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DIREITO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

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DIREITO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
Prof. Rogério Rocco�
2010
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO AO DIREITO
2.1- Apresentação do Direito de forma crítica, suas funções e características
2.2- A rigidez do Direito escrito e sua crise frente à realidade dinâmica
2.3- Divisão formal do Direito
2.4- Divisão formal do conteúdo das normas
2.5- Hierarquia das normas
3 – PRINCÍPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO E DE DIREITO AMBIENTAL
4- O MEIO AMBIENTE
4.1 – Conceito
4.2 – Crítica à expressão
4.3 – Aspectos do meio ambiente
 4.3.1 – Meio ambiente artificial
 4.3.2 – Meio ambiente cultural
 4.3.3 – Meio ambiente natural
5- O DIREITO AMBIENTAL
5.1 – Evolução e conceito do direito ambiental
5.2 – Autonomia
5.3 - Fontes
6- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
7- A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE
8- A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
9 - PATRIMÔNIO AMBIENTAL E DEGRADAÇÃO:
9.1- Ar
9.2 – Água
9.3 – Solo
9.4 – Fauna
9.5- Flora
10 – ÁREAS PROTEGIDAS
10.1 – Criação de espaços territoriais especialmente protegidos
10.2- Espécies de espaços ambientais
Sistema Nacional de Unidades de Conservação
Tombamento
11 – LICENCIAMENTO AMBIENTAL
11.1 - O Licenciamento Ambiental
11.2 - Estudo de Impacto Ambiental - EIA
11.3 - Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente – RIMA
11.4 - Fases do procedimento licenciatório
12 - RESPONSABILIDADE POR DANO AMBIENTAL
12.1 – Dano ecológico
12.2 – Responsabilidade Ambiental
12.3 – Poder de polícia ambiental
12.4 – Responsabilidade Administrativa
12.5 – Responsabilidade Criminal
12.6 – Responsabilidade Civil
13- A DIVERSIDADE BIOLÓGICA NO ORDENAMENTO JURÍDICO:
13.1 – Tratamento jurídico do uso da biodiversidade pela apropriação de conhecimento tradicional: CDB e MP 2186/01
14- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- APRESENTAÇÃO
As leis e normas que tratam do meio ambiente não são novidade no Brasil. Desde a época do Império elas já vêm sendo editadas. Em 1602 foi regulamentada a pesca da baleia. Três anos depois, eram estabelecidas condições para a exploração do pau-brasil. Até a Proclamação da República ainda foram editadas diversas normas, como a que proibia o corte de árvores de mangue (1760) e a que declarava como propriedade da Coroa Portuguesa a vegetação marginal ao mar e aos rios que desembocavam no mar.
Já sob o regime republicano, normas envolvendo questões ambientais começam a surgir no Código Civil Brasileiro (1916) que, entretanto, encarna um conceito ilimitado da propriedade privada. Com a Constituição de 1934, surgem os três primeiros códigos ecológicos: o Código das Águas, o Florestal e o de Mineração. Em 1940, o então novo Código Penal também incorpora a aplicação de penas a condutas lesivas ao meio ambiente, mas ainda sob a ótica da saúde pública.
Sem a menor sombra de dúvida, da segunda metade do século XX até os dias atuais, o surgimento de novas leis ambientais vem ocorrendo de forma crescente. 
Porém, é com a aprovação da Lei n. 6.938/81 – que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente -, que surge a fundamentação do Direito Ambiental no Brasil. Afinal, é nesta lei que é instituído o SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente, no âmbito do qual é criado o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente e são legitimados os entes federados que possuem competência para atuar com a questão ambiental, na forma e composição das recentes Comissões Tripartites. Com o advento da Constituição de 1988, que dedicou atenção especial à matéria, o meio ambiente foi alçado ao status de norma constitucional. Imediatamente na seqüência, outras normas começam a ser discutidas e aprovadas nos três níveis administrativos, como resultado das inúmeras inovações trazidas pela nova Carta Magna.
2- INTRODUÇÃO AO DIREITO
2.1- Apresentação do Direito de forma crítica, suas funções e características
O direito é matéria que surge para reger normas de convivência em sociedade. Ou seja, a partir do momento em que o ser humano sente a necessidade de estabelecer limites para o “outro”, ele cria as normas de conduta para que os interesses de um não impeçam ou embaracem os objetivos do outro.
Nesse aspecto, o direito expressa-se de forma exclusivamente privada, na relação de um e outro, de interesses particulares. Assim é construída a concepção de propriedade privada, que provavelmente aparece no momento em que a primeira pessoa fez um círculo de pedras e determinou que aquela área seria de seu domínio e estabeleceu alguma forma de punição para quem não a respeitasse.
Com o desenvolvimento das civilizações, novas demandas e necessidades vão aparecendo, exigindo o estabelecimento de normas de caráter público. O estabelecimento de estruturas de poder, de mecanismos de decisão coletivo ou representativo, começa a aparecer e a caracterizar uma nova cara para o direito, que é moldado para absorver essa nova realidade.
Desta forma, fortalecendo a formação da sociedade sob as óticas da propriedade e do Estado, surge o cidadão oprimido, que existe apenas para legitimar os poderes econômicos e políticos hegemônicos. Começa, então, a construção dos direitos humanos, nas perspectivas individual e coletiva, que se afiguram para equilibrar as relações entre as grandes corporações – Capital e Estado – e o indivíduo.
O direito não é representado apenas na forma da lei. Isto é, o direito não aparece somente quando uma lei o estabelece. Aliás, a lei é uma das fontes do direito e não o contrário. Há, ainda, outras fontes que inspiram sua existência objetiva, que são o costume, a jurisprudência, os princípios gerais do direito, a analogia e a doutrina.
O costume no direito, também chamado Direito Consuetudinário, pode ser definido como o conjunto de regras sociais que vão compondo a cultura de determinada sociedade e que não significam necessariamente regras jurídicas. Um exemplo bastante ilustrativo pode ser utilizado nos jogos de futebol no Maracanã: lá a ocupação da arquibancada pelas torcidas obedece à prévia definição, conforme os times que venham a jogar. A torcida do Flamengo, por exemplo, sempre ocupa o lado esquerdo das tribunas, e isso não está definido em lei alguma. Ainda assim, não adiantará a torcida adversária chegar antes ao estádio para ocupar aquela área, pois a própria polícia não permitirá. O costume formou o direito.
A jurisprudência faz o direito a partir do momento em que determinada lide (conflito de interesses) recebe tratamento isonômico nas decisões dos tribunais. Isto é, forma-se jurisprudência quando tribunais distintos repetem decisões em matérias idênticas ou semelhantes.
Os princípios gerais do direito, como o nome já define, são princípios que devem ser seguidos sempre que se persiga a aplicação do direito. São normalmente encontradas na Constituição, dada suas magnitudes.
A analogia é a utilização excepcional de regra semelhante, em outro ramo do direito ou em outro texto legal, quando determinada conduta não possui regulação específica. 
E, finalmente, a doutrina é formada pelas interpretações que juristas fazem das normas do direito quanto à sua execução no caso concreto e que podem ser encontradas nos livros jurídicos.
2.2- A rigidez do Direito escrito e sua crise frente à realidade dinâmica
Sem dúvida que o Direito escrito traz vantagens e talvez a principal delas seja a segurança que oferece a todos, pois, se está escrito, está à disposição de todos que queiram consultá-lo. Um outro lembrete é o de que ninguém pode alegar em sua defesa desconhecimento da lei. Já pensou alguém alegar inocência num crime de homicídio, dizendo que não sabia da lei!!! Mas voltemos ao tema “Direito Escrito”. O grande problema é que a realidade é muito mais dinâmica, muito mais criativa que qualquer legislador. Por mais que o legislador, que faz as leis (noCongresso Nacional, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais), tente abranger e prever todas as situações da vida, ela sempre nos trará algo novo.
Uma forma de amenizarmos essa crise é através do julgador (Juiz), que pode fazer uso de outras formas de julgamento, tendo inclusive respaldo legal para fazê-lo, conforme artigo 4º da Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro:
“Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.”
2.3- Divisão formal do Direito 
O critério de distinção entre direito público e privado assenta no “interesse”: quando o fato jurídico interessar à coletividade, a toda a sociedade, estaremos diante de algo tratado na esfera do direito público. Quando o interesse for do indivíduo, do particular, trata-se de direito privado. Se um indivíduo resolve na rua dar tiros para o alto, isso será de interesse de todos (público), cabendo ao Estado (público) promover uma ação e tomar as demais providências legais necessárias, baseado no Código Penal e demais leis penais pertinentes. Se alguém não pagou o aluguel, ou resolve se separar, essa é uma discussão a ser resolvida entre os interessados diretos, e não por toda a sociedade – portanto de direito privado, cabendo ao particular promover a ação.
O Direito Civil é o direito privado porque compõe o conjunto de normas que disciplinam as relações entre os indivíduos, ou entes jurídicos em igualdade de condições, em suas relações recíprocas de família ou patrimoniais. Exemplos: separação, herança, contratos de compra e venda, seguro, etc.
