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Introduçã o ão Estudo do Direito (I.E.D) Professor: Ricãrdo Mãurí cio Freire Soãres (ric.mãuricio@ig.com.br) CARACTERÍSTICAS DA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO PROPEDÊUTICA (CORPO DE ENSINAMENTOS INTRODUTÓRIOS OU BÁSICOS DE UMA DISCIPLINA) Professor: Porque se propõe a oferecer conceitos fundamentais para o conhecimento jurídico, os quais serão utilizados nos mais diversos ramos do direito. Fornece conceitos fundamentais para os diversos ramos do conhecimento jurídico (exemplo: definição de lei). Maria Helena Diniz: I.E.D. é uma matéria, ou um sistema de conhecimentos que tem por escopo (propósito) fornecer uma noção global ou panorâmica da ciência que trata do fenômeno jurídico, propiciando uma compreensão de conceitos jurídicos comuns a todas as disciplinas do currículo do curso do direito e introduzindo o estudante e o jurista na terminologia técnico-jurídica. ENCICLOPÉDICA Professor: Propõe-se a oferecer um conjunto de conhecimento articulados para uma compreensão interdisciplinar do fenômeno jurídico. Nesse sentido apresenta-se como um conjunto de saberes filosóficos, sociológicos, históricos e antropológicos direcionados ao estudo do direito. Maria Helena Diniz: É por isso, uma enciclopédia, por conter, além dos conhecimentos filosóficos, os conhecimentos de ordem científica, sem, contudo, resumir os diversos ramos ou especializações do direito, e por abranger, não só os aspectos jurídicos, mas também os sociológicos e históricos. I.E.D não é uma ciência, mas uma enciclopédia, visto que contém conhecimentos científicos (jurídicos, sociológicos e históricos), filosóficos, introdutórios ao estudo da ciência política. I.E.D não é ciência (que possui objeto e método), por faltar-lhe unidade de objeto, mas é uma disciplina epistemológica (epistemologia é o ramo da filosofia que estuda a origem, estrutura, métodos e a validade do conhecimento). Nota: Ciência é constituída de um conjunto de enunciados que tem por escopo a transmissão adequada de informações verídicas sobre o que existe, existiu ou existirá. Tais enunciados são constatações. Um sistema de previsões prováveis e seguras. É um saber metodicamente fundado, demonstrado e sistematizado. A sistematicidade é o principal argumento para afirmar a cientificidade. O método é a garantia de veracidade de um conhecimento. É a direção ordenada do pensamento na elaboração da ciência. Não se deve confundir método com técnica. O saber científico pode utilizar diversas técnicas, mas só pode ter um método, que é o conjunto de princípios de avalição de evidência, cânones para julgar a adequações das explicações propostas, critérios para selecionar hipóteses, ao passo que técnica é o conjunto dos instrumentos ou procedimentos para se obter um resultado. Quanto ao método e objeto, as ciências podem ser naturais (objeto: Fenômenos naturais) e humanas (objeto: Ideias, ações ou condutas humanas. Exige método próprio, uns defendem ser valorativos e outros de neutralidade axiológica, ou seja, sem conceito de valor). A ciência natural é teoria e, enquanto tal, seu fim é o conhecimento do dado e não sua valoração. Já a ciência humana, ao estudar seu objeto, pode ver seu sentido, valorando-o. ZETÉTICA Professor: Porque propõe uma reflexão crítica sobre a normatividade jurídica, buscando examiná-la à luz dos fatos sociais (efetividade) e à luz dos valores sociais (legitimidade). Tal abordagem se diferencia da abordagem dogmática, que implica a reprodução neutra e automática dos preceitos normativos. A palavra "zetética" possui sua origem no grego zetein que significa perquirir, enquanto "dogmática" origina também do grego dokein, ou seja, doutrinar. Pesquisa WEB: A Teoria zetética do Direito pode ser entendida pela oposição à Teoria dogmática do Direito, onde determinados conceitos e fatos são simplesmente aceitos como dogmas. Em oposição, a zetética coloca o questionamento como posição fundamental, o que significa que qualquer paradigma pode ser investigado e indagado. Qualquer premissa tida como certa pela dogmática pode ser reavaliada, alterada e até desconstituída pelo ponto de vista zetético. "Dura lex, sed lex" é uma expressão em latim cujo significado em português é "[a] lei [é] dura, porém [é a] lei". A expressão se refere à necessidade de se respeitar a lei em todos os casos, até mesmo naqueles em que ela é mais rígida e rigorosa. A expressão remonta ao período de introdução das leis escritas na Roma Antiga; a legislação, até então, era transmitida pela via oral, e por consequência sofria diversas alterações por parte dos juízes, que as refaziam de acordo com tradições locais, e introduziam uma série de interpretações pessoais, na medida em que eram os detentores do poder de se referir a esta tradição oral. Com a introdução das leis escritas, passaram a ser iguais para todos - e, como tal, deviam ser respeitadas, por mais duras que fossem. Do ponto de vista finalista, a dogmática soluciona o embate entre opiniões diferentes através da imposição do que é consolidado, enquanto a zetética resolveria o conflito através da investigação construtiva da verdade em relação ao tópico em questão, através do método científico: as hipóteses defendidas são testadas empiricamente e, ao final da análise, aquela que se mostrar mais condizente com a realidade, será a correta. É também característica da teoria zetética a extrapolação das fontes usualmente reconhecidas do direito, as formais (leis, jurisprudência, súmulas), utilizando fontes secundárias como Sociologia, História, Geopolítica, etc. Desta forma, muitos consideram esta visão como mais ampla e completa do que as teorias tradicionais, entendendo como origem das normas e como perpétua fonte de seu conteúdo a sociedade que as mesmas visam regular. Coloca, a zetética, o Direito em uma posição covalente com o objeto de sua regulação, um interferindo virtuosamente sobre o outro, sem colocar o primeiro em uma posição dogmática, por legitimidade ou qualquer outro motivo, acima do segundo. EPISTEMOLÓGICA Professor: Porque discute as condições de cientificidade do conhecimento jurídico, examinando os pressupostos, a natureza, a metodologia e a finalidade da ciência do direito. Pergunta se de fato existe a ciência do direito. Se existe, qual