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T Ó P I C O S E S P E C I A I S UNIDADE 2 POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE OBjETIvOS DE APRENDIZAGEM A partir desta unidade você será capaz de: • compreender os fundamentos e concepções sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade; • ampliar a percepção acerca das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade; • conceber as tecnologias da informação e comunicação como fator determinante no advento da sociedade da informação; • contribuir para o debate sobre a sociedade da informação; • compreender as práticas de inovação, as comunidades virtuais e seus impactos e conhecer novidades tecnológicas existentes; • compreenda o processo político, social e histórico contemporâneo; • refletir sobre relações de trabalho. TÓPICO 1 - CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE TÓPICO 2 - TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) TÓPICO 3 - AVANÇOS TECNOLÓGICOS TÓPICO 4 - GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL TÓPICO 5 - RELAÇÕES DE TRABALHO PLANO DE ESTUDOS Esta segunda unidade está dividida em cinco tópicos. No final de cada tópico, você encontrará atividades que contribuirão na reflexão e análise dos estudos realizados. T Ó P I C O S E S P E C I A I S T Ó P I C O S E S P E C I A I S CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 Caro acadêmico, para adentrarmos nos assuntos relacionados à Ciência, Tecnologia e Sociedade é necessário entendermos os fundamentos de cada tema, e, somente então, relacionarmos com o todo. Desta forma, convido você a discutir ciência sob diferentes óticas, analisar definições e pensamentos acerca da tecnologia e algumas formas de interpretar a sociedade. A seguir, abordaremos algumas relações sobre ciência e tecnologia, tratando sob o contrato de neutralidade desta parceria; trataremos ainda do processo de análise da evolução da sociedade sob algumas perspectivas; e, assim, analisar a entrada da participação da sociedade nas discussões da, então, falida parceria ciência e tecnologia. Somente então abordaremos a nova formatação da CTS com embasamento nas discussões levantadas pelo trabalho dos pesquisadores Milton Santos e Wiebe Bijker. E para finalizar, algumas considerações acerca de modernidade, pós-modernidade e globalização. UNIDADE 2 2 CIÊNCIA Entender eventos, situações ou fatos novos é sempre uma tarefa fácil para você? Se fosse designado para a incrível tarefa de defender um determinado episódio, como você procederia? Essas indagações fazem-se necessárias para que ampliemos nossos horizontes sobre o fato de que as pessoas constroem formas próprias para compreender a realidade, seja observando pelo viés cultural, histórico, geográfico, ambiental, enfim. UNIDADE 2TÓPICO 194 T Ó P I C O S E S P E C I A I S A mitologia, a arte, a religião e até mesmo a ciência são observadas quando o foco é explicar as situações que cercam os seres humanos. Você, com certeza, já deve ter ouvido sobre Isaac Newton! Não se recorda? E sobre Isaac Newton e a história da maçã que caiu sobre sua cabeça, originando assim a teoria da gravidade? Ficou mais fácil, não? Pois bem, é desta forma que a sociedade explica situações do cotidiano: apoiando-se em diferentes pensamentos para defender o que acontece ao seu redor. Quando contrapomos a ciência natural à ciência humana podemos perceber o jogo de conflitos, pois, conforme Omnés (1996), a ciência é capaz de explicar a realidade bastando para isso, princípios, regulamentos e normas. De qualquer maneira, tais conflitos são indissociáveis da epistemologia e da política, uma vez que ocorre a tentativa de autoridade de uma ciência sobre a outra. Desta forma, a realidade é comumente explicada pela ciência. A ciência apresenta características que a fazem singular; é cumulativa, ou seja, não se costuma descartar informações ou dados obtidos; é computável, permite o devido registro de tais informações ou dados, e, além disso, é irrevogável. Segundo Abbagnano (2000), além de utilizar sua própria linguagem, é baseada em métodos e fundamentos epistemológicos, o que faz com que seja clara e objetiva. Diversos são os métodos utilizados para explicar o cotidiano através da ciência. Severino (2007, p. 102) nos diz que um método científico pode ser “um conjunto de procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que permitem o acesso às relações causais constantes entre os fenômenos”. Já para Omnés (1996, p. 272), é “um conjunto de regras práticas que permitem garantir a qualidade da correspondência entre a representação científica e a realidade”. Nessa mesma perspectiva, Omnés (1996) também propõe que o método deve cumprir ainda algumas etapas que visam diminuir a distância entre a cientificidade do conhecimento e a proposta de explicação do mesmo, que seriam: QUADRO 5 - ETAPAS PARA EXPLICAÇÃO DO COTIDIANO ATRAVÉS DA CIÊNCIA FONTE: Adaptado de OMNÉS (1996) UNIDADE 2 TÓPICO 1 95 T Ó P I C O S E S P E C I A I S Faz-se de suma importância a compreensão sobre ciência e o conhecimento gerado por ela. Porém, não se pode deixar de lembrar que o conhecimento científico avança pelo campo da prática e não só pelo patamar teórico. 3 TECNOLOGIA O que surge no seu pensamento ao ouvir a palavra tecnologia? Porventura seriam máquinas sofisticadas, ou, quem sabe, computadores de última geração? Exatamente, esses são sinônimos de tecnologia, mas convido você a aprofundar seus conhecimentos ainda mais. Veja, pelo menos, outras três vertentes possíveis para a utilização dessa palavra, segundo Ferreira (2004): 1. Linguagem peculiar a um ramo determinado do conhecimento, teórico ou prático. 2. Conjunto dos processos especiais relativos a uma determinada arte ou indústria. 3. Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral. Por mais simplificadas que sejam estas três conceituações, elas permitem a análise inicial acerca da discussão sobre tecnologia. Vamos iniciar falando sobre conjunto de processos utilizados em uma determinada área, neste estamos falando de teoria e prática aliadas a fim de atingir um objetivo. Isso nos faz inferir que o conhecimento científico não ocorre somente na academia, mas também no ambiente de trabalho, ou seja, não só há produção de conhecimento científico no ambiente acadêmico, mas nas prestadoras de serviço, as quais testam a teoria promovida pela ciência, agora no campo da prática. NO TA! � Sobre isso há de se destacar uma situação relevante nas questões tecnológicas, no âmbito de país, a capacidade de produção de tecnologia também diferencia os países desenvolvidos dos em desenvolvimento. UNIDADE 2TÓPICO 196 T Ó P I C O S E S P E C I A I S Você consegue perceber, nessa explanação inicial, a ação do ser humano em tudo o que se refere à tecnologia? Normalmente, quando se fala nesse assunto, logo se pensa em tecnologia de ponta, sondas espaciais, nanotecnologia, enfim; porém, a própria transformação das peles de animais em roupas, dos elementos da natureza em utensílios domésticos, o uso do fogo, entre outros ao longo da história, são exemplos de tecnologia. E, sim, a tecnologia está presente desde muito cedo na vida do ser humano. FIGURA 12 - A PRIMEIRA RODA FONTE: Disponível em: <http://waz.com.br/ blog/2013/08/26/cinco-tecnologias-que- mudaram-o-mundo/>. Acesso em: 15 maio 2015. Maior complexidade há quando analisamos a tecnologia do ponto de vista técnico, pois incluímos o campo de atuação da atividade humana e aumentamos os dados acerca do que vem a ser tecnologia. Como já exposto, a tecnologia está em todos os meios, seja científico, cultural, social; com isso, ratificamos as colocações de que em todasas ações humanas há técnica e, portanto, a tecnologia está amplamente disseminada, como preconiza Abbagnano (2000). Outrossim, é relacionada às implicações sobre todo esse conhecimento desenvolvido; segundo Claval (2005), o uso, o aproveitamento e os resultados são de acordo com o objetivo para o qual foi desenvolvida e o meio em que está inserida. Pode-se perceber que a técnica está tão enraizada entre a natureza e o ser humano que, para Santos (2006), é quase impossível separá-la, pois o homem já não se vê mais sem o uso de tecnologia, que facilita, medeia e auxilia em muitos processos. Talvez possa surgir UNIDADE 2 TÓPICO 1 97 T Ó P I C O S E S P E C I A I S aí um fator de preocupação: substituição (em demasia) dos elementos naturais por processos artificiais. Fica a deixa para você pesquisar e analisar o que se apresenta de prós e contras nessas questões. Agora, partimos para a análise do último item sobre tecnologia, este pode ser traduzido como tecnocracia, ou seja, o uso do conhecimento científico nos demais meios, porém, com a divulgação exclusiva a partir do que a ciência e a técnica propõem como resultado. Neste último, tal ação elimina as demais análises feitas a partir da concepção política, ideológica e social, o que, por sua vez, pode causar o determinismo tecnológico. Não se esqueça, tais ações terão reflexo direto nas questões relacionadas à sobreposição das ciências humanas às ciências da natureza. Pelo que foi apresentado nesta breve explanação, pode-se perceber que as ações são interligadas e que agem como reação em cadeia. Nesse processo, faz-se necessário entender a sociedade como agente integrante e mediador de todos esses processos. 