Buscar

Trabalho Charles Dickens completo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Elaboração do trabalho sobre Charles John Huffam Dickens 
 
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar dados sobre a vida e obra do escritor Charles Dickens. Abordamos a obra Oliver Twist escrita em 1838, período este, de constante mutação devido à Revolução Industrial em que o autor enfatiza a exploração do trabalho infantil e a desigualdade social, assunto pertinente para análise tanto no contexto social, quanto na presentificação. Além disso, trouxemos alguns relatos vivenciados e estudados por outros autores para conclusão da pesquisa.
 
 
 
C
harles John Huffam Dickens nasceu em 7 de fevereiro de 1812, em uma cidadezinha no interior da Inglaterra chamada Landport. Sentiu desde cedo, a radical transformação econômica que enfrentava o seu país, a Inglaterra rural transformava-se na Inglaterra Industrial em meados do século XIX, envolta em fumo e vapor, mas dinâmica e sedenta de progresso material. Nas recordações da infância de Dickens, o ruído das últimas carruagens rolando pelo empedrado das estradas já se confundia com o roncar de máquinas e das primeiras locomotivas. Dickens nasce com um mundo novo.
Seu pai, o senhor John Dickens, era um modesto funcionário da tesouraria da marinha, ganhava pouco e por não saber administrar os proventos da família vivia de empréstimos, o que fez com que a família fosse para Londres, onde julgava ser a vida mais fácil, entretanto, na cidade grande as coisas pioraram, as dívidas em Londres aumentavam progressivamente e a família começou a ser mal vista em todo o bairro, sendo o senhor John preso por dívidas na prisão de Marshalsea. Já sua mãe Elisabeth, se vê obrigada a vender vários pertences da família, inclusive os livros que Dickens tanto amava ler em sua infância, tais como Dom Quixote, Tom Jones e As mil e uma noites (contos árabes medievais anônimos). Frustrada na tentativa da fundação de uma escola leva os filhos para a prisão, para que ficassem próximos ao marido. Porém Dickens, não acompanhará, pois se tornaria trabalhador aos onze anos de idade em uma fábrica de Betume, chamada Warrien’s de parentes remotos, seu trabalho consistia em colar rótulos nos frascos de graxa, ganhava-se muito pouco, mas com o provento, sustentava a família encarcerada na prisão. Coube ao pequeno Charles, tornar-se o ‘chefe da familia’ e tão precocemente, viu sua infância se esvair como névoa para dar lugar às responsabilidades adultas. Enquanto sua familia morava em um quarto alugado pela própria prisão, Dickens trabalhava e morava sozinho em um pequeno quarto de Betume, periódicamente aos domingos, passava o dia com a familia na prisão, nesse ambiente conheceu as classes mais pobres, o que lhe favoreceu o ambiente de todas as suas obras posteriores.
Estes foram os anos mais duros de sua vida. Toda humilhação e vergonha que sofreu jamais se apagaram de sua memória. Dickens tal como toda a sua familia, apesar da escassez de meios, considerava-se como pertencente à classe burguesa e nunca se esqueceu de que, numa determinada fase de sua vida, as circuntâncias sociais o obrigaram a sujar as mãos e a humilhar-se perante patrões que considerava inferiores e pior ainda, a conhecer o ambiente terrível da cadeia. Nem a mulher, nem os filhos, nem o seu melhor amigo, puderam conhecer aquele período da sua vida, que virá a ser revelado sob a forma de romance posteriormente.
Em determinada altura, um golpe de sorte, sob a forma de uma pequena herança, permitiu à família sair da prisão e retomar, pelo menos parcialmente, a existência cômoda e relativamente desafogada de pequenos burgueses, que o pai considerou sempre como a maior das bênçãos celestes. Porém, a mãe de Charles Dickens recusou-se a tirá-lo do emprego na fábrica. Este fato amputou a infância do escritor que anos mais tarde, afirmaria jamais perdoar sua mãe.
Após sair da fábrica onde trabalhou por seis meses, o futuro escritor, que já gostava de ler, pode retornar aos estudos pelo o período de dois anos, porém o modo de ensino era um tanto rigoroso, o professor era ignorante e brutal, castigava as crianças violentamente. Aqui, começam as grandes experiências de vida de Charles Dickens e o “material humano” que vivenciaria para a sua literatura.
Embora a herança, o dinheiro começa a faltar novamente, então Dickens abandona os estudos e volta a trabalhar como aprendiz de um procurador judicial. Um curso de estenografia o leva ao contato com a imprensa, o jornal True Sun, onde redige notas sobre campanhas eleitorais e reuniões parlamentares. O destino abria-lhe as portas para as letras. De repente, toda Londres está se interessando por seus relatos pitorescos, cheios de humor, leves, fáceis, em que retrata a classe média londrina. Das crônicas, passa aos relatos mais longos e ao folhetim (romances seriados, igualado a novelas).
Um ano após a sua primeira e tão sucedida publicação As aventuras do Sr Pickwick (1837), lança-se seu segundo folhetim Oliver Twist (1838) com a mesma receita de sofrimento, diversão, humor e drama, porém, apresenta aos londrinos uma história totalmente diferente de Pickwick, trata-se se uma sátira violenta contra o que a caridade oficial encerra em si desumano, o que alavancou sua carreira definitivamente, pois sua fama chega como escritor consagrado, e dos seus folhetins, os romances se transformam em livros e peças de teatro. Seus personagens ficam tão famosos quanto o seu autor. Dickens vai ensinando aos londrinos a admirar, a amar a sua vida vulgar dentro da cidade. Ensina-os a amar a si mesmos, por muito desprezíveis e insignificantes que se considerem. O escritor revolucionou o comércio de livros com o seu sistema de romances em fascículos, decidindo a sorte da indústria livreira da Inglaterra.
