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06 MANCEBO, D. modernidade individuo

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Psicologia: Ciência e Profissão
Print version ISSN 1414-9893 - Psicol. cienc. prof. vol.22 no.1 Brasília Mar. 2002
 http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932002000100011 
ARTIGOS
Modernidade e produção de subjetividades: breve percurso histórico1
 Deise Mancebo*
RESUMO
O trabalho problematiza uma das categorias fundadoras da psicologia - o “indivíduo“
-, através de um aporte histórico. Primeiramente, reconhecendo os efeitos ideológicos
da preeminência da representação do indivíduo como valor - oposto ou antagônico ao
da sociedade - no âmbito da cultura ocidental moderna, analisa a formação dessa
subjetividade individualizada na modernidade, com a definição de algumas
características básicas que lhe foram dando contorno e densidade. Apresenta a
modernidade como um momento específico de hegemonização da ideologia
individualista, através da implantação de instituições políticas crescentemente
comprometidas com os valores da liberdade e da igualdade, ou como espaço cultural
global de sua afirmação. Discute, a seguir, os processos que têm marcado o conceito
de “indivíduo“ neste século, sua materialização no capitalismo organizado e, mais
recentemente, no neoliberalismo, procurando destacar a retração do conceito sobre si
mesmo e o conseqüente empobrecimento da vida cívica e desenvolvimento de uma
cultura narcisista.
Palavras-chave: Modernidade, Produção de subjetividades, História , Estado.
 --------------------------------------------------------------------------------
As ciências sociais e humanas têm dado uma progressiva atenção aos estudos
sobre a construção social dos sujeitos e às diferentes modalidades pelas quais as
sociedades elaboram as formas e sentidos dos homens. Essas investigações e análises
têm-se dado tanto no eixo etnográfico, especialmente a partir das contribuições da
antropologia sobre a contemporaneidade, quanto no eixo histórico, sob o qual dados
de múltipla procedência e qualidade sobre os “estados“ anteriores da sociedade vêm
sendo pesquisados.
Nesses estudos, o termo “indivíduo“ e correlatos como “individualismo“,
“individualidade“, dentre outros, abrange uma imensa variedade de significados, dá
luz a teorias, doutrinas e a diversidade de análises cresce quando se toma em conta
as mudanças de conotação sofridas ao longo da história. De um modo geral, no
entanto, a modernidade vem sendo apresentada como um momento específico de
hegemonização da ideologia individualista, através da implantação de instituições
políticas crescentemente comprometidas com os valores da liberdade e da igualdade,
ou como espaço cultural global de sua afirmação, mediante a secularização dos
costumes e a laicização e universalização sistemática do conhecimento.
Neste trabalho, pretende-se analisar a formação da subjetividade
individualizada na modernidade ocidental, com a definição de algumas características
básicas que lhe foram dando contorno e densidade, através de um aporte histórico.
1
Trata-se de um empenho complexo, pois encontramo-nos mergulhados numa cultura
individualista, no interior da qual definimos nossas práticas e concepções, nos
socializamos e educamos. Desse modo, torna-se difícil perceber que o indivíduo possa
ser uma “categoria do espírito humano“ (Mauss, 1974), uma categoria não inata, mas
construída histórica e socialmente2 . Torna-se difícil apreender que o indivíduo é
apenas um dos modos de subjetivação possíveis e que cada época, cada sociedade
põe em funcionamento alguns desses modos, sendo a categoria “indivíduo“, o modo
hegemônico de organização da subjetividade na modernidade.
Em outros termos, um dos universais da modernidade ocidental é a suposição
dominante de que o homem, na sua constituição mais íntima, é o centro e o
fundamento do mundo. Ao longo dos tempos, construiu-se a expectativa de cultivo e
respeito à interioridade, através da proteção da privacidade e instituiu-se uma nítida
separação entre as esferas públicas e privadas da vida. No entanto, esse processo de
constituição da subjetividade moderna foi longo e continua sofrendo modificações
intensas até a atualidade.
Na psicologia, o conceito de indivíduo muitas vezes apresenta-se como um a
priori não problematizado, tanto nas suas formulações teóricas, quanto em seus
desdobramentos prático-profissionais. Muitas discussões travadas sob a égide de
dicotomias como indivíduo/sociedade, natural/social, inato/adquirido, pressupõem a
existência de um indivíduo naturalizado e desenvolvem-se sem uma reflexão devida
sobre esses pressupostos.
