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Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 38 GLOBAL SCIENCE AND TECHNOLOGY (ISSN 1984 - 3801) EROSÃO POR SALPICAMENTO SOB DIFERENTES SISTEMAS DE MANEJO EM UM NEOSSOLO QUARTZARÊNICO EM CÁCERES (MT) Fabricio Tomaz Ramos1*, Denis Tomás Ramos2, Cassiano Cremon2, Márcio William Roque1 Resumo: O salpicamento de partículas de solo constitui a primeira etapa do processo erosivo, sendo provocado pelo impacto das gotas de chuva sobre a superfície desprotegida do solo, porém são incomuns números que demonstram sua influência no processo erosivo. Do pressuposto, objetivou-se determinar valores de salpicamento de partículas do solo em diferentes sistemas de manejo sob condição pantaneira, em função da precipitação pluviométrica local. Os sistemas avaliados foram: solo descoberto, pastagem, cana-de-açúcar e mata nativa. Para quantificar o salpicamento, utilizou-se um dispositivo alternativo de retenção de partículas. Verificou-se em relação à condição controle (solo descoberto) por meio das médias dos intervalos de coleta, uma porcentagem de salpicamento de 17,26% no ambiente pastagem, 26,34% na cana-de-açúcar e 20,04% na mata nativa e, portanto, a natureza da cobertura vegetal sobre o solo influencia diretamente nas flutuações de partículas desagregadas e salpicadas. Palavras-chave: erosão hídrica do solo, cobertura vegetal, manejo conservacionista. EROSION BY SPLASH IN DIFFERENT MANAGEMENT SYSTEMS IN A TYPIC QUARTZIPISAMMENT IN CÁCERES (MT) Abstract: The soil particles splash is the first step of the erosion process and it is caused by raindrops impact on bare soil surface but numbers that show its influence on the erosion process are unusual. The objective was to determine values of splashed soil particles in different management systems in condition of wetlands (Pantanal), depending on local rainfall. The systems evaluated were: bare soil, pasture, sugar cane and native forest. An alternative mechanism of particles retention was used to quantify the splash. It was found in relation to the control condition (bare soil), through the means of the sampling interval, a splash of percentage of 17.26% for pasture environment, 26.34% for cane sugar and 20.04% for native forest and thus the nature of the vegetation on the soil directly influences the fluctuations of particles and broken dotted. Keywords: soil erosion, plant cover, conservation management. ___________________________________________________________________________ 1.Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMEV), Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical. Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367, Bairro Boa Esperança, Cuiabá (MT). CEP: 78060-900. *E-mail.: fabricio.tomaz@hotmail.com. Autor para correspondência. 2.Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT) - Campus Universitário Jane Vanini. Avenida Tancredo Neves, 1095, Cáceres (MT). CEP 78200-000. Recebido em: 10/04/2010. Aprovado em: 01/03/2011. Erosão por salpicamento… Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 39 INTRODUÇÃO A erosão hídrica pode ser acelerada pelo homem e representa um grave problema ambiental decorrente do mau uso do solo, que se torna susceptível, quando a cobertura vegetal, viva ou morta, é rarefeita na superfície (INÁCIO et al., 2007; BEZERRA; CANTALICE, 2009; CANTALICE et al., 2009). Os danos causados pelas gotas de chuva, que golpeiam o solo constituem a primeira etapa do processo erosivo, independentemente da topografia (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990; SILVA; SCHULZ, 2002). As gotas de chuva, que golpeiam a superfície do solo e, sobretudo, na ausência de cobertura vegetal, podem causar a erosão por salpicamento, pois no momento do impacto os agregados do solo podem fracionar-se e as partículas soltas salpicarem. Assim, a avaliação de perdas de solo no processo de produção agrícola é importante, porque auxilia na adoção de práticas de manejo, que podem minimizar a degradação do solo, e consequentemente, conforme Santos et al. (2009), a manter ou aumentar a resiliência desse recurso indispensável para sobrevivência humana. Além disso, no Brasil, considerando sua grande extensão territorial, ainda, é