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Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 Sumário 1. Responsabilidade Civil Por Danos Ambientais ..................................................... 2 1.1 Desconsideração Da Personalidade Jurídica ...................................................... 2 1.2 Nexo de Causalidade ......................................................................................... 2 1.3 Teoria do risco .................................................................................................. 3 1.4 Teoria do risco integral ..................................................................................... 3 1.5 Imprescritibilidade Da Reparação Ambiental ..................................................... 4 2. Dano Ambiental .................................................................................................. 5 2.1 Tese Do Poluidor Coletivo ................................................................................. 6 2.2 Questão ............................................................................................................ 9 3. Processo ambiental e tutelas processuais .......................................................... 10 3.1 Ação popular .................................................................................................. 10 Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 1. Responsabilidade Civil Por Danos Ambientais 1.1 Desconsideração Da Personalidade Jurídica Dando continuidade à aula anterior, o tema abordado a seguir será o da desconsideração da personalidade jurídica. O Código Civil no artigo 50 prevê a desconsideração da personalidade jurídica quando houver abuso por parte desta, confusão patrimonial e utilização da pessoa jurídica para cometer fraudes. Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Como foi falado sobre direito ambiental, trabalhista e do consumidor, a desconsideração da personalidade jurídica, quando ocorrer danos ambientais, será abrangida pela teoria menor, diferente da prevista no artigo 50 do Código Civil, que é a teoria maior. Assim, basta que a pessoa jurídica não possua bens e valores pecuniários em seu nome que o Ministério Público terá legitimidade para requerer a sua responsabilização por danos ambientais. Em relação ao direito penal, apesar da Lei 9.605/98 trazer em seu artigo 4º a desconsideração da personalidade jurídica, a jurisprudência1 faz uma crítica no sentido dessa desconsideração atacar os sócios da pessoa jurídica que não tiveram participação no crime ambiental. Esse entendimento é justificado pelo Princípio da Intranscendência das Penas, e, também, pelo fato de que não há responsabilidade objetiva em matéria de crimes. Dessa forma, dizendo respeito ao direito penal, somente haverá responsabilidade subjetiva, enquanto que, para o direito civil, poderá ocorrer a responsabilidade objetiva em matéria ambiental. Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. 1.2 Nexo de Causalidade Conceito: vínculo que une a conduta ao ato lesivo. Responsabilidade civil é propter rem. 1 Mais precisamente o professor da PUC-SP, Guilherme Mucci, desembargador TJ/SP. Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 “(...) 1. A responsabilidade por danos ambientais é objetiva e, como tal, não exige a comprovação de culpa, bastando a constatação do dano e do nexo de causalidade. 2. Excetuam-se à regra, dispensando a prova do nexo de causalidade, a de adquirente de imóvel já danificado porque, independentemente de ter sido ele ou o dono anterior o real causador dos estragos, imputa-se ao novo proprietário a responsabilidade pelos danos. Precedentes do STJ.” (REsp 1.056.540, de 25.08.2009) “Ambiental e processual civil. Área de preservação permanente. Possibilidade de reflorestamento por parte do poder público sem desapropriação. Transferência dos custos ao proprietário. Obrigação propter rem. Indenização do art. 18, § 1.º, do Código Florestal. Regra de transição. Cultivos após a criação da APP. Conduta ilícita não indenizável. Discussão sobre a prescrição prejudicada.” 3. Tal obrigação, aliás, independe do fato de ter sido o proprietário o autor da degradação ambiental, mas decorre de obrigação propter rem, que adere ao título de domínio ou posse. Precedente” (AgRg no REsp 1206484/SP, Rel. Min. Humberto Martins, 2.