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BENS P BLICOS 1

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BENS PÚBLICOS
CONCEITO / HISTÓRICO
                               Segundo o Código Civil de 1916, artigo 65:  “São públicos os bens do domínio nacional pertencentes à União, aos Estados, ou aos Municípios. Todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem”. DF não constava porque não existia quando da redação do CC, em 1899; assim tampouco autarquias e fundações públicas. Doutrina e jurisprudência passaram a incluir esses entes no dispositivo. E empresas públicas e sociedades de economia mista? Também incluídos como bens públicos, ainda que com particularidades.
                               No Código Civil de 2002, em redação dada pelo seu artigo 98, “São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem”. 
 O art. 41 do Código Civil, por sua vez, traz o conceito de pessoa jurídica de direito público interno: União, DF, Municípios, territórios, Autarquias e associações públicas (isto é, fundações públicas).
                               Entre os administrativistas, porém, o conceito apresentado pelo Legislador civil não é aceito por todos os autores. Pelo contrário, é possível agrupar as diferentes opiniões sobre o alcance do conceito de bens públicos em algumas correntes principais:
a)    corrente exclusivista: para alguns doutrinadores, o conceito de bens públicos deve estar necessariamente vinculado à ideia de pertencerem ao patrimônio de pessoas jurídicas de direito público. É a visão defendida por José dos Santos Carvalho Filho, para quem bens públicos são “todos aqueles que, de qualquer natureza e a qualquer título, pertençam às pessoas jurídicas de direito público, sejam elas federativas, como a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sejam da Administração descentralizada, como as autarquias, nestas incluindo-se as fundações de direito público e as associações públicas”. (em sua obra Manual de direito administrativo, p. 1073).
          Sendo a concepção explicitamente adotada pelo Código Civil brasileiro (art. 98), a corrente exclusivista é a mais aceita pelas bancas de concurso público. Porém, tal visão tem o grande inconveniente de excluir do conceito dos bens públicos aqueles pertencentes às empresas públicas e sociedade de economia mista prestadoras de serviço público, bem como os de propriedade das concessionárias e permissionárias afetados à prestação de serviços públicos.
b) corrente inclusivista:  segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro e Hely Lopes Meirelles, consideram bens públicos todos aqueles que pertencem à Administração Pública direta e indireta.  Tal corrente peca por não tornar clara a diferença de regime jurídico entre os bens afetados à prestação de serviços públicos (pertencentes ao domínio das pessoas estatais de direito público e ao das pessoas privadas prestadoras de serviços públicos) e aqueles destinados à simples exploração de atividade econômica, como os que fazem parte do patrimônio das empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividade econômica.
c) corrente mista: adotada por Celso Antonio Bandeira de Mello, entende que são bens públicos todos os que pertencem a pessoas jurídicas de direito público, bem como os que estejam afetados à prestação de um serviço público.  Essa conceituação é, segundo nossa opinião, a mais coerente à luz do direito positivo nacional por incluir no conceito de bens públicos, reconhecendo-lhes um especial tratamento normativo, os bens pertencentes a pessoa jurídica de direito privado, estatal ou não, indispensáveis para a continuidade da prestação dos serviços públicos, como ocorre com parcela do patrimônio de empresas públicas, sociedades de economia mista, concessionárias e permissionárias de serviços públicos.
          Todavia, como já mencionamos, para concursos públicos tem sido preponderantemente aceita a corrente baseada no artigo 98 do CC, denominada exclusivista, que considera públicos somente os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público.
 
CLASSIFICAÇÃO
QUANTO À DESTINAÇÃO
- DE USO COMUM: ou bens do domínio público são aqueles abertos a uma utilização universal, por toda a população, como logradouros públicos, praças, mares, ruas.
                               Nesse sentido, afirma o artigo 99, I, do Código Civil: “são bens públicos; I – os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas, e praças”.
                               Os bens de uso comum do povo, enquanto mantiverem essa qualidade, não podem ser alienados ou onerados (art. 100, do CC). Somente após processo de desafetação, sendo transformados em dominicais, poderiam ser alienados.
