Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIRADIAL – CENTRO UNIVERSITÁRIO RADIAL MBA EM GESTÃO EMPRESARIAL A MENTALIDADE ENXUTA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EMPRESA DE CLASSE MUNDIAL HERBSTER BEZERRA DIAS São Paulo 2008 2 HERBSTER BEZERRA DIAS A MENTALIDADE ENXUTA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EMPRESA DE CLASSE MUNDIAL Trabalho de conclusão do curso de Pós Graduação – MBA em Gestão Empresarial, apresentado ao Centro Universitário Radial, como requisito obrigatório e parcial para a obtenção do título de Especialista, sob orientação do Professor Sandro Alberto Vieira. São Paulo 2008 3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D532 Dias, Herbster. A mentalidade enxuta e sua contribuição para a empresa de classe mundial / Herbster Dias. – São Paulo, 2008. 110 p. ; 30 cm Monografia (MBA – Gestão Empresarial) – Centro Universitário Radial, 2008. Bibliografia: f. 102 - 103 1. Gestão 2. Manufatura 3. Mentalidade Empresarial 4. Desperdício. I Título CDD 658.406 4 HERBSTER BEZERRA DIAS A MENTALIDADE ENXUTA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EMPRESA DE CLASSE MUNDIAL Aprovada em 15 de Dezembro de 2008. BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Profº. Especialista Sandro Alberto Vieira Centro Universitário Radial _____________________________________________ Profª. Especialista Sandro Camila Yumi Kashiwakura Centro Universitário Radial _____________________________________________ Profª. MS. Flávia Santos Centro Universitário Radial 5 Dedicatória A minha família e a minha amada esposa Priscila, que tanto contribuiu e ainda contribui para a realização de minhas metas, nela encontro o abrigo para a reflexão e a fortaleza para compreender e superar todas as vicissitudes. 6 Agradecimentos Agradeço ao meu orientador Professor Sandro Vieira pela sua singular dedicação que suplantou várias adversidades para a realização deste trabalho. Sou grato também à empresa onde foram realizadas as pesquisas, pois graças ao seu desejo constante de melhorar foi possível a elaboração desta monografia. 7 "Não é o empregador que paga os salários: é o cliente." Henry Ford 8 RESUMO No último decênio, com a intensificação da competição entre as empresas, estas têm buscado como forma de garantir a perenidade do negócio, maneiras de aprimorar e inovar seus processos, seja no âmbito fabril ou administrativo. A relativa facilidade de acesso a novas tecnologias não mais se restringe a algumas companhias, que em muitos casos assistem o crescimento da concorrência que antes não esboçavam ameaças. É necessário mais do que velocidade de mudança, é imprescindível que as companhias, sobretudo as ocidentais, possuam sistemas capazes de gerar sustentabilidade e possibilidade de concorrer mundialmente em seu segmento, tornando-se desta forma empresas de classe mundial. A procura e escolha de um sistema que possibilite esta condição têm feito com que as organizações observassem os melhores resultados financeiros de inúmeras companhias para então realizar a prática de benchmarking e evitar a perda de tempo para a criação deste processo. Neste contexto destaca-se a Toyota Motor Company, que teve o seu eficaz sistema de produção enxuta disseminado não somente entre as empresas do mesmo segmento, mas em quase todo o mundo corporativo sejam estes industriais ou serviços. Este sistema conhecido pelo mundo como Sistema Toyota de Produção, prega de uma forma resumida, a eficácia dos processos por meio da melhoria contínua e eliminação de desperdícios. Esta prática é conhecida como Mentalidade Enxuta. Assim durante o desenvolvimento deste trabalho, procurou-se conhecer como o sistema de manufatura enxuta pode contribuir para que uma empresa se sustente como uma organização de classe mundial. Palavras chave: manufatura de classe mundial, mentalidade enxuta, desperdício. 9 ABSTRACT In the last decade, with the intensification of the competition among manufacturers, ways of grant the longevity of their business, to improve and to innovate processes, both industrial to administrative fields, had been searched. New technologies relative easiness of access is no more limited to a few companies - those that had seen, in several ways, a competitors growth that before does not threat. More than speed change is necessary. It is crucial that all occidental companies have capable systems to generate sustainability, possibility to be globally competitive within their segments and to become world class companies. The search and choice of a system that would make this condition possible was made by companies observing the best financial results of countless others, and, to avoid process creation wasting time, followed by benchmarking practices. In this context, Toyota Motor Company, from Japan, stands out with it's effective system of lean production disseminated not only among same segment companies but in almost every corporation, from manufacturers to services. The system, world known as Toyota Production System, in a short way, establishes the effectiveness of processes through continuous improvement and waste elimination, practices known as Lean Thinking. This paper proposes to describe contributions of lean manufacture system to sustain companies to become world class ones. The case study objective is to analyze the experience of implementing this system in a plant, mattering cultural values and before company's paradigms, rooted on mass production system. Process waste elimination method and lean system results are presented too. Key words: world class manufacturing, lean thinking, waste. 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Acompanhamento de desempenho das três gigantes do setor................................24 Tabela 2 – Fabricação tradicional x fabricação enxuta.............................................................. 28 Tabela 3 – Resultados obtidos na indústria automobilística após a implementação do Lean System........................................................................................................................................ 39 Tabela 4 – Aplicação das ferramentas enxutas na área piloto.................................................. 80 Tabela 5 – Aplicação das ferramentas enxutas na área piloto com objetivos........................... 82 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Etapas sugeridas para implementação de conceitos e ferramentas do programa mentalidade enxuta.................................................................................................................... 34 Figura 2 – O guarda-chuva do Kaizen....................................................................................... 43 Figura 3 – Mapa do Fluxo de Valor........................................................................................... 46 Figura 4 – Ícones do mapeamento do fluxode valor................................................................. 47 Figura 5 – Fluxo de materiais e informações............................................................................. 48 Figura 6 – Distribuição dos produtos, por semelhança de processo......................................... 49 Figura 7 – Folha de estudo do processo................................................................................... 58 Figura 8 – Tabela de Combinação do Trabalho Padronizado................................................... 59 Figura 9 – Diagrama de trabalho padronizado.......................................................................... 60 Figura 10 – JIT como filosofia de produção............................................................................... 62 Figura 11 – Fluxo de cartões – componente do sistema puxado.............................................. 64 Figura 12 – Fluxo de produção tradicional versus fluxo unitário contínuo................................ 66 Figura 13 – Balanceamento de operações tradicionais............................................................ 67 Figura 14 – Rota de abastecimento de materiais...................................................................... 71 Figura 15 – Etapas do processo para a encapsulação dos vidros............................................ 74 Figura 16 – Estrutura da equipe de manufatura enxuta............................................................ 77 Figura 17 – Mapa do estado atual............................................................................................. 79 Figura 18 – Mapa do estado atual – Identificação dos Kaizens................................................ 80 Figura 19 – Mapa do estado futuro............................................................................................ 81 Figura 20 – A3 Encapsulado..................................................................................................... 84 Figura 21 – Limpeza inicial e identificação de anomalias por meio de etiquetas...................... 86 Figura 22 – Gráfico de espaguete. Rota de preparação do setup............................................ 87 Figura 23 – Redução do estoque intermediário......................................................................... 90 Figura 24 – Kanban de produção.............................................................................................. 