4 SOCIEDADE Ao entender a importância de discutir a sociedade como parte integrante de todo o processo relacionado à tecnologia, abre-se precedente para muitas indagações. As discussões seriam inúmeras, pois seria necessário abrir alinhamentos no mais amplo sentido a fim de ajustar as arestas para que se forme o conhecimento acerca do assunto. Seja no âmbito político, econômico, social, cultural, ambiental, faz-se necessário apurar o contexto em que ocorrem, a fim de compreender seu impacto. Lembrando que a ciência humana apresenta grande diversidade de pressupostos metodológicos e epistemológicos, e estes serão abordados, através de alguns autores e suas perspectivas, a seguir. UNIDADE 2TÓPICO 198 T Ó P I C O S E S P E C I A I S QUADRO 7 - PERSPECTIVAS DE TEORIAS E SEUS AUTORES SOBRE SOCIEDADE FONTE: Adaptado de Tello e Mainardes (2012) Pode-se perceber que cada autor defende uma linha de pensamento, ora específica, ora compartilhada por outro autor, porém, divergentes; no entanto, nas propostas de conceituação sobre sociedade, cada um nas suas perspectivas defende seus pontos de vista. Vejamos, por exemplo, Comte, em cuja teoria fez uso de leis e métodos das ciências naturais, entendendo a sociedade como um grande organismo vivo, interligado e interdependente. O principal conceito defendido por Comte era de que a sociedade evoluía apenas em uma direção, ou seja, sua postura frente às mudanças era conservadora. Com base nesta teoria surgiram outras, nesta mesma linha de pensamento, denominadas como Neopositivismo. Por outro lado, Spengler entendia que a sociedade evoluía em ciclos que se encerravam em grandes períodos, citando como exemplos as sociedades babilônica, egípcia, romana. Marx, por sua vez, defendia a ideia de que a sociedade, como capitalista, começara a dividir as classes sociais e tal divisão proporcionava observar a evolução da sociedade num viés de produtividade e capitalismo. Husserl tinha grande preocupação com a essência dos objetos e não com o materialismo. Desta forma, considerava mais importante a experiência da consciência do que os demais UNIDADE 2 TÓPICO 1 99 T Ó P I C O S E S P E C I A I S fatores materiais ou ideias. Michel Foucault defendia a ideia de que o saber estava fortemente ligado ao poder, e propunha uma genealogia para analisar a sociedade com a ideia de que o saber estaria presente nas relações humanas e nas instituições disciplinadoras. Assim, diversas são as teorias acerca da evolução da sociedade, que não se encerram e tampouco foram todas apresentadas, mas que permitem dar-nos base para analisar, no contexto da sociedade atual, a implicação da sociedade nas práticas atuais. Acertadamente, podemos inferir que nenhum fator até aqui estudado age sozinho ou de maneira isolada, é no conjunto da obra que a sociedade evolui, a ciência melhora e a tecnologia se adapta. (BAZZO, 2010) 5 SOCIEDADE ENTRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA Já vimos a definição de tecnocracia, pela qual a ciência passa a ter razão sobre tudo e todos. Pois bem, esta visão apresenta um modelo de progresso linear, pelo qual o desenvolvimento social é apenas consequência do desenvolvimento proposto pela ciência, que, por sua vez, geraria o desenvolvimento tecnológico e, somente então, chegaria no desenvolvimento social. FIGURA 13 - O PROGRESSO DO PONTO DE VISTA DA TECNOCRACIA FONTE: Adaptado de Auler e Delizoicov (2006) UNIDADE 2TÓPICO 1100 T Ó P I C O S E S P E C I A I S Quando se trata do modelo linear apresentado, a perspectiva é de que tanto a ciência quanto a tecnologia determinam as ações e melhorias, e a sociedade, por sua vez, somente as recebe sem possibilidade de interação. Nesse modelo, a relação entre o desenvolvimento científico e o social é casual, o que é fortemente criticado; outro fator de desagrado nesse modelo, conforme Bourdieu (1983a) é da neutralidade da ciência. Segundo ele, esse fator é tido como “utopia de interesses”, ou seja, coloca a ciência como melhor explicação da real condição da sociedade. Conforme pudemos observar, a tecnocracia, ou seja, a decisão de manter apenas uma vertente entre ciência, tecnologia e sociedade não é neutra, pois age sobre interesses políticos. O movimento ciência e tecnologia, ainda nos anos 60 e 70, foi duramente criticado por promover, além do já exposto, problemas ambientais, além da aplicação da tecnologia bélica, como, por exemplo, nas guerras mundiais. Foi a partir das décadas de 60 e 70 que o movimento de neutralidade da dupla ciência e tecnologia perdeu força e a sociedade passou a exercer seu papel de analisar criticamente a parceria entre as duas frentes e participar das discussões técnico-científicas propostas pelo, agora, grupo (ANGOTTI; AUTH, 2001 e AULER; BAZZO, 2001). A partir desse movimento, outras frentes foram incorporadas às discussões sobre o que seria conhecimento científico e tecnológico, bem como suas evoluções. Como fora visto, mais precisamente após a II Guerra Mundial, a parceria entre ciência e tecnologia passou por profundas mudanças, principalmente por começar a levar em conta o bem- estar social. O primeiro avanço foi no sentindo de considerar o desenvolvimento tecnológico um dos impulsionadores do progresso. A ciência, de certa maneira, também passou por mudanças, ganhando a cada período maior importância. Passemos, agora, a analisar algumas reações entre a parceria da ciência, da tecnologia e da sociedade, que se deu após essas grandes adequações e modificações. 6 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE (CTS) – INTERPRETAÇÕES SOBRE A NOVA FORMAÇÃO Sob a nova ótica de formação, agora com o criticismo social, ciência e tecnologia passam a ter uma conotação diferente e menos isolada. Para isso, convido-o para analisarmos, juntos, duas interpretações, baseadas nos filósofos Wiebe Bijker e Milton Santos. UNIDADE 2 TÓPICO 1 101 T Ó P I C O S E S P E C I A I S 6.1 CTS SOB NOVAS ÓTICAS Ao debater o tema CTS, procuramostrazer para a conversa a contribuição dos seguintes pesquisadores: Wiebe Bijker e Milton Santos. Wiebe Bijker (1951- ) é um construtivista social que trabalhou visando estabelecer novas bases teóricas e metodológicas entre a CTS. O elo para esta nova parceria seria a sociedade e, no momento em que assume este ponto de vista, começa a trabalhar com o também construtivista social Trevor Pinch. Ambos envolvidos na divulgação de documentos que debatem o relacionamento entre ciência e tecnologia, e destacando a importância da essência social (BENAKOUCHE, 2005). Outro pesquisador que traremos para a discussão é Milton Santos (1926-2001), um geógrafo brasileiro que, por sua vez, tratou das questões relacionadas à CTS sob a ótica da informação. 6.2 CTS SOB A ÓTICA DE MILTON SANTOS Milton Santos traz à luz a discussão do meio ambiente e sua relação com CTS. Aborda questões como o espaço e a sucessão de relacionamento entre o homem e a natureza, bem como, a da organização humana. Desta forma, faz uma interessante análise sobre a divisão do espaço geográfico. Para entender melhor, trazemos um trecho do texto “A natureza do espaço”, que trata sobre as considerações do autor sobre meio natural, meio técnico e meio técnico-científico-informacional. O meio natural Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza aquelas suas partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da vida, valorizando, diferentemente, segundo os lugares e as culturas, essas condições naturais que constituíam a base material da existência do grupo. Esse meio natural generalizado era utilizado pelo homem sem grandes transformações. As técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas da natureza, com a qual se relacionavam sem outra mediação. O que alguns consideram como período pré-técnico exclui uma definição restritiva. As transformações impostas às coisas naturais já eram técnicas, entre as quais a domesticação de plantas e animais aparece como um momento marcante: o homem mudando a Natureza, impondo-lhe leis. A isso também se chama técnica. UNIDADE 2TÓPICO 1102 T Ó P I C O S E S P E C I A I S Nesse período, os sistemas técnicos não tinham existência autônoma. [...]. A harmonia socioespacial assim estabelecida era, desse modo, respeitosa da natureza herdada, no processo de criação de uma nova natureza. Produzindo-a, a sociedade territorial produzia, também, uma série de comportamentos, cuja razão é a preservação e a continuidade do meio de vida. Exemplo disso são, entre outros, o pousio, a rotação de terras, a agricultura itinerante, que constituem, ao mesmo tempo, regras sociais e regras territoriais, tendentes a conciliar o uso e a “conservação” da natureza: para que ela possa ser outra vez utilizada. Esses sistemas técnicos sem objetos técnicos não eram, pois, agressivos, pelo fato de serem indissolúveis em relação à Natureza que, em sua operação, ajudavam a reconstituir. O meio técnico O período técnico vê a emergência do espaço mecanizado. Os objetos que formam o meio não são, apenas, objetos culturais; eles são culturais e técnicos ao mesmo tempo. Quanto ao espaço, o componente material é crescentemente formado do “natural” e do “artificial”. Mas, o número e a qualidade de artefatos variam. As áreas, os espaços, as regiões, os países passam a se distinguir em função da extensão e da densidade da substituição, neles, dos objetos naturais e dos objetos culturais, por objetos técnicos. Os objetos técnicos, maquínicos, juntam à razão natural sua própria razão, uma lógica instrumental que desafia as lógicas naturais, criando, nos lugares atingidos, mistos ou híbridos conflitivos. Os objetos técnicos e o espaço maquinizado são lócus de ações “superiores”, graças à sua superposição triunfante às forças naturais. Tais ações são, também, consideradas superiores pela crença de que ao homem atribuem novos poderes, o maior é a prerrogativa de enfrentar a Natureza, natural ou já socializada, vinda do período anterior, com instrumentos que já não são prolongamento do seu corpo, mas que representam prolongamentos do território, verdadeiras próteses. Utilizando novos materiais e transgredindo a distância, o homem começa a fabricar um tempo novo, no trabalho, no intercâmbio, no lar. Os tempos sociais tendem a se superpor e contrapor aos tempos naturais. [...]