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EA
D
4
Reino ou Império: 
A Dinastia Carolíngia
1. OBJETIVOS
•	 Apresentar	o	processo	histórico	de	formação,	expansão	e	
declínio	do	Império	Carolíngio.
•	 Conhecer	 a	 organização	 política	 do	 império	 de	 Carlos	
Magno.
2. CONTEÚDOS
•	 Formação	do	Império	Carolíngio.
•	 Governo	de	Carlos	Magno.
•	 Declínio	do	Império	Carolíngio.
3. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
106
1)	 Para	melhor	compreender	o	conteúdo	que	será	estuda-
do	nesta	unidade,	pesquise	sobre	o	Reino	Franco,	sobre	
Carlos	Magno	e	seu	contexto.	Lembre-se:	um	professor	
e/ou	pesquisador	de	História	deve	sempre	estar	atento	
aos	contextos.	Compreendendo-os,	o	estudo	dos	even-
tos	históricos	fica	muito	mais	completo	e	fácil.	
2)	 Se	você	quiser	conhecer	mais	sobre	os	diferentes	impé-
rios	do	período	medieval,	consulte	o	verbete	"Império"	
do	Dicionário	Temático	do	Ocidente	Medieval,	dirigido	
por	Jacques	Le	Goff	e	Jean-Claude	Schmitt.	A	referência	
bibliográfica	completa	consta	na	Bibliografia Básica	do	
nosso	Plano	de	Ensino.
3)	 Único	filho	do	imperador	bizantino	Leão	IV,	Constantino 
VI	disputou	o	trono	com	sua	própria	mãe,	Irene,	regente	
desde	a	morte	de	Leão	IV,	em	780.	Se	você	quiser	saber	
mais	sobre	a	vida	do	imperador,	acesse	o	site	disponível	
em:	<http://brasiliavirtual.info/tudo-sobre/constantino-
vi>.	Acesso	em:	28	jan.	2008.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	unidade	anterior,	você	acompanhou	o	processo	de	esta-
belecimento	dos	povos	germânicos	na	Europa	Ocidental	durante	o	
período	medieval.	Conheceu	um	pouco	mais	a	respeito	do	debate	
historiográfico	 em	 torno	 da	 "queda	 do	 Império	 Romano"	 e	 pôde	
analisar	os	motivos	que	precipitaram	os	deslocamentos	germânicos,	
bem	como	as	características	dos	primeiros	reinos	estabelecidos.	
Nesta	unidade,	estudaremos	a	principal	organização	política	
da	Alta	 Idade	Média:	o	 Império	Carolíngio.	Herdeira	da	 tradição	
franca,	a	Dinastia	Carolíngia	formalizou	um	novo	modo	de	legiti-
mação	do	poder	real,	reconstituindo	sobre	outras	bases	a	centrali-
dade	político-administrativa	no	Ocidente.	Além	disso,	foi	inovado-
ra	na	divulgação	das	tradições	culturais.
107© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
Em	 resumo,	 apresentaremos	 o	 processo	 de	 formação,	 ex-
pansão	e	desagregação	do	Império	Carolíngio,	dando	destaque	à	
organização	política	instituída	por	Carlos	Magno.	
Está	pronto?	Vamos	lá?	
5. A FORMAÇÃO DO REINO CAROLÍNGIO
Dentre	os	 primeiros	 reinos	 estabelecidos	 no	 século	 5º	 em	
terras	ocidentais,	o	Reino	Franco	foi	o	mais	resistente	e	duradouro.	
Mesmo	subdividido	em	três	reinos	–	Nêustria,	Austrásia	e	Borgon-
ha	–,	o	território	entre	o	Rio	Loire	e	o	Rio	Reno	constituía	um	cen-
tro	de	poder	importante	e	com	tendência	à	expansão.	
Segundo	Geary	(2005),	o	reino	da	Nêustria	equivalia	à	região	
central	da	Gália,	abrangendo	as	cidades	de	Soissons,	Paris,	Tours	e	
Rouen;	o	reino	da	Austrásia	incluía	as	regiões	a	leste	do	rio	Reno	
e	as	cidades	de	Champagne,	Reims	e	Metz;	enquanto	o	reino	da	
Borgonha	abrangia	o	antigo	território	burgúndio	e	tinha	Orléans	
como	sua	principal	cidade.
O	mesmo	autor	afirma	que,	desde	o	reinado	de	Clóvis	(481-
511),	as	elites	dessas	regiões	reconheceram-se	como	francas,	in-
dependentemente	 de	 suas	 ascendências	 ou	 vínculos	 militares.	
Esse	reconhecimento	permitiu	a	integração	entre	elas	por	meio	de	
arranjos	matrimoniais	e	tratados	de	cooperação	militar.	
No	entanto,	 as	 rixas	não	 foram	deixadas	de	 lado	e	muitas	
vezes	o	cenário	era	marcado	por	conflitos	violentos,	que	tomavam	
forma	de	guerras	civis.	Apesar	de	partilharem	a	identidade	franca,	
esses	reinos	passaram	por	guerras	civis.	Tais	guerras	foram	descri-
tas	na	obra	História dos Francos,	de	Gregório	de	Tours.	
Foi	em	um	desses	conflitos	que	Pepino	de	Herstal,	então	pre-
feito do palácio da	Austrásia,	reclamou	o	direto	de	governar	os	fran-
cos,	colocando-se	como	o	principal	antagonista	da	continuidade	suc-
essória	merovíngia.	Devido	às	guerras	frequentes	entre	os	territórios	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
108
comandados	pelos	merovíngios,	seu	poder	central	se	enfraqueceu	e	
aqueles	funcionários	que	administravam	seus	palácios	começaram	
a	adquirir	cada	vez	mais	espaço	como	líderes	políticos.	
Lembremo-nos	de	que o	título	de	Maior Palatii	ou	“prefeito	
do	palácio”	designava	o	 representante	 real	 responsável	pela	ad-
ministração	do	palácio,	de	seus	bens	e	terras	adjacentes,	uma	es-
pécie	de	alto	funcionário	real	(BANNIARD,	1980).	
Os	merovíngios	eram	assim	chamados	por	alegarem	descend-
er	do	lendário	rei	franco	Meroveu, conhecido	por	dominar	as	tribos	
vizinhas. Mas	foi	a	partir	de	Clóvis	que	o	nome	familiar	passou	a	ser	
conhecido,	sendo	assumido	e	divulgado	por	seus	sucessores.
Este	foi	o	caso	de	Pepino.	Apesar	de	ele	não	ser	rei,	gover-
nou	os	francos	mesmo	com	sua	autoridade	sendo	questionada	nas	
regiões	ao	sul	do	Rio	Loire	e	na	Borgonha.	
Sua	força	política	cresceu	significativamente,	a	ponto	de	lhe	
permitir	deixar	o	governo	como	herança	para	seus	filhos.	Após	sua	
morte,	em	714,	seu	filho	bastardo	Carlos Martel	passou	a	adminis-
trar	o	reino,	com	firme	desejo	de	expandi-lo.	De	acordo	com	Balard	
(2002,	p.	40),	ele	"martelou	as	revoltas	neustrasianas	e	suprimiu	a	
independência	dos	frísios	e	dos	alamanos,	assim	como	a	dos	bor-
gonheses	e	dos	provençais".
A	evolução	sintomática	da	nova	linha	sucessória	do	governo	
dos	francos	reafirmava	o	progresso	contínuo	de	seu	poder,	apesar	
de	sua	falta	de	legitimidade	para	reclamar	pelo	“sangue”	o	direito	
de	usar	a	coroa.	
Esse	quadro	se	alterou	com	a	chegada	ao	poder	do	filho	de	
Carlos	Martel,	Pepino,	o Breve.	Ao	suceder	o	pai,	em	741,	Pep-
ino	 tomou	a	 frente	dos	 combates	para	dominar	os	príncipes	 lo-
cais	revoltosos	e	questionadores	de	sua	legitimidade.	Imbuído	do	
desejo	paterno	de	expandir	o	Reino	Franco,	lutou	contra	saxões	e	
bávaros,	na	tentativa	de	anexar	novos	territórios	ao	reino	e	provar	
sua	dignidade	como	governante.	
109© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
Em	747,	certo	da	necessidade	de	portar	o	título	real,	Pepino	
se	 fez	eleger	 rei	pela	Assembleia	dos	Grandes,	 seguindo	a	velha	
tradição	tribal.	Logo	em	seguida,	em	750,	apelou	ao	papa	Zacarias	
para	que	este	 lhe	 concedesse	 o	 direito	 de	 ser	 rei.	Naquele	mo-
mento,	o	último	merovíngio	(Childerico III)	estava	enfermo,	reti-
rado	em	um	monastério.	Portanto,	não	representava	perigo	para	
as	intenções	de	Pepino.	
Diante	da	concordância	do	papa,	Pepino,	o	Breve,	foi	sagra-
do	rei	pelo	bispo	Bonifácio,	em	751,	coincidentemente	no	ano	de	
morte	de	Childerico.	Contudo,	essa	não	foi	a	única	vez	que	Pepino	
recorreu	à	 sagração	para	 legitimar	o	uso	do	 título	 real.	Em	753,	
aproveitando-se	do	pedido	de	apoio	do	papa	Estevão	II	contra	os	
Lombardos,	Pepino	obteve,	em	troca,	a	sagração	feita	pelas	mãos	
do	próprio	papa	na	Igreja	de	Saint-Denis.	
A	partir	de	então,	a	 linha	sucessória	pepinida,	depois	con-
hecida	como	Dinastia Carolíngia,	consagrou-se	como	governante	
legítima	dos	territórios	francos.	Nesse	momento,	surgiu	também	
uma	nova	forma	de	legitimidade	real,	a	sagração	feita	pela	unção	
divina.	
O	carisma	e	a	virtude	da	sucessão	pelo	sangue	sagrado	de-
ram	lugar	ao	carisma	da	graça	divina,	como	se	Deus	materializasse	
o	reconhecimento	da	legitimidade	real	por	meio	da	unção	conce-
dida	pelo	papa	ou	seu	representante.	Como	afirma	Balard	(2002,	p. 
