração obriga o juiz a tomar conhecimento 
integral do processo, das provas produzidas, das alegações das partes, dos incidentes verificados, etc.
A exigência de identificação das partes, inserida no art. 381, I, do CPP, é de fundamental 
importância para que possam ser fixados os limites subjetivos da coisa julgada, impedindo, por 
exemplo, que acusado absolvido por sentença transitada em julgado possa ser novamente processado
5. TOURINHO FILHO, Fenando da Costa. Processo Penal. Vol. 4. 31a ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 309.
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MANUAL DE PROCESSO PENAL SENTENÇA PENAL
em relação à mesma imputação. Na hipótese de processo penal instaurado por meio de denúncia, 
não há necessidade de se fazer menção ao nome do Promotor de Justiça, já que este atua em nome 
da instituição e não em nome próprio, sendo a impessoalidade uma das características do Parquet. 
No entanto, em se tratando de processo instaurado por meio de queixa-crime, deve haver menção 
ao nome do querelante.
Em relação à identificação do acusado, cuida-se de formalidade essencial da sentença. O art. 381, 
I, do CPP, permite que, não sendo possível indicar seu nome, conste da sentença apenas indicações 
necessárias para sua identificação. O dispositivo guarda certa semelhança com o art. 41 do CPP, 
que permite que a peça acusatória seja apresentada com a qualificação do acusado ou esclarecimentos 
pelos quais se possa identificá-lo. Portanto, o fato de ser desconhecida a identificação completa do 
acusado não é óbice à prolação da sentença, desde que se faça menção a seus traços característicos, 
permitindo distingui-lo de outras pessoas.
Outrossim, eventual erro material quanto ao nome do acusado não é substancial, desde que 
sua identidade física seja certa, não sendo incomum que acusados sejam processados com nomes 
falsos sem que isso acarrete a nulidade da sentença. Nessa linha, o art. 259 do CPP dispõe que “a 
impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não 
retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do 
julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, 
por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes”.
A sentença também deve fazer menção ao nome da vítima, mesmo na hipótese de processo penal 
referente a crime de ação penal pública. Isso porque, considerando os efeitos inerentes à sentença 
condenatória — por exemplo, fixação de valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, 
que poderá ser executada pelo ofendido no âmbito cível - , é de fundamental importância que seu 
nome conste da sentença, inclusive para que não haja questionamentos quanto a sua legitimidade 
para ulterior execução. Todavia, “não há nulidade por ausência de menção do nome da vítima na 
sentença condenatória, se esta faz alusão constante à denúncia, onde consta a qualificação completa”.6
Prevalece o entendimento de que a ausência de relatório é causa de nulidade absoluta da sentença, 
nos termos do art. 564, IV, do CPP. A nosso ver, a ausência do relatório, isoladamente considerada, 
não autoriza a anulação da sentença, sobretudo se restar comprovado que o juiz realmente tinha 
pleno conhecimento da demanda. Cuida-se, portanto, de nulidade relativa. Prova disso, aliás, é a 
dispensa do relatório da sentença no âmbito dos Juizados Especiais(Lei n° 9.099/95, art. 81, §3°), 
o que acaba por confirmar que a decisão pode ser considerada válida mesmo sem esse elemento.7
3.2. Fundamentação
De acordo com o art. 93, inciso IX, da Carta Magna, todos os julgamentos dos órgãos do 
Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. A garantia 
constitucional inserida no artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, segundo a qual todas as 
decisões judiciais devem ser fundamentadas, é exigência inerente ao Estado Democrático de Direito 
e, por outro, é instrumento para viabilizar o controle das decisões judiciais e assegurar o exercício
6. STJ, 5? Turma, HC 89.324/PE, Rei. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 07/02/2008, DJe 03/03/2008.
7. Nesse contexto, como já se pronunciou o STJ, ainda que não tenha havido a exposição das teses defensivas no bojo 
do relatório, não há falar em nulidade da sentença penal condenatória se todas elas foram devidamente aprecia-
das pelo juízo de 1Q grau na fundamentação de sua decisão: STJ, 53 Turma, HC 69.967/RJ, Rei. Min. Felix Fischer, j. 
13/03/2007, DJ 14/05/2007 p. 348.
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RENATO BRASILEIRO DE LIMA MANUAL DE PROCESSO PENAL
do direito de defesa. A decisão judicial não é um ato autoritário, um ato que nasce do arbítrio do 
julgador, daí a necessidade de adequada fundamentação.
Antigamente, entendia-se que a fundamentação das decisões judiciais era apenas uma garan-
tia técnica do processo, com objetivos endoprocessuais: através dela, proporcionava-se às partes o 
conhecimento necessário para que pudessem impugnar a decisão, permitindo, ademais, que os órgãos 
jurisdicionais de segundo grau examinassem a legalidade e a justiça da decisão. Destacava-se, assim, 
apenas a função endoprocessual da motivação.
Com o passar do tempo, a garantia da motivação das decisões passou a ser considerada também 
garantia da própria jurisdição. Afinal de contas, os destinatários da fundamentação não são mais 
apenas as partes e o juízo ad quem, como também toda a coletividade que, com a motivação, tem 
condições de aferir se o magistrado decidiu com imparcialidade a demanda. Muito além de uma 
garantia individual das partes, a motivação das decisões judiciais funciona como exigência inerente 
ao próprio exercício da função jurisdicional. Não por outro motivo, a garantia da motivação vem 
prevista na Constituição Federal no capítulo pertinente ao Poder Judiciário, e não no capítulo dos 
direitos e garantias individuais, em que se encontra grande parte das garantias processuais. Des-
tarte, sob o enfoque da sociedade, pode-se dizer que a motivação também apresenta uma relevância 
extraprocessual.8
Funciona, assim, a motivação dos atos jurisdicionais, verdadeira garantia processual de segundo 
grau, como importante forma de controle das partes sobre a atividade intelectual do juiz, a fim de 
que verifiquem se este levou em consideração todos os argumentos e provas produzidas pelas partes, 
e se teria aplicado de maneira correta o direito objetivo ao caso concreto.9
Sendo a sentença um ato decisório de fundamental importância no processo penal, porquanto 
haverá a análise da pretensão punitiva do Estado para fins de absolver ou condenar o acusado, é 
evidente que a fundamentação não pode ser dispensada. Incumbe ao juiz, nesse momento, enfrentar 
todas as questões de fato e de direito que sejam relevantes para a solução do caso concreto, de modo 
a certificar a realização da hipótese de incidência da norma e os efeitos dela resultantes, justificando, 
assim, a conclusão a que chegará no dispositivo.
Daí dispor o CPP que a sentença conterá a indicação dos motivos de fato e de direito em que 
se fundar a decisão e a indicação dos artigos de lei aplicados (art. 381, III e IV). Essa indicação dos 
artigos de lei aplicados, todavia, pode ser suprida se houver referência implícita a eles. Exemplifi-
cando, por mais que o juiz sequer tenha feito menção ao art. 16 do CP, que trata do arrependimento 
posterior, não haverá nulidade da decisão se dela constar que foi negada a diminuição da pena pelo 
fato de não ter sido comprovada a reparação integral do dano até o recebimento da denúncia.