. O meio técnico-científico-informacional O terceiro período começa praticamente após a Segunda Guerra Mundial, e sua firmação, incluindo os países de terceiro mundo, vai realmente dar-se nos anos 70. É a fase a que R. Richta (1968) chamou de período técnico-científico, e que se distingue dos anteriores pelo fato da profunda interação da ciência e da técnica, a tal ponto que certos autores preferem falar de tecnociência para realçar a inseparabilidade atual dos dois conceitos e das duas práticas. Essa união entre técnica e ciência vai dar-se sob a égide do mercado. E o mercado, graças exatamente à ciência e à técnica, torna-se um mercado global. A ideia de ciência, a ideia de tecnologia e a ideia de mercado global devem ser encaradas conjuntamente, e desse modo podem oferecer uma nova interpretação à questão ecológica, já que as mudanças que ocorrem na natureza também se subordinam a essa lógica. UNIDADE 2 TÓPICO 1 103 T Ó P I C O S E S P E C I A I S Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação. Já hoje, quando nos referimos às manifestações geográficas decorrentes dos novos progressos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio técnico-científico-informacional. Da mesma forma como participam da criação de novos processos vitais e da produção de novas espécies (animais e vegetais), a ciência e a tecnologia, junto com a informação, estão na própria base da produção, da utilização e do funcionamento do espaço e tendem a constituir o seu substrato. [...]. Podemos então falar de uma cientificização e de uma tecnicização da paisagem. Por outro lado, a informação não apenas está presente nas coisas, nos objetos técnicos, que formam o espaço, como ela é necessária à ação realizada sobre essas coisas. A informação é o vetor fundamental do processo social e os territórios são, desse modo, equipados para facilitar a sua circulação. [...]. Os espaços assim requalificados atendem, sobretudo, aos interesses dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da política e são incorporados plenamente às novas correntes mundiais. O meio técnico-científico-informacional é a cara geográfica da globalização. FONTE: Santos (2006, p. 157-161) Após esta leitura, você conseguiu identificar os aspectos importantes da relação entre CTS que Milton Santos aborda? Como você pôde ver, essa questão é analisada na perspectiva de que as relações foram sendo estabelecidas ao longo do tempo e de maneira dialética. O autor destaca questões que merecem ser reanalisadas, como: a necessidade de determinar as características do mundo atual (como modernidade, pós-modernidade e globalização), assim como a história das relações entre CTS. Outro ponto que merece ser revisitado são as relações entre CTS em uma lógica de mercado, ou seja, buscar reflexões sobre o sistema produtivo como um todo. 6.3 CTS SOB A ÓTICA DE WIEBE BIJKER Um dos principais incentivadores do movimento construtivista social foi Wiebe Bijker. Para entendermos melhor suas ideias e ideais, gostaria de compartilhar um pequeno trecho do artigo “Tecnologia é Sociedade: contra a noção de impacto tecnológico”, de Benakouche (1999), que aborda os principaisvieses deste pesquisador. UNIDADE 2TÓPICO 1104 T Ó P I C O S E S P E C I A I S Sustentando que os vários elementos envolvidos no processo de inovação tecnológica constituem uma teia contínua (“seamless web”), Bijker pretende dar conta dessa realidade através da elaboração de uma teoria que: a) explique tanto a mudança quanto a estabilidade das técnicas; b) seja simétrica, ou seja, possa ser aplicada tanto às técnicas que dão certo como às que falham; c) considere tanto as estratégias inovadoras dos atores como o caráter limitador das estruturas; e, finalmente d) evite distinções a priori entre o social, o técnico, o político ou o econômico. Diante de tal agenda, propõe o uso de alguns conceitos básicos e operacionais, postos inclusive à prova nos vários estudos de caso que realizou, dentre os quais se destacam os de grupos sociais relevantes, estrutura tecnológica (“technological frame”), flexibilidade interpretativa (“interpretative flexibility”) e estabilização ou fechamento (“closure”). Os “grupos sociais relevantes” são aqueles mais diretamente relacionados ao planejamento, desenvolvimento e difusão de um artefato dado; na verdade, seria na interação entre os diferentes membros desses grupos que os artefatos são constituídos. Nesse processo, os atores não agem aleatoriamente, mas segundo padrões específicos, isto é, agem a partir das “estruturas tecnológicas” às quais estão ligados; esta noção – central, neste quadro analítico-descritivo – é ampla o suficiente para incluir teorias, conceitos, estratégias, objetivos ou práticas utilizados na resolução de problemas ou mesmo nas decisões sobre usos, pois não se aplica apenas a grupos profissionais especializados, mas a diferentes tipos de grupos sociais. Segundo Bijker, existiriam diferentes graus de inclusão nessas estruturas, isto é, de envolvimento. Na medida em que os grupos atribuem diferentes significados a um mesmo artefato, sua construção supõe um exercício de negociações entre esses mesmos grupos, onde o uso da retórica é um recurso poderoso, ou seja, é objeto de uma “flexibilidade interpretativa”. Quando esta atividade de ajustes se estabiliza e um significado é fixado ou aceito, diz-se que o artefato atingiu o estágio de “fechamento”. É justamente a prática da flexibilidade interpretativa que retira dos artefatos sua obturacidade; é ela que explica porque os mesmos não têm uma identidade ou propriedades intrínsecas, as quais seriam responsáveis por seu sucesso ou o seu fracasso, seus “impactos” positivos ou negativos. Em outras palavras, o não reconhecimento da importância desse processo é que leva à crença equivocada do determinismo da técnica. Assim é que tudo, numa tecnologia dada, do seu planejamento a seu uso, estaria sujeito a variáveis sociais, e portanto, estaria aberto à análise sociológica. No entanto, pode-se perguntar: ao se adotar essa perspectiva não se corre o risco de se cair num reducionismo social? Não, respondem os pesquisadores identificados com a mesma. O reconhecimento da existência de estruturas tecnológicas evitaria esse risco: na medida em que as mesmas influenciam a ação dos diferentes grupos sociais relevantes, essas estruturas seriam justamente as pontes que ligam tecnologia e sociedade, levando à constituição de conjuntos sociotécnicos (BIJKER, 1995). FONTE: Benakouche (1999, p. 11-13) UNIDADE 2 TÓPICO 1 105 T Ó P I C O S E S P E C I A I S Após esta leitura, você pode traçar os principais pontos elencados pelo autor? Se você citou a questão da importância de debater as ações do trio CTS em conjunto, com o enfoque nas ações sociais, você fez uma excelente leitura. Wiebe Bijker foi um dos grandes defensores da participação da sociedade nas discussões relacionadas à ciência, e como consequência, demonstra em todos os seus discursos o repúdio à parceria entre sociedade e tecnologia. A partir das colocações proporcionadas pelos dois autores é possível elencar pontos que merecem ser revistos, como, por exemplo, a forma com que as comunicações de massa são disponibilizadas e utilizadas pela sociedade, assim como a importância da tecnologia no cotidiano e a dependência tecnológica. 7 CARACTERIZANDO O MUNDO ATUAL Ao caracterizar o mundo atual, faz-se necessário observar três vertentes singulares: modernidade, pós-modernidade e globalização. É importante analisar esses três pontos para que se possa avançar nos estudos sobre CTS. Vamos lá? QUADRO 8 - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS CONCEITOS DE MODERNIDADE, PÓS- MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO FONTE: Adaptado de David Harvey (2003) UNIDADE 2TÓPICO 1106 T Ó P I C O S E S P E C I A I S O que vem a ser a modernidade? Para muitos, o conceito de modernidade refere-se a ideias bastante controversas, compreendendo desde pequenas práticas a formas de perceber, conceber e viver o mundo. Para melhor situá-lo, relembramos três grandes eventos: Revolução Industrial, Revolução Francesa e Revolução Científica. A pós-modernidade ainda é complexa e a ideia não é amplamente aceita por todos os cientistas e pensadores. As dúvidas e diferenças surgiram em torno de 1970 e 1990, mas ainda assim pode-se verificar duas linhas de discursos, quando o termo é pós-modernidade: a da continuidade e a do rompimento. Agora, quando o assunto é globalização, o termo é mais conhecido, tendo em vista que é assunto atual e amplamente divulgado e trabalhado na mídia. Como todo conceito, este também apresenta seus prós e contras, pois está fortemente ligado à maneira como foi apreendida pela sociedade. O marco inicial da globalização é fracamente indicado, como no período da Revolução Tecnocientífica, porém, viu-se nesse uma