Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
22/02/2018 1 Letras Literatura brasileira e portuguesa I Teleaula 4 O Parnasianismo e Simbolismo: características e principais autores portugueses e brasileiros Prof.ª Amanda Crispim Ferreira Valerio Doutoranda em Letras (UEL) Mestre em Estudos Literários (UFMG) Graduada em Letras (UEL) Pretende-se que ao final da aula o aluno reconheça as características dos movimentos literários Parnasianismo e Simbolismo, bem como seus principais representantes em Portugal e no Brasil. OBJETIVO PARNASIANISMO: Realismo em versos O espelho de Vênus, Edward Coley Burne-Jones (1898 – Inglaterra) O nome Parnaso está relacionado com uma figura mitológica, que nomeia uma montanha na Grécia, onde moravam musas e o deus Apolo, e era frequentada por poetas em busca de inspiração. PARNASIANISMO: Realismo em versos PARNASIANISMO: Realismo em versos O Parnasianismo só foi cultivado na França e no Brasil; Precursor da Escola: Théophile Gautier; “Arte pela arte”; Objetividade temática, negação do sentimentalismo, culto à forma, poesia descritiva. 22/02/2018 2 PARNASIANISMO: Realismo em versos Resgate de temas da Antiguidade como mitologia e personalidades históricas; Desejo de desenvolver a beleza formal da poesia, eliminando os excessos do Romantismo, que comprometiam a qualidade dos poemas. Parnasianismo :brasileiro difere-se do francês, por não ter a intenção de abdicar de toda emoção. PARNASIANISMO NO BRASIL: Tríade parnasiana Raimundo Correia, Alberto de Oliveira e Olavo Bilac Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam, Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais... “Sinfonias”, 1883 RAIMUNDO CORREIA “As pombas” Esta de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa*, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos** que a suspendia Então, e, ora repleta ora esvazada, A taça amiga aos dedos seus tinia, Toda de roxas pétalas colmada***. Depois… Mas o lavor da taça admira, Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas Finas hás de lhe ouvir, canora**** e doce, Ignota voz, qual se da antiga lira Fosse a encantada música das cordas, Qual se essa voz de Anacreonte fosse. (Poesias, Primeira série, Edição melhorada, Rio de Janeiro, Garnier, 1912.) ALBERTO DE OLIVEIRA “Vaso grego” Releia o poema de Alberto de Oliveira e analise-o, apontando as características parnasianas presentes. ATIVIDADE 1 OLAVO BILAC: O “príncipe dos poetas” Foi considerado um dos parnasianos mais radicais; Abandonou a faculdade de Medicina e de Direito. Por fim, dedicou-se ao jornalismo e à literatura; Escreveu poemas, contos, crônicas, novelas e tratados; A poesia e a vida boêmia o atraíam. Sua vida amorosa sempre foi tumultuada. 22/02/2018 3 Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimigo do artifício, É a força e a graça na simplicidade OLAVO BILAC “A um poeta” OLAVO BILAC “Profissão de fé” (...) Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor. Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo: O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro. Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papel A pena, como em prata firme Corre o cinzel. Corre; desenha, enfeita a imagem, A idéia veste: Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim. E horas sem conto passo, mudo, O olhar atento, A trabalhar, longe de tudo O pensamento. Porque o escrever - tanta perícia, Tanta requer, Que oficio tal... nem há notícia De outro qualquer. Assim procedo. Minha pena Segue esta norma, Por te servir, Deusa serena, Serena Forma! Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?“ E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas." OLAVO BILAC “Via Láctea” VÍDEO Música : “Ouvir estrelas” Kid abelha https://www.youtube.com/watch?v=JkiB4w-lGfM SIMBOLISMO: Reação ao materialismo e ao cientificismo Moça no trigal, Eliseu Visconti ( Itália – 1916) Primeira Guerra Mundial; Neocolonialismo; Avanço da industrialização, ritmo acelerado; Surge da negação do mundo exterior, devido a dificuldade de analisá-lo; Opõe-se ao Parnasianismo, entretanto acontece junto com ele; Afasta-se da objetividade temática e formal; Valoriza as expressões metafísicas e espirituais; SIMBOLISMO: Reação ao materialismo e ao cientificismo 22/02/2018 4 Centrado no “eu”. Mas, não como no Romantismo, sentimentalóide. É “eu” profundo. Busca pela essência do ser humano; Linguagem carregada de símbolos; Sinestesia; Musicalidade; sugestão; misticismo; Libertação das almas; Sonho, loucura, inconsciente. SIMBOLISMO: Reação ao materialismo e ao cientificismo SIMBOLISMO EM PORTUGAL Decadentismo; decadência do regime-liberal conservador da Regeneração; Sentimento de humilhação, pessimismo e frustração; Fortalecimento do Partido Republicano; revoltas reprimidas; ditadura; Poesia que agrega características simbolistas e antecipa marcas modernistas. SIMBOLISMO EM PORTUGAL: Principais representantes Eugênio de Castro Um sonho Na messe , que enlourece, estremece a quermesse... O sol, celestial girassol, esmorece... E as cantilenas de serenos sons amenos Fogem fluidas, fluindo a fina flor dos fenos... As estrelas em seus halos Brilham com brilhos sinistros... Cornamusas e crotalos, Cítolas,cítaras,sistros, Soam suaves, sonolentos, Sonolentos e suaves, Em Suaves, Suaves, lentos lamentos De acentos Graves Suaves... (...) SIMBOLISMO EM PORTUGAL: Principais representantes Antônio Nobre Viagens na minha terra Às