PRINCIPAIS OBRAS
Entre os seus principais romances posteriores a Oliver Twist, consideramos: Nicholas Nickleby (1839), Loja de Antiguidades (1841), A Christmas Carol (1843), Dombey and Son (1848), David Copperfield (1850), Bleak House (1853), Hard times (1854), Little Dorrit (1857), A Tale of two cities (1859), Great Expectations (1861) e o inacabado The Mystery of Edwin Drood (1870).
Em 9 de Junho de 1870 morre Charles Dickens, imagem perfeita da sua época, deixou-se arrastar pelo mecanismo da sua vida, como o mundo do séc. XIX se deixará deslumbrar pelas suas descobertas. Todavia, Dickens ao contrário do seu século, pressentiu o vazio do seu mundo interior. Viveu sempre projetado para o exterior, quer através dos seus personagens, quer de atitudes. Não aceitou o descanso porque isso significaria rejeitar-se a si mesmo e ao seu tempo. Defensor dos deserdados chegou ao ponto de destruir a sua vida, na busca afanosa de dinheiro. Materialista e cético deixou com a sua obra um dos mais belos contos de amor da literatura universal. ‘Tal como o seu século, a obra que nos legou revelou-se após a sua morte, cheia de promessas de artes novas para os homens do séc. XX” como lembra Carlos Ayala.
Estava finda sua carreira e começava a sua imortalidade, daquele sótão de uma rua pobre de Londres, para a galeria dos maiores escritores de todos os tempos. Um retratista fiel e comovido da classe média londrina e um defensor dos humilhados e ofendidos. Temas como a pobreza, um sistema educacional deficiente, um sistema jurídico corrompido, a falta de auxílio à orfandade de uma Londres arbitrária, com leis débeis, que fechavam os olhos à exploração infantil e às más condições de trabalho, fazem da obra de Dickens uma das mais ácidas em criticar a sociedade da era vitoriana, apoiando-se em sua própria realidade.
Seus personagens são formas e vozes dessas suas críticas. Dickens revelou-se um inconformistaque conquistou o público burguês – o que conseguiu apenas porque foi inteligente e dominou seu ímpeto revolucionário. Sabia que não era função dele incitar um sentimento de frustração, e sim de seus personagens. Foi o caso de sua primeira obra crítica.
Charles Dickens fica atrás apenas de Shakespeare em número de obras reproduzidas, seja para teatro, cinema ou televisão. É considerado por muitos o maior romancista da língua inglesa de todos os tempos. Suas histórias foram marcantes para uma época que não formou apenas opiniões, mas acrescentou à língua palavras e à sociedade formas de pensar o mundo. A delicadeza de sua pena romântica contrastou com a fúria de uma alma inconformada, resultando em uma das obras mais aclamadas da literatura mundial.
CONTEXTO SOCIAL
Dickens viveu na Era Vitoriana, denominada assim devido a Rainha Vitória que chegou ao trono inglês em 1837 e reinou por 64 anos. Ela ajudou a Inglaterra a se tornar um poderoso império, nesse período devido ao que chamamos de Revolução Industrial, houve um considerável aumento demográfico, esse processo era rápido e constante em vários setores, como cultura, religião, política e literatura. Dickens tendo escrito quase toda sua obra nesse período, foi testemunha de uma época de intensas transformações e ao narrar o cotidiano londrino, procurou alcançar um alto grau de dramatização da realidade, fazendo da sua produção, não poucas vezes, uma representação fiel do processo de modernização excludente de que os trabalhadores ingleses foram vítimas. 
É neste contexto que o escritor começa a publicar seus romances, pois era inconformado com as atrocidades advindas das mudanças ocorridas na Inglaterra Vitoriana, cuja característica principal talvez tenha sido contínuos períodos de industrialização, seguidos de intensa exclusão social.
A Revolução Industrial alterou de forma impactante as condições de vida do trabalhador braçal da sociedade vitoriana, os operários durante o inicio dessa revolução moravam em condições desumanas, viviam em cortiços superlotados. As ruas eram sujas, desde lixo doméstico aos dejetos que eram jogados diariamente pelas janelas das casas.
“Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia, salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, o operariado era facilmente explorado, devido também, à inexistência de leis trabalhistas. O desenvolvimento das ferrovias irá absorver grande parte da mão-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas.” (HOBSBAWN, 2000, p. 49).
Além disso, esses trabalhadores eram submetidos a jornadas de trabalho que chegavam, aproximadamente, 80 horas por semana. O salário era insuficiente para atender as necessidades básicas daquelas pessoas. Tanto mulheres como crianças também trabalhavam, recebendo um salário ainda menor. A Revolução Industrial afetou principalmente as pessoas das classes mais baixa. 
Naquela época, as casas eram desconfortáveis, mal iluminadas e mal arejadas. O trabalho nas fábricas não era seguro nem para os adultos e tão pouco para as crianças. Logo, mais do que qualquer outro motivo literário, Dickens eternizaria em sua ficção as condições degradantes a que estavam sujeitos os trabalhadores nas cidades industriais emergentes, como lembra Anthony Burgess, ao afirmar que: 
“O mundo criado por Dickens é acima de tudo uma Londres de pesadelo com restaurantes baratos, prisões, escritórios de advogados e tavernas escuras, enfumaçadas e frias, mas muito vivas. Os romances de Dickens são todos animados por um sentido de injustiça e do erro pessoal; ele está preocupado com os problemas do crime e da pobreza.” (BURGESS, 2008, p. 219).
