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EROSÃO POR SALPICAMENTO SOB DIFERENTES SISTEMAS DE MANEJO EM UM NEOSSOLO QUARTZARÊNICO EM CÁCERES (MT)

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Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 
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GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801) 
 
EROSÃO POR SALPICAMENTO SOB DIFERENTES SISTEMAS DE MANEJO EM 
UM NEOSSOLO QUARTZARÊNICO EM CÁCERES (MT) 
 
Fabricio Tomaz Ramos1*, Denis Tomás Ramos2, Cassiano Cremon2, 
Márcio William Roque1 
 
Resumo: O salpicamento de partículas de solo constitui a primeira etapa do processo erosivo, 
sendo provocado pelo impacto das gotas de chuva sobre a superfície desprotegida do solo, 
porém são incomuns números que demonstram sua influência no processo erosivo. Do 
pressuposto, objetivou-se determinar valores de salpicamento de partículas do solo em 
diferentes sistemas de manejo sob condição pantaneira, em função da precipitação 
pluviométrica local. Os sistemas avaliados foram: solo descoberto, pastagem, cana-de-açúcar 
e mata nativa. Para quantificar o salpicamento, utilizou-se um dispositivo alternativo de 
retenção de partículas. Verificou-se em relação à condição controle (solo descoberto) por 
meio das médias dos intervalos de coleta, uma porcentagem de salpicamento de 17,26% no 
ambiente pastagem, 26,34% na cana-de-açúcar e 20,04% na mata nativa e, portanto, a 
natureza da cobertura vegetal sobre o solo influencia diretamente nas flutuações de partículas 
desagregadas e salpicadas. 
 
Palavras-chave: erosão hídrica do solo, cobertura vegetal, manejo conservacionista. 
 
 
EROSION BY SPLASH IN DIFFERENT MANAGEMENT SYSTEMS IN A TYPIC 
QUARTZIPISAMMENT IN CÁCERES (MT) 
 
Abstract: The soil particles splash is the first step of the erosion process and it is caused by 
raindrops impact on bare soil surface but numbers that show its influence on the erosion 
process are unusual. The objective was to determine values of splashed soil particles in 
different management systems in condition of wetlands (Pantanal), depending on local 
rainfall. The systems evaluated were: bare soil, pasture, sugar cane and native forest. An 
alternative mechanism of particles retention was used to quantify the splash. It was found in 
relation to the control condition (bare soil), through the means of the sampling interval, a 
splash of percentage of 17.26% for pasture environment, 26.34% for cane sugar and 20.04% 
for native forest and thus the nature of the vegetation on the soil directly influences the 
fluctuations of particles and broken dotted. 
 
Keywords: soil erosion, plant cover, conservation management. 
 
 
 
 
 
___________________________________________________________________________ 
1.Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMEV), Programa de 
Pós-Graduação em Agricultura Tropical. Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367, Bairro Boa Esperança, Cuiabá (MT). CEP: 
78060-900. *E-mail.: fabricio.tomaz@hotmail.com. Autor para correspondência. 
2.Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT) - Campus Universitário Jane Vanini. Avenida Tancredo Neves, 1095, 
Cáceres (MT). CEP 78200-000. 
 
Recebido em: 10/04/2010. Aprovado em: 01/03/2011. 
Erosão por salpicamento… 
Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 
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INTRODUÇÃO 
 
