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24/03/2018 1 ANOREXIA NERVOSA AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. **Os transtornos alimentares – Anorexia Nervosa Nunes, M. A. A. [et al] Transtornos Alimentares de Obesidade. Porto Alegre: Artmed, 1998. **Capítulo 02 – Anorexia Nervosa: Classificação Diagnóstica e Quadro Clínico. Carla, 15 anos, 1,66m de altura, 41kg Eu estou me sentindo muito mal comigo mesma. Parece que a cada dia que passa essa sensação de fracasso e de ser uma pessoa feia piora ainda mais. Eu queria muito me olhar no espelho e me ver com aquele corpinho que eu sempre sonhei, bem magro. Mas eu não consigo, não tenho força de vontade. Faço “no food” (deixo de comer alguns dias), uso laxantes e, mesmo percebendo que minhas roupas estão sobrando e o ponteiro da balança está caindo, ainda me sinto gorda, com “pneus” sobrando por todos os lados. Meus amigos, colegas de escola e minha família me perturbam o tempo todo, dizem que estou muito magra, mas acho que eles estão cegos, porque não é assim que me sinto. Dizem que estou ficando louca, mas louca estão eles, estou com 41kg, e não acredito que isso seja doença. O corpo é meu e só quero ser feliz. Não posso nem pensar em engordar. (Depoimento extraído do livro Mentes Insaciáveis de Ana Beatriz Barbosa Silva, RJ: Ediouro, 2005) 24/03/2018 2 Carolina, 27 anos Sofri de anorexia durante quatro anos da minha adolescência e início da idade adulta. Com 20 anos e 1,69m, cheguei a pesar 44Kg. Usei todos os tipos de dietas e técnicas para emagrecimento e depois percebi que deixar de comer era a melhor de todas. Comecei aos poucos, eliminando massas e carboidratos, e já não conseguia passar nem perto que meu estômago “embrulhava”. Depois, aboli do meu cardápio as frituras e gorduras e não suportava nem o azeite das saladas. Com o tempo, minha alimentação se restringiu às verduras e a um pouco, pouco mesmo, de frango. Por fim, além de muita água para me sentir saciada, a única coisa que conseguia ingerir eram biscoitos água e sal (os únicos carboidratos que eu ainda me permitia comer), apenas para me manter viva. Se é que dá para chamar aquilo de vida! (Depoimento extraído do livro Mentes Insaciáveis de Ana Beatriz Barbosa Silva, RJ: Ediouro, 2005) ANOREXIA NERVOSA Intensa e intencional perda de peso, realizada através de dietas muito rígidas, acompanhada de uma busca incessante pela magreza, e em muitos casos por distorção de imagem corporal. 24/03/2018 3 Histórico da doença 1864 – Richard Morton identificou duas pacientes que se diferenciavam de outras acometidas por tuberculose, por apresentarem um ‘consumição nervosa’. 1868 – William Gull redescobriu a síndrome anoréxica descrevendo pacientes com comportamento bulímicos fazendo parte do quadro. 1874 – Willian Gull utiliza o termo ANOREXIA NERVOSA pela primeira vez. Histórico da doença Início do século XX – pacientes anoréxicas descritas com alterações na hipófise causaram confusão diagnóstica por 20 anos. 1930 – Feita a distinção entre as duas doenças. 1950 – Hilde Brunch descreveu duas características da anorexia nervosa: 1 – Tentativas de perder peso representa uma maneira distorcida de vitória para pacientes desesperançosos; 2 – Correlação entre o sentimento de ineficiência de um lado e os déficits de imagem corporal e percepção dos próprios sentimentos, de outro. 24/03/2018 4 Definição dos critérios diagnósticos 1969 – Início da definição dos critérios 1970 – Gerald Russell sugere três critérios diagnósticos: 1 – Comportamento dirigido a produzir uma marcada perda de peso; 2 – Característica psicopatológica de um medo mórbido de engordar; 3 – Presença de alteração endocrinológica (amenorreia em mulheres e perda de potência e interesse sexual em homens). Rusell é um dos estudiosos que tem mais contribuídos para as definições atuais da anorexia nervosa. Origem da palavra ANOREXIA Origina-se do grego: ANN = sem OREXIS = apetite ou desejo Anorexia = “Ausência ou falta de apatite” Não caracteriza o que de fato acontece com os pacientes com a doença visto que eles não apresentam falta de apetite e sim um rígido controle alimentar. Pode acontecer a falta do apetite em estágios bem avançados da doença. 24/03/2018 5 Classificação atual Existe desde de 1993; Oficial no Brasil a partir de 1996 - EUA - 1994 Principal referencia para artigos e livros Anorexia Nervosa F50.0 A – O peso corporal é mantido em pelo menos 15% abaixo do esperado ou IMC em 17,5 ou menos. B – A perda de peso é auto induzida por abstenção de alimentos que engordam e um ou mais dos que se seguem: vômitos auto induzidos, exercícios excessivos, uso de anorexígenos e/ou diuréticos. C – Há uma distorção de imagem corporal na forma de uma psicopatologia específica, por meio da qual o pavor de engordar persiste como uma ideia intrusiva e sobrevalorada, e o paciente impõe um valor limiar de peso a si próprio. D – Amenorreia em mulheres e perda de interesse e potência sexual em homens. E – Se o início do quadro acontece antes da puberdade, a sequência de eventos esperados para a idade é demorada ou mesmo detida. 