ª T. j. 17.03.2011, DJe 29.03.2011). Novo Código Florestal – obrigação propter rem Art. 2º, § 2º: as obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural 1.3 Teoria do risco A responsabilidade, em matéria de direito civil ambiental, será sempre objetiva. Quando estudado a responsabilidade do Estado no direito administrativo, há uma teoria a esse respeito, a saber: a teoria do risco proveito ou teoria do risco administrativo/risco criado. Essa teoria possui a característica de considerar as excludentes de responsabilidade. Ocorrendo alguma excludente como a força maior, o caso fortuito e a culpa exclusiva da vítima, não há que se falar em responsabilidade do Estado. Com relação ao direito ambiental, uma doutrina minoritária segue o entendimento da teoria do risco, mas o que prevalece como uma teoria predominante é a do risco integral. 1.4 Teoria do risco integral A teoria do risco integral não admite as excludentes de responsabilidade e, havendo força maior ou culpa exclusiva da vítima, não será excluída a responsabilidade. Nesse sentido, é a jurisprudência do STJ: Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. CERCEAMENTO DE DEFESA. VALOR DA CONDENAÇÃO EM DANOS MATERIAIS. SÚMULA N. 7/STJ. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. PETROBRÁS. ROMPIMENTO DO POLIDUTO "OLAPA" E VAZAMENTO DE ÓLEO COMBUSTÍVEL. DANO AMBIENTAL. TEORIA DO RISCO INTEGRAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PRECEDENTE DA SEGUNDA SEÇÃO, EM SEDE DE RECURSO REPETITIVO. ART. 543-C DO CPC. TERMO INICIAL. JUROS MORATÓRIOS. SÚMULA N. 54/STJ. DECISÃO MANTIDA. 1. O Tribunal de origem afastou a alegação de cerceamento de defesa por entender comprovada a ocorrência e a extensão do dano ambiental,bem como a legitimidade do autor da ação. Alterar esse entendimento demandaria o reexame das provas produzidas nos autos, o que é vedado em recurso especial, a teor da Súmula n. 7/STJ. 2. O exame da pretensão recursal no tocante à diminuição do valor da condenação a título de danos materiais exigiria o reexame da extensão do prejuízo sofrido pelo recorrido, o que é inviável em recurso especial, ante o óbice da mesma súmula. 3. Aplica-se perfeitamente à espécie a tese contemplada no julgamento do REsp n. 1.114.398/PR (Relator Ministro SIDNEI BENETI, julgado em 8/2/2012, DJe 16/2/2012), sob o rito do art. 543-C do CPC, no tocante à teoria do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano ambiental (arts. 225, § 3º, da CF e 14, § 1º, da Lei n. 6.938/1981). É irrelevante, portanto, o questionamento sobre a diferença entre as excludentes de responsabilidade civil suscitadas na defesa de cada caso. Precedentes. 4. Agravo regimental desprovido. Mesmo se tratando de Administração Pública, será considerada a teoria do risco integral. 1.5 Imprescritibilidade Da Reparação Ambiental O meio ambiente é um bem jurídico de terceira dimensão e de interesse da coletividade. Por causa disso, justifica-se o interesse público em sua manutenção e preservação. No ano de 2009, o STJ decidiu sobre a imprescritibilidade da reparação ambiental: “(...) 5. Tratando-se de direito difuso, a reparação civil assume grande amplitude, com profundas implicações na espécie de responsabilidade do degradador que é objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente da culpa do agente causador do dano. 6. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente de não estar expresso em texto legal. Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 Continua o STJ, juntamente com a doutrina, dizendo que o artigo 37 da CF deve ser utilizado no caso de reparação ambiental. Assim, não há prazo para pleitear a reparação ambiental e, também, não prescreve pelo decurso do tempo. O dano ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis, e como tal, está dentre os poucos acobertados por proteção. Em matéria de prescrição, cumpre distinguir qual o bem jurídico tutelado: se eminentemente privado, seguem-se os prazos normais das ações indenizatórias; se o bem jurídico é indisponível, fundamental, antecedendo a todos os demais direitos, pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer, considera-se imprescritível o direito à reparação. Não pode confundir o prazo de prescrição para ação civil pública e da ação popular. Na Lei de Ação Popular, o prazo prescricional é quinquenal para sua preposição, enquanto que, na Lei da Ação Civil Pública há uma lacuna. Para solucionar a lacuna existente, a jurisprudência entende que o prazo para ajuizamento da Ação Civil Púbica também é quinquenal, a exemplo da Ação Popular. Estando prescrito o prazo para ajuizamento de ambas as ações, há outros mecanismos que podem garantir a reparação ambiental. Portanto, é distinta a matéria acerca da imprescritibilidade da reparação do dano ambiental com a prescrição do direito de ação para Ação Civil Pública e Ação Popular. 