A erosão hídrica pode ser acelerada 
pelo homem e representa um grave problema 
ambiental decorrente do mau uso do solo, que 
se torna susceptível, quando a cobertura 
vegetal, viva ou morta, é rarefeita na 
superfície (INÁCIO et al., 2007; BEZERRA; 
CANTALICE, 2009; CANTALICE et al., 
2009). Os danos causados pelas gotas de 
chuva, que golpeiam o solo constituem a 
primeira etapa do processo erosivo, 
independentemente da topografia 
(BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990; 
SILVA; SCHULZ, 2002). 
As gotas de chuva, que golpeiam a 
superfície do solo e, sobretudo, na ausência 
de cobertura vegetal, podem causar a erosão 
por salpicamento, pois no momento do 
impacto os agregados do solo podem 
fracionar-se e as partículas soltas salpicarem. 
Assim, a avaliação de perdas de solo no 
processo de produção agrícola é importante, 
porque auxilia na adoção de práticas de 
manejo, que podem minimizar a degradação 
do solo, e consequentemente, conforme 
Santos et al. (2009), a manter ou aumentar a 
resiliência desse recurso indispensável para 
sobrevivência humana. Além disso, no Brasil, 
considerando sua grande extensão territorial, 
ainda, é carente de informações quantitativas 
quanto às primeiras etapas do processo 
erosivo. 
Da mesma forma, métodos práticos, 
alternativos, eficientes e com baixo custo 
financeiro e de pessoal representam uma 
opção importante para um planejamento 
conservacionista do solo, isto é, avaliar 
perdas de solo por métodos mais acessíveis, 
temporais e economicamente, possibilitaria a 
correção de sinais erosivos em tempo de 
evitar enchentes, deslizamentos e perda da 
capacidade produtiva dos solos. Além disso, 
a erosão causada pela chuva constitui-se, 
conforme Wakindiki e Ben-Hur (2002) em 
uma das principais causas de deterioração 
acelerada das terras utilizadas na agricultura; 
e, também, segundo Gaertner et al. (2003), da 
capacidade produtiva do solo. 
O uso da cobertura vegetal, viva e, ou 
morta, sobre o solo é uma prática cultural 
eficiente na proteção contra os processos 
erosivos (LEVIEN et al., 1990; INÁCIO et 
al., 2007; BEZERRA; CANTALICE, 2009). 
Seu principal efeito constitui na dissipação da 
energia cinética da chuva, favorecendo a uma 
redução da desagregação do solo e, 
consequentemente, a uma diminuição da 
quantidade de solo transportado pelo 
escoamento (CARVALHO, et al., 1990; 
WAKINDIKI; BEN-HUR, 2002; COGO et 
al., 2003; INÁCIO et al. 2007, SANTOS et 
al. 2009). Evidentemente, a essas vantagens 
proporcionam a proteção contra o 
salpicamento, já que práticas 
conservacionistas auxiliam a estruturação do 
solo (TISDALL, 1994); ao contrário, com o 
revolvimento do solo, segundo Salton et al. 
(2008), Ramos et al. (2010), a estrutura é 
degradada, fracionando agregados maiores 
em menores, além disso, acelera a 
decomposição da matéria orgânica. 
Do pressuposto, a cobertura vegetal 
favorece a preservabilidade do solo no tempo, 
pois além de reduzir a velocidade do 
escoamento superficial, ao mesmo tempo, 
evita o transporte da matéria orgânica e perda 
progressiva da fertilidade natural do solo, à 
medida que a infiltração, retenção e detenção 
superficial superam a intensidade da chuva 
(MERMUT et al., 1997; WAKINDIKI; BEN-
HUR, 2002). 
O salpicamento constitui, portanto, uma 
etapa importante do processo erosivo, todavia 
dados quantitativos, que demonstram esse 
processo erosivo são poucos e, assim, esta 
pesquisa vem a somar com os trabalhos já 
realizados (MCINTYRE, 1958; SILVA; 
SCHULZ, 2002). Do pressuposto, objetivou-
se quantificar o salpicamento de partículas de 
um solo em diferentes sistemas de manejo no 
sudoeste matogrossense. 
 
