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EA
D
2
Antiguidade Tardia: Entre 
a Tradição do Cristianismo 
Imperial e o 
Paganismo
1. OBJETIVOS 
•	 Perceber	 as	mudanças	 históricas	 pelas	 quais	 o	 Império	
Romano	passou	ao	longo	do	século	3º.
•	 Identificar	as	continuidades	conceituais	e	teóricas	entre	o	
cristianismo	e	a	filosofia	romana	imperial	e	grega.
•	 Compreender	a	importância	do	período	para	a	consolida-
ção	e	a	estruturação	de	uma	ortodoxia	cristã	constituída	
ao	longo	da	Antiguidade	Tardia.
2. CONTEÚDOS
•	 Final	do	Baixo	Império	Romano	e	a	perseguição	aos	cris-
tãos	por	Diocleciano.
•	 A	conversão	de	Constantino	e	o	fim	da	perseguição	aos	
cristãos.
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
62
•	 Os	 primeiros	 concílios	 ecumênicos	 e	 as	 controvérsias	
doutrinárias.
•	 A	 expansão	 do	 cristianismo	para	 o	Ocidente,	 alguns	 de	
seus	principais	teóricos	e	o	conflito	com	o	paganismo.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Procure	acompanhar	o	conteúdo	desta	unidade	sem	se	
ater	apenas	ao	que	aprendeu	no	Ensino	Médio.	Abra-se	
a	novas	perspectivas	de	aprendizagem.
2)	 Agostinho	de	Hipona	é	uma	das	figuras	centrais	de	nos-
sos	estudos	sobre	o	Medievo.	Antes	de	iniciarmos	o	es-
tudo	da	unidade,	é	importante	adquirirmos	algumas	in-
formações	suplementares	sobre	Agostinho	e	o	contexto	
histórico	em	que	esteve	inserido:
•	 A	 partir	 do	 ano	 303,	 o	 imperador	 romano	 Diocle-
ciano	deflagrou	uma	forte	perseguição	aos	cristãos.	
Esse	 ato	 deu	 origem	 à	 controvérsia	 donatista	 do	
Norte	da	África,	que	teve	em	Agostinho	seu	maior	
opositor.	 Os	 donatistas	 defendiam	 a	 pureza	moral	
de	seus	membros	em	decorrência	de	sua	recusa	em	
queimar	os	exemplares	da	Escritura	como	havia	sido	
determinado	 por	 Diocleciano.	 Os	 bispos	 eleitos	 e	
que	haviam	participado	desse	movimento	no	tempo	
da	"grande	perseguição"	eram	considerados	traido-
res	pelos	donatistas	e,	com	isso,	deveriam	ser	subs-
tituídos	em	seus	 cargos	por	bispos	puros,	ou	 seja,	
donatistas.	
•	 Para	saber	mais	sobre	o	donatismo	e	Santo	Agosti-
nho,	sugerimos	a	leitura	de	algumas	obras:
BROWN,	P.	Agostinho: uma	biografia.	Rio	de	Janeiro:	
Record,	2005.
63© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
SANTO	AGOSTINHO.	Instrução aos catecúmenos.	Rio	
de	Janeiro:	Vozes,	2005.
SANTO	AGOSTINHO.	Confissões.	São	Paulo:	Paulus,	
1997.
3)	 Os	dados	a	seguir	ajudarão	você	a	compreender	melhor	
o	conteúdo	que	trabalharemos.	Leia-os	atentamente	e	
complemente	seu	conhecimento.
a)	 No	 ano	 de	 325,	 trezentos bispos	 reuniram-se	 no	
Concílio de Niceia	para	discutir	sobre	a	natureza	de	
Jesus	(humana,	divina	ou	dupla).	Dos	trezentos	bis-
pos,	a	maioria	era	oriental.	Apenas	três	deles	vieram	
do	Ocidente	(Gália,	Hispânia	e	Itália).	Porém,	as	de-
terminações	de	Niceia	tiveram	uma	aceitação	geral.	
Por	isso,	ele	é	considerado	o	primeiro	concílio	ecu-
mênico.
b)	 A	cidade	de	Constantinopla	foi	construída	na	época	
de	Constantino	para	ser	uma	das	moradas	do	impe-
rador.	 Ao	 longo	 do	 século	 6º,	 ganhou	 importância	
e	 tornou-se	 a	 capital	 do	 Império	Oriental,	 equipa-
rada	a	Roma,	 tal	qual	expresso	no	terceiro	cânone	
do	Concílio	de	Constantinopla	de	381:	"O	bispo	de	
Constantinopla	tem	o	primado	de	honra	logo	depois	
do	Bispo	de	Roma,	visto	que	Constantinopla	é	uma	
nova	Roma"	(Zilles,	U.	(Ed.)	Documentos dos oito pri-
meiros concílios ecumênicos.	 Porto	 Alegre:	 EDIPU-
CRS,	2000,	p.	30).	
c)	 Foi	no	Concílio	de	Constantinopla	de	381	que	o	cris-
tianismo	se	tornou	a	religião	oficial	do	Império.	Esse	
foi	o	segundo	concílio	ecumênico.
d)	 A	 defesa	 da	 consubstancialidade	 estava	 vinculada	
ao	debate	sobre	o	termo	grego	usado	pelos	filósofos	
Plotino	e	Porfírio,	homoousios,	(termo	usado	pelos	
filósofos,	cujo	significado	equivale	ao	de	consubstan-
cialidade).	Com	ele,	atribuía-se	um	vínculo	ontológi-
co	de	natureza	entre	os	membros	e	designava	"seres	
pertencentes	 à	mesma	 classe	 enquanto	 partilham	
entre	si	o	mesmo	tipo	de	conteúdos"	(MONDONI,	D.	
História da Igreja na Antiguidade.	São	Paulo:	Loyola,	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
64
2001,	 p.	 123).	 Em	 latim,	 o	 termo	empregado	para	
substituir	ousia	foi	substantia,	que	significa	“aquilo	
que	dá	origem,	que	subsiste,	que	sustenta”.
e)	 Leia	o	capítulo	19	da	obra	A Cidade de Deus,	de	Santo	
Agostinho,	para	entender	a	inversão	feita	por	Agos-
tinho	no	conceito	de	"república"	de	Cícero.	Se	qui-
ser	se	aprofundar	mais	no	tema,	pode	ler	também	
a	obra:	CÍCERO,	Marco	Túlio.	Da república.	Tradução	
de	Amador	Cisneiros.	Bauru:	Edipro,	1995.
f)	 Caso	queira	se	aprofundar	no	tema	da	relação	en-
tre	a	religião	e	a	arte	de	governar,	recomendamos	a	
consulta	à	obra:
SENELLART,	M.	As artes de governar.	São	Paulo:	Edi-
tora	34,	2005.
4)	 Alguns	autores	serão	citados	no	decorrer	do	conteúdo,	e	
é	importante	que	você	obtenha	um	conhecimento	pré-
vio	a	respeito	deles.	Observe	as	informações	a	seguir	so-
bre	dois	expoentes	do	período	que	estudamos:
Eusébio de Cesareia
Eusébio de Cesareia viveu entre 263 e 340 e foi ordenado 
bispo de Cesareia em 313. Sua produção escrita inclui diver-
sas obras, dentre as quais as mais importantes são História 
Eclesiástica e Vida de Constantino. Eusébio é conhecido por 
ter passado, com sua escrita, a ideia de uma Igreja triunfante 
e que caminhava rumo à unidade política graças ao pulso 
firme do imperador (imagem disponível em: <http://www.cot.
org.br/igreja/img/eusebio-de-cesareiajpg.jpg>. Acesso em: 16 
fev. 2011). 