O Direito Comercial trata do comércio que figura entre as mais antigas instituições humanas. Estimula o desenvolvimento dos grupos sociais, satisfaz necessidades e desejos diferentes. A sua forma rudimentar de simples troca local cedeu lugar à necessidade de penetração e contato entre povos diversos. Nas grandes navegações o comércio era uma atividade muito arriscada, exigia audácia, recursos excepcionais e meios de defesa, sendo, portanto uma atividade restrita aos ricos da época. A moeda deu às operações comerciais um caráter impessoal nos negócios, exigindo mais do que simpatia para negociar, exigindo, portanto, regras claras e seguras para os negociantes. O conhecimento de embarque, o embargo de navios, a letra de câmbio, a nota promissória, a falência, etc. são títulos e assuntos tratados no âmbito do Direito Comercial.
Define-se Direito Administrativo como o sistema de princípios jurídicos que regulam a atividade específica do Estado para a realização dos seus fins. Neles estão dispostas as normas que regulam a função administrativa do Estado, a organização do trabalho e competência dos servidores públicos em geral. Já o Direito Constitucional fornece as bases da organização do governo e sua população quanto aos direitos e deveres mais gerais. A Constituição é a Lei Maior. É a mais importante quando se trata de hierarquia das normas. Nenhum outro ordenamento jurídico pode contrariar um preceito constitucional.
Direito penal ou criminal é o conjunto de normas destinadas à punição de crimes como: homicídio, agressão, difamação, sedução, etc. Quanto às penas, o Direito Civil difere basicamente do Penal, da seguinte forma:
Civil – através da indenização pecuniária (dinheiro);
Penal – através da privação da liberdade (prisão), da restrição de direitos e/ou multa criminal;
2.4- Divisão formal do conteúdo das normas
As normas são divididas em artigos, que são numerados seqüencialmente com algarismos arábicos. Diz-se artigo primeiro (1º), segundo (2º), ... até o nono (9º - ordinal). A partir daí, diz-se artigo dez (10), onze (11), doze (12 – cardinal),... até o último artigo. Os artigos podem ser subdivididos em parágrafos (§), que são dispositivos secundários. Pode haver subdivisões em incisos, que são representados em algarismos romanos (I, II, III, IV, ...), e, ainda, subdivisões em alíneas (a, b, c, d, ...).
2.5- Hierarquia das Normas	
O ordenamento jurídico requer uma hierarquia para o seu bom funcionamento e entendimento, afinal, havendo conflitos e contradições entre diferentes textos legais, alguém tem que falar mais alto. Quem nunca ouviu a expressão: - Esta lei é inconstitucional!! Nenhuma norma jurídica (leis, decretos, portarias, etc.) pode contrariar a Constituição Federal, que é a Carta Magna do ordenamento jurídico. Entre lei, decreto e portaria também existe hierarquia. A lei que advém do Poder Legislativo tem valor maior que um decreto que advém do Poder Executivo, emanado pelo Chefe de Estado - o Presidente da República. Por último, a portaria – que é um ato administrativo de qualquer autoridade pública, contendo instruções acerca de aplicação de lei ou regulamento, recomendações de caráter geral, normas de execução de serviço, nomeações, demissões, etc. 
Em se tratando de meio ambiente, não podemos deixar de mencionar as Resoluções do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, que possuem caráter normativo, visto que estabelecem padrões ambientais com valor de lei para todo o território nacional. Podemos citar como exemplo o estabelecimento do padrão de balneabilidade das praias ou a exigência de realização do Estudo e do Relatório de Impacto Ambiental, que foram medidas instituídas por Resolução CONAMA.
HIERARQUIA DAS NORMAS:
Constituição Federal
Leis Ordinárias e Complementares
Medidas Provisórias
Decretos
Resoluções CONAMA
Portarias
A República Federativa do Brasil é dividida em entes federativos (União, Estados e Municípios) que detém alguma autonomia, respeitada, por exemplo, a hierarquia quanto à competência legislativa. Uma lei federal, elaborada no Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), tem supremacia sobre uma lei estadual, elaborada na Assembléia Legislativa que, por sua vez, tem supremacia sobre a municipal (Câmara dos Vereadores).
 
É importante lembrar que uma lei só é revogada por outra lei – a lei posterior revoga a anterior.
Cabe a explicação acerca da Medida Provisória. Trata-se de um artifício legal, assegurado pela Constituição Federal, que concede ao Poder Executivo competência para elaborar textos com força de lei. Ou seja, a Medida Provisória, apesar de ser proveniente do Poder Executivo, tem o mesmo valor da lei. Ocorre que, conforme o próprio nome diz, a medida é provisória, tendo um tempo de vigência determinado, só passando a ser indeterminado se for apreciada pelo Congresso Nacional no prazo de trinta dias – quando é transformada em lei. Como na maioria das vezes o Congresso não aprecia a matéria, o governo, quando lhe interessa, reedita a mesma medida provisória por mais trinta dias. 
3 – PRINCÍPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO E DE DIREITO AMBIENTAL
Princípios são os mandamentos básicos e fundamentais nos quais se alicerça uma ciência. São as diretrizes que orientam uma ciência e dão subsídios à aplicação das suas normas. Enfim, “nada mais são do que enunciados que sedimentam e cristalizam valores no ordenamento jurídico”.�
Os princípios são considerados como normas hierarquicamente superiores. Em uma interpretação entre a validade de duas normas, prevalece aquela que está de acordo com os princípios da ciência. 
Apesar de ser uma ciência jurídica nova, o Direito Ambiental já conta com princípios específicos que o diferenciam dos demais ramos do direito. Haja vista o dinamismo e a novidade no que se refere a essa matéria, os doutrinadores apresentam variados princípios, dentre os mais comuns destacam-se: 
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
De acordo com esse princípio é necessária a previsão legal para a ocorrência de um evento, ou seja, a necessidade de suporte legal para obrigar-se a algo. Resumindo: é a obrigatoriedade de obediência às leis (art.5°, II da CRFB).
PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO 
A proteção ambiental é um direito de todos, ao mesmo tempo em que é uma obrigação também de todos (art.225,CF). Isto demonstra a natureza pública deste bem, que leva a sua proteção a obedecer ao princípio de prevalência do interesse da coletividade, ou seja, do interesse público sobre o privado na questão de proteção ambiental. 
PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA PROTEÇÃO AMBIENTAL 
Este princípio está disposto no art.225, caput, da CRFB, que diz que o Poder Público e a coletividade devem assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente sadio e equilibrado. 
PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO
A CRFB imputa ao Poder Público e também ao cidadão o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Para o exercício desse dever-direito o cidadão necessita de instrumentos de participação, tais como: audiência pública para avaliação de impactos ambientais de um empreendimento; consulta pública para a criação de uma unidade de conservação; conselhos com representações governamentais e da sociedade civil, a exemplo do CONAMA e do FNMA; etc.
“As questões ambientais, pela sua natureza, extensão e gravidade, colocam-se como tema da macrodemocracia (consulta popular ambiental como se deu na Itália Suécia em relação à política nuclear) e da microdemocracia (participação popular e social, sobretudo das chamadas organizações não-governamentais, em audiências públicas e em ações coletivas ambientais)”.�
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
Conforme define José Adércio Leite Sampaio “a prevenção é a forma de antecipar-se aos processos de degradação ambiental, mediante adoção de políticas de gerenciamento e de proteção dos recursos naturais”.�
A Declaração de Estocolmo, em seu princípio 6, prevê expressamente a existência de tal princípio ao dispor que “o despejo de substâncias tóxicas ou de outras substâncias e de liberação de calor em quantidades ou concentrações que excedam a capacidade do meio ambiente de absorve-las sem danos, deve ser interrompido com vistas a impedir prejuízo sério e irreversível aos ecossistemas”.
PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO 
Esse princípio baseia-se no fundamento da dificuldade e/ou impossibilidade de reparação do dano ambiental. A declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (ECO´92), em seu princípio 15, dispõe que “de modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com as suas necessidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. 
PRINCÍPIO DA EQUIDADE INTERGERACIONAL
Segundo esse princípio “as presentes gerações não podem deixar para as futuras gerações uma herança de déficits ambientais ou do estoque de recursos e benefícios inferiores aos que receberam das gerações passadas”.�
PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AVALIAÇÃO PRÉVIA EM OBRAS POTENCIALMENTE DANOSAS AO MEIO AMBIENTE 
A obrigatoriedade da avaliação prévia dos danos ambientais em obras potencialmente danosas está disciplina no artigo 225, §1º, IV da CRFB. De acordo com esse dispositivo será exigido o Estudo de Impacto Ambiental e o seu respectivo relatório (EIA/ RIMA) toda vez que houver potencial risco ao meio ambiente. 
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE 
O Estudo de Impacto Ambiental e os seus respectivos relatórios (EIA/ RIMA) têm caráter público já que tratam de assuntos de relevante interesse e que compõe um bem de todos - o meio ambiente sadio e equilibrado (art.225, CRFB). Por esta razão é necessária a sua ampla divulgação e a possibilidade de análise por todos os interessados, devendo haver ampla publicidade das possíveis alterações do ambiente. A Resolução CONAMA nº 9, de dezembro de 1987, disciplina a audiência pública para análise do RIMA. 
