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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS DESDOBRAMENTO DA FUNÇÃO QUALIDADE APLICAÇÃO DO MÉTODO QFD NO DESENVOLVIMENTO DE EMPADA DE QUEIJO EM UMA INDÚSTRIA DE PEQUENO PORTE Grupo: Aline Aguiar Santos Cazarim Ana Cecília Guimarães Franciele Garcia da Silva Giovanna Antoniazzi Moura Professor Lin Chih Cheng Belo Horizonte 2017 Sumário 1. Introdução 2. Dados da empresa 3. Dados de mercado 4. Metodologia 4.1. Coleta de dados a. Questionário Online; b. Teste Cego; c. Entrevistas abertas 4.2. Análise dos dados 5. Resultados 5.1. Qualidade Exigida 5.2. Qualidade Exigida e Planejada 5.3. Diagrama de Kano 5.4. Análise Pareto 5.5. Características da Qualidade 5.6. Matriz da Qualidade 5.7. Modelo Conceitual 5.8. Fluxograma do Processo Produtivo 5.9. Análise Crítica dos Processos 5.10. Padrão Técnico de Produção (PTP) 6. Considerações Finais REFERÊNCIAS APÊNDICE A - Formulário Teste Cego 1. Introdução Este trabalho tem como objetivo apresentar uma aplicação do método Desdobramento da Função Qualidade (QFD) em uma indústria do setor alimentício, auxiliando no desenvolvimento de um novo produto: empadas de queijo congeladas. Especificamente, pretendeu-se, durante todo o processo de desenvolvimento do novo produto buscar, traduzir e transmitir as necessidades do cliente, além de assegurar a qualidade do produto desenvolvido. A demanda do produto a ser desenvolvido surgiu por parte da empresa que identificou uma lacuna de mercado e decidiu incluir a empada de queijo em seu portfólio de produtos. A estrutura do trabalho consiste na caracterização da empresa, seguida pela caracterização do mercado e metodologia. Posteriormente os resultados das atividades executadas ao longo do projeto são apresentados. Por fim, as considerações finais são explicitadas. 2. Caracterização da Empresa Localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, a empresa estudada conta com um total de 25 funcionários, sendo classificada como de pequeno porte. A empresa foi fundada em 2006 e produz salgados fritos e assados (vendidos congelados) e crus. O portfólio de produtos pode ser dividido em dois canais de vendas: Food Service e Varejo. Sua atuação é concentrada em Minas Gerais e Distrito Federal. A tabela 1 resume as principais características da empresa estudada. Tabela 1 - Caracterização da Empresa Fonte: Elaboração própria. 3. Dados de Mercado Durante o trabalho foi realizada uma breve pesquisa de mercado com o objetivo de ter um panorama geral do setor no Brasil. Segundo a ABIA (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, em Janeiro de 2017, o setor de alimentação registrou crescimento acumulado do faturamento de 9,35% em relação aos últimos 12 meses. Além disso, dados da consultoria Euromonitor indicam que a venda de pratos prontos congelados terá crescimento de 85,4% entre 2013 e 2019. Dessa forma, foi percebido uma oportunidade de mercado, como mostram as taxas de crescimento acumulado do faturamento e venda de pratos prontos congelados. 4. Metodologia A fim de alcançar os objetivos propostos, as atividades do grupo foram guiadas pelo livro “Desdobramento da Função Qualidade na Gestão de Desenvolvimento de Produtos” (CHENG; FILHO, 2007). O grupo também realizou 4 encontros presenciais de aproximadamente uma hora de duração para discussão dos dados e elaboração das tabelas e matrizes. 4.1. Coleta de Dados A coleta de dados ocorreu através de diversas etapas, conforme a evolução das atividades. Inicialmente foi realizado um questionário online. Posteriormente foram realizados dois testes cegos. Além disso, durante toda a execução do trabalho, também aconteceram frequentes validações e revisões do conteúdo produzido pelo grupo. Tais validações foram feitas através de entrevistas abertas realizadas com os trabalhadores sobre os processos produtivos da empresa. A seguir, cada uma das ferramentas de coletas de dados serão detalhadas. a. Questionário online: Teve como objetivo principal verificar a existência de uma oportunidade de mercado e identificação do segmento de mercado. Além disso, abordou as características de uma empada de queijo “ideal”, de forma a auxiliar no processo de desenvolvimento do produto, fornecendo uma base para as atividades seguintes. O questionário foi aberto e divulgado nas redes sociais a fim de obter maior alcance. Dessa forma, foram obtidas 145 respostas. Os dados foram analisados e serviram como base para a elaboração da Tabela de Qualidade Exigida (Tabela 1). b. Testes Cegos:/ O primeiro teste cego teve seis participantes, sendo que 83% pertenciam ao público alvo. Três marcas foram testadas: o protótipo da empresa e mais outros dois concorrentes