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( Psicologia) - Edda A Q Simoes - Psicologia Da Percepcao

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Prévia do material em texto

Edda Augusta Quirino Simões 
Klaus Bruno Tiedemann 
Psicologia da Percepção 
Sobre os Autores 
Edda Augusta Quirino Simões é graduada em Psicologia pela Universidade de Brasilia, mestre em Psicologia pela California State University e doutora em Ciências (Psicologia) pelo Insti tuto de Psicologia da Universidade de São Paulo. É Professora Adjunta das Faculdades Metropolitanas Unidas, responsável pela disciplina Psicologia Geral e Experimental II (Percepção), e Chefe do 1 aboratório da referida disciplina. Foi Professora Assistente da Universí dade Federal do Ceará, ocasião em que coordenou a implantação do seu Departamento de Psicologia e respectivos Laboratórios. Realizou pesquisas no Institute of Medical Sciences do Pacific Medical Center e na Smith-Kettlewell Eye Research Foundation da University of the Pacific, em San Francisco, California (USA). 
Klaus Bruno Tiedemann é graduado e mestre em Psicologia e doutor em Ciências (Psicologia) pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. E Professor Assistente, responsável pela disciplina Psicologia da Percepção, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Fez cursos e pesquisas no Centro de Estudos Avanzados de Caracas (Venezuela), no Zoologisches lnstitut da Universidade de Munique (Alemanha) e no Instituto de Investigaciones Biológicas "Clemente Estable" e Faculdade de Medicina de Montevidéti (Uruguai). 
Capa: Paulo Hiss 
P. L - ditoi Pedogógica e ti :i\ ersitaria Lida., São Paulo. 1955. iodos os dirc-iios esersados .. \ repiodução dcxii obra, no todo ou em parte, por qualquer meio, seisi 1iutori/açio 
expressa e po escuto da liditoia,sueitará o infrator, nos termos da leito 6.595, de 17-12-1950, 
ii penalidade prevista tios artigos 154 e 156 do Código Penal, ii saber: reclusão de um a quatro 
P Ir. - Telefone (0 II) 3549-6077 - J°ax. (0 II) 3X45-5S03 
l'-1aiI: vendas(o epu.com.hr Site na Intcrnct: http: '.vs\ w.epu eom.br 
Rua Joaquni t-loriano, 72 - 6 andar - eon(unto 65 65 - 0-1534 000 São 'mio - 5 P 
In p10550 no l3rasi 1 Printed is t5t ao 
Prefácio geral da Coleção 
A Coleção Temas Básicos de Psicologia tem por finalidade apresentar de forma didática e despretensiosa tópicos que são ministrados em várias disciplinas dos cursos superiores de Psicologia ou outros em cujo curriculum constem disciplinas psicológicas. 
O objetivo fundamental é o de oferecer leituras introdutórias que sirvam como roteiro básico para o aluno e que ajudem o professor na elaboração e desenvolvimento do conteúdo programático. 
Neste sentido, selecionamos autores com vasta experiência didática em nosso meio, os quais, em virtude da profundidade de seus conhecimentos e do contato prolongado com alunos, cientes da dificuldade de adaptação da literatura importada para o nosso estudante, se dispuseram a colaborar conosco. 
Esperamos, assim, contribuir para a formação de profissionais, psicólogos ou não, sistematizando e transmitindo, de forma simples, o conhecimento acadêmico e prático adquirido por nossos colaboradores ao longo dos anos, e também tornando a leitura um evento produtivo e agradável. 
Clara Regina Rappaport 
Coordenadora 
VII 
Sumário 
Prefácio geral da coleção VII 
Prefácio IX 
1. Bases sensoriais da percepção 1 
1.1. O ambiente e sua percepção 1 
1.2. Transdução sensorial e classificações dos receptores 2 
1.3. Após a transdução 6 
1.4. Sensibilidade cutânea 8 
1.5. Sensibilidade cinestésica 13 
1.6. Sentido vestibular 15 
1.7. Olfato 16 
1.8. Gustação 19 
1.9. Audição 21 
1.10. Visão 24 
1.11. A interação dos diversos tipos de receptores 32 
2. Psicofísica - Medidas em percepção 35 
2.1. Detecção 37 
2.2. Discriminação 44 
2.3. Reconhecimento 52 
2.4. Formação de escalas 55 
3. Atenção 60 
3.1. Vigilância 61 
3.2. Atenção seletiva 61 
3.3. Atenção dividida 64 
V 
4. Percepção de brilho ou luminosidade 67 
5. Percepção da cor 74 
5.1. Teoria tricromática, componente ou de Young Helmholt 75 
5.2. Teoria oponente ou de Hering 78 
5.3. Cegueira para cores 80 
5.4. Visão de cores - Uma capacidade inata ou 
aprendida9 81 
5.5. "Ver cores com as mãos" - Uma capacidade extra- 
sensorial' 83 
6. Percepção de espaço, distância, profundidade e tamanho .. 86 
6.1. Percepção visual do espaço 87 
6.2. Percepção auditiva do espaço 97 
6.3. Percepção espacial tátil 99 
6.4. Percepção olfativa do espaço 100 
6.5. Interação multi-sensorial 101 
6.6. Percepção do tamanho 101 
7. Percepção da forma 104 
7.1. Neurofisiologia da percepção de forma 105 
7.2. A percepção de forma pela teoria da Gestalt 109 
7.3. O contorno como elemento constituinte da forma 110 
Bibliografia básica para consulta do aluno 117 
Lâminas coloridas 119 
Conteúdo do volume 10-11 
8 . Constâncias perceptivas 
9 . Ilusões perceptivas 
10. Percepção de tempo 
11. Percepção de movimento 
12. Percepção de eventos e causalidade 
13. Percepção de pessoas, expressões faciais e emoções 
14. Percepção do corpo 
15. Desenvolvimento da percepção em bebês 
16. O efeito da aprendizagem sobre a percepção 
17. O efeito da motivação sobre a percepção 
18. Percepção e cultura 
19. Aplicações dos conhecimentos sobre percepção 
20. Bibliografia básica para consulta do aluno 
VI 
Prefácio 
A percepção é um dos principais temas da psicologia científica, tanto do ponto de vista histórico, como da abrangência de seu campo de estudos. Em 1879, Wilhelm Wundt (1832-1920), usualmente citado como o pai da psicologia científica, fundou, em Leipzig, o primeiro laboratório de psicologia experimental, no qual estudou principalmente a percepção humana. 
O mesmo interesse pela percepção humana norteou as escolas de psicologia que se sucederam, ou seja, a dos introspeccionistas, dos funciona- listas e dos gestaltistas. A escola behaviorista foi uma exceção, focalizando sua atenção em mudanças de comportamento devidas a processos de aprendizagem. Mas mesmo esta corrente da psicologia não esteve totalmente livre de preocupar-se com aspectos da percepção. 
A percepção, portanto, constitui-se num campo muito abrangente da psicologia, já que sempre há estímulos externos e internos responsáveis pelos comportamentos dos organismos. Denominamos estímulos àqueles aspectos do ambiente e do organismo que são percebidos. A percepção é a porta de entrada para toda a informação que a pessoa recebe e processa, o que por si só já justifica o seu estudo. Mas a percepção não é somente a porta de entrada para os estímulos, é também uma janela para a observação dos pesquisadores. Através desta janela o pesquisador pode vislumbrar o funcionamento do cérebro e conjecturar sobre os processos mentais. E não é este o objetivo final da Psicologia? São numerosos os exemplos de funções fisiológicas inicialmente descobertas através desta "janela" da percepção. 
Falamos de percepção de um modo geral, mas o leitor notará muito 
prontamente que este livro restringe-se à percepção humana, dando maior 
ênfase à percepção visual, em detrimento dos outros sentidos, abordados 
Ix 
de maneira mais uperficial. O motivo principal para esta ênfase é que o ser humano é um animal predominantemente visual. Nenhum outro, nem mesmo os outros primatas, tem seu sentido de visão tão desenvolvido e tão versátil. A águia pode ter maior acuidade visual que o homem, mas sua visão de cores é deficiente; a abelha possui uma visão de cores relativamente melhor que a do ser humano, mas sua acuidade é extremamente pobre; certas aranhas que habitam permanentemente em cavernas escuras são muito sensíveis a intensidades mínimas de luz, mas não apresentam visão de cores e sua acuidade visual é quase nula. Por outro lado, os outros sentidos do ser humano, como o olfato, a gustação e a audição, são relativamente menos desenvolvidos que a visão. Um segundo motivo para uma maior ênfase na percepção visual é o simples fato de tratar-se do sentido mais estudado. 
Neste livro são tratados os diferentes assuntos de psicologia da percepção de uma maneira simples e objetiva. Evitamos osrelatos longos e detalhados e omitimos numerosos experimentos realizados sobre assuntos específicos. Procurou-se enfatizar os principais resultados experimentais e suas conclusões. Obviamente, em ciência não existem conclusões definitivas. Foram omitidos também os aspectos controvertidos, a fim de dar maior clareza ao texto. Convém, no entanto, mencionar que são numerosas as controvérsias no estudo da percepção e, ao dar ênfase a uma ou outra explicação, fazemos opções, que sabemos serem pessoais. 
Discutimos alguns aspectos históricos e metodológicos, os principais aspectos neurofisiológicos e características e técnicas de mensuração utilizadas em estudos de percepção. Assim, passamos pela psicofísica, percepção de brilho, espaço, tamanho e forma, para que pudéssemos chegar às constâncias perceptivas. Abordamos a percepção de tempo, de movimento, de eventos e causalidade, de pessoas, de emoções e do próprio corpo. Fizemos também uma revisão do desenvolvimento perceptivo em recém- nascidos e crianças, para a seguir avaliar os efeitos da aprendizagem, motivação e cultura sobre a percepção. Estes assuntos estão reunidos em dois volumes desta coleção (10-1 e 10-lI). 