Este trabalho, ao discutir a construção da subjetividade individualizada, tal qual
vem se apresentando na modernidade ocidental, pretende contribuir para a
investigação dos modos de produção desse indivíduo e das possibilidades que lhe são
apresentadas na qualidade de sujeito de seu projeto de vida. Pretende, por fim,
cooperar para o aprofundamento da desconstrução de discursos apresentados como
únicos e naturais, contrapondo-lhes alternativas de reflexão sobre o desenvolvimento
dos saberes sobre o homem, ao longo da história.
Modernidade e Indivíduo: Breve Percurso Histórico
O projeto sócio-cultural da modernidade é um projeto muito rico, capaz de
infinitas possibilidades e, como tal, muito complexo e sujeito a desenvolvimentos
contraditórios. Seu início data do século XVI, atravessa reformas de múltiplas ordens,
consolida-se no século XVIII e modifica-se intensamente até os dias atuais.
O mundo, a partir do século XVI, apresenta-se, em relação ao das civilizações
medievais, mais heterogêneo. Pode-se falar e apreciar o mundo sob outras vozes e
outros ângulos; as relações entre os homens apresentam-se menos hierarquizadas;
não há mais uma orientação central - política, religiosa ou cultural - e novas produções
subjetivas são gestadas ao longo de múltiplas reformas que se desenrolam a partir do
Renascimento.
A primeira referência nesta discussão é a consolidação do capitalismo como
modo de produção que pressupôs não somente mudanças estritamente econômicas,
no plano da produção material, como o desenvolvimento de um ideário de liberdade e
2
igualdade. Forjou, com o seu desenvolvimento, pessoas libertas das amarras das
legislações corporativas e servis do mundo feudal, indivíduos “livres e iguais“ para
estabelecerem contratos no mercado de trabalho (Marx,1975), com profundas
conseqüências para as subjetividades dos homens de então.
A reforma protestante, liderada por Lutero, no século XVI, é outro movimento
que merece destaque na análise da subjetividade moderna. Essa reforma colocou o
indivíduo no mundo, pois se a “vocação“ luterana permanecia uma tarefa
estabelecida por Deus; a maneira aceitável de viver encontrava-se na possibilidade do
homem superar-se pela “ascese“ e, principalmente, no desafio de cumprir as tarefas
do século, através de suas ações terrenas. A restrição da mediação da Igreja para a
salvação humana, apregoada pelos protestantes, implicava o intercâmbio do indivíduo
com Deus, em linha direta, e em completo isolamento espiritual. A abolição dos
rituais, o repúdio ao sensualismo e à emoção, a desmagicização do mundo e a
decorrente apreensão impessoal, racional e instrumental do homem e das suas
relações, praticadas pelo mundo protestante, constroem a solidão interna do indivíduo
e contribuem para a própria possibilidade da intensificação da experiência
individualizada (Weber, 1996).
O modelo de racionalidade que preside a ciência moderna, constituído, a partir
da revolução científica dos séculos XVI e XVII, tendo em Bacon e Descartes os
principais representantes originais, também estabeleceu novas relações entre o
sujeito e o objeto de conhecimento.Primeiramente, o novo paradigma produz uma
visão do mundo e da vida que, distante do saber aristotélico e medieval, fundava uma
certa luta no campo do conhecimento, contra as formas anteriores de dogmatismo e
de autoridade. Implicou, ainda, conforme Figueiredo (1994), a introdução de uma cisão
na esfera da subjetividade, pois a consecução da proposta científica pressupunha o
controle do sujeito motivado, portador de tendências, desejos, movimentos passionais
e instintivos. Desse modo, tanto o sujeito epistêmico como o sujeito ético-passional
são gerados a partir do fim do século XVI e início do XVII, através de operações
ocorridas no terreno da reforma científica. Por fim, pelas construções da reforma
científica, principalmente através da proposta cartesiana, o sujeito autoconsciente e
com total domínio da própria vontade, que ocupa a posição fundante na Idade
Moderna, ganhava contornos mais nítidos e definidos.
A organização dos Estados Nacionais, diversificada, por certo, nas diversas
regiões da Europa, constituiu-se em mais um processo a contribuir para a
consolidação da nova ordem econômica e social que se construía na Europa Ocidental
e para a intensificação de um modo de subjetivação individualizado, típico da
modernidade. Os governos desses Estados tomam a forma da monarquia nacional e
representam a exigência de uma regulamentação jurídica para os conflitos políticos e
sociais que se desenvolviam. Tais conflitos culminam no Estado Absolutista, uma
continuidade da expressão da hegemonia da nobreza que, através da reorganização
estatal, reforça sua dominação sobre a massa camponesa e mantém a burguesia, em
formação, ainda numa posição de não-centralidade. Esse complexo processo também
comportou mudanças de ordem sócio-psicológicas, materializadas, no caso das cortes,
no que poderíamos chamar de uma “subjetividade aristocrática“. Norbert Elias (1993,
1995, 1998) é uma referência central para esta discussão e tem caracterizado o
comportamento das cortes européias de então em termos de um incremento na
capacidade de contenção dos impulsos, modelação de condutas, autodomínio, auto-
observação e observação dos demais. A etiqueta comportava modos de se apresentar
3
e interagir altamente codificados, meticulosos e desempenhava um papel central
nessa “racionalidade cortesã“.