O trabalho infantil torna-se uma das características da economia inglesa. Dickens, então, aflorará estes problemas, e como citado anteriormente, jamais se assumiria como um revolucionário. As aventuras vividas pelos personagens infantis de Charles Dickens nos leva a refletir sobre as condições sociais da época vitoriana e como a criança era vista pela sociedade. E nos prova isso, ao ser levado ao trabalho aos onze anos de idade pelos próprios pais, que deveriam ser seus protetores; percebemos que naquela sociedade a criança era uma peça do jogo econômico dos adultos, uma peça que poderia ser vendida, negociada, alugada e até mesmo abandonada quando não mais servisse aos propósitos dos adultos.
A INFÂNCIA NA ERA VITORIANA
 As condições de vida na era vitoriana não eram as mesmas para todas as crianças. O tipo de vida que uma criança tinha dependia diretamente da posição social que sua família ocupava. Caso não pertencesse a uma família rica, com direito de frequentar a escola, ter boa alimentação, condições higiênicas simples como banhar-se diariamente, a criança na sociedade vitoriana era obrigada a contribuir para o orçamento familiar. Para isso, era necessário enfrentar longas horas de trabalho, em condições de perigo, como carregando pedras, limpando chaminés, rastejando-se nas minas, e tudo isso por um salário muito pequeno. Elas sequer usavam sapatos, pois a família não dispunha de condições para tal regalia. A maioria das crianças não tinha outra escolha, precisavam trabalhar para ajudar suas famílias a ganhar dinheiro suficiente para sobreviver. 
Além das longas jornadas de trabalho, essas crianças enfrentavam condições de vida desumanas, moravam perto das fábricas em bairros sem nenhuma higiene. Elas eram desnutridas, porque a única alimentação feita no dia era basicamente pão, carne de porco, leite ou queijo. Além da precária alimentação, essas crianças enfrentavam a sujeira das ruas, então, essas crianças começaram a contrair doenças como cólera, devido à água poluída que bebiam, apresentavam pulmões infectados devido à poluição das fábricas, outras mais, contraíram tuberculose, varíola e difteria. Como não havia vacinas, as taxas de mortalidade infantil eram altas. Estas condições afetavam não só as crianças, mas os adultos também. Muitas crianças viviam com suas famílias nessas condições precárias, mas havia inúmeras que moravam em abrigos, e muitas outras nas ruas de Londres. Estas crianças eram expulsas de suas casas e jogadas nas ruas, algumas iam para as ruas porque fugiam de casa por causa dos maus tratos que recebiam. 
Tantas crianças vivendo sem orientação, só viam um caminho a ser seguido, o crime. Então começaram os pequenos furtos nas ruas de Londres. Para os moradores era uma verdadeira ameaça para a sociedade, pensaram então que a educação seria a resposta para solucionar o problema dos furtos e retirar as crianças das ruas. Outros diziam que o crime não fora causado pela falta de educação e esta não seria a solução para o problema, e que o crime só seria combatido através da perseguição aos pequenos infratores. Porém, uma característica marcante na época era que somente as crianças ricas iam à escola, os filhos dos comerciantes, industriais, banqueiros e funcionários públicos. Apesar de sua grande importância, a educação desempenhou um papel muito pequeno na vida das crianças. Na Era Vitoriana existia a crença de que a educação não era necessária. Então, em 1870, a Lei da Educação foi aprovada afirmando que todas as crianças, com idades entre cinco a dez anos, deviam frequentar a escola.
AS CONDIÇÕES DO TRABALHO INFANTIL NA ERA VITORIANA 
As relações sociais na época eram baseadas no jogo do poder aquisitivo, as crianças eram muito mais baratas do que os adultos para o trabalho nas fábricas, indústrias e minas. Não se queixavam, tinham dedos ágeis, podendo arrastar-se sob as máquinas. Como os empresários queriam lucrar e não ter grandes prejuízos, o trabalho infantil passou a ser um bom negócio por serem pequenas o suficiente. O trabalho das crianças consistia em recuperar bobinas de algodão, rastejar sob máquinas para amarrar os fios partidos. Um trabalho bem perigoso, pois elas não dispunham de nenhuma proteção para realizá-lo e arriscavam-se a ser pegos pelas máquinas,correndo risco de perder membros como pernas e braços ou até mesmo morrerem caso fossem esmagados pelas enormes máquinas. Além do trabalho nas fábricas, as crianças também eram requisitadas nas minas. Como o carvão passou a ter um ótimo valor comercial, o trabalho das crianças consistia em empurrar caminhões de carvão ao longo de túneis, rastejar através dos túneis, que eram muito estreitos e baixos para um adulto. Elas eram responsáveis por abrir e fechar as portas de ventilação. Algumas crianças começavam a trabalhar às duas da manhã e ficavam sob o solo por dezoito horas seguidas. Havia também os “limpa-chaminés”, trabalho este muito perigoso, (MENDES, 1983, p. 10). Com efeito, os romances de Dickens eram, entre outros aspectos, obras de crítica social: 
“Nas suas narrativas, são tecidos comentários lúcidos e críticas ferinas à sociedade inglesa do século XIX, sobretudo, às distorções resultantes de um desenvolvimento excludente, como a pobreza extrema, as más condições de vida e de trabalho e a estratificação de classe, o que torna sua obra uma espécie discurso em que a empatia solidária pelo homem comum, ao par de uma atitude céptica em relação à sociedade, seja flagrante. (MILLER, 1958)
Fervoroso crítico das injustiças sociais, preocupando-se com questões como a pobreza e a marginalidade existentes em sua época, Dickens – nas palavras certeiras de Burgess (2008) – Lutava por essas questões, mas acreditava mesmo que as medidas transformadoras deveriam acontecer no interior de cada um. Além disso, lançando mão de uma linguagem clara e objetiva, pode-se dizer que a importância da sua literatura não reside isoladamente na grandeza textual ou na relevância de análises sociais, mas na conjunção entre forma e conteúdo, a bem da expressão literária.