MATERIAL E MÉTODOS 
 
O experimento foi realizado no 
Instituto Federal de Mato Grosso (IFET), 
Campus Cáceres, Brasil, localizado à latitude 
F. T. Ramos et al. 
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16°7'51,44" Sul e longitude 57°41'40,92" 
Oeste. A região apresenta clima tropical de 
altitude, terceiro megatérmico, com 
temperatura média do mês mais frio superior 
a 18,0 °C. Apresenta inverno seco e chuvas 
no verão, com temperatura máxima anual de 
31,5 °C, mínima de 20,1 °C, podendo ocorrer 
temperaturas de 41 °C. A pluviosidade anual 
é de aproximadamente 1.317,41 mm, 
concentrando 76% nos meses de novembro a 
abril (NEVES, 2006). 
O solo do local foi classificado como 
NEOSSOLO QUARTZARÊNICO Órtico 
típico (EMBRAPA, 2006). A declividade 
média da área amostrada é de 2% e os 
sistemas de manejos avaliados no ano de 
2007 foram: 
I. Pastagem exótica (Brachiaria 
brizantha cv. Marandu), com 
área de piquete igual a 1,5 
hectares, implantadahá dez 
anos e manejada sob condições 
de pastejo rotacionado e 
controle de reentrada animal 
com bovinos leiteiros (sete dias) 
com média de 2,0 U.A. ha-1 no 
inverno (com suplementação) e 
3,5 U.A. ha-1 no verão; 
II. Área com solo descoberto, 
considerado controle e 
manejado sob enfoque 
convencional, aração e 
gradagem, para plantio de milho 
no verão, porém na entressafra 
permanece inutilizado e sem 
cobertura vegetal viva ou morta 
permanente, tornando-o 
suscetível a erosão; 
III. Área com cana-de-açúcar 
cultivar 7515-SP, 3,0 hectares, 
destinada a suplementação do 
gado leiteiro no inverno seco. 
Constitui-se do uso prolongado 
(cana-planta, cana-soca) com 
ciclos culturais sem rotação e 
adubação de manutenção a cada 
três anos; 
IV. Solo sob mata nativa, ou seja, 
área nativa preservada e sem 
histórico de perturbação 
antrópica. As propriedades 
químicas e textural do solo, na 
profundidade de 0 a 20 cm, 
encontram-se na Tabela 1. 
 
Tabela 1 - Características químicas e textural de um NEOSSOLO QUARTZARÊNICO 
Órtico típico sob vegetação nativa, na profundidade de 0 a 20 cm. 
Variáveis Químicas e Físicas * Resultados Analíticos 
Matéria Orgânica (g kg-1) 20,00 
pH (H2O) 6,10 
P (mg dm-3) 51,00 
K (mg dm-3) 94,00 
Ca (cmolC dm-3) 4,00 
Mg (cmolC dm-3) 2,00 
Al (cmolC dm-3) 0,00 
(H + Al) (cmolC dm-3) 2,60 
Soma de bases (cmolc dm-3) 6,20 
CTC (T) (cmolc dm-3) 8,80 
Saturação por bases (%) 70,60 
Areia (g kg-1) 722 
Silte (g kg-1) 143 
Argila (g kg-1) 135 
*
 P e K extraídos com HCl 0,05 mol L-1 + H2SO4 0,0125 mol L-1; Ca, Mg e Al extraídos KCl 0,1 mol L-1; matéria orgânica 
(método volumétrico); textura por densímetro (EMBRAPA, 1997). 
 
 
 
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O salpicamento foi avaliado por meio 
de um dispositivo de captura de partículas de 
solo, igual ao proposto por Silva e Schulz 
(2002), (Figura 1). O dispositivo foi fixado 
perpendicularmente ao solo, com 36 cm de 
altura, 15 cm cravados no solo e 30 cm de 
largura. Na superfície frontal, prendeu-se 
com parafusos uma lâmina retangular de 
espuma de 2 cm de espessura, 19 cm de 
altura e 28 cm de largura, com peso 
previamente conhecido, a fim de reter as 
partículas salpicadas. 
 
 
 
Figura 1 - Esquema (vista lateral) ilustrando os componentes do dispositivo desenvolvido 
para quantificar o salpicamento (dimensões citadas no texto). 
 