Com a formação dos Estados nacionais, constrói-se ainda um certo equilíbrio de
uma tensão que foi central em toda a modernidade: um equilíbrio entre os imperativos
de uma consciência individual (naquele momento em processo de amadurecimento) e
as exigências “coletivas“ das razões de Estado (então delineadas como uma cega
obediência à autoridade absolutista). Nos séculos XVI e XVII, a filosofia do Direito
Natural constituiu-se na grande teorização dessa separação entre o “interno“ e o
“externo“. Em outros termos, a teorização sobre os direitos universais próprios da
natureza humana será o ponto sob o qual se constituirão as teorias de formação do
Estado, tenham elas sua base na sujeição das ações humanas - justificando o
absolutismo como em Hobbes -; ou se assentem no compromisso mútuo, como
formulado por Locke. A crescente cisão entre a esfera do particular, do privado, por
um lado, e a esfera do público foi a resolução possível dessa contradição, ademais só
consolidada no século XVIII.
Da Renascença às Luzes assiste-se, portanto, a profundas mudanças no plano
político, econômico e social, aos quais um novo ingrediente é acrescido, mesmo que
sob concepções distintas e até antagônicas: uma concepção de indivíduo. Trata-se de
um período de transição, e no caso específico da subjetividade, da “vida íntima“,
assiste-se a uma sociedade que nem é holística, tal como descrita por Dumont (1985),
na sua indistinção das pessoas e almas; nem uma vida privada, com Estado e
sociedade civil claramente delineados. “Entre a indistinção feudal da primeira Idade
Média e a separação formal que se instaura com as revoluções liberais, abre-se,
portanto, um período em que as esferas do público e do privado já não estão
indistintas, mas ainda não estão separadas - estão imbricadas“ (Novais, 1997, p. 16).
A partir do século XVIII, pode-se afirmar que tem início verdadeiramente o
“teste“ do cumprimento histórico do projeto da modernidade, do qual a idéia do
indivíduo como centro microcósmico do mundo é parte orgânica.
A teorização que eleva o conceito de indivíduo ao nível de bandeira política e
realidade econômica é o liberalismo dos séculos XVII e XVIII, com seus contornos
básicos definidos (1) pela liberdade em relação ao coletivo no qual vive e
comportando o direito de escolha, liberdade de ação e participação, (2) pela
igualdade, implicando direitos inalienáveis, públicos, reconhecidos pelos demais; (3)
pela consciência individual acentuada com razão própria, emoções e sentimentos
singulares e únicos e (4) pela consideração do homem como a célula básica da
sociedade, da qual participa, diretamente, sem mediações (Gentil, 1996, p. 92).
Em síntese, tal como concebido no liberalismo, os indivíduos seriam portadores
de personalidades soberanas, com identidades claramente delimitadas e auto-
contidas, capazes de permanência e invariância ao longo do tempo, constituindo-se no
fundamento primeiro de organização do mundo (Mancebo, 1999-a, p. 38).
Para que os direitos e a liberdade individuais pudessem ser resguardados,
constituiu-se uma nítida clivagem entre a esfera da vida privada e a pública, cabendo
à primeira, o exercício da liberdade individual livre de interferências alheias e à última,
o comportamento convencional, racional e civilizado. Assim, a auto-nomização da
esfera pública e a consolidação do indivíduo enquanto categoria central do
pensamento ocidental apresentam-se como desenvolvimentos correlatos3, que
4
possibilitam ao século XVIII comportar uma sociedade com fronteiras claramente
demarcadas entre as esferas complementares da vida social – a pública e a privada.
No entanto, no século XIX o liberalismo passa por revisões, tanto no plano
teórico, como no plano da organização do Estado. É o momento da transição do
capitalismo concorrencial ao monopolista, é o século no qual ocorrem a ampliação de
alguns direitos políticos aos não-proprietários, a conseqüente incorporação do tema da
democracia; assiste-se à redefinição do Estado e suas relações com a sociedade civil e
reordenamentos de parâmetros teóricos, dentre outras mudanças de importância.