Este texto pode ser utilizado por alunos de Cursos de Psicologia e cursos afins, como, por exemplo, Medicina, Enfermagem, Odontologia, Fisioterapia, Propaganda, Sociologia e Artes Visuais. O texto também pode ser de interesse para o leitor não-estudante. Em parte ele foi baseado na experiência que os autores tiveram ao ministrar a disciplina Psicologia da Percepção para alunos de graduação de Cursos de Psicologia, o que lhe confere certos aspectos "acadêmicos". Trata-se de um texto introdutório, o que significa dizer que é abrangente e não se aprofunda em demasia nos tópicos tratados. Como tal, prepara o leitor para o estudo de textos mais específicos e avançados sobre o assunto. Foi também com esta perspectiva que organizamos a bibliografia, que não é uma relação das fontes consultadas para a redação deste livro, tratando-se antes de mais nada de um le vantament 
bibliográfico dos principais compêndios e manuais de Psicologia da Percepção, que poderiam constituir-se em leituras complementares. 
O leitor verificará que a quase totalidade das pesquisas mencionadas foram elaboradas por cientistas estrangeiros. Gostaríamos de poder, em breve, ver um maior número de psicólogos brasileiros atuando na área da Psicologia da Percepção. 
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xl 
1 
Bases sensoriais da percepção 
1.1. O ambiente e sua percepção 
Freqüentemente, a Psicologia é definida como a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais. A Psicologia acadêmica aborda diversos assuntos, como bases fisiológicas do comportamento, desenvolvimento psicológico, aprendizagem, percepção, memória, motivação, emoção, inteligência, linguagem e pensamento, personalidade, psicopatologia, influências sociais sobre o comportamento e outros. O estudo da percepção é, talvez, o seu ramo mais antigo. Cabe à análise experimental compreender as bases sensoriais da percepção, a fim de desvendar o mistério de como nos é possível perceber o mundo que nos cerca através dos órgãos sensoriais. 
Você acha que a percepção que temos do nosso ambiente é perfeita? Antes de emitir sua opinião, convém lembrar que não somos capazes de ouvir sons de alta freqüência (ultra-sons) como os morcegos e os cães; não conseguimos ver o ultravioleta, como as formigas, as abelhas e outros insetos; não percebemos campos elétricos ou magnéticos, como o fazem os peixes elétricos e algumas aves migratórias; tampouco conseguimos sentir o cheiro deixado pelo corpo de uma outra pessoa, fato corriqueiro na vida dos cães. Algumas destas incapacidades serviram de inspiração para os escritores de ficção científica criarem seres fantásticos, dotados de uma percepção da realidade diferente daquela que conhecemos. 
Se você perguntar a dez pessoas quantos sentidos nós possuímos, a maioria responderá que o ser humano possui cinco sentidos: visão, audição, tato, olfação e gustação. Talvez alguns declarem que são dotados de um sexto sentido, cuja função raramente é definida com clareza, proporcionando-nos a vaga impressão de tratar-se de uma modalidade sen 
sorial enigmática que a ciência ainda não conseguiu compreender. Poucos acrescentarão à lista dos sistemas sensoriais o sentido cinestésico. Ele nos permite perceber a posição dos membros e o sentido do equilíbrio do corpo, também conhecido como sentido vestibular. Muito raramente alguém menciona o sentido orgânico. Ele nos fornece informações sobre a hidratação (sede), nutrição (fome), condição hormonal (sexo) e oxigenação (ar). Além disso, convém lembrar que a visão, por exemplo, não é um só sentido. Compreende a visão de cores, forma, movimento e outros, como veremos posteriormente. 
De quantos sistemas sensoriais você havia se lembrado? 
Para um psicólogo, nem sempre é importante saber o número exato de modalidades sensoriais do ser humano. E imprescindível, no entanto, saber para que servem e como funcionam, a fim de compreender os comportamentos que dependem de uma correta percepção dos estímulos do ambiente e das condições físicas e orgânicas do próprio corpo. Todos os nossos órgãos dos sentidos têm características comuns: possuem receptores que são células nervosas especializadas, capazes de responder a estímulos específicos. Recebem, transformam e transmitem, para o restante do sistema nervoso, um grande número de informações existentes no ambiente, na superfície e no interior do nosso organismo. 
1.2. 'hansdução sensorial e classificações dos receptores 
A especificidade dos sistemas sensoriais não é dada apenas pela especialização das células receptoras. Também o é pelas vias ascendentes e suas conexões neurais com os centros específicos do sistema nervoso central (áreas sensoriais primárias), onde ocorre a integração da informação. Devido a esta especificidade, não somos capazes de ouvir música com os olhos, nem ver cores com os ouvidos ou através da pele. 
Os receptores são classificados de diferentes maneiras por diversos autores. Na tabela 1.1 foram reunidas duas das classificações mais freqüentemente encontradas. De acordo com a primeira, os receptores sensoriais podem ser classificados em quatro grupos, de acordo com o tipo de estímulo para o qual são especializados. Mecanorreceptores são sensíveis à energia mecânica (pressão); termorreceptores são sensíveis à energia térmica (calor e frio); fotorreceptores são sensíveis à energia eletromagnética (luz) e quimiorreceptores são sensíveis à presença de substâncias químicas. Mecanorreceptores são responsáveis pela audição, sentidos vestibular e cinestésico e pela sensação de pressão cutânea. Os termorreceptores encontram-se na pele e em outras regiões do corpo humano. São sensíveis às modificações de temperatura. Os quimiorreceptores são responsáveis pela olfação e gustação, acusando a presença de substâncias químicas na 
mucosa nasal e na língua. Finalmente, a visão depende dos fotorreceptores presentes na retina. 
Alguns autores acrescentam um quinto grupo referente aos receptores da dor, denominados nociceptores, os quais se encontram espalhados por quase todo corpo. Trata-se de receptores que respondem à estimulação mecânica, térmica e química, desde que muito intensa, isto é, capaz de injuriar o organismo. Entre as poucas regiões que não possuem receptores para a dor, estão o cérebro e o colo do útero. 
A classificação acima é baseada na função dos receptores sensoriais. No entanto, existem classificações de outro tipo. Uma delas dá ênfase à relação espacial entre o organismo e os estímulos, sugerindo a divisão dos receptores sensoriais em três grupos: exterorreceptores, propriorreceptores e interorreceptores. 
Exterorreceptores são responsáveis pela captação de estímulos externos ao organismo. Podem estar distantes, como os estímulos visuais e auditivos, ou próximos, como os estímulos gustativos, olfativos e cutâneos. No primeiro caso, são denominados telerreceptores e, no segundo, proxirreceptores.Estes, entretanto, exigem o contato do organismo com o objeto ou moléculas de substâncias. Os interorreceptores, ou sentidos profundos, são receptores destinados à percepção do estado interno do nosso organismo, como, por exemplo, fome, sede e sexo. Trata-se de modificações de funções orgânicas, devidas a alterações na concentração de diversas substâncias no organismo. Por exemplo, sais minerais, oxigênio, gás carbônico e hormônios. Os propriorreceptores fornecem informações sobre o movimento, postura e equilíbrio do corpo, e consistem em receptores do sistema cinestésico e vestibular. Este conjunto de receptores é responsável por comportamentos como andar a pé ou de motocicleta, falar, assobiar, suspirar, afagar e beijar. Permitem-nos, também, tomar conhecimento de modificações que acompanham nossas emoções. Por exemplo, as batidas fortes do coração num momento de alegria, o "nó na garganta" e o "aperto no coração" sentidos em outras ocasiões. 
A classificação dos receptores de acordo com a localização dos estímulos, no entanto, não é óbvia. A olfação poderia ser considerada um telerreceptor, porque nos possibilita receber informações a respeito de objetos nem sempre próximos. Por exemplo, a presença de uma fábrica pode ser percebida a grandes distâncias através da poluição por ela provocada. E preciso considerar, porém, que tanto o cheiro agradável de uma flor quanto o cheiro aversivo de águas poluídas só poderão ser percebidos quando algumas moléculas do perfume e das substâncias poluentes entrarem em contato com as células receptoras olfativas alojadas em nossas narinas. O mesmo não acontece com os telerreceptores propriamente ditos. A visão e a audição proporcionam a percepção de objetos muito distantes. Não há necessidade de contato com os mesmos. 
Na tabela 1.1 podemos comparar as duas classificações descritas an 2 
3 
Tabela 1.1. Classificação dos receptores sensoriais quanto à sua função e quanto à localização dos estímulos. 
teriormente. Verifica-se que os mecanorreceptores consistem, na realidade, de receptores localizados em regiões bem diversas do corpo, como, por exemplo, na pele (tato), no ouvido (audição) e nos músculos (cinestésico). Os propriorreceptores consistem em um grupo bastante heterogêneo de receptores. Fornecem informações sobre o equilíbrio, o movimento dos membros e o perigo de ter o tecido de alguma parte do corpo injuriado. Por outro lado, verificamos que os receptores da audição foram classificados como mecanorreceptores, porque respondem à energia mecânica (pressão exercida pelo som), e telerreceptores, porque informam a respeito de coisas externas e distantes do organismo. 
No princípio do capítulo, vimos que as células receptoras são capazes de receber, transformar e transmitir, para o restante do sistema nervoso, informações a respeito do ambiente. 
Em que consiste o ambiente? Basicamente, em duas coisas: matéria e energia. Objetos, pessoas e animais são feitos de matéria; a luz do sol ou de uma lâmpada, o som que vem do rádio, a chama que aquece a panela no fogão são diferentes tipos de energia (eletromagnética, mecânica e térmica, respectivamente). Receptores reagem diante da energia existente no ambiente, seja ela energia refletida ou produzida pelos objetos, pessoas e animais. Isto é, quando olhamos para uma criança, as células receptoras dos nossos olhos captam a luz refletida pela superfície de seu corpo e de sua roupa; no entanto, quando olhamos para uma lâmpada, a estimulação dos receptores ocorre devido à energia (luz) produzida pela própria lâmpada. Dependendo do tipo de lâmpada, esta mesma energia eletro- 
magnética será captada também por termorreceptores de nossa pele. Neste caso, sentiremos seu calor. 
Nós "ouvimos" um gato miar quando a energia mecânica, produzida por suas cordas vocais, é transferida para as moléculas existentes no ar e transmitida para nosso ouvido. Ela também atinge outras regiões de nosso corpo. Porém, como lá não existem receptores para este tipo de energia mecânica, só ouviremos o miar do gato com nossos ouvidos. 