Para impedir a lavagem das partículas 
aderidas à espuma pela ação direta da chuva, 
acoplou-se uma chapa de 28 x 6 cm, também 
frontal. 
A precipitação acumulada (mm) foi 
determinada por meio da estação 
meteorológica local em quatro períodos 
(27/09 a 08/10, 09/10 a 21/10, 22/10 a 25/10 
e 23/10 a 09/11/07). Posteriormente ao 
intervalo das precipitações, as espumas eram 
retiradas e levadas ao laboratório de solos e 
colocadas em estufa a 90 ºC por 48 horas. 
Sabendo-se do peso prévio da espuma limpa 
que determinava assim, a quantidade de 
material (massa de solo seco) salpicado. 
Foram instalados cinco dispositivos em 
cada ambiente, orientados segundo um 
delineamento inteiramente casualizado, 
distribuídos no solo ao acaso em parcelas 
protegidas de 4 x 4 m, todavia as faces das 
espumas ficando em sentidos opostos para 
diminuir a variação em função de prováveis 
desvios do sentido das precipitações. O 
experimento teve o início no dia 27 setembro 
e o término no dia 09 de novembro de 2007. 
Comparou-se o percentual de 
salpicamento, calculado a partir do valor 
médio das coletas, entre os tratamentos 
(pastagem, cana-de-açúcar e mata nativa) e o 
controle (solo descoberto), considerando-o 
como máximo desagregador de partículas. Os 
valores transformados em porcentagem 
compuseram a diferença da média de massa 
de solo salpicado entre os tratamentos entre 
cada intervalo de precipitação, conforme a 
seguinte expressão (SILVA; SCHULZ, 
2002): 
 
Proteção da Cobertura (%) = 
100x
Controle
TratamentoControle



 −
 (1) 
 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
A Figura 2 apresenta os valores de material 
salpicado para os tratamentos e as 
precipitações acumuladas nos períodos 
estudados. Os resultados apresentados são as 
médias aritméticas entre os cinco dispositivos 
de cada tratamento em cada intervalo de 
precipitação. 
 
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Figura 2 - Quantidade de partículas de solo salpicadas (g) em cada intervalo de precipitação. 
As barras indicam os valores de erro padrão da média e a sobreposição destas 
denota a ausência de diferenças entre as médias dos tratamentos. 
 