91 Figura 25 – Quadro Kanban e Régua de Nivelamento – Prensas 1 e 2................................... 93 Figura 26 – Acompanhamento dos resultados de disponibilidade das prensas....................... 96 12 Figura 27 – Acompanhamento da redução da troca de ferramentas – Encapsulado............... 97 Figura 28 – Acompanhamento da melhoria da cadência média............................................... 98 Figura 29 – Acompanhamento da dos estoques de matéria prima (3 dias de produção)......... 98 Figura 30 – Formulário padrão de auditoria 5 S...................................................................... 104 Figura 31 – Cálculo do rendimento.......................................................................................... 107 Figura 32 – Cálculo da produtividade...................................................................................... 108 Figura 33 – Cálculo do PPM.................................................................................................... 108 Figura 34 – Cálculo da cadência............................................................................................. 109 Figura 35 – Cálculo da taxa de parada............................................................................. 109 Figura 36 – Cálculo do tempo takt................................................................................... 110 Figura 37 – Resultado da avaliação dos treinamentos das ferramentas enxutas e palestras 105 Figura 38 – Formulário para avaliação dos treinamentos....................................................... 106 13 LISTA DE SIGLAS AGR – Agreement Glass Replacement (Autorização para Vidros de Reposição) – Vidros destinados ao mercado de reposição com o consentimento das montadoras de veículos. BS – Business System (Sistema de Negócios) CBM – Conditional Based Maintenance (Manutenção baseada no Desempenho) DFMEA - Process Potential Failure Mode and Effects Analysis in Design (Análise do Modo Efetivo de Falha Potencial de Projeto) FMEA - Process Potential Failure Mode and Effects Analysis in Design (Análise do Modo Efetivo de Falha Potencial) FIFO – First In First Out (Primeiro que entra – Primeiro que sai) IMVP – International Motor Vehicle Program (Programa Internacional de Motor de Veículo) JIT – Just- In- Time KPI – Key Performance Indicator (Indicadores de Performance) LIB – Lean Institute Brasil LS – Lean System (Sistema Enxuto) MIT – Massachusetts Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) MP – Manutenção Preventiva OEE – Overall Equipment Efficiency (Rendimento Operacional Global) PCP – Planejamento e Controle de Produção PDCA – Plan Do Control Action PFMEA – Process Potential Failure Mode and Effects Analysis Process (Análise do Modo Efetivo de Falha Potencial de Processo) PMN – Planejamento dos Materiais Necessários PPM – Peças Por Milhão STP – Sistema Toyota de Produção TQM – Total Quality Management (Gestão da Qualidade Total) TKT – Takt Time (Tempo de Ritmo) TPM – Total Productivity Maintenance (MPT – Manutenção Produtiva Total) TPS – Toyota Production System (Sistema Toyota de Produção) TOC – Theory of Constrains (Teoria das Restrições) TRS – Taxa de Rendimento Sintético TRF – Troca Rápida de Ferramentas 14 VAR – Valor agregado ao Processo VSM – Value Stream Map (Mapa de Fluxo de Valor) WCM – World Class Manufacturing – Empresa de Classe Mundial WIP – Work In Process – Estoque em processo 15 SUMÁRIO Introdução..........................................................................................................................17 1 A empresa de Classe Mundial – sua característica ................................................22 1.1 A produção em massa e a produção enxuta ..........................................................25 2 Mentalidade Enxuta como forma de eliminação de desperdícios .........................29 2.1 Os oito principais desperdícios ...............................................................................30 3 Mentalidade Enxuta – Um Roteiro de Implementação para o caso observado ....33 3.1 Ferramentas e programas de apoio........................................................................35 3.1.1Método 5S............................................................................................................39 3.1.2Melhoria Contínua - Kaizen ..................................................................................42 3.1.3Mapeamento do Fluxo de Valor ...........................................................................44 3.1.4Linha ou família de produto..................................................................................48 3.1.5Mapeamento do estado atual...............................................................................49 3.1.6Mapeamento do estado futuro .............................................................................52 3.1.7Setup Rápido .......................................................................................................55 3.1.8Trabalho Padronizado ..........................................................................................57 3.1.9Sistema Puxado e Nivelamento da Produção– Kanban......................................61 3.1.10Fluxo Contínuo...................................................................................................65 3.1.11 Manutenção Autônoma .....................................................................................68 3.1.12Fazendo Fluir os Materiais .................................................................................70 4 Aplicação da Metodologia .........................................................................................73 4.1 Características da linha piloto.................................................................................73 4.2 Formação das equipes de manufatura enxuta........................................................76 4.3 Os desperdícios observados antes da implementação das ferramentas enxutas ..77 4.3.1Mapeando o fluxo de valor, estado atual..............................................................77 4.4 Modificações Propostas..........................................................................................81 4.4.1Mapeando o fluxo de valor, estado futuro ............................................................81 5 Análise da implementação das ferramentas............................................................85 5.1 Manutenção Autônoma...........................................................................................85 5.2 Setup Rápido ..........................................................................................................86 5.3 Trabalho Padronizado e Fluxo Contínuo ................................................................88 5.4 Sistema Puxado e Nivelamento da Produção.........................................................91 5.5 Fazendo Fluir os Materiais......................................................................................93 16 6 Resultados da implementação das ferramentas .....................................................96 Considerações Finais ......................................................................................................100 Referências .....................................................................................................................102 Anexo A - Formulários.....................................................................................................104 Anexo B - Indicadores .....................................................................................................107 17 INTRODUÇÃO Vivencia-se na atualidade a era dos resultados. As grandes corporações não mais podem se sustentar na imagem que outrora construíram, pois com a crescente gama de opções ao cliente final, ocasionado principalmente pela facilidade de obtenção dos bens de todas as partes do mundo, têm encorajado as indústrias dos mais diversos segmentos a “invadirem” mercados que antes eram restritos a poucos “gigantes”. As atuais linhas de crédito auxiliaram a impulsionar um dos mercados mais crescentes, o da indústria automobilística, que sofreu consideráveis alterações em seu cenário nos últimos dez anos. Nesse processo a capacidade de rapidamente gerar, introduzir e difundir inovações passou a exercer papel fundamental para a sobrevivência das empresas. Obter sistemas de gestão que correspondam às diversas necessidades das empresas tem sido a meta de muitas companhias que possuem também a preocupação e o cuidado para evitar “modismos” e a conseqüente perda de tempo e dinheiro no árduo processo de implantação. Atender o cliente com o menor custo possível tem sido a tônica no mundo corporativo seja no âmbito fabril ou de serviços. Esta necessidade tem norteado as empresas a buscar sistemas que interajam com as prioridades dos clientes, ou seja, pagar pelo produto sem que os desperdícios dos processos de fabricação/serviços estejam embutidos. Uma das técnicas que têm sido amplamente empregadas é a do Lean Thinking ou mentalidade enxuta (ou também sistema enxuto), que surgiu na década de 1950, no Japão, como uma teoria que tinha em sua base de atuação a melhoria de processos por meio da eliminação sistemática das perdas no sistema produtivo. A mentalidade enxuta