importante ferramenta de longo alcance, com ligações para diferentes partes do mundo. A globalização está amparada, principalmente, nos avanços tecnológicos, assim como nas relações sociais e econômicas, no mercado da conectividade e da virtualidade. A compressão da globalização, conhecida como compressão tempo-espaço, é abordada como sendo a responsável por alterar a forma de comunicação entre as pessoas, como a telefonia móvel. (HARVEY, 2003). Porém, como tudo tem seu outro lado, assim também é na globalização, podendo proporcionar tanto a inclusão como a desigualdade social. Uma importante observação precisa ser feita sobre esse ponto: deve-se cuidar para que os avanços tecnológicos não venham a causar o determinismo tecnológico, o que ocasionaria o mesmo pensamento de que a ciência e a tecnologia são neutras. Nesse momento, o que se deve buscar é usar a tecnologia como ferramenta e não como base. UNIDADE 2 TÓPICO 1 107 T Ó P I C O S E S P E C I A I S RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você viu que: • A ciência, como forma de explicar a realidade, apresenta as seguintes características: linguagem própria; conhecimento acumulável, registrável e refutável; e articulação entre procedimentos metodológicos e fundamentos epistemológicos. • A tecnologia, como sinônimo de técnica, nos permite pensar das tecnologias mais simples até as mais avançadas, como roupa, ferramentas e celulares; e, quando falamos em tecnocracia, podemos entender como ideologização da técnica. • A sociedade pode ser analisada e interpretada de diversas formas e são vários os autores que apresentam algum parecer sobre o tema sociedade. • A ciência e a tecnologia apresentam um modelo de crescimento e evolução linear. • O movimento que engloba ciência, tecnologia e sociedade está baseado em uma visão mais crítica sobre a parceria entre ciência e tecnologia, o que permitiu inserir outros pontos para debate das questões sociais, políticas, culturais e econômicas acerca da ciência e das tecnologias. • Há váriasinterpretações acerca das relações CTS, e as de Milton Santos e Wiebe Bijker são duas delas. • Os conceitos de modernidade, pós-modernidade e globalização são importantes para a discussão acerca de ciência, tecnologia e sociedade, mas apresentam concepções e interpretações bastante controversas. UNIDADE 2TÓPICO 1108 T Ó P I C O S E S P E C I A I S AUT OAT IVID ADE � 1 Leia a charge a seguir: FONTE: Disponível em: <http://www2.uol.com.br/laerte/tiras/>. Acesso em: maio 2015. A análise da charge nos remete ao fenômeno da insegurança no emprego, vivido, nos dias atuais, por muitas pessoas. Esta insegurança também está atrelada ao desenvolvimento de novas tecnologias, o que, por sua vez, tornou-se mais evidente nos últimos anos. Com base nos efeitos nocivos, é correto afirmar que: a) Produz sensação de apreensão quanto à continuidade futura de um cargo e/ou de um papel dentro do ambiente de trabalho. b) O maior aumento da insegurança no trabalho ocorreu em meados dos anos de 1990, entre os trabalhadores que exercem atividades manuais. c) Trata-se de um fenômeno recente causado por profundas alterações no contexto do mercado de trabalho. d) Os estudos apontam que a insegurança no emprego é restrita ao ambiente de trabalho, não afetando a saúde e a vida pessoal dos empregados. 2 Com referência à comunicação de massa, identifique a opção correta. a) A comunicação de massa engendra um tipo de comunicabilidade do “entre nós”, que se reporta aos telespectadores, ouvintes e aos brasileiros, em geral, gerando a ilusão de pertencerem a uma comunidade. b) A comunicação de massa caracteriza-se pela divisão entre a figura do emissor e a do receptor autorizado e pela negligência do monopólio comunicativo e do cerceamento de práticas populares. c) A comunicação de massa fundamenta-se na premissa de que tudo pode ser mostrado e dito, não estabelecendo critérios sobre quem pode dizer e quem pode ouvir. UNIDADE 2 TÓPICO 1 109 T Ó P I C O S E S P E C I A I S d) O receptor autorizado tem um espaço da fala para opinar e contradizer, não sendo necessário que suas funções sejam definidas na estrutura do campo comunicativo. e) Na comunicação de massa, o espaço social sui generis é transformado em um espaço social heterogêneo, em que emissor e receptor têm papéis bem definidos. UNIDADE 2TÓPICO 1110 T Ó P I C O S E S P E C I A I S T Ó P I C O S E S P E C I A I S TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 2 Caro acadêmico, ao falarmos das tecnologias da informação e comunicação como fator determinante no advento da sociedade da informação, estamos a falar das transformações resultantes do processo da globalização de mercados e dos avanços do uso dos processos tecnológicos na vida cotidiana dos indivíduos. Desse mosaico de transformações exercidas pelos meios tecnológicos na vida cotidiana dos indivíduos emerge o conceito de sociedade da informação. Sob este prisma, o que iremos apresentar nas próximas páginas busca assinalar as tecnologias da informação e comunicação como fator determinante no advento da sociedade da informação. Portanto, esperamos que este tópico possa contribuir, de certa forma, para inseri-lo no debate sobre a sociedade da informação e que sirva de uma ferramenta que possa expandir o seu horizonte pensante. 2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) COMO FATOR DETERMINANTE NO ADVENTO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO Nos últimos anos do século XX, o mundo vem adquirindo uma nova configuração, fundamentada nas tecnologias da informação e da comunicação. A sociedade pós-industrial vem sofrendo modificações de forma acelerada, reestruturando o capitalismo, na medida em que todas as economias do planeta passam a interdepender umas das outras, em escala global. Diante disto, observa-se que as grandes organizações mundiais passam por um processo de descentralização e interconexão das empresas, exemplos desse processo são: o aumento do capital frente ao trabalho, com o declínio do sindicalismo e crescente desemprego e a incorporação massiva da mulher no mundo do trabalho. UNIDADE 2 UNIDADE 2TÓPICO 2112 T Ó P I C O S E S P E C I A I S FIGURA 14 – SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://webquests.edufor.pt/webquest/soporte_horizontal_w.php?id_ actividad=2826&id_pagina=1>. Acesso em: maio 2015. Com o crescente aumento do uso das Tecnologias da Informação e de Comunicação nos diversos setores da atividade humana, bem como a sua integração às facilidades das telecomunicações, tornou-se evidente a possibilidade de ampliar cada vez mais tanto o acesso à informação, bem como o desenvolvimento de novos meios que proporcionassem de forma rápida sua distribuição no campo das pesquisas científicas. As atividades tradicionais, como a leitura, a escrita, o correio, o comércio, a publicidade ou o ensino, em atividades realizadas em ambientes virtuais, passam agora a ser capturadas por estes novos dispositivos tecnológicos de informática, cada vez mais avançados. Este processo, que teve a sua origem no fim dos anos 60 e início dos anos 70, não foi, por si só, responsável pela nova forma de organização social. Centrado na ideia de informação e comunicação, o uso das TIC resultou da interação de três processos independentes: revolução da tecnologia da informação; da economia (crise econômica do capitalismo e do estatismo e a consequente reestruturação de ambos); e apogeu de movimentos sociais e culturais, tais como a afirmação das liberdades individuais, dos direitos humanos, do feminismo e do ambientalismo (CASTELLS, 2001). Na escala societária, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) constituíam um limiar sobre o qual se sucediam os acontecimentos políticos, militares ou científicos, tornando- se desta forma uma expressão de competição global, cuja lógica encontrava-se inserida dentro UNIDADE 2 TÓPICO 2 113 T Ó P I C O S E S P E C I A I S de uma economia informacional/global; e uma nova cultura, a cultura da virtualidade real, onde a sociedade e a cultura estão subjacentes à ação e às instituições sociais em um mundo interdependente. A interação entre esses processos e as reações por eles desencadeadas fez surgir uma nova estrutura social dominante, a sociedade em rede. Na época atual, as chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) constituem ferramentas indispensáveis no processo de fortalecimento e integração das nações na nova cadeia global. Segundo Castells (2001), este processo foi de extrema importância, pois seu papel conferiu uma dinâmica e formação de redes das diversas esferas da atividade humana. Esta nova lógica preponderante de redes, sobre a qual a nova sociedade se assenta, transformou todos os domínios de vida social e econômica. Por intermédio da tecnologia, redes de capital, de trabalho, de informação e de mercados conectaram funções, pessoas e locais valiosos ao redor do mundo, ao mesmo tempo em que desconectaram as populações e territórios despro- vidos de valor e interesse para a dinâmica do capitalismo global. Seguiram-se exclusão social e não pertinência econômica de segmentos de sociedades, de áreas urbanas, de regiões e de países inteiros, constituindo o que chamo de ‘o Quarto Mundo’. A tentativa desesperada de alguns desses grupos sociais e territórios para conectar-se à economia global e escapar da marginalidade levou a uma situação que chamo de ‘a conexão perversa’, quando o crime organizado em todo o mundo tirou vantagem de