Tertuliano
Uma das principais figuras do cristianismo do século 2º, Quin-
to Septimo Florêncio Tertuliano, mais conhecido como Ter-
tuliano, contribuiu significativamente para o debate em torno 
do Ministério da Trindade (imagem disponível em: <http://
wapedia.mobi/thumb/3ad1500/pt/fixed/171/235/Tertullian_2.
jpg?format=jp>. Acesso em: 16 fev. 2011). 
65© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE 
Na	unidade	anterior,	vimos	que	o	conceito	de	“Idade	Média”	
foi	construído	com	base	em	um	aparato	historiográfico	que	situa	
os	acontecimentos	do	período	sob	uma	determinada	perspectiva.	
Agora,	vamos	refletir	sobre	os	eventos	que	marcaram	o	que	
se	convencionou	chamar	de	Idade	Média.	Nessa	análise,	teremos	
em	vista	a	construção	de	uma	sociedade	cristã,	com	vínculos	de	
parentesco,	de	amizade	e	de	política,	em	grande	medida	determi-
nados	por	uma	Instituição	que	é	a	“herdeira	legítima”	do	Império	
Romano:	a	Igreja.	
Certamente,	esse	processo	de	conquista	dos	territórios	sob	
administração	romana	e	de	expansão	da	religião	nascida	no	Orien-
te	foi	lento	e	dependeu	de	acordos,	avanços	e	retrocessos	nas	re-
lações	entre	Igreja	e	Império.	
O	próprio	dogma	cristão	 teve	seu	nascimento	ao	 longo	da	
Idade	Média	 e	 sofreu	 várias	 contestações	 e	 adaptações	 para	 se	
fortalecer	 e	 ser	 condizente	 com	a	 estrutura	 institucional	 que	 se	
formava.	Desse	modo,	podemos	afirmar	que	o	cristianismo	tam-
bém	foi	uma	construção	histórica.
Vimos	também	que	o	período	que	vai	do	final	do	século	3º	
ao	início	do	século	6º	foi	crucial	para	a	vitória	do	cristianismo	como	
religião	oficial	do	Império	e	para	sua	expansão	aos	territórios	mais	
ocidentais	do	mundo	que	eles	conheciam	na	época.	
Denominamos	esse	momento	de	“Antiguidade	Tardia”,	por	
ser	um	momento	em	que	ainda	havia	uma	sociedade	romana	em	
evidência,	regida	por	 leis	determinadas	pelo	 imperador	romano.	
Ao	mesmo	tempo,	um	episcopado	começava	a	se	estruturar	e	a	
ganhar	força	entre	uma	população	urbana,	fora	da	elite	pagã.	
Lembremo-nos	de	que	já	não	estamos	diante	de	um	cená-
rio	totalmente	marcado	pela	força	de	um	Império	pagão,	mas,	ao	
© História MedievalI
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
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mesmo	tempo,	ainda	não	temos	nesse	momento	a	Igreja	comple-
tamente	estruturada	e	estabelecida.	As	duas	instituições	caminha-
vam	lado	a	lado.	
Dessa	 forma,	 a	 sociedade	 ainda	 não	 se	 identificava	 total-
mente	como	cristã,	mas	assistia-se	ao	aumento	de	cristãos	e	da	
importância	dos	bispos	como	figuras	públicas	de	grande	destaque,	
inclusive	no	meio	político.	
Nesta	unidade,	conheceremos	os	movimentos	de	ruptura	e	
de	continuidade	que	marcaram	esse	importante	momento	para	a	
formação	da	sociedade	cristã	medieval.	Mas	tenham	sempre	em	
mente	que,	em	História,	as	rupturas	são	frutos	de	longos	proces-
sos	e	que	na	continuidade	há	alterações	importantes	a	serem	con-
sideradas.
5. O BAIXO IMPÉRIO ROMANO E A PERSEGUIÇÃO 
AOS CRISTÃOS POR DIOCLECIANO
Os	séculos	2º	e	3º	da	Era	Cristã	foram	marcados	por	momen-
tos	de	grande	 instabilidade	na	política	 imperial.	Entre	a	morte	do	
Imperador	Cômodo	em	192	e	a	chegada	ao	poder	de	Diocleciano	
em	284,	o	Império	Romano	sofreu	as	pressões	dos	bárbaros	ao	lon-
go	do	rio	Danúbio,	o	fortalecimento	do	Exército	e	a	insegurança	ge-
neralizada	provocada	pela	inflação	e	pelo	aumento	dos	impostos.
Esse	período	de	 instabilidade	e	tentativas	de	solucionar	os	
problemas	administrativos	do	Império	foi	chamado	pela	historio-
grafia	de	"crise	do	século	3".
Segundo	Patrick	Geary	 (1989),	 a	 crise	do	 Império	Romano	
foi	marcada	pela	pressão	do	Exército	na	escolha	e	na	deposição	
dos	imperadores,	o	que	resultou	em	conflitos	para	a	determinação	
dos	candidatos	à	insígnia	imperial.	Esses	conflitos	tinham	sua	ori-
gem	na	responsabilidade	desses	imperadores	para	com	o	enrique-
cimento	dos	soldados	e	sua	condução	à	vitória	frente	aos	ataques	
vindos	do	Norte	e	do	Oriente.	
67© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
Diocleciano,	que	esteve	no	poder	entre	284	e	305,	 tomou	
como	tarefa	a	reestruturação	do	Império	e,	para	tanto,	estabele-
ceu	algumas	medidas	importantes.	Uma	delas	foi	a	divisão	dos	ter-
ritórios	administrados	pelo	Império	em	duas	porções:	
•	 As	 regiões	 situadas	 ao	Oriente,	 cujas	 principais	 cidades	
eram	Alexandria	(Egito),	Antióquia	(Síria),	Éfeso	(Ásia	Me-
nor)	e	Constantinopla,	ficariam	a	cargo	do	próprio	Diocle-
ciano.	
•	 As	cidades	do	Ocidente	–	Roma	e	as	regiões	do	Norte	da	
África,	da	Gália	(atual	França),	da	Hispania	(atual	Penínsu-
la	Ibérica)	e	da	Bretanha	(sul	da	Inglaterra)	–	ficariam	sob	
responsabilidade	de	Maximiano.	
Por	volta	de	292,	esse	dispositivo	 foi	complementado	com	
a	 chamada	 "tetrarquia".	 Nela,	 quatro	 homens	 seriam	 responsá-
veis	pela	administração	do	Império	em	sua	divisão	Leste-Oeste,	ou	
seja,	Oriente-Ocidente.	
Assim,	 Diocleciano,	 Maximiano,	 Galério	 e	 Constâncio	 par-
tilhariam	o	 Império,	os	dois	últimos	somente	ganhariam	o	título	
imperial	em	caso	de	morte	ou	desistência	dos	"augustos".	Essa	su-
cessão	 regida	pela	 lei	 substituiu	 a	 sucessão	hereditária	utilizada	
até	então	–	até	que,	após	a	morte	de	Constâncio,	a	hereditarieda-
de	passou	a	prevalecer	novamente.