foi e continua a base do sistema de manufatura da empresa Toyota Motors, sistema também conhecido como Sistema Toyota de Produção ou STP, construído utilizando-se, em paralelo, uma teoria de produção e testes empíricos da teoria pela lógica, do tipo tentativa e erro. O STP tem sido empregado como uma estratégia na competitividade das empresas, podendo ser observado como uma referência. Decorridas cinco décadas de sua formulação original, ainda hoje o STP pode ser considerado um tema de vanguarda, pois as companhias, sobretudo as do ocidente, a aplicam de maneira parcial. Isto se deve, além da falta de conhecimento, a uma 18 associação à cultura japonesa e não como uma técnica adaptável às características particulares de cada empresa. No entanto, há um problema a ser considerado, pois mesmo sendo proveniente de uma empresa tradicional como a Toyota, pode o programa de mentalidade enxuta contribuir para a melhoria dos resultados operacionais de uma empresa de classe mundial? Esse foi o problema iniciador do presente trabalho, que fomentou a pesquisa de campo, na forma de um estudo de caso. Trata-se de elencar as características e não de verificar a existência de algum tipo de relações entre as variáveis, que, conforme será explicado adiante, extrapola os limites deste trabalho. Assim, este é um estudo descritivo, que considera uma experiência de implantação da filosofia de produção enxuta em uma planta industrial. O estudo refere-se a uma empresa fabricante de vidros automotivos localizada na região conhecida como “ABC”, parte da Região Metropolitana da Grande São Paulo, no Estado de São Paulo. A empresa possui 1.200 funcionários e o programa de mentalidade enxuta será implementada por ela em fases, em todo o parque fabril. Somente um setor, uma área piloto, foi estudado, pois além de oferecer maior velocidade quanto ao avanço do programa, apresenta melhor controle das atividades e ações em razão do número reduzido de equipamentos e operadores. O setor escolhido denomina-se de “encapsulação” e foi escolhido em razão das necessidades de atendimento crescente da demanda e, portanto, necessitando de melhorias para o devido atendimento ao cliente. Além disso, o recorte de uma área confere maior velocidade à implementação e permite estudar melhor a absorção e aplicação dos conceitos que compõem a mentalidade enxuta, de forma que a disseminação para as demais áreas possa ser mais estruturada e com melhor aproveitamento com base nas lições aprendidas. Segundo Ohno (1997), os maiores desperdícios de uma indústria concentram-se na produção e portanto as estratégias de negócio das empresas devem considerar que as atividades relacionadas a manufatura podem gerar vantagens competitivas considerando-se as atuais condições impostas pelo mercado. Coerente com esse pensamento, a manufatura enxuta é um importante elemento para a contribuição dos bons resultados operacionais, possibilitando à empresa competir em âmbito mundial. Ser “um” dos elementos contributivos, fornece o pressuposto básico de que “há uma 19 relação”; medir essa interferência ou contribuição (ou relação causal) extrapola os limites do presente estudo. Segundo relatórios internos, os resultados operacionais melhoraram consideravelmente, após a implantação do plano de manufatura enxuta, o que possibilitou à empresa estudada melhores condições para competir no mercado. A empresa espera que a implantação da mentalidade enxuta no restante das áreasenseje maior probabilidade de sucesso operacional e financeiro. No entanto, pode-se falar apenas em “probabilidade ampliada”, pois o sucesso operacional e financeiro de uma empresa não pode ser medido apenas por indicadores internos, pois o ambiente externo (contextos mercadológico geral, concorrencial, econômico, político, legal, cultural, tecnológico, entre outros) interfere de modo não mensurável específico sobre esses resultados. O ambiente interno, também, na forma de gestão administrativa e decisões sobre recursos, estilos de liderança e condução, contribui inespecificamente com os resultados. As estruturas empresariais modernas têm características não- lineares, ou seja, não apresentam um único sentido, mas múltiplos caminhos e destinos, com múltiplos resultados finais, configurando sistemas complexos, nos quais as interações entre dados e conexões geram realimentações no próprio sistema, dificultando ao extremo a identificação de causas específicas de determinados resultados. Não é objetivo do presente estudo verificar a existência ou intensidade ou profundidade ou extensão das relações e interferências internas e externas. Assim, não se trabalha com hipóteses, mas com um pressuposto de referência, que é a contribuição positiva do STP nos resultados esperados de melhoria de desempenho do sistema. Descreve-se também, de maneira sucinta, o que é e como funciona o processo de encapsulação, que é o setor estudado. Leva-se em consideração quais ferramentas foram empregadas, bem como a seqüência de trabalho adotada que geraram maiores probabilidades de sucesso, bem como alguns indicadores de resultados. Isto, porque para a validação do programa de mentalidade enxuta, a empresa determinou que deve haver a melhoria da performance técnica do setor conforme os objetivos estabelecidos pela administração. Essa melhoria será verificada pelos indicadores a serem acompanhados e aprimorados, que são: disponibilidade de 20 equipamento, redução do setup, cadência média e redução do estoque (matéria prima). Os resultados de cada indicador serão mostrados graficamente. As ferramentas que serão descritas e com maior intensidade de aplicação, para efeito deste estudo serão: o 5S, Kaizen, Mapeamento do Fluxo de Valor (VSM), Manutenção Autônoma, (um dos pilares da manutenção produtiva total – TPM), Setup Rápido, Trabalho Padronizado, Criando Fluxo Contínuo, Sistema Puxado e Nivelamento da Produção e a prática de Fazer Fluir os Materiais. Estas ferramentas visam, entre outros aspectos, à eliminação de desperdícios sob as diversas formas, coerentemente com as premissas de Ohno. O envolvimento das diversas áreas como, métodos e processos, logística, produção (líderes e operadores) e manutenção foi fundamental para o sucesso do programa. A participação de cada equipe tinha como uma premissa o amplo conhecimento do processo a ser tratado. Esta prática foi desenvolvida/aprimorada durante os treinamentos que teve o objetivo de transmitir os novos conceitos para o nivelamento quanto aos conhecimentos das práticas lean. Por se tratar de um programa no qual a melhoria é sempre contínua e necessária, a organização adotou o salutar objetivo de sempre buscar o aprimoramento em sua cadeia de produção/serviços, esta atitude caracteriza, segundo Slack (1999), uma Empresa de Classe Mundial (ou World Class Manufacturing). Por trabalhar nesta empresa, conhecer o assunto a ser estudado, a facilidade de acesso no setor de produção (setor a ser observado) e os respectivos gestores, a escolha do método de análise do avanço do programa de mentalidade enxuta será por meio dos indicadores de performance que a companhia dispõe. Os funcionários participantes do programa deverão avaliar ao final de cada treinamento o quanto as informações, teóricas e práticas, contribuíram para o conhecimento profissional e pessoal e se os resultados esperados estão alinhados com as necessidades da empresa e a política que esta defende. As informações serão registradas em formulários com perguntas fechadas e abertas de forma a possibilitar a correção de alguns métodos de condução dos treinamentos, dependendo do teor das críticas. A figura 37 apresenta um exemplo deste formulário. Além do acompanhamento dos resultados técnicos versus o conhecimento ministrado para os funcionários do chão de fábrica (operários), a alta direção 21 promoverá reuniões com a presença dos gestores de diversas áreas para incentivar a transformação cultural e conhecer o status do programa quanto à implementação. Os resultados serão apresentados no capítulo “resultado da implementação das ferramentas”. O envolvimento da diretoria é uma premissa para o sucesso do programa. O avanço do programa será acompanhado por meio de um cronograma de ações já com as prioridades estabelecidas, prioridades estas determinadas pelos indicadores de performance existentes, bem como reuniões com as médias gerências com eventuais participações de alguns funcionários diretamente envolvidos no programa. A contribuição do departamento de recursos humanos será fundamental para a divulgação dos resultados e avanço do programa para toda a fábrica, bem como o estímulo para adesão de todos ao programa. 