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aborto por zika virus

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Zika Vírus 
 Microcefalia é uma condição em que o bebê nasce com o crânio do tamanho menor do que o normal, nesse caso a condição estuda será por meio do Zika vírus.
A microcefalia é diagnosticada quando o perímetro da cabeça é igual ou menor do que 32 cm. Portanto, o esperado é que bebês tenham pelo menos 34 cm, isso vale apenas para crianças nascidas a termo (com 9 meses de gravidez). No caso de bebês prematuros, esses valores mudam e dependem da idade gestacional em que ocorre o parto.
Estudos apontam possíveis causas da microcefalia sejam também adquiridas pela mãe, como: toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus, além do uso excessivo de álcool e drogas na gravidez, e recentemente a descoberta por zika vírus , através da gestante infectada, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.
 Apesar de a microcefalia ser uma situação antiga dentro da medicina brasileira foi a partir do segundo semestre de 2015 que se instaurou um surto da patologia no Brasil, sendo o maior número de casos diagnosticados em Pernambuco.
Falar de aborto é um tema que sempre gerou debates, tido como preconceito em sociedade em seu direito da vida. O art 1º III “ a dignidade da pessoa humana ”, o art 5º em seu preambulo “Todos são iguais perante a lei , sem distinção de qualquer natureza, garantindo–se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no pais a inviolabilidade do direito avida ,à liberdade , à igualdade, à segurança, e à propriedade...”.
A principal forma de transmissão no Brasil – e nas áreas em que o Aedes está presente – é vetorial, com transmissão através do mosquito (o vetor) entre uma pessoa infectada e uma pessoa suscetível. A transmissão até agora aceita pela literatura científica é pelo mosquito Aedes aegypti, porém há indicações de que a transmissão possa ser feita por outros Aedes, e também pelo mosquito Culex, o qual é ainda mais abundante do que o Aedes. Além da transmissão por vetores, o vírus Zika pode ser transmitido sexualmente, tanto de homens a mulheres quanto de mulheres a homens. Existe ainda a possibilidade de transmissão através de transfusão de sangue de pessoas infectadas. Está em curso a investigação de um caso de possível transmissão de pessoa a pessoa sem envolvimento de atividade sexual ou transfusão de sangue ( ADI 5581 P,24)
A circulação do Zika vírus no Brasil e a associação da infecção em gestantes, levando em conta que os bebês podem virem a nascerem com microcefalia, reacendeu o debate de aborto no país. Um grupo de advogados e acadêmicos prepararam uma ação, na qual foi entregue ao STF, a ação cobra o direito de interromper a gravidez em casos que a microcefalia for diagnosticada.
Condições da deficiência:
A condição de deficiência decorrente da síndrome congênita do zika produzirá reflexos durante toda a vida da pessoa afetada. Conforme parecer da Dra. LAURA RODRIGUES, os impactos na saúde da criança são inúmeros, gravíssimos e podem aparecer apenas após o crescimento.
As descrições da síndrome são muito consistentes: morte fetal, anormalidades do cérebro com ou sem microcefalia, déficit visual e auditivo. As lesões neurológicas, investigadas através de imagem radiológica do cérebro, indicam que as lesões são predominantemente no córtex (responsável por memória, atenção, percepção, pensamento, linguagem, consciência, alerta); no recém-nascido, se manifestam com irritabilidade e choro muito frequente, falta de contato visual, hipertonia e espasmos infantis. Uma consequência mais rara da hipertonia, ainda durante a gravidez, é que os membros podem não se desenvolver regularmente, e, ao nascimento, podem estar deslocados (artrogripose e displasia da articulação do quadril). 
Nas imagens radiológicas do cérebro são comuns calcificações corticais e subcorticais (em que os neurônios são substituídos por material calcificado), com giros simplificados (lisencefalia, paquigiria, atrofia cortical), hipoplasia do tronco cerebral, hipoplasia do cerebelo, mielinização atrasada e ventriculomegalia. Os achados de pesquisa foram descritos em neonatos ao nascimento ou logo após o nascimento. Como em outras síndromes congênitas, é esperado que crianças aparentemente sem alterações ao nascimento desenvolvam sintomas no decorrer da infância, e crianças com anomalias ao nascimento podem desenvolver novas complicações. Como a epidemia de síndrome congênita do Zika é muito recente, a informação sobre a história natural é ainda muito limitada. O conhecimento sobre a evolução das crianças com a síndrome só será completo quando as crianças sobreviventes ficarem mais velhas.