Diocleciano	ficou	conhecido	como	o	imperador	que	levou	a	
cabo	a	"grande	perseguição"	contra	os	cristãos.	Em	303,	ele	publi-
cou	um	édito	que	ordenava	a	queima	de	todos	os	exemplares	das	
Escrituras	e	a	destruição	dos	locais	de	culto	cristãos.	
Pelo	édito,	os	cristãos	estavam	proibidos	de	se	reunir,	eram	
destituídos	do	direito	de	cidadania	e	seus	bispos	seriam	aprisiona-
dos.	A	repercussão	da	"grande	perseguição"	foi	sentida	mais	for-
temente	no	Oriente,	uma	vez	que	foi	primeiramente	nessa	região	
que	o	cristianismo	nasceu	e	ganhou	força	entre	a	classe	média	ur-
bana.	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
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Desse	modo,	um	importante	tema	de	estudo	para	esse	perí-
odo	é	o	deslocamento	do	cristianismo	para	o	Ocidente,	que	o	fez,	
segundo	Jacques	Le	Goff	(1980),	se	adaptar	a	um	contexto	muito	
diverso	daquele	no	qual	surgira.
A	divergência	entre	o	cristianismo	oriental	e	o	ocidental	foi	
analisada	por	Peter	Brown	(1985).	Segundo	ele,	o	cristianismo	não	
decorria	 da	 divisão	 administrativa	 realizada	 por	 Diocleciano.	 Se	
hoje	temos	uma	relação	de	estranhamento	com	o	Oriente	e	não	
compreendemos	muito	bem	o	modo	de	vida	das	sociedades	orien-
tais,	 durante	o	primeiro	milênio	 essa	 relação	de	estranhamento	
não	existia.
Aproveitando	o	ensejo,	pesquise	o	significado	do	termo	“al-
teridade”.	Estabeleça	uma	relação	entre	o	conceito	de	alteridade	e	
o	de	“identidade”,	e	verá	como	essa	relação	é	bem	aplicável	nesta	
nossa	reflexão.
Prosseguindo:	 se	 não	 havia	 o	 estranhamento	 entre	Orien-
te	e	Ocidente,	existia	em	relação	àqueles	que	habitavam	o	Norte	
das	cidades	mediterrâneas.	Configurava-se	uma	divisão	na	direção	
Norte/Sul,	marcada	pelo	pertencimento	ou	exclusão	na	política	e	
na	cultura	romana.	
Isso	acontecia	porque	o	Mediterrâneo	fornecia	às	cidades	do	
Império Romano,	fossem	aquelas	do	Oriente,	fossem as	do	Ociden-
te,	uma	unidade	fundamental	na	cultura	e	no	reconhecimento	espa-
cial.	Essa	unidade	só	foi	rompida	posteriormente,	quando	a	história	
das	duas	porções	mediterrâneas	foi	marcada	pelo	deslocamento	ao	
Norte,	ocasionado	pela	instalação	dos	povos	germânicos.	
Com	a	morte	de	Constâncio,	sucessor	de	Diocleciano,	o	po-
der	imperial	foi	assumido	por	seu	filho	Constantino.	A	ascensão	de	
Constantino	foi	uma	etapa	crucial	tanto	para	o	reconhecimento	do	
cristianismo	quanto	para	a	pacificação	do	 Império	e	 sua	 reunifi-
cação.	A	partir	daí,	essa	religião	até	então	marginalizada	transfor-
mou-se	em	uma	instituição	envolvida	com	as	questões	do	poder,	
pregando	um	discurso	universalista	de	igualdade,	que	passou	a	ser	
tão	grande	quanto	o	próprio	Império.	
69© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
6. A CONVERSÃO DE CONSTANTINO E O FIM DA PER-
SEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS
Segundo	o	historiador	Paul	Veyne	(2007,	p.	9),	"um	dos	mo-
mentos	decisivos	da	história	ocidental	e	mesmo	mundial	produziu-
se	em	312	na	imensidão	do	Império	Romano".	Essa	data	remete	à	
conversão	de	Constantino	ao	cristianismo,	que	transformou	o	trono	
romano	cristão	e	a	Igreja	em	uma	força	política.	Constantino	foi	o	
primeiro	imperador	a	se	converter	pessoalmente	ao	cristianismo.	
A	conversão	de	Constantino	não	tornou	o	cristianismo	a	re-
ligião	oficial	de	todo	o	Império,	mas	foi	uma	atitude	fundamental,	
pois	tornou	possível	a	expansão	do	cristianismo	e	o	reconhecimen-
to	de	sua	importância	e	de	sua	igualdade	em	relação	ao	paganis-
mo	ainda	dominante.	
Constantino	também	não	foi	o	único	responsável	pelo	fim	
da	 perseguição	 aos	 cristãos,	 mas	 favoreceu	 o	 cristianismo	 em	
face	do	paganismo,	bem	como	se	esforçou	para	centralizá-lo.	
E	o	que	faria	um	imperador	aderir	a	uma	religião	até	então	
marginalizada	e	vista	com	péssimos	olhos	pela	maioria	dos	habi-
tantes	do	Império	Romano?	Constantino	teria	visto	no	cristianismo	
a	possibilidade	de	mudar	a	História?	Teria	sido	um	oportunista?	
É	 importante	que	nos	 lembremos	de	que,	no	momento	da	
conversão	 de	 Constantino,	 apenas	 5%	 ou	 6%	 da	 população	 era	
cristã.	 Certamente,	 Constantino	 foi	 um	 grande	 político,	 embora	
suas	ações	não	o	tenham	beneficiado	na	mesma	medida	em	que	
beneficiaram	o	cristianismo.
Segundo	Bury	(apud	Veyne,	2007),	a	conversão	de	Constan-
tino	foi	um	dos	atos	mais	audaciosos	da	História,	pois	com	ele	o	
imperador	desafiou	e	desprezou	a	opinião	da	grande	maioria	dos	
habitantes	do	Império.	
É	importante	ressaltar	a	mudança	realizada	por	essa	conversão,	
que	colocou	o	cristianismo	no	primeiro	plano	da	cena	histórica	e	fez	
da	salvação	dos	homens	a	finalidade	do	próprio	ato	de	governar.	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
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A	conversão	foi	narrada	por	dois	autores	cristãos,	seus	con-
temporâneos,	mas	o	 relato	mais	 conhecidofoi	 o	de	Eusébio de 
Cesareia.	Segundo	ele,	Constantino	é	o	salvador	dos	cristãos,	que	
chegou	 depois	 de	 um	 período	 conturbado	 de	 guerras,	 pestes	 e	
fome,	consequências	diretas	do	castigo	de	Deus	contra	os	homens.	