22 1 A EMPRESA DE CLASSE MUNDIAL – SUA CARACTERÍSTICA “O verdadeiro risco é não fazer nada.” – Denis Waitley Segundo Neto (2001), nos países desenvolvidos, é expressiva a preocupação das empresas em se destacarem em seus segmentos e para isto, buscam o contínuo aprimoramento de seus processos. Em conseqüência as áreas de operação e manutenção dessas empresas procuram também a excelência, ou seja, o melhor resultado otimizado. Portanto, não há empresa excelente sem que os seus diversos segmentos também não o sejam. O aquecimento global da atividade econômica, tem resultado em um aumento da procura por bens e serviços, e estimulado as companhias a atender a estas demandas em todo o mundo, afetando diretamente o comportamento dos mercados e empresas locais uma vez que, havendo um aumento na procura por parte dos consumidores e com mais opções de ofertas, a competitividade no mercado tende a se elevar. Este fenômeno, conhecido como lei da oferta e da demanda, gera impacto no preço final e faz com que as empresas busquem melhorias em seus custos e/ou diferenciais de qualidade. Os níveis de exigência dos consumidores se elevaram proporcionalmente à variedade de itens oferecidos, de forma que não há espaço para empresas com baixa performance produtiva atuarem sem que seus custos comprometam suas operações. Mesmo as pequenas empresas têm buscado adequações em seus processos produtivos ou administrativos para concorrerem em seus segmentos e manter a perenidade de seus negócios. Estas alterações no mercado têm estimulado as companhias a promover uma mudança em suas mentalidades no sentido de se tornarem mais competitivas. Para tanto tiveram que reformular a maneira como a manufatura/serviço são realizadas bem como a oferta o consumidor final, pois há cerca de dez anos as empresas determinavam o valor de seus produtos, pois havia uma maior aceitação do mercado em razão das poucas alternativas. Havia poucas empresas oferecendo o mesmo produto, de forma que os consumidores não dispunham de muitas opções de compra, 23 neste contexto os custos de produção, mesmo se fossem elevados, poderiam ser totalmente repassados ao cliente final. Segundo Marshall (1983) em uma economia “fechada” (com as antigas reservas de mercado), o preço de um produto ou serviço é o resultado da soma dos custos e do lucro, que geralmente é arbitrário.Esta era uma lógica expressa pela fórmula: Preço = Lucro + Custo Esta situação alterou-se fortemente devido não somente ao crescimento do mercado interno, mas também ao estreitamento do mercado internacional de forma que, atualmente há muitas empresas oferecendo os mesmos produtos e/ou serviços, fazendo com que haja mais opções de escolha para o cliente final que por sua vez, buscará o menor preço associado ao melhor produto. Este é o cenário em que vivenciamos atualmente, no qual o consumidor possui uma maior gama de opções e, portanto tende a não absorver os custos elevados contidos nos produtos. Desta forma, em um ambiente competitivo, o mercado é que impõe o preço do produto/serviço e o lucro é aquele objetivado para remunerar o capital. Assim, deduzindo-se os custos de fabricação, obtém-se o lucro. Esta nova lógica atualmente empregada é expressa pela fórmula: Preço – Lucro = Custo Neste modelo deve-se praticar o controle de custos usando ferramentas que permitam a redução de desperdício de matérias primas, insumos, energia, tempo (aumento da produtividade), revisão do processo, do projeto do produto, etc. Para a obtenção da otimização dos processos o fator custo passou a ser obsessivamente gerenciado (já que custo é todo desembolso diretamente envolvido na produção). Segundo Ohno (1997) muitos dos custos de produção estão sob a forma de desperdícios que são caracterizados por perdas e/ou qualquer atividade que não agregue valor ao produto final. Atualmente o cliente possui mais opções para não pagar pelos desperdícios contidos em um produto. Obter melhores resultados por meio da melhoria contínua quanto à qualidade, custos e rapidez de entrega, tem sido uma das opções adotadas pelas companhias para continuarem a fornecer seus serviços ou produtos mesmo quando há crises externas. A constante busca para obtenção de elementos para otimizar os processos e procedimentos, tem aprimorado o perfil tanto dos profissionais como o das empresas. 24 Esta característica tem elevado o nível de competitividade e é encontrada predominantemente em empresas de classe mundial que escolheram em sê-lo não somente pelos resultados, o que já seria plenamente justificável, mas também por uma necessidade de sobrevivência. O termo “World Class Manufacturing” - WCM, em tradução livre, Empresa de Classe Mundial, foi utilizado por Hayes e Wheelwright (1984). Slack (1999) define que as empresas de classe mundial estão permanentemente em busca dos melhores processos e técnicas operacionais a fim de que possam competir nas dimensões competitivas de custo, qualidade, confiabilidade, flexibilidade e rapidez de entrega. Estas empresas têm buscado ferramentas ou programas de gestão que possam auxiliar na conquista e/ou aprimoramento dos elementos de competitividade que por sua vez atuarão para a garantia de sobrevivência. Uma das técnicas amplamente utilizadas, aceita por muitos como uma filosofia, é o Lean Manufacturing, ou MENTALIDADE ENXUTA que é baseada no sistema Toyota de produção, sendo uma referência industrial quanto aos excelentes resultados apresentados. As técnicas empregadas pela Toyota desde a década de 1950 levaram a montadora a se tornar a maior do mundo em 2008, tanto em número de unidades vendidas como em resultados financeiros, como pode ser verificado na tabela 1. Tabela 1 – Acompanhamento de desempenho das três gigantes do setor. Toyota GM Ford Vendas Globais de carros em 2007 (em unidades) 8,54 milhões 8,53 milhões 7,73 milhões Valor de mercado US$ 250 bilhões US$ 20 bilhões US$ 15 bilhões Resultado econômico em 2006 Lucro de US$ 13 bilhões Lucro de US$ 2,5 bilhões Prejuízo de US$ 12,7 bilhões Fonte: CSM Worlwide e Center for Automotive Research – Revista época Negócios abril 2007, p.108. Segundo Womack e Daniel (2004), o benefício oferecido pelo emprego dos métodos adotados pela Toyota, pode ser adaptado à realidade de qualquer indústria de 25 manufatura ou serviços no mundo, podendo, portanto, ser amplamente utilizada em uma empresa de classe mundial (World Class Manufacturing). O sistema Toyota de Produção é baseado, entre outros elementos, na eliminação de desperdícios comumente encontrado no sistema de produção em massa que por sua vez, é adotado por uma parcela muito grande de empresas. Para romper com os paradigmas deste tipo de produção e adotar o sistema enxuto, faz-se necessário conhecer os benefícios e formas de aplicação para que seja possível traçar a estratégia de mudança. 1.1 A produção em massa e a produção enxuta Para entender a contribuição e o motivo do uso de cada sistema aos processos industriais, será descrito de forma breve as origens da produção em massa e da produção enxuta, bem como as principais diferenças entre si. Segundo Marchwinksi e Shook (2003) a produção em massa é um sistema de negócios desenvolvido no início do século XX para organizar e gerenciar o desenvolvimento de produtos, as operações de produção, o sistema de compras e o relacionamento com os clientes. O principal percussor do sistema de produção em massa foi Henry Ford que em 1908 comercializou o modelo T, um veículo desenhado para a produção em escala industrial. A chave para a produção em massa não era a linha de montagem em movimento constante, mas o completo e consistente intercâmbio entre as peças e a simplicidade de encaixá-las, por meio da padronização de medidas. Desta forma em 1913, foi criada a primeira linha de montagem móvel na fábrica Highland Park, em Detroit, EUA, no qual foram alocados trabalhadores em pontos estratégicos de forma que estes aguardavam a chegada de partes do veículo para a devida montagem. Assim, o carro era completado no final da linha. Este sistema fez com que o operador desconhecesse o processo completo, pois cada funcionário tinha somente a função necessária para cada fase, como o aperto de parafusos e porcas ou a inserção de componentes. Por ter sido utilizada com grande sucesso, principalmente na indústria automobilística por Henry Ford, este sistema tem sido reproduzido pelas empresas ao 26 longo do tempo e se mantêm presente nos dias atuais em muitas organizações, inclusive em alguns setores da empresa a ser estudada. No entanto este modelo foi abalado a partir do choque do petróleo de 1973, ano em que o aumento vertiginoso do preço do barril de petróleo afetou profundamente toda a economia mundial. Segundo Jeffrey e Nile (2004) em meio a milhares de empresas que sucumbiam ou enfrentavam pesados prejuízos a Toyota Motor Company emergia como uma das pouquíssimas empresas a escapar praticamente ilesa dos efeitos da crise. A partir deste contesto o sistema de produção enxuto, apresentado pela Toyota, passou a ter o reconhecimento mundial. Segundo Marchwinksi e Shook (2003), a produção enxuta (do original em inglês, lean) foi um termo cunhado, no final dos anos 1980, pelos pesquisadores do International Motor Vehicle Program (IMVP) e rapidamente difundido com a publicação do livro A Máquina que Mudou o Mundo. Este programa de pesquisas era ligado ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), para definir um sistema de produção eficiente, flexível, ágil e inovador, superior à produção em massa, um sistema habilitado a enfrentar melhor um mercado em constante mudança. A Manufatura Enxuta é um termo genérico usado para definir o Sistema Toyota de Produção - STP. Segundo Womack (2004), a produção enxuta é uma evolução dos sistemas de produção artesanal e produção em massa, a produção artesanal usava trabalhadores altamente qualificados, com processos flexíveis que permitiamfazer exatamente o que o consumidor desejava: um item de cada vez. O resultado é que o consumidor obtinha exatamente o que ele queria, mas com um custo provavelmente alto. A produção em massa utiliza profissionais de habilidades bastante específicas para operar máquinas/equipamentos (muitas vezes de alto custo) e que realizam somente um tipo de tarefa. Os produtos fabricados são padronizados em altos volumes. Normalmente neste processo, mesmo que não haja a venda, as máquinas não costumam parar ou ocorrem diversos desperdícios relativos a estoques, consumo de energia, mão-de-obra, matéria prima, entre outros. Para Ohno (1997) a produção enxuta, se caracteriza pelas diversas habilidades dos times de trabalhadores nos diversos níveis da organização, assim como máquinas e processos flexíveis e automatizados capazes de produzir altos volumes de produtos com grande variedade, otimizando assim os recursos existentes (na quantidade necessária). 