 Algumas crianças têm sido observadas sistematicamente, e a seguir relato informações que provêm de entrevistas com médicos e não foram ainda publicadas na literatura científica. Os fatores mais marcantes são, mais uma vez, neurológicos, e incluem uma frequência crescente de epilepsia e de dificuldades em alimentação (disfagia) que podem requerer alimentação por sonda, com o risco aumentado de pneumonia por aspiração; atraso que pode ser muito severo no desenvolvimento motor e cognitivo; diagnóstico tardio de deficiência visual e auditiva. A irritabilidade das crianças, com choro extremamente frequente, pode requerer medicação. Já foram descritos achados de recém-nascidos aparentemente sem alterações, porém com calcificações cerebrais. Em semelhança a outras síndromes de infeções congênitas, espera-se que crianças aparentemente sem alterações ao nascimento mostrem atraso de desenvolvimento motor e cognitivo.
Somam-se a esse contexto os cuidados demandados por crianças com microcefalia, conforme observa Fernando Gaiger Silveira: 
Portanto, uma criança com microcefalia demanda cuidados adicionais das famílias, e de acordo com o grau de comprometimento ocasionado pela doença haverá a necessidade da mobilização de um adulto em idade ativa frequentemente a mãe para prover os cuidados necessários. Trata-se de um contingente de famílias pobres que, ao serem privados da renda de um dos seus membros na provisão financeira, viverão no limiar da pobreza. As graves situações de dependência nos casos de microcefalia potencializam a pobreza monetária e o grau de vulnerabilidade dos indivíduos e de suas famílias, devendo ser ponderadas no acesso ao programa.
PRÓS 
A antropóloga e pesquisadora Debora Diniz defende: “A epidemia do vírus Zika, exige do Estado a implementação de um conjunto amplo de políticas e proteção de direitos que não se restringem ao direito à interrupção da gravidez” 
Quando o resultado vêm a ser positivo para a microcefalia, é necessário segundo Diniz, que a gestante seja encaminhada para um pré-natal de alto risco, no qual a mulher poderá escolher se prosseguirá com a gravidez ou optará por um aborto legal.
 Para Diniz, o aborto nessa situação, precisa ser garantido a partir da confirmação da microcefalia no bebê, ela destaca ainda que as políticas voltadas para caso como o de crianças com microcefalia ou síndrome neurológicas, devem ser relevantes para o Estado.
O aumento de casos de microcefalia, causado pelo zika vírus, aponta a necessidade de uma política imediata de cuidados e atenção à saúde de mulheres e crianças afetadas pelo Zika vírus, segundo Diniz, independente da consequência que a infecção possa levar no feto, a gestante enfrentar a gravidez de risco graves, causado por negligencia estatal em controlar uma epidemia, já se torna uma violação aos direitos das mulheres.
Porém, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) considera que a gravidade da situação vivida por gestantes em todo o país, não justifica uma defesa do aborto para casos de microcefalia. Para eles, a defesa da interrupção da gestação representa total desrespeito ao dom da vida e às pessoas com algum tipo de limitação. 
A CNBB destacou ainda que quadros de microcefalia já existiam antes da epidemia de Zika no Brasil, mas só agora passaram a receber mais atenção por parte das autoridades sanitárias e da comunidade como um todo. E completaram dizendo ser preciso reforçar no país a assistência a pessoas acometidas
pelo vírus, sobretudo gestantes, e também a bebês diagnosticados com malformações congênitas, como a microcefalia.
O vírus da zika, associado à microcefalia, trouxe a superfície da sociedade seus preconceitos. No Brasil, o aborto só é permitido em caso de gravidez resultante por estupro, risco de morte da gestante e anencefalia do feto, sendo esse último sendo liberado pelo STF em 2012.
Este é um ponto importante: o respeito ao direito de escolha de cada mulher, a partir de suas condições concretas e subjetivas, da teia de sentidos construída por cada uma para se mover pelo mundo. Quando o aborto é permitido, em nenhum momento essa liberação tira de qualquer mulher o direito de não fazê-lo. O que acontece é a ampliação de direitos – e não o estreitamento. BRUM Eliana, EL PAÍS, 2016
Segundo a tese do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o risco para a saúde psíquica faz com que seja inconstitucional criminalizar o aborto, essa tese foi apresentada no STF, ressaltando que em 2012 foi autorizado o aborto de fetos anencéfalos para preservação da saúde da mulher. 