OLIVER TWIST NO CONTEXTO SOCIAL
A delinquência provocada pela exploração desenfreada do ser humano por outros seres humanos é o ingrediente básico de “Oliver Twist” (1837). Oscilando entre a crítica ao ideário cultural de sua época e a rejeição a possíveis teorias sociais substitutas, disponíveis nesse mesmo período, Dickens reflete o complexo ideológico da atmosfera política e filosófica em que nasceu e na qual viveu. (LÖWY, 1990).
 
O contexto do romance demonstra ainda como as pessoas, representadas nessa obra célebre de Dickens, estão expostas aos perigos do trabalho industrializado e como passam a fazer parte do jogo econômico do capitalismo inglês (PINA, 1986). Colocando, mais uma vez, a criança como centro do enredo, Dickens promove uma intensa denúncia das condições a que elas estavam submetidas numa sociedade desigual, na qual era, de fato, o elo mais fraco da sociedade. Ao prefaciar seu romance “Oliver Twist”, Charles Dickens indaga:
“As ruas de Londres à meia-noite, frias, úmidas, desabrigadas; os antros sórdidos e bafientos, onde o vício se comprime e carece de espaço para virar-se; o assédio da fome e da doença; os andrajos que mal se mantêm juntos; onde estão os atrativos dessas coisas? Não encerram uma lição e não sussurram algo além da quase despercebida advertência de um abstrato preceito moral?”. (DICKENS, 1983, p. 04)
Oliver Twist confronta, assim, a impotência da criança com a crueldade de uma sociedade que não tem mais leis para protegê-la, obrigando-a a trabalhar em condições subumanas.
ANÁLISE DA OBRA: OLIVER TWIST
A história tem como pano de fundo as crianças órfãs, e apesar de ser uma obra muito antiga é atual como nunca, pois presenciamos todos os dias nas nossas ruas essa triste realidade de crianças abandonadas e muitas vezes sendo exploradas pelos adultos.
Oliver Twist escrito em 1837 foi um dos primeiros livros de Dickens e narra a história de uma criança que nasce num orfanato e é criado até aos 10 anos de idade, sempre sujeito à fome e maus tratos. Essa fase da vida de Oliver é descrito de uma forma nua e crua. Dickens pretende, e consegue, evidenciar as más condições dos orfanatos ingleses, sobretudo a forma sub-humana como as crianças órfãs eram tratadas. Faz uma crítica às leis dos pobres, como ficaram conhecidas, leis que supostamente protegiam os mais desafortunados mas acabavam por criar indústrias de exploração da pobreza
Quando Oliver tem 10 anos, é vendido a um cangalheiro que o leva para a sua oficina de modo a aprender essa mórbida profissão. No entanto, como o menino não tinha ninguém no mundo, os maus tratos continuam, agora além de levar porrada e de ser injuriado, é alimentado com a comida que os cães declinam. O desfile de personagens pela história, o coveiro, juiz, delegado, padres entre tantos outros chegam a ser figuras caricatas como se tirados de uma comédia teatral .
O enredo nos mostra a crueldade do ser humano cada um pensando em seu beneficio próprio, no entanto não há vilões na história e sim pessoas tentando sobreviver a qualquer custo mediante a miséria em que vivem.
A reconstituição de uma Londres antiga é impecável, mostra o crescimento de uma cidade ainda sem controle, a pobreza de um lado e a riqueza de outro, onde desfilam nobres, prostitutas, mendigos, crianças abandonadas e ladrões.
Quando Oliver Twist foge de seu primeiro lar adotivo e segue por uma estrada a procura de uma vida melhor até Londres, é como se o seu espírito estivesse livre e feliz e por apenas alguns segundos todo sofrimento e miséria deixassem de ter tanta importância. Já quando ele chega a Londres depois de dias de viagem a pé, a paisagem se torna escura, cinzenta, reforçando o sofrimento que irá passar. Começa então aí um novo capítulo da vida de Oliver que o leva a conhecer o mundo do crime e, também, o lado bom do ser humano.
Oliver considera-se afortunado por encontrar um estrangeiro ao longo do caminho, Jack Dawkins, que lhe oferece comida e um lugar para ficar em Londres. Jack informa a Oliver, que ele é mais conhecido como 'o Trapaceiro Astuto', um protegido de um cavalheiro idoso, um judeu conhecido como Fagin (uma figura demoníaca). Oliver quebrou a lei acompanhando dois dos seus novos colegas enquanto eles aliviavam um cavalheiro velho e respeitável, do seu lenço, descobrindo para seu horror que ele tinha se envolvido ingenuamente com um bando de batedores de carteira. Abandonado em alta velocidade pelos verdadeiros culpados, e nesta altura capturado e suspeito de ser o ladrão, ele é trazido ante o magistrado. A vítima do roubo, Mr. Brownlow tem pena de Oliver, até porque não está completamente seguro de que Oliver tomou o seu lenço em primeiro lugar. Sem vontade de apresentar queixa judicial Mr. Brownlow consequentemente persuade o magistrado a soltar Oliver.  Fica claro que Dickens rejeita a princípio do homem como produto do meio. O meio tem grande influência, mas não define o caráter de uma pessoa. O homem é um ser capaz de transcender sua situação concreta atual e se posicionar no plano da eternidade. Dickens acredita que existem verdades universais imutáveis, que valem desde o início dos tempos e estarão conosco enquanto durar o mundo. 