Se a fundamentação funciona como regra geral para a prolação de uma sentença, não se pode 
negar que, no âmbito do Tribunal do Júri, as decisões dos jurados não precisam ser motivadas. Isso 
porque, de acordo com o art. 5o, inciso XXXVIII, da Magna Carta, tem-se como uma das garan-
tias do júri o sigilo das votações. Ou seja, fosse o jurado obrigado a fundamentar sua decisão, seria
8. Nesse sentido: FERNANDES, Antônio Scarance. P ro c e sso p e n a l c o n st itu c io n a l. 3a ed. São Paulo: Editora Revista dos 
Tribunais, 2002. p. 129.
9. Consoante lição de Ferrajoli, a motivação "exprime e ao mesmo tempo garante a natureza cognitiva em vez da 
natureza potestativa do juízo, vinculando-o, em direito, à estrita legalidade, e, de fato, à prova das hipóteses acusa-
tórias". Ainda segundo o referido autor, "a motivação permite a fundação e o controle das decisões seja de direito, 
por violação de lei ou defeito de interpretação ou subsunção, seja de fato, por defeito ou insuficiência de provas 
ou por explicação inadequada do nexo entre convencimento e provas" (D ire ito e ra zã o : te oria do g a ra n tism o p en a l. 
25 ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 573/574).
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MANUAL DE PROCESSO PENAL SENTENÇA PENAL
possível identificar-se o sentido de seu voto. Daí a desnecessidade de fundamentação do voto do 
jurado, limitando-se o mesmo a um singelo “sim” ou “não” para cada quesito que lhe for formulado, 
nos exatos termos do art. 486, caput, do CPP.
Perceba-se que essa desnecessidade de motivação aplica-se apenas às questões apreciadas pelos 
jurados — materialidade, autoria, eventual absolvição do acusado, causas de diminuição de pena, 
qualificadoras e causas de aumento de pena —, já que apenas o juiz leigo está protegido pela garantia 
constitucional do sigilo das votações. Todavia, quanto à pena a ser aplicada pelo juiz presidente, há 
necessidade de fundamentação do decreto condenatório, já que vigora, em relação ao juiz togado, 
o sistema do livre convencimento motivado.
Quanto à valoração da prova pelo magistrado por ocasião da sentença condenatória, o orde-
namento pátrio adota, pelo menos em regra, o sistema do livre convencimento motivado (ou da 
persuasão racional do juiz), em virtude do qual o magistrado tem ampla liberdade na valoração 
das provas constantes dos autos, as quais têm, legal e abstratamente, o mesmo valor. Como aponta 
Gomes Filho, “a liberdade na apreciação das provas não se confunde com uma autorização para 
que o juiz adote decisões arbitrárias, mas apenas lhe confere a possibilidade de estabelecer a verdade 
judicial com base em dados e critérios objetivos e de uma forma que seja controlável”.10
Este sistema confere ao juiz discricionariedade na hora da valoração das provas, isoladamente 
e no seu conjunto, mas desde que tais provas estejam no processo (id quod non est in actis non est in 
mundus — o que não está nos autos não existe), sendo admitidas pela lei e submetidas a um prévio 
juízo de credibilidade, não podendo ser ilícitas ou ilegítimas. A discricionariedade de avaliação do 
quadro probatório soma-se a obrigatoriedade de motivação da conclusão do magistrado. A obrigação 
de fundamentar permite às partes não somente aferir que a convicção foi realmente extraída do 
material probatório constante dos autos, como também analisar os motivos legais que levaram o 
magistrado a firmar sua conclusão.11
A propósito, o art. 155 do CPP estabelece que o juiz formará sua convicção pela livre apreciação 
da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundam entar sua decisão exclusivamente 
nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,não repetíveis 
e antecipadas. Da adoção do sistema da livre persuasão racional do juiz, derivam importantes efeitos: 
a) não há prova com valor absoluto; b) deve o magistrado valorar todas as provas produzidas no 
processo, mesmo que para refutá-las; c) somente serão consideradas válidas as provas constantes do 
processo: não se pode emprestar validade aos conhecimentos privados do magistrado.
Quanto à possibilidade de utilização de elementos informativos produzidos na fase investigatória 
- portanto, sem a obrigatória observância do contraditório e da ampla defesa - para fundamentar a 
prolação de uma sentença, prevalece o entendimento de que sua utilização pode se dar de maneira 
subsidiária, complementando a prova produzida em juízo sob o crivo do contraditório. Como já 
se pronunciou a 2a Turma do STF, os elementos do inquérito podem influir na formação do livre 
convencimento do juiz para a decisão da causa quando complementam outros indícios e provas que 
passam pelo crivo do contraditório em juízo.12
10. GOMES FILHO, Antônio Magalhães. As re fo rm a s n o p ro c e s so p e n a l: a s n o va s le is d e 2 0 0 8 e os p ro je to s d e re fo rm a . 
Coordenação Maria Thereza Rocha de Assis Moura. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 249.
11. Nesse sentido: GRECO FILHO, Vicente. M a n u a l d e p ro c e s so p e n a l. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 203.
12. STF, 25 Turma, RE-AgR 425.734/MG, Rei. Min. Ellen Gracie, DJ 28/10/2005 p. 57. Em sentido semelhante: STF, 25 
Turma, HC 89.877/ES, Rei. Min. Eros Grau, j. 07/11/2006, DJ 15/12/2006; STF, V Turma, RE 287.658/MG, Rei. Min. 
Sepúlveda Pertence, DJ 03/10/2003 p. 22.
1 4 3 1
RENATO BRASILEIRO DE LIMA MANUAL DE PROCESSO PENAL
A ausência da fundamentação é vício de extrema gravidade, mas daí não se pode falar em 
inexistência jurídica do ato. Na verdade, a ausência de fundamentação acarreta a nulidade absoluta 
da sentença, nos exatos termos do art. 93, IX, da Constituição Federal.
Não por outro motivo, em caso concreto em que, por ocasião do julgamento de apelação, deter-
minado Tribunal de Justiça limitou-se a transcrever a sentença de primeiro grau, sem o acréscimo de 
fundamentação própria, concluiu o STJ que o dever de motivar as decisões implica necessariamente 
cognição efetuada diretamente pelo órgão julgador, restando certo que a mera repetição da decisão 
impugnada, além de violar o art. 93, IX, da Carta Magna, também é causa de evidente prejuízo 
ao duplo grau de jurisdição, na exata medida em que não conduz à substancial revisão judicial da 
primitiva decisão, mas à cômoda reiteração de seus termos.13
No mesmo contexto, em recurso extraordinário interposto pelo Ministério Público Militar 
contra decisão do Superior Tribunal Militar, que deixou de lavrar acórdão proferido em agravo regi-
mental, sob o argumento de que constava dos autos a certidão de julgamento, o STF considerou que, 
não obstante o agravo regimental ter sido julgado em sessão pública, a falta do respectivo acórdão 
tornaria impossível o conhecimento das razões e dos fundamentos da decisão judicial, violando o 
preceito constitucional do art. 93, IX. Daí por que a Suprema Corte deu provimento ao RE para 
fins de determinar o retorno dos autos ao STM a fim de providenciar a lavratura do acórdão havido 
no julgamento do agravo regimental.14
Quanto à necessidade de enfrentamento de todas as teses apresentadas pela defesa por ocasião 
da prolação da sentença, os Tribunais Superiores têm entendido que não há falar em nulidade da 
sentença se ficar evidenciado que todas elas foram apreciadas pelo magistrado, ainda que de maneira 
sucinta, direta ou indiretamente. Embora seja necessário que o Magistrado aprecie todas as teses 
ventiladas pela defesa, torna-se desnecessária a menção expressa a cada uma das alegações se, pela 
própria decisão condenatória, restar claro que o Julgador adotou posicionamento contrário. Assim, 
não se tem como omissa uma sentença que, conquanto não se refira, expressamente, a um suposto 
álibi apresentado pelo acusado, fundamente sua condenação com base em elementos probatórios 
válidos que confirmem a prática delituosa e a respectiva autoria.15
O instrumento a ser utilizado para a impugnação de sentença desprovida de fundamentação 
é a apelação com a alegação de error inprocedendo intrínseco, o que, evidentemente, não impede a 
utilização do habeas corpus, se acaso houver risco à liberdade de locomoção. Na hipótese de sentença 
citra petita, ou seja, uma decisão que não analisa todos os fatos delituosos imputados ao acusado, 
apesar de sua evidente nulidade, é plenamente possível a oposição de embargos de declaração, que 
terão efeitos infringentes, já que a apreciação de ponto omisso da decisão pode provocar a modifi-
cação do sentido da decisão.
