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PROCESSOS QUÍMICOS INDUSTRIAIS AULA 05 Prof.ª Thaís Helena Curi Braga 2 CONVERSA INICIAL Um processo químico industrial não está completo sem os instrumentos de controle, que são usados com o objetivo de controlar as variáveis do processo, tais como temperatura, pressão, vazão, nível, pH, condutividade, entre outras. A medida e o controle dessas variáveis são indispensáveis não apenas para assegurar o bom desempenho da unidade industrial, a qualidade final do produto, mas também para atender às normas de segurança. Figura 1 – Medidor de pressão em uma indústria de óleo e gás No início, o controle era realizado manualmente, com o auxílio de instrumentos simples como termômetros e válvulas manuais. Com o desenvolvimento dos processos, veio a necessidade de automação e desenvolvimento de novos instrumentos de medição e centralização do controle de variáveis em uma única sala. Hoje, existem controles mecânicos, hidráulicos, pneumáticos, elétricos, eletrônicos e digitais. Figura 2 – Monitor de uma sala de controle 3 TEMA 1 – MEDIDORES DE PRESSÃO O instrumento de medida de pressão mais simples é o tubo em U, que consiste em um tubo de vidro contendo um líquido, denominado fluido manométrico (os mais usados são água e mercúrio), fixado a uma escala graduada. Quando se aplica uma pressão em uma das extremidades, o líquido é deslocado proporcionalmente a essa pressão aplicada. Note na figura a seguir que a outra extremidade do tubo é aberta, sofrendo a ação da pressão atmosférica. Se o lado aberto à atmosfera desce mais, isso significa que a pressão no balão é menor que a pressão atmosférica, ou seja, é uma pressão negativa ou vácuo. Em contrapartida, se o nível do fluido está mais alto no lado aberto à pressão atmosférica, a pressão exercida pelo líquido dentro do balão é maior que a atmosférica, denominada pressão relativa. Figura 3 – Manômetro em U O manômetro em U mede apenas pressões relativas positivas ou negativas. A pressão absoluta é, por definição, a soma da pressão relativa com a pressão atmosférica ou barométrica. 𝑃𝑎𝑏𝑠 = 𝑃𝑟𝑒𝑙 + 𝑃𝑎𝑡𝑚 A pressão atmosférica é a pressão exercida pela atmosfera terrestre. Ela é medida por um instrumento chamado barômetro, daí ser denominada pressão barométrica. 4 Figura 4 – Barômetro Ao nível do mar, seu valor é de 1 atm ou 760 mmHg. Os instrumentos de medição industriais medem a pressão relativa. O valor da pressão absoluta deve ser calculado levando-se em conta a pressão barométrica local. Quando há necessidade de se utilizar a pressão em um cálculo ou na leitura de um diagrama ou tabela termodinâmica, essa pressão deve ser absoluta. Existem medidores de pressão constituídos de elementos mecânicos elásticos como diafragmas, foles e tubos Bourdon. Eles são fundamentados na Lei de Hooke, segundo a qual: “dentro de um limite definido de elasticidade, a deformação provocada em um corpo sólido é proporcional ao esforço aplicado sobre ele”. O tubo Bourdon é preciso e de baixo custo. Consiste de um tubo com seção oval na forma de um círculo, mas não completo. A extremidade aberta é conectada ao processo cuja pressão será medida e a extremidade fechada é conectada a um dispositivo de indicação e transmissão. O movimento de deformação é transmitido a um ponteiro por meio de engrenagens. Figura 5 – Tubo Bourdon tipo C. Mecanismo interno Assista ao depoimento de um instrumentista industrial. Disponível em: 5 https://youtu.be/JkpfHCYjvY4 TEMA 2 – MEDIDORES DE TEMPERATURA A temperatura é a medida do grau de agitação das moléculas. Se um corpo mais quente é colocado em contato com um corpo mais frio, energia na forma de calor será transmitida espontaneamente no sentido do corpo mais quente para o mais frio, em respeito à Segunda Lei da Termodinâmica. Existem dois tipos de escalas de temperatura: Escalas relativas de temperatura: Celsius (°C) e Fahrenheit (°F). Escalas absolutas de temperatura: Kelvin (K) e Rankine (°R). Figura 6 – Selo comemorativo com a