de empadas com características artesanais. Foram utilizadas devido a dificuldade do grupo em encontrar concorrentes diretos. Contudo, esse primeiro teste apresentou uma inadequação na definição dos graus de importância dos itens de qualidade exigida. Por causa disso, foi realizado um segundo teste cego com 8 participantes (75% pertenciam ao público alvo). Como no teste anterior três marcas foram testadas, porém foi encontrado um concorrente similar (empada de queijo congelada). c. Entrevistas abertas: A integrante do grupo que faz estágio na empresa realizou constantes entrevistas durante o semestre com os operadores da fábrica para validar as informações obtidas pelo grupo bem como para obter informações do processo para preenchimento e revisão das matrizes. Para isso, observaram-se as atividades dos operadores e, em seguida, realizaram-se confrontações, para obtenção dos esclarecimentos necessários. 4.2. Análise dos dados a. A partir dos dados gerados pelo questionário online foram feitos gráficos circulares (ou gráficos de pizza) de forma a facilitar as inferências; b. Durante a análise dos dados produzidos nos testes cegos, elaborou-se histogramas para avaliar o grau de importância dos itens de qualidade exigida. Eles foram avaliados em um grau de importância de 1 a 5, no qual 1 significa pouco importante e 5, muito importante. Foi calculada a moda dessa amostra a fim de atribuir o grau de importância para cada item. Para definir o desempenho de cada marca nos itens de qualidades exigidas, também se calculou a moda além da variância das notas, que auxiliaram no tolerância estipulada na qualidade projetada (ver Figura X). A partir desses dados, foi estabelecida a Qualidade Planejada e a Qualidade Projetada. c. As informações obtidas por meio das entrevistas abertas foram discutidas pelo grupo durante a elaboração das demais matrizes do modelo conceitual. 5. Resultados A seguir serão apresentados os resultados das atividades desenvolvidas pelo grupo ao longodo trabalho. 5.1. Tabela de Qualidade Exigida Conforme descrito na metodologia, através da análise das respostas do questionário online e das pesquisas sobre o mercado de empadas congeladas, construiu-se a Tabela da Qualidade Exigida mostrada na tabela 2. Tabela 2 - Qualidade Exigida Fonte: Elaboração própria. 5.2. Tabela da Qualidade Exigida e Planejada Como mencionado anteriormente, a partir dos resultados do teste cego, foi estabelecida a Qualidade Planejada, conforme a tabela 3. Os valores mostrados nas colunas Nossa Empresa, Empada de Minas e Empada.com são a moda dos resultados do teste. O Plano de Qualidade foi estabelecido comparando-se a situação atual da empresa com os concorrentes, levando em consideração o grau de importância de cada item exigido. O Índice de Melhoria é calculado dividindo-se o plano de qualidade pela Nossa Empresa. Para o Argumento de Venda, foram utilizados valores de 1,5, 1,2 e 1, sendo aqueles que têm maior valor considerados os itens de maior argumento de venda. O peso absoluto foi calculado multiplicando-se o grau de importância, o índice de melhoria e o argumento de venda. Por último, o peso relativo foi calculado dividindo-se o peso absoluto do item pela soma de todos os pesos absolutos. Tabela 3 - Tabela da Qualidade Exigida e Planejada Fonte: Elaboração própria. Os itens destacados em vermelho são considerados qualidades compulsórias, ou seja, indispensáveis no produto. Os itens em amarelo representam as qualidades lineares, isto é, quando estão presentes geram satisfação no cliente, caso contrário geram insatisfação. Os itens em verde são classificados como qualidades atrativas. 5.3. Diagrama de Kano Para representar a análise da classificação das qualidades atrativas, compulsórias e lineares, foi elaborado o Diagrama de Kano, de acordo com a figura 1. Figura 1 - Diagrama de Kano Fonte: Elaboração própria. 5.4. Gráfico de Pareto Foi elaborado ainda o Gráfico de Pareto como mostra a figura 2, relativo aos pesos relativos da qualidade planejada, verificando-se os itens a serem priorizados. Figura 2 - Gráfico de Pareto da Qualidade Planejada Fonte: Elaboração própria. 5.5. Tabela de Características da Qualidade Tabela 4 - Características da Qualidade Fonte: Elaboração própria. 5.6. Matriz da Qualidade A construção da matriz visou identificar as relações de causa-efeito entre os itens da qualidade exigida e os itens das características da qualidade além de possibilitar a priorização das características da qualidade em função das necessidades dos consumidores. Dessa forma, para sua construção, inicialmente montou-se a estrutura da matriz (qualidades exigidas nas linhas e características da qualidade nas colunas). Feito isso, partiu-se para a etapa de definição das intensidades das correlações: 9 para correlações fortes; 3 para médias; 1 para fracas e espaço vazio para ausência de correlações. Posteriormente, definiu-se o critério para definição das correlações, que no caso foi a pergunta “Como as características da qualidade afetam as qualidades exigidas?”