- DE USO ESPECIAL : são também chamados de bens do patrimônio administrativo, são aqueles afetados a uma destinação específica. Fazem parte do aparelhamento administrativo sendo considerados instrumentos para execução de serviços públicos. São exemplos: edifícios de repartições públicas, mercados municipais, cemitérios públicos, etc.
             Conforme dispõe o artigo 99, II do Código Civil (ver referido dispositivo).
-  BENS DOMINICAIS:  também chamados bens do patrimônio público disponível ou bens do patrimônio fiscal, são todos aqueles sem utilidade específica, podendo ser “utilizados em qualquer fim ou, mesmo, alienados pela Administração Pública.
São exemplos: terras devolutas, viaturas sucateadas, terrenos baldios, carteiras escolares danificadas etc.
             A Administração Pública pode, em relação aos bens dominicais, exercer poderes de proprietário, como usar, gozar e dispor. É nesse sentido que o artigo 99, III, do CC define tais bens como aqueles que “constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.” Tais bens podem ser alienados, nos termos do disposto na legislação, por meio de compra e venda, doação, permuta, etc.
 
QUANTO À TITULARIDADE
             Os bens públicos se dividem em federais, estaduais, distritais, territoriais ou municipais, de acordo com o nível federativo da pessoa jurídica a que pertençam. Devem ser também acrescentados os bens das autarquias (autárquicos) e fundações públicas (fundacionais).
 
QUANTO À DISPONIBILIDADE
- Bens indisponíveis por natureza:  aqueles que, devido à sua intrínseca condição não patrimonial, são insuscetíveis a alienação ou oneração. Os bens indisponíveis por natureza são necessariamente bens de uso comum do povo,destinados a uma utilização universal e difusa. São naturalmente inalienáveis. È caso do meio ambiente, mares, rios, ar etc.
- bens patrimoniais indisponíveis: são aqueles dotados de uma natureza patrimonial, mas, por pertencerem às categorias de bens de uso comum do povo ou de uso especial, permanecem legalmente inalienáveis enquanto mantiverem tal condição. Por isso, são naturalmente passíveis de alienação, mas legalmente inalienáveis. Exemplos: ruas, praças, estradas e demais logradouros públicos.
- bens patrimoniais disponíveis: são legalmente passiveis de alienação. É o caso dos bens dominicais, como as terras devolutas, sem necessidade de prévia desafetação (obs. geralmente há necessidade de licitação para venda de bens públicos – leilão ou concorrência – conforme Lei 8666/93) 
CARACTERÍSTICAS
- INALIENABILIDADE. Observe-se que essa característica aplica-se a bens de uso comum e especial, não de uso dominical, cf. CC: 100, “Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar” e CC: 101, “Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei”. Há doutrinador que entende ser a inalienabilidade característica RELATIVA, na medida em que basta desafetar bens para uso dominical a fim de aliená-los. Para alienar, lei de licitações, artigos 17 e 19 da Lei 8.666/93.- IMPRESCRITIBILIDADE. Inviabilidade de bem público ser adquirido por prescrição aquisitiva. CC16 foi o primeiro a positivá-lo. Doutrina incumbiu-se de justificar a imprescritibilidade, entendendo que usucapião seria sanção da inércia, incompatível com o interesse público. Doutrina, porém, passou a entender que usucapião seria possível para bens dominicais, refutado pelo STF pela súmula 340, “Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, bem como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião”. Hoje, a proibição é trazida duas vezes pela Constituição (CF: 183, § 3º e 191, par. único), além do artigo 102 do Código Civil.
           Segundo doutrina majoritária, a imprescritibilidade é atributo de todas as espécies de bens públicos, incluindo os dominicais.
EXCEÇÃO a essa regra vem prevista no artigo 2º da Lei 6.969/81, que admite usucapião especial sobre terras devolutas localizadas em área rural.
-  IMPENHORABILIDADE: decorre do fato de que os bens públicos não podem ser objeto de constrição judicial (penhora).  A impenhorabilidade é uma decorrência lógica da inalienabilidade na medida em que, por ser insuscetível a alienação, a penhora sobre bem público constitui medida inútil. Importante destacar, também que a impenhorabilidade dos bens públicos é a justificativa para a existência da execução especial contra a Fazenda Pública e da ordem dos precatórios (art. 100 da CF).