Todas as células receptoras, não importa qual a sua especialização, transformam a energia por elas captada em um único tipo de energia, comum a todo o sistema nervoso: a energia eletroquímica, cuja principal característica é o fluxo de íons através da membrana celular, podendo dar origem ao impulso nervoso (fig. 1.1). Isto é, a resposta das células consiste em uma mudança no potencial de repouso de suas membranas. Por exemplo, tanto um fotorreceptor do olho quanto um termorreceptor da pele, quando estimulados, darão origem a uma mesma resposta: modificação do estado iônico e de suas membranas. Esta transformação, ou tradução de um tipo de energia em outro, é denominada transdução. E o processo que caracteriza as células receptoras dos órgãos dos sentidos. 
Dendritos 
Axônio Impulso 
Exterior 
lons positivos Na+ Na+ 
+ + + + +/ 4 + + + + + +j Membrana 
ti:i tzi celular 
1 lons negativos 
Interior 
+ + + + + 
k fZl LD rii tzt jzt zi Li rzi. LZ] E] [El [E] [El E] 
+ + • + + ' 1 / í+ + + + + + ÷ 
Impulso nervoso em uma parte do axônio 
Figura 1.1. Quando o neo ro n lo e a cio 1 epo o o. lii eq o i o ei te o i o n que se encontram nas vizinhanças da membrana celular: no exterior da célula, nas proximidades da membrana, encontram-se íons positivos e no interior, íons negativos. Por Outro lado, quando o neurônio está ativo, isto é, quando conduz um impulso nervoso, ocorrem modificaçôes iônicas no meio celular, dentre as quais destaca-se a migração de íons positi',os (Na +) para o interior da célula. A migração destes fons através da membrana semipermeável altera momentaneamente as características eletroquímicas da célula. (llustração segundo McGuigan, 1974.) 
4 
5 
'Çiiizaçãodo 
Fun 
receptor 
Exterorreceptores 
Interorreceptores 
Propriorreceptores 
Telerreceptores 
Proxirreceptores 
Fotorreceptores 
Visão 
Mecanorreceptores 
Audição 
Tato (pressão) 
Cinestésico Vestibular 
Termorreceptores 
Temperatura 
Quimiorreceptores 
Olfação 
Olfação Gustação 
Nociceptores 
Dor 
Dor 
Dor 
Funções orgânicas 
Nutrição 
Hidratação 
Hormônios 
Oxigenação etc. 
Para haver transdução, isto é, para podermos ver uma luz, ouvir um som, sentir a temperatura de um objeto, o cheiro e o gosto de uma substância, é preciso que o estímulo tenha uma determinada intensidade. O receptor não será excitado por estímulos demasiadamente fracos. No caso da olfação e da gustação, é a concentração, ou seja, o número de moléculas da substância que determina a intensidade do estímulo. 
1.3. Após a transdução 
Depoís que o receptor transformou em energia eletroquímica (neural) a energia recebida do ambiente, ela será encaminhada para as células nervosas aferentes e a outras partes do sistema nervoso. No organismo, mais especificamente, no sistema nervoso, a energia elétrica é propagada na forma de impulsos nervosos através dos milhares de neurônios que o constituem. 
Convém lembrar que o impulso nervoso se propaga de um neurônio para outro através de estruturas funcionais denominadas sinapses. Em algumas destas sinapses, o impulso nervoso provoca modificações nas substâncias químicas que se encontram nestes pequenos espaços entre dois neurônios vizinhos. Estas modificações, por sua vez, desencadeiam um novo impulso na célula seguinte. E nestas sinapses que age a maioria das drogas capazes de alterar a sensibilidade e o comportamento, como os anestésicos, analgésicos, alucinógenos, estimulantes e calmantes. 
De sinapse em sinapse, a informação sobre o ambiente é transferida para o cérebro, onde, finalmente será integrada às demais informações provenientes do mesmo ambiente (fig. 1.2). Por exemplo, a presença de seu cachorro molhado pela chuva, entrando em sua sala, pode ser anunciada por vários receptores sensoriais, concomitantemente. Seu sistema visual permitirá que você veja o pêlo molhado e embaraçado; seu sistema auditivo permitirá que você ouça a respiração, os latidos e o ruído característico quandose sacode, espalhando gotas de água pela sala inteira. Seu sistema tátil permitirá confirmar que o pêlo do animal está molhado, frio e grudento. Finalmente, seu sistema olfativo fornecerá informações sobre o cheiro pouco agradável de seu cão molhado pela chuva. Só depois que todos estes dados chegarem ao cérebro, acrescidos da informação, dada pela memória, de que um cão limpo e seco é uma companhia mais agradável, você chegará à brilhante conclusão de que o seu cachorro precisa de um banho. 
E no cérebro que as informações sobre o ambiente são integradas com nossas experiências passadas (memória), nossas motivações e emoções presentes. Assim, você desiste de dar um banho de água fria com a mangueira do jardim, pois, subitamente, lembra-se dos banhos mornos recomen dado 
na última visita ao veterinário. Você também se lembra que sua mãe proibiu terminantemente banhos mornos no chuveiro do banheiro. Agora, seu estado emocional oscila entre a pena sentida pelo cão molhado e frio e a preguiça de esquentar água no fogão para lhe dar um banho no tanque. Você resolve a situação, decidindo enxugar seu cachorro com a toalha e passar um pouco de perfume. 
No momento que você está lendo esta página, seu cérebro também está recebendo informações de outros estímulos do ambiente em que você se encontra. Por exemplo, a posição em que se encontra o seu pé esquerdo, os ruídos do motor da geladeira, de um carro passando na rua, do relógio mais próximo, a cor da pele de sua mão, a temperatura e o cheiro do ar. Sua atenção, no entanto, não estava igualmente voltada para todos esses estímulos. Alguns faziam parte de um fundo geral. Outros mereceram mais atenção; esta, no entanto, deveria estar primordialmente voltada à leitura deste livro. 
No capítulo 3, estudaremos melhor a natureza da atenção, para poder avaliar o papel que ela desempenha na percepção. 
Podemos adiantar, em resumo, que muitas coisas podem afetar a nossa atenção: nossas necessidades, interesses e valores. Obviamente, nossa atenção é voltada para os estímulos súbitos, novos e intensos. Estímulos intermitentes também são capazes de chamar nossa atenção. A seleção dos estímulos mais importantes para nossa sobrevivêncía em um dado momento é um fenômeno importante, pois, se prestássemos atenção igual a tudo que nos cerca, os estímulos mais importantes não seriam investigados de forma a assegurar um comportamento ajustado e bem-sucedido. 
Córtex 
Auditiva 
Visual 
Figura 1.2. As informações oriundas dos diferentes sistemas sensoriais são integradas em áreas sensoriais primárias do córtex, como as áreas visual, auditiva e somato-sensorial. A integração da informação proveniente de várias áreas sensoriais primárias ocorre nas chamadas áreas associativas do córtex, que ocupam vastas extensões do cérebro. (Ilustração segundo Schmidt, 1980). 
motor 
Somatosensorial 
6 
7 
Entre dois observáveis - o estímulo ao ambiente e a resposta do organismo - te uma grtnde variedade de mudanças complexas não diretamente observáveis. A análise experimental da percepção permitiu, por meio de um conjunto de experimentos criteriosamente controlados, que nós começássemos, finalmente, a compreender um pouco melhor o funcionamento do nosso próprio corpo. Assim, podemos avaliar em que circunstâncias um estímulo poderá ser percebido e quando é inútil esperar por uma resposta. 
Nas páginas seguintes, analisaremos o processo da transdução em cada um dos sistemas sensoriais. Começaremos pela sensibilidade cutânea (tato, temperatura e dor). Veremos, a seguir, a sensibilidade cinestésica, o sentido vestibular, o olfato, a gustação, a audição e, finalmente, a visão, a mais importante, uma vez que o ser humano pode ser considerado um ser primordialmente visual. 
1.4. Sensibilidade cutânea 
Se alguém lhe perguntasse qual é o maior órgão do seu corpo, o que você responderia? O fígado, o pulmão, o cérebro ou o intestino? Fisiologicamente, a pele pode ser considerada o órgão mais extenso do ser humano. Para uma pessoa de estatura mediana, sua área corresponde à de um tapete de, aproximadamente, 1,50 m. Em quase toda a sua extensão, encontram-se pêlos. Relativamente, poucas regiões são desprovidas dos mesmos, como, por exemplo, os lábios, a palma das mãos, a sola dos pés e algumas áreas dos órgãos genitais. Esta vasta superfície que nos reveste possui três tipos de receptores: mecanorreceptores, termorreceptores e nociceptores. Sentimos cócegas, vibração e a pressão que os objetos exercem sobre nossa pele através dos mecanorreceptores. Os termorreceptores respondem quando ocorrem mudanças de temperatura na pele, acarretadas pelo contato com objetos mais frios ou mais quentes que ela. Os nociceptores são responsáveis pela sensação de dor causada por uma grande variedade de estímulos. Por exemplo, pressão e calor excessivos, frio intenso, cortes, picadas, pancadas, beliscões. Isto é, estímulos capazes de danificar o tecido atingido, podendo produzir lesões. A diferença psicológica entre um afago e um tapa é óbvia: um é agradável, o outro dói. A diferença física entre os dois, no entanto, é bem mais sutil: ambos são estímulos táteis que consistem de pressão exercida sobre a pele. A característica que os distingue é a intensidade do estímulo, o que leva à excitação de receptores cutâneos diferentes. 