sua condição para promover o desenvolvimento da economia do crime global. O objetivo é satisfazer o desejo proibido e fornecer mercadorias ilegaisà contínua demanda de sociedades e indivíduos abastados. (CASTELLS, 1999, p. 411). A fim de compreender o surgimento das novas formas de organização social por conta das tecnologias informacionais, devemos observar os resultados dessa “revolução tecnológica na estrutura social”, a saber: • informação e conhecimento estão profundamente inseridos na cultura das sociedades; • as novas tecnologias da informação agregam processos de produção, distribuição e direção, permitindo diferentes tipos de atividades interligadas de acordo com o modo organizativo que se ajusta melhor à estratégia da empresa ou à história da instituição. Três conceitos surgem dessa transformação fundamental do modo em que o sistema de produção opera e, juntos, formam as bases atuais da nova economia e forçarão a redefinição da estrutura ocupacional, além do sistema de classes da nova sociedade: articulações entre as atividades; redes que configuram as organizações; e fluxos de fatores de produção e de mercadorias; flexibilidade e adaptabilidade são necessidades fundamentais para a direção de organizações, pois complexidade e incerteza são características essenciais do novo meio ambiente organizacional; • as novas tecnologias de comunicação têm um impacto direto sobre os meios de comunicação e sobre a formação de imagens, representações e opinião pública em suas sociedades, resultando em uma tensão crescente entre globalização e individualização no universo dos audiovisuais; • as fontes de poder na sociedade e entre as sociedades são alteradas pelo caráter estratégico das tecnologias e da informação na produtividade da economia e na eficácia UNIDADE 2TÓPICO 2114 T Ó P I C O S E S P E C I A I S das instituições sociais. A habilidade de promover a mudança tecnológica está relacionada diretamente com a habilidade de uma sociedade para difundir e intercambiar informações e relacioná-las com o restante do mundo. 3 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TIC Desde os primórdios da humanidade, o homem sempre sentiu a necessidade de se comunicar com os outros homens. As novas tecnologias vêm efetuando mudanças sociais drásticas nos diversos segmentos da sociedade. As chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) têm se apresentado como um fator decisivo na nova organização social, sem precedentes na história. O próprio capitalismo passa por um processo de profunda restauração, carac- terizado por maior flexibilidade de gerenciamento; descentralização das empre- sas e sua organização em redes tanto internamente quanto em suas relações com outras empresas; considerável fortalecimento do papel do capital vis-à-vis o trabalho, com o declínio concomitante da influência dos movimentos de tra- balho; incorporação maciça das mulheres na força de trabalho remunerada, geralmente em condições discriminatórias; intervenção estatal para desregular os mercados de forma seletiva e desfazer o estado do bem-estar social com diferentes intensidades e orientações, dependendo da natureza das forças e instituições políticas de cada sociedade; aumento da concorrência econômica global em um contexto de progressiva diferenciação dos cenários geográficos e culturais para acumulação e a gestão de capital. (CASTELLS, 1999, p. 21) Primeiramente, para melhor compreender o conceito de Tecnologias da Informação e Comunicação - TIC e o seu papel nas sociedades atuais, de forma a dar uma “robustez” mais ampla às nossas reflexões, faremos um pequeno aporte histórico sobre o conceito de tecnologia em Manuel Castells. Neste sentido, segundo afirma o autor (1999, p. 24): Para dar os primeiros passos nessa direção, devemos levar a tecnologia a sério, utilizando-a como ponto de partida desta investigação; devemos localizar esse processo de transformação tecnológica revolucionária no contexto social em que ele ocorre e pelo qual está sendo moldado; e devemos lembrar que a busca pela identidade é tão poderosa quanto a transformação econômica e tecnológica no registro da nova história. O termo tecnologia provém do verbo grego tictein, que significa "técnica, arte, ofício" juntamente com o sufixo "logia", que significa "estudo", portanto, o conhecimento prático que almeja alcançar um determinado fim concreto. O Dicionário de Sociologia, de Alan Johnson (1997), indica a palavra “tecnologia” como o repositório acumulado de conhecimento cultural sobre ambientes físicos e seus recursos materiais, com vistas a satisfazer desejos e vontades. Contudo, segundo afirma Johnson UNIDADE 2 TÓPICO 2 115 T Ó P I C O S E S P E C I A I S (1997), tecnologia não pode ser confundida com a ciência, na medida em que ela consiste de conhecimentos práticos sobre como usar recursos materiais, ao passo que a ciência consiste de conhecimento abstrato e teorias sobre como o processo do conhecimento se constrói. Na sociedade industrial, o conceito de tecnologia esteve associado à forma de produto, passando, portanto, a não mais designar a forma de produção, ou seja, concentra-se nos produtos, nos processos, nos equipamentos e nas operações. Assim, na visão de Masi (1999), esta lógica, onde a tecnologia torna-se uma ferramenta indispensável nas relações de produção, obrigou o mundo da produção industrial a sofrer grandes mudanças, tanto no processo de regulamentação da empresa, como na organização do trabalho, de forma a responder aos imperativos que a própria tecnologia trouxe para o aperfeiçoamento das condições de vida do homem. Nesse sentido, para Masi (1999, p. 158), as principais transformações provocadas por esses imperativos são as seguintes: • Um intervalo de tempo mais longo exigido pelo processo produtivo para levar até o fim a realização de um produto. • Um aumento da necessidade de capital para a produção. • Maior especialização e definição de funções, operações, processos e mate- riais, com uma consequente rigidez que impede conversões de uma operação para outra. • Maior necessidade de mão de obra especializada. •Maior exigência de organização de todas as atividades especializadas envolvidas, o que resulta na posterior exigência de outros especialistas: os especialistas em organizações. • A necessidade de planejamento, em face do tempo e dos capitais empregados, da rigidez dos processos, das exigências organizacionais e da instabilidade do mercado em relação aos sistemas industriais que utilizam tecnologias avançadas. Já no século XX, a tecnologia passa a ser descrita como um campo do conhecimento que, além de usar o método científico, cria e/ou transforma processos materiais. Assim, segundo Masi (1999), a tecnologia passa a ser o motor do desenvolvimento da sociedade, elevando o padrão de vida de uma determinada sociedade, reduzindo desta forma as desigualdades. Neste sentido, na visão de Masi (1999, p. 159), a tecnologia passa a ser: uma nova forma de racionalidade funcional que modifica os modelos educa- cionais, ‘os sistemas de especulação, tradição e razão’; revolucionando os transportes e as comunicações, cria novos tipos de relações sociais (onde, por exemplo, as relações de parentesco são substituídas por ligações de trabalho e profissionais) e de interdependência econômica. A tecnologia, enfim, modifica a percepção (também estética, como testemunham as novas tendências das artes figurativas) do espaço e do tempo. Na visão de Castells (2001, p. 49), a tecnologia corresponde: (ao) uso de conhecimento científico para especificar as vias de se fazer as coisas de uma maneira reproduzível. Entre as tecnologias da informação incluo, como todo o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifusão, e optoe- UNIDADE 2TÓPICO 2116 T Ó P I C O S E S P E C I A I Sletrônica. Além disso, diferentemente de alguns analistas, também incluo nos domínios da tecnologia da informação a engenharia genética e seu crescente conjunto de desenvolvimento e aplicações. Com base nessa citação, torna-se claro que a tecnologia não determina a sociedade, nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica. Portanto, para Castells (2001), a tecnologia e a sociedade são categorias interdependentes, na medida em que a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas “ferramentas tecnológicas”. Neste sentido, para Castells (2001), a tecnologia é uma condicionante, e não determinante, da sociedade. Por conseguinte, a relação entre tecnologia e sociedade está marcada pela presença do papel do Estado, podendo estimular ou constranger ambientes de inovação tecnológica, organizando as forças sociais dominantes em determinado tempo e espaço. Em grande medida, o grau de tecnologia existente numa sociedade é a representação de sua capacidade coletiva de controle sobre o meio político, isto é, de determinação sobre o formato das instituições, ou seja, do próprio Estado, no sentido de que este permita o melhor desenvolvimento das iniciativas e o uso das tecnologias a favor dos indivíduos. Desta feita, “o processo histórico em que esse desenvolvimento de forças produtivas ocorre assinala as características da tecnologia e seus entrelaçamentos com as relações sociais” (CASTELLS, 2001, p. 31). Sob esta ótica, a tecnologia não pode ser vista como uma “ferramenta” que busca resolver problemas imediatos que se apresentam numa determinada sociedade, mas sim como um meio integrante e compatível com a sociedade em que está inserida. Para o sociólogo espanhol, Manuel Castells Oliván, o suposto dilema do determinismo tecnológico é falso. Portanto, não se trata de perguntar se a tecnologia determina comportamentos na sociedade ou se a sociedade é quem controla a tecnologia. Como diz Castells (2001, p. 25), “a tecnologia é a sociedade e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas”. Isso não impede de admitir que no começo é uma parte da sociedade que dá o start, para depois os outros se apropriarem das inovações. Foi o que aconteceu nos EUA, quando um setor específico da sociedade introduziu essas novas formas de produção, comunicação, gerenciamento e vida (CASTELLS, 2001). Nessa medida, tanto a informação como o conhecimento criam um novo sistema baseado num complexo integrado de rede global de interação, onde a produtividade e a competitividade das suas unidades dependem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada no conhecimento. Sem dúvida, informação e conhecimento sempre foram elementos cruciais no crescimento da economia, e a evolução da tecnologia determinou em grande parte a capacidade produtiva da sociedade e os padrões de vida, bem como formas sociais de organização econômica [...]