- NÃO ONEROSIDADE (por direito real de garantia), que se circunscreve aos bens de uso comum ou especial, mas não dominicais, cf. CC: 1.420, “Só aquele que pode alienar poderá empenhar, hipotecar ou dar em anticrese; só os bens que se podem alienar poderão ser dados em penhor, anticrese* ou hipoteca”. A não onerosidade decorre da inalienabilidade (*anticrese: o bem imóvel é dado ao credor para que este receba os frutos como pagamento: ex. aluguéis, lavouras etc)
 
AFETAÇÃO E DESAFETAÇÃO
          Os termos afetação e desafetação são utilizados em mais de um sentido pela doutrina especializada. Genericamente, tais expressões são usadas para designar a condição estática atual de determinado bem público. Se o bem está vinculado a uma finalidade pública qualquer, diz-se estar afetado; se não tiver tal vinculação, está desafetado.
Em outro sentido, os mesmos termos são empregados para se referir à alteração dinâmica de condição, de certo bem público. Assim, por exemplo, se determinado prédio público estava afetado à execução do serviço público de saúde, sendo a edificação derrubada por um terremoto, ocorre sua desafetação. Essa mudança na finalidade do bem pode se dar mediante lei, ato administrativo ou fato administrativo.
Finalmente, pode-se ainda falar em desafetação para designar o procedimento jurídico de transformação do bem público em bem dominical, mudando-o de categoria, para viabilizar sua futura alienação.
FORMAS DE AQUISIÇÃO DOS BENS PÚBLICOS 
As principais formas de aquisição de bens públicos pela Administração (FLÁVIA CRISTINA MOURA DE ANDRADE, Direito Administrativo, RT, 2010, p. 279-280)
a) contratos: os entes públicos podem firmar contratos de compra e venda, doação, permuta, dação em pagamento. Estes contratos são regidos por normas de direito privado, ou seja, não são contratos administrativos. No entanto, para que a Administração compre bens, deve seguir os trâmites legais: licitação, demonstração da utilidade pública; prévia dotação orçamentária.
b) usucapião: conquanto os bens públicos não sejam passíveis de serem usucapidos, a Administração poderá adquirir bens por usucapião, observados os requisitos legais.
c) desapropriação: por exemplo: desapropriação direta ou indireta (apossamento administrativo), por utilidade pública ou por interesse social (reforma agrária); uma vez ocorrendo a desapropriação, o bem particular torna-se público.
d) causa mortis: o artigo 1822 do Código Civil diz que não havendo herdeiros de pessoa falecida ou no caso de renúncia por parte dos herdeiros, os bens são repassados ao município ou ao Distrito Federal nos quais estejam localizados ou, então, à União, neste caso se os bens estiverem em território federal.
e) arrematação: dá-se nos leilões realizados em processos judiciais de execução. A Administração pode oferecer lanços e arrematar bens, de acordo com suas necessidades.
f) adjudicação: não havendo licitantes nos leilões judiciais, o credor pode adjudicar (trazer para si) os bens levados à hasta pública.
g) por força das leis (ex vi legis): quando normas constitucionais ou legais estabelecem formas de aquisição, como, por exemplo: 
a) ruas e praças que são formadas nos loteamentos - nos termos da Lei 6766/79
Art. 22. Desde a data de registro do loteamento, passam a integrar o domínio do Município as vias e praças, os espaços livres e as áreas destinadas a edifícios públicos e outros equipamentos urbanos, constantes do projeto e do memorial descritivo. Parágrafo único. Na hipótese de parcelamento do solo implantado e não registrado, o Município poderá requerer, por meio da apresentação de planta de parcelamento elaborada pelo loteador ou aprovada pelo Município e de declaração de que o parcelamento se encontra implantado, o registro das áreas destinadas a uso público, que passarão dessa forma a integrar o seu domínio. 
b) perdimento de bens: dos instrumentos e dos produtos do crime (CP, art. 91, II)
c) reversão: ao final do prazo dos contratos de concessões de serviços públicos 
(art. 35, § 1º, da Lei 8987/95) Extinta a concessão, retornam ao poder concedente todos os bens reversíveis, direitos e privilégios transferidos ao concessionário conforme previsto no edital e estabelecido no contrato.
d) confisco: art. 243 da Constituição Federal 
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. 