Alguns personagens memoráveis habitam as páginas do romance. Do lado bom, o Sr Brownlow, Rose, Sra Beldwin, Harry. Do lado ruim, Silkes, Brundle e, principalmente, um dos melhores vilões já criados, o judeu Fagin. Sua presença é demoníaca e domina cada cena que aparece. Impossível esquecê-lo. Dickens o descreve com uma riqueza de detalhes tão grande que a sua imagem fica marcada na mente de um leitor atento. E, por fim, a personagem mais ambígua Nancy, talvez por isso, a mais fascinante.
Dickens também rejeita a luta de classes. No livro existem ricos bons e ruins; pobres bons e ruins. Por duas vezes Oliver é confundido com um bandido, nas duas vezes suas vítimas não só o perdoam como se tornam seus protetores. Ao descrever a situação miserável dos orfanatos paroquiais, faz uma crítica às leis dos pobres, como ficaram conhecidas, leis que supostamente protegiam os mais desafortunados mas acabavam por criar indústrias de exploração da pobreza, como fica evidenciado pela incrível fazenda de orfãos mantida pela inefável Sra Mann.Como se percebe, Dickens tinha muito a ensinar para os governos atuais.
 A noite passada na cela e o trauma da audição foram provas muito grandes para a constituição frágil de Oliver e ele contrai uma febre. Oliver desperta muitos dias depois para encontrar-se numa cama confortável, na residência extremamente confortável de Mr. Brownlow em Pentonville. A situação de Oliver estava claramente muito melhor, mas o velho Judeu, Fagin, apoquentado que a informação quanto à natureza e o paradeiro da sua operação fossem relatados à polícia, e com conspirações para roubar Oliver longe da sua nova casa. Fagin recruta o seu maldoso cúmplice, o ladrão Bill Sikes, que por sua vez usa a sua namorada Nancy para raptar Oliver enquanto ele está levando um recado para Mr. Brownlow. Por trás do engatamento de Fagin, Oliver é agora pressionado no serviço como o assistente de Bill Sikes. O seguinte roubo não decorre conforme foi planeado, e Oliver é prejudicado. Cansada da sua vida triste, uma arrependida Nancy tenta reparar os seus erros, organizando para que o maltratado Oliver possa ser reunido com Mr. Brownlow. Infelizmente, a conspiração chama à atenção de Fagin, que novamente tenta assegurar do seu instinto de autopreservação traindo-a com Bill Sikes. Fagin espera que uma surra severa dada por Bill persuadirá Nancy a abandonar o plano de libertar Oliver e ficar quieta a respeito de qualquer atividade ilegal, mas tragicamente para Nancy, Bill a mantem calada do seu jeito. Pedindo por sua vida, Nancy é espancada até à morte. O assassinato é descoberto e começa uma perseguição a Sikes, que vai ao chão, mas é confundido por um menino dos batedores de carteira. Perseguido por uma multidão através dos telhados, Sikes distrai-se quando tenta descer por uma corda, e cai, pendurado com a corda em volta do seu pescoço. Detido como cúmplice de Sikes, Fagin é condenado pelo tribunal e sofre o mesmo destino. Felizmente para Oliver, Mr. Brownlow e ele são reunidos e Oliver é adotado como seu filho.
Oliver Twist é uma história belíssima sobre a capacidade do ser humano em suprimir as dificuldades da vida, no entanto é também uma história que demonstra as piores facetas do ser mesmo e o quão maléfico pode ser feito para prejudicar o próximo (é também uma história que demonstra as piores facetas do ser humano e o quão maléfico pode ser para prejudicar o próximo). Estando inserido numa sociedade mesquinha, perversa, competitiva, concorrencial e individualista, Oliver Twist não se comportou da mesma forma que a sociedade britânica de sua época. 
Por outro lado, talvez seja, porque esta foi uma obra escrita na fase inicial de sua carreira, a história, embora demonstre uma grande consistência e solidez, falha nos últimos capítulos no aspecto estrutural, ou seja, existem muitas coincidências, tudo encaixa muito facilmente. Porém, é necessário não esquecer que este livro foi escrito em 1837 e destinava-se a esse tal público oprimido, um público que certamente se revia no personagem de Oliver e que certamente lhe agradou imenso o fim e a forma como é construído. 
PRESENTIFICAÇAO
Charles Dickens um dos recordistas de vendas de livros de todos os tempos, usou de sua experiência pessoal e do drama de sua família para construir sua magnífica obra literária denunciando, sobretudo, as péssimas relações sociais do seu país, a Inglaterra no século XIX. Em Oliver Twist encontramos episódios de maus tratos a crianças inocentes, o descaso da sociedade, a falta de cuidados básicos e de proteção a crianças órfãs, violência e criminalidade e principalmente a exploração do trabalho infantil, que podem ser presenciados até os dias atuais.