13. STJ, 6a Turma, HC 91.894/RS, Rei. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 03/11/2009, DJe 23/11/2009.
14. STF, lã Turma, RE 540.995/RJ, Rei. Min. Menezes Direito, j. 19/02/2008, DJe 78 30/04/2008.
15. No sentido de que, apesar de ser necessário que o juiz aprecie as teses ventiladas pela defesa, torna-se despiciendo 
a menção expressa a cada uma das alegações se, pela própria decisão condenatória, resta claro que o Julgador 
adotou posicionamento contrário: STJ, 5a Turma, HC 61.715/RJ, Rei. Min. Laurita Vaz, j. 29/08/2007, DJ 08/10/2007 
p. 325. Na mesma linha: STJ, 5a Turma, HC 166.533/SP, Rei. Min. Jorge Mussi, j. 14/06/2011, DJe 30/06/2011; STJ, 
5a Turma, HC 87.095/MG, Rei. Min. Laurita Vaz, j. 08/05/2008, DJe 02/06/2008. Em outro julgado, o STJ afirmou 
que, para cumprir a determinação constitucional de fundamentação das decisões judiciais, é desnecessário que o 
Magistrado transcreva ou responda a toda sorte de alegações suscitadas no transcorrer do processo penal, bas-
tando que examine as circunstâncias fáticas e jurídicas relevantes, podendo, na fundamentação, apresentar tese 
contrastante com aquela defendida pelas partes, valer-se da doutrina e da jurisprudência, além, por óbvio, das 
provas produzidas, desde que fique claro, pela sua exposição, as razões que embasaram o seu convencimento: STJ, 
5a Turma, HC 89.324/PE, Rei. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 07/02/2008, DJe 03/03/2008.
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Reconhecida a ausência de fundamentação pelo Tribunal no julgamento de eventual apela-
ção (ou babeas corpus), a sentença deve ser anulada, com a remessa dos autos ao primeiro grau de 
jurisdição para a prolação de uma nova decisão. Há quem entenda que, nesse caso, seria aplicável 
subsidiariamente o disposto no art. 515, §3°, do CPC, que autoriza que o tribunal de segundo 
grau anule a sentença e passe, de imediato, à prolação de uma nova decisão de mérito da demanda. 
Porém, essa posição é minoritária, já que o enfrentamento do mérito pelo Tribunal poderia acarretar 
verdadeira supressão de instância.
Outrossim, declarada nula a sentença condenatória, por ausência de fundamentação, des- 
constitui-se a causa interruptiva da prescrição correspondente (CP, art. 117, IV, primeira parte), 
contando-se o prazo a partir da causa interruptiva anterior, qual seja, o recebimento da denúncia 
(CP, art. 117, I), pelo menos enquanto não houver a publicação de nova sentença condenatória.16
3.2.1. Fundamentação per relationem
Há controvérsias em torno da possibilidade da adoção da denominada fundamentação per 
relationem. Fundamentação per relationem é aquela em que a autoridade judiciária adota como 
fundamento de sua decisão as alegações contidas na manifestação das partes.
A nosso juízo, em se tratando de sentença condenatória e/ou absolutória, é inadmissível a funda-
mentação per relationem, porquanto viola, à evidência, o disposto no art. 93, IX, da Constituição 
Federal. Afinal, nesse tipo de fundamentação, não há explicitação, por parte do Magistrado, das 
suas razões de decidir, cuja ausência não pode ser supridapelo simples reenvio à justificação con-
tida na manifestação de uma das partes, o que afetaria até mesmo a própria imparcialidade da 
decisão, porquanto não é certo que as razões de uma decisão condenatória (ou absolutória) sejam 
dadas por uma das partes. Na dicção de Antônio Magalhães Gomes filho, “incumbe ao juiz efe-
tivamente decidir sobre esse ponto, até porque sua função é indelegável, não cabendo remissão ao 
que entenderam a autoridade policial ou o órgão da acusação, sendo imprescindível, portanto, a 
fundamentação expressa.”17
Com entendimento semelhante, o STJ já teve a oportunidade de concluir que, no julgamento 
de apelação pela instância superior, a simples remissão do desembargador relator aos fundamentos 
da sentença impugnada e ao parecer ministerial, sem sequer transcrever os trechos indicativos da 
motivação acolhida, não permite que as partes possam aferir as razões que teriam sido incorpora-
das à decisão do juízo ad quem. Logo, deve ser reconhecida a nulidade do acórdão por ausência de 
motivação. Segundo a Corte, se é verdade que tem sido admitido que, no bojo da fundamentação, 
o órgão jurisdicional se reporte a outras peças constantes do processo - fundamentação ad relatio- 
nem —, também é verdade que o julgado deve expor, de forma clara, as razões que o motivaram e 
ensejaram a adoção de determinada decisão, garantindo-se às partes e à sociedade a possibilidade 
de acessá-las e compreendê-las.18
MANUAL DE PROCESSO PENAL SENTENÇA PENAL
16. STJ, 63 Turma, REsp 931.151/RJ, Rei. Min. Hamilton Carvalhido, j. 11/03/2008, DJe 29/09/2008.
17. GOMES FILHO, Antônio Magalhães. A m o tiv a ç ã o d a s d e c isõ e s p e n a is . São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001.
p. 221.
18. STJ, 53 Turma, HC 176.238/SP, Rei. Min. Jorge Mussi, j. 24/05/2011. Todavia, em recente julgado, a Corte Especial do 
STJ entendeu que, apesar de não ser a melhor forma de se decidir uma controvérsia, a reprodução dos fundamen-
tos declinados pelas partes ou pelo órgão do MP ou mesmo de outras decisões proferidas nos autos da demanda 
atende ao comando normativo e constitucional que impõe a necessidade de motivação das decisões judiciais, já 
que o que não se admite é a ausência de fundamentação: STJ, Corte Especial, EREsp 1.021.851/SP, Rei. Min. Laurita 
Vaz, j. 28/06/2012.