seu método, objeto etc. Se o direito depende da interpretação, ele é uma ciência ou uma arte? Há escolas que o define como uma ciência exata e outras como uma ciência humana. Epistemologia é o ramo da filosofia que estuda a origem, estrutura, métodos e a validade do conhecimento. Pesquisa WEB: A questão da cientificidade do conhecimento jurídico continua como um dos problemas basilares que enfrenta a comunidade jurídica brasileira e a internacional. Destarte, demonstrar como o jurista pode trabalhar cientificamente o Direito é uma tarefa que a metodologia moderna ainda enfrenta. Concordar com a ideia de que o Direito pode ser concebido como uma ciência e que, portanto, podemos submeter a testes científicos seus enunciados é aceitar a existência de um objeto, de uma finalidade, de uma terminologia, de princípios e de métodos específicos e próprios dessa ciência. Acreditar na cientificidade do conhecimento jurídico é ter como verdadeiro o seu caráter sistemático, é aceitar que existe um fundamento (uma base) sobre a qual se organiza tal conhecimento. TEORIA DA NORMA JURÍDICA CONCEITO DE SOCIEDADE Professor: “ubi societas, ibi jus” = Onde (está) a sociedade aí (está) o direito. Entende-se por sociedade o conjunto de seres vivos quer apresenta um dado grau de organização (divisão do trabalho e especialização funcional). TIPOLOGIAS DAS SOCIEDADES Professor: É possível verificar a existência de dois tipos de sociedade: Não humanas e humanas. Somente nas humanas encontraremos o direito (embora, háque diga que não). DETERMINISMO X LIBERDADE Professor: Afirma-se que o determinismo biológico se apresenta como o pressuposto das sociedades não humanas (ações sociais pré-determinadas geneticamente, ou seja, instintos). Por sua vez, a liberdade é o princípio estruturante das sociedades humanas (ações sociais inéditas e imprevisíveis). Logo, as sociedades não humanas dispensam a necessidade de um sistema de controle social, pois são suas ações são pré-determinadas geneticamente, a exemplo da formiga operária. As sociedades humanas são compostas de seres livres com ações de agentes livres. Há necessidade de controle. Se cada qual fizesse o que bem entendesse, não haveria sociedade. Deve haver normas tacitamente aceitas. Sem elas os homens se destruiriam rapidamente (ver livro o leviatã). CONTROLE SOCIAL E O MUNDO NORMATIVO As sociedades humanas necessitam de controle social, conjunto de instituições e normas que regulam o comportamento humano em sociedade, adequando indivíduos aos cânones socialmente aceitos em processo de socialização. São instituições: Família, escola, o Estado, a Empresa etc. São normas: Etiqueta e ética Somos socializados de como devemos nos comportar, limitando nossa natureza (instinto?). O MUNDO NORMATIVO E A LÓGICA DO DEVER SER As normas sociais são regras que estabelecem qual deve ser o comportamento socialmente aceito e qual deve ser a sanção a ser aplicada na hipótese de uma infração. O mundo normativo do “dever ser” que difere do mundo do ser (mundo real). Exemplo: As normas qualificam e punem o homicídio, mas ele continua existindo no mundo real. EXISTEM 2 TIPOS DE NORMAS: TÉCNICAS E ÉTICAS Técnicas: São normas sociais que regulam o comportamento humano, tendo em vista a otimização dos resultados (os fins justificam os meios). Ex. As normas que regulam o uso de arma de fogo. Éticas: Normas sociais que disciplinam o agir humano, tendo em vista a utilização de meios socialmente legítimos, para a realização de uma dada finalidade. A ética está comprometida com os valores sociais que apontam para a realização da justiça. Ex. Conduta de matar alguém em face da moral e do direito. A técnica e a ética em sempre regulam o comportamento do mesmo modo, pois geralmente verifica-se um grande conflito entre tais instâncias. Harmonia: um médico usando a técnica correta para salvar uma vida (técnica e ética em harmonia) Conflito: A biotecnologia x a dignidade humana TIPOS DE NORMAS ÉTICAS: ETIQUETAS, MORAIS E JURÍDICAS ETIQUETAS OU DE CORTESIAS: Regulam aspectos éticos de menor relevância para a vida social, por tratar hábitos de educação no trato com as pessoas e as coisas. O descumprimento delas configura uma descortesia, a qual deve ser punida através de uma sanção difusa, espontânea e plural, que brota da opinião pública. MORAIS: São normas que regulam aspectos mais relevantes da vida social quando comparadas com as normas de etiquetas. Tratam de valores importantes para a estabilidade da vida social. A violação delas configura uma imoralidade, que também é punida com sanção difusa, porém com impacto mais intenso. JURÍDICAS: O Direito reúne as chamadas normas jurídicas, que integram o mínimo ético. A violação das normas jurídicas leva à aplicação de uma sanção organizada diante de uma ilicitude. Ex. Um assassinato, onde seu autor é punido com pena privativa de liberdade. O direito é a última fronteira do controle social. Se a socialização falhou e as etiquetas e morais não resolveram, o direito entra. Se o direito falhar, resta a barbárie. A sanção jurídica é organizada porque está pré-determinada, além de ser aplicada em regime de monopólio do Estado. A ilicitude é a mais grave infração. Ilicitude: É a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual a ação ou omissão típica tornam-se ilícitas. O ilícito consiste na contrariedade entre o fato e lei. O ilícito, não possui grau, ou ela contraria a lei ou ela se ajusta. O injusto: É a contrariedade do fato em relação ao sentimento social de justiça, ou seja, aquilo que o homem médio tem por certo, justo. O injusto, ao contrário do ilícito, possui vários graus, depende da sua intensidade e da repulsa provocada pela conduta. Exemplo: O estupro é algo muito mais impactante do que porte de arma, e ambos ilícitos. Ler mais: https://victorzumbano.jusbrasil.com.br/artigos/175897391/ilicitude Notas: 1. Todos os padrões de normatividade e ética são histórico condicionado de acordo a diversidade cultural histórica. Ex. Estado Laico par ao ocidente e para o oriente, a poligamia etc. 2. O mesmo comportamento pode violar dois ou mais códigos normativos, sofrendo assim sanções diversas. Ex. O ato de matar alguém é imoral e ilícito, podendo sofrer sanções difusas e organizadas. 