45),	a	partir	desse	momento	"não	são	mais	os	grandes	que	fazem	
os	reis,	mas	Deus".	
6. A EXPANSÃO DO REINO FRANCO: LUTAS E CON-
QUISTAS 
O	Reino	Carolíngio,	identificado	como	Reino	Franco	após	a	an-
exação	dos	reinos	da	Nêustria	e	da	Borgonha	por	parte	de	Carlos	
Martel,	só	adquiriu	legitimidadepara	o	porte	do	título	real	após	as	
sagrações	de	Pepino,	o	Breve.	Entretanto,	o	peso	das	conquistas	de	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
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novos	espaços	geográficos	foi	fundamental	na	confirmação	do	pod-
er	e	da	sucessão	por	parte	dos	descendentes	de	Carlos	Martel.	
A	 expansão	 geográfica	 foi	 uma	 das	 características	 que	 se	
manteve	ao	longo	da	sucessão	carolíngia.	Primeiramente	com	Pe-
pino	de	Herstal,	que	buscou,	em	690,	restituir	o	terreno	invadido	
pelos	frísios	ao	norte	da	Gália.	A	partir	de	714,	já	com	Carlos	Mar-
tel,	ocorreu	a	 incorporação	de	territórios	saxões,	 frísios,	bávaros	
e,	ainda,	a	contenção	da	expansão	árabe	no	sul	da	Gália	–	com	a	
famosa	batalha	de	Poitiers,	em	732.	
Quando	Pepino	sucedeu	o	pai,	Carlos	Martel,	os	territórios	
que	estavam	sob	o	governo	franco	se	estendiam	para	além	do	Rio	
Reno,	incluindo	terrenos	bávaros	e	saxões,	apesar	de	estes	sempre	
reorganizarem	resistências	diante	da	investida	franca.	Como	o	pai,	
Pepino	concentrou	seus	esforços	no	sul	da	Gália,	vislumbrando	a	
anexação	de	territórios	que	hoje	conhecemos	como	Itália.	
Incumbido	de	restituir	os	 territórios	de	Ravena	e	de	Roma	
ao	 domínio	 papal,	 Pepino	 promoveu	 duas	 campanhas	 militares	
de	sucesso	(754	e	756)	contra	os	lombardos.	Essas	campanhas	lhe	
renderam	o	título	de	“protetor	da	Sé	Romana”,	o	que	garantiu	a	
ele	e	a	seus	descendentes	a	manutenção	de	boas	relações	com	a	
Igreja	episcopal.	
Além	dos	territórios	lombardos	de	interesse	papal,	Pepino	ain-
da	retomou	o	controle	sobre	a	Aquitânia,	a	Septimânia	e	a	Provença	
(Essas	regiões	correspondem	ao	sul	do	atual	território	francês).
Assim,	 essa	 relação	de	proximidade	 com	a	 Igreja	Romana,	
com	uma	constante	troca	de	favores,	permitiu	uma	renovação	no	
empreendimento	público	da	 conquista	 territorial:	 o	batismo	e	a	
conversão	dos	povos	conquistados	pelo	cristianismo.	
Não	satisfeitos	em	garantir	tão	somente	a	proteção	aos	pa-
pas	ou	aos	seus	territórios,	os	novos	líderes	francos	obrigavam	os	
povos	a	aceitarem	o	cristianismo	como	verdadeira	fé	e	promoviam	
grandes	movimentos	 de	 evangelização	nos	 territórios	 anexados.	
Como	afirma	Balard	(2002,	p.	41),	
111© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
[...]	não	contentes	em	cuidar	do	elemento	mais	vivo	da	Igreja	[pro-
moção	do	batismo],	os	mestres	encorajavam	a	reunião	de	concílios	
para	assegurar	uma	melhor	disciplina	eclesiástica,	preparar	uma	re-
forma	litúrgica	e,	sobretudo,	regular	o	problema	das	confiscações	
de	terras	da	Igreja.	
Essa	aproximação	 com	a	 Igreja,	promovida	por	Pepino,	 foi	
ainda	reforçada	quando	este	fez	uma	doação	oficial	de	22	cidades	
da	atual	 Itália	 central	para	o	papado,	que	as	 conservou	 sob	 seu	
domínio	até	1870.	A	assistência	militar	e	a	doação	de	territórios	
feita	por	Pepino,	como	sugerem	Balard	(2002)	e	Banniard	(1980),	
foram	fruto	da	apresentação	feita	pelo	papa	Estevão	II	ao	rei	fran-
co	do	falso	documento	conhecido	como	Doação de Constantino.	
Reconhecido	 como	 um	 documento	 forjado,	 preparado	 na	
chancelaria	pontifical	provavelmente	entre	750	e	760,	ele	foi	apre-
sentado	pelo	papado	como	um	édito	imperial	romano	elaborado	
pelo	Imperador	Constantino	I	(272-337).	Nele,	Constantino	I,	an-
tes	 de	partir	 para	o	Oriente,	 teria	 renunciado	 a	Roma	em	 favor	
do	papa	Silvestre	(314-335)	e	seus	sucessores,	outorgando-lhes	o	
privilégio	de	usar	a	coroa	imperial.	Vamos	acompanhar,	a	seguir,	
alguns	trechos	desse	documento:
Concedemos	ao	nosso	Santo	Padre	Silvestre,	sumo	pontífice	e	papa	
universal	de	Roma	e	a	todos	os	pontífices	seus	sucessores	que	até	
o	 fim	do	mundo	 reinarem	na	sede	de	São	Pedro,	o	nosso	 impe-
rial	palácio	de	Latrão	(o	primeiro	de	todos	os	palácios	do	mundo),	
depois	o	diadema,	isto	é,	nossa	coroa	e	ao	mesmo	tempo	o	gorro	
frígio,	quer	dizer,	a	tiara	e	o	manto	que	os	imperadores	costumam	
usar;	além	disso	o	manto	purpúreo	e	a	túnica	escarlate	e	todo	traje	
imperial	e	também	a	dignidade	de	cavaleiro	imperial,	outorgando-
lhe	também	os	cetros	imperiais	e	todas	as	insígnias	e	estandartes	e	
diversos	ornamentos	e	todas	as	prerrogativas	da	excelência	impe-
rial	e	a	glória	de	nosso	poder.	[...]	Concedemos	ao	já	mencionado	
pontífice	Silvestre,	papa	universal,	e	deixamos	e	estabelecemos	em	
seus	poder,	por	decreto	 imperial,	como	possessões	de	direito	da	
Santa	 Igreja	romana,	não	só	nosso	palácio,	como	já	foi	dito,	mas	
também	a	cidade	de	Roma	e	todas	as	províncias,	distritos	e	cidades	
da	Itália	e	do	Ocidente	(Doação de Constantino	ou	Edictum Cons-
tantini ad Silvestrem	Papam	in.	PEDRERO-SÁNCHES,	2000).
Diante	 das	 revelações	 desse	 documento,	 Pepino	 viu-se	 no	
dever	de	garantir	o	que	por	direito	foi	anunciado	pela	antiga	auto-
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
112
ridade	imperial,	comprometendo-se	em	fazer	cumprir,	mesmo	que	
à	força,	o	que	fora	determinado	pelo	documento.	
Além	disso,	ao	reconhecer	e	defender	o	direito	da	Igreja	so-
bre	Roma,	Pepino	reafirmava	a	autoridade	dela	em	todo	o	Ocidente,	
inclusive	no	que	 tangia	à	 validação	do	 título	 real	que	ele	mesmo	
sustentava.	Dessa	maneira,	Pepino	deixou	aos	seus	dois	filhos,	Car-
lomano	I e Carlos	Magno,	um	reino	extenso	e	uma	autoridade	refor-
çada	pelas	estreitas	relações	que	construiu	com	o	papado.
Você	está	pensando	que	a	expansão	franca	terminou	aqui?	
Ao	contrário!	Foi	com	o	reinado	de	Carlos Magno,	entre	768	e	814,	
que	o	império	dos	francos	alcança	sua	maior	dimensão	geográfica,	
capaz	de	reestruturar	o	 ideal	de	um	império	ocidental.	Mas,	an-
tes	de	falarmos	da	estruturação	do	império,	veremos	como	Carlos	
Magno	deu	continuidade	à	política	expansionista	de	seu	pai,	Pe-
pino,	o	Breve.	Acompanhe	o	mapa		a	seguir	(Figura	1).
Fonte: Enciclopédia	Britânica	(1994).
Figura	1	A conquista franca até 814.
113© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
Na	Figura	1,	colorido	em	amarelo,	está	o	território	herdado	
de	Pepino,	o	Breve,	resultado	de	anos	de	expansão.	No	entanto,	
observe	que	sob	a	liderança	de	Carlos	Magno	o	reino	se	estendeu	
quase	duas	 vezes	mais,	 e	em	diversas	direções	–	especialmente	
rumo	ao	Oriente,	até	as	margens	do	Rio	Danúbio.	
Com	a	morte	do	 irmão	Carlomano,	em	771,	Carlos	Magno	
tornou-se	o	único	governante	dos	territórios	francos	e	deu	início	
às	campanhas	militares	de	conquista	e	estabelecimento	de	fron-
teiras.
A	primeira	e	mais	duradoura	 investida	militar	 foi	contra	os	
saxões.	Motivada	 pelo	movimento	 de	 evangelização	 cristã,	essa	
campanha	 foi	 iniciada	 em	 772.	 Liderados	 por	 Carlos	Magno,	 os	
francos	tomaram	e	destruíram	o	santuário	pagão	de	Irminsul.	Po-
rém,	apesar	da	destruição	do	principal	santuário	em	terreno	saxão,	
seus	nativos	não	se	curvaram	imediatamente,	reorganizando	con-
stantes	revoltas	contra	a	presença	franca.	
Entre	 778	e	779,	 a	 Saxônia	parecia-se	mais	 com	um	barril	
de	pólvora	prestes	a	explodir	do	que	com	um	território	franco	or-
ganizado.	Tanto	que,	nos	sete	anos	seguintes,	ocorreram	mais	de	
vinte	expedições	na	tentativa	de	controlar	as	constantes	revoltas.	