A pele é o limite externo de nosso corpo. Sobre ela incide todo tipo de energia. Ela é iluminada pela luz que vemos com nossos olhos, é atingida pelos sons que fazem vibrar nossos tímpanos e pelas moléculas de 
perfume que penetram pelas nossas narinas. Porém, nossa pele não capta estes detalhes de nosso ambiente. Ela nos proporciona, no entanto, informações importantes a respeito de outros aspectos da realidade que nos cerca. Pense, por um momento, na sua sensação quando uma minúscula abelha anda sobre seu braço. Ela é tão pequena e tão leve. Ainda assim, você a percebe. Isto ocorre porque as patas do inseto deformam a pele de seu braço e os pêlos nos quais esbarram. Esta leve pressão exercida sobre a pele e os pêlos é energia mecânica suficiente para estimular os mecanorreceptores. No caso de uma picada de abelha, sentimos dor devido às injúrias causadas pelo ferrão e pela substância química injetada na epiderme. O peso do inseto estimula os mecanorreceptores; a danificação e irritação do tecido epitelial estimulam os nociceptores. Se, em lugar da abelha, tivéssemos uma minhoca fria e úmida, você imediatamente perceberia a diferença. Porque, além dos mecanorreceptores, os termorreceptores, sensíveis à queda de temperatura, também seriam estimulados. 
O grande número de fibras nervosas que chegam até a pele, responsáveis pelo exuberante conjunto de sensações cutâneas, são basicamente de quatro tipos: terminações nervosas livres; terminações com extremidades expandidas ou dilatadas (discos ou corpúsculos de Merkel ou Ruffini); terminações encapsuladas (corpúsculos de Paccini, Meissner, Golgi e Krause); nas regiões dotadas de pêlos, encontra-se um receptor adicional, denominado terminação nervosa folicular ou peripilosa, que envolve a raiz dos pêlos (fig. 1.3). A princípio, supunha-se que cada um destes diferentes tipos de receptores fosse sensível a apenas um tipo de estímulo. Entretanto, por meio de experimentos criteriosamente elaborados, esta hipótese foi rejeitada. O contra-exemplo mais famoso foi fornecido pelos resultados obtidos com a estimulação tátil da córnea, uma região inervada apenas por terminações livres. Aplicando-se estímulos mecânicos térmicos e dolorosos sobre esta parte do olho, as pessoas relatavam todas as modalidades de sensação: pressão, frio, dor e calor. 
A sensibilidade da pele varia de uma região do corpo para outra. Isto é, um estímulo fraco, imperceptível em um determinado ponto da pele, pode ser suficientemente intenso para ser percebido em outras regiões. De forma muito simplificada, podemos dizer que a intensidade mínima necessária para que um estímulo possa ser percebido é conhecida como limiar (no capítulo 2 você encontrará informações detalhadasa respeito do estudo dos limiares do ser humano). Podemos afirmar, portanto, que quanto maior o limiar menor a sensibilidade. 
Na figura 1.4, encontram-se medidas de limiares, obtidas em diferentes regiões cutâneas. Neste experimento, empregando um compasso, os pesquisadores estimulavam, ao mesmo tempo, dois pontos da pele. Eles verificaram que em algumas regiões do corpo, como a ponta da língua, por exemplo, as pessoas eram muito sensíveis a este tipo de estimulação mecânica. Isto é, com uma distância minúscula de 1 mm entre as duas pontas 
8 
9 
Termina- Corpúsculo Discos Corpúsculos Receptores Discos 
ções de Meissner de de Pacini dos folículos táteis 
livres Merkel pilosos 
Figura 13. Alguns dos numerosos tipos de mecanorreceptores existentes tanto na pele glabra (a) como na pele dotada de pêlos (b) foram ilustrados esquematicamente. Terminações livres e corpúsculos de Pacini podem ser encontrados em ambos os tipos de pele. No entanto, terminações nervosas foliculares ou peripilosas só ocorrem nas regiões dotadas de pêlos (b). (Ilustração segundo Schmidt, 1980.) 
do compasso, os sujeitos já conseguiam relatar que haviam sido estimulados em dois pontos da língua e não em apenas um. No dorso, por outro 
lado, as mesmas pessoas só eram capazes de tais proezas quando a distância entre as duas pontas do compasso atingia 70 mm. Trata-se, portanto, de uma região bem menos sensível, uma vez que, nas situações experimentais em que a distância entre as duas pontas do compasso era inferior a 7 cm, as mesmas eram percebidas como sendo uma única ponta exercendo pressão sobre a pele. 
As diferenças de sensibilidade são devidas, principalmente, ao elevado número de receptores nas regiões mais sensíveis e a um número igualmente privilegiado de neurônios nas áreas corticais (áreas sensoriais primárias), para as quais convergem as informações oriundas destas regiões. 
Figura 1.4. Limiares para discriminação de dois pontos de estimulação mecânica sobre a pele. Se a distância entre dois pontos de pressão sobre a pele é muito pequena, percebemos apenas um ponto de pressão. Isto pode ser verificado utilizando um compasso de duas pontas como está ilustrado em a. O gráfico de barras em b apresenta limiares assim obtidos para diferentes regiões da pele. Regiões muito sensíveis, como a ponta da língua, a ponta do dedo indicador e lábios, apresentam limiares baixos (os resultados foram ampliados no canto direito da figura). Regiões menos sensíveis, como o pescoço e o dorso, mostram limiares bem mais elevados. (Ilustração segundo Weber e Landois, no livro de Schmidt, 1980.) 
Na figura 1.5 encontra-se uma secção transversal através do córtex sensorial, mostrando as diferenças de tamanho das áreas desta região cortical 
Epiderme 
Tecido 
subcutâneo 
b 
Pele 
0 
Limiar de discriminação espacial simultânea 
c 
Termina - ções de Ruffinj 
b 
. 
Ponta da língua 
Ponta do indicador 
Lábios 
Bordo da língua 
Palma da mão 
Fronte 
Dorso da mão 
Dorso do pé 
Pescoço 
Dorso 
- 
- 
o 
1 2 3 4 5mm 
O 10 20 30 40 50 60 7Omm 
10 
11 
destinadas ao processamento da informação tátil proveniente de diferentes lugares da superfície do corpo. Como se observa, áreas relativamente extensas de tecido cortical são reservadas para processar a informação enviada, pelos receptores, de regiões relativamente pequenas, como os lábios, 
a língua, o pé, a ponta do dedo indicador e a palma da mão. Bem diversas são as condições de regiões de pouca sensibilidade, como, por exemplo, o tronco, a perna e o cotovelo. Esta representação distorcida da superfície corporal foi denominada de homúnculo sensorial ou homúnculo de Penfleld em homenagem ao pesquisador que descobriu este importante aspecto da diferença de sensibilidade tátil. 
A sensibilidade cutânea é de extrema importância para a sobrevivência da espécie humana. Permite-nos procurar abrigo do frio e calor, interagir fisicamente com o meio e nossos semelhantes e evitar estímulos que possam causar injúria ao nosso corpo. Os exaustivos estudos feitos por psicólogos dedicados ao desenvolvimento infantil não deixam dúvidas quanto à importância da estimulação tátil adequada durante a infância. Mesmo depois de adultos, homens e mulheres continuam buscando o contato com determinados estímulos que lhes proporcionam prazer. Te,tcntunho disto são as características táteis de determinados tecidos, corno a fc'fura da flanela e da lã angorá, a maciez da seda e do algodão, o elevado número de produtos cosméticos e farmacêuticos destinados a diminuir a aspereza da pele, e a proliferação das casas de massagem nos grandes centros urbanos. 
1.5. Sensibilidade cinestésica 
A sensibilidade cinestésica, ou simplesmente cinestesia, refere-se às sensações produzidas pelos movimentos dos membros e corpo. Isto é, a partir de estímulos fornecidos por regiões específicas do organismo, percebemos a postura e movimentos de nosso próprio corpo, bem como a força despendida em cada gesto. Esta modalidade sensorial difere, portanto, da sensibilidade cutânea. Esta é incumbida de captar, sobretudo, estímulos fornecidos pelo ambiente. 
Se pedíssemos a você para adivinhar onde se encontram os receptores da inestesia (proprioceptores), que regiões de seu próprio corpo você apontaria? Vamos considerar o gesto simples de estender a mão para cumprimentar um amigo. Ao executá-lo, você distende e contrai um conjunto específico de músculos e tendões do braço e da mão, modificando o ângulo formado pela articulação do antebraço com o braço (cotovelo), e do braço com a mão (pulso). Dependendo da posição em que você estiver e do entusiasmo ao cumprimentar seu amigo, você exercerá mais ou menos força ao apertar-lhe a mão. E precisamente nos músculos, tendões e articulações que estão situadas as células nervosas receptoras da cinestesia. Trata-se de receptores sensíveis à energia mecânica. Podem ser de três tipos: fusos musculares (fig. l.6a), órgãos tendinosos (fig. l.6b) e receptores articulares. 
b)ferio 
e maxilares 
Figura 1.5. Com o consentimento e colaboração de pacientes adultos submetidos a cirurgia cerebral, foi possível estimular diferentes pontos do córtex somato-sensorial, observando as sensações resultantes. A ilustração acima, conhecida como Homúnculo Sensorial de Penfield, consiste no mapeamento das regiões do córtex somato-sensorial, mostrando a localização e a extensão das regiões corticais em que a informação proveniente da pele é processada. Observe como as informações provenientes de pequenas superfícies de pele muito sensíveis como a língua, dedo indicador e lábios, são processadas por extensas áreas do córtex. Por outrb lado, as informações sensoriais oriundas de grandes áreas cutâneas menos sensíveis, como as costas, ombros e quadris, convergem para regiões proporcionalmente menores do córtex somato-sensorial. (Ilustração segundo Penfield e Rasmissen, 1950, no livro de Shmidt, 1980.) 
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13 
Para o cérebro 
• Extenso-receptor (terminações anulospirais) 
Cápsula do fuso (tecido conjuntivo( 
Placa terminal das fibras motoras 
Durante a contração ou distensão muscular, a transdução nos fusos musculares consiste na transformação da energia mecânica sobre eles exercida em energia eletroquímica. Esta é transmitida, na forma de impulsos nervosos, através de uma cadeia de neurônios e sinapses, até o córtex sensorial e demais áreas do sistema nervoso. Nos órgãos tendinosos, alojados nos tendões, o processo desenvolve-se da mesma forma. Através destes dois tipos de receptores, é fornecida a informação a respeito da força desenvolvida pelos músculos em cada movimento. Os mecanorreceptores encontrados nas articulações proporcionam sensações posturais e cinestésicas (não de força) porque os impulsos nervosos, resultantes da transdução da 
energia mecânica exercida sobre eles, preservam informações sobre a posição, velocidade e direção do movimento articular. Estes três tipos de receptores sensíveis à energia mecânica, situados nos músculos, tendões e articulações, fornecem informaçõessobre características qualitativas da propriocepção: sensibilidade postural (percepção da posição dos membros, mesmo no escuro), sensibilidade aos movimentos (percepção da direção e velocidade do movimento) e sensibilidade para força (percepção da for- 
ça exercida em cada movimento). 