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RENATO BRASILEIRO DE LIMA MANUAL DE PROCESSO PENAL
Perceba-se que fomos enfáticos ao dizer que não se admite a fundamentação per relationem 
quanto à sentença condenatória e/ou absolutória. Porém, no tocante às decisões interlocutórias, 
sobretudo aquelas referentes às medidas cautelares de natureza urgente (v.g., prisão temporária, pre-
ventiva, etc.), parece-nos ser plenamente possível que o juiz adote como fundamento de sua decisão 
as alegações da autoridade policial, do Ministério Público ou do querelante, desde que nelas haja 
argumentos suficientes a autorizar a imposição da referida medida, sendo desnecessária, inclusive, 
a sua reprodução nos mesmos autos.19
3.3. Dispositivo
Trata-se da conclusão decisória da sentença, representando o comando da decisão no sentido 
de condenar ou absolver o acusado. É a parte da sentença responsável pela geração dos efeitos da 
decisão, transformando o mundo dos fatos. O dispositivo é a conclusão do juiz que decorre da fun-
damentação. No dispositivo, deve o juiz indicar os artigos de lei aplicados (CPP, art. 381, IV e V).
Em se tratando de sentença absolutória, deve o juiz declinar um dos fundamentos a que faz 
menção o art. 386 do CPP. Isso porque, a depender do fundamento adotado pelo magistrado, a 
sentença absolutória pode (ou não) fazer coisa julgada no âmbito cível. Evidentemente, a ausência 
de menção expressa a um dos incisos do art. 386 pode ser suprida se for possível deduzir, a partir 
do conteúdo da motivação da sentença, qual teria sido o fundamento que deu ensejo à absolvição 
do acusado.
Na hipótese de sentença condenatória, deve o juiz indicar o dispositivo legal no qual se dá 
o juízo de tipicidade da conduta delituosa imputada ao acusado. A não indicação da capitulação 
legal autoriza o reconhecimento da nulidade da sentença, que pode ser sanada, todavia, se houver 
referência ao nomen iuris do delito.
A ausência de dispositivo é vício gravíssimo, até mesmo pela conclusão lógica de que uma 
decisão sem dispositivo não é propriamente uma decisão, já que nada decide. Por isso, é tratada 
pela doutrina como hipótese de inexistência jurídica do provimento judicial, que deve ser tratado 
como um não ato.
3.4. Autenticação
Para além dos requisitos intrínsecos da sentença, há também os requisitos extrínsecos: a) data 
e assinatura (CPP, art. 381, VI); b) rubrica do juiz em todas as páginas, se a sentença for digitada 
(CPP, art. 388).
Caso a sentença seja proferida oralmente em audiência, hipótese em que geralmente é registrada 
por meio da estenotipia ou gravada, o provimento jurisdicional somente terá valor como decisão 
judicial quando houver sua conferência, revisão e assinatura.
Prevalece o entendimento no sentido de que a não aposição da assinatura do juiz torna a decisão 
inexistente, já que é ela que confere autenticidade à sentença. Há, todavia, quem entenda que, desde * 53
19. Admitindo fundamentação p e r r e la t io n e m em decisão que decreta a prisão preventiva, desde que a cota ministerial 
esteja devidamente fundamentada: STJ, 53 Turma, HC 29.29B/SC, Rei. Min. Jorge Scartezzini, DJ 10/05/2004 p. 312. 
No mesmo sentido: STJ, 6- Turma, HC 31.015/SP, Rei. Min. Paulo Gallotti, j. 19/05/2005, DJ 20/03/2006, p. 355; STJ,
53 Turma, HC 84.262/SP, Relatora Ministra Jane Silva, DJ 22/10/2007 p. 336; STJ, 63 Turma, HC 25.352/SC, Rei. Min. 
Hamilton Carvalhido, j. 20/05/2003, DJ 30/06/2003, p. 318. No julgamento do HC 102.864/SP, entendeu a 13 Turma 
do Supremo que, muito embora o sucinto decreto de prisão preventiva tivesse adotado como fundamentação o 
requerimento do Ministério Público, sem, entretanto, transcrevê-lo, a constrição cautelar teria sido baseada em 
fatos concretos, portanto, em conformidade com o disposto no art. 312 do CPP: STF, 13 Turma, HC 102.864/SP, Rei. 
Min. Ricardo Lewandowski, j. 03/08/2010, DJe 173 16/09/2010.
1 4 3 4
que ainda seja possível que o juiz prolator da decisão aponha validamente sua assinatura na sentença, 
trata-se de mera irregularidade. Especificamente em relação à rubrica do juiz em todas as páginas 
da sentença (CPP, art. 388), há precedentes do STJ no sentido da irrelevância dessa formalidade.20
4. SE N T E N Ç A A B SO LU T Ó R IA
4.1. Espécies de sentença absolutória
A sentença absolutória subdivide-se em:
a) sentença absolutória própria: é aquela que julga improcedente o pedido condenatório 
formulado pela acusação, importando em reconhecimento pleno da inocência do acusado, da qual 
não decorre a imposição de medida de segurança.
b) sentença absolutória imprópria: é aquela que, reconhecendo a prática de conduta típica e 
ilícita pelo inimputável do art. 26, caput, do CP - leia-se, por agente que era, ao tempo da ação ou 
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo 
com esse entendimento em virtude de doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado 
—, a ele impõe o cumprimento de medida de segurança, nos termos do art. 386, parágrafo único, 
III, do CPP.
c) absolvição sumária: prevista no art. 397 (procedimento comum) e no art. 415 (primeira 
fase do procedimento do júri) do CPP, esta decisão também funciona como espécie de sentença 
absolutória, já que o fato de se tratar de um julgamento antecipado da demanda não lhe retira a 
natureza jurídica de sentença, sobretudo se considerarmos que há efetivo julgamento do mérito, 
reconhecendo o juiz categoricamente, por exemplo, tratar-se de conduta manifestamente atípica. 
Em outras palavras, o fato de se tratar de uma decisãoproferida no limiar do processo não tem o 
condão de alterar sua natureza jurídica de sentença, já que há efetiva análise do mérito, para fins 
de se absolver o acusado.
Ressalva especial, todavia, deve ser feita quanto à hipótese do art. 397, IV, do CPP, que elenca 
a extinção da punibilidade como uma das causas de absolvição sumária. Pelo menos no âmbito do 
STJ - veja-se o teor da súmula n° 18 - , a decisão que reconhece a extinção da punibilidade tem 
natureza declaratória, e não absolutória.
d) absolvição sumária imprópria: consiste no julgamento antecipado da demanda para fins 
de absolvição do acusado inimputável do art. 26, caput, do CP, que, porém, sofre a imposição de 
medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial).
Quanto à possibilidade de absolvição sumária imprópria, ou seja, a absolvição da qual decorre 
a imposição de medida de segurança proferida no limiar do processo, é sabido que, no âmbito do 
procedimento comum, o art. 397, inciso II, do CPP, veda a possibilidade de absolvição sumária 
do inimputável. No âmbito do Júri, todavia, o art. 415, parágrafo único, do CPP, autoriza que o 
juiz absolva sumariamente o acusado inimputável do art. 26, caput, do Código Penal, desde que a 
inimputabilidade seja a única tese defensiva.
e) sentença absolutória anômala: é a decisão que concede o perdão judicial ao acusado. 
Tal decisão é denominada de anômala porque não existe uma verdadeira absolvição, mas sim um 
pronunciamento que só formal e impropriamente pode ser chamado absolutório, visto que, subs-
tancialmente, é de condenação.
MANUAL DE PROCESSO PENAL SENTENÇA PENAL
20. STJ, 6 ^Turma, RHC 3.155/SP, Rei. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, j. 08/11/1993, DJ 13/12/1993.