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. 
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)
FORMAS DE ALIENAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS
Bens de uso comum e de uso especial: devem ser desafetados para serem alienados nas formas estabelecidas pelo direito privado, ou seja, tais bens devem passar para a categoria de bens dominicais, pela perda de sua destinação pública. Nada impede, no entanto, que tais bens sejam alienados (vendidos / doados) a outra pessoa de direito público, mediante contratos ou atos administrativos (DI PIETRO, Direito Administrativo, Atlas, 2000, p. 530/531).
Bens dominicais: Não estando afetados a uma destinação pública específica, os bens dominicais podem ser alienados na forma da lei civil (compra e venda, doação permuta) ou de direito público (por exemplo: retrocessão). Na esfera federal, via de regra, para que haja a alienação é mister que o bem público seja avaliado, haja processo de licitação e autorização legislativa (este último no caso de imóvel).
FORMAS DE UTILIZAÇÃO DE BENS PÚBLICOS POR TERCEIROS
Os bens públicos podem ser usados por outras pessoas jurídicas de direito público ou por entidades ou pessoas privadas.
 
- AUTORIZAÇÃO DE USO. É o ato unilateral (exclusiva manifestação da vontade do poder público), discricionário (pode ser dado o consentimento ou negado segundo critérios de conveniência e oportunidade) e precário (pode ser revogado a qualquer momento, quando o uso se tornar contrário ao interesse público), pelo qual a Administração consente que o particular utilize o bem público com exclusividade. A autorização dispensa autorização legislativae licitação. Não cria para o usuário o dever de uso, mas a simples faculdade. Pode ser gratuita ou onerosa. Pode ser sem prazo ou com prazo determinado. Quando é dada por prazo, cria ao usuário um direito subjetivo público, desnaturando a precariedade. Nessa situação, caso a Administração revogar uma autorização que tenha prazo determinado, deverá indenizar o usuário. É concedida com vistas à utilidade pública, mas no interesse privado do usuário.
- PERMISSÃO DE USO. A permissão de uso também é um ato unilateral, discricionário e precário, pelo qual a Administração transfere um bem para uso de particulares. DIFERENÇA ENTRE PERMISSÃO E AUTORIZAÇÃO. Difere de autorização de uso em seu caráter negocial, ou seja, permissão de uso é o meio termo entre ato e negócio, porque, apesar de ainda ser ato unilateral, oferece maiores garantias do que a autorização de uso. Além disso, exige licitação, de acordo com o art. 2º da lei 8666/93, “As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei”.
Na autorização, geralmente o uso do bem público visa a interesses particulares. Na permissão, o uso do bem tem finalidades do interesse coletivo. Difere a permissão da concessão de uso, porque a concessão dá-se sempre por contrato, ao passo que a permissão ocorre geralmente por ato e excepcionalmente por contrato administrativo.
-  CONCESSÃO DE USO  contrato administrativo, pelo qual a Administração transfere o uso exclusivo de um bem a terceiro (é uma figura contratual e estável). Exige LICITAÇÃO. Há debate doutrinário sobre a AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA: a maioria entende que não é necessária uma autorização legislativa para cada uma das concessões, bastando que a lei estabeleça a possibilidade de concessão de maneira genérica. Esse contrato é geralmente utilizado para uso de bens públicos de maior vulto, como nas concessionárias de energia, que passarão a usar instalações de usinas hidroelétricas. 
- CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO. Definição legal vem no art. 7º do Decreto-lei nº 271/67 (Art. 7º É instituída a concessão de uso de terrenos públicos ou particulares remunerada ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, como direito real resolúvel, para fins específicos de regularização fundiária de interesse social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das comunidades tradicionais e seus meios de subsistência ou outras modalidades de interesse social em áreas urbanas. - Redação dada pela Lei nº 11.481, de 2007). Exemplo clássico: distrito industrial. É igual à concessão de uso, com a peculiaridade de a concessão de direito real de uso fazer parte de uma política específica (educacional, industrial etc.). Incide exclusivamente sobre imóvel, com finalidade específica e é averbada no CRI (Cartório de Registros de Imóveis).
- CESSÃO DE USO é uma espécie de concessão, que se materializa em contrato administrativo pelo qual faz-se a transferência de um bem público para outra entidade ou órgão público ou para particulares que desempenham interesses gerais e legítimos (terceiro setor; exemplo: APAE). Não há anotação no CRI. 
- ENFITEUSE ou aforamento: o Código Civil de 1916 regulou a enfiteuse nos termos dos artigos 678 a 694, dispositivos que permanecem em vigor em face de regra de direito intertemporal constante do artigo 2.038, caput, do Código Civil de 2002. O Código de 1916 restringia o alcance da enfiteuse apenas a "terras não cultivadas ou terrenos que se destinem à edificação" (art. 680). Nos artigos 678 e 680 (sem correspondência no Código Civil de 2002), o aforamento aparece como contrato bilateral de caráter perpétuo, em que, por ato "inter vivos", ou disposição de última vontade, o proprietário pleno cede a outrem o domínio útil, mediante o pagamento de pensão ou foro anual em dinheiro ou em frutos. O artigo 2.038 do Código proíbe a constituição de novas enfiteuses e subenfiteuses, subordinando-se as existentes, até sua extinção, aos princípios do Código Civil de 1916.
Apesar de extinto pelo CC, ainda existe enfiteuse marinha, regulada pelo Decreto-lei nº 9.760/46 e Lei 9.636/98. Consiste na transferência da posse, do direito de uso e gozo perpétuos, mas não da propriedade dos terrenos de Marinha. Os terrenos de marinha e seus acrescidos são bens dominicais da União, conforme o inciso VII do artigo 20 da Constituição Brasileira de 5 de outubro de 1988. Portanto podem ser concedidos a terceiros, sob a forma de enfiteuse, sendo facultada aos foreiros, no caso de sua extinção, a remição dos aforamentos mediante aquisição do domínio direto. Entretanto, o parágrafo 3º do artigo 49, do ADCT, referindo-se à remissão dos aforamentos mediante a aquisição do domínio direto, estabelece que: A enfiteuse continuará sendo aplicada aos terrenos de marinha e seus acrescidos, situados na faixa de segurança, a partir da orla marítima.
Isto equivale a dizer que os foreiros de imóveis na orla marítima jamais terão o domínio pleno sobre estas parcelas territoriais e terão de continuar pagando, perpetuamente, os foros e, nos casos de venda dos direitos de enfiteuses a terceiros, pagarão à União os laudêmios desses bens.
 Da Concessão de Uso Especial para Fins de Moradia
CONCESSÃO PARA MORADIA: Art. 22-A da Lei 9636/98, com a redação da Lei 11.481/2007
Art. 22-A. A concessão de uso especial para fins de moradia aplica-se às áreas de propriedade da União, inclusive aos terrenos de marinha e acrescidos, e será conferida aos possuidores ou ocupantes que preencham os requisitos legais estabelecidos na Medida Provisória no 2.220, de 4 de setembro de 2001.
§ 1º O direito de que trata o caput deste artigo não se aplica a imóveis funcionais.
§ 2º Os imóveis sob administração do Ministério da Defesa ou dos Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica são considerados de interesse da defesa nacional para efeito do disposto no inciso III do caput do art. 5º da Medida Provisória no 2.220, de 4 de setembro de 2001, sem prejuízo do estabelecido no § 1º deste artigo.”
-  CONCESSÃO FLORESTAL.  Definida pela Lei 11.284/06, art. 3º, VII. Unidades de conservação de proteção integral (uso permitido apenas indireto, como turismo) e unidade de conservação de uso sustentado (limite menor).