carente de informações quantitativas quanto às primeiras etapas do processo erosivo. Da mesma forma, métodos práticos, alternativos, eficientes e com baixo custo financeiro e de pessoal representam uma opção importante para um planejamento conservacionista do solo, isto é, avaliar perdas de solo por métodos mais acessíveis, temporais e economicamente, possibilitaria a correção de sinais erosivos em tempo de evitar enchentes, deslizamentos e perda da capacidade produtiva dos solos. Além disso, a erosão causada pela chuva constitui-se, conforme Wakindiki e Ben-Hur (2002) em uma das principais causas de deterioração acelerada das terras utilizadas na agricultura; e, também, segundo Gaertner et al. (2003), da capacidade produtiva do solo. O uso da cobertura vegetal, viva e, ou morta, sobre o solo é uma prática cultural eficiente na proteção contra os processos erosivos (LEVIEN et al., 1990; INÁCIO et al., 2007; BEZERRA; CANTALICE, 2009). Seu principal efeito constitui na dissipação da energia cinética da chuva, favorecendo a uma redução da desagregação do solo e, consequentemente, a uma diminuição da quantidade de solo transportado pelo escoamento (CARVALHO, et al., 1990; WAKINDIKI; BEN-HUR, 2002; COGO et al., 2003; INÁCIO et al. 2007, SANTOS et al. 2009). Evidentemente, a essas vantagens proporcionam a proteção contra o salpicamento, já que práticas conservacionistas auxiliam a estruturação do solo (TISDALL, 1994); ao contrário, com o revolvimento do solo, segundo Salton et al. (2008), Ramos et al. (2010), a estrutura é degradada, fracionando agregados maiores em menores, além disso, acelera a decomposição da matéria orgânica. Do pressuposto, a cobertura vegetal favorece a preservabilidade do solo no tempo, pois além de reduzir a velocidade do escoamento superficial, ao mesmo tempo, evita o transporte da matéria orgânica e perda progressiva da fertilidade natural do solo, à medida que a infiltração, retenção e detenção superficial superam a intensidade da chuva (MERMUT et al., 1997; WAKINDIKI; BEN- HUR, 2002). O salpicamento constitui, portanto, uma etapa importante do processo erosivo, todavia dados quantitativos, que demonstram esse processo erosivo são poucos e, assim, esta pesquisa vem a somar com os trabalhos já realizados (MCINTYRE, 1958; SILVA; SCHULZ, 2002). Do pressuposto, objetivou- se quantificar o salpicamento de partículas de um solo em diferentes sistemas de manejo no sudoeste matogrossense. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Instituto Federal de Mato Grosso (IFET), Campus Cáceres, Brasil, localizado à latitude F. T. Ramos et al. Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 40 16°7'51,44" Sul e longitude 57°41'40,92" Oeste. A região apresenta clima tropical de altitude, terceiro megatérmico, com temperatura média do mês mais frio superior a 18,0 °C. Apresenta inverno seco e chuvas no verão, com temperatura máxima anual de 31,5 °C, mínima de 20,1 °C, podendo ocorrer temperaturas de 41 °C. A pluviosidade anual é de aproximadamente 1.317,41 mm, concentrando 76% nos meses de novembro a abril (NEVES, 2006). O solo do local foi classificado como NEOSSOLO QUARTZARÊNICO Órtico típico (EMBRAPA, 2006). A declividade média da área amostrada é de 2% e os sistemas de manejos avaliados no ano de 2007 foram: I. Pastagem exótica (Brachiaria brizantha cv. Marandu), com área de piquete igual a 1,5 hectares, implantadahá dez anos e manejada sob condições de pastejo rotacionado e controle de reentrada animal com bovinos leiteiros (sete dias) com média de 2,0 U.A. ha-1 no inverno (com suplementação) e 3,5 U.A. ha-1 no verão; II. Área com solo descoberto, considerado controle e manejado sob enfoque convencional, aração e gradagem, para plantio de milho no verão, porém na entressafra permanece inutilizado e sem cobertura vegetal viva ou morta permanente, tornando-o suscetível a erosão; III. Área com cana-de-açúcar cultivar 7515-SP, 3,0 hectares, destinada a suplementação do gado leiteiro no inverno seco. Constitui-se do uso prolongado (cana-planta, cana-soca) com ciclos culturais sem rotação e adubação de manutenção a cada três anos; IV. Solo sob mata nativa, ou seja, área nativa preservada e sem histórico de perturbação antrópica. As propriedades