imagem de Anders Celsius, que empresta o nome à escala Celsius Figura 7 – Selo comemorativo com a imagem de Anders Celsius, que empresta o nome à escala Celsius A construção de uma escala relativa de temperatura é baseada em definições arbitrárias: Ponto de gelo: ponto de congelamento da água na pressão atmosférica padrão, correspondente a 0°C ou 32°F. Ponto de vapor: ponto de ebulição da água pura na pressão atmosférica padrão, correspondente a 100°C ou 212°F. 6 O intervalo entre esses dois limites é dividido em 100 e 180 partes, correspondentes respectivamente a 1°C e 1°F. Nas escalas absolutas, o zero da escala corresponde ao zero absoluto, no qual cessa praticamente todo o movimento atômico. Termômetro a dilatação de líquido em bulbo de vidro Consiste em um reservatório soldado a um tubo capilar de seção uniforme preenchido por um líquido. Durante a calibração do instrumento, a parede do tubo capilar é graduada em graus ou frações de graus de temperatura. Os líquidos mais usados são mercúrio, álcool, acetona e tolueno. Em termômetros de uso industrial, o bulbo de vidro e o tubo capilar são protegidos por um revestimento metálico. Figura 8 – Termômetro a dilatação industrial Termômetro a dilatação de líquido em recipiente metálico Um bulbo contendo o líquido está ligado a um capilar que, por sua vez, está ligado a um sensor volumétrico como o tubo Bourdon. A dilatação do líquido causa uma deformação no sensor volumétrico, transmitida para o ponteiro que acusa uma leitura de temperatura. Figura 9 – Termômetro em recipiente metálico 7 Termômetro a pressão de gás De construção idêntica ao termômetro de dilatação de líquido em recipiente metálico, com um bulbo, um elemento de medição e um tubo capilar ligando ambos, mas aqui o espaço interno livre de fluido é preenchido com um gás a alta pressão. Conforme a temperatura varia, o gás expande ou contrai e o elemento de medição opera como um medidor de pressão. Quando o volume é constante, a pressão varia linearmente com a temperatura. Figura 10 – Termômetro a pressão de gás Fonte: <http://www.temperuniao.com.br/> Termômetro a dilatação de sólidos ou termômetro bimetálico Consiste em dois metais sobrepostos, apresentando coeficientes de dilatação diferentes. A variação da temperatura provoca uma deformação, indicada no ponteiro. O tipo mais usado é a lâmina bimetálica helicoidal conectada por um eixo a um sistema de ponteiro e escala. Figura 71 – Termômetro bimetálico Fonte: <http://www.solucoesindustriais.com.br/> 8 Termopar: sensor de temperatura preciso, estável e barato. Devido a essas características, é muito utilizado. Figura 8 – Efeito Seebeck Fonte: <http://www.thermocom.com.br/> Efeito Seebeck: em um circuito formado por dois fios condutores de metais diferentes, circulará corrente I se as duas junções ou juntas T1 e T2 forem mantidas a temperaturas diferentes, sendo essa corrente diretamente proporcional à diferença entre as temperaturas. O sistema assim formado recebe o nome de par termoelétrico ou termopar. A junção mantida a temperatura constante é conhecida como junta de referência ou junta fria, e a outra junção é a chamada junta quente. Figura 13 – Termopar Fonte: <http://www.thermocom.com.br/> TEMA 3 – MEDIDORES DE VAZÃO São classificados comomedidores de quantidade e volumétricos. Medidores de quantidade: permitem determinar a quantidade de material que passou, mas não fornecem informações sobre o fluxo. Exemplos são bombas de gasolina, hidrômetros e balanças industriais. 