2. Dano Ambiental Conceito: qualquer ação ou omissão humana, que resulta em prejuízo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, tal como aos indivíduos que nele residam e as relações que nele desenvolvem. Porém, nem toda atividade humana será considerada dano ambiental, mas somente aquela que ultrapasse a capacidade natural de absorção ambiental, mesmo que esteja amparada por licença ambiental. De acordo com a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, o dano ambiental é proveniente de uma conduta humana que ultrapassa a capacidade natural de absorção ambiental e resulta em prejuízo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, mesmo que esteja amparado por licença ambiental. Por esse entendimento, pode-se concluir que, um dano ambiental seja lícito, e mesmo assim, estar obrigado a repará-lo. Para que ocorra o efetivo dano ambiental é necessário que haja uma incapacidade do meio ambiente em absorver o que foi prejudicado e não qualquer conduta em si. Primeiramente, em uma ação civil pública que visa a reparação do dano ambiental, um dos pedidos elencados na inicial é a viabilidade de restauração do status quo ante a degradação ambiental. Havendo necessidade, o indivíduo será obrigado a reparar e, caso contrário, sendo inexistente o status a quo ante, poderá ocorrer uma compensação através do reflorestamento ou indenização pecuniária para o Fundo Nacional do Meio Ambiente. O Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 STJ entende que os pedidos na inicial da ação civil pública podem ser cumulados, com a possibilidade, ainda, de indenização moral. O princípio da reparação in integrum aplica-se ao dano ambiental. Com isso, a obrigação de recuperar o meio ambiente degradado é compatível com a indenização pecuniária por eventuais prejuízos, até sua restauração plena. Contudo, se quem degradou promoveu a restauração imediata e completa do bem lesado ao status quo ante, em regra, não se fala em indenização. Já os benefícios econômicos que aquele auferiu com a exploração ilegal do meio ambiente (bem de uso comum do povo, conforme o artigo 225, caput, da CF/1988) devem reverter à coletividade, tal qual no caso, em que se explorou garimpo ilegal de ouro em área de preservação permanente sem qualquer licença ambiental de funcionamento ou autorização para desmatamento. Com esse entendimento, a Turma deu parcial provimento ao recurso para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação de indenização pecuniária e obrigações de fazer voltadas à recomposição in natura do bem lesado, o que impõe a devolução dos autos ao tribunal de origem para que verifique existir dano indenizável e seu eventual quantum debeatur. Precedente citado: REsp 1.120.117-AC, DJe 19.11.2009” ( STJ, REsp 1.114.893-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 16.03.2010). 2.1 Tese Do Poluidor Coletivo (...) 4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. 5. Recurso especial provido, para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação de indenização pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a condenação em danos morais coletivos, com a devolução dos autos ao Tribunal de origem para que verifique se, no caso, há dano indenizável e fixação do eventual quantum debeatur” (STJ, REsp 1.269.494, de 24.09.2013). O dano moral coletivo somente pode ser pleiteado por meio de uma ação coletiva. Para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação de indenização pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a condenação em danos morais coletivos, proveu-se o recurso especial no âmbito do STJ. Há duas espécies de danos ambientais, o dano ao patrimônio e o dano extrapatrimonial. O dano ao patrimônio é aquele que acarreta significativas mudançasnegativas aos elementos que compõem o meio ambiente, tal qual, a inadequada utilização de uma praia para banho em decorrência de um derrame de óleo por parte de uma embarcação. Já