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RN - Capitulo 07

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CAPÍTULO 7 : CUIDADOS COM O RECÉM-NASCIDO 
COM INFECÇÃO 
 
 
 
As infecções bacterianas nos RN podem agravar-se muito rápido. Os 
profissionais que prestam cuidados aos RN com risco de infecção 
neonatal têm por objetivo principal identificar rapidamente os casos 
suspeitos de doença bacteriana e iniciar o tratamento antibiótico o 
mais precoce possível. 
 
O RN tem peculiaridades anatômicas e fisiológicas que favorecem a 
infecção. Além disso, determinados fatores predisponentes da criança 
e da mãe, e fatores ambientais podem contribuir para determinar a 
probabilidade de infecção. Os sinais clínicos do RN não são 
específicos, por isso devem ser realizadas investigações 
hematológicas e bacteriológicas para ajudar a estabelecer o 
diagnóstico e o agente etiológico. 
 
1. PECULIARIDADES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DO RN: 
• pele fina e mucosas frágeis 
• superfície cruenta do coto umbilical 
• aspectos imunológicos ainda imaturos que devem ser 
complementados pelo aleitamento materno 
 
2. FATORES PREDISPONENTES 
 Da criança. 
• asfixia perinatal 
• hipotermia 
• dificuldade na alimentação 
• prematuridade 
• baixo peso ao nascer 
 
Da mãe 
• ruptura prolongada das membranas 
• condições precárias de higiene 
• doenças sexualmente transmissíveis 
• falta de cobertura vacinal 
• leucorréia, infecções do trato urinário, manuseio excessivo do 
canal de parto 
 
Do ambiente 
Estes fatores estão muito relacionados com falhas nas normas 
de assepsia 
• do pessoal médico e paramédico - manuseio inadequado da 
parturiente e/ou do RN 
• aparelhagem utilizada - pouca higiene durante o parto 
 
 
3. SINAIS DE PERIGO 
 
Há uma variedade de sinais clínicos que podem ocorrer nas infecções 
neonatais, os quais infelizmente não são específicos. A presença 
desses sinais, principalmente na fase inicial da doença, apenas 
indica que há um problema e que esta criança necessita de 
avaliações mais detalhadas. 
 
Os sinais de alerta para infecção são os seguintes: 
• hipotermia ou febre 
• diminuição da aceitação ou recusa alimentar 
• hipoatividade, hipotonia ou irritabilidade 
• regurgitações, vômitos ou diarréia, distensão abdominal 
• pausa respiratória 
• taquipnéia (> 60 rpm) 
• batimentos de asa de nariz 
• tiragem torácica 
• palidez, icterícia 
 
 
4. INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL 
 
As culturas para isolamento de bactérias no sangue, líquor ou urina 
são os exames específicos para o diagnóstico de infecção severa no 
RN e deveriam ser realizados, sempre que fosse possível. 
 
Atualmente não existe qualquer exame laboratorial simples, rápido e 
confiável, que permita identificar precocemente os RN com sepsis. Foi 
desenvolvido e testado com sucesso um "screen" para diagnóstico, 
envolvendo 4 exames hematológicos, para diferenciar os RN com 
sepsis daqueles não infectados. 
 
Os exames hematológicos usados para "screen" são os seguintes: 
• Leucócitos < 5.000 / mm3 ou > 20.000 / mm3 
• Índice Neutrofílico ( IN ) > 0,2 Índice Neutrofílico = percentual 
de formas imaturas 
 
percentual total de neutrófilos 
• Proteína C reativa positiva (>0,8 mg/dl) 
• Velocidade de eritrossedimentação(VSH) > 15mm 
 
Este "screen" é considerado positivo quando 2 ou mais exames 
apresentam valores anormais. 
 
Pode ocorrer meningite em até 30% dos RN com sepsis neonatal. Os 
sintomas e sinais neurológicos são pouco específicos, sendo 
essencial a realização do LCR para estabelecer o diagnóstico de 
meningite e determinar a duração do tratamento. Quando não for 
possível fazer o LCR, tratar a criança como se tivesse meningite. 
 
 
5. TRATAMENTO 
 
Deve ser iniciado quando o RN apresentar: 
• sinais clínicos evidentes de infecção 
• sinais prováveis de infecção com baixo peso ou asfixia 
• sinais prováveis de infecção e bacteriologia e/ou "screen" positivo. 
 
O tratamento do RN com suspeita de sepsis ou meningite deverá ser 
iniciado logo após a coleta de sangue para hemocultura e LCR. Não 
se deve esperar os resultados dessas culturas para começar o 
tratamento, deve-se iniciá-lo com base em dados epidemiológicos. 
 
Os agentes etiológicos mais freqüentes nas infecções neonatais são: 
• Bacilos entéricos Gram negativos (especialmente a Escherichia 
coli) 
• Streptococcus do grupo B 
• Lysteria monocytogenes 
 
A terapia deve incluir a combinação de antimicrobianos e cuidados 
de suporte (Quadro 1 e 2). Os antibióticos mais utilizados são 
penicilina e aminoglicosídeo. Quando há comprometimento meníngeo 
ou impossibilidade de se fazer LCR, usa-se ampicilina e 
aminoglicosídeo. 
 