	Para Janot, o aborto não constituiria crime, já que a gestante estaria amparada pelo que o Direito Penal denomina de “estado de necessidade”, onde a pessoa prática a conduta para proteger o direito próprio, encontrado no artigo 24º do CP.
 Janot argumenta: “A continuidade forçada da gestação em que há certeza de infecção pelo vírus da Zika representa, no atual contexto de desenvolvimento científico, risco certo à saúde psíquica da mulher. Nesses casos, pode ocorrer violação do direito fundamental à saúde mental e à garantia constitucional de vida livre de tortura e agravos severos evitáveis”. Ele lembra ainda que a decisão deve sempre caber a gestante, sendo elas primeiramente atingidas, cabendo prestigiar o direito fundamental à saúde da mulher, inclusive no plano mental.
	Janot abordou também a ampliação dos direitos de pessoas com microcefalia e outras consequências causadas pelo Zika vírus. Ele defende ser inconstitucional o pagamento do benefício de 3 anos para os portadores da doença, já que a doença produz refluxos para o resto da vida da pessoa afetada.
 Foi defendido por Janot que a ação não poderia ter sido proposta pela associação do Defensores Públicos (Anadep), pois segundo ele não há interesse corporativo da associação no qual justifique a ação, não havendo autorização na Constituição da República para promover esse pedido.
	A Anadep protocolou no STF, a ação direta de inconstitucionalidade (ADI 5581),
juntamente com arguição de descumprimento de preceito fundamental, questionando dispositivos da Lei 13.301/2016, que trata da adoção de medidas de vigilância em saúde relativas aos vírus da dengue, chikungunya e zika. O principal ponto questionado por eles é o artigo 18, no qual trata dos benefícios assistenciais e previdenciários para as crianças e mães vítimas de sequelas neurológicas. A associação pede ainda que se dê interpretação conforme a Constituição da República aos artigos do Código Penal que tratam das hipóteses de interrupção da gravidez.
A Associação destacou que o maior grupo de risco para contagio são as mulheres pobres e nordestinas, tendo em vista que, entre os recém-nascidos com sinais indicativos da síndrome congênita do zika, mais de 60% são filhos de mulheres de Pernambuco, da Bahia, da Paraíba, do Maranhão e do Ceará. “Não é possível restringir a concessão do benefício pelo prazo máximo de três anos, pois as crianças afetadas pela síndrome sofrerão impactos e consequências por toda a vida”, afirmam a Anadep.
 
Contras
	A advogada Tessaro defende ser de suma importância estabelecer a diferença entre feto malformado e inviável, pois independente da anomalia o feto malformado conseguirá se manter vivo, já no feto inviável será incompatível com a vida extrauterina, vindo a falecer logo após o parto.
As malformações fetais, dependendo da gravidade, não provocam a morte do feto ao nascer. Ainda que estejam presentes anomalias congênitas, é possível que o feto malformado sobreviva, porém com certas limitações no que diz respeito a sua qualidade de vida. Em alguns casos, existem tratamentos clínicos ou cirúrgicos que podem mitigar ou até curar os efeitos desta malformação. 
 Tessaro. Anelise, Revista e atualizada, p.74
Sendo assim, a primeira grande diferença da anencefalia e a microcefalia, é que no primeiro caso a doença é incompatível com vida e na microcefalia pode-se ter vida normal dentro dos limites da doença. Nos casos de microcefalia já registrados as crianças nascem e se desenvolvem dentro de suas limitações e de acordo com o nível da doença, sobrevivendo independente da má formação.
Por ser um assunto recente que surgiu na mídia, ainda há muita desinformação sobre a doença e falta de orientação médica e psicológica por parte do SUS, não possuindo estrutura para direcionar a gestante portadora do vírus da Zika. Sendo nesses casos, o aborto um ato de desespero de alguém que não encontra outra saída, propor o aborto nessa situação é negar o amparo que a gestante necessita.
Outo argumento comumente usado por aqueles que criticam o aborto em casos de microcefalia é sobre a negação do direito à vida da criança com deficiência.
O promotor de justiça aposentado, Eudes Quintino Oliveira Júnior, argumenta:
Se o aborto em caso de microcefalia for permitido, entraremos na eugenia. Quer dizer, só pode nascer o feto que for compatível, que não tenha nenhum problema", avalia. "Isso vai mudar muito a conceituação de dignidade. Se permitirmos no caso de microcefalia, teremos que admitir para todos os outros tipos de doença. A escolha da mulher não pode sobrepor à nova vida que vai chegar. 