 
Observa-se a diferença entre os valores 
médios de partículas de solo salpicadas 
obtidos para o controle e as outras três 
condições experimentais com presença de 
cobertura vegetal viva e morta, visto que, 
como já era esperado, o solo descoberto foi o 
que apresentou maior salpicamento de 
partículas do solo em todos os intervalos de 
precipitação. 
A partir da figura 2 pode-se inferir que 
a massa de solo salpicado foi maior, quando o 
solo se encontrava descoberto, o que ressalta 
a eficácia gerada pela cobertura vegetal em 
interceptar o impacto direto das gotas de 
chuva. Além disso, a cobertura do solo 
proporcionada pela pastagem foi a mais 
eficiente em proteger o solo em relação ao 
solo sem cobertura, equiparando-se ao 
ambiente de vegetação nativa. Essa eficiência 
acontece, conforme Bezerra e Cantalice 
(2006), Bezerra e Cantalice (2009), porque, 
quando se combina o efeito da cobertura 
morta sobre o solo e o dossel de culturas, a 
superfície vegetal, que intercepta, ou melhor, 
amortiza as gotas é acrescida, 
proporcionando, assim, taxas menores de 
desagregação do solo. 
Observa-se claramente o efeito do uso 
do solo e manejos aplicados nas proporções 
de partículas salpicadas, já que a cobertura 
vegetal sobre o solo e os resíduos em 
processo de decomposição na superfície 
tiveram ação direta e efetiva na redução do 
salpicamento. Conforme Inácio et al. (2007), 
tais efeitos são mais acentuados com o 
declive, uma vez que quantificaram perdas de 
solo por erosão hídrica sob chuva simulada 
em declives de 0-9% e 10-15% encontraram 
valores de 3,70 e 6,50 t ha-1 para o solo 
descoberto. Já para o solo com cobertura 
vegetal (Panicum maximum) perdas de 0,48 e 
0,58 t ha-1, respectivamente, isto é, 
aproximadamente 8 e 11 vezes menores, em 
um CHERNOSSOLO ARGILÚVICO Órtico 
típico. Portanto, os resultados supracitados e 
da presente pesquisa assemelham-se no 
aspecto de que a cobertura vegetal diminui a 
colisão direta das gotas de chuva e a 
desagregação do solo. 
Portanto, os resultados supracitados são 
importantes, pois se admite o uso do 
dispositivo de captura de partículas, uma vez 
que Silva e Schulz (2002), avaliando o 
potencial de amenização de desagregação de 
partículas de solo a partir de cobertura morta 
derivada do lixo originado de restos de poda 
de jardins de praças públicas “lixo verde”, 
também encontraram independentemente do 
volume de chuva. Assim, o índice de 
desprendimento de partículas foi menor nas 
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parcelas onde havia cobertura morta. Desta 
forma, ratifica-se a importância da proteção 
que a cobertura vegetal confere à superfície 
do solo, diminuindo os processos erosivos. 
Observa-se também com base na figura 
2, uma redução de 45% (último intervalo 
avaliado) de partículas salpicadas no terceiro 
intervalo em relação ao quarto, embora a 
precipitação no quarto intervalo reduzisse 
7,7% na área controle (solo descoberto). Esta 
redução pode ter sido influenciada por doisfatores: (i) pelo crescimento de plantas 
espontâneas no 3º intervalo, já que no 4º 
realizou o desbaste das mesmas; (ii) e, ou em 
função menor intensidade de precipitação 
(mm h-1) no 3º ou maior no 4º intervalo, uma 
vez que não realizou tal medida, pois a 
estação meteorológica local realizava apenas 
medições de precipitação (mm) acumuladas a 
cada 24 horas. 
No entanto, considera-se que para gerar 
o salpicamento é necessária uma intensidade 
de precipitação mínima para romper os 
grânulos no solo, ou seja, mesmo não 
havendo os dados de intensidade nesta 
pesquisa, interpreta-se que houve uma 
energia suficiente para rompê-los em todos os 
períodos e, possivelmente, a cobertura 
vegetal no 3º intervalo foi eficiente em 
interceptar as gotas, por diminuir a área 
exposta ao impacto direto das gotas de chuva 
(Figura 3), já que essa influência protetora foi 
significativa, conforme relatado na Figura 2. 
 
 
Figura 3 - Condição do solo sem cobertura vegetal no primeiro, segundo e quarto intervalo de 
precipitação avaliada (a). Condição do solo com cobertura vegetal, plantas 
espontâneas, no terceiro intervalo de precipitação avaliado (b). 
 
O uso de práticas conservacionista 
como, a manutenção da cobertura vegetal 
(viva e, ou morta) gerou resultados 
significativos e positivos quanto à diminuição 
do salpicamento de partículas do solo 
semelhante à condição de vegetação nativa, 
principalmente, quando relacionado ao solo 
desprotegido fisicamente. 
Neste sentido, observam-se reduções 
médias de desprendimento de partículas de 
solo de 82,73%; 73,65% e 79,95% para as 
condições ambientais pastagem, cana-de-
açúcar e mata nativa, respectivamente, em 
relação ao solo descoberto, considerado como 
máximo (100%) o efeito de desagregação do 
solo pelo impacto das gotas de chuvas, 
calculada a partir do valor médio entre todas 
as coletas para cada condição experimental 
(Figura 4). 
 
F. T. Ramos et al. 
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Figura 4 - Proteção das coberturas vegetais: pastagem, cana-de-açúcar e mata nativa, 
respectivamente, em relação ao solo descoberto (100%), nos quatro intervalos de 
precipitações por meio das médias de desprendimento de partículas de solo em 
percentagens. 
 