Vejamos	o	que	Eusébio	(2005,	p.	308)	diz	sobre	Constantino: 
Constantino	 foi	 o	 primeiro	 dos	 dois	 [Licínio]	 –	 primeiro	 também	
em	honra	e	dignidade	imperiais	–	que	mostrou	moderação	com	os	
oprimidos	pelos	tiranos	em	Roma.	Depois	de	invocar	como	aliado	
em	suas	orações	ao	Deus	do	céu	e	a	seu	Verbo,	e	ainda	ao	próprio	
Salvador	 de	 todos,	 Jesus	 Cristo,	 avançou	 com	 todo	 seu	 exército,	
tentando	alcançar	para	os	romanos	sua	liberdade	ancestral.	
A	invocação	de	Deus	e	de	Jesus	Cristo	por	Constantino		in-
seriu-se	no	cenário	de	conflitos	pela	posse	do	trono	romano.	Por	
determinação	de	Diocleciano,	Constantino	dividia	o	Império	com	
Licínio,	que	governava	as	 regiões orientais.	Maxêncio,	sem	fazer	
parte	do	poder	oficial,	havia	conquistado	o	governo	da	Itália,	que	
era	território	de	Constantino.	
Nessa	batalha,	Constantino	acabou	se	convertendo	após	um	
sonho	e	saiu	vitorioso	do	conflito.	No	sonho,	o	Deus	dos	cristãos	
lhe	prometeu	a	vitória	se	ele	se	declarasse	publicamente	cristão.	
A	declaração	de	Constantino	foi	feita	e	o	Exército	ganhou	um	
novo	signo	para	adornar	seus	escudos:	o	cristograma.	Ele	era	re-
presentado	pelas	duas	primeiras	letras	de	Cristo,	em	grego,	super-
postas	e	cruzadas.	
Analisemos	 o	 que	 a	 historiografia	 considerou	 ao	 atribuir	
suma	importância	ao	Édito	de	Milão	para	a	determinação	da	Era	
Cristã.	Paul	Veune	(2007)	afirma	que	a	entrada	solene	de	Constan-
tino	como	cristão	em	Roma,	em	29	de	outubro	de	312,	marcou	a	
fronteira	entre	a	Antiguidade	pagã	e	a	Era	Cristã.	
Em	 313,	 Licínio	 –	 que	 permanecia	 pagão	 –	 e	 Constantino		
reuniram-se	em	Milão	para	entrar	em	acordo	sobre	a	 tolerância	
que	deveria	haver	entre	cristãos	e	pagãos.	Porém,	ainda	que	esse	
acordo	tenha	sido	fundamental	para	que	os	cristãos	recobrassem	
71© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
o	que	haviam	perdido	nos	 tempos	de	perseguição,	não	se	pode	
dizer	que	o	Édito	de	Milão	 tenha	sido	o	 responsável	direto	pelo	
final	das	perseguições.	
A	tolerância	aos	cristãos	havia	sido	um	pressuposto	do	Édito	
de	Tolerância	de	Galério,	em	311.	O	Édito	de	Milão	validou	os	pres-
supostos	estabelecidos	naquela	ocasião	e	trouxe	instruções	com-
plementares	destinadas	aos	altos	funcionários	das	províncias:	por	
exemplo,	ordenou	a	 restituição	dos	bens	das	 igrejas	confiscadas	
no	período	das	perseguições.	
Entretanto,	o	ano	de	313	foi	considerado	uma	data	 impor-
tante	por	provocar	uma	curiosa	inversão.	Se	até	312	o	cristianismo	
era	a	religião	tolerada,	a	partir	daí	foi	o	paganismo	que	se	tornou	
“tolerável”	 frente	 a	 um	 imperador	 declaradamente	 cristão.	 Em	
324,	Constantino	venceu	Licínio	e	reuniu	as	duas	metades	do	Im-
pério	sob	seu	governo	cristão.	
Após	a	reunificação	do	Império,	Constantino	não	modificou	
sua	postura	de	tolerância	e,	com	isso,	promoveu	um	período	de	
paz,	rara	no	Império	até	então.	A	paz de Constantino	foi	expressa	
justamente	nessa	tolerância	do	imperador	em	relação	ao	paganis-
mo,	ainda	que,	em	seus	textos	oficiais,	declarasse	o	paganismo	su-
persticioso	e	inferior	ao	cristianismo.	
Constantino	não	 forçou	a	conversão	de	ninguém.	Nomeou	
pagãos	para	os	mais	altos	cargos	do	Império,	não	fez	nenhuma	lei	
contra	eles	e	permitiu	que	o	 Senado	 continuasse	dando	 crédito	
aos	cultos	públicos.	
Constantino	morreu	em	337.	Graças	a	ele,	a	 cristianização	
do	Império	pôde	se	desenvolver.	Durante	seu	governo,	a	Igreja	ga-
nhou	outro	papel:	de	instituição	tolerável,	passou	a	ser	uma	ins-
tituição	protegida	pelo	Império	e	suplantou	a	preponderância	do	
paganismo.	
Em	197,	Tertuliano	defendia	que	o	homem	não	nascia	cris-
tão,	mas	escolhia	o	cristianismo.	Três	séculos	mais	tarde,	o	batis-
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mo	transformou-se	em	um	dos	sacramentos	mais	importantes	da	
Igreja,	juntamente	com	a	eucaristia.	
Os	catecúmenos,	ou	seja,	aqueles	que	escolhiam	ser	cristãos,	
eram	instruídos	com	livros	que	foram	escritos	para	orientar	os	bis-
pos	na	educação	daqueles	que	abraçariam	a	fé	cristã.	Foi	nesse	pe-
ríodo	que	começou	a	defesa	do	batismo	da	criança,	baseando-se	
no	fato	de	que,	embora	não	se	nascesse	cristão,	nascia-se	pecador	
e	isso	legitimava	o	batismo	daqueles	que	nem	ao	menos	podiam	
declarar	uma	vontade.	Agostinho	foi	um	dos	defenderam	o	batis-
mo	das	crianças.
No	século	6º,	as	crianças	já	eram	batizadas.	Naquele	período,	
a	declaração	explícita	da	vontade	de	se	converter	era	um	pressu-
posto	fundamental	para	se	tornar	cristão.	Desenvolveu-se,	então,	
um	tipo	de	relação	social	que	ainda	hoje	conhecemos,	mas	que	foi	
completamente	inédito	para	o	período:	o	apadrinhamento.	
Apadrinhamento	 era	o	nome	que	 se	dava	à	 relação	entre	
padrinhos	e	crianças.	Compadrio	era	a	relação	entre	os	pais	e	os	
padrinhos.	A	historiadora	Anita	Guerreau-Jalabert	considera	essa	
relação	 uma	 das	 formas	 de	 "parentesco	 espiritual"	 construídas	
pelo	cristianismo.	Inclusive,	seguia	as	mesmas	regras	que	regiam	o	
parentesco	consanguíneo.	
Durante	seu	surgimento,	o	cristianismo	era	a	religião	de	uma	
população	situada	à	margem	das	esferas	de	poder.	Ao	 longo	do	
século	4º,	galgou	as	estruturas	políticas	a	ponto	de	ser	defendido	
pelos	homens	mais	eminentes	do	período.
Assim,	seus	sacramentos	começaram	a	se	desenvolver	e	os	
catecúmenos	 começaram	 a	 ser	 instruídos	 antes	 do	 batismo.	 Os	
dogmas	cristãos	começaram	a	ser	pensados,	ganharam	respaldo	
civil	e	expandiram-se	para	as	terras	mediterrâneas	ocidentais.