Com	certo	requinte	de	crueldade,	essas	campanhas	chegaram	ao	
fim	em	785,	quando	os	saxões	se	submeteram	ao	rei	 franco	em	
face	da	execução	maciça	de	4500	guerreiros.
Após	esse	momento,	a	Saxônia	foi	incorporada	ao	reino	fran-
co	e	submetida	a	um	regime	de	exceção,	organizado	a	partir	da	ca-
pitular	De Partibus Saxoniae,	promulgada	em	782	(BALARD,	2002).	
Capitulares	eram	documentos	oficiais	proclamados	publicamente	
com	a	função	de	estabelecer	alguma	ordem	do	governante	franco.	
Tinham	esse	nome	por	serem	organizadas	em	capítulos.	Vejamos,	
a	seguir,	alguns	trechos	dessa	capitular:
Qualquer	 um	 que	 cometer	 infração	 dentro	 de	 uma	 igreja	 será	
posto	à	morte.	Qualquer	um	que	por	desprezo	ao	cristianismo	se	
recusar	a	respeitar	o	período	da	quaresma	[...]	será	posto	a	morte.	
Qualquer	um	que	porinstigação	do	diabo	e	por	partilhar	os	precon-
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
114
ceitos	dos	pagãos	queimar	uma	de	suas	faces,	homem	ou	mulher,	
ou	dar	sua	carne	a	comer	ou	a	comer	ele	mesmo,	sob	pretexto	de	
ser	um	feiticeiro	[...]	será	punido	com	a	pena	capital.	Qualquer	um	
que	jogar	às	chamas	o	corpo	de	um	defunto,	seguindo	o	rito	pagão	
[...]	será	condenado	à	morte.	Todo	saxão	não	batizado	[...]	que	re-
cusar	o	batismo,	querendo	permanecer	pagão,	será	posto	a	morte.	
Qualquer	um	que	faltar	com	a	fidelidade	devida	ao	rei	será	punido	
com	a	pena	capital.	Todas	as	crianças	deverão	ser	batizadas	no	ano	
de	[...].	Qualquer	um	que	negligenciar	a	apresentação	de	uma	cri-
ança	ao	batismo	no	curso	de	um	ano,	sem	o	conselho	ou	a	dispensa	
de	um	padre,	pagará	ao	fisco	uma	multa	de	120	soldos	(de	ouro)	
se	for	de	nascimento	nobre,	de	60	se	for	simplesmente	um	homem	
livre	(MANGIN,	2008).	
Carlos	Magno	também	combateu	os	lombardos,	sitiando	sua	
capital	durante	anos,	até	que,	em	774,	tomou	para	si	o	título	de	
rei	dos	lombardos.	Procurou	apaziguar	os	conflitos	na	Aquitânia,	
tentando	estender	seus	domínios	sobre	os	territórios	hispano-mu-
çulmano	e	basco.	Porém,	como	ocorreu	na	região	saxã,	sua	política	
de	exceção	gerava	mais	motins	do	que	sujeições.	
Segundo	Balard	(2002),	em	virtude	dessas	constantes	insur-
reições,	Carlos	Magno	"tomou	algumas	medidas	oportunas	des-
tinadas	a	acalmar	sua	oposição	interna	e	derrubar	as	irredutíveis	
no	exterior".	A	principal	delas	foi	transformar	seus	dois	filhos	em	
reis:	aos	lombardos	deu	Pepino,	o	Corcunda,	e	à	Aquitânia,	Luís.	
Em	seguida,	estabeleceu	um	regime	de	controle	e	restrições	aos	
povos	conquistados,	cujo	caráter	você	acompanhou	no	trecho	da	
capitular	De	Partibus Saxoniae.
Mesmo	com	todo	esse	controle,	representado	principalmente	
por	sua	dedicação	ao	conflito	contra	os	saxões	e	pela	inserção	de	
seus	herdeiros	no	controle	direto	de	regiões	estratégicas	ao	sul	do	
reino,	novos	complôs	foram	organizados.	
O	 mais	 desestabilizador	 deles	 foi	 a	 tentativa	 de	 assassinato	
cometida	contra	Carlos	Magno	por	seu	próprio	filho,	Pepino,	o	Cor-
cunda.	De	acordo	com	Balard	(2002,	p.	45),	"a	recuperação	foi,	uma	
vez	mais,	assegurada	graças	a	uma	mistura	de	versatilidade	e	força"	
por	parte	de	Carlos	Magno.	Balard	(2002)	prossegue	afirmando	que:	
115© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
Para	suprimir	toda	a	possibilidade	de	complô,	Carlos	Magno	fez	to-
dos	seus	submetidos	prestarem	juramento	de	fidelidade,	abando-
nando	o	regime	de	exceção	instalado	anteriormente	para	colocar	
em	seu	lugar	um	sistema	de	pacificação.
Esse	sistema	de	pacificação	consistia	em	garantir,	por	meio	do	
saque	aos	inimigos,	a	recompensa	de	seus	fiéis	servidores	e	assim	
fazer	multiplicar	o	interesse	de	outros	em	prestar	o	juramento	de	
fidelidade	ao	rei.	Dessa	maneira,	a	vitória	na	batalha	permitia	aos	
seus	 servidores	o	 aumento	de	 suas	 riquezas	 e	 a	Carlos	Magno	o	
crescimento	de	sua	autoridade	e	prestígio,	uma	vez	que	partilhava	
com	eles	aquilo	que	era	considerado	seu	ganho	exclusivo.
7. O IMPÉRIO CAROLÍNGIO: ESTABELECIMENTO E 
DECLÍNIO
Você	deve	estar	 se	perguntando:	como	um	reino	se	 trans-
forma	em	império?	Será	que	envolve	apenas	uma	questão	espa-
cial?	Um	império	é	sempre	maior	que	um	reino?	Ou	são	outros	os	
elementos	definidores	dessa	condição?	
Bem,	 se	 acompanharmos	 cuidadosamente	 o	 exemplo	 do	
Império	Carolíngio,	perceberemos	que	ideias	políticas	circulantes	
durante	o	reinado	de	Carlos	Magno	já	especulavam	a	natureza	do	
poder	 imperial	e	a	possibilidade	de	uma	restauração	do	 império	
com	base	na	referência	romana.	
Entretanto,	há	diferenças	significativas	entre	uma	ideia	e	a	
ação	política.	Vejamos,	então,	como	o	 ideal	de	 império	deixou	o	
mundo	das	ideias	e	se	estabeleceu	como	realidade	entre	o	final	do	
século	8º	e	início	do	século	9º.
Segundo	Balard	(2002),	foi	no	meio	eclesiástico	que	nasce-
ram	as	primeiras	ideias	políticas	de	restauração	do	império,	prin-
cipalmente	após	a	posse	do	título	real	promovida	pelas	unções	de	
Pepino,	o	Breve,	nos	anos	de	751	e	754.	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
116
Alcuíno,	monge	de	origem	anglo-saxônica	e	principal	con-
selheiro	 intelectual	 de	 Carlos	 Magno,	 foi	 um	 dos	 primeiros	 a	
comparar	o	processo	de	restauração	real	promovido	pela	unção	
com	a	possibilidade	de	uma	restauração	do	império	que	seguisse	
os	moldes	do	Império	Romano.	
Essa	comparação	foi	possível	graças	ao	epíteto	imperial	ro-
mano	Magnus (grande)	recebido	por	Carlos	do	papa	Adriano	I	du-
rante	a	confirmação	das	doações	territoriais	ao	papado	em	774.	
Segundo	Balard	(2002,	p.	46):
Existiam	 dois	 movimentos	 ideológicos,	 um	 em	 torno	 de	 Carlos	
Magno	e	outro	em	torno	do	papado,	que	procuravam,	de	forma	ob-
scura	ou	consciente,	não	se	sabe,	guiar	o	rei	dos	francos	em	direção	
ao	poder	que	Alcuíno	qualificou	em	778	de	império".	
Esses	 dois	 "movimentos	 ideológicos"	 apresentados	 por	
Balard	tinham	intenções	diferentes,	apesar	de	buscarem	o	mes-
mo	objetivo:	a	restauração	do	império	a	partir	da	figura	central	
de	Carlos	Magno.	
Para	o	papado,	restaurar	o	Império	do	Ocidente	permitiria	
retomar	 sua	 autoridade	 espiritual	 diante	 do	 patriarca	 de	 Con-
stantinopla	e	do	Império	do	Oriente.	Já	para	o	séquito	político	de	
Carlos	Magno,	esse	título	representaria	o	reconhecimento	unâ-
nime	de	sua	autoridade,	fosse	por	parte	do	Império	do	Oriente,	
fosse	por	parte	da	Igreja	Romana.	
Observemos	que	a	definição	de	império	presente	entre	es-
ses	homens	não	estava	alicerçada	apenas	em	uma	determinada	
extensão	territorial,	mas	sim	na	capacidade	de	seu	portador	para	
exercer	 de	 forma	 única	 e	 absoluta	 a	 autoridade	 sobre	 seu	 ter-
ritório,	sendo	unânime	entre	seu	povo	e	seu	exército.	
Essa	definição	será	ainda	adensada	pela	ideia	de	que	o	im-
perador	recebia	essa	autoridade	da	única	força	onipotente	do	uni-
verso:	Deus.	Do	reconhecimento	dado	por	Deus,	nasceu	a	base	do	
poder	real	carolíngio	e	foi	também	dele	que	emergiu	a	fundamen-
tação	de	seu	poder	imperial. 
117© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
O	"projeto"	de	tornar	Carlos	Magno	imperador	batia	de	fr-
ente	 com	a	 tradição	 inquestionável	do	 Império	do	Oriente,	her-
deiro	 legítimo	 da	 dignidade	 imperial	 romana.	 Porém,	 esse	 em-
pecilho	logo	foi	desfeito,	quando	a	imperatriz	Irene,	mãe	do	futuro	
imperador	do	Oriente	Constantino VI,	ainda	infante,	tomou	o	pod-
er	em	seu	lugar.	Para	o	Ocidente,	especialmente	para	o	papado	e	
para	os	francos,	esse	era	o	pretexto	que	faltava	para	afirmar	que	
não	havia	mais	imperador.	