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RENATO BRASILEIRO DE LIMA MANUAL DE PROCESSO PENAL
Esta terminologia - absolvição anômala — é usada por poucos doutrinadores,21 já que há intensa 
controvérsia quanto à natureza jurídica da decisão que concede o perdão judicial. Há quem entenda 
que, na verdade, referida decisão tem natureza condenatória, pois o juiz somente perdoa o imputado, 
nas hipóteses expressamente previstas em lei, após valoração da prova e verificação da procedência 
da acusação. Caso contrário, não haveria razão para perdoá-lo. Prevalece, todavia, o entendimento 
de que a decisão concessiva do perdão judicial é simplesmente declaratória de extinção da punibili- 
dade. Nesse sentido, aliás, a súmula n° 18 do STJ preconiza que “a sentença concessiva do perdão 
judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório”.
4.2. Presunção de inocência e regra probatória
Antes de passarmos à análise das causas que autorizam a absolvição do acusado, é conveniente 
lembrar que, em sede processual penal, vigora o princípio da presunção de inocência, por força do 
qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória 
(CF, art. 5o, LVII). Desse princípio deriva a denominada regra probatória, segundo a qual recai sobre 
a acusação o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável. Essa 
regra probatória deve ser utilizada sempre que houver dúvida sobre fato relevante para a decisão do 
processo. Na dicção de Badaró, cuida-se de uma disciplina do acertamento penal, uma exigência 
segundo a qual, para a imposição de uma sentença condenatória, é necessário provar, eliminando 
qualquer dúvida razoável, o contrário do que é garantido pela presunção de inocência, impondo a 
necessidade de certeza.22
4.3. Fundamentos
Formando sua convicção de acordo com a livre apreciação da prova produzida em contraditório 
judicial, sem prejuízo da utilização subsidiária dos elementos informativos colhidos na investigação 
(CPP, art. 155, caput), deve o juiz julgar improcedente a pretensão acusatória, absolvendo o acusado, 
quando ocorrer uma das hipóteses mencionadas no art. 386 do CPP:
I — estar provada a inexistência do fato: nesse caso, o juiz formou sua convicção no sentido 
da inexistência do fato delituoso. Não se trata de falta de provas, ou de um estado de dúvida. Na 
verdade, há prova nos autos que confirmam peremptoriamente que o fato delituoso imputado ao 
acusado não ocorreu;
II - não haver prova da existência do fato: essa decisão deve ser proferida pelo magistrado 
quando, por ocasião da sentença, persistir dúvida quanto à existência do fato delituoso. Em outras 
palavras, o fato delituoso pode até ter existido, mas o juiz conclui que não há provas suficientes que 
atestem sua existência. Trata-se, pois, de decisão baseada no in dubio pro reo;
III - não constituir o fato infração penal: sempre que o legislador utiliza a expressão “não 
constituir o fato infração penal”, refere-se à atipicidade da conduta imputada ao agente, seja no plano 
formal, seja no plano material. Exemplificando, constatada a mínima ofensividade da conduta, a 
ausência de periculosidade do agente, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a lesão 
jurídica inexpressiva, pressupostos indispensáveis para a aplicação do princípio da insignificância, 
deve o juiz absolver o acusado com base no inciso III do art. 386 do CPP, haja vista a atipicidade 
material da conduta;
21. MÉDICI, Sérgio de Oliveira. R e v isã o c r im in a l. 2§ ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p. 174.
2 2. BADARÓ, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ô n u s d a p ro v a n o p ro c e s s o p e n a l. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 
2003. p. 285. Para mais detalhes acerca da regra probatória que deriva do princípio da presunção de inocência, 
remetemos o leitor ao Título introdutório deste Manual.
1 4 3 6
MANUAL DE PROCESSO PENAL SENTENÇA PENAL
IV — estar provado que o acusado náo concorreu para a infração penal: nos mesmos mol-
des que a decisão do inciso I, esta decisão absolutória também é baseada em um juízo de certeza, 
porém, nesse caso, no sentido de que o acusado não concorreu para a prática delituosa na condição 
de autor, coautor ou partícipe. A título de exemplo, é possível que a instrução probatória demonstre 
que o autor, efetivamente, não poderia ter praticado o fato delituoso, seja porque outro o autor, seja 
porque faticamente impossível a sua realização, vez que comprovada sua localização, temporal e 
espacial, em local diverso do crime;
V - não existir prova de ter o acusado concorrido para a infração penal: cuida-se de decisão 
baseada na existência de dúvida razoável acerca da autoria, coautoria ou participação. A título de 
exemplo, em processo penal no qual seja imputada ao acusado a execução de um crime patrimonial, 
se apresentado um álibi pela defesa, e o Ministério Público não conseguir provar a contento que o 
acusado encontrava-se efetivamente no local do crime, deve o magistrado absolver o acusado com 
fundamento no art. 386, V, do CPP;
VI - existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o acusado de pena (arts. 
20, 21, 22, 23, 26 e §1° do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada 
dúvida sobre sua existência: havendo certeza (ou mesmo fundada dúvida) sobre a existência de 
causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade, incumbe ao juiz absolver o acusado. Apesar de o 
dispositivo fazer menção expressa apenas aos dispositivos da parte geral do Código Penal, é evidente 
que a absolvição também será possível diante de causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade 
prevista na parte especial do Código Penal ou no âmbito da legislação especial (v.g., art. 128 do CP).
VII - não existir prova suficiente para a condenação: sem dúvida alguma, reside neste inciso 
a hipótese mais comum de absolvição. Como se demanda um juízo de certeza para a prolação de 
um decreto condenatório, caso persista uma dúvida razoável por ocasião da prolação da sentença, 
o caminho a ser adotado é a absolvição do acusado.
4.4. Efeitos decorrentes dasentença absolutória.23
4.4.1. Efeito principal: colocação do acusado em liberdade
Sem dúvida alguma, o principal efeito decorrente da sentença absolutória própria, ou seja, 
aquela da qual não decorre a imposição de medida de segurança, é a imediata colocação do acusado 
em liberdade, já que o recurso de apelação contra essa decisão não é dotado de efeito suspensivo, 
pouco importando a natureza do crime e os antecedentes do agente.
Daí dispor o art. 386, parágrafo único, do CPP, que, na sentença absolutória, mandará o juiz, se 
for o caso, colocar o acusado em liberdade. De seu turno, o art. 596, caput, do CPP, preceitua que a 
apelação da sentença absolutória não impedirá que o acusado seja posto imediatamente em liberdade.
Embora pareça óbvio que o acusado absolvido deva ser colocado imediatamente em liberdade, 
é bom lembrar que, ao tempo da redação originária do Código de Processo Penal, havia previsão 
legal no sentido de manutenção da prisão, mesmo após a prolação da sentença absolutória, quando se 
tratasse de imputação de crime cuja pena máxima fosse igual ou superior a 8 (oito) anos de reclusão. 
Ocorre que, por força da Lei n° 5.941/73, a redação do art. 596 do CPP acabou sendo modificada, 
passando a prever, então, a imediata colocação do acusado em liberdade, independentemente do 
quantum de pena cominado ao delito.
23. Para mais detalhes acerca dos efeitos civis da sentença absolutória, remetemos o leitor ao Título referente à ação 
penal e à ação civil ex delicto.