Esse efeito dissipador da cobertura 
vegetal é importante, sobretudo, quando se 
idealiza manejos conservacionistas, já que 
conforme Santos et al. (2009), ao avaliarem a 
influência de práticas conservacionistas no 
controle de perdas de solo e água por erosão 
hídrica, em função de chuvas simuladas, sob 
a cultura do feijoeiro, em um NEOSSOLO 
FLÚVICO do semi-árido, verificaram que a 
adoção de cobertura morta de palha de feijão 
permitiu, em média, uma redução nas perdas 
de solo de 87% em relação à parcela sem 
cobertura, com valores aproximados ao 
ambiente nativo, ao longo do ciclo da cultura. 
Da mesma forma ao comparar os resultados 
do presente trabalho com a metodologia 
inicial, proposta por Silva e Schulz (2002), 
estes relataram redução média do 
salpicamento de partículas do solo de 47% 
em comparação a condição controle (solo 
descoberto), quando usou "lixo verde" 
triturado como cobertura morta sobre a 
superfície do solo, numa quantidade de cerca 
de 5,3 t ha-1. 
Além disso, não só as características de 
vegetação devem ser levadas em conta no 
estudo de processos erosivos, já que segundo 
Le Bissonnais e Singer (1988), a erosão 
hídrica resulta da interação de forças ativas, 
como as características da chuva, a 
declividade do terreno e a capacidade do solo 
em absorver água; e de forças passivas, como 
a resistência que o solo exerce a ação erosiva 
da água, os métodos de cultivo e a densidade 
da cobertura vegetal. Portanto, as 
características intrínsecas de um solo são 
variáveis que devem ser, também, analisadas, 
pois o uso de diferentes informações é 
importante para tomadas de decisões. 
Do pressuposto, os NEOSSOLOS 
QUARTZARÊNICOS Órticos (RQo), 
anteriormente denominados Areias 
Quartzosas, em consequência da textura 
arenosa, apresentam baixa capacidade de 
retenção de cátions, raramente atingindo, 
mesmo na camada superficial, mais rica em 
matéria orgânica, índices como o encontrado 
no presente trabalho (CTC= 8,80 cmolc dm-3). 
Tal resultado é, hipoteticamente, atribuído ao 
efeito acumulativo dos processos biológicos 
(raízes de plantas, macro-meso-microfauna) e 
da matéria orgânica (substrato energético), 
sobretudo, na camada superficial desse solo 
sob floresta (ambiente preservado), uma vez 
que em solos arenosos, conforme Tisdall 
(1994), com pouco conteúdo de argila, a 
capacidade de troca de cátions depende dos 
organismos do solo. Assim, à medida que os 
resíduos orgânicos são decompostos, 
formam-se gel e outros produtos viscosos, 
que juntamente com os exsudados orgânicos 
das raízes das plantas, bactérias e fungos 
associados estimulam a estruturação do solo 
e, possivelmente, a CTC desse solo. 
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Portanto, no geral, os RQo são solos 
que não dispõem de reservas nutricionais que 
possam ser liberadas gradativamente para as 
plantas, além disso, apresentam sérias 
limitações com relação à capacidade de 
armazenamento de água, em razão da elevada 
drenabilidadade. Isso é importante, pois áreas 
de vegetação nativa submetidas a operações 
de cultivo, mobilizadoras do solo, aceleram a 
oxidação da matéria orgânica, reduzindo 
assim sua “frágil” CTC original. Apesar 
disso, extensas áreas com essa classe de solo 
em Mato Grosso foram e estão sendo 
incorporadas pela agricultura, sobretudo, na 
região sul e sudoeste deste Estado. 
Desse modo, como são solos que 
apresentam expressiva quantidade de areia 
em torno de dois metros de profundidade no 
perfil, segundo Oliveira et al. (1992), e, 
principalmente, caso não apresentarem 
cobertura vegetal, ou melhor, manejos 
conservacionistas para preservar o solo, 
sérios danos ambientais poderão aparecer, em 
razão da erosão hídrica. Além disso, como 
são essencialmente quartzosos pode-se inferir 
que são destituídos de minerais passíveis de 
serem intemperizados, ou seja, apresenta 
capacidade de renovação precária, podendo 
ser rapidamente degradado pela ação da 
erosão. 
Portanto, frente à importância da 
cobertura do solo confirmada nesta pesquisa, 
sempre é necessário à conscientização do 
agricultor, autor vivente de todo o sistema 
agrícola, no sentindo da conservação do solo 
em detrimento ao solo descoberto, abrindo 
uma nova perspectiva de que propostas de 
manejo com caráter edáficas, vegetativas e 
mecânicas conservacionistas, possam torná-lo 
ciente, dos benefícios da cobertura vegetal 
viva e morta em proteger o solo e ao mesmo 
tempo aumentar a produtividade das culturas, 
já que, conforme Silva et al. (2005), Bezerra 
e Cantalice (2006), a palhada em superfície 
funciona com uma barreira as intempéries 
climáticas, conferindo, portanto, a 
preservabilidade da camada superficial do 
solo. 
 