Além	desse	 fato,	ainda	 tivemos	a	 fuga	do	papa	Leão	 III.	O	
papa	havia	escapado	de	Roma,	onde	estava	aprisionado	por	alguns	
aristocratas	romanos.	Ao	escapar,	refugiou-se	junto	a	Carlos	Mag-
no	em	Paderborn,	onde	provavelmente	deliberaram	a	respeito	da	
questão	imperial.	
Dos	três	poderes	conhecidos	no	Ocidente,	"o	império,	o	pa-
pado	e	a	realeza,	somente	este	último,	representado	pelo	rei	dos	
francos,	tinha	ainda	 lugar.	Cabia	então	a	Carlos	Magno	restaurar	
o	segundo	e	tomar	o	primeiro	que	se	encontrava	vago"	(BALARD,	
2002,	 p.	 58).	 Foi	 o	 que	 ocorreu	 no	 fim	 do	 ano	 800,	 durante	 as	
comemorações	da	natividade	de	Cristo.	
Especificamente	no	dia	25	de	dezembro,	na	Basílica	de	São	
Pedro,	em	Roma,	o	papa	colocou	a	coroa	imperial	sobre	a	cabeça	
de	 Carlos	 e	 pronunciou	 a	 fórmula:	 “vida	 e	 vitória	 para	 Carlos,	
sereníssimo	 augusto,	 coroado	 por	 Deus,	 grande	 e	 pacífico	 Im-
perador,	governante	do	Império	Romano,	igualmente	pela	miser-
icórdia	de	Deus,	rei	dos	francos	e	dos	lombardos” (Monumenta	
Germaniae	Historica,	2008).	Em	seguida,	a	multidão	o	aclamou	
Carlos	como	o	novo	imperador	e	o	papa	prostrou-se	a	seus	pés.	
De	acordo	com	Eginhardo (770-840),	biógrafo	de	Carlos	Mag-
no,	oimperador	teria	saído	da	cerimônia	furioso	com	as	inovações	
feitas	no	ritual.	Segundo	Pedrero-Sánches	(2000,	p.	287),	Eginhar-
do	foi	"uma	das	figuras	mais	importantes	da	cultura	carolíngia.	Foi	
mestre	dos	mais	 completos:	político,	 teólogo,	hagiógrafo,	abade	
leigo	e,	sobretudo,	biógrafo	de	Carlos	Magno".	Leiamos	um	trecho	
de	Eginhardo	sobre	Carlos	Magno:
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
118
Vindo	à	Roma	para	restabelecer	a	situação	da	Igreja,	que	tinha	sido	
fortemente	comprometida,	ele	 ficou	aí	durante	 todo	o	 inverno.	E,	
nessa	época,	ele	recebeu	o	título	de	imperador	e	augusto.	Ele,	inicial-
mente,	se	opôs	ao	que	se	afirmou	naquele	dia,	embora	fosse	este	o	
motivo	essencial	da	festa,	não	teria	entrado	na	igreja,	se	tivesse	podi-
do	saber	de	antemão	a	intenção	pontífice	(EGINHARDO,	2008).	
Era	seu	desejo	que	o	cerimonial	seguisse	a	ordem	tradicional	
praticada	em	Bizâncio,	na	qual	a	aclamação	da	multidão	e	do	exér-
cito	precedia	a	coroação	pelo	patriarca,	demonstrando,	assim,	que	
o	poder	vinha	do	povo	e	das	vitórias	do	imperador.	
Mas	não	podemos	esquecer	que,	como	vimos,	a	essa	concep-
ção	de	poder	imperial	foi	incorporada	a	noção	cristã	de	que	é	Deus	
quem	concede	o	poder	ao	imperador.	Durante	a	coroação,	Leão	III	
afirmou	que	todo	o	poder	vinha	de	Deus	e	era	a	pessoa	do	papa	
que	intermediava	essa	concessão.	
Porém,	mesmo	diante	dessa	tentativa	de	afirmar	a	superio-
ridade	do	poder	espiritual	sobre	o	poder	temporal,	Carlos	Magno	
seguiu	separando-os,	fazendo	triunfar	sua	concepção	mais	laica	de	
império.	
Essa	concepção	ficou	mais	evidente	quando,	em	813,	o	pró-
prio	Carlos	Magno	coroou	o	filho	Luís, o Piedoso,	como	imperador,	
na	capela	do	seu	palácio	em	Aix-la-Chapelle,	sem	a	intervenção	do	
soberano	pontífice.
Entretanto,	ao	longo	de	seu	governo,	Luís,	o	Piedoso	(814-
840),	 reconheceu	a	 importância	de	 ser	antes	de	 tudo	um	 impe-
rador	 cristão.	 Em	 816,	 tomou	 o	 título	 expressivo	 de	 imperador 
Augusto	e	foi	ungido	pelo	papa	Estevão	IV	em	Reims.	
Ajudado	de	perto	por	eclesiásticos	que	o	aconselhavam	so-
bre	a	necessidade	de	manter	a	unidade	imperial,	Luís	fazia	crescer	
a	prática	evangelizadora	na	intenção	de	manter	a	coesão	dos	terri-
tórios	conquistados	pelo	cristianismo.	
Territórios	continuaram	a	ser	anexados	ao	império	pelo	me-
nos	até	825,	em	expedições	contra	os	croatas,	em	817,	contra	os	
119© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
bretões,	entre	818	e	824,	e	contra	os	muçulmanos,	na	Espanha,	
entre	822	e	824.	As	guerras	–	e,	principalmente,	as	vitórias	–	ga-
rantiam	ao	novo	 imperador	 riqueza	e	autoridade	 junto	aos	seus	
homens.	
Além	disso,	a	proximidade	cada	vez	mais	evidente	com	al-
gumas	autoridades	eclesiásticas	parecia	garantir	a	efetividade	do	
exercício	imperial.	Tanto	que	este	passou	a	intervir	decisivamente	
na	reorganização	da	própria	Igreja	na	busca	por	uma	maior	mora-
lização.	
Entre	816	e	819,	o	imperador	convocou	uma	série	de	concí-
lios	em	Aix-la-Chapelle,	que	impuseram	o	sistema	de	cânones	aos	
clérigos	das	catedrais	e	a	regra	beneditina	a	todos	os	monastérios,	
ordenando	a	disciplina	canônica	a	todos	os	clérigos.	Segundo	Ba-
lard	(2002,	p.	51),	
Ao	mesmo	tempo,	ele	renunciou	ao	tornar	precárias	as	terras	da	
Igreja,	passando	para	cada	abadia	ou	bispo	o	mínimo	vital.	A	pro-
priedade	eclesiástica	recomeçou	a	crescer	sem	risco	[...].	Assim,	a	
Igreja	reformava-se	e	subtraía	a	influência	dos	laicos,	mas	contra-
riamente	ao	que	queria	Carlos	Magno,	poderia	vir	a	ser	um	poder	
exterior	ao	império.	
Convencido	da	necessidade	de	manter	a	unidade	do	império	
cristão,	Luís	emitiu,	em	817,	a	Ordinatio Imperii	(capitular	que	trata	
das	disposições	sucessórias	do	Império	Carolíngio).	Segundo	essa	
capitular,	um	dos	descendentes	de	Luís	poderia	sucedê-lo	e	usar	
o	título	imperial,	enquanto	os	outros	assumiriam	reinos	subordi-
nados	ao	imperador;	o	papa	deveria	coroar	o	eleito,	garantindo	a	
unidade	do	império	pela	unção.	
O	direito	à	sucessão	imperial	coube	a	seu	primogênito,	Lo-
tário.	Os	sub-reinos	da	Baviera	e	da	Aquitânia	 foram	respectiva-
mente	assumidos	pelos	outros	filhos,	Luís	e	Pepino.	A	Itália	per-
manecia	sob	o	controle	do	sobrinho	de	Luís,	o	Piedoso:	o	duque	
Bernardo.	Aquele	território	lhe	fora	conferido	por	Carlos	Magno,	
e	foi	de	lá	que	partiram	as	primeiras	revoltas	contra	a	nova	prática	
sucessória.	 
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
120
Na	teoria,	esses	três	reinos	seriam	partes	do	Império	e	deve-
riam	se	submeter	inteiramente	ao	imperador.	Na	sua	condição	de	
fiéis,	os	reis	deveriam	total	obediência	a	Lotário.	Segundo	Michel	
Parisse	(2002,	p.	609),	"o	que	Luís	instituía	era	a	noção	nova	de	um	
imperador	reinando	acima	dos	reis,	separando	assim	o	imperium 
dos	regna que	lhe	eram	submissos”.	
Desse	 modo,	 o	 império	 tornava-se	 uma	 entidade	 política	
governada	por	delegação	e	não	mais	um	patrimônio	a	ser	dividido	
como	outros	bens	materiais.	Porém,	foi	do	descontentamento	com	
esse	novo	modo	de	sucessão	que	surgiram	as	primeiras	desordens	
no	governo	de	Luís,	o	Piedoso.	
Primeiramente,	ocorreu	a	revolta	dos	aristocratas	da	Itália,	
preocupados	com	o	destino	do	reino	governado	por	Bernardo,	so-
brinho	de	Luís.	Em	seguida,	a	preocupação	de	Luís	com	a	herança	
de	seu	caçula	fez	que	ele	aplicasse	o	princípio	de	divisão	territorial,	
criando	uma	crise	com	os	outros	filhos,	que	acaba	por	levá-los	à	
guerra.	
Luís	perdeu	o	conflito	em	junho	de	833,	mas	continuou	firme	
em	seu	plano	de	criar	um	reino	para	seu	filho	mais	novo,	Carlos	–	fu-
turo	Carlos, o Calvo.	Com	a	morte	de	Pepino,	Luís	passou	por	cima	
do	programa	sucessório,	segundo	o	qual	o	neto	deveria	assumir	o	
lugar	do	pai,	e	deu	o	governo	da	Aquitânia	a	Carlos.	A	aristocracia	
local	revoltou-se	e	conquistou	a	independência	da	região.	