3. A grande maioria dos comportamentos humanos é qualificada como lícito e somente, de modo excepcional, passa a integrar a zona mais restrita da ilicitude humana. “Tudo que não está juridicamente proibido é juridicamente permitido” (Noberto Bobbiu). O ser humano comete, em média, uma ilicitude por dia (no trânsito, respeito aos direitos autorais etc). 4. Na grande maioria das vezes, a descortesia e a imoralidade são comportamentos lícitos. DIREITO X MORAL – CRITÉRIOS DISTINTIVOS BILETARALIDADE X UNILETARALIDADE O Direito é bilateral porque as normas jurídicas disciplinam relações intersubjetivas, pois sempre haverá, de um lado, o sujeito ativo (titular do direito subjetivo) e do outro lado o sujeito passivo (obrigado ao cumprimento de um dever jurídico). Logo, o dever jurídico pode ser exigido institucionalmente. No que se refere a moral, a unilateralidade decorre da dimensão subjetiva da aceitação de seus preceitos, pelo que o dever moral não pode ser exigido intersubjetivamente. BILATERALIDADE == > EXIGIBILIDADE (Ex. Contrato de aluguel) HETERONOMIA X AUTONOMIA Heterônoma = Característica daquele que está sujeita a vontade de outra pessoa, a regras e normas de conduta. Mesmo que a leis sejam feitas por “representantes do povo”, o sistema representativo é permeado de distorções. Com relação aos indivíduos, as normas sociais são sempre heterônomas, pois elas são impostas. Não se trata sequer de uma adesão voluntária a um sistema normativo predeterminado, pois a comunidade impõem suas normas tanto a quem as aceita espontaneamente quanto a quem as recusa. Nessa medida, com relação à sociedade, o direito é um conjunto de regras autônomas, pois cada grupo social determina as suas próprias regras jurídicas. Porém, as pessoas que integram as sociedades não têm liberdade para escolher as normas jurídicas às quais estão submetidas, pois as regras válidas em uma dada comunidade são impostas a todos os seus membros, independentemente de sua concordância. Cabe ressaltar que mesmo a validade dos contratos celebrados livremente pelas partes deriva do poder normativo social, e não do poder dos contratantes, pois é a definição social do pacta sunt servanda (a regra de que os pactos devem ser mantidos) que faz com que as pessoas sejam juridicamente vinculadas pelas suas promessas. Assim, mesmo que a celebração dos contratos seja autônoma, a observância das normas contratualmente estipuladas é uma obrigação jurídica heterônoma. Do outro lado, as normas morais são autônomas, porque os preceitos são postos pelos próprios sujeitos éticos, que os escolher conforme suas tábuas de valores. A moral é o campo da autonomia. EXTERIORIDADE X INTERIORIDADE O Direito é exterior porque as normas jurídicas incidem no âmbito do comportamento humano toda vez que ele se materializa no mundo dos fatos. De outro lado, a moral é interior, porque suas normas incidem e até mesmo, sancionam o sujeito ético, independentemente da materialização deum comportamento no mundo dos fatos. A moral é interior, por vezes a sanção nasce no próprio indivíduo, como um arrependimento por ter pensado em fazer um mal. O direito só trabalha com o que há no mundo externo. Por exemplo: Alguém está certo que alguém que mata-lo, mas não há um fato que comprove isto. O suposto assassino pode até comprar uma faca para cometer o delito, mas nem mesmo assim o Direito pode agir, pois a faca tem múltiplas funções e é livre sua venda. MAIOR COERCITIVIDADE X MENOR COERCITIVIDADE Coerção: Ameaça simbólica de aplicação de castigo. A coercitividade Consiste na capacidade da norma ética de projetar na mente dos agentes sociais o medo de suportar uma sanção ética. Nas sociedades ocidentais contemporâneas, o Direito costuma ser mais coercitivo do que a moral. A coerção é um elemento do sistema preventivo do controle social. MAIOR COATIVIDADE X MENOR COATIVIDADE A coatividade é a manifestação concreta da força que traduz a imposição efetiva de um castigo. O direito é mais coativo do que a moral, pois as sanções jurídicas costumam ser mais severas, implicando um maior constrangimento pessoal e patrimonial aos infratores. A coação é um elemento da dimensão repressiva do sistema de controle social. SANÇÃO ORGANIZADA X SANÇÃO DIFUSA A sanção jurídica apresenta natureza organizada, pois está pré-determinada, além de ser aplicada pelo Estado, após o devido processo legal. Ex. Aplicação de uma multa de trânsito. Por outro lado, a sanção moral apresenta natureza difusa, porque é aplicada de modo espontâneo e plural pela opinião pública. Ex. Reprovação social de um mentiroso. TEORIA DOS CICLOS ÉTICOS – RELAÇÃO DO DIREITO COM A MORAL Trata-se de concepção tradicional, seguindo a qual o direito seria o núcleo do mundo moral. Nesse sentido as normas morais e jurídicas disciplinariam sempre da mesma forma a conduta humana em sociedade. Essa visão foi predominante durante a idade antiga e idade média, sob a influência do jusnaturalismo (doutrina dos direitos naturais). Examinando-se criticamente tal visão, nós extraímos que, embora tenham mérito de reconhecer a aproximação do direito com a moral, ela não permite entender o funcionamento do direito como uma instância autônoma e independente do mundo moral. Ex. Nem sempre o direito e a moral estão em sintonia quando ocorre a libertação de um assassino. Um linchamento de um estuprador pode ser aceito moralmente, mas não é aceito para o Direito. Trata-se de uma visão positivista, segundo o qual o Direito e a Moral seriam esferas incomunicáveis. O jurista deveria aplicar o Direito com objetividade, sem levar em conta suas convicções subjetivas. Tal visão se tornou hegemônica durante a idade moderna até a segunda guerra mundial. Embora essa visão preserva a segurança jurídica, ela se revela perigosa, pois o afastamento dogmático do Direito pode resultar em profundas injustiças. Ex. O Holocauto nazista foi legal na Alemanha, os carrascos alegaram cumprir a lei. Trata-se de concepção pós-positivista, surgida após a segunda guerra mundial, como decorrência da reação às ofensas aos direitos humanos realizados pelos regimes totalitários. Apresentariam uma zona crescente de interseção e zonas autônomas de regulação do agir humano. Exemplos: A vida é um bem moral e é protegida pelo Direito (interseção); O linchamento de um criminoso é validado pela moral, mas não aceito pelo Direito (fora da zona