. A emergência de um novo pa- radigma tecnológico organizado em torno de novas tecnologias da informação, mais flexíveis e poderosas, possibilita que a própria informação se torne o produto do processo produtivo. Sendo mais preciso: os produtos das novas indústrias de tecnologia da informação são dispositivos de processamento UNIDADE 2 TÓPICO 2 117 T Ó P I C O S E S P E C I A I S da informação. Ao transformarem os processos de processamento da infor- mação, as novas tecnologias da informação agem sobre todos os domínios da atividade humana e possibilitam o estabelecimento de conexões infinitas entre diferentes domínios, assim como entre os elementos e agentes de tais atividades (CASTELLS, 2001, p. 88). Assim, para Castells (2001), o que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralização do conhecimento e da aplicação, senão o uso da informação para a gestão de todo o processamento da informação e gerenciamento, num processo de retroalimentação eterno, promovendo a passagem de três estágios das novas tecnologias de telecomunicações nas últimas décadas, quais sejam: a automação das tarefas, as experiências de usos e a reconfiguração das aplicações. “Nos dois primeiros estágios, os avanços tecnológicos se caracterizam pelo learn by using, isto é, pelo aprender usando. No último, são os usuários que aprenderam a tecnologia fazendo o que acabou resultando na configuração das redes e na descoberta de novas aplicações” (CASTELLS, 2001, p. 51). Desta feita, seria incorreto falar de uma Sociedade Informacional, implicando uma inadequada “homogeneidade das formas sociais” em qualquer lugar do globo sob o novo sistema. Não se trata de reduzir os povos da Terra ao novo paradigma informacional. Mas, segundo o pensador espanhol, poderíamos falar de uma sociedade informacional assim como falamos da “sociedade urbano-industrial, cujas características são bem definidas e algumas de suas principais estão difundidas mundialmente” (CASTELLS, 1999, p. 38). UNIDADE 2TÓPICO 2118 T Ó P I C O S E S P E C I A I S RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você viu que: • As novas tecnologias da informação e comunicação têm um impacto direto na vida social dos indivíduos. ● Os novos dispositivos de informação constituem verdadeiras fontes de poder nas sociedades, e são alterados de acordo com o caráter estratégico da produtividade da economia e na eficácia das instituições sociais. ● O termo tecnologia provém do verbo grego tictein, que significa criar, produzir, significando, portanto, o conhecimento prático que almeja alcançar um determinado fim concreto. ● O que caracteriza a renovação tecnológica não é a centralidade do conhecimento e nem da informação. ● Tecnologia não pode ser confundida com ciência, na medida em que ela consiste de conhecimentos práticos sobre como usar recursos materiais, ao passo que a ciência consiste de conhecimento abstrato e teorias sobre como o processo do conhecimento se constrói. ● A expressão Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC refere-se ao conjunto de recursos tecnológicos capazes de produzir e disseminar informações, ou seja, ferramentas que permitem arquivar e manipular informações em forma de textos, imagens e sons, permitindo, desta forma, que nos comuniquemos uns com os outros. ● São cinco os elementos que caracterizam o novo paradigma das tecnologias da informação e comunicação. UNIDADE 2 TÓPICO 2 119 T Ó P I C O S E S P E C I A I S AUT OAT IVID ADE � 1 (ENADE, 2011) Exclusão digital é um conceito que diz respeito às extensas camadas sociais que ficaram à margem do fenômeno da sociedade da informação e da extensão das redes digitais. O problema da exclusão digital se apresenta como um dos maiores desafios dos dias de hoje, com implicações diretas e indiretas sobre os mais variados aspectos da sociedade contemporânea. Nessa nova sociedade, o conhecimento é essencial para aumentar a produtividade e a competição global. É fundamental para a invenção, para a inovação e para a geração de riqueza. As tecnologias de informação e comunicação (TICs) proveem uma fundação para a construção e aplicação do conhecimento nos setores públicos e privados. É nesse contexto que se aplica o termo exclusão digital, referente à falta de acesso às vantagens e aos benefícios trazidos por essas novas tecnologias, por motivos sociais, econômicos, políticos ou culturais. Considerando as ideias do texto acima, avalie as afirmações a seguir. I- Um mapeamento da exclusão digital no Brasil permite aos gestores de políticas públicas escolherem o público-alvo de possíveis ações de inclusão digital. II- O uso das TICs pode cumprir um papel social, ao prover informações àqueles que tiveram esse direito negado ou negligenciado e,portanto, permitir maiores graus de mobilidade social e econômica. III- O direito à informação diferencia-se dos direitos sociais, uma vez que esses estão focados nas relações entre os indivíduos e, aqueles, na relação entre o indivíduo e o conhecimento. IV- O maior problema de acesso digital no Brasil está na deficitária tecnologia existente em território nacional, muito aquém da disponível na maior parte dos países de primeiro mundo. É correto apenas o que se afirma em: a) ( ) II e IV. b) ( ) I e II. c) ( ) III e IV. d) ( ) I, II e III. e) ( ) I, III e IV. UNIDADE 2TÓPICO 2120 T Ó P I C O S E S P E C I A I S 2 (ENADE 2011) A cibercultura pode ser vista como herdeira legítima (embora distante) do projeto progressista dos filósofos do século XVII. De fato, ela valoriza a participação das pessoas em comunidades de debate e argumentação. Na linha reta das morais da igualdade ela incentiva uma forma de reciprocidade essencial nas relações humanas. Desenvolveu-se a partir de uma prática assídua de trocas de informações e conhecimentos, coisa que os filósofos do Iluminismo viam como principal motor do progresso. [...] A cibercultura não seria pós-moderna, mas estaria inserida perfeitamente na continuidade dos ideais revolucionários e republicanos de liberdade, igualdade e fraternidade. A diferença é apenas que, na cibercultura, esses “valores” se encarnam em dispositivos técnicos concretos. Na era das mídias eletrônicas, a igualdade se concretiza na possibilidade de cada um transmitir a todos; a liberdade toma forma nos softwares de codificação e no acesso a múltiplas comunidades virtuais, atravessando fronteiras, enquanto a fraternidade, finalmente, se traduz em interconexão mundial. O desenvolvimento de redes de relacionamento por meio de computadores e a expansão da internet abriram novas perspectivas para a cultura, a comunicação e a educação. De acordo com as ideias do texto acima, a cibercultura: a) Representa uma modalidade de cultura pós-moderna de liberdade de comunicação e ação. b) Constituiu negação dos valores progressistas defendidos pelos filósofos do Iluminismo. c) Banalizou a ciência ao disseminar o conhecimento nas redes sociais. d) Valorizou o isolamento dos indivíduos pela produção de softwares de codificação. e) Incorpora valores do Iluminismo ao favorecer o compartilhamento de informações e conhecimentos. T Ó P I C O S E S P E C I A I S AVANÇOS TECNOLÓGICOS 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 3 Caro acadêmico, ao falarmos de avanços tecnológicos se torna importante compreendermos sobre as práticas de inovação, compreender comunidades virtuais e seus impactos e conhecer um pouco das novidades tecnológicas existentes. A tecnologia faz parte do nosso dia a dia e vem se expandindo cada vez mais. Neste tópico queremos apenas trazer algo sobre as novas tecnologias, mas fique antenado nos noticiários, todos os dias temos o lançamento de uma nova tecnologia. 