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Deleuze – ritornelo (e o jazz) – Razão Inadequada

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31/03/2018 Deleuze – ritornelo (e o jazz) – Razão Inadequada
https://razaoinadequada.com/2017/03/12/deleuze-ritornelo-e-o-jazz/ 1/5

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RAZÃO INADEQUADA
O tema que você toca no começo de uma canção é o território, e aquilo que vem depois, e que pode ter muito
pouco a ver com o primeiro, é a verdadeira aventura” – Orne�e Coleman
Blue Train
Dicas para a leitura do texto:
1. Ouça a música e depois leia o texto;
2. Ouça a música enquanto lê o texto;
3. Leia o texto no mais absoluto silêncio e depois ouça a música;
4. Del capo et finit;
* Este texto pode ser lido como se fossem notas em uma partitura, ou uma canção que se escuta de olhos fechados
(leia de olhos fechados estas linhas musicais!)
POSTADO EM 12/03/201716/04/2017 BY RAFAEL TRINDADE
Deleuze – ritornelo (e o jazz)

““““
31/03/2018 Deleuze – ritornelo (e o jazz) – Razão Inadequada
https://razaoinadequada.com/2017/03/12/deleuze-ritornelo-e-o-jazz/ 2/5
Clarinet, Gil Mayers
Deleuze e Gua�ari assim definem a filosofia: criação de conceitos (veja aqui). Sai de cena o filósofo
contemplador, admirador (que, como Tales, cai no buraco por ficar olhando as estrelas). Agora o
filósofo é um experimentador, um alquimista, um louco talvez com sua razão inadequada,
perambulando e inventando conceitos, fazendo novas conexões, linhas de fuga. O filósofo é agora um
músico de jazz improvisando melodias! 
Seguiremos com Deleuze e Gua�ari apenas para abandoná-los, seu tema exige variação, são
cadências onde improvisamos a nós mesmos. Mas antes nos deixaremos ser contaminados por sua
filosofia, contagiados por sua vibrações; tocaremos sua música, ressoando com outros conceitos, e
buscaremos entender o que querem dizer com ritornelo.
Criamos ao menos um conceito muito importante: o de ritornelo” – Deleuze, Abecedário
Seguindo primeiramente a linha da mais absoluta didática, podemos separar o ritornelo em três
momentos não consecutivos (ora… ora… ora…):
Ora se sai do caos para constituir um território, ou seja, um agenciamento territorial. “Uma criança,
no escuro, tomada de medo, tranquiliza-se cantarolando […] Esta é como o esboço de um centro estável e
calmo, estabilizador e calmante, no seio do caos” (Deleuze & Gua�ari, Mil Platôs 4);
Ora se organiza um agenciamento, traçando um território em torna de um centro delimitado. “Foi
preciso traçar um círculo em torno do centro frágil e incerto, organizar um espaço limitado […]
componentes para a organização de um espaço, e não mais para a determinação momentânea de um centro.
Eis que as forças do caos são mantidas no exterior tanto quanto possível, e o espaço interior protege as forças
germinativa de uma tarefa a ser cumprida, de uma obra a ser feita” (Deleuze & Gua�ari, Mil Platôs 4);
Ora se abandona este centro do agenciamento territorial e se sai em busca de outros
agenciamentos. “Agora, enfim, entreabrimos o círculo, nós o abrimos, deixamos alguém entrar, chamamos
alguém, ou então nós mesmos vamos para fora, nos lançamos […] Dessa vez é para ir ao encontro de forças
do futuro, forças cósmicas. Lançamo-nos, arriscamos uma improvisação. Mas improvisar é ir de encontro ao
Mundo, ou confundir-se com ele” (Deleuze & Gua�ari, Mil Platôs 4);
31/03/2018 Deleuze – ritornelo (e o jazz) – Razão Inadequada
https://razaoinadequada.com/2017/03/12/deleuze-ritornelo-e-o-jazz/ 3/5
São nestes três aspectos que o ritornelo se constitui, não são fases são ênfases: territorialização,
desterritorialização, reterritorialização. Sempre se habita um destes momentos, mas eles se
interpenetram. O ritornelo é um ponto em um buraco negro, é a criação de um centro no caos (ou
Caosmos); construção de um território onde se sinta em casa; e enfim é um lançar-se, abandonar-se,