Em	840,	com	a	morte	de	Luís,	o	Piedoso,	as	guerras	entre	os	
irmãos	 intensificaram-se.	 Isso	 não	 impediu	 a	 tentativa	 frustrada	
de	Lotário	de	fazer	valer	a	unidade	imperial.	Enquanto	isso,	outros	
principados	foram	surgindo,	anunciando	o	completo	desmantela-
mento	do	Império.	
Frente	a	isso,	na	tentativa	de	resgatar	a	ordem	e	preservar	
a	unidade	política,	os	irmãos	Lotário,	Luís,	o	Germânico	e	Carlos,	
o	Calvo,	fazem	um	acordo	em	outubro	de	843.	Esse	acordo	ficou	
conhecido	com	o	Tratado	de	Verdun	(Verdun	era	o	nome	da	cidade	
onde	ocorreu	o	encontro).	
121© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
Segundo	esse	acordo,	o	império	seria	divido	em	três	partes	
iguais,	distribuídas	da	seguinte	 forma:	o	território	a	 leste	do	Rio	
Reno	foi	atribuído	a	Luís,	o	Germânico;	a	região	oeste,	onde	esta-
vam	as	antigas	regiões	da	Nêustria	e	da	Aquitânia,	foi	destinada	a	
Carlos,	o	Calvo;	e	a	região	central	do	império,	envolvendo	os	ter-
ritórios	entre	a	Frísia	e	a	Provença	(onde	se	encontravam	as	capi-
tais	Aix-la-Chapelle	e	Roma),	ficou	sob	o	domínio	de	Lotário,	que	
portaria	o	título	imperial.	
Portanto,	a	ficção	da	unidade	imperial	era	mantida,	mas,	de	
fato,	o	que	se	observava	era	a	independência	político-administrati-
va	de	cada	reino.	Veja,	a	seguir,	como	ficou	a	divisão	instituída	pelo	
Tratado	de	Verdun	(Figura	2):
Fonte:	CD	ROM	-	Atlas de História Geral,	Editora	Ática.
Figura	2	Mapa da divisão territorial instituída pelo Tratado de Verdun.	
Segundo	Michel	Parisse	(2002),	quando	Lotário	deixou	a	co-
roa	imperial	ao	seu	filho	primogênito,	Luís,	este	dispunha	apenas	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
122
da	Itália,	e,	além	disso,	não	deixou	descendentes.	Assim,	o	papel	
do	papado	tornou-se	decisivo	para	a	transmissão	do	título	impe-
rial,	já	que	cabia	ao	papa	ungir	o	novo	imperador.	
Nesse	 sentido,	 a	 ideia	de	 império	 tornava-se	 cada	vez	mais	
importante	para	os	papas,	que	buscavam	o	fortalecimento	do	poder	
centralizado	e	a	proteção	à	Igreja.	A	disputa	pelacoroa	tornou-se	
ferrenha	entre	Carlos,	o	Calvo,	e	Lotário	II.	Dela	saiu	vitorioso	Carlos,	
uma	vez	que	dispunha	de	mais	territórios	e	representava,	aos	olhos	
do	papado,	a	possibilidade	de	restituição	da	unidade	imperial.	
Entretanto,	o	governo	de	Carlos,	o	Calvo,	não	duraria	muito.	
Governando	 por	 apenas	 dois	 anos	 (875-877),	 ele	 enfrentou	 in-
úmeras	derrotas	frente	aos	filhos	de	Luís,	o	Germânico,	e	à	região	
italiana,	não	conseguindo	resguardar	o	título	imperial,	que	passou	
às	mãos	de	um	dos	filhos	de	seu	irmão	Luís:	Carlos, o Gordo.	Se-
gundo	Parisse	(2002,	p.	609),	de	posse	do	título	de	imperador,	ele
[...]	teve	a	oportunidade	de	pela	última	vez	reunir	sob	sua	autori-
dade	única	os	reinos	francos,	reconstituindo,	assim,	o	Império	de	
seu	avô	Luís,	o	Piedoso.	Após	sua	morte,	em	888,	o	 Império	dos	
Carolíngios,	moribundo,	transmitiu-se	como	um	título	já	vazio	de	
poder	efetivo,	na	Germânia	a	Aroldo,	depois	na	Itália	a	Lamberto	
de	Spoleto	(morto	em	898),	Luís	da	Provença	(901)	e	Berengário	do	
Freiuli	(915-924).
8. A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DE CARLOS MAGNO
Após	acompanhar	a	trajetória	de	formação,	expansão	e	de-
clínio	do	Império	Carolíngio,	você	deve	se	perguntar:	como	foi	pos-
sível	manter	tal	Império,	visto	que	concepções	diversas	do	exercí-
cio	governamental	motivaram	seus	dirigentes?	
A	resposta	para	essa	pergunta	é	um	tanto	complexa,	princi-
palmente	porque	temos	uma	evolução	política	importante	entre	o	
governo	de	Carlos	Magno	e	o	de	seu	filho	Luís,	o	Piedoso.	Foi	sob	a	
condução	desses	dois	homens	que	o	Império	construiu	sua	unidade	
política	definitiva,	com	cerca	de	um	milhão	e	duzentos	mil	quilômet-
ros	de	extensão	e	quinze	milhões	de	habitantes	(BALARD,	2002).	
123© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
Mesmo	antes	do	reinado	de	Carlos	Magno,	entre	os	francos	
vigorava	a	noção	de	que	o	poder	era	exercido	conjuntamente	pela	
aristocracia,	formada	pelos	homens	livres,	e	pelo	rei.	Com	base	no	
reinado	de	Carlos	Magno	e	com	a	contínua	expansão	territorial	de	
seu	domínio,	esta	concepção	de	exercício	conjunto	 foi	 renovada	
com	a	multiplicação	dos	juramentos de fidelidade	ao	rei.	
Juramentos de fidelidade ––––––––––––––––––––––––––––––
“Todo o mundo sabe que eu não tenho do que me alimentar e me vestir. Por 
essa razão, eu peço por vossa bondade a permissão de me remeter aos vossos 
cuidados e me recomendar a vós. Eu o faço sob as seguintes condições: em 
troca dos serviços que eu poderei vos prestar, você deve me dar assistência em 
suprimentos e vestimentas; e enquanto eu viver, eu devo servir-lo e ser submisso 
como pode fazer um homem livre, sem que me seja permitido, durante minha 
vida, subtrair-me de vossa autoridade e proteção” (MANGIN, 2008).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Desde	757,	o	então	rei	franco,	Pepino,	exigia	esse	juramento	
de	seus	homens,	especialmente	em	momentos	de	crise.	Com	Car-
los	Magno,	esse	procedimento	tornou-se	obrigatório	para	todos	os	
homens	livres	de	seu	território,	independentemente	de	sua	situa-
ção	política.	Por	meio	do	juramento	prestado	em	uma	cerimônia	
de	recomendação,	Carlos	Magno	assegurava-se	da	subordinação	e	
da	obediência	dos	homens	livres	em	todo	o	território	franco.		
Para	auxiliar	na	manutenção	dessa	coesão,	Carlos	estabele-
ceu	também	uma	rede	de	agentes	oficiais,	algo	como	“funcionári-
os	reais”	que	auxiliavam	tanto	na	administração	de	seus	domínios	
quanto	na	de	seus	palácios,	e	colaboravam	para	garantir	o	respeito	
à	sua	autoridade.	
Essa	rede	de	agentes	oficiais	era	formada	por	agentes	inter-
nos	ao	palácio,	tais	como:	o	senescal,	que	supervisionava	os	agen-
tes	domésticos,	como	os	camareiros;	o	tesoureiro,	que	guardava	e	
administrava	o	tesouro	real;	e	o	comandante das armas,	que	cui-
dava	do	transporte	e	do	abastecimento	do	exército	real	(BALARD,	
2002).	Externamente,	o	império	continha	cerca	de	trezentos	con-
dados,	divididos	entre	a	direção	de	condes	e	os	vigários.	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
124
Suas	funções	abrangiam	desde	a	execução	das	ordens	reais	
até	a	convocação	dos	homens	livres	de	seus	teritórios	para	as	ex-
pedições	armadas.	A	maioria	desses	condes	provinha	de	sua	pró-
pria	família	e	exercia	funções	que	representavam	o	poder	central,	
como	a	de	juiz	e	a	de	coletor	de	impostos.	
Contudo,	o	controle	imperial	não	se	restringiu	apenas	à	or-
ganização	 administrativa	 dos	 teritórios.	 Para	 manter	 a	 centrali-
dade	do	poder	e	garantir	 sua	autoridade,	Carlos	Magno	utilizou	
instrumentos	escritos	e	humanos,	tanto	para	orientar	quanto	para	
superviosionar	 a	 ação	 de	 seus	 agentes	 oficiais	 (LE	 GOFF,	 2005).	
Como	intrumentos	escritos,	figuravam	as	capitulares	e	as	ordena-
ções	administrativas.
As	capitulares	estavam	presentes	desde	o	reinado	do	pai,	Pe-
pino,	o	Breve.	Mas	foi	com	Carlos	Magno	que	elas	deixaram	de	ser	
proclamações	 verbais,	 tornando-se	 documentos	 escritos	 difíceis	
de	serem	alterados	em	suas	proclamações	originais.	
Já	o	instrumento	humano	era	composto	pelos	missi dominici 
(enviados	do	mestre),	enviados	reais	 responsáveis	por	 investigar	
os	abusos	dos	agentes	locais	e	inspecionar	sua	administração.	Na	
maioria	das	vezes,	os	missi	andavam	em	duplas	compostas	por	um	
aristocrata	laico	e	um	eclesiástico	que	dispunham	da	confiança	do	
imperador.
Entretanto,	as	inovações	de	Carlos	Magno	não	pararam	por	
aí.	Para	controlar	o	excesso	de	poder	de	seus	condes,	ele	também	
utilizava	outros	meios:	o	advogado	laico	e	a	própria	disseminação	
da	recomendação	(vassalagem).	
As	imunidades,	em	teoria,	impediam	o	conde	de	entrar	nas	
terras	de	bispos	e	em	abadias	para	exercer	seu	domínio.	Ao	ad-
vogado	 laico	 cabia	 fazer	 o	direito	à	 imunidade	 ser	de	 fato	 cum-
prido,	principalmente	defendendo	os	bens	eclesiásticos	das	expro-
priações	condais.	
125© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
A	vassalagem,	que	consistia	em	sistematizar	a	união	da	fide-
lidade	jurada	pelo	homem	livre	a	um	benefício,	normalmente	com-
posto	por	um	bem	fundiário	(terras),	auxiliava	no	estabelecimento	
de	um	compromisso	mútuo	entre	condes	e	homens	livres	e,	tam-
bém,	entre	o	imperador	e	seus	fiéis	na	batalha	(vassi dominici).	
Assim,	Carlos	Magno	criou	toda	uma	hierarquia	de	subordi-
nação,	controlando	de	um	lado	a	aristocracia,	por	meio	do	acom-
panhamento	dos	missi dominici,	e	de	outro,	os	homens	livres	com	
a	direção	dos	vassi dominici	na	batalha.
"Concepção	 e	 organização	 políticas	 eram	 sustentadas	 por	
poderosos	meios	de	ação.	O	exército	era	o	principal	deles,	uma	vez	
que	a	guerra	era	uma	das	mais	importantes	instituições	públicas"	
(BALARD,	2002,	p.	57).	Por	meio	de	guerra,	o	Império	conquistava	
mais	territórios,	reforçava	sua	aproximação	com	os	homens	livres,	
e	ainda	garantia	à	aristocracia	e	aos	vassalos	ganhos	consideráveis	
em	forma	de	benefícios	fundiários	ou	outros	bens	materiais.	
Mas,	com	as	divisões	do	território	imperial	promovidas	pe-
los	netos	de	Carlos	Magno,	o	equilíbrio	na	distribuição	dos	bens	
fundiários	se	perdeu,	assim	como	o	foco	sobre	qual	dos	herdeiros	
seria,	de	fato,	o	representante	do	poder	imperial.
9. TEXTO COMPLEMENTAR
Como	 complemento	 ao	 estudo	 desta	 unidade,	 você	 terá	
acesso	a	um	interessante	texto	de	José	D'Assunção	Barros,	doutor	
em	História	 pela	Universidade	 Federal	 Fluminense.	 Utilizaremos	
aqui	alguns	excertos	do	texto,	segundo	a	conveniência	para	nosso	
estudo.	Esses	trechos	vêm	acompanhados	de	nossos	comentários.	
Caso	você	tenha	interesse	em	ler	o	artigo	na	íntegra,	encontrará	o	
endereço	disponível	no	Tópico	E-Referências.	
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126
Cristianismo e Política na Idade Média: as relações entre o 
papado e o império –––––––––––––––––––––––––––––––––––
Introdução
Papado e Império, na Idade Média: eis aqui dois projetos universais para uma 
mesma cristandade ocidentalque começa a se consolidar desde os primórdios 
medievais. Do jogo de avanços e recuos entre os poderes conquistados por cada 
um destes dois projetos – um jogo político tão intenso e vívido na Idade Média, 
mesmo que algumas vezes apenas ao nível do Imaginário – já não parecerá ha-
ver grandes resquícios à medida que se adentra a Modernidade. De fato, quanto 
mais nos afastamos da Idade Média, o ‘Império’ parece se dissolver mais e mais 
na História, convertendo-se a princípio em mera ficção política, desaparecendo a 
seguir, apesar da sua polêmica ressurgência em projetos políticos bem posterio-
res, tal como ocorreria com o projeto ariano do III Reich proposto pelos Nazistas 
já em pleno século XX.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Observe	que	o	autor	nos	informa	que,	mesmo	forte,	a	alian-
ça	entre	o	 Império	e	 Igreja	não	resistiu	às	mudanças	no	contexto	
histórico.	No	entanto,	novas	tentativas	foram	feitas	com	o	intuito	de	
retomar	a	parceria.	Podemos	afirmar,	então,	que	houve	"um	retor-
no	da	História",	que	a	História	se	repete?	Não.	Contextos	diferentes,	
História	diferente.	Eis	com	que	o	historiador	deve	se	preocupar.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Falaremos aqui, naturalmente, de uma idéia muito específica de Império – an-
corada em uma história que remonta ao Império Romano e à constituição do 
Império Carolíngio por Carlos Magno [...]
O presente artigo propõe-se a examinar, em torno das idéias de Império e de 
Papado, a história de uma oposição que assinalou uma presença significativa e 
recorrente no decurso de toda a Idade Média. A abordagem empregada, atenta 
às inter-relações entre poder, discurso e imaginário, busca combinar a perspec-
tiva da nova História Política à História do Imaginário. O problema examinado, 
ao situar Papado e Império como dois projetos ao mesmo tempo concorrentes e 
interdependentes diante de um conjunto de circunstâncias e necessidades políti-
cas, corresponderá ao estudo da dinâmica histórica de uma relação que precisou 
ser construída, de forma complexa, a partir do confronto e da aliança. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
“...inter-relação	entre	poder,	discurso	e	imaginário"	[...]	“Pa-
pado	 e	 Império	 como	 projetos	 concorrentes	 e	 interdependent-
es...".	Os	conceitos	utilizados	pelo	autor	evidenciam	sua	atenção	
para	os	novos	paradigmas	historiográficos	e	para	a	análise	não	uni-
lateral	da	aliança	entre	a	Igreja	e	o	Império.	Barros	observa	que	a	
aliança	foi	possível	mesmo	não	havendo	concordância	entre	todos	
os	interesses	imperiais	e	eclesiásticos.
127© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. Império: uma antiga noção e sua especial importância na Roma Antiga
A oposição entre Império e Papado no decurso da Idade Média – bem como suas 
interações várias – desenvolveu-se de maneira particularmente complexa sob o 
signo de dois grandes projetos que se postulavam como universais: o de uma 
Igreja Romana que passaria a se apresentar na Europa Medieval como o grande 
fator da unidade da cristandade ocidental, e o de um Império do Ocidente que 
já não existia mais a partir da deposição de Rômulo Augusto em 476 d.C., mas 
que a partir daí nunca deixaria de pairar sobre o imaginário político dos novos 
reinos que, nesta parte ocidental do antigo Império Romano, dava agora origem 
aos inúmeros reinos europeus. Esta história deve ser recuperada a partir de seus 
primórdios, que remontam à Antiguidade Romana.
[...] Com o desenvolvimento histórico do Império Romano, contudo, e particular-
mente quando este adota o Cristianismo como religião oficial a partir de Cons-
tantino [...] um novo matiz vinha se juntar a esta idéia: o de universalidade. Em 
que pese que o Império Romano tenha sempre se confrontado no plano político 
com outras realidades políticas que também se postulavam como imperiais, a 
verdade é que a aliança com o Cristianismo nos últimos séculos da Antiguidade 
Romana reforçara a idéia de um Império Universal, que almeja estender sobre 
todos o seu domínio, e sobre os seus eleitos uma proteção igualmente universal. 
Contudo, precisamente neste momento histórico em que a idéia de universalida-
de cristã vem ao encontro da idéia de universalidade imperial, o poder de Roma 
já não era o mesmo. Uma série de processos históricos que aqui não poderão 
ser abordados, e dos quais a pressão e entrada no Império Romano de inúme-
ros povos é apenas um dos muitos fatores, terminou por produzir uma ruptura 
que separou de um lado o chamado Império Romano do Ocidente, e de outro o 
chamado Império Romano do Oriente (futuro Império Bizantino). Estes eventos 
trouxeram uma complexidade peculiar: havia agora dois Impérios com projetos 
universais similares, com uma base cristã em comum, e edificados sobre uma 
cultura e uma história comum. Adicionalmente, a divisão entre um Império oci-
dental e um Império Oriental produzira também a emergência entre duas Igrejas 
cristãs: uma que passava a estar sediada em Roma, outra que passava a estar 
sediada em Bizâncio.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ideia	 de	 universalidade. Império	 do	 Ocidente,	 Império	 do	
Oriente	e	no	centro	a	Igreja.	Todos	com	intuitos	de	expandir	suas	
influências.	É	interessante	como	podemos,	neste	momento,	traçar	
um	paralelo	com	a	situação	atual:	EUA	e	Europa	(Ocidente)	versus 
Oriente	(potências	petrolíferas	e	armamentícias).	
Embora	a	Igreja	hoje	não	esteja	no	centro	da	questão,	ele-
mentos	religiosos	são	colocados	em	cena,	principalmente	quando	
o	Ocidente	quer	prejudicar	a	 imagem	do	Oriente,	generalizando	
todos	como	fundamentalistas.	Eis	um	tipo	de	visão	que	precisa	ser	
eliminada	de	nossas	interpretações.
© História Medieval I
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128
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
2. A aliança entre Império e Papado na Alta Idade Média
A ascensão do reino Franco no cenário Europeu veio se combinar a um contexto 
em que a Igreja Romana [...] via-se afrontada por duas grandes ameaças que 
eram os povos lombardos, recém chegados à península, e o Império Bizantino, 
que controlava a chamada Igreja Cristã oriental. A sobrevivência da Igreja ro-
mana era ameaçada neste contexto de muitas maneiras – tanto territorialmente 
como doutrinariamente – e por isto o projeto do Papado de se projetar como força 
cristã universal no âmbito do ocidente poderia se combinar perfeitamente com o 
projeto de expansão do povo franco, já cristianizado [...]
Vinte anos depois, Carlos Magno encetaria uma aliança similar com o Papa 
Adriano I, a partir de um intrincado contexto de alianças e oposições que estão 
registrados em diversos anais da época, como o Liber Pontificalis. Fonte singular 
para uma compreensão dos aspectos políticos e simbólicos envolvidos nestes 
acontecimentos é a Carta de Doação de Constantino, documento forjado nas 
oficinas do próprio Papado de Adriano I como se fosse uma antiga carta em que 
o Imperador Constantino havia doado terras da Itália Central ao papa Silvestre. 