“O velho tinha um aspecto respeitável (...) tirara da loja um livro e lia-o com tanta atenção como se estivesse em seu próprio gabinete. É provável que imaginasse estar lá, pois era evidente que ele não via nem acara do livreiro, nem a rua, nem os rapazes, nem o que quer que fosse, exceto o livro que ia lendo absorto, voltando as páginas com mais vivo interesse. Quais não foram o horror e o medo de Oliver, colocado a alguns passos atrás, quando viu o Matreiro mergulhar a mão na algibeira do velho, tirar um lenço, que deu a Carlinhos Bates, depois fugir com o seu companheiro pela esquina da rua! Num rápido instante, a pobre criança compreendeu o mistério dos lenços, dos relógios, das jóias e da existência do judeu. Ficou dois segundos imóvel; fervia-lhe o sangue como se ele estivesse em um braseiro; assustado e confuso e, sem saber o que fazia, deitou a correr Mas no mesmo instante que ele corria, o velho procurou o lenço no bolso e, não o achando, voltou-se rapidamente. Quando viu a criança a correr, pensou naturalmente que era o ladrão, entrou a correr atrás dele, sem deixar o livro, e gritando: — Pega ladrão! Pega ladrão!”
(OLIVER TWIST, pág. 78)
Parte considerável de seus personagens era de crianças e adolescentes, das classes menos favorecidas, explorados de maneira consistente e persistente por alguns espertalhões, que se valia de sua ingenuidade, inexperiência e abandono para lucrar com seu trabalho,  sem que tivessem maneiras de se defender. É difícil, se não impossível, ler os romances desse autor sem se revoltar com o cinismo e o mau-caratismo de adultos em todos os tipos imagináveis de exploração de menores de idade. A exploração do trabalho infantil não era pecado exclusivo da sociedade inglesa da Era Vitoriana e está muito distante de ser coisa do passado no mundo. Inclusive no Brasil, onde é considerado crime, mas que raramente é punido. 
 
Segundo uma pesquisa realizada em 1990 pelo IBGE mais de 30% das crianças brasileiras, na faixa dos 10 aos 17 anos, trabalhava. O bom senso diz que deveriam estar estudando. Há certamente, os que dirão que isso se trata de algo positivo e até desejável, já que o trabalho enobrece e quanto mais cedo se começar, maiores chances se terá de fazer o que seja útil, construtivo e permanente. Essa posição fica ainda mais sólida quando constatamos no noticiário cotidiano vários casos de crianças e adolescentes cometendo toda a sorte de delitos, como roubos, furtos, tráfico de drogas e principalmente assassinatos. 
É a miséria que está ditando o futuro desses menores (como era a dos personagens de Dickens), fadados a exercer tarefas secundárias e mal remuneradas. 
Na ocasião, o IBGE apurou que eram 7,44 milhões de meninos e meninas que haviam entrado no jogo da vida com cartas marcadas. Que por absoluta carência de suas famílias, eram forçados a batalhar por nada mais do que a simples sobrevivência física, sem qualquer chance de realização pessoal enquanto seres humanos, destinados a uma existência carregada de frustrações, rancores e mágoas.
“Adiante havia a história de homens que pouco a pouco se haviam familiarizado com a idéia do crime e acabavam cometendo horrores. Todos esses quadros eram traçados com tal verdade que as páginas do livro aos olhos de Oliver pareciam ter uma cor de sangue. A criança aterrada atirou o livro para longe; caiu de joelhos e pediu a Deus que o deixasse puro de semelhantes crimes e lhe mandasse antes a morte do que lhe permitisse ficar assassino. Oliver foi se acalmando pouco a pouco e, com voz fraca, pediu ao céu que o socorresse no meio dos perigos que o ameaçavam, que tivesse pena de uma criança enjeitada, que nunca conhecera a afeição de um parente nem de um amigo, e que lhe desse a mão no meio dos homens perversos que o rodeavam.”
(OLIVER TWIST, pág. 148)
O estudo do IBGE apontava claramente que os menores eram obrigados a trabalhar porque viviam em famílias com renda mensal inferior a dois salários mínimos. Após há alguns anos, foram criados diversos mecanismos sociais de proteção à infância, principalmente o “Bolsa Família”, as coisas, nesse aspecto, não há como negar, melhorou. Mas a exploração do trabalho infantil (que é crime, conforme a legislação vigente) deixou de existir? E nos casos em que eventualmente existam, os infratores eram punidos? 
 
Outro estudo, do mesmíssimo IBGE, mas feito 19 anos depois,ou seja, realizado em 2009 conclui que a prática ainda é comum em pelo menos onze setores da economia brasileira! Essa pesquisa é mais abrangente e, baseada em relatório do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, conclui que 122 produtos são elaborados, em 58 países do mundo, com a utilização massiva (quando não única) de mão de obra infantil. Em número de casos apurados, o Brasil ocupava a terceira posição, empatado com Bangladesh e abaixo, somente, da Índia e de Mianmar. Pois é, 19 anos depois e após tantos novos programas sociais, a prática de exploração de crianças em nosso país continuava mais ativa do que nunca. 
 
Charles Dickens, criador de personagens sofridos e explorados, como Oliver Twist, por exemplo, caso vivesse nesta segunda década do século XXI no Brasil, teria campo fertilíssimo para a criação de centenas, milhares, milhões de tantos outros tipos, tão ou mais ofendidos e humilhados do que aqueles que criou. E nem precisaria recorrer à imaginação. Bastaria se limitar a descrever os meninos e meninas pobres com os quais se deparasse, sem nenhuma necessidade de carregar nas tintas. 