	Os militantes a favor da vida acreditam que quem defende o aborto nos casos de microcefalia, propagam a eugenia, contrariando assim o princípio mais básico do Estado Democrático de Direito, que é o princípio da dignidade humana.	
 ADI 5581- Relatora Ministra Cármem Lúcia
Na ação direta de inconstitucionalidade, a ANADEP impugna o art. 18, caput e §§ 2 o e 3o , da Lei 13.301, de 27 de junho de 2016, que dispõe sobre adoção de medidas de vigilância em saúde quando verificada situação de iminente perigo à saúde pú- blica pela presença do mosquito transmissor do vírus da dengue, do vírus chicungunha e do vírus da zica. Este é o teor das normas: Art. 18. Fará jus ao benefício de prestação continuada temporário, a que se refere o art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, pelo prazo máximo de três anos, na condição de pessoa com deficiência, a criança vítima de microcefalia em decorrência de sequelas neurológicas decorrentes de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
§ 2 o O benefício será concedido após a cessação do gozo do salário-maternidade originado pelo nascimento da criança vítima de microcefalia. § 3 o A licença-maternidade prevista no art. 392 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, será de cento e oitenta dias no caso das mães de crianças acometidas por sequelas neurológicas decorrentes de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, assegurado, nesse período, o recebimento de salário-maternidade previsto no art. 71 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991. Aponta como parâmetros de controle os arts. 1o , III; 3o , IV; 5o , caput; 6o ; 203 e 227 da Constituição da República, e os arts. 7, 25, 26 e 28 da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (promulgada pelo Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009).
A Lei 13.301, de 27 de junho de 2016, que dispõe sobre adoção de medidas de vigilância em saúde ante iminente perigo à saúde pública pela presença do mosquito transmissor do vírus da dengue, do vírus chicungunha e do vírus da zica, dispôs sobre o benefício de prestação continuada nos seguintes termos: Art. 18. Fará jus ao benefício de prestação continuada temporário, a que se refere o art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, pelo
prazo máximo de três anos, na condição de pessoa com deficiência, a criança vítima de microcefalia em decorrência de sequelas neurológicas decorrentes de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. § 1 o (VETADO). § 2 o O benefício será concedido após a cessação do gozo do salário-maternidade originado pelo nascimento da criança vítima de microcefalia. § 3 o A licença-maternidade prevista no art. 392 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, será de cento e oitenta dias no caso das mães de crianças acometidas por sequelas neurológicas decorrentes de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, assegurado, nesse período, o recebimento de salário-maternidade previsto no art. 71 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991. § 4 o O disposto no § 3o aplica-se, no que couber, à segurada especial, contribuinte individual, facultativa e trabalhadora avulsa. § 5 o O montante da multa prevista no art. 8o da Lei no 13.254, de 13 de janeiro de 2016, destinado à União, poderá ser utilizado nas ações previstas neste artigo. 
Quanto ao art. 18, caput, da Lei 13.301/2016, a requerente pleiteia interpretação conforme a Constituição, para fixar que “farão jus ao benefício de prestação continuada a que se refere o art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, com o afastamento do limite de 3 anos para pagamento do benefício na condição de pessoa com deficiência, as crianças vítimas de microcefalia ou de outras alterações no sistema nervoso em decorrência de sequelas neurológicas decorrentes de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti ou causadas pela síndrome congênita do zika, sendo desnecessária a comprovação da situação de vulnerabilidade ou de necessidade em virtude da presunção dessa circunstância, e reconhecendo a comprovação da sequela neurológica por meio de declaração/atestado de profissional médico, sendo dispensada a realização de perícia pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS)”. Na verdade, refere-se ao Instituto Nacional do Seguro Social. 
 Convenções e Tratados Internacionais que declaram o Direito à Vida
 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, 1966
Esse Pacto foi ratificado pelo Brasil em 24 de Janeiro de 1992 e em seu artigo 6°, parágrafo primeiro, trata do direito à vida, conforme segue: O direito à vida é inerente à pessoa humana, Este direito deverá ser protegido pelas Leis, Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida. (...)[114]
      Convenção Americana de Direitos Humanos, 1969
Essa Convenção foi ratificada pelo Brasil em 25 de Setembro de 1992 e em seu artigo 4°, parágrafo primeiro, dispõe: Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. (...)