Nesse século, ainda, dois movimentos contribuem para a complexificação da
subjetividade moderna: primeiro, a constituição do chamado “intimismo“ e o
decorrente embaralhamento das esferas pública e privada, no bojo da discussão do
coletivismo romântico; depois, a consolidação do individualismo administrativo,
tecnocrático e disciplinar.
No liberalismo romantizado do século XIX, a ênfase recai na defesa da
inviolabilidade do individual. Os indivíduos construídos sob os ideais românticos
valorizam, prioritariamente o seu autocrescimento, consideram suas interioridades o
tesouro máximo que possuem e tentam, permanentemente, preservá-lo da vida
competitiva, “superficial“ e turbulenta das grandes cidades então emergentes. A
valorização do auto-desenvolvimento individual (do privado) assume tal proporção que
os procedimentos da privacidade passam a se constituir nos próprios organizadores e
juízes da vida pública. A invasão do público pelo privado, o recurso ao público com
objetivos privados, a decorrente perda dos limites entre essas duas esferas e um certo
esfumaçamento da cisão público/privado, analisadapor Sennett (1988), recebem no
romantismo seu perfil mais acabado, constituindo, no seu conjunto, o que vem sendo
chamado de “civilização intimista“.
No ideário tecnocrático e disciplinar, novos delineamentos também são
acrescentados às conceituações liberais originais, só que neste caso, exigindo dos
homens maior eficiência, interesse e utilidade diante das mudanças e desafios
ocorridos no século XIX. Foucault (1983, 1986) é uma referência central nesse campo
investigativo, ao preocupar-se com a identificação e análise do processo pelo qual se
dá a tomada do poder sobre os corpos, na sociedade ocidental. Seus trabalhos
procurarão cobrir a trajetória das diversas tecnologias de poder e o controle social
produzido pelos dispositivos disciplinares e pela normalização técnico-científica, de
modo a apresentar-nos a modernidade, criticamente, como uma era de domesticação
dos corpos. Sob o ideário tecnocrático-disciplinar, “a administração dos
comportamentos individuais, alcançável mediante uma visibilidade, conhecimento e
controle mais planejado dos comportamentos, ganha espaço no tecido social, de modo
que as instituições educacionais, corretivas, de saúde, de lazer passam a participar
dessa agenda, assumindo funções diagnósticas, disciplinares e preventivas“
(Mancebo, 1999-b, p. 56).
Por fim, em que pesem as contradições apresentadas entre si, essas diferentes
formas de entender o homem e as relações que estabelecem entre si são localizáveis
até os dias que correm. O liberalismo, o romantismo e o racionalismo tecnocrático-
disciplinar passaram por transformações, e embora convivam simultaneamente,
apresentaram diferentes pesos ao longo da cultura contemporânea e não perderam de
todo a vigência até nossos dias.
5
O "Breve Século XX": Capitalismo, Estado e Subjetividade
É comum, para efeitos de estudo e análise, a divisão do capitalismo nos países
centrais em três fases. O primeiro período cobre todo o século XIX. É a fase do
capitalismo liberal, cujos delineamentos centrais foram discutidos, anteriormente,
neste trabalho. O segundo período, aqui designado por capitalismo organizado, inicia-
se no final do século XIX e atinge o seu pleno desenvolvimento nas primeiras décadas
depois da 2ª Guerra Mundial. A última etapa inicia-se em geral em finais da década de
sessenta, nalguns países um pouco mais cedo, noutros um pouco mais tarde, e é nele
que nos encontramos hoje. Alguns autores designam-no por período do capitalismo
financeiro, do capitalismo monopolista de Estado, do capitalismo desorganizado ou,
simplesmente, de neoliberalismo (Mancebo, 1999-b).
Capitalismo Organizado, Cidadania Social e Subjetividade
Do ponto de vista econômico, o período conhecido como “capitalismo
organizado“ expressa a quebra da ordem econômica concorrencial, a instalação da
etapa capitalista monopolista, a concentração e a centralização do capital e a
ampliação do mercado para novos horizontes, comportando transformações profundas
e vertiginosas.
A etapa áurea desse desenvolvimento ocorreu após o final das duas guerras
mundiais e teve por base a adoção de diversos preceitos postulados pelo economista
inglês John Maynard Keynes, para quem a saída das crises do capitalismo comportava
uma intervenção direta do Estado no sistema econômico, garantindo a regularização
do ciclo e evitando assim flutuações dramáticas no processo de acumulação de
capital.
Sob o molde do Estado-Providência, a forma por excelência do Estado
keynesiano, os países da Europa Ocidental reconstruíram seus territórios no pós-
guerra, a economia mundial experimentou um espetacular crescimento (Gentili, 1998-
a, p. 82) e ampliou-se um campo de direitos econômicos e sociais a parcelas mais
amplas da população, constituindo o que foi designado por “cidadania social“. O
Estado desempenhou papel nada desprezível nessa nova ordem e sua intervenção,
que contrariava as formulações dos liberais ortodoxos, não era questionada pelos
grupos hegemônicos, para quem essa planificação poderia diminuir as margens de
lucro, mas garantia a acumulação.