Este documento e a Carta de Pepino de 754, por ocasião da primeira aliança 
franca com a Igreja Romana, ancoraram a assinatura de um terceiro documento 
em que Carlos Magno estabelecia a sua própria aliança com Adriano I. A partir 
daí andam juntos os dois projetos – o de expansão do Reino Franco e o de uni-
versalismo espiritual da Igreja Romana sobre as populações cristãs do Ocidente 
– estabelecendo-se uma aliança que irá culminar com a coroação imperial de 
Carlos Magno no ano 800 [...]
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Acordos	 assinados,	 documentos	 de	 ambas	 as	 partes	 para	
garantir	a	aliança	e	o	projeto	universalista.	Dentre	eles,	um	docu-
mento	forjado.	Ambos	os	lados	tinham	conhecimento	da	falsidade	
de	tal	documento?	Sem	ele,	será	que	o	acordo	entre	as	instituições	
seria	realmenteefetivado?	Em	História	não	há	lugar	para	"será?"	
Deduções	são	caras	ao	pesquisador.	No	entanto,	há	que	se	recon-
hecer	que	tal	documento	foi	um	importante	elo	na	concretização	
da	união	entre	o	Império	e	a	Igreja.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A coroação de Carlos Magno em 800, diga-se de passagem, representa apenas 
um momento especial no processo de concretização de uma política carolíngia... 
Entre outros aspectos sinalizadores, já se vê claramente a idéia de que a auto-
ridade do rei franco se refere “aos fiéis de Deus e do rei”, situando no mesmo 
plano as duas fidelidades (FAVIER, 2004, p. 471).
Assumido o título imperial por Carlos Magno a partir de 800, citaremos [...] a 
elaboração da Capitular de 817 – intitulada Ordinatio Imperii. Neste documento 
mandado redigir por Luís o Piedoso, três anos depois da morte de Carlos Magno 
e já tendo sido sagrado imperador na própria vida do primeiro imperador franco, 
busca-se delinear com maior precisão os mecanismos de sucessão imperial no 
ocidente, associando-os a um único herdeiro.[...]
129© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
Essa idéia de um Imperador acima dos reis era já antiga [...] Contudo, agora 
esta idéia assumia novas conotações que buscavam delimitar mais claramente a 
separação do imperium em relação aos regna [...]
Documento ímpar para a sistematização do imaginário imperial surge no Império 
de Henrique III, quando se põe por escrito em 1030 um Livro de Cerimônias da 
Corte Imperial, que buscava estabelecer uma minuciosa ritualística com claras 
referências na pompa imperial de Bizâncio. De igual maneira, no século seguinte 
iria ser recuperado um Ordo de Consagração Imperial do início do século X, mul-
tiplicando ainda mais a ritualística e os objetos simbólicos a estarem presentes 
na sagração.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Imperador	dos	fiéis	de	Deus	e	do	rei.	Distinção	entre	império	
e	reino.	Documentos	que	sustentam	a	importância	do	cargo	de	im-
perador.	Observe	que	a	questão	universalista	está	presente	mesmo	
depois	da	morte	de	Carlos	Magno.	A	relevância	do	cargo	de	imper-
ador	evidencia	uma	postura	diferenciada	em	relação	aos	súditos	e	
às	regiões	aliadas.	A	ideia	de	um	“simples	reino”	já	não	satisfaz	os	
sucessores	de	Carlos	Magno.	No	entanto,	apenas	se	deve	enfren-
tar	uma	batalha	de	poderes	com	armas	realmente	eficazes.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
3. As tensões entre Império e Papado na Baixa Idade Média
Em que pese toda uma ritualística que procurava reunir o imaginário imperial e o 
simbolismo cristão através de uma aliança entre o Império e o Papado, a verda-
de é que a questão da sagração imperial oferecia um profícuo terreno para que 
começassem a surgir conflitos entre o poder espiritual e o poder temporal. Era 
o Imperador que fazia o Papa [...] ou era o Papa que deveria fazer o Imperador, 
como declararia Gregório VII, já em 1076, em um documento denominado Dic-
tatus Papae? [...]
De fato, o complexo panorama das relações entre a Igreja e os diversos poderes 
temporais, nos vários territórios europeus, mostravam desde os primórdios do 
século XI uma situação pouco cômoda para a Igreja. Na França, os primeiros 
reis Capetos [...] tinham adquirido o hábito de vender pelos melhores preços os 
cargos eclesiásticos reais que estavam sob seu controle, e com freqüência impu-
nham pela força os candidatos episcopais de sua preferência. Na Inglaterra, as 
aristocracias locais da primeira metade do século XI haviam praticamente se as-
senhorado das dignidades eclesiásticas. [...] Neste contexto, os bispos estavam 
inteiramente sujeitos ao Imperador ou a outros governantes temporais, que lhes 
concediam a investidura através de dois instrumentos simbólicos importantes – o 
báculo e o anel – ... O “báculo” era o símbolo da jurisdição; o “anel” o símbolo da 
união mística com a Igreja.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Unir	os	poderes	temporais	ao	poder	espiritual	tinha	um	pre-
ço.	A	interferência	laica	na	instituição	episcopal	foi	ampla	e	mais	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
130
uma	vez	questionada.	No	entanto,	símbolos	foram	utilizados	para	
visualizar	e	fechar	os	pactos.	Lembremos	que	as	simbologias	sem-
pre	foram	importantes	em	ambos	os	poderes.	Ao	ver	um	dos	sím-
bolos,	os	praticantes	do	cristianismo	e	mesmo	aqueles	contrários	
às	práticas	religiosas	reconheciam	a	união	estabelecida.	O	"ver",	
muitas	vezes,	era	mais	importante	do	que	o	saber.	Era	a	certeza	da	
presença	dos	dois	reinos	na	localidade.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Vazando transversalmente a sociedade eclesiástica de alto a baixo, a interferên-
cia dos poderes temporais na Igreja era manifesta, e mesmo as paróquias rurais 
estavam integradas aos poderes senhoriais através do controle dos grandes pro-
prietários que eram herdeiros dos fundadores destas igrejas. [...] O quadro geral, 
portanto, era em todos os níveis o de uma intrincada confusão entre a função 
eclesiástica propriamente dita e o benefício temporal, fosse este concedido pelo 
imperador, pelo rei, ou mesmo pelo grande senhor.
[...] Dois conceitos importantes que surgem da situação de confusão entre os 
interesses temporais e a função religiosa, no âmbito de uma moral eclesiástica, 
referem-se às idéias de simonia e nicolaísmo. O conceito de “simonia”, que no 
seu sentido mais estendido referia-se tanto ao tráfico de coisas santas e seu 
desvio para finalidades profanas como à compra de funções eclesiásticas, adap-
tava-se à situação dos clérigos, ou mesmo de leigos, que haviam comprado suas 
dignidades eclesiásticas àqueles que controlavam o direito de investidura. Na 
contrapartida, os clérigos investidos desta maneira também procuravam obter 
vantagens a partir da venda de cargos menores que passavam a estar sob sua 
jurisdição, além de obter pagamentos pelos sacramentos que deviam administrar 
em razão de sua função eclesiástica. 
O “nicolaísmo” representava outro ponto importante de interferência entre o sa-
grado e o temporal, pois se referia aos padres que viviam amancebados e que, 
freqüentemente, geravam filhos que poderiam postular direitos diversos. Alguns 
cargos, inclusive, eram transferidos hereditariamente. Na segunda metade do 
século XI, tanto a simonia como o nicolaísmo eram questões que movimentavam 
polêmicas que clamavam por uma solução nos meios eclesiásticos, e a reforma 
gregoriana, já em curso, iria centrar-se diretamente nestes pontos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Observe	que	não	foi	apenas	o	poder	laico	que	fez	uso	da	si-
monia,	mas	também	a	própria	Igreja.	Lembremo-nos	de	que	aque-
les	eclesiásticos	que	faziam	uso	dessa	prática	foram,	geralmente,	
os	mesmos	que	tiveram	seus	cargos	"comprados".	
Observemos	também	que	não	se	tratava,	então,	de	um	uso	
pecaminoso	do	poder	sagrado.	Afinal,	a	vocação	para	a	vida	sac-
erdotal	não	estava	em	jogo.	Não	estamos	falando	da	Igreja	apenas	
como	símbolo	maior	das	coisas	divinas	e	 sagradas,	mas	de	uma	
131© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
Igreja	inserida	em	um	contexto	laico.	Naquele	contexto	histórico	
essa	 postura	 não	 deixou	 de	 causar	 controvérsias	 e	 houve	 a	 ne-
cessidade	de	mudanças.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Em 1073, quando Gregório VII ascende a Papa, [...] A atuação de Gregório VII, 
neste contexto, seria especialmente importante em três pontos centrais: o esforço 
de definir com clareza os direitos e responsabilidades do papado, a substituição 
do direito da Igreja Germânica pelo Direito Canônico, e a conquista da garantia 
de liberdade de eleição para o cargo de Papa (BOLTON, 1985, p.21).
Como grande reformador e homem consciente das transformações de seu tem-
po, Gregório VII percebeu que a sobrevivência e as possibilidades de desen-
volvimento da Igreja enquanto Instituiçãodependeriam seriamente de resolver 
algumas questões cruciais, e a primeira delas relacionava-se precisamente à 
necessidade de fixar a autonomia da Igreja em relação ao Império ou a qualquer 
outro poder temporal [...] Ao mesmo tempo, percebia que era preciso que o Papa-
do retomasse claramente a idéia de que era o sumo pontífice o líder máximo da 
Cristandade, acima de imperadores e reis. Em função desta última preocupação 
deve ser entendida a sua preocupação em reformular toda a imagística do papa-
do, apropriando-se inclusive de símbolos e imagens do poder imperial. [...]
Compreende-se dentro deste programa que uma das primeiras preocupações 
de Gregório VII tenha sido a de proibir enfaticamente a investidura leiga, isto é, 
a escolha de bispos e abades por príncipes e imperadores. O Dictatus Papae de 
1076, que consubstancia esta proposta, causou imediata reação do Imperador 
Henrique IV, que deu o Papa como deposto. Este, reciprocamente, declarou o 
Imperador como deposto e excomungado, e assim concretizava-se na prática a 
própria questão de que tratava o Dictatus Papae: quem teria o direito de nomear 
ou depor o outro: o Imperador ou o Papa? O gesto de Gregório VII ao depor 
Henrique IV era ainda mais contundente, pois proibia os vassalos de lhe prestar 
serviço, ameaçando-os com a mesma excomunhão que já destinara ao Impera-
dor. A conselho de seus assessores, Henrique IV capitulou e foi ao Castelo de 
Canossa em 1077, pedindo ao Papa um perdão que foi prontamente concedido, 
resolvendo momentaneamente a questão em favor da Igreja.