No	próximo	tópico,	aprofundaremos	o	estudo	desse	assunto. 
73© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
7. OS PRIMEIROS CONCÍLIOS ECUMÊNICOS E AS 
CONTROVÉRSIAS DOUTRINÁRIAS
Com	a	unificação	do	Império	sob	Constantino,	em	324,	e	com	
o	imperador	assumindo	a	função	de	protetor	dos	cristãos	e	encarre-
gado	dos	afazeres	eclesiásticos,	os	dogmas	cristãos	começaram	a	ser	
formados	com	base	na	reunião	de	concílios	ecumênicos,	cuja	função	
era	discutir	e	decidir	aquilo	em	que	os	cristãos	deveriam	acreditar.	
O	primeiro	deles	foi	o	Concílio de Niceia,	de	325,	que	discutiu	
e	condenou	a	doutrina	de	Ário,	chamada	de	arianismo.	Essa	doutri-
na	foi	uma	das	mais	importantes	em	relação	à	questão	cristológica.	
Logo	na	abertura	do	concílio	reunido	por	Constantino	na	ci-
dade	de	Niceia,	temos	a	condenação	de	Ário	e	a	determinação	de	
uma	profissão	de	fé	(o	credo),	constantemente	retomada	nos	con-
cílios	ao	longo	da	Idade	Média:
Cremos	em	um	só	Deus,	Pai	 todo-poderoso,	Criador	de	 todas	as	
coisas	visíveis	e	 invisíveis:	e	em	um	só	Senhor,	 Jesus	Cristo,	Filho	
de	Deus,	nascido	do	Pai	como	Unigênito,	isto	é	substância	do	Pai,	
Deus	de	Deus,	Luz	da	Luz,	Deus	verdadeiro,	gerado e não feito,	da	
mesma	substância	do	Pai,	 segundo	os	gregos,	consubstancial ao	
Pai.	Por	Ele	todas	as	coisas	no	céu	e	da	terra	foram	feitas,	o	qual	
por	nós	homens	e	para	nossa	salvação	desceu,	se	encarnou,	se	fez	
homem,	padeceu	e	ressuscitou	no	terceiro	dia,	subiu	aos	céus,	para	
vir	julgar	os	vivos	e	os	mortos.	(Cremos)	também	no	Espírito	Santo	
(ZILLES,	2000,	p.	17).
Com	base	na	leitura	dessa	declaração	de	fé,	você	saberia	di-
zer	qual	era	a	doutrina	defendida	por	Ário	em	relação	à	existência	
do	Filho	de	Deus?	Você	saberia	dizer	o	porquê	da	ênfase	em	deter-
minados	temas	pelos	trezentos bispos que	foram	a	Niceia? 
Vamos	refletir	para	que	seja	possível	responder	às	questões	
anteriores.	Ário	viveu	entre	260	e	335	e	foi	patriarca	de	Alexandria.	
Segundo	sua	doutrina	trinitária,	o	Pai	era	o	único	não	gerado,	não	
criado,	eterno	e	sem	princípio.	Ele	seria	anterior	ao	Filho.	Logo,	se	
este	era	posteriorao	Pai,	ele	deveria	ter	sido	criado.	Então,	Cristo	
teve	uma	origem,	uma	existência	no	tempo.	
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Com	isso,	era	possível	atribuir	uma	mutabilidade	e	uma	hu-
manidade	ao	Filho.	Se	somente	o	Pai	era	eterno,	imutável	e	cria-
dor,	Cristo	não	poderia	ser	divino	e	seria,	assim	como	o	homem,	
uma	criatura	de	Deus.	
Esse	 pensamento	 valeu	 a	 Ário	 uma	 primeira	 condenação	
no	sínodo	de	Alexandria	de	318.	Todavia,	ele	viajou	até	Cesareia	
e	Nicomédia,	divulgando	seu	posicionamento.	Em	325,	antes	de	
Niceia,	o	sínodo	de	Nicomédia	foi	favorável	à	Ário,	enquanto	o	de	
Antioquia	confirmou	sua	excomunhão.	
Arianos	e	seus	oponentes	tinham	dois	critérios	na	defesa	de	
suas	posições.	O	primeiro	era,	sem	dúvida,	a	Escritura.	Essa	era	a	
fonte	comum	sobre	a	qual	recaía	a	possibilidade	de	interpretações	
e	de	construções	dos	dogmas	que	deveriam	ser	 levados	adiante	
pela	comunidade	cristã.	
A	própria	composição	das	Escrituras	ainda	não	estava	conso-
lidada	–	alguns	defendiam	que	somente	o	Novo	Testamento	deve-
ria	ser	considerado	fonte	de	autoridade.	
O	 segundo	 critério	 era	 a	 reunião	 –	 primeiramente,	 em	 sí-
nodos.	Após	a	conquista	de	Constantino,	em	concílios.	Ali	se	reu-
niam	os	bispos	para,	 coletivamente,	 tratar	das	questões	de	 fé	e	
das	questões	administrativas	concernentes	à	estrutura	da	Igreja,	à	
eleição	dos	bispos	e	ao	uso	dos	bens.	
Nesse	debate	contra	Ário,	os	argumentos	usados	por	Ataná-
sio	(o	maior	opositor	da	doutrina	ariana)	reforçavam	que	o	arianis-
mo	minava	a	Trindade	porque	considerava	apenas	uma	das	pes-
soas	 como	 realmente	divina,	ocasionando	uma	desigualdade	de	
substância	e	de	existência	entre	seus	membros.	
Como	você	pôde	perceber,	o	Concílio	de	Niceia	determinou	
que	o	Filho	havia	sido	gerado e não criado, pois	com	isso	se	pre-
servava	a	consubstancialidade entre	os	dois.	Ou	seja:	afirmou-se	
que	a	natureza	do	Filho	era	a	mesma	que	a	do	Pai.	
75© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
Por	 isso,	 ele	 era	 tão	divino	quanto	o	Pai.	 Era	Deus	que	 se	
engajara	no	mundo	e	que,	por	um	ato	de	amor	e	misericórdia	pela	
criatura	humana,	encarnara	para	a	remissão	dos	pecados	e	para	a	
salvação	da	humanidade.	Assim,	em	Niceia,	temos	a	primeira	dis-
cussão	sobre	um	dogma	–	a	divindade	de	Cristo	–	e	a	primeira	con-
denação	de	uma	doutrina	(que	passou	a	ser	vista	como	herética). 
Ário	foi	declarado	um	heresiarca	e	exilado	na	Ilíria.	Todavia,	
o	arianismo	não	deixou	de	existir	após	o	concílio	de	Niceia.	Alguns	
bispos	continuaram	defendendo	esse	posicionamento	e	mesmo	os	
povos	germânicos	que	adentraram	o	Império	ao	longo	do	século	
5º,	como	os	visigodos,	eram	arianos.	
Assim,	os	sucessores	de	Constantino	no	Império,	Constâncio	
II	e	Juliano,	também	eram	simpatizantes	dessa	doutrina.	O	próprio	
Constantino,	após	328,	adotou	uma	política	a	favor	do	arianismo	e	
reabilitou	o	heresiarca.	Mas,	para	a	consolidação	da	doutrina	cris-
tã,	prevaleceram	as	determinações	de	Niceia,	que	foram	reforça-
das	e	ampliadas	com	os	concílios	subsequentes.	