o dano extrapatrimonial ocorre quando a alteração nos elementos ambientais geram significativas lesões ao estilo de vida social e à saúde das pessoas. No caso, devido ao derramamento de hidrocarbonetos no mar, muitos pescadores serão Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 lesados, inviabilizando a atividade pesqueira, e consequentemente, resultando em danos econômicos aos mesmos. Além disso, o dano ambiental é multifacetário. Isso quer dizer que atinge diversas perspectivas do indivíduo, como a ética, o aspecto temporal, ecológico e patrimonialmente falando, sensível, ainda, à diversidade do vasto universo de vítimas, que vai desde o indivíduo isolado, como à coletividade presente e futura. (...) Essa posição jurisprudencial leva em conta que o dano ambiental é multifacetário (ética, temporal, ecológica e patrimonialmente falando, sensível ainda à diversidade do vasto universo de vítimas, que vão do indivíduo isolado à coletividade, às gerações futuras e aos próprios processos ecológicos em si mesmos considerados).(REsp 1.198.727, de14.08.2012). Com relação ao valor do dano ambiental, a jurisprudência do STJ entende que não se deve, somente, estipular o numero em pecúnia a partir da quantidade de animais mortos, mas também a partir do grau de desequilíbrio ecológico causado. (...) Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3º da Lei 7.347/1985 permite a cumulação das condenações em obrigações de fazer ou não fazer e indenização pecuniária em sede de ação civil pública, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, já consumado. Microssistema de tutela coletiva. (...) 4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. (...) (REsp 1269494/MG, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 24/09/2013) Isso significa que quem mora em regiões distantes da onde ocorreu o dano, também sofrem os prejuízos causados pelo dano ambiental, mas não há necessidade da demonstração da dor ou do dano causado a estas pessoas para que ocorra o dano moral coletivo. Danos sociais, segundo Antônio Junqueira de Azevedo, “são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida. Os danos sociais são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 segurança, e de indenização dissuasória, se atos em geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do índice de qualidade de vida da população.” (p. 376) FONTE: DIZER O DIREITO (...) 1. Não há que se falar em perda de uma chance, diante da remota possibilidade de ganho em um sistema de loterias. Danos materiais consistentes apenas no valor das cartelas comprovadamente adquiridas, sem reais chances de êxito. 2. Ausência de danos morais puros, que se caracterizam pela presença da dor física ou sofrimento moral, situações de angústia, forte estresse, grave desconforto, exposição à situação de vexame, vulnerabilidade ou outra ofensa a direitos da personalidade. 3. Presença de fraude, porém, que não pode passar em branco. Além de possíveis respostas na esfera do direito penal e administrativo, o direito civil também pode contribuir para orientar os atores sociais no sentido de evitar determinadas condutas, mediante a punição econômica de quem age em desacordo com padrões mínimos exigidos pela ética das relações sociais e econômicas. Trata-se da função punitiva e dissuasória que a responsabilidade civil pode, excepcionalmente, assumir, ao lado de sua clássica função reparatória/compensatória. “O Direito deve ser mais esperto do que o torto”, frustrando as indevidas expectativas de lucro ilícito, à custa dos consumidores de boa fé. 4. Considerando, porém, que os danos verificados são mais sociais do que propriamente individuais, não é razoável que haja uma apropriação particular de tais valores, evitando-se a disfunção alhures denominada de overcompensantion. Nesse caso, cabível a destinação do numerário para o Fundo de Defesa de Direitos Difusos, criado pela Lei 7.347/85, e aplicável também aos danos coletivos de consumo, nos termos do art. 100, parágrafo único, do CDC. Tratando-se de dano social ocorrido no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, a condenação deverá reverter para o fundo gaúcho de defesa do consumidor. (...) (TJRS – Recurso Cível 71001281054 – Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais – Rel. Des. Ricardo Torres Hermann – j. 12.07.2007). Havendo dano moral coletivo e danos sociais, necessariamente, haverá uma ação coletiva pleiteando a condenação do causador do dano. Com isso, a V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ propôs o enunciado de nº 455. A expressão “dano” no artigo 944 do Código Civil abrange não só os danos individuais, materiais ou imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e individuais homogêneos a serem reclamados pelos legitimados para propor ações coletivas. Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 Importante: Em relação ao desmatamento em unidades de conservação, após realizada a compensação prevista no art.36, Lei n. 9.985/ 2000 com base na solicitação contida no EIA/RIMA, por compreender o significativo impacto ambiental e avaliação do dano previsível, precedente jurisprudencial adota a possibilidade de indenização por dano ambiental, desde que nela não compreenda a compensação anteriormente realizada, assim, não configurando bis in idem, já que trata de institutos diversos (STJ, REsp 896.863, j. 19.05.2011) 2.2 Questão (FCC – Analista Judiciário – Área Judiciária/TRF 5ª Região 2012) Sobre a responsabilidade pelo dano ambiental, é correto afirmar: a) A responsabilidade penal está condicionada à comprovação de responsabilidade administrativa do infrator. b) As pessoas jurídicas não podem ser responsabilizadas penalmente, mas tão somente seus sócios e administradores, no caso de infração praticada no interesse ou benefício da empresa. c) A Lei no 6.938/1981 estabelece a responsabilidade civil objetiva em tema de dano ambiental, o que significa o afastamento da investigação e discussão da culpa. d) A Constituição Federal prevê, em matéria ambiental, que um mesmo ato danoso sobre o ambiente pode deflagrar a imposição de sanções criminais e administrativas, mas não pode impor sanções civis. e) A sanção penal não pode ser aplicada ao infrator que houver reparado o dano ambiental causado. Gabarito: Letra C. Letra A: As responsabilidades, sejam penais, civis ou administrativas,são interdependentes e a mesma conduta praticada pode gerar apenas uma ou as três espécies de esferas. Letra B: A lei de crimes ambientais prevê no artigo 3º que a responsabilidade é atribuída tanto à pessoa jurídica quanto à física. Há a tese da dupla imputação paralela ou responsabilidade penal ricochete que, tanto o STF e o STJ não adotam mais, mas referido artigo dispõe que a pessoa jurídica pode ser responsabilizada por crime ambiental. Não incide, aqui, a tese de ficção da pessoa jurídica, uma vez que possui um objetivo socialmente definido. Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de Direito Ambiental O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. Lera C: A responsabilidade é objetiva e não se discute o dolo ou culpa. A alternativa C está correta. Letra D: A responsabilidade pode ser demandada nas três esferas, todas de modo independentes. Letra E: Há possibilidade de aplicar a sanção penal. Os termos de ajustamento de conduta – TAC por danos ambientais, em que pese o seu cumprimento pelo interessado, não obsta a aplicação de pena e ser condenado. 3. Processo ambiental e tutelas processuais 3.1 Ação popular A ação popular foi inicialmente introduzia na Constituição de 1934 e, posteriormente, regulamentada pela Lei 4.717/65. A princípio, era cabível para tutelar o interesse público e após o advento da Constituição Federal, a ação popular passou a tutelar o meio ambiente e a moralidade administrativa, atribuindo, dessa forma, o exercício da soberania do povo, que é o seu legitimado principal. Apesar de haver o cidadão devidamente regular com seus direitos políticos e competentes para o ajuizamento da ação popular, este mecanismo judicial afetará toda a coletividade, e por isso, é denominada como uma tutela coletiva. No entanto, há disposições doutrinárias em sentido contrário, que considera o estrangeiro não portador de título eleitoral à legitimação de propor ação popular. Tal entendimento não é o disposto na Lei de Ação Popular que exige a apresentação do título nos autos da ação como condição de procedibilidade, além da previsão constitucional do artigo 5º, inciso LXXIII. Art. 5º, LXXIII, CF/88: (...) qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência Comprovada má-fé do autor da inicial de ação popular, será obrigado a pagar a custa judicial e o ônus da sucumbência.
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