27 As diversas habilidades dos profissionais que atuam neste sistema são adquiridas devido a multifuncionalidade existente, e proporciona a aplicação de melhorias em todo o sistema, já que o conhecimento sobre as causas, ou seja, o domínio dos fatores que interferem sobre os processos de produção (causa raiz), também é amplo. Embora o sistema de produção enxuta proporcione excelentes resultados, é comum encontrar, sobretudo nas empresas ocidentais, a aplicação parcial dos conceitos ou até mesmo alguma resistência para efetivar o programa. Esta situação ocorre, entre outros fatores, devido à falta de conhecimento sobre as vantagens/benefícios que podem ser atingidos, e aspectos culturais como a segurança que produtos prontos estocados proporcionam no atendimento ao cliente, melhorias pontuais e não abrangendo toda a cadeia produtiva, foco no cliente e não o foco do cliente. É comum associar-se o sistema à cultura japonesa, e não a uma técnica adaptável às características particulares de cada empresa. Para que essa prática mude, há necessidade de instituir-se um “pensamento enxuto”, ajudando as empresas a especificarem claramente o conceito de valor que, segundo Marchwinksi e Shook (2003, p. 87), é o conteúdo inerente de um produto, segundo o julgamento do cliente, refletido em seu preço de venda e demanda de mercado. Portanto deve haver o alinhamento de todas as atividades que criam valor para um produto específico ao longo de uma cadeia produtiva, de modo a atender as necessidades do cliente. Segundo Marchwinksi e Shook (2003, p. 87), O objetivo do Pensamento Lean é eliminar as atividades desnecessárias e preservar e aumentar aquelas que agregam valor para o cliente. Como foi descrito, o sistema de produção enxuto é baseado na eliminação de desperdícios. Torna-se, portanto, imprescindível conhecer quais são estes elementos bem como a aplicação dos mesmos de forma responsável. A tabela 2 apresenta os comparativos entre as atividades de fabricação com o conceito tradicional e com o conceito enxuto. Segundo Womack (2004), um caminho coeso para a implementação do programa de manufatura eficaz em uma organização é por meio do pensamento ou mentalidade enxuta (lean thinking), no qual as ações são ordenadas e abrangentes, servindo como um norteador para as decisões e mudanças. Por se tratar de um sistema capaz de se adaptar aos diversos aspectos culturais, o lean manufacturing, ou 28 manufatura enxuta foi escolhido pela empresa no qual será realizado o estudo de caso, como um meio para se obter melhores resultados e alinhar com a política da empresa de ser uma companhia de classe mundial. Tabela 2 – Fabricação tradicional x fabricação enxuta TRADICIONAL ENXUTA 1. Quando não se fabricam, não se geram lucros. 1. Quando não se fabricam resultados positivos e peças de qualidade, não se geram lucros. 2. Programação da produção baseada em previsões e produção “empurrada” na fábrica. 2. Reagir à procura real e puxar a produção, na fábrica. 3. Longos tempos de preparação das máquinas exigem tamanhos enormes de lotes. 3. Tamanhos menores de lotes exigem preparação mais rápida das máquinas 4. Relaxar durante a preparação, correr durante a produção. 4. Correr durante a preparação, observar, pensar, melhorar durante a produção. 5. O estoque é natural, mantém a produção fluindo. 5. Estoque é desperdício, esconde os problemas de capacidade, produção e qualidade. 6. É necessário instruções de processo para garantir a perfeita utilização da máquina. 6. Velocidade, fluxo de uma peça, sempre em movimento. 7. Mercadorias acabadas são ativos exigidos por procura incerta. 7. Estoque é uma responsabilidade. Quanto mais você tem, mais ele custa. 8. A capacidade ociosa de uma máquina está perdida para sempre, mas o estoque pode salvá-la. 8. É melhor pagar um funcionário ocioso do que produzir estoque. 9. Os erros são parte natural do processo de produção. 9. Os erros são oportunidades de entender e aperfeiçoar o processo de produção. 10. A demanda real, em relação ao lead time, é intrinsecamente incerta. Apressar e despachar os pedidos são parte natural dos serviços ao bom cliente. 10. A resposta à demanda real é obtida de melhor forma a partir de equipamento e processos flexíveis e ampla capacidade. 11. O trabalho braçal do funcionário é uma despesa variável que deve ser cortada. 11. A capacidade intelectual do funcionário é um ativo a ser cultivado a longo prazo. 12. Diversos fornecedores garantem suprimento confiável e preços baixos. 12. As parcerias com fornecedores garantem serviços confiáveis e valorização. 13. Os clientes são a fonte dos lucros. Deve-se fazer o melhor para servi-los. 13. Deve-se servir aos clientes de acordo com seus requisitos. O "melhor“ da empresa poderá não ser suficientemente bom. Fonte: Apostila de Treinamento de VSM da empresa Eaton Corporation (1998). 29 2 MENTALIDADE ENXUTA COMO FORMA DE ELIMINAÇÃO DE DESPERDÍCIOS De acordo com Campos (1996), o desperdício é todo e qualquer recurso que se gasta na execução de um produto ou serviço além do estritamente necessário (matéria- prima, materiais, tempo, energia, por exemplo). É um gasto extra que aumenta os custos normais do produto ou serviço sem trazer qualquer tipo de melhoria para o cliente. O desperdício, conhecido na língua japonesa como muda, é o fator que afeta diretamente os custos de uma empresa e, como já mencionado, é algo que deve ser gerenciado e eliminado, possibilitando uma melhor competitividade para a organização. Como todo programa a ser implementado em uma companhia, faz-se necessário o apoio da alta administração. No caso do programa de manufatura enxuta, torna-se uma premissa para o sucesso, ainda, o total comprometimento por meio de participações no “chão-de-fábrica” mostrando o conhecimento sobre as atividades bem como a valorização para os funcionários. Este tipo de ação, no qual há a participação ostensiva dos gerentes e diretores de diversas áreas junto ao processo, motiva e incentiva os funcionários a contribuírem para um resultado salutar, já que estes podem perceber a importância do programa por meio do forte patrocínio e/ou interesse apresentado pelos superiores. Segundo Ohno (1997) quando este tipo de programa é apoiado por um sistema de sugestão de melhorias, o combate a eliminação de perdas tem sua eficácia elevada. Quando idéias de melhorias, especialmente as advindas dos operários na fábrica, são valorizadas e implementadas, as mesmas surtem efeitos positivos e são fortes elementos de agregação de valor. Criar e manter o envolvimento dos funcionários, embora de difícilexecução, é parte inerente em um programa de manufatura enxuta, e deve ser aplicado. O engajamento dos funcionários no programa para a obtenção e divulgação de melhores resultados, tornará o ambiente de trabalho mais produtivo, no entanto faz-se necessário definir o que deve ser melhorado, quais desperdícios devem ser encontrados e eliminados, já que o programa de manufatura enxuta tem como sua 30 base a eliminação de desperdícios como fonte de aprimoramento contínuo do processo. O Pensamento enxuto possibilita a constante vigília sobre os itens que não agregam valor ao produto e ao processo, para tanto se faz necessário conhecer os desperdícios que interferem nos resultados. 2.1 Os oito principais desperdícios De acordo com Womack (1992), o executivo Taiichi Ohno identificou sete principais tipos de desperdícios primários, que também conduzem a desperdícios secundários. Segundo Liker (2007) após revisões e evoluções no programa, o número de desperdícios a serem eliminados passou para oito. Esta versão é utilizada na empresa estudada. Na seqüência, os sete desperdícios identificados por Ohno (1997) e a oitava forma de desperdício apresentado por Liker (2007) serão apresentados: 1. Produção em excesso: produzir além das necessidades do próximo processo ou cliente. Segundo Ohno (1997) é a pior forma de desperdício, pois contribui para a ocorrência das outras formas de desperdícios. 2. Espera: operadores esperando enquanto as máquinas operam, falhas no equipamento, peças necessárias que não chegam etc. 3. Transporte: movimentação desnecessária de produtos ou peças. O transporte é somente uma movimentação de produtos, o que não contribui diretamente para o valor agregado destes. Esta é a razão pela qual o transporte deve ser evitado, a menos que seja utilizado para o fornecimento da quantidade certa, na hora certa, no lugar certo, de acordo com a solicitação. 