O número de crianças que continuam a serem exploradas por humanos que se valiam do seu ego e se ostentam do seu poder aquisitivo, se aproveitando assim, de crianças que precisam ser duramente amadurecidas para o complemento do ganho mensal de suas famílias (geralmente miseráveis) é continuo. Segundo outra pesquisa do então IBGE, baseada no Censo de 2010, 4 milhões de crianças e adolescentes de 10 a 17 anos ainda trabalham no país. Em estimativa mais abrangente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, no ano de 2011, são 3,6 milhões de crianças de 5 a 17 anos trabalhando – ou 8,6% da população nessa faixa de idade.
A modesta redução de 13,4% no número de crianças e adolescentes trabalhando apontada pelo Censo entre 2000 e 2010 poderia ser um alento, se não fossem alguns “porém”. Justamente na faixa mais vulnerável dessa população – as crianças de 10 a 13 anos, para quem qualquer tipo de trabalho é proibido – a ocorrência do problema chegou a aumentar 1,5% (são 710 mil crianças nessa idade, quase 11 mil a mais que em 2000).
No levantamento da PNAD, em todo o Brasil havia 89 mil crianças de 5 a 9 anos e 615 mil de 10 a 13 anos trabalhando na semana da pesquisa – mais de 700 mil crianças no total, o que equivale a pouco menos que a população da cidade de João Pessoa.
A mão de obra de quase 2,7 milhões de jovens entre 14 e 17 anos, apesar de menos frequente que há dez anos (os adolescentes que trabalhavam eram então 3,2 milhões), é empregada de maneira irregular e em atividades perigosas. Segundo a legislação brasileira, jovens de 14 e 15 anos só podem trabalhar na condição de aprendizes; os de 16 e 17 anos, em atividades que não sejam perigosas ou degradantes, protegidos por uma série de condições.
Estudo de micro dados dos censos do IBGE de 2000 e de 2010 feitos pela OIT permitiu identificar em quais regiões do país a atual política de redução do trabalho infantil surtiu mais efeito.
A única região onde todos os Estados registraram redução do número de crianças de 10 a 13 anos trabalhando foi o Nordeste – queda de 14,96% nessa faixa de idade, e de 23,28% entre crianças e adolescentes de 10 a 17 anos. Em todas as outras regiões do Brasil, o número de crianças entre 10 e 13 anos trabalhando aumentou. Nos Estados do Norte e do Centro-Oeste, esse aumento é de mais de 25%.
Ao se aprofundar no assunto, chegamos à conclusão de que nosso querido país, esta longe de abolir tal prática, somos ainda um dos países com o maior índice de trabalho infantil, que se manifesta de diferentes formas como catadores de lixos (recolhedores de papeis), em serviços de carvoarias e olarias, exploração sexual, além de flanelinhas e pequenos infratores (crianças que são marginalizadas, ensinadas por bandidos a vender drogas, roubar e até mesmo cometer homicídios).
“Antes que Oliver tivesse tempo de fazer um movimento qualquer, sentiu-se agarrado pelos braços. Dentro de um segundo, estava ele com Tobias sobre a relva, do outro lado do muro. Sikes pulou e foi ter com eles imediatamente. Dirigiram-se devagarinho para a casa. Foi então que, pela primeira vez, Oliver, desvairado de dor e de medo, compreendeu que o arrombamento, o roubo e talvez o assassinato eram o fim da expedição. Torceu as mãos e deixou escapar involuntariamente um grito de dor. Passou-lhe pelos olhos uma nuvem, um suor frio lhe cobriu o rosto, as pernas lhe enfraqueceram e ele caiu de joelhos. — De pé! Levanta-te! — murmurou Sikes, tremendo de cólera e puxando a pistola da algibeira. — Levanta-te ou eu te faço saltar os miolos fora. — Oh! Pelo amor de Deus! Deixe-me ir embora! — disse Oliver. — Deixe- me ir para bem longe, morrer no meio dos campos; não voltarei para Londres; nunca! Nunca! Tenham piedade de mim! Não façam de mim um ladrão; por todos os anjos do céu, tenham pena de mim! O homem a quem estas palavras eram ditas proferiu uma horrível praga e já havia engatilhado a pistola, quando Tobias lhe arrancou a arma da mão, tapou a boca da criança e arrastou-a para a casa.” (OLIVER TWIST pág. 164)
No estudo, Trabalho Infantil no Brasil: dilemas e desafios, Sven Hilbig, pesquisador da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, verificou que nas pobres periferias urbanas e na zona rural, a infância tem curta duração, consideradas as crianças até 14 anos e que são socializados no mundo do trabalho, cortando cana, colhendo café e laranjas, vendendo doces e refrigerantes, vigiando carros, engraxando sapatos, ajudando as mães em casa, se prostituindo e traficando drogas. O trabalho infantil é quase tão velho como a própria história do país. Pois desde o início da colonização as crianças negras e indígenas eram incorporadas ao trabalho. Com o desenvolvimento socioeconômico do final do século XIX, com a imigração vinda da Europa e Japão, e a revolução industrial as formas de divisão de trabalho facilitaram o exercício do trabalho e a inclusão da mão-de-obra infantil na indústria têxtil a custos baixos. Já no século XX, a crescente urbanização ampliou ainda mais os ramos de atividade infantil. As crianças e adolescentes inserem-se no setor informal, na oferta de serviços e nas atividades ilícitas como tráfico de drogas, prostituição, etc.
A partir da década de 80 foram aprovadas medidas jurídicas, políticas e sociais, nacional e internacionalmente. O objetivo destas leis é não apenas combater o trabalho infantil com sua proibição, mas o reconhecimento da cidadania das crianças e dos adolescentes, tornando-se sujeitos de direitos, o trabalho infantil torna-se uma questão de direitos humanos.