E fácil compreender, portanto, o papel importante da sensibilidade cinestésica no dia-a-dia de manequins, intérpretes, esportistas ou estivadores. Sua competência profissional depende, justamente, da percepção acurada de seu próprio corpo, de seus movimentos e da força despendida. 
Para um psicólogo empenhado na compreensão do comportamento, o conhecimento dos processos sensoriais envolvidos nos movimentos do corpo é extremamente útil. Permite um exame mais detalhado das relações entre estímulos e respostas, proporcionando ao profissional maior probabilidade de acerto ao tentar auxiliar o ser humano em seu relacionamento 
com seus semelhantes e com seu meio. 
1.6. Sentido vestibular 
Figura 1.6. Ilustração de mecanorreceptores encontrados em músculos (a) e tendões (b) responsáveis pela cinestesia. Nos músculos (a) os receptores encontram-se enrolados ao redor das fibras musculares contidas dentro da cápsula do fuso. Quando o músculo é estendido, aumenta a freqüência de impulsos nervosos enviados ao cérebro. O contrário ocorre quando o músculo é contraído. Desta forma, o sistema nervoso central recebe ininterruptamente informações sobre o comprimento dos músculos, isto é, a respeito da força por eles exercida. As ramificações da fibra sensitiva sobre o tendão (b) são conhecidas como órgãos ou fusos tendinosos ou ainda como órgãos de Golgi. Como no caso dos músculos, a freqüência de impulsos nervosos enviados ao cérebro aumenta à medida que o tendão é estirado, fornecendo desta forma informações a respeito da força exercida pelo músculo a ele conectado. (Ilustração a, segundo Schmidt, 1979; b, segundo McGuigan, 1974.) 
Já vimos que o sentido da cinestesia é responsável pela percepção da posição e dos movimentos de nossos membros no espaço. O sentido vestibular refere-se à percepção e manutenção do equilíbrio do corpo como um todo. Isto é, informa-nos se estamos de pé, caindo ou de cabeça para baixo. A sensação de perder o equilíbrio depende da inclinação e do movimento da cabeça. Basicamente, há duas maneiras de perder o equilíbrio: 
cair em linha reta no chão (aceleração linear), ou cair lentamente para a frente ou para trás, enquanto nosso corpo descreve uma trajetória circular (aceleração angular). Estes dois tipos de aceleração são os estímulos captados pelos mecanorreceptores do labirinto ou aparelho vestibular. 
Fibras motoras 
Tendão Fibra muscular 
Órgão tendíneo de Golgi 
Fibras musculares internas do fuso 
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15 
O órgão vestibular consiste em duas cavidades alojadas no osso temporal do crânio, nas imediações da cóclea, que se encontra no ouvido interno. Há uma de cada lado da cabeça e são repletas de fluido (endolinfa). Cada cavidade é constituída de duas partes distintas: três canais semicirculares e duas estruturas saculiformes, o sáculo e o utrícolo. As células receptoras encontram-se na cúpula de uma região dos canais semicirculares, denominada ampola. Respondem a movimentos circulares e rotatórios da cabeça e os impulsos nervosos resultantes da transdução propagam-se pelo nervo vestibular. Nas regiões das máculas do sáculo e do utrícolo, encontram-se células receptoras que respondem a movimentos retilíneos (para a frente - para trás; para cima - para baixo; para a direita 
- para a esquerda). Trata-se de células receptoras ciliadas, estimuladas através da energia mecânica proporcionada pela inclinação de seus cílios mergulhados na endolinfa. Esta é agitada com os movimentos da cabeça (fig. 1.7). 
Quando o dentista aumenta ou diminui a inclinação do encosto da cadeira (aceleração angular), são estimuladas as células receptoras dos canais semicirculares; quando, no entanto, ele eleva a cadeira a uma certa distância do chão (aceleração linear), são estimuladas as células receptoras do sáculo (sensíveis a movimentos verticais). Uma parada brusca no veículo (aceleração linear) no qual viajamos estimula as células receptoras do utrículo (mais sensíveis a movimentos horizontais). Obviamente, da estimulação conjunta destes três tipos de células resulta a percepção de movimentos muito sutis e complexos. Isto permitirá avaliar com precisão a posição da cabeça no espaço, em cada momento. 
1.7. Olfato 
O sentido do olfato permite-nos distinguir uma série de substâncias químicas pelo seu cheiro. As sensações olfativas são transmitidas por uma série de células sensoriais, alojadas em uma pequena região do epitélio olfativo, que reveste a cavidade nasal (fig. 1.8a). Estas células são estjmuladas por uma mistura de ar e moléculas. Estes se desprendem de objetos contidos em nosso ambiente. Isto é, a presença de um objeto-estímulo, de uma pessoa ou de uma substância, como um perfume francês, só poderá ser detectada por nosso olfato se algumas de suas moléculas atingirem as células sensoriais olfatórias sensíveis a elas. Compreende-se, portanto, por que substâncias muito voláteis, como, por exemplo, éter, álcool e gasolina são tão prontamente percebidas por estes quimiorreceptores. A volatilidade de uma substância é necessária, porém não é suficiente. E preciso também que suas moléculas sejam solúveis no muco que reveste a região olfa a 
Figura 1.7. a) O aparelho vestibular é formado por três canais semicirculares, sáculo e utrículo. b) A ampliação no alto da figura mostra os mecanorreceptores, células ciliadas que se encontram nas ampolas dos canais semicirculares e nas máculas do saculo e utrículo. Nas ampolas, os cílios destas células reúnem-se formando a crista. Esta, envolta por uma substância gelatinosa, dá origem à cúpula, que fica mergulhada na endolinfa e oscila quando o líquido se agita em decorrência dos movimentos da cabeça. Desta oscilação resulta a deformação dos cílios que excita as células receptoras, desencadeando os impulsos nervosos que serão enviados para o cérebro. (ilustração a, segundo Alpern, 1971.) 
tória da cavidade nasal. Deste modo, podem entrar em contau' com os cílios dos receptores olfativos que ali se encontram mergulhados (fi. 1 8b). 
Ampola 
vestibular auditivo 
Sáculo 
Ducto coclear 
16 
17 
1.8. Gustação 
Figura 1.8. a) Os receptores do olfato encontram-se na parte superior da cavidade nasal e estão em contato direto com o bulbo olfatório, que é uma estrutura do cérebro. b) A ampliação no alto da figura mostra as células receptoras ciliadas, cujos cílios encontram-se mergulhados no muco que reveste a cavidade nasal, onde se dissolvem as moléculas das substâncias que excitam os cílios destas células. (Ilustração a, segundo Mcouigan, 1974.) 
A importância do olfato para a sobrevivência dos organismos pode ser avaliada, constatando-se que uma parte das substâncias odorosas naturais é produzida por flores e frutos, pela decomposição de organismos mortos e pelas glândulas de alguns animais. Isto é, desempenham o importante papel de estímulos discriminativos, que sinalizam a presença de alimento, perigo ou de parceiros sexuais. Porém, nem todas as substâncias dotadas de volatilidade e solubilidade são capazes de desencadear a sensação de cheiro. Para explicar por que determinadas substâncias são inodoras, enquanto outras possuem odor, isto é, para esclarecer a função olfativa, foram elaboradas diversas teorias. Dentre elas, a mais conhecida é a teoria estereoquímica desenvolvida por Amoore. Este pesquisador verificou que todos os odores podiam ser agrupados em apenas sete categorias: canfórico, almiscarado, floral, de hortelã, etérico, penetrante e pútrido. Verificou, também, que uma grande parte das substâncias percebidas como pertencentes a uma destas sete categorias possuía forma e tamanho molecular semelhantes. Este fato levou-o a estabelecer uma relação hipotética entre a forma e o tamanho da molécula de uma substância química e o seu cheiro. 
relativamentegrande o número de substâncias que diariamente levamos à boca. No entanto, para descrever o seu gosto, referimo-nos a apenas quatro tipos de sabor: doce, salgado, azedo e amargo. Sentimos o gosto dos alimentos, medicamentos e outras substâncias quando algumas de suas moléculas dissolvidas na saliva atingem as células receptoras. Estes quimiorreceptores são os corpúsculos gustativos, alojados nas papilas distribuídas pela superfície da língua (fíg. 1.9). Nossa sensibilidade a diferentes substâncias não é a mesma em toda a extensão da língua. Na ponta, somos mais sensíveis ao doce e, na base, ao amargo. Nas laterais, nossa sensibilidade é maior ao azedo, e nas bordas da língua somos muito sensíveis ao salgado (fig. 1.10). A magnitude das respostas dos corpúsculos gustativos varia de acordo com a intensidade do estímulo, permitindo a discriminação entre uma sopa gostosa e outra muito salgada. 
Na olfação, segundo a teoria estereoquímica, o cheiro de uma substância depende, aparentemente, da forma e do peso molecular. Ainda não são conhecidas, no entanto, as características responsáveis pelo gosto das substâncias. Sabe-se, apenas, que o sabor azedo dos ácidos, por exemplo do suco do limão e do vinagre, é devido ao íon H + (hidrogênio) de sua composição química. 
Poro gustativo 
Receptores gustativoS 
Figura 1.9. Os corpúsculos gustativos encontram-se nas papilas gustativas da língua. São formados por um aglomerado característico de células receptoras, que lançam seus prolongamentos (microvilosidades) para o poro gustativo, onde entram em contato com moléculas de substâncias dissolvidas na saliva, resultando na excitação dos receptores. (Ilustração segundo McGuigan, 1974.) 