de interseção); O reajuste dos salários dos deputados é validado pelo Direito, mas é repulsado pela moral. Examinando-se criticamente essa visão, pode-se dizer que, embora ela resgate a reaproximação zetética do Direito com a ideia de justiça, abre espaço para a indefinição dos limites da moral e do Direito, possibilitando um decisionismo judicial. ATRIBUTOS DAS NORMAS JURÍDICAS SISTEMA JURÍDICO SEGUNDO HANS-KELSEN (PIRÂMIDE NORMATIVA) 1. VALIDADE (formal e material) Entende-se por validade a adequação vertical de uma norma jurídica inferior em relação a uma norma jurídica superior, ou seja, a sua compatibilidade com as normas jurídicas superiores. Ex.: Um ato administrativo da administração pública é válido se tiver respaldo nas normas jurídicas superiores. Se houve a publicação de edital de um concurso público, sem que tenha havido reserva de vagas para pessoas com deficiências, este ato administrativo é nulo, pois há leis federais que disciplinam este assunto. É um conceito relacional que vale para qualquer ato normativo, ato administrativo, resoluções, leis, decretos, contratos, testamentos, sentenças judiciais etc. Todos tem que obedecer esta hierarquia, em que a Constituição é a norma maior, nada pode feri-la. Para a verificação da validade de uma norma jurídica, merece especial destaque a contribuição de Hans-Kelsen para o sistema jurídico, a pirâmide normativa. As normas jurídicas não estão isoladas, mas relacionadas. Se o Congresso Nacional aprovar uma lei que institua algum tipo de pena de morte, e esta for sancionada pela presidência República, mesmo assim ela seria uma lei sem validade, por desrespeitar a norma constitucional, que proíbe a pena de morte no Brasil. Neste caso, o judiciário se manifestará. Competência FORMAL Procedimento VALIDADE MATERIAL (Conteúdo) 1.1 VALIDADE FORMAL Diz respeito à compatibilidade da norma inferior com a forma prescrita pela norma jurídica superior, a qual estabelece o órgão que deve criar a norma inferior, competência e os ritos que devem ser observados para esta criação (procedimentos). O Direito é formalista. A norma superior estabelece a competência dos órgãos. Por exemplo, a Assembleia Legislativa não pode estabelecer penas criminais, que é de competência de leis federais (código penal). A norma superior também estabelece os procedimentos, ou seja, conjunto de ritos que devem ser obedecidos. 1.2 VALIDADE MATERIAL Diz respeito à compatibilidade do conteúdo de uma norma jurídica inferior com a superior. Um órgão pode ser competente e ter seguido todos os procedimentos legais para a aprovação de uma lei com conteúdo incompatível com a uma lei superior, esta lei aprovada será invalidada. 2. VIGÊNCIA (Determina e Indeterminada) Consiste no tempo de validade de uma norma jurídica. 2.1 VIGÊNCIA DETERMINADA Quando o tempo de validade da norma de vigência determinada é encerrado, ocorre o fenômeno normativo da caducidade (Ex. Contrato de trabalho por tempo determinado). 2.2 VIGÊNCIA INDETERMINADA Não estabelece o marco temporal de sua validade (Ex. A constituição de 1988). REVOGAÇÃO A Cessação da vigência indeterminada ocorre pelo fenômeno da revogação. Por exemplo, a substituição de uma norma jurídica por outra norma jurídica de igual ou superior hierarquia que trata do mesmo tema de modo diverso. Ex. O novo código civil atualizou a legislação sobre as sociedades comerciais, revogando normas que constam no código comercial. O código civil é de igual nível hierárquico em relação ao código comercial. Como o código comercial está em processo de atualização, certamente disciplinará as sociedades comerciais, revogando o que expressa o código civil, quando na sua promulgação. Revogação total Revogação parcial O novo diploma normativo altera globalmente o diploma normativo anterior. A nova norma jurídica altera apenas uma parcela do diploma normativo anterior. Ex.: Revogação total do antigo código de processo civil pelo novo código de processo civil. Ex.: Revogação parcial do código comercial pelo novo código civil, referente às sociedades comerciais. Revogação Expressa Revogação tácita O novo diploma normativoalcança textualmente o diploma normativo anterior, expressando de forma expressa sua revogação. É uma revogação não expressa, por incompatibilidade lógica. Há uma modificação do diploma normativo anterior, mas sem se referir a ela textualmente. Ex.: O código civil de 2002 revogou expressamente o código civil vigente até aquela data. Ex.: A lei de imprensa vigente até 1988 foi revogada pela Constituição de 1988, sem mencioná-la. INCIDÊNCIA Não se confunde vigência com incidência. Entende-se por incidência o nexo existente entre o momento de publicação da norma jurídica e o momento de início da vigência. Incidência imediata Incidência mediata (vacatio legis) Quando a norma jurídica iniciar a sua vigência na mesma data de sua publicação. Neste caso, as normas jurídicas anteriores são imediatamente revogadas. Quando a norma jurídica iniciar sua vigência após a data de publicação, prevendo um lapso temporal para que a sociedade se adapte a ela. Ex.: Uma possível aprovação da reforma da previdência, conforme a proposta inicial do governo. Esta proposta prevê vigência imediata após sua promulgação. Ex.: Prazo de um ano para entrada em vigor do novo código de processo civil. Durante prazo de “vacatio legis”, aplica-se a norma antiga. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO – LINDB Lei 4.657/1942 com redação da ementa dada pela Lei 12376/2010 (https://www.youtube.com/watch?v=SDKf7-sbJZI) (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm) Trata-se da antiga Lei de Introdução ao Código Civil – LICC. Serve como uma verdadeira “Leis das Leis”. É uma norma jurídica que visa regulamentar outras normas jurídicas, determinando seu modo de aplicação e entendimento no tempo e espaço. Embora seja anexa ao Código Civil, é autônoma e aplica-se a todos os ramos de direito, exceto se o tema for regulado de forma diversa na legislação específica. Estabelece critérios gerais para a produção, interpretação e aplicação de normas legislativas no Brasil. No caput e no § 1º de seu artigo 1º, diz: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada”. Ou seja, se a lei for omissa, será ela considerada como dotada de incidência, aplicando um prazo de “Vacacio Legis” de 45 dias para brasileiros em solo nacional e de 90 dias para brasileiros em solo estrangeiro. REPRISTINAÇÃO: Restauração dos efeitos jurídicos de uma norma que fora revogada no passado por conta da revogação de uma norma revogada. Trata-se da “ressurreição” de um diploma normativo cuja vigência havia cessado. Norma 2 Norma 3 Norma 1 Revoga Revoga Norma 1 Norma 2 Norma 1 é restaurada (repristinação tácita) No Brasil, Europa, Estados Unidos etc., a repristinação não pode ser tácita, mas apenas se a norma 3 expressamente indicar a restauração da norma 1. Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3º Salvo disposição em contrário, à lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido à vigência. LEI COMPLEMENTAR 95/1998 – REGULAMENTA ARTIGO 59 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DISPÕE SOBRE A ELABORAÇÃO, REDAÇÃO, ALTERAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS E ESTABELECE NORMAS PARA A CONSOLIDAÇÃO DOS ATOS NORMATIVOS QUE MENCIONA (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp95.htm) Lei complementar: É a lei criada para complementar as normas constitucionais. É uma norma que, no ordenamento jurídico brasileiro, possui posição hierárquica superior à lei ordinária e às demais normas, exceto a Constituição Federal. Basicamente, sua função é complementar a Constituição. É aprovada por maioria simples da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, ao passo que uma PEC depende de maioria absoluta. Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. § 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. § 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor depois de decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial’ Ou seja, a vigência de qualquer Lei brasileira será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação” para as Leis de pequena repercussão. O legislador pátrio sinaliza sua atual preferência em favor de uma determinação explícita do marco temporal de início de vigência e, pois, do eventual período de “vacatio legis”. O estabelecimento do prazo de “vacatio legis” decorre da própria presunção segundo o qual nenhum sujeito do direito por eximir-se de cumprir a lei e o ordenamento jurídico, alegando o desconhecimento do preceitos normativos. “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. 3. EFICÁCIA DESIGNA A POSSIBILIDADE CONCRETA DE PRODUÇÃO DE EFEITOS JURÍDICOS O problema da eficácia de uma norma é o problema de ser ou não ser seguida pelas pessoas a quem é dirigida (os chamados destinatários da norma jurídica), e, no caso de violação, ser imposta por meios coercitivos pela autoridade que a evocou. EFICÁCIA TÉCNICO-JURÍDICA (APLICABILIDADE) Verifica-se quando uma norma jurídica dispõe das condições normativas necessárias para a produção dos seus efeitos no universo jurídico, não dependendo sua eficácia da elaboração de uma posterior norma jurídica. O artigo 13º da Constituição Federal estabelece que a língua portuguesa seja o idioma oficial da República Federativa do Brasil. Tal preceito não depende de outras normas para sua plena aplicabilidade. Por outro lado, O artigo 153, VII, da Carta Magna, estabelece que compete a União instituir impostos sobre grandes fortunas, nos termos da lei complementar. Como essa lei complementar ainda não existe, este preceito constitucional jamais se tornou aplicável. Se a Norma 1 depende da Norma 2, ela não é autoaplicável. Se a Norma 1 não depende da Norma 2, ela é autoaplicável. EFICÁCIA SOCIAL (EFETIVIDADE) Atributo normativo que assinala a correspondência da norma jurídica com a realidade circundante, designando a compatibilidade jurídica dos modelos normativos com os fatos sociais. A norma é efetiva quando seus preceitos são observados pelos agentes sociais no mundo real (adequação fática da norma jurídica). O Jogo do bicho é uma contravenção penal, mas é livremente praticado no Brasil, sem que os contraventores sofram qualquer sanção do Estado. Nesse caso, a eficácia social ou efetividade do diploma legislativo resta seriamente comprometida. 4. LEGITIMIDADE Consiste na adequação valorativa de uma normajurídica com a ideia de justiça, presente num dado contexto histórico-cultural. É o atributo normativo que designa a correlação da norma jurídica com o valor socialmente aceito como justiça. A norma jurídica é considerada legítima, quando a maioria da sociedade a considera justa, em dadas circunstâncias histórico-cultural. Embora legitimidade e efetividade sejam atributos próximos, a verdade é que nem sempre uma norma jurídica é ao mesmo tempo legítima e efetiva (a legislação do Imposto de Renda, por exemplo). O desafio é convergir o mundo ideal (plano do dever ser) e o mundo real (plano do ser). Direito e justiça são termos que costumam estar profundamente associados, devida à busca incessante pelo que é justo, seja na conduta individual ou da organização coletiva da vida em sociedade. O direito justo é, portanto, o sinônimo de direito legítimo, espelhando, em certo ambiente histórico-cultural, os valores tendentes à concretização do valor do justo em uma dada comunidade. Norberto Bobbio: O problema se a norma é justa ou não é um aspecto do contraste entre o mundo ideal e o mundo real, entre o que deve ser e o que é. A norma justa é aquela que deve ser a norma injusta é aquela que não deveria ser. Orlando Gomes: A ideia de justiça não pode ser um conceito inflexível. O justo não raro se transforma em injusto e vice-versa. A evolução jurídico-social dos povos conhece inúmeras mudanças dessa natureza. Miguel Reale: O direito, enquanto experiência ética de harmonização dos comportamentos humanos é concebido como uma atualização crescente de justiça, mediante a realização de valores. Todo direito deve ser, portanto, uma tentativa de direito justo, o que evidencia a dimensão do valor e o sentido humanístico da vida jurídica. Tércio Sampaio: A indissociabilidade entre direito e justiça se afigura tão evidente que nenhum homem pode sobreviver em uma situação em que a justiça, enquanto sentido unificador de seu universo moral, restar destruída, pois a carência de sentido do justo torna a vida insuportável. João Maurício Adeodato: O direito positivo realiza a justiça na medida em que corresponde à intuição dos valores levada a efeito pela