PRINCÍPIO DA REPARABILIDADE DO DANO AMBIENTAL 
O princípio da reparabilidade do dano ambiental pode ser encontrado em vários dispositivos legais, dentre os quais temos a Constituição Federal, art.225, §3º, que dispõe que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. 
O mesmo princípio também pode ser encontrado no art. 4º, VII, da Lei n° 6.938/85, que obriga ao poluidor e ao predador a recuperar e/ou indenizar os danos causados ao meio ambiente. 
PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR 
As autoridades nacionais devem assegurar a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando em conta o critério de que quem contamina deve, em princípio, arcar com os custos da contaminação, levando-se em conta o interesse público e sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais.
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE ECOLÓGICA 
Todo aquele que praticar um crime ambiental estará sujeito a responder pelos possíveis danos causados, independente de culpa, podendo sofrer penas nas áreas administrativa, penal e civil. 
Segundo a definição do art. 225, §3° da CRFB “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções penais e administrativas, independente da obrigação de reparar os danos causados”.
Consideram ainda alguns autores que este princípio guarda similaridades ou até mesmo confunde-se com o chamado princípio do poluidor pagador, que obriga o causador de um dano com os custos de sua reparação ou ressarcimento.
PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 
No art.225, § 1º da CRFB, há a previsão do princípio da educação ambiental ao dispor que compete ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Desta forma, a educação ambiental passou a ser um dos principais princípios norteadores do direito ambiental. 
4- O MEIO AMBIENTE
4.1 – Conceito
Atualmente não há mais de se estabelecer debates quanto ao significado da expressão “meio ambiente”, pois em ocasiões nas quais expuseram-se discordâncias sobre a coerência do termo concluiu-se, enfim, que essa preocupação é restrita à forma, não interferindo em nada em seu conteúdo�. Ressalte-se, entretanto, que na atualidade a referência a meio ambiente não está restrita à natureza e ao ser humano. Pode-se dividir o conceito em três partes: meio ambiente natural, meio ambiente artificial ou construído, e meio ambiente cultural. O primeiro obedece ao entendimento tradicional e já incorporado popularmente, envolvendo os elementos naturais como fauna, flora, ecossistemas e etc. O segundo traz à tona o ambiente formado pela ação humana, as cidades, edificações, utilitários urbanos e toda infra-estrutura construída para o conforto e a qualidade de vida das pessoas e sociedades. E, enfim, o meio ambiente cultural é composto pelos bens, obras e acervos de valor paisagístico, histórico, artístico, turístico, religioso, arqueológico, etnográfico e cultural, os monumentos e as edificações protegidas por lei. 
A Constituição Federal já previra a proteção destes bens, que normalmente estão mais associados à cultura e à política urbana do que ao meio ambiente. Mas cultura, cidade e meio ambiente são temas totalmente associados. A subjetividade capitalista que entende o meio ambiente enquanto um patrimônio a ser apropriado, também age no sentido de apropriar-se das culturas e dos espaços urbanos. As transformações sofridas pela degradação ambiental de uma localidade alteram a cultura daquela comunidade, pois rompem com uma cadeia ecológica e social e influenciam a formação de suas futuras gerações, modificando referências e valores comunitários. A Lei 9.605/98 – Lei dos Crimes Ambientais incorpora este novo conceito e tipifica ações e condutas lesivas ao meio ambiente cultural e construído, cominando-lhes as penas cabíveis. 
Há de ser registrado, entretanto, que a apropriação da ampla conceitualização do termo por grande parte da sociedadeé fato recente, forjado pelas constantes repercussões negativas do modelo de desenvolvimento adotado e implementado nas últimas décadas em quase todo o mundo. Há duas ou três décadas atrás, meio ambiente ainda era percebido enquanto espaços verdes onde existiam espécimes animais belos e raros, que deviam ser protegidos das ações humanas.
A exploração da natureza pelo ser humano sempre ocorreu, pois dela são tirados os meios de sobrevivência da espécie. No Brasil, essa exploração é iniciada desde a chegada dos europeus, que passaram a exportar nossos minérios e nossa madeira, em troca de muita violência e velhas bugigangas. 
Atualmente, o estado do meio ambiente no mundo é extremamente preocupante, pois deixou de ameaçar apenas algumas espécies animais e vegetais, tornando-se uma ameaça à vida das atuais e futuras gerações.
De início, o pensamento ecológico era centrado no modelo do desenvolvimento industrial, que relevava o impacto de suas atividades sobre o meio ambiente, os trabalhadores e as comunidades vizinhas. Mas hoje, não se pode pensar nos problemas ambientais apenas associados ao funcionamento de indústrias. “A aceleração tecnológica, a pressão demográfica, o acentuado processo de urbanização, a crescente exploração dos recursos naturais, entre os quais, os hídricos, e particularmente o crescimento da industrialização e, mais recentemente, a expansão do domínio da energia nuclear levou os ambientalistas a considerarem um aspecto essencial da questão: o social e o “político”�. Neste caminho, a preservação e a conservação dos recursos naturais; a mudança do modelo de desenvolvimento; e a defesa da qualidade de vida passam a ser preocupações de toda a sociedade, deixando de freqüentar apenas os círculos de ecologistas e profissionais especializados.
E, então, a questão ambiental extrapola o sentido estético que a cercava e passa a ser pensada também enquanto uma questão ética, com forte vinculação a valores sociais e humanísticos. Começa a surgir uma cultura pela defesa do meio ambiente em todo o mundo.
Como afirma Arthur Soffiatti�, em comentário divulgado na Lista Ambiente RJ, da Internet, “antes que o Homo sapiens surgisse sobre a face da terra como produto de um longo processo de transformações biológicas casuais, houve crises ambientais bem mais fortes causadas por mudanças climáticas, fenômenos geológicos (vulcanismo e tectonismo) e bombardeios astronômicos. Pelo menos cinco crises ambientais foram mais fortes do que a atual, provocando a extinção de muitas espécies. Uma delas, a do permo-triássico, há 225 milhões de anos, acabou com cerca de 90% das espécies de todos os reinos.”
Portanto, há de refletir-se que as crises ambientais já ocorriam sem a intervenção do ser humano. E, por outro lado, há na história da civilização inúmeros registros de ações humanas que impactaram determinadas regiões. Mas, recorrendo novamente a Soffiatti�, “pela primeira vez na história da Terra, estamos enfrentando uma crise ao mesmo tempo planetária e de origem humana”. Isso nos leva a pensar que somente um processo de transformação profunda de paradigmas pode reverter os rumos da vida no Planeta, reinventando valores sociais com mais justiça e equilíbrio, voltados para a valorização da vida. A hegemonia dos valores da competitividade, do individualismo, do lucro e da acumulação de capital nos trouxe até aqui, mas não tem a equação para assegurar sua própria sustentação no futuro.
4.2 – Crítica à expressão
Meio ambiente, conforme conceitua o art. 3° da Lei n° 6.938/81, é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
A expressão “meio ambiente” quando começou a ser difundida em matérias jurídicas recebeu inúmeras críticas, pois se considerava uma redundância se falar em “meio” e “ambiente” já que os dois possuíam o mesmo significado.
Como bem esclarece Luís Paulo Sirvinskas “o termo meio ambiente é criticado pela doutrina, pois meio é aquilo que está no centro de alguma coisa. Ambiente indica o lugar ou a área onde habitam seres vivos. Assim, na palavra ‘ambiente’ está inserido também o conceito de meio. Cuida-se de um vício de linguagem conhecido como pleonasmo, consistente na repetição de palavras ou de idéias com o mesmo sentido simplesmente para dar ênfase. Em outras palavras, meio ambiente é o lugar onde habitam os seres vivos. É o habitat dos seres vivos. Esses habitat (meio físico) interage com os seres vivos (meio biótico), formando um conjunto harmonioso de condições essenciais para a existência da vida como um todo”.�
Contudo essa discussão já está superada e a despeito de haver ou não repetição de termos, a expressão “meio ambiente” está amplamente difundida, não cabendo grandes digressões sobre o tema.
Numa posição contrária a anterior, José Afonso da Silva, reafirma a legitimidade da expressão, ao afirmar que “o ambiente integra-se, realmente, de um conjunto de elementos naturais e culturais, cuja interação constitui e condiciona o meio em que se vive. Daí por que a expressão ‘meio ambiente’ se manifesta mais rica de sentido (como conexão de valores) do que a simples palavra ‘ambiente’. Esta exprime o conjunto de elementos; aquela expressa o resultado da interação desses elementos. O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda a Natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arqueológico”�.
4.3 – Aspectos do meio ambiente
O meio ambiente não deve ser analisado de forma unilateral, pois para uma completa compreensão de sua importância e inserção nas relações sociais, econômicas e jurídicas é preciso que seja analisado em conjunto os elementos naturais, artificiais e culturais. Juntos eles propiciam um desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas.