. Em função do critério, o preenchimento da matriz foi feito por coluna, de cima para baixo, da esquerda para a direita. Para definir a qualidade projeta, calculou-se os valores médios e a variabilidade das notas de cada empresa para cada característica da qualidade (através das intensidades das correlações). Por fim, para definir as metas de desempenho os seguintes aspectos foram considerados: comportamento das características da qualidade (ex: quanto maior melhor); da sua importância estratégica e do desempenho atual da Degust. Figura 3 - Matriz da Qualidade Fonte: Elaboração própria. A priorização da Qualidade Projetada foi feita através do Gráfico de Pareto (Figura 4) que mostra os itens da Característica da Qualidade do Produto Final mais relevantes para a produção. Figura 4 - Gráfico de Pareto da Qualidade Projetada Fonte: Elaboração própria. 5.7. Modelo Conceitual Foi elaborado um Modelo Conceitual sintetizado para demonstrar o processo pelo qual o desenvolvimento do projeto deve passar, visando atingir os objetivos estabelecidos. A construção do modelo considerou o objetivo do projeto, ou seja, “ desenvolver um produto que satisfaça as expectativas do cliente”. Tendo em vista esse objetivo, montou-se um esquema do fluxo produtivo no sentido inverso. Ao analisar o processo produtivo no sentido inverso, definiu-se o conjunto de itens que deveriam ser projetados para atendimento das necessidades dos clientes (Características da Qualidade da Matéria-Prima, Características dos Produtos Intermediários, Características do Produto Final, Processos de Fabricação; Processos de Fabricação da Massa e do Recheio). Para a definição da estruturas das matrizes (linhas x colunas) foi feita uma análise causa-e-efeito, seguindo o fluxo inverso do processo. As matrizes definidas foram : ● QE x CQPF - Qualidade Exigida vs. Característica da Qualidade do Produto Final; ● PRP x CQPF - Características do Processo vs. Característica da Qualidade do Produto Final; ● PRmr x CQPF - Processo de Fabricação da massa e recheio vs. Característica da Qualidade do Produto Final; ● PRmr x CQPI - Processo de Fabricação da massa e recheio vs. Característica da Qualidade do Produto Intermediário; ● PRmr x CQMP - Processo de Fabricação (massa e recheio) vs. Característica da Qualidade da Matéria Prima; ● CQMP x CQPF (Matriz Auxiliar) - Característica da Qualidade da Matéria Prima vs. Característica da Qualidade do Produto Final. A seguir, um esquema do modelo conceitual apresenta as matrizes construídas: Figura 5 - Modelo Conceitual Fonte: Elaboração própria. O preenchimento das matrizes foi realizado em grupo, com base no aprendizado do processo. Após essa etapa, a integrante que estagia na empresa, validou, revisou e corrigiu o preenchimento da tabela, com base em entrevistas com operadores experientes da produção e a com a engenheira de alimentos contratada recentemente. Para priorizar os fatores contribuintes em função das exigências dos clientes, procurou-se realizar uma priorização realizada em cascata por meio das relações de efeito e causa. Dessa forma, a transmissão das importâncias relativas foi feita do seguinte modo: a partir dos pesos relativos dos itens da tabela da qualidade exigida (Qualidade Planejada) obtiveram-se os pesos absolutos das Características da Qualidade, dada as correlações definidas durante o preenchimento da Matriz da Qualidade. A partir desses pesos absolutos, calculou-se os pesos relativos (Qualidade Projetada). Esses pesos relativos juntamente com os pesos absolutos das Características da Qualidade são “transportados” para a matriz seguinte. Feito isso, os demais pesos relativos e absolutos das demaismatrizes foram elaborados num processo análogo a esse explicado. Figura 6 - Matriz QE x CQPF Fonte: Elaboração própria. Figura 7 - Matriz PRP x CQPF Fonte: Elaboração própria Figura 8 - Matriz PRmr x CQPF Fonte: Elaboração própria Figura 9 - Matriz PRmr x CQPI Fonte: Elaboração própria Figura 10 - Matriz PRmr x CQMP Fonte: Elaboração própria Figura 11 - Matriz Auxiliar CQMP x CQPF Fonte: Elaboração própria 5.8. Fluxograma do Processo Produtivo Com o intuito de compreender de forma clara e objetiva o processo produtivo da empada congelada, foi elaborado o fluxograma atual apresentado a seguir (Figura 7): Figura 7 - Fluxograma do Processo Produtivo Atual Fonte: Elaboração própria. Ressalta-se que o fluxograma foi baseado na produção de empadas de frango, que ocorre atualmente na empresa. Para a produção da empada de queijo congelada, sugerem-se algumas modificações que são viáveis para os dois tipos de empada e poderiam trazer melhorias significativas sobre os parâmetros de controle e tempo de produção. O fluxograma proposto é apresentado na Figura 8 a seguir: Figura 8 - Fluxograma do Processo Produtivo Proposto Fonte: Elaboração própria. 