comunidade como um todo, processando tal correspondência por intermédio da institucionalização de bens jurídicos, isto é, de situações (hipóteses) e de alternativas de comportamento consideradas justas (prestações). Aulis Aarnio: Critica a exclusividade da concepção da validade formal. A norma jurídica deixa de ser cumprida quando não responde ao sistema de valores geralmente aceito, mesmo que a norma seja formalmente válida. Ao longo da evolução do pensamento jurisfilosófico, o problema da legitimidade de um direito justo e as variações sobre a justiça foram vislumbrados de duas formas: Busca de uma estrutura universal e racional que legitima o direito e o reconhece como legítimo. Encontra sua expressão mais emblemática no jusnaturalismo, ao oferecer o direito natural como a fórmula perene e imutável de justiça, subordinando a validade à legitimidade da ordem jurídica. Constatação de que a consideração de um direito legítimo repousa em um sentimento subjetivo, irracional e, portanto, incognoscível. Procura por um direito justo em um sentimento subjetivo e arbitrário, costuma ser o caminho percorrido pelas variadas manifestações de positivismo jurídico, ao rejeitar o debate racional sobre a justiça, subordinando o problema da legitimidade à validade normativa. Com o ressurgimento das teorizações sobre a justiça, na segunda metade do século XX, a filosofia do direito, por meio da consolidação de um paradigma pós-positivista, passou a formular novas propostas de compreensão do significado de um direito justo, buscando compatibilizar as exigências de validade e legitimidade da ordem jurídica. 5. VIGOR VIGOR VIGÊNCIA É a qualidade da lei em produzir efeitos jurídicos, ainda que a lei tenha sido revogada. Por exemplo, o Código Civil de 1916 está revogado, mas ele ainda tem vigor porque produz efeitos. É o tempo em que a lei existe, é válida e produz efeitos. O Código Civil de 1916 não é mais vigente, mas está em vigor. Exemplo: 2001 2003 2004 CPC anterior vigente Início vigência novo CPC de 2002 Sentença judicial Duas partes celebram um contrato com base no CPC vigente. Entram em discórdia e disputa judicial. O processo tramita na justiça, período em que entra em vigência o novo CPC. O juiz vai considerar o CPC vigente na época de assinatura do contrato. O antigo CPC não está mais vigente, mas está em vigor neste caso. Entende-se por vigor a força vinculante da norma jurídica, implicando impossibilidade de os sujeitos do direito subtraírem-se ao império dos seus efeitos jurídicos. Esse atributo traduz o princípio geral do direito, segundo o qual, o tempo rege o ato (“tempus regit actum”), que decorre de um princípio de maior generalidade, a segurança jurídica. No Brasil, a sistemática geral do vigor comporta algumas importantes exceções, sendo as mais conhecidas no direito penal e trabalhista, aplicando-se as normas que trazem mais benefícios ao réu ou ao trabalhador, mesmo que não vigentes na época. A norma retroage para favorecer o réu ou o trabalhador. FONTES DO DIREITO São as diversas fontes (no sentido similar a uma nascente de água) de manifestação da normatividade jurídica que se formam a partir da realidade social. O estudo das fontes do direito nos remete à origem ou gênese do fenômeno jurídico (investigação zetética, ou seja, além das normas). Angel Latorre: Uma das tarefas fundamentais do jurista é determinar o que é o direito em cada caso concreto, quais as normas que são jurídicas e quais não são. Aplicar os critérios que cada sistema jurídico estabelece para fixar como se produzem as normas jurídicas e como podem ser conhecidas. Essas maneiras de as normas jurídicas se manifestarem são chamadas fontes do direito. Tipos de fontes do direito Fontes materiais – Elementos econômicos, políticos e ideológicos que interferem no processo de criação do direito. A realidade social fornece a matéria prima da criação do direito, por ser o direito um produto da Para os pluralistas, o direito estatal convive com o direito não estatal, de forma harmônica ou conflituosa. O pluralismo tornou-se o modelo dominante no ocidente pós-guerra, principalmente em decorrência da queda dos regimes totalitários, a crise no direito positivo e reconhecimento do pluralismo cultural, social e jurídico. Um exemplo de conflito entre o direito não estatal e o estatal: Povos indígenas que praticam infanticídio em crianças com deficiências físicas ou mentais, por força de uma cultura pré-existente. sociedade. Exemplo: Uma crise econômica gera a necessidade de alteração de normas que regem as relações econômicas. Maria Helena Diniz: As fontes materiais são os elementos econômicos, políticos e ideológicos que perfazem a realidade social, interferindo na produção, interpretação e aplicação na normatividade jurídica. As fontes materiais não são o direito positivo, mas o conjunto de valores e de circunstâncias sociais que, constituindo o antecedendo natural do direito, contribuem para a formação dos conteúdos das normas jurídicas. Fontes formais – As normas jurídicas propriamente ditas. Miguel Reale: As referidas fontes jurídicas designam os processo ou meios em virtude dos quais as normas jurídicas se positivam com força obrigatória, implicando a existência de uma estrutura de poder, pois a gênese de qualquer espécie de normatividade jurídica só ocorre em virtude da interferência de um centro estatal ou social de poder. Estatais – Quando oriunda do Estado Legislação Jurisprudência Não estatais – Criadasfora dos limites do Estado, através de grupos e instituições sociais. Costume jurídico Doutrina Negócio Jurídico Poder normativos dos grupos sociais FONTES FORMAIS ESTATAIS 1. Legislação (“Civil Law”) Conjunto de normas escritas, abstratas e genéricas que se originam predominantemente de um parlamento, para regular a vida social. A lei é a principal fonte do direito dos chamados sistemas de “civil law” (tradição romano-germânico). A Europa Continental e os países colonizados por elas a tem como fonte principal. O diploma normativo é: Escrito: corporificada num texto Primário: Tem fundamento na constituição Genérico: se destina a toda comunidade jurídica, regulando o amplo conjunto de relações sociais. Abstrato: por não disciplinar uma situação jurídica concreta Complexa: Exige a fusão das vontades do Poder Legislativo e do