4.3.1 – Meio ambiente artificial ou construído
O meio ambiente deve ser visto como algo além do espaço terrestre e humano. Ele é um conjunto de fatores que envolvem elementos naturais, mas também a ambiência do ser humano no espaço em que vive. Essa ambiência é consolidada por meio de aspectos culturais, que representam as características de um povo, e por meio da ocupação gradativa dos espaços naturais pelo homem, que o transforma para adaptar as suas necessidades.
Portanto, o meio ambiente envolve um aspecto natural, outro cultural e outro artificial. Para José Afonso da Silva, o meio ambiente artificial é “constituído pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e dos equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em geral: espaço urbano aberto)”.�
O meio ambiente artificial seria então um contraponto ao meio ambiente natural, já que se utiliza dele para adaptar o ser humano ao ambiente em que deseja viver. Nesse sentido, Édis Milaré chama a atenção para a importância dessas culturas artificiais, “que se concentram evidentemente nas monoculturas ou nos outros cultivos agrícolas, nos variados rebanhos, em granjas e criadouros animais, nas pastagens e nas florestas homogêneas ou industriais; estes recursos em geral são destinados à alimentação e ao suprimento de matérias-primas. É sabido historicamente que essas atividades transformadoras devastaram campos e florestas nativas, dizimaram milhares e milhares de espécies animais e vegetais, deslocaram e adaptaram espécimes de flora e fauna para regiões distantes e ecologicamente diversas. Esses processos, iniciados empiricamente e em escala reduzida, foram acelerados por culturas intensivas, transposições violentas de habitats naturais e por aplicações nem sempre acertadas da Engenharia Genética, como efeitos biológicos e ecológicos surpreendentes que, em muitíssimos casos, tiveram seqüelas incontroláveis (pragas, desequilíbrios domeio, extinção de espécies vivas e outros). Destarte, o artificial avançou sobre o natural, por vezes substituindo-o, e acabou por criar um mundo à parte”.�
Esse mundo à parte nada mais é do que as cidades em que vivemos, que necessitam de saneamento básico, água, transporte, energia, dentre outros fatores que demonstram a importância de uma política de desenvolvimento urbano, e estão em total interação com o meio ambiente natural. O processo de crescimento e acumulação de pessoas em áreas urbanas está em franca expansão em todo o mundo, que já possui 60% de sua população nas cidades. No Brasil, a população urbana já ultrapassa 80% dos brasileiros e, em especial, no bioma Mata Atlântica encontra-se cerca de 70% da população brasileira – o que de certa forma justifica a destruição de mais de 90% de sua cobertura florestal original.
Quanto à legislação, tínhamos normas gerais e especiais sobre a questão urbana de forma pontual, até a aprovação da Lei n. 10.257/01 – que estabeleceu o Estatuto da Cidade, dispondo sobre fundamentos, princípios, diretrizes e instrumentos para a construção da cidade sustentável e que se configura como a mais expressa norma aplicável ao chamado meio ambiente artificial.
4.3.2 – Meio ambiente cultural
O meio ambiente está definido no art. 225 da Constituição Federal, que dispõe dentre outros aspectos sobre o seu caráter social, ao defini-lo como um bem de uso comum do povo. E como tal deve ser observado como o resultado das relações dos seres humanos com o mundo natural no decorrer do tempo.
Portanto, o meio ambiente cultural nada mais é do que uma espécie de meio ambiente ecologicamente equilibrado, incluindo-se nessa definição as relações culturais, históricas, turísticas, arqueológicas, paisagísticas e naturais.
Nas palavras de Édis Milaré “as modernas políticas ambientais consideram relevante ocupar-se do patrimônio cultural, expresso em realizações significativas que caracterizam, de maneira particular, os assentamentos humanos e as paisagens do seu entorno”�.
A definição de patrimônio cultural nacional está disposta no art. 216, incisos I a V da Constituição Federal, segundo a qual “os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”.
Cabe ao Poder público proteger o patrimônio cultural brasileiro por meio de inventários, registros vigilância, tombamento e desapropriação (art. 216, §1° da CRFB). Com essa motivação e fundamentado na doutrina jurídico-ambiental é que foram incluídos na Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/98) os crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (arts. 62 a 65), que passaram a gozar de maior proteção e tutela por parte dos órgãos ambientais.
4.3.3 – Meio ambiente natural
A principal categoria de meio ambiente no ordenamento jurídico é a natural, que pode ser observada pelo disposto no art. 225 da Constituição Federal, assim como em outros capítulos da Carta Magna e em farta relação de leis e demais normas brasileiras. Nela estão dispostos elementos que permitem e perseguem uma qualidade de vida digna para os seres humanos, com o equilíbrio dos chamados “recursos ambientais”, como o ar atmosférico, as águas superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera e a flora, como define o art. 3°, inciso V, da Lei n° 6.938/81.
A qualidade da vida das presentes e futuras gerações depende de uma atividade contínua e ininterrupta das funções essenciais do meio ambiente natural. Sendo que a sua degradação irá se caracterizar toda vez que houver uma alteração adversa das características dos recursos ambientais (art. 3°, II da Lei n° 6.938/81).
Enfim, a poluição decorrente da degradação sofrida por esses elementos poderá ser: atmosférica, hídrica, do solo, sonora ou visual.
5 - O DIREITO AMBIENTAL
5.1 – Evolução e conceito do direito ambiental
O direito ambiental começa a aparecer diante de uma conjuntura desfavorável, espremido entre a urgência de atitudes e a lentidão dos processos de transformação. É um direito em formação porque, apesar da existência anterior de normas relacionadas aos elementos naturais, não havia no Brasil costume, jurisprudência ou outra fonte qualquer que o formasse, assim como não havia legislação tratando da questão ambiental de forma holística e sistêmica – o que foi atendido com a aprovação da Lei n. 6.938/81.
Concebido enquanto direito difuso, que não tem determinação de seu pólo ativo, o direito ambiental aparece relativizando o direito privado. Ele limita o uso da propriedade, condiciona o desenvolvimento e interfere nos meios de produção, ameaçando quebrar a hegemonia do privado sobre o público.
Com o advento da necessidade de realização de Estudo e Relatório de Impacto Ambiental para a instalação de atividades potencialmente poluidoras (Resolução CONAMA n. 01/86) e, mais recentemente, do Estudo e Relatório de Impacto de Vizinhança (Estatuto da Cidade), um direito moderno e transversal vai arejando o sistema jurídico brasileiro. Assim, o direito ambiental traz à tona uma nova valoração legal, que impõe a adequação do uso da propriedade não apenas ao desejo de seu titular, mas também ao bem comum, visando impedir danos à coletividade e ao meio ambiente natural ou construído. É, por esse aspecto, um direito revolucionário.
Principalmente quanto à sua definição conceitual, o direito ambiental traz uma singularidade com relação a outros ramos do direito. Não é essencialmente individual, nem o seu oposto, ou seja, um direito coletivo. Trata-se de um direito difuso, que se caracteriza enquanto um direito sem determinação de seus destinatários, isto é, todos e qualquer um são legítimos para pleitear sua defesa e proteção.
Outra característica peculiar do direito ambiental é sua forma horizontal de relacionamento com os outros ramos do direito. Ou seja, sua aplicabilidade não ocorre de forma isolada, dependendo da concorrência com as áreas constitucional, administrativa, penal, civil, tributária, etc. Por sua transversalidade, ele altera conceitos tradicionais de outras áreas. Como exemplo, temos o estabelecimento da aplicação de responsabilidade penal à pessoa jurídica que tenha dado causa a ações lesivas ao meio ambiente. Essa inovação, trazida no texto constitucional de 1988, foi regulamentada pela Lei 9.605/98 – Lei dos Crimes Ambientais e altera a lógica do direito penal, que foi construído em função exclusiva da pessoa física. Mais um aspecto que vem revolucionar conceitos tradicionais do direito. Nas palavras do ilustre mestre Paulo Affonso Leme Machado, “o acolhimento da responsabilidade penal da pessoa jurídica na Lei 9.605/98 mostra que houve atualizada percepção do papel das empresas no mundo contemporâneo(...) O crime ambiental é principalmente corporativo”�.
Além da interface com a área penal, o direito ambiental interage com o administrativo no licenciamento de uma atividade potencialmente poluidora e na aplicação de multa por infrações ao meio ambiente. Sua vertente com o direito civil ocorre na exigência da reparação dos danos ambientais, e com o direito tributário quando há o recolhimento de taxas e tributos vinculados ao sistema do meio ambiente, ou, por exemplo, quando há incentivos fiscais para a execução de programas e ações voltadas à economia do consumo de elementos naturais. É essa peculiaridade que caracteriza a transversalidade do direito ambiental.
Então, apesar de encontrarmos farto material legal vigorando desde ostempos coloniais no Brasil, isso não bastou para que fosse construído um direito ambiental nacional. Muitas vezes confusas, havia normas que estabeleciam apenas a titularidade e as condições para a exploração de matéria-prima extraída da natureza, em geral no estímulo da atividade exploratória. 
Há autores que identificam períodos característicos do processo de formação da legislação, clareando a perspectiva de que o nascimento do direito ambiental foi muito recente e que ele ainda encontra-se bastante frágil frente às estruturas formais e conservadoras do direito.