Além das razões que o capital apresentava para expandir os direitos sociais e
econômicos, assistiu-se, ao longo desta segunda metade do século, inclusive em
sociedades onde a população encontrava-se, historicamente, em contingências de
exclusão e de marginalidade, a um aumento considerável de lutas populares,
responsáveis, em grande parte, pela ampliação dos direitos próprios à cidadania.
6
Hoje é evidente que (essa) Era de Ouro pertenceu essencialmente aos países
capitalistas desenvolvidos“ (Hobsbawm, 1995, p. 255), pois, nas nações periféricas,
esses compromissos traduziram-se num processo bem distinto, na medida em que a
perspectiva otimista da “cidadania social“ sempre entrou em choque com a exclusão
e a miséria da grande maioria da população “não- cidadã“. De qualquer forma, a
despeito do seu irregular impacto, ocorreram significativas conquistas de direitos
sociais por parte das classes trabalhadoras das sociedades centrais e, de um modo
muito menos característico e intenso, por parte de alguns setores das classes
trabalhadoras em alguns países periféricos e semiperiféricos (Gentili,1998-b, p. 113).
No plano simbólico e cultural, também ocorrem profundas transformações que
vêm sendo definidas pela passagem da cultura da modernidade para a do
“modernismo cultural“. Conforme Santos (1997, p. 85), o modernismo representa o
culminar da tendência para a especialização e diferenciação funcional dos diferentes
campos de racionalidade humana. É a “grande divisória“ de que fala Andreas Huyssen
(1986), a “ansiedade da contaminação“ que marca a modernidade e a leva a dividir e
esquadrinhar as diversas searas da sociedade, a multiplicar a especialização das
disciplinas, dentre outros aspectos.
A “inquietação“ em relação às demarcações, a aferição obsessiva das
fronteiras, o medo das transgressões e a necessidade de reordená-las podem ser
interpretadas como marcas da diferenciação do modernismo“ (Mancebo, 1999-b), que
levam os Estados a penetrarem e interferirem mais profundamente na sociedade,
através de soluções institucionais que solicitam uma obediência passiva aos cidadãos,
em contraposição à mobilização ativa do período.
Uma síntese desse período, considerando a relação estabelecida entre
indivíduos e Estado, poderia assim ser enunciada: por um lado, assiste-se ao
alargamento dos direitos sociais - no domínio das relações de trabalho, da seguridade,
da saúde, da educação e da habitação – que torna possível vivências de autonomia,
de liberdade e abre novos horizontes ao desenvolvimento dos indivíduos; mas, por
outro lado, as instituições estatais desenvolvidas para fazer jus a esse
desenvolvimento societal aumentaram o peso burocrático e a vigilância controladora
sobre os indivíduos; sujeitaram-nos intensamente ao ciclo da produção e do consumo;
aprofundaram o espaço urbano desagregador e atomizado, destruíram muitas redes
sociais de interconhecimento, de ajuda mútua e de solidariedade; promoveram uma
indústria de tempos livres e uma cultura, que restringiram o lazer a um gozo
programado, heterônomo, passivo e individual (Mancebo, 1999-a, p. 41-42).
Desse modo, assiste-se, sob o Estado-Providência, a um processo de
subjetivação, que a um só tempo alargou os horizontes possíveis da autonomia liberal,
mas que subordinou a individuação às exigências de uma razão tecnológica
disciplinar. A ocorrência de um Estado que se configura inapelavelmente interventor e
planificador gera efeitos vivenciados no plano da subjetividade, pelo aumento da
tensão entre a subjetividade-individual, que remete ao princípioliberal da liberdade, e
a cidadania direta ou indiretamente regulada e estatizada, que remeteria ao princípio
da igualdade (Mancebo, 1999-b, p. 69).
Neoliberalismo e Novos Arranjos da Subjetividade
7
A partir do esgotamento do regime de acumulação fordista, em finais dos anos
60, consolida-se outra alternativa política, econômica, social, jurídica e cultural para a
crise econômica do mundo capitalista, que vem sendo designada como
neoliberalismo.