4. Processamento: realizar etapas desnecessárias ou incorretas, geralmente devido a equipamento ou projeto ruim, como por exemplo, uma máquina que interage com um operador e possui movimentos mais lentos do que o homem necessita ou ao contrário, uma máquina rápida demais que não pode ser acompanhada pelo homem e, portanto sua velocidade ou fase de processo é reduzida (ambos os casos apresentam desperdícios de recursos). É comum 31 encontrar máquinas e/ou processos que são desenvolvidos pelo departamento de engenharia sem a participação das demais áreas como a de produção (com a presença do operador), logística e métodos & processos, e neste caso o resultado nem sempre é o melhor, pois há variáveis e problemas conhecidos de projetos e processos anteriores que cada membro conhece e deve compartilhar. 5. Estoque: possuir estoques maiores que o mínimo necessário para um sistema puxado controlado precisamente. Quando ocorre excesso de fornecimento de peças entre os processos, ou muitas peças (matéria-prima, componentes, etc.) são entregues pelos fornecedores, com o intuito de abastecer a fábrica, ocorre o que se chama de excesso de Inventário (estoque), que exige capital de giro para sua manutenção, isto gera custo e, caracteriza dinheiro parado, ou seja, perdas. Quanto maior o inventário, maior o desperdício. 6. Movimentação: operadores realizando movimentações desnecessárias tais como procurar por equipamento, peças, documentos, etc. 7. Correção: Pode-se dizer que este item está entre os piores fatores de desperdício, pois os mesmos podem gerar retrabalho, custo de recuperação ou mesmo a perda total do esforço e material. Outro ponto importante a ser considerado é o elevadíssimo risco de perder clientes. 8. Talento Perdido: não aproveitar as idéias dos funcionários. Ao se resolver um problema da fábrica, a equipe de avaliação deve estar presente na fábrica e, portanto em contato com quem participa diretamente da produção. Ouvir o funcionário com atenção e respeito além de ser uma apresentação de valorização do mesmo, abrevia o tempo tentando encontrar alguma anomalia que em muitos casos já é conhecida. Esta prática deve incentivar também a sugestão de melhorias. Conhecer os elementos que geram os desperdícios/problemas nos diversos processos da empresa, não garante a sua melhoria, tampouco a obtenção de resultados financeiros desejáveis. Disseminar os conceitos sobre a mentalidade enxuta em uma organização requer além de esforço e disciplina, uma estratégia que seja abrangente para toda a companhia e busque o comprometimento e envolvimento de todos os participantes/colaboradores. 32 No próximo capítulo serão mensuradas quais as ferramentas a serem utilizadas e como cada uma contribuirá para os resultados financeiros da companhia. Será descrito também, como será medido o desempenho deste programa durante sua implementação, bem como um roteiro a ser seguido pelos facilitadores e colaboradores. 33 3 MENTALIDADE ENXUTA – UM ROTEIRO DE IMPLEMENTAÇÃO PARA O CASO OBSERVADO Muitos programas e ferramentas de gestão estão em andamento na empresa estudada, todos voltados para a manutenção e/ou melhoria dos resultados, tanto industriais como financeiros. Como o programa de mentalidade enxuta consiste também em realizar treinamentos para os funcionários, deverá ser considerado as atividades já existentes, evitando desta forma o conflito de agendas e sobrecarga de treinamentos para os operários. Existem muitas ferramentas que podem ser implementadas em um processo produtivo, no entanto deve-se realizar a avaliação das possíveis melhorias bem como a mensuração das mesmas. Para tanto devem ser criados indicadores que meçam o desempenho que segundo Neely et al. (1995), é o processo de mensurar ações, onde medir é o processo de quantificar e a ação conduz ao desempenho. Portanto estes indicadores estarão atrelados às ferramentas escolhidas a serem implementadas. Segundo Womack (2004) há um roteiro de implementação dos conceitos e ferramentas do programa mentalidade enxuta que podem ser seguidos em uma empresa. Segundo o Lean Institute Brasil (2007) o roteiro apresentado na figura 1, é amplamente utilizado, pois apresenta uma cadência lógica, desde a sensibilização ao programa, passando pelo diagnóstico da situação, até as atividades de implementação de ferramentas específicas, exigidas pelo processo. 34 Figura 1 – Etapas sugeridas para implementação de conceitos e ferramentas do programa mentalidade enxuta. Fonte: LIB – Lean Institue Brasil – www.lean.org.br/bases.php?interno=suporte_cursos - acesso em 05/10/2007. Após uma reunião com os gestores da área piloto, com a diretoria e os especialistas em sistemas de produção, foi escolhido o roteiro de implementação sugerido pelo LIB, no entanto, de forma parcial no qual foram escolhidos os seguintes elementos: 1. Sensibilização; 2. Mapeamento do Fluxo de Valor; 3. Setup Rápido (troca rápida de ferramentas); 4. Trabalho Padronizado; 35 5. Sistema Puxado e Nivelamento da Produção; 6. Manutenção Autônoma. 7. Criando Fluxo Contínuo; 8. Fazendo Fluir os Materiais; A empresa estudada trata os itens de 2 a 8 (Mapeamento do fluxo de valor, setup rápido, trabalho padronizado, sistema puxado e nivelamento da produção, manutenção autônoma, criando fluxo contínuo e fazendo fluir os materiais) com a nomenclatura de ferramentas Enxutas e todas poderão ser implementadas na área piloto. Cada um destes itens será descrito para conhecer quais os benefícios oferecidos por cada um. 3.1 Ferramentas e programas de apoio Os conceitos das ferramentasenxutas serão transmitidos para os funcionários por meio de workshops, que serão treinamentos com carga horária dividida entre conhecimentos teóricos e práticos com ênfase em trabalhos em campo para a análise do processo durante o período de trabalho, para a devida aplicação dos conceitos. Ao final de cada workshop, os participantes realizam um plano de ação e apresentam ao diretor e/ou gerente da unidade que irão validar os planos. A presença de pessoas de diversas áreas se faz necessário para a determinação de cada prazo e responsável. Este tipo de treinamento é definido pela empresa como “treinamentos mão na massa” Após o treinamento, os participantes se reúnem com a gerência em uma periodicidade de quinze dias para avaliar o status do plano quanto aos prazos e verificação do cumprimento das metas estipuladas durante o treinamento. Segundo Schonberger (1988, p. 67), “é necessário que algumas premissas básicas sejam implementadas para que as transformações ocorram no chão de fábrica”: • Engajamento da alta gerência; • Ambiente favorável à implementação de mudanças; • Formação e treinamento da mão-de-obra; 36 • Facilitação dos trabalhos de times; • Quebra das barreiras entre os departamentos; • Simplificação dos processos; • Diminuição dos estoques intermediários: Just- in-Time e Kanban; • Engajamento de todos para a melhoria dos processos; • Responsabilidade pela produção: quantidade e qualidade; • Responsabilidade pelos meios de produção: equipamentos e instalações. Estes elementos serão considerados durante o processo de implementação do programa de mentalidade enxuta bem como nos planos de ação gerados durante os treinamentos. Cada funcionário do setor, no qual o programa da mentalidade enxuta será implementado, receberá o treinamento referente as sete ferramentas enxutas, já tendo passado pelas palestras de sensibilização. O benefício de cada elemento, segundo o Lean Institue Brasil - LIB, bem como a carga horária está descrito abaixo: • Sensibilização: Mostra a possível aplicação dos conceitos lean à situação concreta da empresa. Ministrada também para públicos mais amplos de uma planta, ou mesmo para toda a empresa, como forma de apontar os desafios que serão enfrentados e a necessidade de envolvimento de todos tendo em vista a decisão já tomada pela empresa. É usada como instrumento de esclarecimento dos conceitos e/ou convencimento dos possíveis benefícios para auxiliar no processo decisório quanto à adoção do Pensamento Enxuto. Carga horária de 3h. • Mapeamento do Fluxo de Valor: Por meio de demonstrações, discussões, exercícios e aplicação prática, este workshop mostra como enxergar fluxos de valor, identificar as causas dos desperdícios, esboçar e planejar a aplicação das técnicas lean. Carga horária de 16h. • Setup Rápido (troca rápida de ferramentas): Aumentar as taxas de utilização de máquina e a capacidade produtiva; Produzir em pequenos lotes; Melhorar o nivelamento da produção; Aumentar a flexibilidade de 37 produção. Carga horária de 8h (podendo ser maior em razão do tempo de setup encontrado). • Trabalho Padronizado: Operacionalizar o verdadeiro fluxo contínuo; Identificar e eliminar desperdícios; Estabilizar as operações, garantindo qualidade, produtividade e segurança no trabalho; Aumentar a consciência a respeito do papel da padronização para o efetivo aprendizado organizacional; Canalizar o potencial criativo das pessoas que executam o trabalho de modo a construir conhecimento ao longo do tempo. Carga horária de 8h. • Sistema Puxado e Nivelamento da Produção: Tem o objetivo de reduzir os níveis de estoques, elevando-se o nível de atendimento aos clientes. Além de tornar mais simples os fluxos de informações e proporcionar mecanismos para o