Para Antônio Herman Benjamin, “a questão ambiental, no período colonial, imperial e republicano, este até a década de 60 do atual século, juridicamente não existia, caracterizadas as iniciativas pontuais do Poder Público mais como conservação do que propriamente como preservação(...) Tinha na omissão legislativa seu traço preponderante, relegando-se eventuais conflitos de cunho ambiental quando muito ao sabor do tratamento pulverizado, assistemático e privatístico dos direitos de vizinhança”�. Vale lembrar que a referência ao atual século diz respeito ao século XX, ao qual ultrapassamos recentemente.
É importante atentar que Benjamin classifica a evolução histórica da proteção jurídica do ambiente em três fases: a primeira, chamada por ele de fase da exploração desregrada ou do laissez-faire ambiental, descrita acima; a segunda, chamada fase fragmentária, ocorreria entre as décadas de 60 e 70, na qual haveria uma preocupação de caráter pontual com o meio ambiente, mas limitando o ordenamento jurídico “no plano ético, pelo utilitarismo e, no terreno formal, pela fragmentação”�. Estariam listadas como produtos deste período às leis que estabeleceram o novo Código Florestal (1965), os Códigos de Caça, de Pesca e de Mineração, todos de 1967, dentre outras normas. Porém, é a última que chama mais a atenção, denominada fase holística, e que aparece com a aprovação da Lei 6.938/81, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seu sistema e seus instrumentos, assegurando um tratamento global e instrumentalizado para a proteção do meio ambiente em todo o território nacional. Na perspectiva de Benjamin, “só com a Lei 6.938/81, portanto, é que verdadeiramente tem início a proteção ambiental como tal no Brasil, indo o legislador além da tutela dispersa, que caracterizava o modelo fragmentário até então vigente”�.
Assim fica mais fácil visualizar o que passou a denominar-se direito ambiental, diferenciando-o dos períodos anteriores onde até havia preocupações com o meio ambiente, mas que estavam dissociadas de uma estratégia global e articulada para sua proteção.
Há, de fato, uma transformação, ou melhor, uma revolução de conceitos tradicionais do direito no recente aparecimento do direito ambiental, pois algumas sólidas estruturas sociais são relativizadas em razão do bem comum. Aliás, isso ocorre principalmente com o pensamento ecológico, que transversaliza inúmeras demandas da sociedade, que formaram a pauta dos movimentos sociais das décadas de 70 e 80, e apareceriam consolidadas a partir da década de 90. Essa transformação trouxe uma nova peça ao tabuleiro político mundial, que convencionou chamar-se de Organização Não Governamental – ONG e que passou a ocupar lugar privilegiado na definição de políticas públicas.
No Brasil, que sediou a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, onde esse processo foi alavancado, um novo ordenamento jurídico regulamentou o chamado Terceiro Setor�, estabelecendo tratamento diferenciado do primeiro (setor público) e do segundo (privado) setores. Não é, ainda, um regulamento propriamente dimensionado. Mas sua formação indica resultados concretos de processos construídos a partir dos instrumentos criados pela Lei 6.938/81, como a Avaliação de Impacto Ambiental, assim como com a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Aquela prevê a realização de audiências públicas para a avaliação dos impactos de determinados empreendimentos, a pedido de associação legalmente constituída; e este último é formado em seu plenário por representantes dos governos federal, estaduais e municipais, onze representações da sociedade civil, eleitas por seus pares na proporção de duas para cada região geográfica brasileira e uma nacional, dentre outras representações da sociedade e das classes patronais e de trabalhadores na indústria, na agricultura e no comércio. 
Dessa forma, a sociedade civil organizada passou a ocupar espaços antes restritos exclusivamente à classe política e aos empresários, interferindo de duas formas no desenvolvimento nacional: a primeira, por via das audiências públicas e outras intervenções diretas nos processos decisórios da Administração Pública, questionando empreendimentos dos mais variados, que trazem impactos significativos ao meio ambiente e à coletividade; e a segunda, definindo normas e padrões ambientais com força de lei, através de resoluções do CONAMA e outros conselhos existentes nas três instâncias do Poder Executivo.
Por seu caráter transformador e revolucionário, o direito ambiental ainda não foi totalmente absorvido pelas estruturas formais de poder e, por outro lado, sofre constante questionamento por parte daqueles que detém o capital – diga-se o poder econômico. Mas podemos afirmar que o direito ambiental e o pensamento ecológico são a base de sustentação da vida no planeta e ganham um grande impulso com a subjetividade renovadora do início deste novo milênio.
Nas palavras do professor Paulo Affonso Leme Machado, “o direito ambiental é um direito sistematizador, que faz a articulação da legislação, da doutrina e da jurisprudência, concernente aos elementos que integram o ambiente. Procura evitar o isolamento dos temas ambientais e sua abordagem antagônica. Não se trata mais de construir um direito das águas, um direito da atmosfera, um direito do solo, um direito florestal, um direito da fauna ou um direito da biodiversidade. O direito ambiental não ignora o que cada matéria tem de específico, mas busca interligar estes temas com a argamassa da identidade dos instrumentos jurídicos de prevenção e de reparação, de informação, de monitoramento e de participação”.�
5.2 – Autonomia
Acerca desse tema duas são as correntes doutrinárias que vigoram: uma que considera o direito ambiental um ramo autônomo e outro que nega essa possibilidade.
Para defensores do direito ambiental como um ramo autônomo, tal como Luís Paulo Sirvinskas, essa autonomia se caracteriza “pelo fato de possuir seu próprio regime jurídico, objetivos, princípios, sistema nacional de recursos hídricos etc. Contudo, ele não é autônomo em relação aos demais ramos do direito, mesmo porque nenhum deles o são. Há, sim, uma constante simbiose e muitos conceitos são extraídos dos diversos ramos do direito, adaptando-se ao Direito Ambiental”.�
Já para os doutrinadores que negam o direito ambiental como um ramo autônomo, como Toshio Mukai, “o direito ambiental (no estágio atual de sua evolução no Brasil) é um conjunto de normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do Direito, reunidos por sua função instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao seu meio ambiente”.�
5.3 - Fontes
As fontes formais do direito ambiental não se distinguem das aceitas e reconhecidas para o direito de uma forma geral, portanto são fontes desse direito a Constituição Federal, as leis, os atos internacionais firmados pelo Brasil, as normas administrativas originadas dos órgãos competentes e a jurisprudência.
Ressalte-se que a Constituição Federal previu uma série de competências legislativas para os Estados, Distrito Federal e Municípios. Sendo assim, a Constituição definirá um modelo para que cada lei de um ente federativo seja válida em determinada esfera.
Além dessas fontes primárias, o direito ambiental também é amplamente guarnecido pelas fontes subsidiárias, que são a doutrina e o costume.6 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Falar em desenvolvimento sustentável na atualidade virou lugar comum. Podemos encontrar seus defensores nas organizações da sociedade civil – ONGs e movimentos sociais, nos sindicatos, nos parlamentos em todos os níveis e em outros setores do poder público, nas empresas de vários portes, enfim na sociedade de uma forma geral. Isso ocorre em razão do grande espaço que a questão ambiental tem obtido através dos meios de comunicação, assim como nos meios de formação educacional e de cidadania.
Essa situação faz crer que há na sociedade uma consciência sobre a dimensão e a origem dos problemas socioambientais atuais e da necessidade de adoção de um novo modelo de desenvolvimento. Talvez seja precipitado apostar nessa afirmação, pelo menos se não diferenciarmos os distintos modelos de desenvolvimento existentes. Primeiro, porque ainda é limitada a parcela da sociedade que associa as questões ambientais aos assuntos referentes à moradia, ao saneamento e ao transporte, por exemplo. Isto é, a questão ambiental ainda não é popularmente pensada na sua dimensão mais ampla, como as condições favoráveis a um padrão adequado de qualidade de vida. Portanto, ganha popularidade atualmente entre setores da sociedade civil organizada a expressão socioambiental, que procura expressar a simbiose entre as duas questões – social e ambiental. Em segundo, porque também não há clareza sobre o quê significa e qual o novo modelo de desenvolvimento mais adequado. Então, o que há na verdade são projetos que disputam a hegemonia para a construção desse dito novo modelo de desenvolvimento, batizado de desenvolvimento sustentável.�
Na busca da afirmação de uma das linhas definidoras do chamado desenvolvimento sustentável, dois instrumentos jurídicos se destacam: a auditoria ambiental na empresa e o estudo de impacto ambiental.
A auditoria ambiental na empresa pode não ser obrigatória, com o poder de coerção da lei�, mas sim espontânea, onde o empresário procura a qualidade ambiental, buscando a certificação da série ISO 14.000. Neste caso, não há um interesse jurídico em jogo, mas sim um interesse comercial, o atendimento está vinculado a uma norma técnica, uma regra de mercado, e não a uma norma legal. Essa diferença deve estar bem clara.
Quando se fala em não-conformidade, faz-se uma referência à ISO 14.000. Ou seja, ao implementar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) na empresa, deve-se conferir se ele está de acordo com as regras da ISO. Caso contrário, estaremos diante de um SGA falho e devemos partir para a sua correção, mas não corremos o risco de nenhuma sanção (punição) coercitiva (obrigatória), por parte do Estado. Espontaneamente a empresa visa atender a um mercado cada vez mais exigente, ao contrário da lei – que não oferece opção. 