O neoliberalismo, como arcabouço teórico e ideológico, na realidade, não é algo
novo. Nasce com o combate implacável, no início dos anos 40, às teses keynesianas,
ao ideário do Estado-Providência, ao Estado planificador, desenvolvendo críticas
implacaváveis aos direitos sociais e aos ganhos de produtividade auferidos pela classe
trabalhadora. Naquele momento histórico, no contexto da devastação provocada pela
guerra, esse ideário não encontrava suportes políticos e sociais para se apresentar
como uma alternativa econômica. Tal fato só se dá há aproximadamente 30 anos,
quando o neoliberalismo firma-se como uma necessidade global de restabelecimento
da hegemonia burguesa, trazendo implicações não só para a vida econômica, mas
também para as diversas relações que se estabelecem entre os homens.
O princípio básico dessas orientações é o princípio do mercado, que adquiriu
pujança sem precedentes, extravasou do econômico e procurou colonizar o próprio
Estado e a sociedade. Sob esse ideário, as relações de mercado competitivas e
otimizadoras, constituem-se num princípio necessário e capaz não apenas de limitar a
intervenção estatal, mas também de racionalizar o próprio governo.
No entanto, as formas neoliberais atuais diferem das formas anteriores de
liberalismo, pois não sustentam o mercado como uma realidade “quase-natural“, já
existente, assegurada pela livre conduta dos próprios indivíduos e supervisionada à
distância pelo Estado. O mercado neoliberal só pode existir sob certas condições
jurídicas, políticas e institucionais, que devem ser ativamente implementadas e
construídas, o que abrange o desenvolvimento de “formas artificialmente arranjadas
ou impostas da conduta livre, empresarial e competitiva de indivíduos econômico-
racionais“ (Peters, 1995, p. 220).
Na realidade, o Estado neoliberal apresenta-se de maneira paradoxal, pois ao
mesmo tempo que, no jogo internacional, os Estados parecem ter perdido parte
substancial de sua soberania para regular as esferas da produção (privatizações,
desregulação da economia) e da reprodução social (retração das políticas sociais, crise
do Estado-Providência), ao mesmo tempo que, no plano interno, a defesa do
“enxugamento“ estatal ganha dimensões de um Estado mínimo; de outro, assiste-se
ao aumento do autoritarismo do Estado, que é produzido parcialmente pela congestão
institucional da burocracia do Estado e, em parte, pelas próprias políticas do Estado no
sentido de devolver à sociedade civil competências e funções, assumidas no período
do Bem-Estar, e que agora parece estrutural e irremediavelmente incapaz de exercer
e desempenhar (Santos, 1997, p.88-89).
A par das funções paradoxais que o Estado neoliberal vem desempenhando,
quando se trata de analisar as transformações culturais e ideológicas, é preciso
afirmar clara e objetivamente a necessidade de esse ideário contar com um “novo
homem“. Primeiramente, com indivíduos que introjetem o valor mercantil e as
relações mercantis como padrão dominante de interpretação do mundo,
reconhecendo no mercado o âmbito em que, “naturalmente“, podem - e devem -
desenvolver-se como pessoas humanas (Mancebo, 1996, p.19). A lógica do mercado
8
apresenta-se, então, como a função estruturadora das relações sociais e políticas,
comportando um viés de interpretação dos homens marcadamente utilitarista;
segundo a qual a motivação dos comportamentos humanos pauta-se por um
utilitarismo individual.
Hayek (1990), por exemplo, pioneiro das idéias neoliberais, defende um modelo
de individualismo, partindo do pressuposto incontestável “de que os limites dos
nossos poderes de imaginação nos impedem de incluir em nossa escala de valores
mais que uma parcela das necessidades da sociedade inteira“ (Hayek, 1990, p. 76),
na medida em que o ganho estritamente pessoal é o que nos motiva e orienta.
Enfatiza o comportamento humano como orientado pelo auto-interesse e argumenta
que o indivíduo deve “seguir seus próprios valores e preferências em vez dos de
outrem... o sistema de objetivos do indivíduo deve ser soberano, não estando sujeito
aos ditames alheios“ (p. 76).
No liberalismo clássico, pelo menos em uma de suas formas, havia um apelo à
razão sob a forma de um individualismo que privilegiava o sujeito racional,
cognoscente, como a fonte de todo conhecimento, significação, autoridade moral e
ação. A variante particular dessa metanarrativa, própria ao neoliberalismo, baseia-se
num moderno postulado sobre o comportamento, denominado homo economicus,
segundo o qual “as pessoas devem ser tratadas como maximadores racionais da
utilidade para reforçar seus próprios interesses (definidos em termos de posições
mensuráveis de riqueza) na política, assim como em outros aspectos da conduta“
(Peters, 1995, p. 221).