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RENATO BRASILEIRO DE LIMA MANUAL DE PROCESSO PENAL
Na hipótese de sentença absolutória imprópria, da qual resulta a aplicação de medida de segu-
rança, há de se ficar atento ao caso concreto:
a) se o acusado foi submetido ao longo de toda a persecução penal à medida cautelar de inter-
nação provisória (CPP, art. 319, VII, com redação determinada pela Lei n° 12.403/11), significa 
dizer que o juiz visualizou a presença de fum us comissi delicti epericulum libertatis. Logo, por ocasião 
da sentença absolutória imprópria, deve ser mantida a imposição da referida medida. Todavia, se o 
magistrado constatar a superveniente cessação da periculosidade, é plenamente possível a revogação 
da medida, a fim de que o acusado aguarde em liberdade o trânsito em julgado da decisão, para, 
somente então, ser executada a medida de segurança;
b) se, a despeito da constatação da inimputabilidade à época do fato delituoso, o acusado tiver 
permanecido em liberdade durante o curso do processo, significa dizer que o juiz não vislumbrou a 
necessidade de imposição da medida cautelar de internação provisória. Logo, em regra, se o inimpu- 
tável permaneceu solto durante o curso da persecução, deve permanecer solto, a não ser que surjam 
motivos que autorizem a imposição da medida cautelar de internação provisória.
Portanto, não se pode falar em aplicação provisória de medida de segurança, restando preju-
dicado o disposto no art. 596, parágrafo único, do CPP, à luz da regra de tratamento que deriva do 
princípio da presunção de inocência. A medida de internação provisória a que se refere o art. 319, 
VII, do CPP, só poderá ser decretada se presentes o fum us comissi delicti e o periculum libertatis, 
jamais como efeito automático da sentença absolutória imprópria, e desde que o crime tenha sido 
praticado com violência ou grave ameaça e haja risco de reiteração.
4.4.2. Efeitos secundários
A doutrina costuma citar outros efeitos decorrentes de um decreto absolutório, que podem 
variar a depender da hipótese em análise:
1) restituição integral da fiança: segundo o art. 337 do CPP, se passar em julgado a sentença 
que houver absolvido o acusado, o valor que a constituir, atualizado, será restituído sem desconto;
2) impossibilidade de novo processo em face da mesma imputação: ainda que a sentença abso-
lutória tenha sido proferida por juízo absolutamente incompetente, ninguém pode ser processado 
duas vezes pela mesma imputação por força do princípio do ne bis in idem processual. Apesar de não 
previsto expressamente na Constituição Federal, o princípio do ne bis in idem consta da Convenção 
Americana sobre Direitos Humanos, a qual é dotada de status normativo supralegal (Dec. 678/92, 
art. 8o, n° 4). Supondo-se que determinado indivíduo tenha sido absolvido em um processo criminal 
pela prática de furto em virtude da ausência de provas, operando-se o trânsito em julgado, não será 
possível o oferecimento de nova denúncia (ou queixa) em relação à mesma imputação, mesmo que 
surjam, posteriormente, provas cabais de seu envolvimento no fato delituoso;
3) levantamento do sequestro: de acordo com o art. 131, III, do CPP, se o acusado for absolvido 
por sentença transitada em julgado, será determinado o levantamento de sequestro incidente sobre 
bens supostamente adquiridos com o produto da infração penal;
4) levantamento do arresto ou cancelamento da hipoteca: de acordo com o art. 141 do CPP, o 
arresto será levantado ou cancelada a hipoteca, se, por sentença irrecorrível, o acusado for absolvido 
ou julgada extinta a punibilidade;
5) retirada da identificação fotográfica dos autos do processo: de acordo com o art. 7o da Lei 
n° 12.037/09, no caso de não oferecimento da denúncia, ou sua rejeição, ou absolvição, é facultado 
ao indiciado ou ao réu, após o arquivamento definitivo do inquérito, ou trânsito em julgado da 
sentença, requerer a retirada da identificação fotográfica do inquérito ou processo, desde que apre-
sente provas de sua identificação civil.
1 4 3 8
5. SE N T E N Ç A C O N D EN A T Ó R IA
Sentença penal condenatória é a decisão judicial que atesta a responsabilidade criminal do acu-
sado em virtude do reconhecimento categórico da prática da conduta típica, ilícita e culpável a ele 
imputada na peça acusatória (ou aditamento), impondo-lhe, em consequência, uma pena privativa 
de liberdade, restritiva de direitos ou multa. Para tanto, há necessidade de um juízo de certeza acerca 
da existência da infração penal e da respectiva autoria e/ou participação, sendo inviável a prolação 
de um decreto condenatório com base em um mero juízo de possibilidade e/ou probabilidade, sob 
pena de violação à regra probatória que deriva do princípio da presunção de inocência.
5.L Fixação da pena
A individualização da pena tem assento constitucional entre nós (art. 5o, XLVI). Segundo 
Alberto Silva Franco, tal princípio garante, em resumo, a todo cidadão, condenado num proces-
so-crime, uma pena particularizada, pessoal, distinta e, portanto, inextensível a outro cidadão, em 
situação fática igual ou assemelhada. Trata-se, pois, de verdadeiro direito fundamental do cidadão 
posicionado frente ao poder repressivo do Estado. Daí porque, nas palavras do autor, “não é possível, 
em face da ordem constitucional vigente, a cominação legal de pena, exata na sua quantidade, nem 
a aplicação ou execução de pena, sem intervenção judicial, para efeito de adaptá-la ao fato concreto, 
ao delinquente ou às vicissitudes de seu cumprimento”.24
São três os momentos distintos em que se dá essa individualização:
a) individualização legislativa: processo por meio do qual são selecionados os fatos puníveis 
e cominadas as sanções respectivas, estabelecendo seus limites e critérios de fixação da pena.
Por violar o princípio da individualização da pena, em sua acepção legislativa, o Plenário do 
Supremo Tribunal Federal declarou, incidentalmente, a inconstitucionalidade da expressão vedada 
a conversão em penas restritivas de direitos, constante do §4° do art. 33, e do art. 44, ambos da Lei 
11.343/2006. Sob o argumento de que a vedação, em abstrato, da possibilidade de substituição da 
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, é incompatível com o princípio da individu-
alização da pena, por ser vedado ao legislador subtrair do juiz a possibilidade de se movimentar 
com certa discricionariedade no sentidode determinar a espécie de pena suficiente para castigar 
e, ao mesmo tempo recuperar socialmente o apenado, prevenindo comportamentos do gênero, foi 
concedida a ordem em habeas corpus não para assegurar ao paciente a imediata substituição, mas 
pelo menos para remover o obstáculo da Lei n° 11.343/06, devolvendo ao juiz da causa a tarefa de 
aferir a presença das condições objetivas e subjetivas listadas no art. 44 do Código Penal.25
b) individualização judicial: elaborada pelo juiz na sentença, é a atividade que concretiza a 
individualização legislativa que cominou abstratamente as sanções penais. Por meio do procedimento 
de aplicação da pena, a ser estudado mais adiante, é vedado que o julgador imponha uma sanção 
padronizada ou mecanizada, olvidando os aspectos únicos do delito cometido;
c) individualização executória: ocorre durante o cumprimento da sanção penal, objetivando 
a ressocialização do sentenciado. Considerando que o juiz da execução também precisa dispor de 
instrumentos para buscar a individualização do cumprimento da reprimenda imposta ao conde -
MANUAL DE PROCESSO PENAL SENTENÇA PENAL
24. FRANCO, Alberto Silva. C rim e s h e d io n d o s. 4S ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p. 163. Em sentido 
semelhante: NUCCI, Guilherme de Souza. In d iv id u a liz a ç ã o da p e n a . 2- ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 
2007. p. 338.