Poder Executivo para produzir efeitos Predominantemente as leis vêm de um parlamento, mas o Executivo também tem atos com força de lei, principalmente em tempos de crise. No que se refere ao procedimento legislativo ordinário, temos três etapas no chamado processo legislativo: Introdutória – iniciativa para propositura do projeto de lei (Artigo 61 da Constituição Federal) o Parlamentar (membros do Congresso Nacional) o Extraparlamentar (Presidente, Tribunais Superiores, Procurador Geral da República e Cidadãos. Constitutiva – deliberação parlamentar e executiva Complementar – Promulgação e publicação da lei. Atestado de existência válida da lei e de sua executividade. Dá-se o conhecimento à coletividade da existência da lei. O presidente deve verificar se a lei foi regulamente elaborada. Organograma do procedimento legislativo ordinário No caso do procedimento legislativo sumário, existe o fato em que o Congresso Nacional deve deliberar sobre determinado assunto, procedimento especial que se destina a elaboração de leis complementares, lei delegadas (Art. 68 da CF), medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções e leis financeiras. O projeto, procedente do Presidente da República, mesmo de assuntos de atribuição não reservada, tramita em regime de urgência, ingressa pela Câmara dos Deputados, que tem 45 dias para aprová-la ou rejeitá-la. Aprovada, a lei vai ao Senado, que tem 45 dias para aprovar, rejeitar ou apresentar emendas. Os prazos não correm no período de recesso. Espécies normativas que integram, no plano federal, o conceito de legislação: Emendas Constitucionais (art. 60 da CF) – Necessita de maioria absoluta do Congresso e é promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Pode ser proposto por: o Um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; o Presidente da República; o Mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Lei Complementar (Art. 59 e 69 da CF) – Regulamenta dispositivos constitucionais, conforme previsto na CF. Necessita de maioria absoluta. Leis ordinárias (Art. 85 da CF) - A constituição nomeia de “lei”. Maioria simples do Congresso Nacional. Leis delegadas (Art. 68 da CF) – Transferência de competência do Legislativo para o Executivo, a pedido do Presidente, em matérias que não sejam privativas do Congresso Nacional, com delimitação, prazo, poder de revoga do Congresso e exame posterior dos atos pelo Congresso. A lei ordinária e delegada tem o mesmo nível hierárquico. Necessita de maioria simples. Medidas provisórias (Art. 62 da CF). É um instrumento com força de lei, adotado pelo presidente da República, em alguns assuntos e em casos de relevância e urgência. Produz efeitos imediatos, mas depende de aprovação do Congresso Nacional para transformação definitiva em lei. Seu prazo de vigência é de sessenta dias, prorrogáveis uma vez por igual período. Se não for aprovada no prazo de 45 dias, contados da sua publicação, a MP tranca a pauta de votações da Casa em que se encontrar (Câmara ou Senado) até que seja votada. Neste caso, a Câmara só pode votar alguns tipos de proposição em sessão extraordinária. Não pode ser reedita na mesma sessão legislativa, sob pena de crime de responsabilidade. A MP torna sem vigência leis contrárias, mas se for rejeitada, essas leis voltam à vigência. Decreto Legislativo (Art. 49 da CF) – Espécie normativa utilizada nas hipóteses de competência exclusiva do Congresso Nacional. Resolução (Art. 51 e 52 da CF) – Normativas de Competências do Congresso, previsto em regimento interno. 2. Jurisprudência (“Common Law”) Trata-se da reiteração de decisões judiciais no mesmo sentido, formando o padrão de interpretação capaz de inspirar futuros julgamentos. É a principal fonte de direito dos sistemas de inspiração anglo-americana. O precedente judicial desempenha relevante papel nos regimes anglo-americanos de commow low, onde casos idênticos são julgados da mesma forma pelo poder judiciário, evitando-se decisões contraditórias que instalam a insegurança jurídica. Contudo vem ganhando prestígio no mundo que vive o “civil law”, inclusive no Brasil (comonização do direito brasileiro). As sociedades contemporâneas parecem não se submeter a ser um mero aplicador mecânico e neutro das regras emanadas pelo legislador, como diz a doutrina positivista. A jurisprudência é considerada uma fonte importante porque ela consegue atualizar o direito, adaptando mais facilmente a norma jurídica com a realidade social. Por ser o direito a última instância de regulação social, ele precisa estar conectado com as mudanças sociais, para não se tornar vulnerável. O legislador não consegue acompanhar a dinâmica social tempestivamente, cabendo à jurisprudência cobrir esta lacuna. No âmbito do atual sistema jurídico brasileiro, a jurisprudência despondo como genuína fonte jurídica, suplementando e aperfeiçoando a própria legislação. O Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105 de 16/03/2015) valoriza ainda mais a construção jurisprudencial do Direito. O Artigo 926 regula esta construção e os artigos 927 e 928 disciplinam a utilização desses enunciados. Art. 926 Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. § 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante. § 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação. Súmulas: Depois de reiteradas decisões no mesmo sentido, os tribunais podem editar súmulas, enunciados que sintetizam o entendimento pacificado no tribunal sobre dado tema. Persuasivas: Não obrigatórias. Qualquer tribunal pode cria-las. Vinculantes: Obrigatórias. Devem ser acatadas por toda a estrutura do Poder Judiciário e administração pública (Somente STF pode cria-las). Tem efeito imediato, mas o STF pode excepcionar início de efeito. A decisão judicial ou ato administrativo que contrariar a súmula, permite à parte prejudicada reclamação direta ao STF, sem prejuízo de outros recursos para sua impugnação. No Brasil, qualquer tribunal pode criar súmulas persuasivas, mas somente o STF pode criar súmulas vinculantes (emenda 45/2004). Essas súmulas podem ser alteradas ou canceladas com os seguintes critérios: Precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese, ou Modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica, ou Necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, daproteção