Para Friedman (1985), principal representante da Escola de Chicago, mesmo os
problemas éticos devem ser deixados a cargo do próprio indivíduo. Os fins sociais se
limitam às coincidências que se possam estabelecer entre objetivos individuais. A
tendência natural do homem residiria na busca de sua própria felicidade, ou ao “que
ele deve fazer com a sua liberdade“ (p. 21); é essa busca atomizada que pode
conduzir a um equilíbrio dentro da sociedade e a um aumento do bem-estar de todos.
Da discussão anterior tem-se que, em tese, o postulado liberal da liberdade
encontra-se profundamente exacerbado no ideário neoliberal, a partir de suas teses
em defesa de um Estado não-planificado, que possibilite aos indivíduos uma conduta
plenamente livre. No entanto, o mesmo não se pode dizer do princípio da igualdade.
“Na realidade, a desigualdade dos homens é um pressuposto fundamental dessa
concepção, constitui uma necessidade social, já que na acepção dos doutrinadores
neoliberais a desigualdade permite o equilíbrio, a complementação de funções,
fomenta a competição e desse modo, promove o desenvolvimento“ (Mancebo, 1999-
b, p. 79).
Em síntese, nesta sociedade assumidamente dualizada, assiste-se a uma
hipertrofia da “liberdade“ individual – tomada de forma abstrata e desconsiderando as
condições concretas que os homens apresentam para o seu exercício – e a um
rebaixamento do princípio da igualdade, com o decorrente refluxo dos direitos próprios
à cidadania social.
Por seu turno, os princípios comunitários, coletivos, sociais também atravessam
profundas transformações, no sentido do seu rebaixamento. O fortalecimento das
práticas classistas e coletivas, obtido ao longo do período do Bem-Estar, enfraquecem
de novo, diante do estímulo neoliberal à competição, ao sucesso a qualquer preço,
9
minando os espaços de ação intersubjetiva e sócio-política. A valorização da psique e
da interioridade, o investimento no próprio self, dentre outros comportamentos
próprios à sociedade “intimizada“ (Sennett, 1988), também são contabilizáveis no
mercado cultural e na busca da felicidade individual, fornecendo um tempero especial
à dinâmica de auto-investimento, de modo que o resultado encontrado é, na
expressão de Arendt (1980), o encontro de um homem moderno (ou pós-moderno)
literalmente desligado do mundo, “desinteressado“.
Retomando as matrizes componentes da subjetividade, emergentesnos dois
séculos passados, tem-se nos dias que correm um homem movido pelo individualismo
competitivo, pela intimização exacerbada, pela disciplina e docilidade imposta aos
corpos, ou por todas essas dinâmicas combinadas, mas submetido ao império de uma
uma micro-ética que o impede de formular e agir em prol de acontecimentos globais
(Mancebo, 1999-b).
Finalizando, a produção do homem movido por seus estritos interesses, e
indiferente à esfera pública, assume dimensões de controle e regulamentação da vida
das populações, central para o projeto neoliberal em curso. E neste ponto, é preciso
relembrar Foucault (1994) para quem “a integração dos indivíduos a uma comunidade
ou totalidade resulta de uma correlação permanente entre uma individualização
sempre mais avançada e a consolidação desta totalidade“( p. 827).
Considerações Finais
Ao longo deste trabalho, uma certa ênfase foi dada aos modos de sujeição na
constituição dos sujeitos. Isto se traduziu num certo pessimismo quanto às relações
que os homens vêm estabelecendo entre si e na ênfase dada às relações de
dominação como um fator instituinte da interação entre os homens. No entanto, é
preciso destacar que não se creditou o homem disciplinado ou o “mínimo-eu“ (Lasch,
1983) como o último e derradeiro esforço de constituição das subjetividades, nem o
único presente em nosso horizonte de possibilidades.
Na realidade, percorreu-se um terreno que aponta para uma das posições éticas
mais caras a Foucault e com o qual se mantém estreita concordância: uma postura de
“hiper-militantismo pessimista“ (Foucault, 1994, p. 386). De todo modo, faz-se
necessário tecer algumas considerações quanto a uma acusação bastante plausível
em relação a este texto: a de tratar-se de uma análise pessimista e paralisante.
Uma primeira argumentação residiria no propósito desenvolvido sinteticamente,
ao longo desse trabalho, de apresentar instituições, estruturas de poder e as formas
dos sujeitos se conceberem e se tratarem, a partir de uma ressonância no complexo
histórico. Deste modo, instituições, poder e sujeitos são discutidos como configurações
mais ou menos transitórias, não naturalizadas, havendo, por certo, a possibilidade de
serem transformadas.