Não	podemos	nos	esquecer	de	que,	em	380,	o	Imperador	Te-
odósio	teve	um	papel	central	na	finalização	da	controvérsia	ariana:	
ele	tornou	o	cristianismo	a	religião	oficial	do	Império.	Assim,	tere-
mos	de	esperar	até	o	Concílio	de	Calcedônia,	em	451,	convocado	
pelo	Imperador	Marciano,	para	consolidar	a	questão	cristológica:	
a)	 “O	Filho	é	um	só	e	mesmo”;	b)	 Este	Filho	é	 verdadeiramente	
Deus	e	verdadeiramente	homem;	c)	como	homem,	é	unidade	de	
alma	 racional	 e	 corpo;	 d)	 nasceu	 da	 Virgem	Maria	 (Theotokós),	
como	ensina	Éfeso;	e)	afirma	a	dualidade	de	naturezas:	em	duas	
naturezas	sem	confusão	e	sem	mudança,	sem	divisão	e	sem	sepa-
ração.	Portanto,	em	Cristo	há	uma	pessoa	e	duas	naturezas	(ZILLES,	
2000,	p.	52).
Somente	com	o	Concílio	de	Calcedônia	temos	a	possibilidade	
de	imputar	condenação	às	heresias	referentes	à	natureza	de	Cristo	
e	à	dúvida	sobre	o	vínculo	entre	as	três	pessoas	da	Trindade.	
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8. A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO PARA O OCIDEN-
TE, ALGUNS DE SEUS PRINCIPAIS TEÓRICOS E O CON-
FLITO COM O PAGANISMO
Tanto	 no	 Ocidente	 quanto	 no	 Oriente,	 a	 consolidação	 do	
cristianismo	e	sua	ascensão	ao	status	de	religião	oficial	do	Império	
foi	decorrente	de	diversos	fatores.	
Na	construção	das	heresias	e	da	doutrina	cristã,	o	que	temos	
é	a	retomada	de	termos	e	significados	da	Filosofia	Grega	e	Helenís-
tica	para	pensar	as	questões próprias	ao	cristianismo.	Da	mesma	
forma,	os	métodos exegéticos	e	de combate	já	eram	conhecidos	
pelos	antigos.	Por	exemplo,	o	método	do	comentário	e	do	debate	
argumentativo.	
No	Ocidente,	um	cristão	que	se	destacou	no	combate	pela	
doutrina	cristã	foi	Agostinho.	Juntamente	com	Ambrósio	de	Mi-
lão,	ele	contribuiu	para	fazer	do	Antigo	e	do	Novo	Testamento	as	
duas	fontes	de	autoridade	para	a	doutrina	cristã.	Agostinho	teve	
uma	história	de	vida	interessante,	que	ilustra	bem	esse	momen-
to	de	mudanças	e	continuidades.	
Nasceu	em	354,	na	cidade	de	Tagaste,	 situada	no	Norte	da	
África.	Estudou	em	Cartago,	uma	das	mais	importantes	cidades	afri-
canas	da	orla	do	Mediterrâneo,	e	tornou-se	professor	de	retórica.	
Filho	de	uma	cristã	e	de	um	pagão,	Agostinho	desenvolveu	
seus	estudos	em	línguas	clássicas	sob	o	patronato	de	um	homem	
importante	de	sua	cidade	e	permaneceu	pagão	até	dar-se	conta	de	
que	a	filosofia	de	Cícero	não	era	capaz	de	responder	a	todas	as	suas	
inquietações.	Por	exemplo,	às	relacionadas	ao	problema	do	mal.	Foi	
então	que	se	converteu	ao	maniqueísmo,	que	depois	ele	mesmo	
combateu	com	vigor.	
O	maniqueísmo,	 um	pensamento	 gnóstico	proveniente	do	
Oriente,	defendia	a	existência	de	duas	substâncias:	a	do	Bem	e	a	
do	Mal.	Ambas	eram	criadoras	e	viviam	em	uma	luta	permanente	
entre	si.	
77© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
Agostinho	aderiu	ao	maniqueísmo	por	achar	que	essa	dou-
trina	supria	seu	desejo	pelo	conhecimento	da	verdade.	Foi	somen-
te	com	sua	mudança	para	Milão,	para	ser	professor	de	 retórica,	
que	Agostinho	vislumbrou	a	possibilidade	de	que	o	 cristianismo	
defendido	por	Ambrósio,	bispo	de	Milão,	não	fosse	uma	religião	
grosseira	como	até	então	considerara.	
Em	Milão,	entrou	em	contato	com	o	neoplatonismo	e	com	a	
interpretação	alegórica	das	Escrituras.	Esses	conhecimentos	abri-
ram	oportunidades	para	que	ele	pensasse	o	problema	do	mal	de	
forma	diferenciada:	não	com	base	na	substância,	como	os	mani-
queus,	mas	como	ausência	do	bem	advinda	da	corrupção	da	von-
tade	humana.	
Com	base	nisso,	ele	converteu-se	ao	cristianismo	e,	tal	qual	
Ambrósio,	abraçou	a	defesa	da	unidade	das	Escrituras.	Como	cris-
tão,	lutou	contra	o	maniqueísmo,	o	arianismo,	o	paganismo,	que	
ainda	era	a	religião	de	grande	parte	dos	funcionários	públicos	do	
Império,	e	contra	o	donatismo,	que	foi	uma	controvérsia	originária	
do	Norte	da	África.
Em	 410,	 Agostinho	 vivenciou,	 juntamente	 com	 os	 pagãos	
italianos,	 o	 saque	 de	 Roma	por	 Alarico.	 Esse	 fato	 trouxe	 o	 acir-
ramento	das	disputas	entre	pagãos	e	cristãos.	Para	responder	às	
acusações	feitas	pelos	pagãos	de	que	o	cristianismo	não	era	uma	
religião	eficaz	para	conduzir	o	Império,	Agostinho	redigiu	sua	obra	
A Cidade de Deus – contra os pagãos.
Segundo	Étienne	Gilson	(1965),	os	argumentos	usados	pelos	
pagãos	ressaltavam	o	fato	de	que	a	doutrina	cristã	 incentivava	a	
renúncia	ao	mundo	e,	dessa	forma,	desviava	os	cidadãos	do	servi-
ço	militar.	Do	mesmo	modo,	incentivava	o	cultivo	de	virtudes	con-
trárias	ao	impulso	do	Estado,	como	a	mansidão,	a	não	retribuição	
do	mal	com	o	mal,	o	dar	a	outra	face,	a	humildade	e	o	pacifismo.
Outro	argumento	lembrava	que	o	destino	de	Roma	sempre	
estivera	atrelado	ao	culto	politeísta	e	que	o	saque	de	Roma	era	um	
castigo	dosdeuses	traídos	pelos	homens.	E	 foi	um	cristão	quem	
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apresentou	o	fato	inegável	de	que	o	saque	ocorreu	somente	após	
a	conversão	do	Império	ao	cristianismo.	