9 Figura 9 – Exemplo de medidores de quantidade Medidores volumétricos Figura 105 – Placas de orifício Fonte: <http://www.ethosequipamentos.com.br/> Placa de orifício: consiste em uma placa perfurada colocada perpendicularmente ao eixo de uma tubulação. Devido ao estreitamento produzido pela placa na área de escoamento do fluido dentro do tubo, ocorre um aumento na velocidade e, consequentemente, uma pressão diferencial que pode ser medida. Um inconveniente da placa de orifício é a perda de carga irrecuperável causada no processo. Rotâmetro: neste medidor, um elemento flutuante varia sua posição dentro de um tubo de acordo com a vazão do fluido em escoamento. O fluido escoa no sentido da base para o topo do rotâmetro. Quando a diferença de pressão somada ao efeito do empuxo de líquido sobre o elemento flutuador excede o peso dele, este sobe e flutua na corrente. O tubo é calibrado e uma 10 escala é marcada na sua superfície externa, na qual se lê diretamente a vazão pela posição em que se encontra o flutuador. Figura 116 – Rotâmetro Tubo Venturi: seguindo o mesmo princípio de criação de uma pressão diferencial, o tubo Venturi é um estreitamento instalado na tubulação, usualmente entre dois flanges, com o objetivo de acelerar o fluido e temporariamente diminuir sua pressão estática. Muito indicado para correntes que contêm sólidos em suspensão ou para processos que necessitam de um rápido restabelecimento da pressão. Figura 127 – Tubo Venturi TEMA 4 – SISTEMAS DE CONTROLE Um sistema de controle compara o valor da variável de processo a ser controlada com o valor desejado. Detectado um desvio, o sistema toma uma atitude de correção a fim de manter a variável de processo muito próxima ou exatamente no valor desejado, de acordo com a exigência do processo. A variável de processo é a variável controlada e o valor desejado é chamado set- point. Para realizar essa tarefa, é necessária uma unidade de medida, uma unidade de controle e um elemento final de controle no processo. 11 Figura 18 – Malha de controle fechada Fonte: <http://eletrotecnicaeinstrumentacao.blogspot.com.br/> Esse conjunto de equipamentos compõe a malha de controle. Na malha de controle fechada, não há necessidade da interferência de um operador. Na malha de controle aberta, a unidade de medida realiza a leitura da variável de processo e envia a leitura a um indicador, que não pode atuar diretamente na correção de um desvio, havendo necessidade de um ajuste manual feito pelo operador. Figura 19 – Malha de controle aberta Fonte: <http://eletrotecnicaeinstrumentacao.blogspot.com.br/> 12 Transmissor Figura 20 – Transmissores de pressão em uma unidade industrial de gás e óleo Instrumento que mede uma variável de processo e transmite a leitura. O sinal transmitido pode ser eletrônico ou pneumático. Os sinais de transmissão mais comuns são: Pneumáticos: o sinal varia de 3 a 15 psi para uma faixa de medidas de 0 a 100% da variável. Eletrônicos: geram vários tipos de sinais, sendo os mais utilizados de 4 a 20 mA, 10 a 50 mA ou 1 a 5 V. Controlador É o instrumento que compara o valor medido da variável controlada com o setpoint. Essa comparação gera um sinal de saída para o elemento final de controle com a intenção de manter o valor da variável controlada o mais próximo possível do setpoint. 13 Figura 21 – Controladores Os tipos de controladores são: controlador on-off; controlador proporcional P; controlador proporcional-integral PI; controlador proporcional-integral-derivativo PID. Controlador on-off Só permite duas posições do elemento final de controle: ligado/desligado ou aberto/fechado. É indicado para controle de processos que aceitam oscilação no valor da variável controlada. Uma geladeira com set-point em 5°C pode ligar quando a temperatura atingir 7°C e desligar quando cair para 3°C. Esse intervalo de 4°C é denominado zona morta ou zona diferencial e pode ser ajustado. Outro exemplo de controle on-off é o banho termostático ou banho-maria. Figura 22 – Posição da válvula versus variável controlada Fonte: <http://www.sapiensman.com/> 14 Assista ao vídeo de um controlador PID atuando sobre uma esfera posicionada em cima de uma bandeja em: <https://youtu.be/j4OmVLc_oDw>. Elementos finais de controle ou atuador São responsáveis pela atuação direta sobre o processo, a fim de corrigir o desvio da variável controlada do set-point, respondendo a um sinal de comando do controlador. Podem ser válvulas, motores elétricos, bombas, pistões, entre outros. As válvulas são os elementos finais de controle mais comuns. Figura 23 – Válvula de controle As funções básicas de um sistema de controle são: 1. Medição: o instrumento de medida em contato com a variável controlada faz uma leitura, que é transformada em sinal padrão por um transmissor e enviada para um controlador. 