    Convenção sobre os Direitos da Criança, 1989
Essa Convenção foi ratificada pelo Brasil em 20 de Setembro de 1990 e diz em seu artigo 6°:
§ 1º. Os Estados Membros reconhecem que toda criança tem o direito inerente à vida.
§ 2°. Os Estados Membros assegurarão ao máximo a sobrevivência e o desenvolvimento da criança[116]..
 Das Hipóteses Legais de Aborto
 	Conforme apresentado pela advogada Anelise Tessaro, o legislador penal define como crime de aborto a interrupção proposital, que venha a implicar a morte do feto, não importando o estágio em que se encontre a gravidez.
	O CP nos dá duas hipóteses onde o crime de aborto estaria afastado, sendo elas: 
Art.128- Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto Necessário
I-          Se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II-         Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
 	O inciso I do art. 128 trata do aborto necessário, no qual a vida da gestante está em risco, ocorrendo através de realização médica.
Segundo o professor Rogério Sanches, a lei portanto escolhe a vida da gestante ao invés da vida do feto, estando assim diante de um confronto protegidos pela lei penal, diante da situação de “estado de necessidade”, prestando todos os requisitos que estão no art.24 do CP.
Ainda no mesmo raciocínio Sanches completa, no aborto necessário há conflitos de dois valores fundamentais: a vida da gestante e a vida do feto, dando ao legislador a preferência pela vida da mãe, já que sem a mãe dificilmente o feto poderia seguir adiante. 
  Decisão de Juiz que negou pedido de aborto de feto com microcefalia 
O Juiz de Direito Leonardo Fleury Curado Dias, da 4° Vara Criminal de Aparecida de Goiânia, indeferiu, dia 17 de março de 2016, o pedido de uma gestante para interromper sua gravidez de aproximadamente 27 semanas de bebê portador de microcefalia. Em sua decisão o magistrado distingue microcefalia de anencefalia e ressalta o direito do nascituro de ter sua vida preservada.
A seguir decisão do juiz:
Devidamente qualificada nos autos, impetrou, via procurador constituído, habeas corpus preventivo, com pedido de liminar, objetivando a interrupção de sua gravidez, de aproximadamente 27 (vinte e sete) semanas, alegando, em suma, que o feto gerado apresenta microcefalia, associada a alterações do sistema nervoso central, fato que lhe acarretará grave sofrimento. Após discorrer sobre o direito que entende aplicável à espécie, requer, em sede de liminar, a expedição de salvo conduto à impetrante para interromper sua gestação, estendendo-se os efeitos do salvo conduto para toda a equipe médica, de enfermagem e para quaisquer outros que, porventura, atuem nos procedimentos necessários ao feito, e expedição de alvará autorizando a realização da cirurgia pelo sistema Único de Saúde (SUS) e/ou convênio a que a paciente possa vir a utilizar. No mérito, requer que seja deferido o writ e mantidos os provimentos acautelatórios. Juntou documentos (fls. 22/37). Ouvido, o Ministério Público manifestou-se desfavorável ao pedido (fls. 46/49). É o relatório. Decido. Como cediço, as questões que abrangem o tema do aborto são tempestuosas e vem sempre à tona a repugnância ética pelo procedimento, que é considerado um ato atentatório contra a vida. Assim, a análise do presente pedido deve ser feita de forma cautelosa, dentro dos parâmetros legais. O legislador ressalvou algumas hipóteses do aborto não incriminadas, tais como: o aborto necessário ou terapêutico, ou seja, aquele de comprovado risco de morte para a mãe, e o aborto sentimental, este decorrente de gestação resultante de estupro. Há, ainda, o entendimento jurisprudencial, que pacificou a possibilidade da interrupção da gestação de feto anencéfalo. Assim, não ocorrendo nenhuma dessas hipóteses, configura-se a prática da interrupção da gestação, o crime de aborto (artigos 124 a 128 do Código Penal). Trata-se o caso em tela de microcefalia associada a outras alterações não esclarecidas (fl. 23), não podendo ser confundida ou a questão, tratada como o caso de anencefalia. Importante esclarecer, segundo conceitos médicos, a distinção entre microcefalia e anencefalia. A microcefalia é uma condição neurológica em que a cabeça e o cérebro da criança são significativamente menores que o normal para sua idade, o que prejudica o seu desenvolvimento mental. Já a anencefalia é caracterizada pela ausência total ou parcial de encéfalo e da caixa craniana do feto. O prognóstico de um bebê com anencefalia é de algumas horas ou dias de vida, não havendo condição de sobrevida. Porém, no caso da microcefalia, apesar de prejudicado o desenvolvimento mental da criança a mesma sobreviverá. Veja-se que o próprio Laudo Médico de fl. 25 menciona que há algumas alterações a serem esclarecidas no período pós- natal ou seja, indicação de que a criança virá ao mundo com vida. Pelo que consta da documentação juntada, não é possível concluir que o caso traz sérios riscos de vida a gestante ou a criança. Constata-se, de fato, que há a microcefalia e outras alterações a serem esclarecidas, porém, não pode