autocontrole da operação. Carga horária de 14h. • Manutenção Autônoma: Levar o equipamento a melhor condição possível (próximo do original); elevar a consciência dos operadores quanto a importância do funcionamento pleno do equipamento; agregar valor ao trabalho dos operadores. Carga horária de 8h. • Criando Fluxo Contínuo: O Mapeamento do Fluxo de Valor mostra como iniciar a transformação lean através de uma análise porta-a-porta (compreendido pelos processos de produção entre a matéria prima e a expedição) dos fluxos de materiais e informações. É mostrado como iniciar melhorias mais focadas nos processos-chave do fluxo de valor, analisando os detalhes da operação. Carga horária de 8h. • Fazendo Fluir os Materiais: Maior giro dos estoques; Racionalização dos recursos utilizados na movimentação (pessoas, empilhadeiras etc.); Redução do espaço necessário para armazenar partes; Simplificação do fluxo de informações; Maior estabilidade dos outputs. Carga horária de 8h. Estas ferramentas conhecidas pela empresa como ferramentas enxutas recebem o apoio de alguns programas já implementados com sucesso. É o caso do programa 5S, que segundo Silva (1996) cria e/ou aprimora um ambiente competitivo 38 nas organizações por meio dos sensos de utilização, ordenação, limpeza, higiene e autodisciplina, e foi a base de implementação da Qualidade Total nas empresas, e também deve ser considerado como a base para a sustentação da manufatura enxuta. É possível principiar a eliminação de desperdícios em cinco fases, com base no método "5S", surgido no Japão no fim da década de 60. Segundo Campos (1999), o método 5S foi um dos fatores para a recuperação das empresas japonesas e base para a implantação dos métodos da Qualidade Total naquele país. Para Rother e Shook (1999) o sucesso do programa de mentalidade enxuta, ou eliminação de desperdícios, está entre outros fatores, no envolvimento de todos os funcionários do “chão de fábrica”, portanto a sugestão de cada um deve ser levada em consideração, permitindo desta forma que não haja o oitavo desperdício (a eliminação de idéias). Para evitar a reincidência de problemas nos processos, as soluções encontradas, convertidas em ações corretivas ou preventivas, devem ser padronizadas e registradas, de forma que todos possam conhecer o avanço das melhorias, além de se tornar mais fácil a identificação de novas anomalias. Este processo consiste em melhorar sempre, portanto o programa de melhoria contínua, ou Kaizen auxiliará na implementação do sistema enxuto (Lean System – LS). Segundo Imai (1988, p. 21), “Kaizen significa melhoria contínua. Mais do que isso, significa continuar melhorando na vida pessoal, na vida do lar, na vida social, na vida profissional. Quando aplicado ao local de trabalho, Kaizen significa melhoria continua envolvendo a todos, desde gerentes até funcionários por igual”. A eficiência e eficácia dos resultados propostos por cada ferramenta auxiliarão na eliminação dos oito desperdícios já mencionados. Cada uma destas ferramentas e métodos serão descritos para melhor entendimento da atuação de cada uma bem como sua contribuição para o WCM. Portanto os itens a serem detalhados serão: • Método 5S; • Melhoria Contínua - Kaizen; • Mapeamento do Fluxo de Valor; • Setup-Rápido; • Trabalho Padronizado; 39 • Sistema Puxado e Nivelamento da Produção – Kanban; • Manutenção Autônoma; • Criando Fluxo Contínuo; • Fazendo Fluir os Materiais. Cada um dos elementos supracitados serão implementados na linha piloto como forma de obter melhores resultados operacionais e conseqüentemente financeiros e, portanto possuirão indicadores para a confirmação da eficácia do programa. Segundo Womack (2004), muitos resultados positivos foram obtidos em várias empresas com a implementaçãodo programa mentalidade enxuta – Lean System (LS). A tabela 5 apresenta uma média destes resultados Tabela 3 – Resultados obtidos na indústria automobilística após a implementação do Lean System antes depois ganho Estoque (pçs) 187.713 59.819 68% Lead Time (dias 32,5 4 87% Produtiv idade (pçs/h) 39,3 50,3 27% Itens defeituosos 8,4% 3,4% 59% Empresa B Empresa A Fonte: Roother & Shook (1999) 3.1.1 Método 5S Segundo Campos (1999) e Silva (1996) o método "5S" é considerado a base de implementação de diversos programas, por se tratar de uma metodologia que gera condições para a estabilidade na área e/ou setor, podendo ser implementada em toda a companhia. Portanto, o 5S é a “terraplanagem” para a implementação do sistema enxuto – LS. Abaixo está descrito o significado de cada fase do 5S. Segundo Osada (1992, p. 27), os passos estão divididos em palavras japonesas iniciadas com a letra "S" que compõem os ”5S": Seiri, Seiton, Seiketsu, Seiso e Shitsuke. Cada uma dessas fases será detalhada, para melhor entendimento: 40 Seiri - (Descarte) - Tenha só o necessário, na quantidade certa. Cada pessoa deve saber diferenciar o útil do inútil, e o que tem utilidade certa deve estar disponível. Descartando o que é desnecessário, será possível concentrar-se apenas no que é necessário. As vantagens do descarte são: • Reduz as necessidades de espaço, estoques, gastos com sistema de armazenamento, transporte e seguros; • Facilita o transporte interno, o arranjo físico, o controle de produção, a execução do trabalho no tempo previsto; • Evita compras de componentes em duplicidade; • Aumenta o retorno do capital empregado, e outros. Um local ou setor pode ser escolhido como “pilo” para posteriormente servir como exemplo. O registro da situação anterior, por meio de fotos, é interessante para as comparações. Cada elemento do grupo que atuará no processo de organização/descarte deverá estar ciente de suas responsabilidades Os materiais a serem descartados devem ser identificados bem como o destino de cada. Após o trabalho de separação dos materiais, outros setores devem ser informados antes do descarte para que seja evitado a não utilização de algo que possa servir para outra pessoa. Seiton - (Arrumação) - cada coisa tem o seu único e exclusivo lugar. Cada coisa, após ser usada, deve estar em seu lugar. Tudo deve estar sempre disponível e próximo do local de trabalho, e ter tudo o que é necessário, na quantidade certa, na qualidade certa, na hora e no lugar certo, o que propiciará vantagens no ambiente de trabalho, como, por exemplo, a redução do tempo de procura de ferramentas para a execução de uma Troca Rápida de Ferramentas, dentre outras. A prática do seiton fará com que o posto de trabalho torna-se mais eficiente já que tudo o que o funcionário necessitar estará no devido lugar com facilidade de acesso de acordo com a freqüência de uso Seiso - (Limpeza) - todos devem estar conscientes da importância de estar em um ambiente limpo e da necessidade de manter essa limpeza. Dentre as vantagens de se trabalhar em ambientes de trabalho limpos são citadas: • Boa imagem da empresa, aumentando a confiabilidade do cliente; 41 • Possibilidade de identificação de pontos causadores de contaminação; • Maior satisfação do funcionário dentro de seu local de trabalho; • Maior segurança. Para estimular os funcionários, as lideranças devem participar da prática da limpeza. Esta prática além de facilitar a manutenção de equipamentos, já que qualquer anomalia como vazamentos é mais facilmente identificados, a limpeza associada à organização torna o ambiente mais seguro. As fontes que podem gerar sujeiras devem ser avaliadas no sentido de eliminar as causas Seiketsu − (Padronizar) − após cumpridas as fases anteriores, rotinas e práticas padrão devem ser estabelecidas para a repetição regular e sistemática dos "5s” anteriores. Para isso deverão ser criados procedimentos e formulários de avaliação regular, em que a opinião de todos deve ser considerada para a elaboração dos padrões, o que ajudará a manutenção do sistema. Alguns exemplos de padrões podem ser citados: • Quadro de ferramentas devidamente sombreado; • Área demarcada para avaliação de produto segregado; • Marcações visuais para monitoramentos (ex.: nível de tanques, etc.); • Criação de Planos Diários de Manutenção. Shitsuke – (Disciplina) – esta fase está ligada à manutenção sistêmica, de forma que atividades anteriormente explicadas se tornem habituais, para que todos as executem diariamente e assim garantam que altos padrões sejam alcançados. Para tanto, deve ser criado e assumido um compromisso rígido dos funcionários com todo o processo, vinculando-o com outras atividades enxutas (TPM, Redução de Tempos de Setup, Kanbans, etc.). Para que seja incorporada à cultura da organização, as lideranças devem trabalhar continuamente com as equipes no sentido de buscar o comprometimento para com o programa. 