O conflito entre o papa Gregório VII e Henrique VII foi contudo apenas um dos 
diversos confrontos da época entre o Papado e o Império, que estão na base da 
chamada Querela das Investiduras. [...] (BARROS, 2011).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
As	mudanças	têm	início	com	o	papado	de	Gregório	VII.	Por	
suas	ações,	vemos	uma	preocupação	da	Igreja	em	tentar	retomar	
todo	seu	poderio	como	instituição	voltada	para	as	coisas	sagradas.	
É	 claro	que,	 para	obter	 êxito	 em	 suas	 investidas,	 ela	 fez	uso	de	
manobras	políticas:	deposição	e	excomunhão	de	um	imperador	e	
utilização	de	símbolos	imperiais	para	evidenciar	seu	poder.	
Esse	uso	diferenciado	de	símbolos	não	foi	exclusivo	da	Igreja.	
Com	o	advento	das	nações	(alguns	séculos	à	frente),	a	França,	por	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
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exemplo,	usou	símbolos	e	conceitos	do	Império	Romano	para	criar	
sua	identidade.	Assim,	de	acordo	com	Barros	(2011)	o	passado	foi	
usado	como	instrumento	para	se	reescrever	a	História.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Conclusão
Papado e Império, como pudemos ver através deste artigo, constituíram dois 
projetos universalistas cuja compreensão se mostra essencial para apreender 
a especificidade do período medieval. O paradoxo que parece se constituir da 
simultânea interdependência e concorrência entre estes dois projetos universa-
listas irá se dissolver a partir do período moderno por algumas razões. De um 
lado, a noção de Império perderá cada vez mais a sua importância para uma 
realidade política européia que terá como noção estruturante mais importante a 
dimensão do “reino”. Já o Papado seguirá, até os dias de hoje, como importante 
força política e cultural que continua a interferir de alguma maneira nas realida-
des nacionais que se desdobram no mundo moderno, particularmente no âmbito 
das nações católicas. Contudo, já teremos aqui uma capacidade de interferir 
nos destinos das nações ocidentais que estará muito longe do extraordinário 
poder do Papado no período medieval, uma vez que agora o catolicismo já se 
achará inserido em um quadro político-cultural no qual a própria Cristandade já 
se encontra dividida entre a Igreja católica e as diversas alternativas religiosas 
que emergem da Reforma, sem contar os abalos provocados pelos cismas do 
final da Idade Média e do início do período moderno. De resto, já não se evocará 
mais no mundo moderno, e menos ainda nos tempos contemporâneos, a tensa 
relação entre a idéia de “Império”, cuja importância recua para o imaginário, e a 
idéia de Papado, uma realidade ainda forte mas já não mais capaz de almejar o 
monopólio da religiosidade cristã no ocidente moderno. Desde então, a relação 
entre Papado e Império tornou-se apenas um tema de indiscutível importância 
para a História.
Notas
1. No mundo romano, originalmente o vocábulo Imperium estava associado ao 
poder exercido por um indivíduo encarregado de governar, e neste sentido se des-
dobrava em dois aspectos: o poder de controlar a unidade do comando militar 
(imperium militae) e a unidade de comando jurídico (imperium domi). Imperium 
era portanto um atributo inerente aos reis, que exerciam poder absoluto no interior 
do território sob sua jurisdição e também sobre o exército sob o seu comando. 
No mundo romano, com a instituição da República verifica-se a distribuição do 
Imperium entre cônsules e pretores, de modo a evitar a concentração do poder em 
um único indivíduo, esta só ocorrendo em ocasiões excepcionais nas quais fosse 
necessário o empossamento de um ditador. De qualquer modo, com o tempo a 
palavra “imperium” vai se deslocando de poder exercido por um ou mais indivíduos 
em nome do Estado para um sentido mais amplo, de poder que emana do Estado 
Romano e desdobra-se em magistraturas e poderes vários, inclusive aqueles en-
carregados de governar os territórios e províncias formados com a expansão das 
conquistas. Neste sentido, Imperium vai incorporando a significação de um poder 
que abarca outros poderes, ou mesmo que submete outros poderes. Na plenitude 
de sua expansão, Roma já deve ser vista como o centro integrador / explorador de 
distintos sistemas regionais, de modo que a palavra Império atinge aqui o termo de 
seu desenvolvimento semântico, expressando a posição cosmopolita de Roma em 
133© Reino ou Império: A Dinastia Carolíngia
relação às diversas territorialidades e realidades sociais por ela controladas. Para 
a questão da Idéia de Império, ver FOLZ, 1953.
2.Para o caso do Império Romano, observa Grimal que a expressão passa a 
designar no período do Principado “não só o espaço no interior do qual Roma 
exercia o seu poder, como este mesmo poder” (Cf. GRIMAL, 1999, p. 9).
3. Na verdade, a idéia de universalidade do Império Romano remonta a tempos 
anteriores. Com o Principado, fortalece-se a idéia de que Roma estaria destinada 
a sujeitar o mundo conhecido, e já nesta época Imperium relaciona-se não ape-
nas ao território submetido à lei romana e administrado diretamente, como tam-
bém aos povos que reconheciam a autoridade do Império e a ele se submetiam 
através de relações de Patrocinium.
4. Para um estudo da Querela das Investiduras, ver FLICHE, 1964.
Referências Bibliográficas
BOLTON, Brenda. A Reforma na Idade Média. Lisboa: Edições 70, 1983.
FAVIER, Jean. Carlos Magno. São Paulo: Estação Liberdade, 2004.
FLICHE, Augustin. La Querelle des Investidures. Paris: Aubier, 1964.
FOLZ, Robert. L’Idée d’Empire em Occident du V au XIV siècle. Paris: Aubier, 
1953.
GRIMAL, Pierre. O Império Romano. Lisboa: Edições 70, 1990.
LE GOFF, Jacques. Nota sobre sociedade tripartida, ideologia monárquica e re-
novação econômica na Cristandade do século IX ao século XII. In: LE GOFF, 
Jacques. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no 
ocidente. Lisboa: Estampa,1980.
SOUTHERN, Richard W. Western Society and the Churchs in the Middle Ages. 
New York: Penguin, 1970.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Faça	um	resumo	sobre	a	formação	e	a	expansão	do	Reino	Carolíngio.	Obser-
ve	atentamente	as	referências	do	contexto.
2)	 Qual	a	relevância	da	aliança	com	a	Igreja	para	o	fortalecimentoda	Dinastia	
Carolíngia?
3)	 Elabore	um	quadro	em	que	possam	ser	visualizadas	as	principais	caracterís-
ticas	da	política	carolíngia.
4)	 Qual	a	importância	dos	juramentos	de	fidelidade	para	a	manutenção	do	po-
derio	político	carolíngio?
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
134
11. CONSIDERAÇÕES
Nesta	 unidade,	 acompanhamos	 toda	 a	 estruturação	 do	
poder	da	Dinastia	Carolíngia	 sobre	 o	Ocidente	Medieval	e,	prin-
cipalmente,	 sua	 contribuição	para	 a	 fundamentação	da	 ideia	de	
império	que	superasse	a	herança	romana.	
Além	disso,	destacamos	o	elemento	central	da	estruturação	
política	carolíngia	–	a	guerra	–	e	sua	importante	vinculação	à	vas-
salagem	como	 forma	de	manutenção	da	estrutura	 sócio-política	
do	império.	
Na	próxima	unidade,	continuaremos	estudando	a	temática	
carolíngia:	poderemos	acompanhar	mais	de	perto	as	contribuições	
culturais	empreendidas	pelo	programa	de	Renovatio Regni Fran-
corum.	
12. E-REFERÊNCIAS
BARROS,	 J.	A.	Cristianismo e política na Idade Média:	as	 relações	entre	o	papado	e	o	
império.	 Disponível	 em:	 <http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/search/
authors/view?firstName=Jos%C3%A9%20D%E2%80%99Assun%C3%A7%C3%A3o&mid
dleName=&lastName=Barros&affiliation=Universidade%20Federal%20Rural%20do%20
Rio%20de%20Janeiro&country=>.	Acesso	em:	21	fev.	2011.	
EGINHARDO.	Vita et Gesta Caroli Magni.	 Disponível	 em:	 <http://www.thelatinlibrary.
com/ein.html>.	Acesso	em:	28	jan.	2008.
MANGIN,	J.	F. Juramentos de fidelidade. Disponível	em:	<http://pagesperso-orange.fr/
jean-francois.mangin/carolingiens/caro_3.htm>.	Acesso	em:	28	jan.	2008.	
______. De Partibus Saxoniae. Disponível	 em:	 <http://pagesperso-orange.fr/jean-
francois.mangin/carolingiens/caro_2.htm>.	Acesso	em:	28	jan.	2008.	
MONUMENTA	 GERMANIAE	 HISTORICA.	 Annales Laurienses.	 Disponível	 em:	 <http://
www.mgh.de/>.	Acesso	em:	23	jan.	2008.	
13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BANNIARD,	M.	A alta idade média ocidental.	Lisboa:	Europa-América,	1980.
EDITORA	ÁTICA.	Atlas de história geral.	São	Paulo:	Ática,	1996.	CD-ROM.	
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GEARY,	P.	O mito das nações. São	Paulo:	Conrad,	2005.
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PARISSE,	M.	Império.	In:	LE	GOFF,	J.;	SCHIMITT,	J.	(Coord.).	Dicionário temático do ocidente 
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PEDRERO-SÁNCHES,	 M.	 História da idade média:	 textos	 e	 testemunhas.	 São	 Paulo:	
Unesp,	2000.
TOURS,	G.	Histoire des Francs.	Paris:	Les	Belles	Lettres,	1999.	(Les	Classique	de	L’Histoire	
de	France	au	Moyen	Age).
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