A certificação relacionada à ISO 14.001 é uma iniciativa da empresa que deseja estar inserida dentro de critérios de gestão voltados à segurança ambiental, seja na total adequação de sua atividade às normas ambientais em vigor, assim como na construção de um Sistema de Gestão Ambiental que envolva compromissos para além das normas de caráter público. Isto é, a ISO 14.001 aplica-se a qualquer organização que deseje:
implementar, manter e aprimorar um sistema de gestão ambiental;
assegurar-se de sua conformidade com sua política ambiental definida;
demonstrar tal conformidade a terceiros;
buscar certificação/registro do seu sistema de gestão ambiental por uma organização externa;
realizar uma auto-avaliação e emitir autodeclaração de conformidade com esta Norma.
Uma das exigências para a aquisição da certificação da ISO 14.001 está relacionada ao atendimento dos requisitos legais e outros requisitos existentes. Portanto, a organização deve – dentro de seu SGA – estabelecer e manter procedimento constante de pesquisa para identificação da legislação ambiental e para sua permanente atualização, a fim de manter conformidade com as exigências legais. Havendo, ainda, outros compromissos públicos ou privados firmados pela organização no que se refere à adequação de suas atividades com a conservação e/ou melhoria das condições ambientais de seus entornos, estes também devem estar de acordo com as condições estabelecidas nos compromissos. 
Os requisitos legais estabelecidos em leis, decretos, resoluções e outras normas de caráter público para a conservação do meio ambiente e a recuperação ambiental podem emanar das três instâncias federativas – União, Estados e Municípios. Portanto, a organização que busca a certificação deve ter em vista sua conformidade com as leis ambientais federais, estaduais e municipais. 
Toda atividade que possa alterar aspectos do meio ambiente deve passar pelo licenciamento ambiental, sendo que algumas devem ainda adotar procedimentos relacionados à elaboração do Estudo e do Relatório de Impacto Ambiental – EIA/RIMA, dentre outras exigências. Porém, determinadas atividades podem passar por exigências mais específicas e outras podem submeter-se a processos simplificados de licenciamento. Ou seja, cada organização e cada atividade tem um perfil próprio e deve buscar o conjunto de requisitos legais ao qual estará vinculada, de forma a possuir um banco de dados relacionado ao seu ramo de atividades. Portanto, implementar um SGA e buscar a certificação da ISO 14.001 são decisões que devem ser tomadas pela alta direção da organização, visto que envolvem investimentos financeiros, técnicos e jurídicos na direção de um modelo de produção de qualidade. 
O estudo de impacto ambiental é uma imposição constitucional:
“Art. 225- ...
§ 1º- ...
IV- exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.”
O estudo de impacto ambiental também é tema dos seguintes textos legais:
Lei n.º 6.803/80
Lei n.º 6.938/81
Resolução CONAMA n.º 01/86
Resolução CONAMA n.º 237/97
7- A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O MEIO AMBIENTE
A Constituição Federal de 1988 trouxe inúmeras inovações ao ordenamento jurídico brasileiro. No aspecto da proteção ao meio ambiente, estas inovações são latentes, destacando-se que é a primeira Constituição brasileira a consagrar um capítulo exclusivo ao tema. 
Apesar de ser considerada por alguns doutrinadores como a mais avançada do mundo neste assunto, não foi a primeira a tratar o meio ambiente de forma mais organizada. Outros países já o fizeram alguns anos antes, como Portugal, em 1976, Espanha, em 1978, Equador e Peru, em 1979, dentre outros na década de 80.
A Constituição de 1988 foi chamada de Constituição Cidadã, visto ter consagrado direitos fundamentais da cidadania, assegurando a criação de instrumentos de controle dos atos de Estado e de defesa dos direitos individuais, coletivos e difusos. A sociedade civil organizada mobilizou caravanas de todos os cantos do país, que se deslocavam para Brasília para pressionar os parlamentares constituintes em cada votação que tratasse dos interesses da cidadania e da coletividade, na aprovação da nova Constituição.
Pelo simples fato de conceber um capítulo que trata do meio ambiente de forma equivalente a outros assuntos consagrados por constituições anteriores, como o direito à propriedade, por exemplo, já fez de nossa lei maior um exemplo e um norte a serem perseguidos. Mas vale chamar a atenção para alguns aspectos relevantes.
A nova Constituição elevou o município à categoria de ente da federação e delegou-lhe competências genéricas, como a de “legislar em assuntos de interesse local”�, que garantem ao Poder Público local a prerrogativa de atuar na aprovação de leis e regulamentos relativos à proteção do meio ambiente. No campo das competências, forma-se atualmente um novo ordenamento que possibilita cada vez mais autonomia ao poder local, onde o cidadão exerce mais influência e onde é mais fácil encontrar as soluções para uma vida de qualidadee com equilíbrio.
É claro que isso é a teoria, que muitas vezes se distancia de longe do que ocorre na prática. Ao mesmo tempo em que a descentralização da gestão ambiental traz grandes possibilidades positivas, o despreparo e o descompromisso de dirigentes públicos dos municípios, assim como de seus legisladores, oferecem o risco de um efeito contrário e adverso para o meio ambiente. 
Mas a Constituição também assegurou mais autonomia ao Ministério Público, que ganha reforço na defesa da lei e dos interesses difusos. Por esse motivo, aumenta o poder de fiscalização sobre os atos e as ações de prefeitos, governadores e presidentes, assim como de seus subalternos. 
A Lei nº 6.938/81, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, já havia previsto a competência do Ministério Público em propor a ação civil para a reparação de danos causados ao meio ambiente. Em seguida, a Lei nº 7.347/85, que regula a Ação Civil Pública, ampliou suas competências com a criação do Inquérito Civil Público, possibilitando, ainda, a sua proposição por associação civil, o que não ocorria com a Lei nº 6.938/81. Conforme afirma Leme Machado, “nessa lei de 1981, contudo, não se conseguiu aprovar a legitimação das associações, inobstante tenha sido a idéia aprovada unanimemente no Congresso Nacional, mas vetada pelo Chefe do Poder Executivo.”� 
Já com a Constituição de 1988, o Ministério Público conquista mais autonomia no que se refere à nomeação e exoneração de seu Procurador Geral, à elaboração de sua proposta orçamentária e de proposta de criação e extinção de cargos, além de outros dispositivos que lhe asseguram uma relativa independência, chegando a ser classificado eventualmente de quarto poder.
Outra novidade importante trazida pela Constituição de 1988 encontra-se no capítulo do meio ambiente. E altera conceitos tradicionais vinculados à doutrina penal brasileira. Como já exposto anteriormente, esta inovação sujeita a pessoa jurídica causadora de danos ao meio ambiente ao devido processo penal, aplicando-lhe, se constatada sua responsabilidade, as penas previstas em lei. Antes, apenas a pessoa física estava sujeita à lei penal, dado que a concepção básica da pena era a privação da liberdade. A doutrina majoritária defendia que a pessoa jurídica seria uma ficção jurídica – pois seria meramente uma associação de pessoas físicas, não sendo passível de aplicação de pena criminal, que se destinaria apenas aos seus dirigentes ou responsáveis diretos e indiretos.
Com a modernização da doutrina penal surge, através da norma infraconstitucional, a primeira possibilidade de cominação de pena criminal a empresas poluidoras, incorporando na lei o entendimento que o dano ambiental tem um forte vínculo corporativo. A regulamentação dessa previsão constitucional deu-se dez anos depois da vigência da nova Constituição, quando da sanção da chamada Lei dos Crimes Ambientais – a Lei nº 9.605/98. 
Aliás, é essencial ressaltar que muitos doutrinadores, principalmente da área penal, reprovavam a cominação de penas à pessoa jurídica, pois entendiam que como a pena não pode ultrapassar a pessoa do condenado, segundo princípio geral inscrito na Constituição�, não haveria de ser aplicada pena à sociedade formada pela união de pessoas. Por tratar-se de uma inovação no direito, a aplicação de pena à pessoa jurídica suscita divergências doutrinárias e requer maiores esclarecimentos e manifestações, inclusive dos tribunais superiores. 
Nesses exemplos podemos constatar de forma breve, mas objetiva, a amplitude das inovações consagradas à proteção legal do meio ambiente no Brasil, nos últimos vinte anos. E isso tem um significado muito grande, principalmente porque nossa principal fonte do direito ainda é a lei. Aqui se escreve a gênese do Direito Ambiental nacional, que aos poucos vai ganhando respeito e consideração.
8- A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
A legislação ambiental é a principal fonte do Direito Ambiental. Portanto, dela emanam os diversos fundamentos e regras que o compõem, e é por esse motivo que também se confunde o significado da legislação e do direito que, enfim, são coisas distintas.
Como afirmou Benjamin �, é a partir da aprovação da Lei nº 6.938/81 que se inicia a fase holística da legislação ambiental brasileira, quando o legislador passa a tratar o meio ambiente enquanto um sistema integrado, organizando sua defesa e proteção, definindo padrões e conceitos, entre outras previsões.