químicas e textural do solo, na profundidade de 0 a 20 cm, encontram-se na Tabela 1. Tabela 1 - Características químicas e textural de um NEOSSOLO QUARTZARÊNICO Órtico típico sob vegetação nativa, na profundidade de 0 a 20 cm. Variáveis Químicas e Físicas * Resultados Analíticos Matéria Orgânica (g kg-1) 20,00 pH (H2O) 6,10 P (mg dm-3) 51,00 K (mg dm-3) 94,00 Ca (cmolC dm-3) 4,00 Mg (cmolC dm-3) 2,00 Al (cmolC dm-3) 0,00 (H + Al) (cmolC dm-3) 2,60 Soma de bases (cmolc dm-3) 6,20 CTC (T) (cmolc dm-3) 8,80 Saturação por bases (%) 70,60 Areia (g kg-1) 722 Silte (g kg-1) 143 Argila (g kg-1) 135 * P e K extraídos com HCl 0,05 mol L-1 + H2SO4 0,0125 mol L-1; Ca, Mg e Al extraídos KCl 0,1 mol L-1; matéria orgânica (método volumétrico); textura por densímetro (EMBRAPA, 1997). Erosão por salpicamento… Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 41 O salpicamento foi avaliado por meio de um dispositivo de captura de partículas de solo, igual ao proposto por Silva e Schulz (2002), (Figura 1). O dispositivo foi fixado perpendicularmente ao solo, com 36 cm de altura, 15 cm cravados no solo e 30 cm de largura. Na superfície frontal, prendeu-se com parafusos uma lâmina retangular de espuma de 2 cm de espessura, 19 cm de altura e 28 cm de largura, com peso previamente conhecido, a fim de reter as partículas salpicadas. Figura 1 - Esquema (vista lateral) ilustrando os componentes do dispositivo desenvolvido para quantificar o salpicamento (dimensões citadas no texto). Para impedir a lavagem das partículas aderidas à espuma pela ação direta da chuva, acoplou-se uma chapa de 28 x 6 cm, também frontal. A precipitação acumulada (mm) foi determinada por meio da estação meteorológica local em quatro períodos (27/09 a 08/10, 09/10 a 21/10, 22/10 a 25/10 e 23/10 a 09/11/07). Posteriormente ao intervalo das precipitações, as espumas eram retiradas e levadas ao laboratório de solos e colocadas em estufa a 90 ºC por 48 horas. Sabendo-se do peso prévio da espuma limpa que determinava assim, a quantidade de material (massa de solo seco) salpicado. Foram instalados cinco dispositivos em cada ambiente, orientados segundo um delineamento inteiramente casualizado, distribuídos no solo ao acaso em parcelas protegidas de 4 x 4 m, todavia as faces das espumas ficando em sentidos opostos para diminuir a variação em função de prováveis desvios do sentido das precipitações. O experimento teve o início no dia 27 setembro e o término no dia 09 de novembro de 2007. Comparou-se o percentual de salpicamento, calculado a partir do valor médio das coletas, entre os tratamentos (pastagem, cana-de-açúcar e mata nativa) e o controle (solo descoberto), considerando-o como máximo desagregador de partículas. Os valores transformados em porcentagem compuseram a diferença da média de massa de solo salpicado entre os tratamentos entre cada intervalo de precipitação, conforme a seguinte expressão (SILVA; SCHULZ, 2002): Proteção da Cobertura (%) = 100x Controle TratamentoControle − (1) RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 2 apresenta os valores de material salpicado para os tratamentos e as precipitações acumuladas nos períodos estudados. Os resultados apresentados são as médias aritméticas entre os cinco dispositivos de cada tratamento em cada intervalo de precipitação. Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 42 Figura 2 - Quantidade de partículas de solo salpicadas (g) em cada intervalo de precipitação. As barras indicam os valores de erro padrão da média e a sobreposição destas denota a ausência de diferenças entre as médias dos tratamentos. Observa-se a diferença entre os valores médios de partículas de solo salpicadas obtidos para o controle e as outras três condições experimentais com presença de cobertura vegetal viva e morta, visto que, como já era esperado, o solo descoberto foi o que apresentou maior salpicamento de partículas do solo em todos os intervalos de precipitação. A partir da figura 2 pode-se inferir que a massa de solo salpicado foi maior, quando o solo se encontrava descoberto, o que ressalta a eficácia gerada pela cobertura vegetal em interceptar o impacto direto das gotas de chuva. Além disso, a cobertura do solo proporcionada pela pastagem foi a mais eficiente