improvisar-se. Abre-se uma clareira dentro da floresta, constroi-se uma cabana, mas todos os dias se
sai para caçar, ou ir à cachoeira, ou escalar uma montanha.
Aboriginal Jazz, Gil_Mayers, 1997
É o ritmo que marca o território, são os meios de expressão, é a qualidade harmoniosa dos fluxos.
Não é uma questão de medidas, mas sim de ritmos; impor ritmos, dar cadências, organizar
velocidades. O ritornelo é um agenciamento territorial, é todo um conjunto de expressões e
contrapontos que se desenham num ritmo. Mas é também o próprio movimento de passagem, por
isso ritmo e não medida, é o próprio sair de seu terreno, criar trilhas. O território não se separa das
linhas que o atravessam, por isso ele está sempre aberto para o caos. É como construir sua casa na
beira do abismo.
Podemos falar então de uma nova perspectiva ética, que se dá através da experimentação, uma ética
nômade, ética dos devires, em movimento, que sai em busca de novos territórios: uma geo-ética,
ética da experimentação. O ritornelo aponta sempre para uma possibilidade de fuga de um território,
abrindo-se para novos encontros, mas ao mesmo tempo, uma “voltar para casa”, fechar a porta e tirar
o pó dos móveis.
O grande ritornelo ergue-se à medida que nos afastamos de casa, mesmo que seja para ali voltar, uma vez
que ninguém nos reconhecerá mais quando voltarmos” – Deleuze & Gua�ari, O que é a Filosofia?
Mas nunca volta-se para o mesmo território, não se encontra um “eu primitivo”, existe uma tensão
permanente que permite a mudança constante. O (eterno) retorno, mesmo que para seu próprio
território, é ainda um retorno que se dá na diferença. A geo-ética é um plano de experimentação, é a
linha de fuga que o desejo abre. O desejo é um fluxo que faz agenciamentos coletivos, faz variar (já
escrevemos sobre o desejo aqui). Tudo, claro, com prudência.
31/03/2018 Deleuze – ritornelo (e o jazz) – Razão Inadequada
https://razaoinadequada.com/2017/03/12/deleuze-ritornelo-e-o-jazz/ 4/5
E nesta fusão entre experimentação e prudência encontramos um terceiro termo que nos convém:
improvisação. Viver é como uma música de jazz, você sai, mas depois você volta, o tema está lá,
subjacente. Mas a volta já não é a mesma, já não estamos no mesmo lugar quando retornamos ao
tema, o acorde que inicia não é o mesmo que termina, por mais que seja o mesmo, possui tensões
diferentes.
Tangerine, Gil Mayers
O ritornelo é a experiência da improvisação no jazz, é o sair de casa, sair do tema e, a partir disso,
experimentar as possíveis linhas de fuga em cima do território criado. É sair pela porta, dizer “já
volto“, dar uma volta no quintal, ver o quarteirão ao lado, continuar andando e voltar a si somente a
quilômetros de casa. É criar frases que vão cada vez mais longe, não como o filho pródigo, mas como
os animais que migram mas retornam exatamente ao mesmo local.
E não se trata absolutamente de ressonâncias? Não se trata de encontrar a nota certa para o acorde?
Enfim, não se trata de improvisar em cima de um território? Somos músicos de jazz, não sejamos
monótonos, há uma infinidade de acordes, escalas, arpejos para experimentar! O jazz é o movimento
nômade em um território musical, a ética é o movimento nômade pelos territórios de afetos. Deleuze
criou toda uma possibilidade geográfica para a música, arte e filosofia, cabe a nós explorá-las.
As notas musicais são como a água – elas tomam a forma de quem as está usando. O seu Dó pode fazer
alguém chorar, mas o Dó de outra pessoa pode fazer alguém rir. Esta é a beleza da criação: não temos que
seguir a mesma linha para conseguir o mesmo resultado” – Orne�e Coleman
> Este texto faz parte da série Esquizoanálise <
> Veja também: “O amor em ritornelo” e “Filosofia em Tom Maior” <
31/03/2018 Deleuze – ritornelo (e o jazz) – Razão Inadequada
https://razaoinadequada.com/2017/03/12/deleuze-ritornelo-e-o-jazz/ 5/5

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