25. STF, Pleno, HC 97.256/RS, Rei. Min. Ayres Britto, j. 01/09/2010, DJe 247 15/12/2010. Por conta dessa decisão, o 
Senado Federal deliberou pela suspensão da execução da expressão "vedada a conversão em penas restritivas de 
direitos" do §49 do art. 33 da Lei n9 11.343/06, nos termos do art. 52, X, da Constituição Federal (Resolução n9 5, 
de 2012).
1 4 3 9
RENATO BRASILEIRO DE LIMA MANUAL DE PROCESSO PENAL
nado, o Supremo acabou por declarar a inconsdtucionalidade da redação original do art. 2o, §1°, 
da Lei n° 8.072/90, que determinava que o condenado por crime hediondo devia cumprir sua pena 
em regime integralmente fechado. Na visão da Corte, a progressão no regime de cumprimento da 
pena, nas espécies fechado, semi-aberto e aberto, tem como razão maior a ressocialização do preso 
que, mais dia ou menos dia, voltará ao convívio social. Daí porque não se pode privar o preso, em 
abstrato, do direito à progressão.26
Nesse momento, o que nos interessa é a individualização judicial. Se é verdade que o legislador 
confere ao juiz certa discricionariedade por ocasião da individualização da pena na sentença con- 
denatória, também é verdade que todas as operações realizadas na dosimetria da pena devem ser 
devidamente fundamentadas, apontando o magistrado como valorou cada uma das circunstâncias 
analisadas, desenvolvendo um raciocínio lógico e coerente que permita às partes e à própria socie-
dade entender os critérios utilizados nessa valoração, evitando-se, assim, quaisquer arbitrariedades.
Antes da reforma da Parte Geral do Código Penal pela Lei n° 7.209/84, discutia-se na dou-
trina qual seria o melhor sistema a ser adotado quanto à fixação da pena. De um lado, o critério 
defendido por Roberto Lyra preconizava que a pena devia ser aplicada percorrendo-se apenas duas 
fases (sistema bifásico): num primeiro momento, seriam avaliadas as circunstâncias judiciais em 
conjunto com as agravantes e atenuantes; em seguida, as causas de aumento e de diminuição de 
pena seriam levadas em consideração. Nelson Hungria, por sua vez, advogava que 03 (três) deve-
riam ser as fases de aplicação da pena (sistema trifásico): primeiro, deveriam ser consideradas as 
circunstâncias judiciais, isoladamente; em seguida, agravantes e atenuantes; por último, causas de 
aumento e de diminuição de pena.
Com o advento da Lei n° 7.209/84, o Código Penal passou a adotar expressamente o sistema 
proposto por Nelson Hungria. De fato, segundo o art. 68 do Código Penal, o cálculo da pena 
deve ser feito em três fases distintas: primeiro, deve ser encontrada a pena-base, analisando-se, para 
tanto, as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP; segundo, com base nas circunstâncias atenuantes 
e agravantes, deve ser fixada a pena provisória; por fim, chega-se à pena definitiva, levando-se em 
consideração as causas de aumento e de diminuição de pena.
Antes de passar à análise do sistema trifásico, incumbe ao magistrado estabelecer os limites 
abstratos com os quais irá trabalhar, ou seja, o mínimo e máximo a serem levados em consideração. 
Para tanto, deve analisar as elementares da conduta delituosa imputada ao agente e, assim, fazer o 
juízo de subsunção para definir o tipo penal em que o acusado está incurso. Deve, ademais, analisar 
a presença de eventuais qualificadoras (v.g., CP, art. 155, §4°) ou privilégios (v.g., CP, art. 317, §2°), 
que podem acarretar a alteração dos limites mínimo e máximo. Se alternativa a pena (privativa de 
liberdade ou multa), deve escolher qual delas se ajusta ao caso concreto e ao acusado. Se cumulativa 
a pena (privativa de liberdade e multa), ambas deverão ser aplicadas.
Na hipótese de incidência de mais de uma qualificadora, apesar de haver certa divergência, 
prevalece o entendimento de que uma delas deve ser utilizada para estabelecer o novo limite abs-
trato (o mínimo e o máximo da figura qualificada), ao passo que as demais devem ser levadas em
26. STF, Pleno, FiC 82.959/SP, Rei. Min. Marco Aurélio, j. 23/02/2006, DJ 01/09/2006. Posteriormente, a Lei ne 11.464/07 
conferiu nova redação à Lei n- 8.072/90, que passou a prever que a pena deve ser cumprida in ic ia lm e n te em regime 
fechado, devendo a progressão em crimes hediondos se dar após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se 
o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. O Supremo, por sua vez, editou a súmula vinculante 
n- 26: "Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo ou equiparado, o juízo 
da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2S da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de 
avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, 
para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico".
1 4 4 0
MANUAL DE PROCESSO PENAL SENTENÇA PENAL
consideração como circunstâncias agravantes, quando previstas legalmente, ou como circunstância 
judicial, subsidiariamente.27
Por fim, é importante registrar que não se admite que o juiz sentenciante altere o quantum de 
pena cominado a determinado delito a título de aplicação do princípio da isonomia (ou proporcio-
nalidade). Também não é dado ao Poder Judiciário combinar previsões legais, criando uma terceira 
espécie normativa, não prevista no ordenamento, sob pena de ofensa ao princípio da Separação de 
Poderes e da Reserva Legal. Afinal, não há pena sem prévia cominação legal.
Recentemente, algumas decisões de tribunais estaduais vinham trabalhando com a possibilidade 
de modificação do quantum de pena pelo juiz em relação ao crime de furto qualificado, por enten-
derem que a duplicação da pena do crime de furto na hipótese de presença de uma qualificadora 
(CP, art. 155, §4°) seria desproporcional quando confrontada com o crime de roubo, que se limita 
a autorizar o aumento da pena de 1/3 (um terço) a 1/2 (metade) - CP, art. 157, §2° - , sobretudo 
se considerado que há circunstâncias semelhantes em ambos os delitos (v.g., concurso de duas ou 
mais pessoas). Perante os Tribunais Superiores, todavia, acabou prevalecendo o entendimento de 
que é inviável a aplicação, por analogia, da majorante prevista para o roubo circunstanciado pelo 
concurso de agentes para o furto qualificado em razão da norma expressa do §4° do art. 155, já 
que a analogia, para o seu uso, pressupõe uma lacuna involuntária (Lei de Introdução às normas 
do Direito Brasileiro, art. 4o), ausente na hipótese.28
5.1.1. Fixação da pena-base
A fim de seestabelecer a pena-base, que não pode ser fixada aquém do mínimo ou além do 
máximo previsto pelo tipo penal incriminador, são levadas em consideração todas as circunstâncias 
judiciais previstas no art. 59 do Código Penal, as quais devem ser investigadas pelo juiz durante o 
curso da instrução probatória e, posteriormente, individualizadas e valoradas, na sentença. E por 
esse motivo, aliás, que o próprio CPP prevê que o interrogatório será constituído de duas partes: 
sobre a pessoa do acusado e sobre os fatos (art. 187, caput).