em proteger o solo em relação ao solo sem cobertura, equiparando-se ao ambiente de vegetação nativa. Essa eficiência acontece, conforme Bezerra e Cantalice (2006), Bezerra e Cantalice (2009), porque, quando se combina o efeito da cobertura morta sobre o solo e o dossel de culturas, a superfície vegetal, que intercepta, ou melhor, amortiza as gotas é acrescida, proporcionando, assim, taxas menores de desagregação do solo. Observa-se claramente o efeito do uso do solo e manejos aplicados nas proporções de partículas salpicadas, já que a cobertura vegetal sobre o solo e os resíduos em processo de decomposição na superfície tiveram ação direta e efetiva na redução do salpicamento. Conforme Inácio et al. (2007), tais efeitos são mais acentuados com o declive, uma vez que quantificaram perdas de solo por erosão hídrica sob chuva simulada em declives de 0-9% e 10-15% encontraram valores de 3,70 e 6,50 t ha-1 para o solo descoberto. Já para o solo com cobertura vegetal (Panicum maximum) perdas de 0,48 e 0,58 t ha-1, respectivamente, isto é, aproximadamente 8 e 11 vezes menores, em um CHERNOSSOLO ARGILÚVICO Órtico típico. Portanto, os resultados supracitados e da presente pesquisa assemelham-se no aspecto de que a cobertura vegetal diminui a colisão direta das gotas de chuva e a desagregação do solo. Portanto, os resultados supracitados são importantes, pois se admite o uso do dispositivo de captura de partículas, uma vez que Silva e Schulz (2002), avaliando o potencial de amenização de desagregação de partículas de solo a partir de cobertura morta derivada do lixo originado de restos de poda de jardins de praças públicas “lixo verde”, também encontraram independentemente do volume de chuva. Assim, o índice de desprendimento de partículas foi menor nas Erosão por salpicamento… Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 43 parcelas onde havia cobertura morta. Desta forma, ratifica-se a importância da proteção que a cobertura vegetal confere à superfície do solo, diminuindo os processos erosivos. Observa-se também com base na figura 2, uma redução de 45% (último intervalo avaliado) de partículas salpicadas no terceiro intervalo em relação ao quarto, embora a precipitação no quarto intervalo reduzisse 7,7% na área controle (solo descoberto). Esta redução pode ter sido influenciada por doisfatores: (i) pelo crescimento de plantas espontâneas no 3º intervalo, já que no 4º realizou o desbaste das mesmas; (ii) e, ou em função menor intensidade de precipitação (mm h-1) no 3º ou maior no 4º intervalo, uma vez que não realizou tal medida, pois a estação meteorológica local realizava apenas medições de precipitação (mm) acumuladas a cada 24 horas. No entanto, considera-se que para gerar o salpicamento é necessária uma intensidade de precipitação mínima para romper os grânulos no solo, ou seja, mesmo não havendo os dados de intensidade nesta pesquisa, interpreta-se que houve uma energia suficiente para rompê-los em todos os períodos e, possivelmente, a cobertura vegetal no 3º intervalo foi eficiente em interceptar as gotas, por diminuir a área exposta ao impacto direto das gotas de chuva (Figura 3), já que essa influência protetora foi significativa, conforme relatado na Figura 2. Figura 3 - Condição do solo sem cobertura vegetal no primeiro, segundo e quarto intervalo de precipitação avaliada (a). Condição do solo com cobertura vegetal, plantas espontâneas, no terceiro intervalo de precipitação avaliado (b). O uso de práticas conservacionista como, a manutenção da cobertura vegetal (viva e, ou morta) gerou resultados significativos e positivos quanto à diminuição do salpicamento de partículas do solo semelhante à condição de vegetação nativa, principalmente, quando relacionado ao solo desprotegido fisicamente. Neste sentido, observam-se reduções médias de desprendimento de partículas de solo de 82,73%; 73,65% e 79,95% para as condições ambientais pastagem, cana-de- açúcar e mata nativa, respectivamente, em relação ao solo descoberto, considerado como máximo (100%) o efeito de desagregação do solo pelo impacto das gotas de chuvas, calculada a partir do valor médio entre todas as coletas para cada condição experimental (Figura 4). F. T. Ramos et al. Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 44 Figura 4 - Proteção das coberturas vegetais: pastagem, cana-de-açúcar e mata nativa, respectivamente, em relação ao solo descoberto (100%), nos quatro intervalos de precipitações por meio das médias de desprendimento de partículas de solo em percentagens. Esse efeito dissipador da cobertura vegetal é importante, sobretudo, quando se idealiza manejos conservacionistas, já que conforme Santos et al. (2009), ao avaliarem a influência de práticas conservacionistas no controle de perdas de solo e água por erosão hídrica, em função de chuvas simuladas, sob a cultura do feijoeiro, em um NEOSSOLO FLÚVICO do semi-árido, verificaram que a adoção de cobertura morta de palha de feijão permitiu, em média, uma redução nas perdas de solo de 87% em relação à parcela sem cobertura, com valores aproximados ao ambiente nativo, ao longo do ciclo da cultura. Da mesma forma ao comparar os resultados do presente trabalho com a metodologia inicial, proposta por Silva e Schulz (2002), estes relataram redução média do salpicamento de partículas do solo de 47% em comparação a condição controle (solo descoberto), quando usou "lixo verde" triturado como cobertura morta sobre a superfície do solo, numa quantidade de cerca de 5,3 t ha-1. Além disso, não só as características de vegetação devem ser levadas em conta no estudo de processos erosivos, já que segundo Le Bissonnais e Singer (1988), a erosão hídrica resulta da interação de forças ativas, como as características da chuva, a declividade do terreno e a capacidade do solo em absorver água; e de forças passivas, como a resistência que o solo exerce a ação erosiva da água, os métodos de cultivo e a densidade da cobertura vegetal. Portanto, as características intrínsecas de um solo são variáveis que devem ser, também, analisadas, pois o uso de diferentes informações é importante para tomadas de decisões. Do pressuposto, os NEOSSOLOS QUARTZARÊNICOS Órticos (RQo), anteriormente denominados Areias Quartzosas, em consequência da textura arenosa, apresentam baixa capacidade de retenção de cátions, raramente atingindo, mesmo na camada superficial, mais rica em matéria orgânica, índices como o encontrado no presente trabalho (CTC= 8,80 cmolc dm-3). Tal resultado é, hipoteticamente, atribuído ao efeito acumulativo dos processos biológicos (raízes de plantas, macro-meso-microfauna) e da matéria orgânica (substrato energético), sobretudo, na camada superficial desse solo sob floresta (ambiente preservado), uma vez que em solos arenosos, conforme Tisdall (1994), com pouco conteúdo de argila, a capacidade de troca de cátions depende dos organismos do solo. Assim, à medida que os resíduos orgânicos são decompostos, formam-se gel e outros produtos viscosos, que juntamente com os exsudados orgânicos das raízes das plantas, bactérias e fungos associados estimulam a estruturação do solo e, possivelmente, a CTC desse solo. Erosão por salpicamento… Gl. Sci. Technol., v. 04, n. 01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 45 Portanto, no geral, os RQo são solos que não dispõem de reservas nutricionais que possam ser liberadas gradativamente para as plantas, além disso, apresentam sérias limitações com relação à capacidade de armazenamento de água, em razão da elevada drenabilidadade. Isso é importante, pois áreas de vegetação nativa submetidas a operações de cultivo, mobilizadoras do solo, aceleram a oxidação da matéria orgânica, reduzindo assim sua “frágil” CTC original. Apesar disso, extensas áreas com essa classe de solo em Mato Grosso foram e estão sendo incorporadas pela agricultura, sobretudo, na região sul e sudoeste deste Estado. Desse modo, como são solos que apresentam expressiva quantidade de areia em torno de dois metros de profundidade no perfil, segundo Oliveira et al. (1992), e, principalmente, caso não apresentarem cobertura vegetal, ou melhor, manejos conservacionistas para preservar o solo, sérios danos ambientais poderão aparecer, em razão da erosão hídrica. Além disso, como são essencialmente quartzosos pode-se inferir que são destituídos de minerais passíveis de serem intemperizados, ou seja, apresenta capacidade de renovação precária, podendo ser rapidamente degradado pela ação da erosão. Portanto, frente