2 TENDÊNCIAS ORGANIZACIONAIS DO SÉCULO XXI Muitas pessoas não conseguem trabalhar sem seu laptop ou smartphone. Além disso, para muitos é impossível imaginar o dia sem o Google ou, para outros, mensagens de texto, WhatsApp ou Facebook para ficar em contato com uma grande rede de colegas. Em apenas uma década a tecnologia mudou muito a forma como trabalhamos e nos comunicamos. E na próxima década, com o aumento da velocidade das conexões da internet, haverá mudanças mais profundas para o trabalho do que qualquer coisa vista até o momento. Todas as informações serão mais fáceis de visualizar e analisar. As empresas enfrentam mudanças mais abrangentes e com maior alcance em suas implicações do que qualquer coisa desde a Revolução Industrial moderna, que ocorreu no início de 1900 (BALTAZAN; PHILLIPS, 2012). Vejamos, a seguir, uma nova tecnologia que já vem sendo utilizada por empresas e pela educação, chama-se: comunidades virtuais. UNIDADE 2 UNIDADE 2TÓPICO 3122 T Ó P I C O S E S P E C I A I S FIGURA 15 – COISAS QUE VAMOS DIZER PARA NOSSOS NETOS FONTE: Baltazan e Phillips (2012) 3 COMUNIDADES VIRTUAIS Você já ouviu falar em comunidade virtual? Também encontramos com o nome de grupo virtual, mas perante a bibliografia vamos trabalhar com comunidade virtual. As comunidades virtuais são redes virtuais de comunicação interativa, organizadas em interesses compartilhados. Se analisarmos o passado, na origem das primeiras civilizações, o ser humano era nômade, vivia de caça, pesca e coleta de produtos na natureza. Com o passar dos anos o ser humano aprendeu a se organizar em grupos, assim nascendo as primeiras comunidades, as quais deram origem às civilizações. Esses grupos humanos definiram formas de expressar valor moral e cultural, de acordo com cada época. Com as novas tecnologias constituíram-se grupos de sujeitos ligados por vínculos não formalizados, com características comuns, formando-se as comunidades virtuais. (MUSSOI; FLORES; BEHAR, 2007). De fato, as comunidades virtuais se constituem de grupos de pessoas interconectadas em busca da inteligência coletiva. Uma comunidade virtual é uma inteligência coletiva em potencial. Um grupo humano se interessa em constituir-se como comunidade virtual para aproximar-se do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais capaz de aprender e inventar. A virtualização ou desterritorialização das comunidades no ciberespaço são condições para haver inteligência coletiva em grande escala. A inteligência coletiva é o terceiro princípio da cibercultura. O ciberespaço é a ferramenta de organização de comunidades de todos os tipos, o melhor uso do ciberespaço pode ser alcançado ao se colocar em sinergia os saberes, as imaginações e as energias espirituais daqueles que estão conectados a ele. A cibercultura é UNIDADE 2 TÓPICO 3 123 T Ó P I C O S E S P E C I A I S a expressão da aspiração de construção de um laço social, fundado sobre a reunião em torno de centros de interesses comuns, no compartilhamento de informações, na cooperação e nos processos de colaboração (MUSSOI; FLORES; BEHAR, 2007). DIC AS! Quer conhecer mais sobre a Cibercultura? Então leia o livro de Pierre Lévy. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999. As comunidades virtuais podem ter diversidade de pessoas, como de assuntos. Para educação, uma comunidade virtual cria uma relação de professor-aluno que dialogam e estabelecem regras juntos. O professor, nesta situação, é o mediador, orientador, instigador do processo. Palloff e Pratt (2004) apresentam técnicas instrucionais centradas no aluno para que o professor tenha sucesso nas interações das comunidades. • Acesso e habilidade: O professor deve utilizar apenas tecnologias que sirvam aos objetivos da aprendizagem; a tecnologia deve ser mantida em um nível simples, para que seja transparente ao aluno; o professor deve se certificar de que o aluno tenha habilidade necessária para usar a tecnologia. • Abertura: Sempre comece a atividade com apresentação; use atividades de aprendizagem que levem em consideração a experiência e a resolução de problemas. • Comunicação: deixe claro ao aluno as diretrizes para a comunicação, incluindo a netetiqueta; exemplifique como realizar uma boa comunicação; estimule a participação; acompanhe os alunos que não participam. • Comprometimento: explique suas expectativas em relação à utilização do tempo; explique a realização de trabalhos, prazos de entrega e meios pelos quais a avaliação será elaborada; crie uma agenda de publicação junto aos alunos; apoie o desenvolvimento de boas habilidades de gerenciamento de tempo. • Colaboração: trabalhe com estudos de caso, trabalhos em pequenos grupos, simulações eutilização do pensamento crítico; faça com que os alunos enviem seus trabalhos para a comunidade, para maior interação com os demais colegas; faça perguntas abertas para estimular a discussão. • Reflexão: coloque regras quanto ao tempo de postagem da mensagem; estimule os alunos a refletir, escrever off-line e depois transcrever para a comunidade; faça perguntas abertas e estimule a reflexão sobre o material utilizado. • Flexibilidade: varie as atividades para atender todos os estilos de aprendizagem e oferecer um interesse adicional; negocie as diretrizes da atividade com os alunos, UNIDADE 2TÓPICO 3124 T Ó P I C O S E S P E C I A I S assim promovendo maior engajamento; use a internet como uma ferramenta e um recurso de ensino e estimule os alunos a buscar referências que possam compartilhar. Analisando ao nosso redor, temos diversas formas de comunidades virtuais, e você deve conhecer muitas delas. Veremos no próximo subtópico essas formas, conhecidas por redes sociais. 3.1 REDES SOCIAIS As redes sociais podem ser vistas como uma tecnologia com menos seguidores para a sua utilização como uma ferramenta de trabalho, mas não deve ser, devido ao número de assinantes desta tecnologia. Esses sites permitem que o usuário faça várias atividades, tais como: postar um perfil, fotos, vídeos, chat, blog, e se conectar com seus pares através de boletins individuais, grupos privados e fóruns. Quais são os aspectos críticos que definem uma tecnologia de rede social? Tradicionalmente, os traços dessas ferramentas incluem a criação de um login no site, que fornece uma página de perfil, onde muitas vezes você pode adicionar fotos e outros conteúdos. Você pode se conectar com outras pessoas que conhece ou pode ter encontrado através deste site, tornando-se o seu "amigo". Este título serve para designar, no site, que duas pessoas estão ligadas de alguma forma. Isto proporciona a capacidade de receber atualizações em suas páginas "de amigos", se comunicar com eles através de e-mail no local/comentários/chat, e criar grupos específicos no site em torno de temas ou conteúdo. A seguir veremos algumas novidades tecnológicas. DIC AS! Alguns sites que você deve acessar para ficar dentro das atualidades tecnológicas: <http://www.cienciahoje.pt/3445> <http://olhardigital.uol.com.br/home> <http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia> UNIDADE 2 TÓPICO 3 125 T Ó P I C O S E S P E C I A I S RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você viu: • Algumas tendências para as empresas perante as tecnologias. • O que são comunidades virtuais e para que servem. • E o que são redes sociais. UNIDADE 2TÓPICO 3126 T Ó P I C O S E S P E C I A I S AUT OAT IVID ADE � 1 (ENADE, 2014) O trecho da música “Nos bailes da vida”, de Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”, é antigo, e a música, de tão tocada, acabou por se tornar um estereótipo de tocadores de violões e de roda de amigos em Visconde de Mauá, nos anos de 1970. Em tempos digitais, porém, ela ficou mais atual do que nunca. É fácil entender o porquê: antigamente, quando a informação se concentrava em centro de exposição, veículos de comunicação, editoras, museus e gravadoras, era preciso passar por uma série de curadores, para garantir a publicação de um artigo ou livro, a gravação de um disco ou a produção de uma exposição. O mesmo funil, que poderia ser injusto e deixar grandes talentos de fora, simplesmente porque não tinham acesso às ferramentas, às pessoas ou às fontes de informação, também servia como filtro de qualidade. Tocar violão ou encenar uma peça de teatro em um grande auditório costumava ter um peso muito maior do que fazê-lo em um bar, um centro cultural ou uma calçada. Nas raras ocasiões em que esse valor se invertia, era justamente porque, para uso do espaço “alternativo”, havia mecanismos de seleção tão ou mais rígidos que o espaço oficial. A partir do texto acima, avalie as asserções a seguir e a relação entre elas. I- O processo de evolução tecnológica da atualidade democratiza a produção e a divulgação de obras artísticas, reduzindo a importância que os centros de exposição tinham nos anos de 1970. PORQUE II- As novas tecnologias possibilitam que artistas sejam independentes, montem seus próprios ambientes de produção e disponibilizem seus trabalhos, de forma simples, para um grande número de pessoas. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são proposições falsas. UNIDADE 2 TÓPICO 3 127 T Ó P I C O S E S P E C I A I S 2 (ENADE, 2013) Uma revista lançou a seguinte pergunta em um editorial: “Você pagaria um ladrão para invadir sua casa?”