SUGESTÕES PARA PESQUISAS 
FUTURAS 
 
O aparato para avaliação do 
salpicamento sob condições de precipitações 
acumuladas, originalmente desenvolvido por 
Silva e Schulz (2002), demonstrou eficiente 
para tal finalidade. No entanto, recomenda-se 
que ele seja utilizado de maneira similar em 
outras localidades, isto é, sob diferentes 
condições de clima, solo, relevo e cobertura 
do solo, visando uma avaliação do 
desempenho em situações diferentes daquelas 
encontradas neste estudo, porém, com 
algumas modificações sugeridas (Figura 5). 
 
 
Figura 5 - Esquema (vista lateral) ilustrando os componentes do dispositivo para quantificar 
o salpicamento (dimensões citadas no texto). 
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Sugere-se com base nesta figura as 
seguintes modificações: ângulo de inclinação 
da placa protetora definido em 45º, a fim de 
evitar fontes de variação nos resultados; tanto 
a placa protetora como o anteparo serem 
construídos a partir de folha de zinco em 
função da facilidade de inserção no solo e 
posterior reuso; uso de presilhas, pois facilita 
a remoção das espumas; e o reservatório de 
contenção, por exemplo, feito de tubo de 
PVC e cortado ao meio com tampa (revestida 
com espuma para evitar a perda de solo pelo 
orifício de saída da água). Isso é importante, 
porque sob condições de precipitações 
contínuas e com alta intensidade pode ocorrer 
a saturação da espuma e subestimar os 
resultados, além disso, sob condições naturais 
de avaliação dá-se maior segurança em razão 
do acumulo no reservatório sem prejuízos 
para a avaliação. 
Além disso, há de se considerar que 
tanto em campo (chuva natural) como sob 
condições controladas (chuvas simuladas) 
apresentam suas vantagens e desvantagens, 
entretanto a caracterização de extremos, 
relativos a perdas de solo e água, é melhor 
com este último modo de avaliação, uma vez 
que conforme Santos et al. (2010), as 
características das precipitações que mais 
interferem no processo de erosão do solo são 
o aumento da intensidade, a duração e a 
frequência com que as chuvas ocorrem. 
Assim, embora confirmado na presente 
pesquisa a influência da cobertura vegetal em 
reduzir o salpicamento de partículas do solo, 
para outras pesquisas será importante o 
conhecimento da intensidade de precipitação 
para avaliar a influência da cobertura vegetal, 
bem como, a consideração de uma área útil 
para que o valor salpicado de partículas de 
solo possa ser extrapolado em hectares e, 
assim, definir talvez níveis críticos. 
 
CONCLUSÕES 
 
A cobertura vegetal permanente sobre o 
solo, viva e em decomposição, reduz 
significativamente área exposta do solo ao 
impacto direto das gotas de chuva e, 
consequentemente, a desagregação e o 
salpicamento de partículas de solo na 
superfície e por fim o processo erosivo; 
A natureza da cobertura vegetal 
(espécie e dossel) sobre o solo é capaz de 
diminuir diretamente as quantidades de 
partículas desagregadas e salpicadas 
(interceptação-amortização), já que em 
relação à condição controle (solo descoberto) 
obteve-se uma redução quanto à massa de 
solo salpicado de 82,74% no ambiente 
pastagem; 73,66% na cana-de-açúcar e 
79,96% na mata nativa. 
 
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