TRABALHO INFANTIL NAS ZONAS URBANAS E RURAIS
As estatísticas demonstram uma concentração do trabalho infantil nas áreas urbanas, da ordem de 57%. Na relação entre as crianças e adolescentes trabalhadores nas áreas urbanas e rurais tem-se que no campo uma de cada três crianças trabalha, já na cidade o percentual é de 13%.
O trabalho infantil urbano se encontra basicamente no setor informal, representando 40%, sendo 16% no trabalho doméstico não remunerado. Nos grandes centros, 77% das crianças (idade entre 10 e 17 anos) recebem remuneração, no campo, 2/3 não recebem remuneração alguma, quanto mais jovem são, maior é o volume proporcional de trabalho sem salário. Crianças de 10 anos que não recebem salário ou remuneração são mais que o dobro (88%) que de adolescentes de 17 anos (40%).
TRABALHO INFANTIL E AS GRANDES REGIOES 
A obrigação infantil de trabalhar é maior no nordeste. Cerca de 1/4 das crianças nordestinas trabalham. O sudeste tem o 2º lugar (2,2 milhões de trabalhadores infantis), contrariamente à renda que no nordeste é de R$ 77,00, e no sudeste mais que o dobro, R$ 157,00. A jornada de trabalho média das criançase adolescente é de 27 horas por semana, já na área rural é cerca de 30 horas semanais.
PRINCIPAIS CAUSAS DO TRABALHO INFANTIL
A pobreza é o principal motivo do trabalho de crianças e adolescentes, assim como a busca por mão-de-obra barata. Outra é a história socioeconômica brasileira, diferenciando o trabalho infantil tradicional típico dos descendentes de imigrantes europeus, dos trabalhos infantis nas carvoarias, no cultivo de cana-de-açúcar, de laranja ou pedreiras. Na primeira, temos um método de transmissão de um ofício e complemento de renda familiar, não abandonado os estudos complementares. Diferentemente da grande maioria que pela sua história cultural diferenciada, acabam por trabalhar pesado, sem frequentar a escola. 
“Cada criança recebia uma tigelinha cheia e nada mais, exceto nos dias de festa, em que se lhes dava mais duas onças e um quarto de pão. As tigelas nunca precisavam ser lavadas; os pequenos, com as suas colheres, deixavam-nas completamente limpas e lustrosas; e quando acabavam esta operação, que não durava muito, porque as colheres eram quase do tamanho das tigelas, ficavam contemplando a caldeira com olhos tão ávidos que pareciam devorá-la e lambiam os dedos para não perderem algum resto do mingau que lhes ficasse. Geralmente a criança tem excelente apetite. Oliver Twist e seus companheiros sofriam durante meses as torturas de uma lenta consumpção, e a fome acabava por lhe transviar o espírito.” (OLIVER TWIST, pág. 34.)
Quase 200 anos após a Revolução Industrial, encontramos ainda nos dias atuais tantas semelhanças, e apesar da criação das leis trabalhistas (o que na época de Dickens não existia), de tantos recursos governamentais e não governamentais, ainda sim existem monstros − Pois assim que denominamos estes seres humanos − Capazes de explorar e abusar de crianças ingênuas e tão indefesas, cujo único propósito, é não morrer de fome. Dickens faz uma critica de forma satírica à sociedade da época, que valorizava as roupas, os modos, a maneira de falar do indivíduo. Uma sociedade hipócrita que desprezava os pobres, que explorava suas crianças, que visava somente o capital e a ostentação do luxo. As ideias e visões revolucionárias como a de Dickens não deveriam ficar apenas guardadas em acervos empoeirados com o tempo, deveria ser colocadas em prática, deveriam ser guardadas em nossos corações, com a consciência de que não devemos olhar apenas para o nosso próprio umbigo, devemos olhar para o que aquela sociedade causou e nos enojar dessa conduta tão terrível, devemos caminhar para evolução, onde nossas crianças são o futuro e precisam ser vista com amor! Devem ser proporcionado as nossas crianças direitos básicos, como frequentar uma escola, ser bem cuidada e alimentada, e não como uma mão de obra barata visando apenas o lucro sujo! 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AYALA, Carlos. Charles Dickens: O Autor e a Obra. Agosto de 1969
BONDACZUK, Pedro J. Charles Dickens e a exploração do trabalho infantil. São Paulo, abril de 2013.
BRASIL, Assis. Prefácio e Biografia Oliver Twist. Coleção Elefante.
BURGESS, Anthony. A literatura inglesa. São Paulo: Ática, 2008.
HOBSBAWN, Eric. Da Revolução Industrial inglesa ao Imperialismo. São Paulo: Forense
Universitária, 2000.
KIDDO, Yuri. Estudo Revela impacto da exploração de crianças e adolescentes no cone sul. Portal UOL, agosto de 2013.
LÖWY, Michel. Romantismo e messianismo. São Paulo: Perspectiva, 1990.
MATOS, Marta Maria de Souza. Artigo trabalho infantil na Era Vitoriana. Junho de 2010. 
MENDES, Oscar. 1983. “A era vitoriana”. In: Id. Estética literária inglesa. São Paulo; Brasília: Itatiaia; INL, (Col. Ensaios, v.10)
MILLER, J. H. Charles Dickens: The world of his novels. Cambridge: Harvard University,
SALDANHA, Jefferson Ricardo Lopes. Trabalho infantil e políticas públicas de Erradicação. Brasil Escola, janeiro de 2000
WICKPEDIA, Enciclopédia livre. Biografia de Charles Dickens, Revolução Industrial e Era Vitoriana.

Outros materiais

Perguntas Recentes