. As pessoas mais espertas diriam provavelmente que não, mas companhias inteligentes de tecnologia estão, cada vez mais, dizendo que sim. Empresas como a Google oferecem recompensas para hackers que consigam encontrar maneiras de entrar em seus softwares. Essas companhias frequentemente pagam milhares de dólares pela descoberta de apenas um bug, o suficiente para que a caça a bugs possa fornecer uma renda significativa. As empresas envolvidas dizem que os programas de recompensa tornam seus produtos mais seguros. “Nós recebemos mais relatos de bugs, o que significa que temos mais correções, o que significa uma melhor experiência para nossos usuários”, afirmou o gerente de programa de segurança de uma empresa. Mas os programas não estão livres de controvérsias. Algumas empresas acreditam que as recompensas devem apenas ser usadas para pegar cibercriminosos, não para encorajar as pessoas a encontrar as falhas. E também há a questão de double-dipping, a possibilidade de um hacker receber um prêmio por ter achado a vulnerabilidade e, então, vender a informação sobre o mesmo bug para compradores maliciosos. Considerando o texto acima, infere-se que: a) Os caçadores de falhas testam os softwares, checam os sistemas e previnem os erros antes que eles aconteçam e, depois, revelam as falhas a compradores criminosos. b) Os caçadores de falhas agem de acordo com princípios éticos consagrados no mundo empresarial, decorrentes do estímulo à livre concorrência comercial. c) A maneira como as empresas de tecnologia lidam com a prevenção contra ataques dos cibercriminosos é uma estratégia muito bem-sucedida. d) O uso das tecnologias digitais de informação e das respectivas ferramentas dinamiza os processos de comunicação entre os usuários de serviços das empresas de tecnologia. e) Os usuários de serviços de empresas de tecnologia são beneficiários diretos dos trabalhos desenvolvidos pelos caçadores de falhas contratados e premiados pelas empresas. UNIDADE 2TÓPICO 3128 T Ó P I C O S E S P E C I A I S T Ó P I C O S E S P E C I A I S GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 4 Os elementos que compõem o repertório da civilização ocidental em termos de instituições, códigos jurídicos, leis, estatutos reguladores e pacificadores, por muito tempo encontraram-se centrados em favorecer o poder político e os sistemas econômicos, os quais, no momento presente, encontram-se em situação de crise e mal-estar dos indivíduos, e a alternativa diante deste cenário tem sido a retomada das formas de viver e fazer, dos costumes, valores, relações e vínculos deinterdependência e reciprocidade no interior das comunidades. Vivemos em um momento de crises e impasses, isso encontra-se diretamente relacionado com as matrizes e modelos teóricos que legitimavam o crescimento econômico equilibrado (crença no mercado autorregulado), o modelo de organização política (Estado neoliberal), o sistema monetário internacional (baseado no padrão-ouro) e o equilíbrio de poder na geopolítica internacional (hegemonia norte-americana e europeia). Sem sombra de dúvidas, representamos uma civilização centrada no otimismo do progresso e do trabalho capitalista, e cada vez mais é reconhecida a afirmação do individualismo. À medida que avança o processo de conquista da propriedade e da individualização dos sujeitos, faz-se necessário cada vez mais constituir normas e um conjunto de outros valores éticos, sociais e de regulamentação que garantam equidade e paz nas relações dos indivíduos. Bem, você deve estar se perguntando: como chegamos a este estado de coisas?! Ao longo dos próximos dois subtópicos procuramos apresentar elementos para que se compreenda o processo político, social e histórico deste quadro. UNIDADE 2 UNIDADE 2TÓPICO 4130 T Ó P I C O S E S P E C I A I S 2 GLOBALIZAÇÃO: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA Trata-se de um fenômeno de organização e circulação política, econômica, comercial e cultural, que foi praticado pelas mais diversas sociedades e desde os mais antigos mercadores (fenícios) da antiguidade, que se organizavam em caravanas por terra e expedições de navegadores por mares e oceanos. FIGURA 16 - GLOBALIZAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://queconceito.com.br/wpcontent/uploads/ Globaliza%C3%A7%C3%A3o.jpg>. Acesso em: 7 jun. 2015. Alguns autores situam o fenômeno no final do século XV e ao longo do século XVI, quando se dá início às grandes navegações que partiam do continente europeu em direção a regiões como a América, África, Oceania e Ásia. A globalização também é apresentada como sendo resultante das concepções e direitos/deveres que existiam no interior da Revolução Francesa e da Revolução Industrial inglesa do século XVIII, ao desenvolvimento do capitalismo em escala mundial, bem como uma continuidade da lógica civilizacional que tem sido designada por modernidade (concentração da população nas cidades, industrialização da produção, racionalização do pensamento, laicidade UNIDADE 2 TÓPICO 4 131 T Ó P I C O S E S P E C I A I S do Estado) que se acentuará ao longo do século XIX. As possibilidades de atuação da economia, em favor dos interesses de mercado, foram potencializadas pelo espírito capitalista, que estava amparado na livre circulação de mercadorias das doutrinas do “deixe ir, deixe vir e tudo se autorregulará”. Esta fórmula e lei foram responsáveis por conferir ao sistema financeiro a dinâmica da “oferta e da procura” de produtos, a transitoriedade e a flutuação de preços, de lucros e de taxas de impostos, que por sua vez atribuiu ampla independência, liberdade nas relações comerciais e na prestação de serviços. O mercado preocupou-se também em perceber o potencial de consumo/mercado, passando a intercambiar produtos entre as regiões que não eram capazes de produzi-los. A esta prática pode-se exemplificar com os produtos ingleses e franceses, que eram negociados com produtos e as populações dos países indianos, americanos, africanos. Resumidamente, o mercado atendia às demandas de economia (comércio, circulação e consumo de produtos); o Estado, por sua vez, atendia a necessidades de serviços junto à população (serviços educacionais, infraestrutura, habitação, saúde e lazer). A globalização, que se apresenta ao nosso momento histórico, ganhou ênfase no final dos anos de 1980, quando foi reconhecido o fim do cenário da Guerra Fria, com as experiências da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e foi desfeito o muro de Berlim que separava a Alemanha Oriental (comunista/socialista) da Alemanha Ocidental (capitalista). Ocorreu também a formação da OMC: Organização Mundial do Comércio (que conta com a adesão de mais de 150 países) e os blocos econômicos da UNIÃO EUROPEIA, NAFTA, MERCOSUL, APEC, ASEAN, entre outros. Na América Latina estruturou-se a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), órgão para pensar o desenvolvimento econômico, social e sustentável. Esta articulação de países indica um forte movimento de regionalização das relações econômicas e políticas, assim como das relações sociais e culturais entre os mesmos, e por sua vez, dos conceitos de fronteira, espaço, nação, Estado, entre outros. Ianni (1994) foi categórico quando refletiu que a fábrica global é tanto metáfora quanto realidade, altamente determinada pelas exigências da reprodução ampliada do capital. No âmbito da globalização, os interesses de mercado revelam-se ávidos por processos que sejam capazes de promover cada vez mais a concentração e centralização do capital, para tanto articulam em torno de si empresas, mercados, forças produtivas, centros decisórios, alianças, estratégias e planejamentos de corporações, que se estendem e ultrapassam províncias, nações e continentes, ilhas e arquipélagos, mares e oceanos. (IANNI, 1994). Os Estados, em vez de desaparecer, adquirem uma nova lógica de operação, onde UNIDADE 2TÓPICO 4132 T Ó P I C O S E S P E C I A I S seu poder é limitado frente à expansão das forças transnacionais que reduzem a capacidade dos governos de controlar os contatos entre as sociedades e os indivíduos, por sua vez são forçados a impulsionar as relações transfronteiriças. Nessa perspectiva, os problemas políticos nem sempre são resolvidos de forma adequada e satisfatoriamente, então, eis que se faz necessário buscar a cooperação com outras nações e agentes não estatais a fim de atender tais demandas (KEOHANE; NYE, 1989). 2.1 O TERCEIRO SETOR O terceiro setor ganhou espaço de constituição e atuação a partir dos anos de 1990. E instalou-se como alternativa em meio ao setor industrial (primeiro setor) e o poder público/ estatal (segundo setor), no sentido de intermediar, gerenciar e prestar serviços de interesse público em situações e contextos que os dois outros setores não atingem/alcançam. Por meio desta formulação e composição de setores, cria-se um vácuo de poder e ação que favorece a constituição de organizações coletividades internacionais e transnacionais, governamentais e não governamentais, que se propõem a apresentar decisões políticas e ações sociais. O terceiro setor constitui uma espécie de sociedade civil de caráter jurídico. Os órgãos que compõem o terceiro setor podem ser sociedades, associações, fundações, institutos, ONGs (Organismos Não Governamentais), OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). As ONGs que compõem uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos ou econômicos, encontram-se pautadas nas normas e legislações da Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Federal. Estas associações recebem doações de empresas e pessoas físicas que procuram deduzir impostos que devem ser pagos ao governo federal, para tanto precisam atuar em atividades que se caracterizam como: entidades de interesse público, como fundos de direitos da criança e do adolescente; instituições de ensino e pesquisa; e atividades culturais e audiovisuais. Entre as críticas que são feitas a esta modalidade, encontram-se as situações em que se caracterizam espaços que favorecem a atuação de grupos que se utilizam de verbas públicas em nome de grupos privilegiados. 3 GLOBALIZAÇÃO: UM BALANÇO A globalização pode apresentar sua face mais bem-sucedida, que reside no fato de UNIDADE
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