42 Para averiguar a consistência e adesão do programa, deve-se criar auditorias que devem ser realizadas periodicamente por equipes que também são responsáveis pela divulgação dos resultados. Desta maneira todos poderão ter conhecimento dos pontos de melhoria bem como o avanço de cada setor. Um exemplo de formulário padrão encontra-se no anexo A. 3.1.2 Melhoria Contínua - Kaizen Para Slack (1999, p. 726), “[...] kaizen é um termo japonês que pode ser interpretado como melhoria contínua do homem”; no entanto, quando aplicado à empresa, é interpretada, também, como melhoria continuada dos processos de produção e administrativos, buscando a perfeição do processo produtivo, uma vez que esse não acaba, ou seja, após um kaizen, sempre haverá outros futuros, mantendo o sistema sempre “aceso”. O kaizen pode ser aplicado à redução de custos. Grupos de melhoria para a redução de custos são comuns nas empresas. De acordo com Brimson (1996, p. 62), “melhoria contínua significa que a excelência empresarial necessita de melhoria em todas as atividades da empresa, o que requer a gerência das atividades para minimizar os desperdícios, estando constantemente na busca da perfeição em todas as áreas”. Segundo Imai (1988, p. 23), “Kaizen é um conceito de guarda-chuva, que abrange a maioria das práticas “exclusivamente japonesas” que recentemente atingiram fama mundial”. Na Figura 2, pode-se observar o conteúdo do conceito citado acima como “guarda-chuva”: 43 Figura 2 – O guarda-chuva do Kaizen Fonte : Imai (1988) Para Campos (1999), o kaizen está fortemente presente nos processos de solução de problemas devido ao uso de diversas ferramentas de análise. Uma vez resolvido o problema a situação deve ser padronizada o que garantirá, além da padronização do processo, uma melhoria futura. O ícone de kaizens deve estar presente no mapeamento do fluxo de valor (o mapeamento do fluxo de valor será descrito no próximo tópico), como forma de mostrar que uma oportunidade de melhoria foi identificada e deve ser implementada. Juntamente com a observação da melhoria, deve estar presente o tipo de ferramenta a ser aplicada para solucionar o problema. O resultado proposto deve constar no mapa do estado futuro como uma forma de determinar uma meta a ser atingida. Para que haja maior adesão aos projetos de melhoria, faz-se necessário a criação de um canal para que, sob a forma de sugestões (a forma mais comum), haja maior participação de todos os funcionários. A gerência deve implementar um sistema de sugestões e reconhecimento para estimular o programa de kaizens.Segundo a Associação Japonesa de Relações Humanas, os principais temas das sugestões, nesse sistema das empresas japonesas, são: • Orientação para o consumidor; • CTQ (Controle Total da Qualidade); • Robótica; • Círculo de CQ (Controle de Qualidade); • Sistemas de sugestões; • Automação; • Disciplina no local de trabalho. • Kanban; • Melhoria da Qualidade; • Just-In-Time; • Zero defeito; • Atividades em grupos pequenos • Relações cooperativas entre administração e mão-de-obra; • Melhoria da produtividade. 44 • Melhoramentos no próprio trabalho; • Economia de energia, de materiais, e outros recursos; • Melhoramentos no ambiente de trabalho; • Melhoramentos nas máquinas e processos; • Melhoramentos nos dispositivos e ferramentas; • Melhoramentos no trabalho de escritório; • Melhoramentos na qualidade do produto; • Idéias de novos produtos; • Serviços e relações com o consumidor. 3.1.3 Mapeamento do Fluxo de Valor Para que seja feito o mapeamento da cadeia de valores, ou Value Stream Map (VSM), torna-se necessária a definição de valor, que, segundo Womack (1998), é feito pelo cliente e só é significativo quando expresso em termos de produto específico (bens ou serviços), que atenda às necessidades do cliente a um preço e momento específicos. Segundo Rother e Shook (1999, p. 3), “fluxo de valor são todas as atividades, que criam valor ou não, necessárias para transformar insumos em produtos, portanto para trazer um produto por todos os fluxos essenciais a cada item manufaturado, desde que possua etapas de fabricação”: 1. O fluxo de produção desde o recebimento da matéria-prima até o consumidor final; 2. O fluxo do projeto do produto, da concepção até o lançamento. 45 È recomendado, segundo (Rother e Shook, 1999), que os fluxos de material e de informações sejam mapeados juntos e devem ser compreendidos dentro da planta analisada, ou seja, porta-a-porta, abrangendo a entrega na planta do cliente e o recebimento dos insumos de matéria-prima. O fluxo de informação se refere a comunicação para a produção/programação de como e quanto um processo deve produzir, já o fluxo de material se refere ao caminho que o produto percorre ao longo da cadeia produtiva, levando em consideração desde a matéria prima até a expedição. Após traçado o estado atual, o estado futuro desejado deve ser projetado para que seja possível o emprego das ferramentas a serem aplicadas para possibilitar a implementação das melhorias e conseqüente eliminação dos desperdícios. A Figura 3 mostra um exemplo de Mapa do Fluxo de Valor. Este mapa apresenta basicamente dois fluxos, o de informação, localizado na parte superior que trata dos dados enviados pelo cliente para o fornecedor, neste caso a montadora São Jorge para a Aços São Paulo. E o fluxo de produção, localizado na parte inferior do mapa, que fornece dados do processo como tempo de ciclo da máquina, tempo de troca de ferramenta, número de operadores no processo, quantidade de peças nos estoques de matéria prima, em processo e acabados. 46 Figura 3 – Mapa do Fluxo de Valor Fonte : Rother & Shook (1999) A Figura 4 apresenta exemplos de alguns ícones utilizados no mapeamento de fluxo de valor (apresentados na figura 3) para que haja entendimento dos mapas. 47 Figura 4 – Ícones do mapeamento do fluxo de valor Fonte : Rother & Shook (1999) O Capítulo quatro, aplicação da Metodologia, no escopo deste trabalho, mostra o mapa de estado atual da área piloto, em que foram levantadas as informações para propor significativas melhorias para a montagem de mapa do estado futuro. A finalidade dos mapas é de mostrar o formato físico da produção antes da implementação dos resultados propostos pela ferramenta que, por sua vez, poderão ser vistos no mapa do estado futuro implementado. Segundo Rother e Shook (1999), os fluxos de informação e material ao serem mapeados, devem ser tratados com a mesma importância, evitando que o desperdício presente em qualquer parte do fluxo possa comprometer o sistema enxuto a ser implementado/melhorado. 48 Desta forma observa-se na Figura 5, que os fluxos são contrários, porém de uma mesma relevância. Figura 5 – Fluxo de materiais e informações Fonte : Rother & Shook (1999) 3.1.4 Linha ou família de produto Para escolher/conhecer a área a ser mapeada faz-se necessário determinar qual a família de produtos que segundo Marchwinski e Shook (2003, p. 23), são a unidade de análise para os mapas do fluxo de valor, sendo importante sua identificação antes do mapeamento. Segundo Rother e Shook (1999, p. 6), “uma família é um grupo de produtos que passa por etapas semelhantes de processamento e utiliza equipamentos comuns nos processos anteriores”, conforme Figura 6. Neste exemplo, a família de produtos a serem mapeadas, são os suportes de direção “E” e “D” – esquerdo e direto respectivamente. Material FLUXO DE PRODUÇÃO Informação 49 Figura 6 – Distribuição dos produtos, por semelhança de processo. Fonte : Rother & Shook (1999) 3.1.5 Mapeamento do estado atual Para Womack (2004), faz-se necessário uma análise do estado atual da produção/processo a ser estudado, percorrendo o chão-de-fábrica, para conhecer as oportunidades de melhoria bem como formas de eliminar os desperdícios. Segundo Rother e Shook (1999), normalmente o mapeamento deve ser iniciado dentro do conceito porta-a-porta, desenhando o processo de fabricação por meio da utilização dos ícones sugeridos, ou ícones personalizados, que possam ser compreendidos e interpretados por todos da empresa. Segundo Womack (2004), para a realização de um mapeamento, os fluxos de processo e de informações devem ser tratados com a mesma importância para que seja possível a “harmonia” em todo o sistema, desta forma será possível conhecer as deficiências do sistema e sua eliminação. De acordo com Rother e Shook (1999), para realizar este mapeamento o uso de algumas considerações se faz importante: • Coletar informações do estado atual nos fluxos reis de informação e material; 50 • Caminhar com a equipe nos fluxos (processos) para compreensão das atividades, reunindo informações para a utilização posterior; • Começar o mapeamento pelo ponto mais próximo ao cliente, neste caso a expedição, indo para o início da cadeia, neste caso a entrada da matéria prima ou abrangendo as entregas/processos do fornecedor; • Coletar os dados de tempo de ciclo, troca de materiais e outros durante a caminhada, evitando a consulta de planilhas que possam estar desatualizadas; • Para possibilitar as alterações em campo, o mapa deverá ser feito à mão com a utilização de lápis e borracha A utilização de ícones como: tempo de ciclo do produto, tempo de troca da ferramenta (setup), número de pessoas necessárias para se produzir algo, tempo disponível para a produção entre outros devem ser considerados no mapa do estado atual e serão posteriormente utilizados no mapa do estado futuro com as devidas alterações. Desta forma será mais fácil a visualização/interpretação das mudanças propostas. A organização deve ser considerada durante o trabalho de mapeamento bem como os aspectos de segurança e estoques no processo. Segundo Shingo (1996), tão importante quanto o mapeamento do fluxo de produção, é o fluxo de informações, que se refere à maneira como é dito o que fabricar e quando, em cada processo. Nessa fase é importante um levantamento de como as informações caminham pela fábrica, pois
Compartilhar