O tratamento inicial das crianças com suspeita de infecção hospitalar 
deve cobrir os patógenos acima mencionados, juntamente com os 
adquiridos em hospitais. Os agentes etiológicos mais freqüentes são 
os germes gram negativos (Klebsiella e Pseudomonas) ou os 
Staphylococcus aureus. 
 
Quando o microorganismo for isolado nas culturas, a 
antibioticoterapia deverá ser ajustada de acordo com a sensibilidade 
do antibiograma e a evolução clínica do paciente. 
 
Em caso de infecção comprovada o tratamento deverá ser mantido 
por 10 a 14 dias nos RN sem meningite e 14 a 21 dias quando 
houver comprometimento meníngeo. 
 
 
 Quadro 1. Tratamento antibiótico 
 
 ANTIBIOTICOTERAPIA 
 
 SEM MENINGITE COM MENINGITE 
 
PENICILINA CRISTALINA AMPICILINA 
(100.000 U/kg/dia IV ou IM de 6/6 ou 8/8 h)* (200 mg/kg/dia IV 
6/6 ou 8/8h)**** 
 
 GENTAMICINA GENTAMICINA 
5 mg/kg/dia IM ou IV cada 12 h** (5 mg/kg/dia IV 
cada 12 h) 
 
 
 OU 
 
CEFALOTINA AMPICILINA 
(100 mg/kg/dia cada 6-8 h)* (200mg/kg/dia IV 6-8 h) 
 
AMICACINA CEFOTAXIMA 
(15 mg/kg/dia cada 8-12 h)*** (100mg/kg/dia 6/6 h) 
 
 
* Cada 12 horas na primeira semana de vida 
** 3 mg/kg/dia para < 2 Kg a cada 24 horas na primeira semana de 
vida 
*** 10 mg/kg/dia para < 2 Kg cada 24 horas na primeira semana de 
vida 
**** 100 mg/kg/dia para < 2 Kg cada 12 horas na primeira semana de 
vida 
 
 
Quadro 2. Cuidados de suporte 
 
 
- SUPORTE NUTRICIONAL 
- AMBIENTE AQUECIDO 
- MONITORAMENTO DAS CONDIÇÕES CLÍNICAS 
- OXIGENIOTERAPIA 
 
 
 
 
6. PREVENÇÃO DE INFECÇÃO PERINATAL 
 
Sabendo-se que os RN adquirem facilmente infecção, rotinas 
rigorosas de higiene deverão ser estabelecidas e praticadas nos 
alojamentos conjuntos e nas unidades neonatais. 
 
A FONTE MAIS PERIGOSA DE INFECÇÃO PARA O RN SÃO AS 
MÃOS DOS PROFISSIONAIS. 
 
A lavagem das mãos é o método mais importante na prevenção das 
infecções. Os profissionais devem lavar as mãos antes e após a 
execução de cada tarefa, seja ela suja ou limpa. 
 
A SEPARAÇÃO MÃE-FILHO NUNCA DEVE SER INDICADA COM 
OBJETIVO DE EVITAR INFECÇÃO. 
 
Apenas uma criança deverá ser colocada na incubadora ou berço, 
para evitar a infecção cruzada. O alojamento conjunto ou o método 
Canguru, mantendo mãe-filho juntos, são os mais indicados ao invés 
de mantê-los separados. 
O ciclo entero mamário da amamentação permite a formação pela 
mãe de anticorpos contra as bactérias do meio ambiente. Estes 
anticorpos vão ser fornecidosao RN que está recebendo o leite da 
sua mãe. 
 
Evitar métodos invasivos: 
• evitar aspiradores ou nebulizadores, a menos que seja 
necessário. Quando usá-los fazer aspiração cuidadosamente e por 
curtos períodos. Mantê-los limpos com troca de sondas e limpeza 
dos recipientes pelo menos a cada 24 horas. 
• não usar tubo endotraqueal sem necessidade - usar capacetes, 
máscaras, CPAP nasal. 
• não usar catéter endovenoso ou intra-arterial sem necessidade. 
 
O sistema de umidificação das incubadoras implica em risco de 
contaminação. Por isso a água deve ser retirada e substituída com 
regularidade. As incubadoras devem ser limpas com água e sabão, a 
cada 3 dias de uso. 
 
Os instrumentos usados, tais como pinças, tesouras, tubos e 
máscaras devem ser lavados cuidadosamente, colocados em solução 
degermante ou esterilizados em auto-clave. Na ausência de 
autoclave esterilizar dentro da água fervente durante 30 minutos 
após a ebulição, antes de usar. 
 
Algumas práticas tradicionais, tais como embrulhar o bebê como um 
rolo, comum em alguns países, devem ser evitadas porque aumenta o 
risco de infecção, reduz a estimulação do bebê e limita seus 
movimentos. Além disso, aumenta o risco da "Síndrome de Morte 
Súbita" em crianças embrulhadas dormindo em decúbito ventral. 
 
Com estas regras simples, muitas infecções perinatais podem ser 
evitadas.

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