vezes, passo horas inteiras Olhos fitos nestas braseiras, Sonhando o tempo que lá vai; E jornadeio em fantasia Essas jornadas que eu fazia Ao velho Douro, mais meu Pai. Que pitoresca era a jornada! Logo, ao subir da madrugada, Prontos os dois para partir: — Adeus! adeus! é curta a ausência, Adeus! — rodava a diligência Com campainhas a tinir! (...) Camilo Pessanha (1867-1926) Maior expoente do Simbolismo português : Clepsidra (1920); Grande inovador, influenciou os modernistas; Aproximação entre palavra e música (Verlaine); Tema constante : a dor; visão pessimista do mundo; Sentia-se um verdadeiro exilado do mundo; Percepção do mundo fragmentária; na poesia:desagregação formal e do poeta. Há no ambiente um murmúrio de queixume, De desejos de amor, d'ais comprimidos... Uma ternura esparsa de balidos, Sente-se esmorecer como um perfume. As madressilvas murcham nos silvados E o aroma que exalam pelo espaço, Tem delíquios de gozo e de cansaço, Nervosos, femininos, delicados, Sentem-se espasmos, agonias d'ave, Inapreensíveis, mínimas, serenas... - Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas, O meu olhar no teu olhar suave. As tuas mãos tão brancas d'anemia... Os teus olhos tão meigos de tristeza... - É este enlanguescer da natureza, Este vago sofrer do fim do dia. (Clepsidra, 1920) Camilo Pessanha : “Crepuscular” 22/02/2018 5 Releia o poema “Crepuscular” de Camilo Pessanha e analise-o, apontando as características simbolistas presentes no texto. ATIVIDADE 2 Florbela Espanca: Romântica? Simbolista? Modernista? Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui...além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente Amar!Amar!E não amar ninguém! Recordar?Esquecer?Indiferente!... Prender ou desprender?É mal?É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei-de ser pó cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar... SIMBOLISMO NO BRASIL Consolidação da república brasileira; Frustrações, falta de perspectiva; Desenvolveu-se fora do eixo do Rio de Janeiro; Retrata a atmosfera decadente do final do século XIX; SIMBOLISMO NO BRASIL 3 orientações da poesia deste período: Humanístico- social; místico-religiosa; intimista- crepuscular. áIsm lia Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... SIMBOLISMO NO BRASIL: Principais representantes Alphonsus de Guimarães E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... SIMBOLISMO NO BRASIL: Principais representantes Cruz e Souza Maior representante do Simbolismo brasileiro; Nasceu escravo, contudo recebeu educação refinada; Por ser negro, sofreu preconceito racial e teve muitas dificuldades para se estabelecer como poeta. Missal e Broquéis foram os livros que inauguraram o Simbolismo no Brasil. 22/02/2018 6 VÍDEO Vídeo sobre Cruz e Sousa http://www.youtube.com/watch?v=z72-Gf6ch4c Braços nervosos, brancas opulências, brumais brancuras, fúlgidas brancuras, alvuras castas, virginais alvuras, latescências das raras latescências. As fascinantes, mórbidas dormências dos teus abraços de letais flexuras, produzem sensações de agres torturas, dos desejos as mornas florescências. Braços nervosos, tentadoras serpes que prendem, tetanizam como os herpes, dos delírios na trêmula corte ... Pompa de carnes tépidas e flóreas, braços de estranhas correções marmóreas, abertos para o Amor e para a Morte! CRUZ E SOUSA “Braços” Não! Não! Não! Não transporás os pórticos milenários da vasta edificação do Mundo, porque atrás de ti e adiante de ti não sei quantas gerações foram acumulando, acumulando pedra sobre pedra, pedra sobre pedra, que para aí estás agora o verdadeiro emparedado de uma raça. Se caminhares para a direita, baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira, te mergulhará profundamente no espanto! Se caminhares para a frente, ainda nova parede, feita de Despeitos e Impotências, tremenda, de granito, broncamente se elevará ao alto! CRUZ E SOUZA “O emparedado” Se caminhares, enfim, para trás, ah! ainda, uma derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo — horrível! — parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará num frio espasmo de terror absoluto...E, mais pedras, mais pedras se sobreporão às pedras já acumuladas, mais pedras, mais pedras... Pedras destas odiosas, caricatas e fatigantes Civilizações e Sociedades... Mais pedras, mais pedras! E as estranhas paredes hão de subir, — longas, negras, terríficas! Hão de subir, subir, subir mudas, silenciosas, até às Estrelas, deixando-te para sempre perdidamente alucinado e emparedado dentro do teu Sonho... CONCLUSÃO Nesta aula pudemos conhecer as características do Realismo e seus principais representantes em Portugal e no Brasil. RESUMO Nesta aula trataremos das características do Parnasianismo e Simbolismo, bem como seus principais representantes em Portugal e no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Parnasianismo; Simbolismo; escritores portugueses e brasileiros. 22/02/2018 7 REFERÊNCIAS BILAC, Olavo. Poesias. Rio de Janeiro: Agir, s/d. BOSI, Alfredo. óHist ria Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1997. CANDIDO, Antonio. ãFormaç o da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989. MASSAUD, Moisés. óHist ria da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1983. ________________. A Literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2008. ________________. éA Literatura portuguesa atrav s dos textos. Cultrix, 1986.
Compartilhar