estas alterações, não esclarecidas, servirem de base para autorizar o pedido, muito menos pela microcefalia, em que haverá vida após o parto, ressalvadas dificuldades cognitivas, motoras e de aprendizado do recém-nascido. Portanto, a alegação da impetrante, de que esteja carregando “...dentro de si feto sem qualquer chance de sobrevivência...” (fl. 08), não prospera. Casos de alterações e imperfeiçoes no feto, não podem, sempre, justificar uma situação para o aborto, vez que com este raciocínio estaríamos na busca pela criança perfeita. Ressalto que não está em discussão o direito da gestante e, sim o do nascituro. Entretanto, não se nega os transtornos advindos à mãe, o sofrimento e a dor que, provavelmente, a acompanharão durante toda sua existência. Contudo, a “VIDA”, por menor que seja e de que forma for, deve ser preservada. Diante de todo o exposto, indefiro o pedido liminar e, no mérito, denego a ordem impetrada. Sem custas processuais. Após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos. Publique-se. Registre-se. 
Intimem-se. Aparecida de Goiânia,17 de março de 2016. Leonardo Fleury Curado Dias. Juiz de Direito . 
Conclusão
Ao longo da pesquisa podemos ver que a ligação entre o zika vírus e a microcefalia é algo recente, no Brasil há diversos estudos sendo feitos baseado na relação do vírus da zika e a microcefalia, tendo inúmeros registros de bebês nascidos com a doença.
Sendo o aborto relacionada ao Zika vírus, um assunto mais complexo e sensível na nossa atual sociedade, pois envolvem conflitos jurídicos, religiosos e de valores sociais.
Ao longo da pesquisa pudemos perceber que a anomalia que o zika vírus causa do portador, é compatível com vida extrauterina (não sendo letal ao feto), tendo expectativa de vida semelhante a de outras crianças sem deficiências, apenas tendo um cuidado especial para sua melhora na qualidade de vida, como fisioterapia, fonoaudiologia, entre outros meios assistenciais.
Ao que vimos há posicionamentos no meio jurídico contra e a favor do aborto, tendo teses que defendem que deve-se ter aborto legalizado em caso de microcefalia causado pelo vírus da zika, sendo pautados diversos fatores como: o psicológico da mãe, a baixa qualidade de vida do feto, auxílio financeiro, qualidade de vida da família, entre outros fatores. 
	Já no posicionamento contra o aborto, há teses na qual o feto pode ter vida extrauterina parcialmente igual uma criança sem deficiência, sendo capaz de sobreviver com auxílios necessários (fono, psicólogas, médicos especialistas dependendo do grau da doença da criança) e ter o desenvolvimento esperado.
Referências Bibliográficas:
ARNONI, Danielle- Aborto em casos de microcefalia, Disponível em: http://www.juridicocerto.com/p/danielle-arnoni/artigos/aborto-em-caso-de-microcefalia-3645, acessado em 26 de março de 2018
COnjur- Janote defende direito de aborto a gestantes portadoras de Zika vírus, Disponível em : https://www.conjur.com.br/2016-set-08/janot-defende-direito-gravida-abortar-esteja-zika, acessado em 22 de março de 2018
DINIZ, Debora – Vírus Zika e mulheres, Disponível em, http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2016000500601, acessado em 22 de março de 2018 
LABOISSIÈRE, Paula- Grupo defende o aborto em casos de microcefalia, Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-02/grupo-defende-direito-ao-aborto-em-casos-de-microcefalia-cnbb-e-contra, acessado em 21 de março de 2018 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL- ADI 5581, Disponível em : http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=310227487&tipoApp, acessado em 23 de março de 2018
Supremo tribunal federal- Defensores públicos questionam lei sobre combate a doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=323833, acessado em: 21 de março de 2018

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