5.9. Análise dos Processos Críticos Com o objetivo de identificar os pontos críticos do processo e adequá-los às especificações do produto final, foi realizado uma análise dos principais processos e operações da linha de produção. Para a realização da análise, consultou-se o fluxograma do processo (figura X) e trabalhadores da produção, através do contato da integrante do grupo que estagia na empresa. Inicialmente, procurou-se apontar os processos mais importantes na formação do produto final. Esses processos foram encontrados a partir da identificação das falhas que mais geram descarte de algum produto intermediário (massa ou recheio) ou produto final. Após a determinação dos processos críticos, levantou-se os possíveis modos de falhas a eles relacionados. Nessa etapa, é necessário ressaltar que os modos de falha, efeitos, causas e ações preventivas foram determinados com base na atual produção de empada de frango e no que se espera da produção de empadas de queijo. Isso acontece porque ainda não foram produzidas empadas de queijo em escala, de forma a identificar as falhas, efeitos e causas específicos da empada de queijo. Além disso, não foi possível determinar o Cpk (Índice de Capacidade dos Processos) já que na empresa não existe controle estatístico de processos, e por isso a coluna referente a esse item foi retirada da tabela. A Tabela 5 a seguir apresenta a análise dos processos críticos realizada. Tabela 5 - Tabela de Análise de Processos Críticos Fonte: Elaboração própria. 5.10. Padrão Técnico de Processo (PTP) Baseando-se na análise de processos críticos e no fluxograma do processo produtivo, elaborou-se uma versão inicial do Padrão Técnico de Processo (Figura 9), cujo objetivo principal é controlar os processos produtivos diretamente no chão de fábrica. A aplicação ideal do método propõe que o PTP envolva todo o processo produtivo, no entanto, por limitações deste trabalho, foi feita uma priorização dos processos de maior criticidade e que impactam diretamente nas qualidades exigidas. Figura 9 - Padrão Técnico de Processo Fonte: Elaboração própria. 6. Considerações Finais A aplicação do método QFD em um contexto real proporcionou ao grupo um aprendizado considerável, não só do método propriamente dito, mas também sobre a realidade de um processo produtivo de empadas congeladas. Além disso, adquirimos conhecimentos gerais sobre o mercado desse tipo de indústria. Além da prática do QFD, a aplicação de técnicas auxiliares como pesquisa de mercado, teste cego, “ser o cliente”, entre outras, proporcionou aprendizado no que diz respeito a aplicação dessas ferramentas. Uma das principais dificuldades foi encontrar um concorrente direto que fosse similar ao produto que está sendo desenvolvido, e que assim possibilitasse a comparação de desempenho. Além disso, durante todo o trabalho só foi realizado a produção de um protótipo, devido a dificuldades técnicas (acertar as especificações da massa). Essa fato restringiu a utilização das informações e conhecimentos gerados no processo de desenvolvimento do trabalho. Pode-se ressaltar ainda que, apesar de não terem sido verificados os resultados reais de implementação aqui proposta (lançamento do produto), este trabalho foi validado com os dirigentes da empresa. Isso significa que a implementação poderá ocorrer futuramente com a disponibilidade de recursos necessária e comprometimento da gerência. Do ponto de vista prático, os resultados apresentados neste relatório podem servir para a implementação do método QFD para desenvolvimento de outros produtos na empresa analisada bem como oferecer diretrizes para que empresas semelhantes implementem esse método ao seu processo de desenvolvimento de produtos com foco no cliente. Por fim, consideramos que o objetivo inicial foi alcançado através da aplicação do método no desenvolvimento de um produto novo para a empresa e que este relatório e todo o material elaborado poderá servir de histórico para aplicação futura em outros tipos de produtos do portfólio. REFERÊNCIAS CHENG Lin Chin; MELO FILHO, Leonel Del Rey. QFD: Desdobramento da Função Qualidade na Gestão de Desenvolvimento de Produtos. Editora Blucher. 1ª ed. p.539. 2007.
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