BENS PÚBLICOS EM ESPÉCIE
(FERNANDO BALTAR, DIREITO ADMINSTRATIVO, Juspodium, 2015, p. 510-514)
Terras devolutas: o termo devoluto significa devolvido, vazio, desocupado.
Segundo conceito do Decreto-lei 9760/1946, terras devolutas seriam aquelas que não sendo próprias nem aplicadas a algum uso público federal, estadual ou municipal, também não se incorporaram ao domínio privado. Assim, caso as terras não estejam afetadas ao uso público federal, estadual ou municipal, e nenhum particular apresente título da propriedade, será considerada devoluta. Em regra, as terras devolutas pertencem aos Estados. Apenas as terras necessárias à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais são consideradas terras devolutas federais. As demais são de propriedade dos Estados.
Com a conquista do Brasil, todo o território passou a integrar o domínio da Coroa Portuguesa. Destas terras, largos tratos foram trespassados aos colonizadores, mediante as chamadas concessões de sesmarias e cartas de data, com a obrigação, aos donatários, de medi-las, demarcá-las e cultivá-las, sob pena de comisso (reversão das terras à Coroa).
O termo "devolutas" relaciona-se com a decisão de devolução de terras pelos particulares para o domínio público, dependendo de ações administrativas e/ou judiciais denominadas discriminatórias.
Terrenos de marinha: Conforme Decreto-Lei nº 9.760/1946, são terrenos de marinha em uma profundidade de 33 metros, medidos horizontalmente para a parte da terra, da posição da linhada preamar-média de 1.831: a) Os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influência das marés; b) Os que contornam as ilhas, situados em zonas onde se faça sentir a influência das marés. Estas áreas pertencem à União (art. 20, VII, da CF). Terrenos de marinha não se confundem com a praia, que é coberta e descoberta pelas marés. Nos termos do § 3º, do art. 49, do ADCT “A enfiteuse continuará sendo aplicada aos terrenos de marinha e seus acrescidos, situados na faixa de segurança, a partir da orla marítima” (obs. A PEC 39/2011 em andamento no Congresso propõe a extinção dos terrenos de marinha)
Terrenos reservados: também conhecidos por terrenos marginais são as áreas banhadas pelos rios navegáveis e que se estendem até 15 metros para a terra, fora do alcance das marés, contados desde a linha média das enchentes ordinárias. Se os rios não forem navegáveis, esses terrenos reservados serão de 10 metros (Código das Águas, art. 12 e 13). São bens da União, se o rio for federal, ou dos Estados, se estadual.
Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios: pertencem à União (art. 20, XII, da CF) e têm finalidade social especial, ou seja, destinadas ao usufruto dos autóctones. Pode haver exploração da terra indígena (minérios, solo etc), desde que haja autorização do Congresso Nacional. Parte das riquezas extraídas dessas terras revertem-se em favor da causa indígena.
Plataforma continental: é a extensão das áreas continentais sob o mar até a profundidade de 200 metros (art. 20, V, CF). Distinções: mar territorial – 12 milhas marítimas; Zona Contígua – 12 a 24 milhas (área em que o Brasil fiscaliza, a fim de evitar infrações à lei); Zona Econômica Exclusiva – 12 a 200 milhas, local em que o Brasil exerce soberania e faz exploração dos recursos naturais.
Ilhas: pertencem à União e aos Estados, a depender de se tratarem de ilhas federais ou estaduais. As ilhas da União localizam-se no mar (oceânicas ou costeiras) e nos rios federais (lacustres). As ilhas estaduais ficam nos rios estaduais e lagos. Não há ilhas municipais. 
Rios: pertencem à União e aos Estados. Os rios federais são aqueles que cortam mais de um Estado; que nascem no Brasil e entram no território estrangeiro; ou que nasçam no estrangeiro e adentrem ao território nacional.
CF, art. 20 – São bens da União: 
 III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005)
CF, Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
Faixa de fronteira: 150 Km de largura, que correm paralelamente à linha divisória do território nacional com países estrangeiros. Essa área pode ser de propriedade do particular, mas haverá restrições de uso impostas pelo poder público (União).

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