Acredita-se ainda ser possível buscar e desenvolver outros modos de vida,
distintos dos existentes no mundo relacional atual. A sociedade atual e as instituições
que constituem sua ossatura, por certo, limitaram a possibilidade de relações e
rebaixaram o eu a um mínimo, na ânsia de construir um mundo mais fácil de ser
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gerido e administrado. No entanto, com Foucault (1994), defende-se a possibilidade de
“bater-nos contra este empobrecimento do tecido relacional (contra...) um mundo
legal, social, institucional, onde as únicas relações possíveis são extremamente pouco
numerosas, extremamente esquematizadas, extremamente pobres“ (p. 309).
Encontra-se no horizonte, não sem dificuldades, a possibilidade de se criar um
tecido relacional mais rico, intenso, plural, que ofereça novas possibilidades de
satisfação emocional e de relações entre os homens. A radical experiência de
desterritorialização que vivenciamos, aliada a um julgamento rigoroso da conjuntura
histórica particular em que vivemos – a cultura do narcisismo - pode, ou não,
aproximar-nos de uma “arte de viver“, no sentido apontado pela “estética existencial“
de Foucault: uma reorganização da existência, sem qualquer compromisso com a
procura de uma “verdade de si“, mas comprometida com um trabalho sobre si que
possa dar respostas ao tempo presente, uma ética que milite contra os estados de
dominação e a favor de uma eventual inversão e/ou descongelamento das relações de
poder hoje instituídas.
Em outros termos, a regulamentação política da sociedade, a racionalização e a
burocratização das diversas esferas do socius delineiam horizontes, mas não impedem
a construção de uma nova economia das relações de poder; não impedem uma “arte
de viver“ que possibilite o estabelecimento de uma relação sólida conosco mesmo e a
tomada de decisões pessoais; o exercício de uma micropolítica que não abandone a
política aos representantes do Estado ou a qualquer outra instância soberana, que
pretenda substituí-lo ou suplantá-lo; uma organização da existência insubmissa à
norma e às convenções, que reivindica a si possibilidades de escolher (Schmid, 1996).
Retomar a “estética da existência“ nas características fundamentais
assinaladas por Foucault comportaria, ainda, uma racionalidade estética, ou uma
capacidade de percepção e abertura para a experiência, não só no domínio da vida
privada, mas também uma sensibilidade política a tudo que é intolerável e inaceitável;
uma capacidade de escolha que não consista, de modo algum, numa simples relação
consigo mesmo; uma capacidade de julgamento incessantemente reconstituída como
resultado da comunicação e enfrentamento com os outros.
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* Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Doutora em História da Educação pela Pontifícia Universidade 
1 As idéias centrais discutidas neste texto foram retiradas da tese "Modernidade e
Produção de Subjetividades: gênese e desenvolvimentos atuais", defendida em
outubro de 1999, como um dos requisitos para o concurso de Professora Titular de
Psicologia do Departamento da Psicologia Social e Institucional da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. 
2 Louis Dumont (1985) tem sido outra referência central para a discussão desta tese.
Em suas pesquisas e análises, afirma a existência de sociedades nas quais as
ideologias holistas, apoiadas na hierarquia, são dominantes e o espaço para a
emergência de um ethos individualista e igualitário é bastante reduzido. O
florescimento da própria noção de indivíduo como categoria dominante é identificado,
por este autor, como um processo relativamente recente, emergente a partir dos
séculos XVII e XVIII, com o advento da sociedade moderna ocidental, na qual se
organizam domínios descontínuos da sociedade como a economia e a política e se
enfraquece a articulação e integração (holística) proporcionada anteriormente pela
religião. O mundo moderno seria, portanto, a expressão mais aguda da fragmentação
e individualização, campo necessário ao desenvolvimento dos indivíduos. 
3 Dois autores merecem destaque quanto a esta discussão. Primeiramente, Norbert
Elias (1993, 1995, 1998) e as análises que desenvolveu sobre o “processo civilizador“.
Para ele, o processo civilizador implicou a construção de referências de sociabilidade,
através de um árduo processo, desenvolvido nas cortes do século XVII. Nestas, foram
sendo tecidas formas de civilidade, distâncias bem dosadas em relação ao outro,
assim como regras de conduta, tanto entre grupos sociais, quanto entre homens e
mulheres, crianças e adultos, que garantiram, no século XVIII, um convívio público
respeituoso, não-invasivo e claramente definido. O outro autor a ser destacado para a
análise das clivagens estabelecidas entre as esferas pública e privada é Richard
Sennett (1988), para quem o crescimento da vida urbana e o decorrente
estranhamento dos homens, em relação aos novos espaços do século XVIII,
constituíram-se, mais do que o ambiente das cortes, em fatores decisivos para o
fomento dessas redes de sociabilidade controladas e ordenadoras do espaço público.
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