Odor 
Receptor olfativo 
Cavidade nasal 
a 
Superfície da língua 
Células-suporte 
Para o cérebro 
Fibras nervosas 
18 
19 
As modernas indústrias de medicamentos e gêneros alimentícios adicionam substâncias químicas aos seus produtos com a finalidade de controlar seu consumo. Assim, por exemplo, são acrescentados "flavorizantes" e aromatizantes às geléias e gelatinas que, em seu estado natural, não teriam gosto nem cheiro. Produtos destinados a diabéticos e a pessoas que estão se submetendo a dietas alimentares desprovidas de açúcar são adoçados artificialmente. Os medicamentos preparados para crianças merecem um cuidado todo especial por parte da indústria farmacêutica. Acrescentam-se a eles substâncias de gosto e odor agradáveis para garantir seu consumo. Por Outro lado, medicamentos muito perigosos, que poderiam ser ingeridos por engano pelas crianças, são acrescidos de substâncias amargas para que sejam rejejtados imediatamente. 
O emprego indiscriminado de substâncias aromatizantes e "flavorizantes" pode colocar em risco a saude do ser humano. Tomemos, por exemplo, uma sobremesa preparada com muitos ovos, portanto rica em proteínas. Se, no entanto, for preparada sem ovos e a ela se acrescentarem substâncias com gosto, cheiro e cor de gema de ovo, continuará sendo um saboroso "quindim", porém, sem valor nutritivo. 
1.9. Audição 
Quando você liga um rádio portátil, a membrana de seu alto-falante começa a vibrar. Esta vibração é transferida para as moléculas de ar mais próximas. Estas, por sua vez, transmitem a energia mecânica assim recebida para as moléculas vizinhas, permitindo a propagação da energia a grandes distâncias. Se colocássemos o rádio em um recipiente do qual fosse retirado todo o ar, deixaríamos de ouvir o som porque a vibração de seu alto-falante não se propagaria no vácuo. O som se propaga em forma de ondas que se deslocam no ar a uma velocidade de, aproximadamente, 340 metros por segundo, e de forma mais rápida na água (fig. 1.11). Trata-se, portanto, de uma velocidade comparável à dos modernos aviões a jato, com exceção dos supersônicos capazes de se deslocarem a velocidades superiores à do som. As ondas sonoras podem ser divididas em ciclos. Sua freqüência depende do número de ciclos por segundo - cps - (ou Hertz) e é responsável pela diferença entre um tom grave e um tom agudo, uma nota Dó e uma nota Mi. A nota Lá, usada para afinar os instrumentos 
Para o cérebro 
Nervo 
glossofaríngeo' 
Nervo facial 
circunvaladas Papilas foliadas Papilas fungiformes 
Ponta da língua 
Figura 1.10. A sensibilidade às diferentes qualidades gustativas não é a mesma em toda superfície da língua. Na ponta da língua encontra-se a maior sensibilidade ao doce; no extremo oposto, na base da língua, a sensibilidade ao amargo é mais acentuada; a sensibilidade ao azedo é maior nas laterais e ao salgado, nas bordas. (Ilustração segundo Schmidt, 1980.) 
4 
4 Um ciclo 
Onda sonora 
- tom puro 
Onda sonora complexa 
Figura 1.11. As ondas sonoras podem ser simpLes, como no caso dos tons puros, ou complexas como a maioria dos sons que ouvimos no dia-a-dia. São medidas em ciclos por segundo (cps ou Hertz). 
20 
21 
musicais, tem 400 ciclos por segundo. Tons de alta freqüência, acima de 
700 cps, são percebidos como agudos. Tons de baixa freqüência, abaixo 
de 700 cps, como graves. Quanto maior a freqüência de um tom, maior 
a probabilidade de que seja percebido como agudo. 
O nosso ouvido não é igualmente sensível a todos os tons. Somos mais sensíveis a tons cuja freqüência oscila entre 20 e 20.000 ciclos por segundo. A sensibilidade não é a mesma para todos os animais dotados de audição. Cães e morcegos, por exemplo, são capazes de ouvir tons para os quais o ser humano é insensível. As ondas sonoras, vindas de longe ou de perto, encontram nossas orelhas, penetram pelo canal auditivo e, finalmente, atingem a membrana timpânica. Esta passa a vibrar na mesma freqüência que a fonte sonora. 
Nosso ouvido é constituído por três partes bem distintas: ouvido externo, médio e interno (fig. 1.12). A orelha e o canal auditivo fazem parte do ouvido externo, que é separado do ouvido médio pelo tímpano. No ouvido médio, encontra-se um conjunto de três ossos muito pequenos conhecidos como ossículos. O primeiro ossículo, chamado martelo, apóiase na membrana timpânica e transfere para os seguintes, denominados bigorna e estribo, a vibração recebida. O último ossículo apóia-se sobre uma membrana conhecida como janela oval, que separa o ouvido médio do ouvido interno. Ela é responsável pela transferência da vibração para a região mais interna do ouvido. O ouvido interno consiste de um canal repleto de líquido e enrolado como um caracol, denominado canal coclear. Dentro deste canal, ao longo de toda sua extensão, encontra-se a membrana basilar, com suas células ciliadas. Estas células são os receptores da audição. Eles respondem à deformação, tração ou torção produzidas pela vibração do líquido no qual estão mergulhados. 
Diferentes tipos de fontes sonoras, por exemplo, campainhas, instrumentos musicais (de corda, como o berimbau e o violão, ou aqueles dota- 
dos de membranas, como o tambor e a cuíca), motores a explosão de veículos (como motocicletas e aviões), jatos de ar (como apitos e assobios), desencadeiam a vibração do ar e das estruturas do ouvido os quais terminam por deformar as células receptoras. Estas, por sua vez, transformam a energia mecânica sobre elas exercida em energia eletroquímica, isto é, 
efetuam a transdução dos estímulos ambientais. 
Nossa sensibilidade é maior para tons de 2.000 a 3.000 cps. Isto significa que tons com esta característica qualitativa podem ser ouvidos em intensidades muito baixas (fig. 1.13). Por outro lado, os tons de 20 ou 20.000 cps deverão ser muito intensos, uma vez que somos pouco sensíveis a eles. Qualquer tipo de tom dentro da nossa faixa de audibilidade, no entanto, necessita sempre de um mínimo de energia para que possa ser ouvido. Es- 
ta intensidade mínima necessária para se ouvir um som é denominada de limiar absoluto auditivo. Denominamos de subliminares aqueles estímulos cuja intensidade é mais baixa que o limiar absoluto. 
Figura 1.12. a) O ouvido é composto de três partes: ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno. O ouvido externo consiste no pavilhãoauditivo (orelha) e no canal auditivo. Após penetrar no ouvido através destas estruturas, a onda sonora choca-se contra a membrana do tímpano, que separa esta parte do ouvido médio. A trompa de Eustáquio liga o ouvido médio à faringe, permitindo assim que a pressão do ar existente nesta parte do ouvido seja igual à pressão do outro lado da membrana timpânica. As vibrações provocadas pela onda sonora sobre o tímpano são transmitidas à cadeia dos três ossículos (martelo, bigorna e estribo), que por sua vez as transmitem a outra membrana, conhecida como janela oval, fronteira entre ouvido médio e ouvido interno. Esta última parte do ouvido contém a côdea, uma estrutura tubular dentro da qual se encontram outros tubos como o canal coclear, a rampa timpânica e a rampa vestibular. b) As células receptoras localizam-se sobre a membrana basilar, que se estende através de todo canal coclear. Trata-se de células ciliadas, cujos cílios, mergulhados na endolinfa contida no canal, estendem-se até a membrana tectória. Os cílios encontram-se, portanto, presos entre as duas membranas. A vibração das estruturas do ouvido, causada pelo som, provoca a flexão, torção e tração dos cílios, resultando na excitação das células receptoras e dando origem ao impulso nervoso que será enviado ao cérebro. Observe que as vibrações sonoras são transmitidas através de um meio gasoso no ouvido externo (ar), a seguir são transferidas para um meio sólido (ossículos) no ouvido médio, e finalmente no ouvido interno propagam-se através de um meio líquido (endolinfa). (Ilustração a, adaptada de McGuigan, 1974; b, adaptada de Mueller.) 
a 
Ouvido externo Ouvido médio Ouvido internv 
22 
23 
31,5 125 500 2.000 8.000 
Freqüência 
Figura 1.13. A curva do gráfico corresponde ao limiar absoluto da audição e mostra que o ser humano não é igualmente sensível a diferentes tons (freqüências), uma vez que a intensidade mínima necessária para que possam ser ouvidos (limiar) é grande para os tons de freqüência muito baixa (20 Hz) e de freqüência muito alta (16.000 Hz). O contrário ocorre com tons compreendidos em regiões intermediárias da faixa de audibilidade (4.000 Hz), que são ouvidos com pouca intensidade, uma vez que é muito acentuada a sensibilidade a este tipo de freqüência. A faixa designada "Região da fala" corresponde ao conjunto de freqüências e intensidades das quais a voz humana se compõe. Observe que as freqüências contidas na fala correspondem aos valores aos quais somos mais sensíveis. (Ilustração adaptada de Schmidt, 1980.) 
Nos grandes centros urbanos, o barulho é cada dia mais intenso. Esporadicamente, surgem pesquisas feitas com seres humanos e animais, mostrando as conseqüências da poluição sonora para a saúde física e mental. No ser humano, a poluição sonora é responsável por distúrbios circulatórios gástricos e perda da audição. A saúde mental pode ser afetada quando o indivíduo não consegue dormir o número mínimo de horas necessárias para um repouso adequado, ou quando a poluição sonora o impede de raciocinar, dificultando a execução de tarefas que exigem concentração. Disto pode resultar um elevado grau de ansiedade que dificulta o ajustamento do sujeito ao seu ambiente. 
de ondas muito longas (como, por exemplo, ondas de rádio, televisão e infravermelho) e ondas curtas (como, por exemplo, o ultravioleta, os raios X, raios gama e raios cósmicos) (lâmina 1.1, ver p. 119). Apenas as ondas de 450 a 750 nm (namômetros) são captadas e transduzidas pelos fotorreceptores do olho. Este pequeno conjunto de ondas corresponde a aproximadamente 1/100 de toda a energia eletromagnética conhecida. As ondas de 450 nm, quando captadas pelos receptores do olho, dão-nos a sensação de azul. Diante de ondas um pouco mais curtas, temos a sensação de ver o violeta. Ondas mais curtas ainda, da região do ultravioleta, não são percebidas, uma vez que nossa córnea e nosso cristalino filtram estes comprimentos de onda. Além disso, os fotorreceptores são pouco sensíveis a esta faixa do espectro. 