A legislação ambiental ganha mais força com a vigência da Constituição de 1988, quando passa a ter valor de norma constitucional, equiparando-se às normas mais antigas e tradicionais do direito nacional e estrangeiro.
Esse processo de formação da legislação ambiental sacramentou posturas inerentes a uma nova ética social, onde o ser humano deixa de ser o centro do universo e onde a natureza não seja um mero patrimônio a serviço dos interesses da humanidade.
A concepção do antropocentrismo, que surgiu enquanto uma evolução do pensamento filosófico, não se desfaz por decreto, nem mesmo por qualquer tipo de normatização legal. Isso fica nítido quando falamos das várias fontes do direito, deixando claro que mesmo sendo sua principal fonte, a lei é apenas uma delas, sendo necessário que o conjunto de fontes se componha para a formação do direito.
Uma nova ética é construída aos poucos, pois requer que outra anterior seja desfeita ou desvalorizada. Mas não é simples assim, principalmente na atualidade, onde a velocidade das informações é muito grande e é determinada por valores individualistas e consumistas. No mundo de hoje, as pessoas são valorizadas pelo que elas têm e não pelo que são. É a hegemonia de uma ética do Ter sobre uma do Ser�.
A legislação ambiental brasileira vem inserindo novas posturas no âmbito do direito nacional, que aos poucos vão alterando a lógica hegemônica. Vejamos a questão da participação nos processos de decisão.
A Lei nº 6.938/81 estabeleceu a Política e o Sistema Nacional do Meio Ambiente, no qual integra-se enquanto órgão consultivo e deliberativo o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, que tem em sua composição representantes de todos os ministérios da República, de todos os governos estaduais e, ainda, de representantes de municípios, de entidades de classe, de organizações não governamentais e de entidades ambientalistas. A participação da sociedade começa a ser forjada através de um instrumento com uma importância fundamental na política ambiental.
Para efeito de demonstração, vale ressaltar que o CONAMA editou em 1986 a Resolução nº 01/86, que dispõe sobre o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental – EIA/RIMA, exigíveis para obras e empreendimentos potencialmente poluidores, que devem estar disponíveis para consulta pública. E se alguma organização da sociedade civil ou o Ministério Público solicitarem, o poder público deve convocar audiência pública, aberta a qualquer cidadão, para discutir o conteúdo do EIA/RIMA. Essa foi uma das primeiras e é ainda na atualidade um dos principais instrumentos de participação da sociedade em processos decisórios da Administração Pública e tem como fundamento o fato do meio ambiente se constituir enquanto um bem indisponível. Isto é, sequer o poder público pode dispor deste bem. Portanto, a participação da sociedade no processo decisório sobre a emissão de licenças ambientais aparece como uma garantia para a melhor proteção e utilização do meio ambiente. 
Com o advento da Constituição de 1988, novos princípios começam a ser desenhados, como o da supremacia do interesse público, o da publicidade e o da participação, que estão presentes no texto do art. 225. 
Todo o processo de preparação da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como RIO 92, foi concebido com a participação social e o Princípio 10, da Declaração do Rio – aprovada no referido encontro, reforça a necessidade da participação da sociedade nos processos decisórios que envolvemquestões relacionadas ao meio ambiente.
É nesse contexto que vêm se construindo os processos participativos de tomada de decisão, como no CONAMA e no FNMA – Fundo Nacional do Meio Ambiente. No legislativo também vêm ocorrendo iniciativas desse porte, quando dos debates sobre a aprovação de novas leis ou mesmo na alteração de leis em vigor, a exemplo das discussões em torno do projeto de modificação do novo Código Florestal (Lei n° 4.771/65), onde há a oposição dos interesses de madeireiros e pecuaristas aos interesses da coletividade na proteção da Mata Atlântica, da Amazônia e demais biomas brasileiros.
Os processos participativos estão se tornando uma prática na formação de políticas públicas para o meio ambiente e onde eles não ocorrem a legitimidade das decisões é questionável e fragilizada. Até mesmo para a regulamentação de leis, que é de competência exclusiva do Poder Executivo, está ocorrendo a participação da sociedade, pois isso assegura mais força à norma regulamentadora. 
Um exemplo marcante foi o da regulamentação da Lei nº 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. O Ministério do Meio Ambiente e o IBAMA viabilizaram a realização de encontros para o levantamento de propostas e encerraram o processo com um seminário de três dias, em abril de 2001, em Pirenópolis/GO, de onde saiu uma proposta de regulamentação da lei e que resultou na edição do Decreto n° 4.340/02. 
A Lei nº 9.605/98 – Lei dos Crimes Ambientais também gerou inovações no ordenamento jurídico brasileiro, como a já comentada responsabilização penal da pessoa jurídica. Porém, a criminalização de condutas lesivas ao meio ambiente não é novidade na legislação brasileira. Em 1605, por exemplo, foi editado o Regimento do Pau Brasil, que chegou a prever até pena de morte para quem violasse as regras de exploração da vegetação. Mas é no século XX que surgem as principais normas penais associadas às atividades lesivas ao meio ambiente, como os Códigos Penal e Florestal, a Lei de Proteção à Fauna e mesmo a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, que previu algumas penas criminais pontualmente.
O benefício da recente Lei dos Crimes Ambientais foi consolidar as várias condutas que se encontravam dispersas, revogando previsões existentes em leis distintas, que não seguiam uma lógica adequada. Desta forma, a aplicação de pena às atividades lesivas ao meio ambiente segue um princípio lógico e transparente. Foram revogados, por exemplo, os crimes inafiançáveis que constavam da Lei de Proteção à Fauna, incorporando posturas descriminalizantes da doutrina penal, que entende que não é com reclusão que serão resolvidos todos os problemas relacionados à violação de normas legais e sociais. 
Enfim, a Lei dos Crimes Ambientais trouxe em seu conteúdo a prevalência da aplicação de penas alternativas, que desestimulam a prática delituosa ao mesmo tempo em que procurem ressocializar o indivíduo infrator. Ressalte-se, contudo, que apesar de ser chamada de Lei dos Crimes Ambientais, esta norma também prevê a aplicação de sanções administrativas às condutas que descreve, permitindo aos órgãos do SISNAMA lavrarem multas com variação de no mínimo R$ 50,00 e, no máximo, R$ 50 milhões, como ocorreu com o acidente da Petrobras na Baia de Guanabara, em 18 de janeiro de 2000.
Podemos perceber, então, que com a formação e o aprimoramento da legislação ambiental, um novo direito vem sendo construído.
É dessa forma que a legislação ambiental brasileira vai formando o Direito Ambiental, lapidando expectativas e necessidades, sob a influência de uma nova ética, que passam a estar expressas no corpo de leis e normas complementares.
Como apresentamos no início deste texto, a legislação referente às questões ambientais é ampla e antiga, não expressando necessariamente a realidade ambiental da atualidade. Esperamos que a legislação e o direito ambiental sejam úteis e suficientes para fundamentar cada vez mais ações em defesa de uma vida com qualidade e justiça para todos, abrindo caminhos para uma nova ética, que valorize a cultura e a educação como meios da necessária transformação socioambiental da sociedade.
9- PATRIMÔNIO AMBIENTAL E DEGRADAÇÃO
9.1- Ar
O ar, tal como os outros elementos encontrados no globo terrestre, possui uma composição e concentração que varia conforme as diferentes regiões. Mas que, no entanto, caracteriza-se como o elemento que mais rapidamente se contamina e recupera, dependendo das condições serem favoráveis a ele.
A importância de sua proteção está vinculada aos seus aspectos vitais, já que ele está diretamente ligado aos processos de respiração, fotossíntese, evaporação, transpiração, oxidação, assim como a fenômenos climáticos e meteorológicos. Portanto, o ar possui um significado ecológico e biológico, mas também econômico, capaz de transformar situações sociais.
A intensificação com a preocupação da qualidade do ar ocorreu a partir do início do século XIX, com a revolução industrial. Esse marco histórico foi responsável por uma profunda alteração na produção de bens mediante a crescente utilização de máquinas, que trouxe consigo o dito progresso. 
Toda a nossa estrutura de vida é baseada num alto consumo de energia que vai da movimentação de maquinário industrial à luz que ascendemos à noite ou a televisão que ligamos para ver um filme. Energia essa que provem em larga escala dos combustíveis fósseis, tais como petróleo, carvão mineral e gás natural.
Ressalte-se que no Brasil, dada as suas características naturais, grande parte da energia provem de fontes hidrelétricas, assim como cresce a utilização dos chamados biocombustíveis – oriundos principalmente da cana-de-açúcar. Mas a utilização de combustíveis fósseis também é muito grande, enquanto no resto do mundo é a principal ou mesmo a única fonte de energia.