Marcelino	dirigiu	essas	objeções	a	Agostinho	e	o	bispo	de	
Hipona,	em	resposta,	redigiu	um	total	de	vinte	e	dois	livros	para	
responder	às	críticas	dos	pagãos	e	para	inverter	as	acusações	de	
que	seria	o	cristianismo	o	responsável	pela	desagregação	política	
romana.	Ele	atribuía	aos	próprios	pagãos	a	responsabilidade	pela	
decadência	romana,	a	começar	por	seus	costumes	viciados.	
Para	tanto,	Agostinho	utilizou	como	exemplo	os	próprios	es-
critores	romanos	para	demonstrar	o	quanto	os	vícios	existiam	ali	
antes	mesmo	da	cristianização	do	Império	ou	do	saque	de	Roma.	
Nessa	circunstância,	o	cristianismo	teria	contribuído	para	a	
manutenção	e	para	o	fortalecimento	do	Estado,	uma	vez	que	obri-
garia	o	cidadão	a	agir	virtuosamente	e	a	procurar	a	 salvação	da	
sociedade	política,	 se	não	por	amor	à	própria	vida	virtuosa,	por	
amor	e	temor	a	Deus.	
Esse	é	o	cenário	que	serviu	de	pano	de	fundo	para	Agostinho	
escrever	sua	obra	A cidade de Deus	– contra os pagãos.	Nela,	in-
seriu	a	história	político-social	da	humanidade	em	um	plano	divino	
–	tal	qual	já	havia	sido	feito	por	Eusébio	de	Cesareia	–	que	trans-
cendia	e	escapava	ao	próprio	conhecimento	humano.	
Nessa	obra,	Agostinho	não	só	respondeu	aos	pagãos	a	partir	
de	suas	próprias	fontes	de	conhecimento	e	usando	seus	próprios 
argumentos,	mas	modificou	por completo	o	conceito	de	república	
e	de	sociedade	política	humana,	cujos	fundamentos	estavam	em	
Cícero.
9. TEXTO COMPLEMENTAR
Agora,	você	terá	a	oportunidade	de	ler	o	texto	da	historiado-
ra	Rossana	Alves	Baptista	Pinheiro	(doutoranda	em	História	pela	
UNICAMP)	a	respeito	da	obra	de	João	Cassiano.	Aproveitamos	para	
enfatizar	nossos	mais	estimados	agradecimentos	às	contribuições	
79© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
feitas	pela	historiadora,	que,	por	meio	de	seu	texto,	aproximou-
nos	do	universo	da	pesquisa	na	 área	da	Alta	 Idade	Média.	 Essa	
leitura	 complementar	 será	 de	 grande	 valia	 para	 o	 estudo	 desta	
unidade	e	da	Unidade	3.
Vamos	lá?	
Entre Oriente e Ocidente Romano: João Cassiano, um 
intermediário privilegiado ––––––––––––––––––––––––––––––
João Cassiano é um autor importante para aqueles que desejam estudar o perío-
do conhecido como Antiguidade Tardia. Nascido em aproximadamente 360, ele e 
seu amigo Germano ganharam os desertos egípcios, que, no momento, despon-
tava como a moradia de homens ilustres do monasticismo. Peregrinaram tam-
bém pela Síria, Palestina e Constantinopla, onde, em 404, Cassiano foi ordenado 
diácono por João Crisóstomo. Em decorrência da perseguição e condenação 
sofridas por este, Cassiano e Germano foram até Roma a fim de conquistarem a 
simpatia do Papa para a causa de Crisóstomo. Em 415, Cassiano estabelecia-se 
em Marselha, sul da França, onde passou os anos de sua vida como abade do 
mosteiro de São Vítor.
Ele chegou à Provença em um momento de disputas para a consolidação e forta-
lecimento da Igreja, tanto gaulesa quanto marselhesa. Duas questões norteavam 
a controvérsia: a supremacia metropolitana e a caracterização da função episco-
pal. O conflito começou em 395, quando Arles tornou-se a prefeitura das Gálias 
e seu bispo, o metropolita da região. Este cargo era até então ocupado pelo 
bispo de Vienne e, neste período, Marselha era uma cidade importante cultural 
e economicamente. Nesta disputa, Prócolo de Marselha defendia a primazia de 
sua diocese sobre as igrejas que contribuíra para fundar e a influência sobre as 
igrejas mais antigas e importantes como Arles, Vienne e Lyon. O bispo de Mar-
selha também defendia um episcopado determinado pela formação monástica e 
pelo ideal ascético. Por outro lado, Pátroclo de Arles se pautava na autoridade 
conciliar de Nicéia para garantir a supremacia de Arles, já que, desde 325, fora 
estabelecido que a organização eclesiástica deveria acompanhar a civil. Desta 
disputa resultou uma composição interessante. Marselha e Arles tornaram-se os 
dois maiores centros de autoridade eclesiástica da Provença, cabendo a Arles o 
papel de capital administrativa da Gália e de metrópole eclesiástica da região. 
Os bispos eleitos para ocuparem as principais dioceses começaram a ter uma 
formação monástica e ascética, o que demonstrava a vitória das pretensões de 
Prócolo de aproximar os ideais monásticos e ascéticos do episcopado. 
Foi a convite de Prócolo que João Cassiano se estabeleceu no mosteiro de São 
Vítor. Ali, ele contribuiu para a existência de um ambiente intelectual cristão, com 
raízes na herança cultural grega, tendo em vista sua formação e seu conheci-
mento da situação oriental, bem como da língua grega. Cassiano escreveu duas 
obras importantes para a institucionalização do monasticismo na região: As ins-
tituições cenobíticas, entre 420 e 424 e as Conferências, em aproximadamente 
425. Com elas, transformou-se em um intérprete privilegiado do monasticismo 
egípcio e sírio na Provença, consagrou-se como o intermediário entre um Oriente 
cristão e um Ocidente que se cristianizava e desenvolvia suas instituições ecle-
siásticas e ajudou no processo de monastização do episcopado em decorrência 
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80
de suas relações com os monges de Lérins, em especial, Honorato e Euquério, 
para os quais dedicou o segundo volume de suas conferências.
Sua terceira obra foi um tratado polêmico contra a doutrina da encarnação de 
Nestório. Escrita a pedido do Papa Celestino, nela Cassiano deveria fazer uma 
tradução da doutrina do bispo de Constantinopla para os latinos. A obra con-
verteu-se na divulgação do erro doutrinário de Nestório e ele foi condenado no 
concílio de Éfeso de 431. Nesta obra, a tradição é defendida pela referência à 
autoridade do Antigo e do Novo Testamento e dos textos da Patrística. Com ela, 
João Cassiano deixou à Nestório o campo da heresia.
Entre suas referências teóricas encontram-se Evrágio Pôntico, monge conside-
rado origenista e criador da doutrina dos oito vícios, Gregório Nazianzeno, João 
Crisóstomo e o estóico Epitecto. Tais referências fizeram de Cassiano o divulga-
dor e o vulgarizador deste “ecletismo doutrinal” no Sul da Gália. João Cassiano 
foi também considerado uma das bases intelectuais do semi-pelagianismo, devi-
do ao seu posicionamento sobre a graça e o livre-arbítrio que, se não era com-
pletamente distinto do de Agostinho, dava oportunidades à iniciativa humana, 
inconcebíveis pelo hiponense. É importante ressaltar que, enquanto na questão 
contra Nestório Cassiano tenha sido procurado pelo Papa e foi considerado uma 
autoridade, e sua doutrina ortodoxa, na controvérsia semi-pelagianista, o ensina-
mento que divulgou foi condenado em 529 no II Concílio de Orange, que contou 
com a presença e participação de Cesário de Arles. 