à confiança e da isonomia. Os tribunais darão divulgação. Necessário dois terços do STF. São legítimos para propor alteração em súmulas vinculantes: Presidente da República Mesa do Senado, da Câmara dos Deputados e das Assembleias Legislativas. Conselho Federal da OAB Defensor Público-Geral da União Partidos políticos com representação no Congresso Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional Governadores Tribunais Superiores e Regionais. O Município pode propor, incidentalmente ao curso de processo em que seja parte. Em Favor da súmula vinculante Contra a súmula vinculante Favorece os princípios da celeridade processual, efetividade do processo, da segurança jurídica e da isonomia decisória. Viola princípios do devido processo legal, do duplo grau de jurisdição, do contraditório, da ampla defesa, do livre convencimento do juiz e separação de poderes. Sujeição à interferência do executivo, por sua força, no STF. FONTES FORMAIS NÃO ESTATAIS 1. DOUTRINA (deriva do latim doctrina, que decorre do verbo docere, lecionar ou ensinar) A doutrina é o conjunto de obras, estudos e pareceres dos grandes estudiosos do Direito que exprime a produção intelectual do conhecimento jurídico, indiretamente pode ser considerada uma fonte jurídica não estatal, por influenciar a criação de leis de decisões judiciais e demais fontes do Direito. Maria Helena Diniz: A doutrina defluiu da atividade científico-jurídica, vale dizer, dos estudos realizados pelos juristas, na análise e sistematização das normas jurídicas, na elaboração das definições dos conceitos jurídicos, na interpretação das leis, facilitando e orientando a tarefa de aplicar o direito, e na apreciação da legitimidade da ordem normativa, adequando-se aos fins que o direito deve perseguir, emitindo juízos de valor sobre o conteúdo do direito positivo, apontando as necessidades e oportunidades de reformas jurídicas. Alguns autores não consideram a doutrina como fonte do direito, por carecer de força vinculante e obrigatória na disciplina do comportamento humano, mas a doutrina cada vez mais contribui para a evolução dos sistemas jurídicos contemporâneos, facilitando a tarefa de criação, interpretação e aplicação do direito, exercendo também uma relevante função crítica, ao propor a reforma das instituições jurídicas. 2. COSTUME JURÍDICO Trata-se do conjunto de práticas sociais repetidas que criam normas jurídicas, não escritas, que regulam bilateralmente direito e deveres jurídicos dentre os diversos ramos jurídicos. Os costumes se revelam mais presentes no direito internacional, do trabalho e no direito comercial (Ex. Cheque pré-datado). Os costumes jurídicos não apresenta forma escrita (jus non scriptum). Nascem espontaneamente no campo da moralidade social, adquirindo gradativamente uma natureza jurídica. Não basta que um dado comportamento seja efetivamente seguido por um grupo social para que se torne um costume jurídico, é necessário que ele receba uma forma jurídica. Segundo Sílvio Venosa, os requisitos para que o costume jurídico se converta em fonte do direito são de: Ordem objetiva (corpus): Uso continuado, percepção tangível a conduta humana. Ordem subjetiva (animus): Traduz a consciência coletiva da obrigatoriedade jurídica da prática social (opinio iuris vel necessitatis). O costume é a mais antiga fonte de direito. Durante a Idade Média, como decorrência da descentralização do poder, tornou-se altamente relevante. O contraste entre direito costumeiro e o direito estatal foi expresso pelas codificações dos séculos XVIII e XIX, por meio das quais o chamado direito comum foi absorvido pelo direito estatal. Contudo, nos povos anglo-saxões, sobretudo EUA e Inglaterra, o direito revela-se muito mais nos costumes e pela jurisprudência do que pela produção de legislativa dos parlamentos. No tocante às fontes legislativas, os costumes podem ser : Costume secundum legem: Determina a utilização de uma norma jurídica que será extraída dos costumes do local em que o fato ocorre para nortear o comportamento ou o julgamento. Ex. O inciso II do art. 569 do CC indica que caso o locador e o locatário não ajustem um prazo para pagamento do aluguel, esse prazo será determinado pelos costumes do local. Praeter legem: Trata-se daquele comportamento costumeiro que não é previsto pela lei. A situação não é proibida. Quando se trata de uma relação de direito privado, por não ser proibida, é genericamente permitida. Assim, esse costume não viola a lei, embora ela não faça referência direta a ele. O juiz pode recorrer aos costumes e extrair deles a norma jurídica que utilizará para criar a sentença. Contra legem: Trata-se daquele comportamento continuado que contraria a lei. O juiz deve ignorá-lo e aplicar a norma jurídica legal, buscando, inclusive, modificar o costume. Por vezes, a lei pode ser socialmente ineficaz, sendo desrespeitada não apenas pela população, mas também pelas autoridades estatais. Nesse caso, o comportamento costumeiro pode ser considerado fonte do direito. Quando um costume prevalece ante o texto de uma lei, podemos afirmar que esta está em “desuso” ou tornou-se “letra morta”. Ex. O cheque pré-datado. 3. NEGÓCIO JURÍDICO Fonte formal e não estatal, onde há manifestações unilaterais ou bilaterais de vontades escritas ou não escritas que produzem consequências jurídicas, ao estabelecer bilateralmente direitos e deveres. São as principais fontes do chamado direito privado, ou seja, o direto criado no âmbito das relações entre os particulares, tais como os testamentos e contratos. O negócio jurídico expressa um autorregulamentação da vontade dos interesses particulares, que se origina pelo reconhecimento do sistema jurídico, da autonomia privada dos sujeitos do direito, nada impedindo que as partes estabeleçam estruturas negociais atípicas. 4. PODER NORMATIVO DOS GRUPOS SOCIAIS Consiste na prerrogativa conferida pela ordem jurídica às instituições, para que as mesmas criem os seus próprios micros ordenamentos jurídicos, que cuidarão de suas organizações internas e suas relações com outros sujeitos do direito. Contudo, tais ordenamentos não podem contrariar o sistema jurídico geral posto pelo estado. Ex. Regulamentos das empresas e as convenções de condomínio.
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