à importância da cobertura do solo confirmada nesta pesquisa, sempre é necessário à conscientização do agricultor, autor vivente de todo o sistema agrícola, no sentindo da conservação do solo em detrimento ao solo descoberto, abrindo uma nova perspectiva de que propostas de manejo com caráter edáficas, vegetativas e mecânicas conservacionistas, possam torná-lo ciente, dos benefícios da cobertura vegetal viva e morta em proteger o solo e ao mesmo tempo aumentar a produtividade das culturas, já que, conforme Silva et al. (2005), Bezerra e Cantalice (2006), a palhada em superfície funciona com uma barreira as intempéries climáticas, conferindo, portanto, a preservabilidade da camada superficial do solo. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS O aparato para avaliação do salpicamento sob condições de precipitações acumuladas, originalmente desenvolvido por Silva e Schulz (2002), demonstrou eficiente para tal finalidade. No entanto, recomenda-se que ele seja utilizado de maneira similar em outras localidades, isto é, sob diferentes condições de clima, solo, relevo e cobertura do solo, visando uma avaliação do desempenho em situações diferentes daquelas encontradas neste estudo, porém, com algumas modificações sugeridas (Figura 5). Figura 5 - Esquema (vista lateral) ilustrando os componentes do dispositivo para quantificar o salpicamento (dimensões citadas no texto). F. T. Ramos et al. Gl. Sci. Technol., v. 04, n.01, p.38 – 50, jan/abr. 2011. 46 Sugere-se com base nesta figura as seguintes modificações: ângulo de inclinação da placa protetora definido em 45º, a fim de evitar fontes de variação nos resultados; tanto a placa protetora como o anteparo serem construídos a partir de folha de zinco em função da facilidade de inserção no solo e posterior reuso; uso de presilhas, pois facilita a remoção das espumas; e o reservatório de contenção, por exemplo, feito de tubo de PVC e cortado ao meio com tampa (revestida com espuma para evitar a perda de solo pelo orifício de saída da água). Isso é importante, porque sob condições de precipitações contínuas e com alta intensidade pode ocorrer a saturação da espuma e subestimar os resultados, além disso, sob condições naturais de avaliação dá-se maior segurança em razão do acumulo no reservatório sem prejuízos para a avaliação. Além disso, há de se considerar que tanto em campo (chuva natural) como sob condições controladas (chuvas simuladas) apresentam suas vantagens e desvantagens, entretanto a caracterização de extremos, relativos a perdas de solo e água, é melhor com este último modo de avaliação, uma vez que conforme Santos et al. (2010), as características das precipitações que mais interferem no processo de erosão do solo são o aumento da intensidade, a duração e a frequência com que as chuvas ocorrem. Assim, embora confirmado na presente pesquisa a influência da cobertura vegetal em reduzir o salpicamento de partículas do solo, para outras pesquisas será importante o conhecimento da intensidade de precipitação para avaliar a influência da cobertura vegetal, bem como, a consideração de uma área útil para que o valor salpicado de partículas de solo possa ser extrapolado em hectares e, assim, definir talvez níveis críticos. CONCLUSÕES A cobertura vegetal permanente sobre o solo, viva e em decomposição, reduz significativamente área exposta do solo ao impacto direto das gotas de chuva e, consequentemente, a desagregação e o salpicamento de partículas de solo na superfície e por fim o processo erosivo; A natureza da cobertura vegetal (espécie e dossel) sobre o solo é capaz de diminuir diretamente as quantidades de partículas desagregadas e salpicadas (interceptação-amortização), já que em relação à condição controle (solo descoberto) obteve-se uma redução quanto à massa de solo salpicado de 82,74% no ambiente pastagem; 73,66% na cana-de-açúcar e 79,96% na mata nativa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone, 1990. 335 p. BEZERRA, S. A.; CANTALICE, J. R. B. Erosão entre sulcos em diferentes condições de cobertura do solo, sob cultivo da cana-de- açúcar. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v. 30, n. 3, p. 565-573, 2006. BEZERRA, S. 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