Tendo em conta que todas as circunstâncias judiciais, em conjunto ou isoladamente conside-
radas, podem ser favoráveis ou desfavoráveis ao acusado, impõe-se ao magistrado uma análise indi-
vidualizada de cada uma delas, sendo insuficiente, portanto, considerações genéricas e superficiais. 
De todo modo, convém destacar que, na visão da jurisprudência majoritária, eventual deficiência 
na fundamentação da fixação da pena não acarreta a nulidade da decisão se aquela for fixada no 
mínimo legal, o que, no entanto, não impede a interposição de apelação pela acusação, objetivando 
a majoração da pena.29
Na hipótese de todas as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP serem favoráveis ao acusado, 
a pena-base deve ser fixada no mínimo previsto no preceito secundário. Caso alguma circunstância 
seja desfavorável, deve afastar-se do mínimo; se, todavia, o conjunto for desfavorável, a pena pode 
se aproximar do chamado termo médio, representado pela média da soma dos dois extremos, quais
27. Nesse sentido: STJ, Turma, HC 170.135/PE, Rei. Min. Jorge Mussi, j. 14/06/2011, DJe 28/06/2011; STJ, 63 Turma, 
HC 202.035/SP, Rei. Min. Og Fernandes, j. 02/06/2011, DJe 15/06/2011.
28. STF, 13 Turma, HC 95.351/RS, Rei. Min. Ricardo Lewandowski, j. 21/10/2008, DJe 211 06/11/2008; STF, 23 Turma, 
HC 92.628/RS, Rei. Min. Joaquim Barbosa, j. 19/08/2008, DJe 241 18/12/2008. Na mesma linha, de acordo com a 
súmula ns 442 do STJ, é inadmissível aplicar no furto qualificado pelo concurso de agentes a majorante do roubo.
29. Essa admissibilidade de aplicação da pena mínima sem fundamentação dá origem à chamada política da pena 
mínima, assim compreendido o costume judiciário reiterado no Brasil de se fixar a pena-base sempre no menor 
patamar possível como consequência da ausência de análise individualizada e fundamentada das circunstâncias 
judiciais.
1 4 4 1
MANUAL DE PROCESSO PENALRENATO BRASILEIRO DE LIMA
sejam, limites mínimo e máximo. Na prática, como destaca Bitencourt, o cálculo tem início a partir 
do limite mínimo e só excepcionalmente, quando o conjunto das circunstâncias do art. 59 revelar 
especial gravidade, se justifica a fixação da pena-base distanciada do mínimo legal.30
Vejamos, em breve síntese, quais são e em que consistem as circunstâncias judiciais:
a) culpabilidade: deve ser compreendida como o juízo de reprovabilidade do comportamento do 
agente, apontando a maior ou menor censurabilidade da conduta delituosa. A circunstância judicial 
“culpabilidade”, disposta no art. 59 do CP, atende ao critério constitucional da individualização da 
pena. Para o Supremo, a análise judicial das circunstâncias pessoais do réu é indispensável para fins de 
adequação temporal da pena, em especial nos crimes perpetrados em concurso de pessoas, nos quais 
se exige que cada um responda na medida de sua culpabilidade (CP, art. 29). Quando cotejada com 
as demais circunstâncias descritas no art. 59 do CP, o dimensionamento da culpabilidade revelaria 
ao magistrado o grau de censura pessoal do réu na prática do ato delitivo, representando verdadeira 
limitação da discricionariedade judicial na tarefa individualizadora da pena-base;31
b) antecedentes: compreendem todos os dados favoráveis ou desabonadores da vida pregressa 
do agente. São maus antecedentes aqueles que merecem a reprovação da autoridade pública e que 
representam expressão de sua incompatibilidade para com os imperativos ético-jurídicos. Inquéritos 
instaurados e processos criminais em andamento, absolvições por insuficiência de provas, prescrições 
abstratas, retroativas e intercorrentes não podem ser considerados como “maus antecedentes”, sob 
pena de violação ao princípio da presunção de inocência. E nesse sentido, aliás, o teor da súmula 
n° 444 do STJ: “E vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar 
a pena base”.32 Daí por que, na prática, restam como maus antecedentes apenas condenações cri-
minais com trânsito em julgado que não mais caracterizem a reincidência, em virtude do decurso 
do lapso temporal de 5 (cinco) anos previsto no art. 64, inciso I, do CP. Assim, se uma pessoa foi 
condenada irrecorrivelmente e a sanção já se encontra cumprida ou extinta há mais de 5 (cinco) 
anos, esse dado não produzirá reincidência, mas é tido como caracterizador de maus antecedentes.33
Portanto, o magistrado é livre para considerar, na fixação da pena, condenações pretéritas, ainda 
que tenha transcorrido lapso temporal superior a cinco anos entre o efetivo cumprimento das penas 
e a infração posterior, pois, embora não sejam aptas a gerar a reincidência, nos termos do art. 64, 
I, do CP, são passíveis de serem consideradas como maus antecedentes no sopesamento negativo 
das circunstâncias judiciais. Todavia, segundo a 5a Turma do STJ, o aumento da pena do crime 
doloso por crime culposo cometido em passado distante afrontaria os princípios da razoabilidade e 
da proporcionalidade na fixação da pena privativa de liberdade.34
Se o acusado possui contra si sentença condenatória com trânsito em julgado, e ainda não 
transcorreu o lapso temporal de 5 (cinco) anos, a reincidência deve ser levada em consideração 
como circunstância agravante. Logo, o fato de o acusado registrar uma única condenação transitada
30. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. Parte Geral. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 675.
31. STF, Pleno, HC 105.674/RS, Rei. Min. Marco Aurélio, j. 17/10/2013.
32. Se houve o arquivamento do inquérito, absolvição, reabilitação, ou a extinção da punibilidade pelo advento da 
prescrição da pretensão punitiva, não é possível o reconhecimento de maus antecedentes: STJ, 6^ Turma, RMS 
29.273/SP, Rei. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 20/09/2012.
33. No sentido de que configura maus antecedentes a existência de condenações pretéritas, ainda que transcorrido 
lapso temporal superior a cinco anos entre o efetivo cumprimento das penas e a infração posterior: STJ, 5â Turma, 
HC 198.557/MG, Rei. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/0/2012.
34. STJ, 5- Turma, HC 198.557/MG, Rei. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/03/2012, DJe 16/04/2012.
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em julgado não pode ser valorado, ao mesmo tempo, como circunstância judicial desfavorável e 
agravante de reincidência, sob pena de bis in idem ,35
c) conduta social: diz respeito ao comportamento do agente no meio em que vive, abrangendo 
sua conduta no ambiente de trabalho, nos momentos de lazer, no âmbito de seu lar, etc. Para os 
tribunais superiores, o fato de o acusado ser usuário de drogas não pode ser considerado como 
má-conduta social para o aumento da pena-base;36
d) personalidade: funciona como a síntese das qualidades morais e sociais do indivíduo. Nesta 
circunstância, incumbe ao juiz aferir a boa (ou má) índole do acusado, sua maior ou menor sensi-
bilidade ético-social, a presença ou não de eventuais desvios de caráter, de modo a se verificar se o 
crime constitui (ou não) um episódio acidental em sua vida. A despeito de haver certa controvérsia, 
prevalece o entendimento de que atos infracionais praticados pelo acusado durante a menoridade 
podem servir para a análise da personalidade do agente, raciocínio este que também se aplica a 
eventuais infrações penais por ele cometidas após o crime objeto do processo sob julgamento. 
Havendo registros

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