Esses combustíveis fósseis, segundo Cláudio Darwin Alonso, da CETESB, “são constituídos de compostos de carbono que se encontram no subsolo. Ao serem queimados, tais combustíveis liberam para a atmosfera carbono (na forma de gás carbônico), estranho a ela. Dessa forma, tem sido crescente o teor de gás carbônico na atmosfera, desde que se passou a utilizar os combustíveis fósseis. Medições precisas mostram que este teor passou de 290 ppm em 1880 a 336 ppm em 1980”.�
Os danos gerados com a poluição do ar resultam na alteração das características físicas, químicas ou biológicas normais da atmosfera, causando não só danos aos seres humanos, mas também à fauna, à flora e aos materiais. Como bem ressalta Édis Milaré, chega a restringir o pleno uso e gozo da propriedade. 
Afinal, é importante frisar que “o ar atmosférico não tem fronteiras territoriais ou geográficas e sua qualidade pode ser determinada por dois fatores essenciais, sendo eles determinados pela quantidade de poluentes emitidos para a atmosfera e o grau de capacidade da atmosfera na dispersão destes poluentes”.�
Os graves problemas atmosféricos podem variar de minutos a alguns dias ou anos, acarretando transtornos graves e inúmeras mortes. No Brasil, tais experiências se intensificaram nos anos 70 do século passado, momento em que começaram a surgir os primeiros dispositivos legais acerca do tema.
As normas e padrões estabelecidos visam assegurar não só a saúde humana (padrões primários), mas também o patrimônio natural (plantas e animais), físico (construções, maquinarias, equipamentos diversos, etc) e cultural (paisagens, monumentos, estátuas, etc).
O Ministério do Interior editou, em 27 de abril de 1976, a Portaria GM 231 – que tratava das emissões de poluentes atmosféricos e os padrões de qualidade para a defesa do ar de uma maneira geral.
Atualmente, temos dois exemplos marcantes de programas nacionais específicos para a qualidade do ar, estabelecidos por resoluções do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente). São eles:
PROCONVE (Resolução 018/86 do CONAMA, de 6 de maio de 1986) – Programa Nacional de Controleda Poluição do Ar por Veículos Automotores, que visa a redução das emissões. Este programa reduziu em mais de 98% as emissões de veículos automotores nos últimos vinte anos; e,
PRONAR (Resolução 005/89 do CONAMA, de 15 de junho de 1989) – Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar, que visa subsidiar a gestão ambiental e o desenvolvimento socioeconômico do país, estabelecendo padrões primários e secundários de qualidade do ar e padrões de emissão. Dentre os poluentes estão: o CO2, fumaça preta, partículas totais em suspensão (PTS), dentre outros.
No plano internacional, diversos acordos vêm sendo feitos no sentido de melhorar a qualidade do ar. O mais famoso e difundido foi o Protocolo de Kioto, que gerou, e ainda gera, diversas discussões em torno da defesa norte-americana de que não poderia adotar os padrões propostos, uma vez que isso alteraria a sua estrutura econômica e acarretaria prejuízos para todo o mundo. O Protocolo de Kioto é um desdobramento da Convenção de Mudanças Climáticas – que foi aprovada na RIO 92. Na atualidade, as discussões sobre os gases geradores do aquecimento global vêm mobilizando não mais apenas os ecologistas e estudiosos das universidades, mas se tornou um tema obrigatório nos meios políticos e econômicos internacionais. 
O desenvolvimento sustentável só é possível com a existência de uma qualidade ambiental. Não há como dissociar os custos dos problemas gerados com a contaminação do meio ambiente, dos investimentos vinculados ao desenvolvimento social, industrial e tecnológico. Isto é, a defesa da qualidade de vida não é uma atitude de proteção exclusiva da pessoa humana e das demais formas de vida. É também a defesa do desenvolvimento equilibrado. Afinal de contas, “um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada – IPEA e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB conseguiu contabilizar os danos causados pela poluição atmosférica. Segundo este levantamento, na Grande São Paulo as doenças respiratórias decorrentes da má qualidade do ar geram custos de US$ 12.066.302,64 em gastos hospitalares e dias perdidos de trabalho. Já as doenças cardiovasculares representam custos de US$ 27.972.250,45”� (valores do ano de 1997).
Enfim, a poluição do ar gera prejuízos não só sociais e ambientais, mas também econômicos, e os efeitos negativos causados pela sua degradação, assim como as despesas com a sua recuperação são passíveis de contabilização. E a equação é negativa em todos os aspectos.
9.2 – Água
A água é um recurso escasso em vários lugares do planeta. Em termos de Brasil, apesar da aparente abundância, devemos ter a consciência de que ela não é um recurso ilimitado. A fartura de água no país é relativa e geograficamente localizada, existindo inúmeras regiões que sofrem graves problemas de escassez e de má distribuição, sendo que em alguns momentos o problema pode ser agravado e generalizado para grandes partes do território – como ocorreu recentemente com os reservatórios de geração de energia, o que obrigou a imposição do racionamento de energia.
O ordenamento jurídico nacional possui previsão de norma dispondo sobre as águas desde a década de 1930, quando da edição do Decreto que instituiu o Código de Águas. Porém, apesar de ainda estar vigente, esta norma caiu em desuso e foi tacitamente revogada em vários aspectos, ressaltando-se aquele que dispunha sobre a possibilidade de existência de água de domínio privado.
A Constituição Federal de 1988 determinou a instituição do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o que foi posteriormente atendido pela Lei nº 9.433/97 – que, além de referido sistema, institui também a Política Nacional de Recursos Hídricos.
Logo no seu art. 1º, a lei destaca que a água é um recurso limitado e passa a dotá-la de valor econômico. Com isso, induz a uma mudança de hábitos por parte de toda a população quanto ao consumo e desperdício de água. Da mesma forma, a atribuição de valor econômico à água vem promovendo alterações nos sistemas produtivos com vistas à economia de sua utilização, não só nas ações de captação, mas também no descarte de efluentes industriais. Dados recentes apontam que de toda água doce brasileira, 70% é consumida pelos sistemas de irrigação, 20% pelas indústrias e apenas 10% pela população – o que aponta a grande responsabilidade que os meios de produção possuem na sua conservação.
A atual legislação das águas determina uma articulação entre União e Estados para o gerenciamento dos recursos hídricos de interesse comum. Nesse gerenciamento, propõe-se a elaboração de planos diretores (Planos de Recursos Hídricos – que deverão ser elaborados por bacia hidrográfica, por estado e um nacional), prevendo a realização de um diagnóstico da situação atual, uma análise de alternativas de crescimento demográfico, evolução das atividades produtivas, padrão da ocupação do solo, diretrizes e critérios para cobrança pelo uso dos recursos hídricos, etc (art. 7º, da Lei n° 9.433/97).
Ainda de acordo com as regras atuais, a utilização dos recursos hídricos dependerá de outorga (permissão) do Poder Público (Executivos Federal e Estadual), conforme artigos 12 e 14 da citada lei. Tal outorga não poderá exceder a 35 anos, porém é renovável pelo mesmo período. A outorga é um instrumento que se propõe a regular o uso múltiplo dos recursos hídricos, respeitando os limites que permitam a perenidade dos corpos hídricos, assim como os níveis de qualidade e quantidade previstos para cada rio, lençol freático e bacia hidrográfica. 
9.3 – Solo
O solo é provavelmente um dos elementos naturais mais tratados pela legislação devido a sua influência direta na vida econômica do ser humano. A sua definição varia conforme o seu emprego no Direito, na Agricultura, na Biologia, na Física, na Geografia ou na Geologia. 
Porém dois aspectos principais ressaltam dentre os demais: são os sentidos de solo como recurso natural e como espaço social.
Como recurso natural o solo é um local rico em transformações e vida, dentro dele, segundo Édis Milaré, encontramos, tal e qual numa floresta, o segredo da sua produtividade e regeneração. Nele há uma silenciosa usina onde se desenvolvem diversas atividades e relações necessárias à vida que se movimenta na superfície.
O uso indevido do solo é acarretado por uma série de agressões, tais como: agricultura predatória; mineração, desmatamento e queimadas; presença de defensivos agrícolas; erosões provocadas por fatores eólicos; monoculturas, florestas homogêneas, dentre outras.
Como espaço social o solo fornece o alimento e o espaço territorial necessário para as atividades humanas, que se não controladas geram desastrosas conseqüência ao próprio ser humano. No entanto, a utilização do mesmo pelas pessoas necessita de enorme regulação, já que influencia diretamente no direito de propriedade e altera a utilização inadequada feita há anos, e nem por isso salutar ao meio em que vivemos. Exemplo disso são: as ocupações de várzeas férteis com construções, devastação de matas ciliares e desguarnecimento de vegetação em cabeceiras; substituição de florestas por campos de pastagem; utilização de espaços para implantação de indústrias altamente poluidoras e particularmente nocivas àquele entorno; abertura de estradas, construção de aeroportos e de outras infra-estruturas sem prévio estudo de impacto ambiental; utilização de lixões como forma de escoamento do lixo, etc.
De uma forma geral a utilização do solo é tratada como uma atividade humana que necessita dele para ser desenvolvida. Modernamente é que vem sendo dado um enfoque ambiental, recebendo o solo um tratamento específico, como será visto a seguir.
Legislação:
CRFB, art. 23, VI (estabelece que a proteção ao meio ambiente e o combate à poluição em qualquer de suas formas – inclusive a contaminação do solo – é de competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios); art. 24, VI (prevê a competência concorrente

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