24/03/2018 6 Anorexia Nervosa Atípica F50.1 Indivíduos nos quais um ou mais dos critérios da anorexia nervosa, tais como amenorreia ou perda de peso significativa, estão ausentes, mas que, por outro lado, apresentam um quadro clínico razoavelmente típico. Pacientes que preenchem todos os critérios, porém em um grau mais leve. Anorexia Nervosa A - Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física. (Peso significativamente baixo é definido como um peso inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor do que minimamente esperado. B - Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo. C - Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciados, influência indevida do peso ou da forma corporal na autoavaliação ou ausência persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual. 24/03/2018 7 Anorexia Nervosa TIPO RESTRITIVO: Durante os últimos três meses, o indivíduo não se envolveu em episódios recorrentes de compulsão alimentar ou comportamento purgativo (vômito auto induzido ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). Esse subtipo descreve apresentações nas quais a perda de peso seja conseguida essencialmente por meio de dieta, jejum e/ou exercícios excessivos. TIPO COMPULSÃO ALIMENTAR PURGATIVA: Nos últimos três meses, o indivíduo se envolveu em episódios recorrentes de compulsão alimentar purgativa(vômito auto induzido ou uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). **Alternância entre os subtipos **Remissão parcial – critério A Características diagnósticas Três características principais: Restrição persistente da ingesta calórica (a perda de peso é vista como uma conquista e um sinal de autodisciplina extraordinária); Medo intenso de ganhar peso (a preocupação com o peso pode aumentar até se o peso diminuir); Perturbação na percepção do próprio corpo (algumas sentem-se acima do peso ou podem se sentir magras, mas com partes do corpo que estão gordas demais). 24/03/2018 8 Características associadas Sintomas depressivos Oscilações de humor Isolamento social Irritabilidade Insônia Diminuição da libido Características obsessivo-compulsivas Características associadas Angústia de alimentar-sepublicamente Sentimentos de fracasso Forte desejo de controlar o ambiente Pensamentos inflexíveis Espontaneidade social limitada Expressão emocional excessivamente contida 24/03/2018 9 Desenvolvimento e curso Geralmente o inicio ocorre na adolescência (13 a 17 anos); Predominância em mulheres (de oito a dez vez maior); A doença começa a partir de uma dieta restritiva e persistente desencadeada geralmente por algum evento significativo/estressante; Aos poucos a pessoa passa a viver exclusivamente em função da dieta, do peso, da comida, da forma corporal. Desenvolvimento e curso A distorção de imagem existe com grande frequência, mas pode não ocorrer em todos os casos; O hábito alimentar pode tornar-se cada vez mais secreto, bizarro e ritualizado; Geralmente perfeccionistas, ótimas alunas, dedicadas (com a evolução da doença e a desnutrição há diminuição do padrão cognitivo); Taxas de mortalidade oscilam entre 5 a 20%. 24/03/2018 10 Fatores de risco Indivíduos que desenvolvem ansiedade ou traços obsessivos na infância Culturas e contextos que valorizam a magreza Ocupações e trabalhos que incentivam a magreza Parentes biológicos de primeiro grau de indivíduos que tenham o transtorno RISCO DE SUICIDIO É ELEVADO NA ANOREXIA Comportamentos usuais Geralmente a família demora de constatar a grande perda de peso do paciente; Deixam de comer em contato com a família ou em lugares públicos; Quando comem, passam muito tempo com o alimento na boca; Aceitam os alimentos oferecidos, mas escondem nas roupas, embaixo da cama, cadeiras, etc; Vômitos pós refeição; Comer gelo pra diminuir a fome; Preocupação com a alimentação da família; Roupas largas e sobrepostas para disfarçar a magreza; 24/03/2018 11 Comportamentos usuais Não procuram tratamento de forma espontânea; Manter-se abaixo do peso é uma prova de sucesso; Estabelecem um peso muito aquém do necessário; Submetem-se a rituais rígidos e agressivos consigo mesmas; “Sabem tudo sobre alimentação” e pouco sobre afeto; Pesagem; Uso de medicação e exercícios; Filme 24/03/2018 12 Textos da próxima aula AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. “Os transtornos alimentares – Bulimia Nervosa” Claudino, A. de M. e Zanella, M. T. (org). Guia de transtornos alimentares e obesidade. Barueri, SP: Manole, 2005. Capítulo 05 – Bulimia Nervosa: Manifestações Clínicas, curso e prognóstico
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