Existe porém, entre os animais invertebrados, uma infinidade de espécies que possuem receptores para esta faixa de espectro. Por exemplo, as abelhas, as formigas e outros insetos. Ondas de 500 nm dão a sensação de verde e de 750 nm, de vermelho. As ondas mais longas, denominadas infravermelho, não são captadas pelo olho. Elas correspondem a ondas térmicas que estimulam termorreceptores da pele e dão origem à sensação não de uma cor, mas de calor. Eis aí um dado intrigante: dois estímulos que, fisicamente, correspondem a ondas eletromagnéticas muito semelhantes (quanto a intensidade e comprimento de onda) nos proporcionam sensações muito diferentes - um é responsável pela sensação de "vermelho" 
A sensação das cores, da claridade, da escuridão e do brilho dos objetos nos é proporcionada por um conjunto de células receptoras que revestem o interior do globo ocular. Trata-se de células nervosas especializadas, sensíveis a uma pequena faixa da energia eletromagnética existente no universo. Esta faixa da energia é denominada espectro visível (fig. 1.14) ou, simplesmente, luz. Além da luz, a energia eletromagnética compreen Figur 
1.14. O espectro de radiações eletromagnéticas pode ser dividido em uma região visível e outras não visíveis. A parte inferior da figura mostra o espectro que é visível como luz de várias cores e corresponde a uma região muito pequena do espectro total ilustrado na parte superior da figura. Tanto ondas eletromagnéticas muito longas (ondas de rádio, radar e infravermelho), como ondas muito curtas (raios gama, raios X e raios ultravioleta) não são visíveis para o ser humano. 
dB 
100 
80 
60- 
40 
20 
o 
co 
o 
o 
0 
o 
co 
o, 
O 
• cl) 
Regilo da tala 
20 
63 
1.10. Visão 
Muito Muito 
longas curtas 
Raios 
x 
Raios 
gama 
1 
Espectro visível 
Vermelho Laranja Amarelo Verde Azul Violeta 
700 600 575 525 450 400 
-4 
Comprimento de onda (nm) 
24 
25 
- -,- 
- 
- 
-.- 
- 
- 
- 
z :z 
z 
;:: 
:-1-- 
'E 
E 
- 
E 
E 
1 i.doo 1 4.000 16.000 Hz 
Ondas de rádio 
1 1 
I 
1 Radar 1 
1 
Infra- I 
1 
vermelho 1 
1 
I Ultra- 1 
1 violeta 
1 
I 
1 
e outro, pela de "calor". Deve-se isto ao simples fato de serem captados e transduzidos por receptores pertencentes a sistemas sensoriais muito 
distintos. 
Nossos olhos são compostos por um conjunto de estruturas destinadas à captura e ao controle da luz que penetra em seu interior. Para facilitar a compreensão da localização e do funcionamento dessas estruturas, sugerimos que você consulte a figura 1.15. Como é possível ver, trata-se de um órgão bastante complexo, composto de diversos elementos. Alguns são transparentes, permitindo a passagem da luz - são conhecidos como aparelho dióptrico. A conjuntiva, por exemplo, é a parte anterior do glo Par 
o cérebro 
Figura 1.15. O olho é um órgão muito complexo, composto de diversas partes, algumas das quais são transparentes como a córnea, o humor aquoso contido na câmara anterior do globo ocular, o cristalino e o humor vítreo, substância gelatinosa que ocupa toda a câmara posterior. Depois que passou por estes elementos, a luz atinge e atravessa todas as camadas da retina, uma vez que os fotorreceptores se encontram na última, adjacente à membrana coróide. Esta é constituída por uma rede de vasos sanguíneos e encontra-se entre a retina e a esclerótica, que é a estrutura mais externa, responsável pela forma característica do globo ocular. Córnea e cristalino formam o sistema óptico responsável pela focalização da imagem sobre a fóvea, a região mais delgada da retina. A fóvea também é conhecida como mancha amarela ou mácula lútea. Há na região posterior do globo ocular um pequeno orifício, por onde penetram vasos sanguíneos e fibras do nervo óptico, conhecido como ponto cego, no qual não há receptores. O cristalino é mantido na sua posição por um conjunto de delicadas fibras que partem de sua borda e se inserem no músculo ciliar; são as fibras da zônula, estruturas responsáveis pelarcomodação do cristalino. L.ogo à frente do cristalino encontra- se o conjunto de músculos que formam a íris e a pupila, o orifício pelo qual a luz penetra no olho. (Ilustração adaptada de Schmidt, 1980.) 
bo ocular, a primeira, portanto, a ser atravessada pela luz. A seguir encontra-se a córnea. Constitui-se numa lente poderosa, responsável pela convergência dos raios luminosos sobre a retina. Desprovida de vasos sangü mneos, torna-se muito vulnerável às infecções. Por outro lado, a ausência de vasos permite a perfeita passagem da luz e diminui o risco da rejeição de enxertos, o que torna o transplante de córneas uma operação bastante simples e segura. No Brasil, o transplante não é realizado com maior freqüência por falta de córneas no banco de olhos. 
A córnea transparente funde-se com a esclerótica, a parte branca e externa do globo ocular. Esta região não transparente é ricamente irrigada por vasos sangüíneos. Eles se tornam visíveis quando choramos, por exemplo. 
Há uma pequena região do nosso olho que foi cantada em prosa e verso por poetas de todo o mundo: 
"Teus olhos (ão negros, tão belos, (ão puros, de vivo luzir "Olhos encantados, olhos cor do mar 
Estamos nos referindo à fris. Encontra-se logo atrás da córnea. Consiste em um conjunto de músculos e células pigmentadas, responsáveis por 
sua coloração característica: azul, verde, castanho ou preto. A íris tem forma de disco. No centro, há um orifício, por onde penetra a luz refletida dos objetos do ambiente. Esta abertura, que parece uma pequena mancha preta, é a pupila. Quando a luz é muito intensa, ela se contrai. Aumenta de diâmetro no escuro, chegando a ficar 7 vezes maior. Este fenômeno é facilmente observável. Peça para um colega de íris clara olhar para uma pare- 
de ou folha de papel branca bem iluminada, enquanto você observa o tamanho da pupila dele. A seguir, peça para ele cobrir os olhos abertos com as palmas das mãos por um breve período de tempo e depois retirar rapidamente as mãos, enquanto permanece olhando para o objeto claro. Você 
verá nitidamente a pupila, que havia aumentado de diâmetro no escuro, diminuir, contraindo-se rapidamente. Trata-se de uma resposta reflexa dos músculos da íris que evita a entrada de quantidades excessivas de luz no olho. Na penumbra, por outro lado, é preciso que a pouca luz existente penetre no olho para facilitar a visão. Isto é favorecido pelo aumento da pupila. 
Entre a córnea e a íris encontra-se a câmara anterior do olho, repleta de fluido transparente, conhecido como humor aquoso. Atrás da íris, na câmara posterior, encontra-se o cristalino. Ele funciona como uma lente 
elástica que, junto com a córnea, é responsável pela focalização precisa da imagem sobre a retina, fenômeno denominado de acomodação. A acomodação da imagem de objetos a diferentes distâncias é obtida pelas mudanças na espessura do cristalino. A medida que as pessoas envelhecem, o cristalino perde a sua elasticidade. A sua capacidade de acomodação 
26 
27 
fica reduzida (presbiopia). No entanto, isto pode ser contornado com o emprego de lentes corretivas capazes de restaurar a visão de objetos próximos. A leitura muito freqüente e o trabalho com objetos muito próximos dos olhos pode causar problemas semelhantes em pessoas jovens, O uso de óculos também é necessário quando ocorrem deformações do globo ocular. Ele pode tornar-se achatado (miopia ou hipermetropia) (fig. 1.16) ou apresentar uma córnea cuja curvatura não é perfeitamente esférica (astigmatismo). 
Figura 1.16. Miopia e hipermetropia referem-se a deformações do globo ocular. O olho míope é alongado, não permitindo que se formem imagens nítidas de objetos distantes sobre a retina (a). Para corrigir este problema, a pessoa míope (sem óculos) costuma aproximar os objetos dos olhos (b). Com o uso de lentes corretivas (óculos), passa a ver normalmente (c). O oposto ocorre com o olho hipermetrope, que é muito curto, não permitindo a formação de imagens nítidas de objetos próximos sobre a retina (d). Para superar esta dificuldade a pessoa hipermetrope afasta os objetos dos olhos (e). O emprego de lentes corretivas devolve a visão normal (t). 
Atrás do cristalino, encontra-se a câmara posterior. Ela é formada pelo espaço interno do globo ocular, ocupado por uma substância transparente e gelatinosa, o humor vítreo. Quase toda a superfície interna desta câmara é revestida pela retina, formada pelas células receptoras e outras células nervosas. A imagem dos objetos é focalizada com maior precisão sobre um ponto da retina denominado fóvea. Este se apresenta como uma pequena depressão, cujo diâmetro chega a ter um milímetro de extensão. E com esta minúscula região do olho que vemos as cores e os detalhes das coisas que nos cercam. Atrás da retina, encontra-se uma rede de vasos sangüíneos conhecida como camada coróide. Finalmente, a camada branca e mais externa do olho, a esclerótica, constituída de tecido de sustentação, é responsável pela forma característica do globo ocular. 