A partir das obras de João Cassiano é possível desenvolver uma investigação 
sobre as questões mais importantes que nortearam o século V, a saber, a conso-
lidação de uma instituição, responsável pela expansão do cristianismo às terras 
mais ocidentais do Mediterrâneo, a defesa de um episcopado moralmente apto 
ao comando da sociedade, as controvérsias doutrinárias, responsáveis pelo for-
talecimento de determinados pressupostos. Embora suas obras tenham como 
objetivo a divulgação dos modos de vida monásticos orientais, não se pode per-
der de vista que elas foram escritas a pedido de bispos do Sul da Gália ou foram 
a eles dedicadas. Em algumas ocasiões, inclusive, Cassiano ressaltou a possi-
bilidade de adaptações na tradição, tendo em vista um cenário novo, com novas 
necessidades e condições. Por outro lado, neste período, não era raro que os 
bispos fossem escolhidos no meio monástico,cabendo aqui a hipótese de que o 
bispo era aquele que unia com perfeição as vidas ativa e contemplativa, já que 
a contemplação das questões divinas e o reconhecimento da Verdade Revelada 
e da tradição forneciam a legitimidade para a atuação junto às comunidades 
cristãs. E esta monasticização do episcopado parece ter sido uma saída adota-
da, sobretudo, pela Gália de Cassiano, até o século VI (PINHEIRO, 2007, texto 
cedido pela autora). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:
81© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
1)	 Compreende	bem	o	 conceito	 de	 alteridade?	Pesquise	 o	 significado	desse	
termo,	estabelecendo	sua	relação	com	o	conceito	de	“identidade”	nos	estu-
dos	antropológicos.
2)	 O	que	faria	um	imperador	aderir	a	uma	religião	até	então	marginalizada	e	
vista	com	péssimos	olhos	pela	maioria	dos	habitantes	do	Império	Romano?	
Constantino	teria	visto	no	cristianismo	a	possibilidade	de	mudar	a	história?	
Teria	 sido	um	oportunista?	A	partir	 do	que	estudamos,	 discorra	 sobre	os	
motivos	que	levaram	Constantino	a	se	converter	ao	cristianismo.
3)	 Se	Ário	estivesse	correto,	Cristo	não	seria	divino	e	teria	sido	criado	por	Deus,	
assim	como	os	homens.	Como	saber,	então,	em	que	acreditar?	Qual	 foi	o	
critério	adotado	para	se	certificar	sobre	quem	postulava	a	verdade	sobre	a	
pessoa	do	“Filho”?
4)	 Já	se	sente	apto	a	traçar	o	caminho	percorrido	pelo	cristianismo	e	estabele-
cer	seus	pontos	de	embate	e	de	apoio?	Faça	um	pequeno	esboço	dessa	tra-
jetória.	Com	essas	anotações,	poderá	se	preparar	para	o	estudo	da	disciplina	
História Medieval II.
11. CONSIDERAÇÕES
Ao	longo	desta	unidade,	acompanhamos	os	avanços	e	as	di-
ficuldades	enfrentadas	pelo	cristianismo	ao	longo	do	período	cha-
mado	pela	historiografia	de	Antiguidade	Tardia.	
Vimos	que	de	seita	marginalizada	e	abraçada	por	uma	cama-
da	média	e	baixa	da	população,	o	cristianismo	tornou-se	a	religião	
de	um	imperador	que	a	promoveu,	a	incentivou	e	a	defendeu	fren-
te	ao	paganismo.	Com	isso,	tornou-se	pertinente	o	questionamen-
to	acerca	do	que	era	"ser	cristão"	e	sobre	quais	deveriam	ser	as	
crenças	dos	seguidores	do	cristianismo.	
Também	pudemos	aprender	que	a	partir	daí	começaram	as	
discussões	sobre	o	dogma	cristão	e	as	controvérsias	doutrinárias	
acerca	dos	pontos	mais	cruciais	defendidos	pelo	cristianismo.	Essas	
interpretações	diferenciadas	ocorriam	com	base	em	uma	mesma	
fonte	de	estudos,	as	Escrituras,	e,	para	tanto,	eram	usados	méto-
dos	de	interpretação	desenvolvidos	ao	longo	do	Império	Romano.	
Os	conceitos	e	modos	de	vida	eram	retirados	da	filosofia	pagã	do	
período	helenístico	da	História	Antiga,	sobretudo	o	Estoicismo.	
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Compreendemos,	ainda,	que	Agostinho	viveu	em	um	perío-
do	já	muito	diferente	daquele	de	Eusébio	de	Cesareia,	ainda	que	
tenha	 continuado	 a	 tradição	 de	 escrita	 da	 História	 cristã	 sob	 a	
perspectiva	do	plano	salvífico	de	Deus	para	a	humanidade.	
Enquanto	Eusébio	escrevia	com	vistas	à	defesa	da	continui-
dade	da	Igreja	de	seu	tempo	–	a	época	dos	mártires	–	e	à	exaltação	
do	triunfo	da	Igreja,	Agostinho	via-se,	ainda,	às	voltas	com	a	defesa	
do	cristianismo	face	aos	pagãos	e	às	interpretações	cristãs	hetero-
doxas,	apesar	de	estar	em	um	império	efetivamente	cristão.	
Agostinho	morreu	em	430	e	seu	pensamento	foi	um	divisor	
de	águas	entre	a	tradição	que	se	desenvolveu	desde	o	século	2º,	
com	autores	como	Irineu	de	Lyon,	Tertuliano,	Justino,	e	o	mundo	
dos	reinos	germânicos	que	se	iniciava	e	tinha	na	figura	desse	pen-
sador	sua	maior	fonte	de	referência	doutrinária.
Essa	é	a	nova	etapa	da	História	Ocidental	que	iremos	encon-
trar	nas	próximas	unidades.	
12. E-REFERÊNCIA
HIRSCHBERGER,	 J.	 Santo Agostinho:	 O	Mestre	 do	 Ocidente	 –	 História	 da	 Filosofia	 na	
Idade	Média.	Disponível	em:	<http://www.consciencia.org/filosofia_medieval4_santo_
agostinho.shtml>.	Acesso	em:	16	fev.	2011.	
13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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christianisation de la Provence.
JAKAB,	A.	 L'Egypte	 chrétienne	 au	 temps	 de	 Jean	Cassien.	 In:	 BADILITA,	 C.;	 JAKAB,	A.;	
LOSEBY,	S.	T.	Marseille:	a	late	antique	success	story?	The Journal of Raman Studies,	vol.	
82,	(1992).
83© Antiguidade Tardia: Entre a Tradição do Cristianismo Imperial e o Paganismo
LE	GOFF,	J.	Para um novo conceito de idade média.	Lisboa:	Estampa,	1980.
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ZILLES,	 U.	 (Ed.)	 Documentos dos oito primeiros concílios ecumênicos.	 Porto	 Alegre:	
EDIPUCRS,	2000.	
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