Na retina encontram-se diversos tipos de células. A camada de fotorreceptores é formada pelas células nervosas sensíveis à luz. Na figura 1.17 você encontrará uma ilustração esquemática da retina. Preste atenção a um detalhe interessante e muito intrigante: após atravessar todas as estruturas transparentes do olho, a luz atinge finalmente a retina; porém, antes de ser absorvida pelos fotorreceptores, terá que atravessar também todas as camadas da própria retina, uma vez que os receptores estão localizados na última camada e virados para trás. A primeira camada corresponde a fibras nervosas que darão origem ao nervo óptico. A seguir, a luz atravessa a camada das células ganglionares, amácrinas, bipolares e horizontais. Finalmente, na última camada da retina, a luz é absorvida pelos fotorreceptores que ali se encontram. A reação fotoquímica dos receptores dá origem a uma resposta neural, que é transmitida às células bipolares. Estas, por sua vez, transmitem seus sinais às células ganglionares, cujos axônios se agrupam. Formam, assim, o nervo óptico, que levará os impulsos nervosos ao sistema nervoso central. As células amácrinas e horizontais proporcionam a comunicação entre neurônios de uma mesma camada, permitindo uma sofisticada elaboração da informação captada pelos receptores. Na realidade, a atividade da retina é tão complexa que pode ser considerada um "minicérebro" 
Depois de tomar conhecimento de um conjunto tão complexo e elaborado de estruturas, talvez você se surpreenda com o fato de existir um ponto cego na retina, isto é, uma região que não dispõe de receptores. Trata- se do local em que o nervo óptico e os vasos sangüíneos chegam à retina. E conhecido como papua ou ponto cego. Com o auxílio do desenho da figura 1.18 você poderá convencer-se da existência de seu ponto cego e demonstrar a si mesmo que, em determinadas circunstâncias, uma pequena parte dos estímulos que nos cercam não pode ser vista. 
Um exame microscópico da retina mostra dois tipos de receptores: 
cones (6 milhões) e bastonetes (120 milhões), devido à sua forma aproximadamente cônica e cilíndrica, respectivamente. Os bastonetes localizam- se na periferia da retina e são excelentes detectores de luz graças à rodop Olh 
miope 
a 
Olho hipermetrope 
b 
Aproximando-se do objeto 
e 
c 
f 
28 
29 
Célula horizontal 
i- Células bipolares 
Células ganglionares 
Fibras nervosas 
Para o cérebro 
Figura 1.17. A retina é formada de diversas camadas de células nervosas. Na primeira camada a ser atravessada pela luz, encontram-se as fibras nervosas que formarão o nervo óptico. Na segunda camada, organizam-se as células ganglionares que dão origem a estas fibras nervosas. A seguir encontra-se um conjunto de neurônios, as células amácrinas, que através de sinapses múltiplas entre as células ganglionares permitem uma ampla difusão da informação recebida por cada uma delas, transmitindo o impulso nervoso a numerosas células vizinhas. A camada das células bipolares é formada de neurônios que recebema excitação de diversos fotorreceptores e transmitem esta informação para as ganglionares. Entre a camada de células fotorreceptoras e as bipolares há uma camada de células horizontais que é responsável pela difusão da informação entre receptores vizinhos. Finalmente, a luz atinge a última camada de células nervosas, os fotorreceptores, onde é absorvida pelos cones e bastonetes para, após a sua transdução, dar origem ao impulso nervoso que se propagará para as demais células da retina. No seu trajeto para o cérebro, o impulso nervoso é transmitido das células bipolares para as ganglionares e finalmente através do nervo óptico deixa a retina e segue em direção ao cérebro. Por Outro lado, as camadas de células horizontais e amácrinas são responsáveis pela difusão de informação dentro de uma mesma camada. (Ilustração adaptada de Boycott e Dowling, no livro de Schmidt, 1980.) 
Figura 1.18. Para você se convencer de que existe um ponto cego na retina do olho direito, proceda da seguinte maneira: segure o livro com o seu braço estirado, feche seu olho esquerdo e olhe fixamente para o ponto da figura. A seguir, aproxime lentamente o livro de seus olhos. Você notará que, em dado momento, o passarinho desaparecerá permanecendo, no entanto, as grades da gaiola. Isto ocorre porque o ponto cego corresponde a uma pequena área da retina, sobre a qual agora incide a imagem do passarinho, que não é percebido. 
sina, substância fotossensível neles encontrada. Muito sensíveis à luz, são responsáveis pela visão na penumbra (visão escotópica), onde a detecção de pequenas modificações no nível de iluminação se torna importante. Se 
quisermos saber a cor ou detalhes de um objeto que surge na periferia do nosso campo visual, e cuja luz foi captada pelos bastonetes da periferia da retina, teremos que movimentar os olhos de tal maneira que sua imagem seja focalizada, com precisão, sobre a região central dos cones da fávea. Os receptores desta região, no entanto, somente reagem quando a luz 
é mais intensa (visão fotópica). 
A fóvea é a região de maior acuidade visual da retina, dotada exclusivamente de cones. Quando observados ao microscópio, anatomicamente parecem semelhantes. Sabe-se, no entanto, que de acordo com o seu funcionamento existem três tipos de fotorreceptores nesta região. 
Os três tipos de cones diferem quanto ao tipo de substância fotossensível neles contida. Um tipo de cone capta principalmente a luz de comprimento de onda curta, proporcionando-nos a sensação do azul. A substância química fotossensível que reage a estes comprimentos de ondas foi denominada cianolábio (do grego: ciano azul; lábio, do verbo lambdno = captador). 
O segundo tipo de cone reage, sobretudo, a comprimentos de onda intermediários, dando-nos a sensação do verde. A substância química nele encontrada foi denominada clorolábio (do grego: cloro verde; lábio, do verbo lambdno captador). 
Epitélio pigmentado 
Bastonete 
Fotorre Con ceptores 
retiniano 
. 
Célula amácrina 
* 
Incidência da luz 
30 
31 
Finalmente, o terceiro tipo de cone responde, principalmente, aos comprimentos longos de onda, e a substância fotossensível nele encontrada foi denominada eritrolábio (do grego: entro = vermelho; lábio, do verbo lambáno captador). Como o ser humano possui três tipos de receptores para a visão de cores, seu sistema visual é denominado tricomático. Já vimos que nos bastonetes apenas uma substância fotossensível é encontrada (a rodopsina). Trata-se portanto de um sistema visual monocromático que não participa da visão de cores. Conclui-se, portanto, que a retina do ser humano é dotada de quatro tipos de receptores: os bastonetes e três tipos de cones. 
Você certamente se recorda de ocasiões em que, depois de andar por uma rua ensolarada e entrar em um cinema, a princípio você não consegue ver nada além da imagem projetada na tela. Lentamente, é possível vislumbrar uma poltrona vazia. Somente muito tempo depois, é possível ver outros objetos e pessoas a seu redor com maior clareza. Passada uma hora, com os olhos completamente adaptados ao escuro, para grande surpresa sua, você consegue ver com nitidez até mesmo pessoas distantes. Em condições controladas de laboratório, é possível mostrar que os bastonetes precisam de mais tempo do que os cones para atingir a sua sensibilidade máxima. Mas, uma vez completamente adaptados ao escuro, sua sensibilidade à luz é mais pronunciada que a dos cones. Isto quer dizer que os bastonetes reagirão diante de estímulos luminosos bem mais fracos (de menor intensidade). 
Na figura 1.19 encontram-se os resultados obtidos em uma situação experimental deste tipo. Foram reunidas medidas obtidas em três situações distintas: projetando-se um diminuto feixe de luz numa região do olho dotada tanto de cones como de bastonetes, foi obtido o traço contínuo. Na realidade, este consiste em dois "degraus": o superior corresponde à adaptação ao escuro dos cones e o inferior à dos bastonetes. A linha tracejada superior foi obtida projetando-se um feixe de luz sobre a fóvea. E a linha tracejada inferior foi obtida projetando-se um feixe de luz sobre os bastonetes de uma pessoa que não possuía cones; portanto, completamente cega a cores. Como se pode verificar, a curva de dois "degraus" corresponde à adaptação ao escuro de uma região mediana da retina, onde são encontrados tanto cones quanto bastonetes. Estes resultados mostram que os dois tipos de receptores se comportam de forma bem distinta 
no escuro. 
1.11. A interação dos diversos tipos de receptores 
A descrição das diversas modalidades sensoriais vista nas páginas anteriores deixa claro que os mecanismos de captação de energia do ambiente e a fisiologia da transdução são os mesmos em todos os seres humanos. 
1 
O 5 10 15 20 25 30min 
Período de adaptação ao escuro 
Figura 1.19. Curvas de adaptação ao escuro. A linha contínua (a) corresponde ao curso da adaptação ao escuro, numa região nas vizinhanças da fóvea de um indivíduo possuidor de visão normal, em que são encontrados tanto cones como bastonentes. Verifica-se que a curva é composta por duas partes bem distintas. A curva pontilhada (b) corresponde à adaptação ao escuro da fóvea, região em que existem apenas cones. Verifica-se que a curva corresponde perfeitamente ao primeiro degrau da curva anterior, mostrando que a adaptação ao escuro inicial do olho humano é devida ao aumento de sensibilidade dos cones, o que ocorre durante os primeiros 7 ou 8 minutos no escuro. A linha tracejada (c) foi obtida com uma pessoa cuja retina era dotada apenas de bastonetes. Isto é, desprovida de cones, era totalmente cega a cores (visão monocromática). Verifica-se que esta curva corresponde perfeitamente à segunda parte da primeira curva (a), demonstrando que a sensibilidade máxima do olho humano só é atingida após 25 ou 30 minutos de adaptação ao escuro, ocasião em que estímulos de pouquíssima intensidade podem ser vistos. Esta sensibilidade acentuada é devida à adaptação dos bastonetes e ocorre muito tempo depois da adaptação inicial dos cones. (Ilustração adaptada de Schmidt, 1980). 
O que difere de uma pessoa para outra, diante de uma mesma situação de estímulos, é a percepção. Ou seja, a seleção e interpretação dos dados sensoriais. Todo conhecimento que temos de nosso próprio corpo e do ambiente, constituído tanto de nossos semelhantes quanto de objetos inanimados, é fornecido por nossos órgãos dos sentidos. Eles transformam diferentes tipos de energia (mecânica, térmica, eletromagnética etc...) em energia eletroquímica, que chega ao nosso cérebro na forma de impulsos nervosos. No cérebro, serão integradas as informações provenientes dos diversos órgãos sensoriais. Isto, porém, não basta para nossa percepção do ambiente. Ela dependerá também de nossa experiência passada, de nosso estado emocional e motivacional, bem como de nossas atitudes, preconceitos e de nossas expectativas a respeito do futuro. O filósofo Immanuel 
6- 
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