2. Comparação: o controlador compara o valor medido com o valor desejado, o chamado set-point. 3. Correção: caso exista desvio, o controlador envia um sinal de correção para o elemento final de controle. Assista ao vídeo de um pêndulo com controlador PID e sua resposta mais rápida a perturbações em: https://youtu.be/7r-eZYz55Sw TEMA 5 – EXEMPLO DE UM SISTEMA DE CONTROLE O exemplo típico de um sistema de controle é o aquecedor de tanque agitado contínuo com densidade e volume constantes. As vazões de entrada e saída são constantes e a temperatura de entrada do fluido é Ti. O objetivo do 15 controle é manter a temperatura de saída em um valor de referência constante TR. A figura a seguir mostra um módulo didático de controle de temperatura, usado em laboratório para prever o que aconteceria em uma unidade industrial. Para o sistema descrito, duas perguntas serão feitas. Figura 24 – Planta didática de controle de temperatura e vazão Fonte: <http://www.didatech.com.br/> Pergunta 1: Quanto calor deve ser fornecido ao aquecedor para aquecer o líquido de T1 até TR? A resposta está em um balanço de energia em estado estacionário para o líquido no tanque. Assumindo que o tanque é perfeitamente misturado e as perdas de calor são desprezíveis, um balanço de energia permite calcular a carga térmica necessária para o aquecimento de Ti até TR. Figura 25 – Tanque agitado com aquecimento Volume V constante w, Ti w, T Q = carga térmica 16 𝑄 = 𝑤. 𝐶. (𝑇𝑅 − 𝑇𝑖) As variáveis de processo são classificadas como: Variável controlada: T Variável manipulada: Q ou w Variável distúrbio: T Pergunta 2: Suponha que Ti muda com o tempo. Como podemos assegurar que T permanece em TR ou próximo desse valor? Existem várias possibilidades: 1. Medir T e ajustar Q; 2. Medir Ti e ajustar Q; 3. Medir T e ajustar w; 4. Medir Ti e ajustar w; 5. Medir Ti e T, ajustar Q; 6. Medir Ti e T, ajustar w; 7. Colocar um trocador de calor na corrente de entrada. Controle Feedback (FB) Os métodos 1 e 3 são exemplos do controle feedback, em quea variável medida é a variável controlada e a variável distúrbio não é medida. Nesse tipo de controle, nenhuma ação corretiva ocorrerá até que o distúrbio tenha afetado o processo, ou seja, depois que T for diferente de TR. O controle Feedback, por sua natureza, não é capaz de controle perfeito, uma vez que a variável controlada deve desviar do setpoint antes que a ação corretiva seja efetuada. A grande vantagem é que a ação corretiva independe da fonte de distúrbio. Controle Feedfoward (FF) Os métodos 2, 4, 5 e 6 são exemplos do controle feedfoward, em que a variável medida é a variável distúrbio e a variável controlada não é medida. 17 O método 7 não é uma estratégia de controle, mas uma sugestão de mudança de projeto. NA PRÁTICA Cálculo da pressão absoluta a partir de valores lidos nos medidores de pressão. Os medidores apontam valores de pressão relativa, que pode ser positiva ou negativa. Uma pressão relativa negativa é uma pressão de vácuo. Como exemplo, digamos que um manômetro instalado em um vaso de pressão mede um valor de pressão de 2 atm e a pressão atmosférica local é 1 atm. Então, a pressão absoluta será a soma das pressões manométrica e atmosférica. 𝑃𝑎𝑏𝑠 = 𝑃𝑚𝑎𝑛 + 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝑃𝑎𝑏𝑠 = 2 + 1 = 3 𝑎𝑡𝑚 Agora, suponha que a leitura em um vacuômetro seja 0,2 atm, para a mesma pressão atmosférica local. Nesse caso, a pressão de vácuo será considerada uma pressão manométrica negativa e a pressão absoluta será dada por: 𝑃𝑎𝑏𝑠 = 𝑃𝑚𝑎𝑛 + 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝑃𝑎𝑏𝑠 = −0,2 + 1 = 0,8 𝑎𝑡𝑚 Ou seja, o vácuo absoluto equivale a um valor de pressão menor que a pressão atmosférica. Transmissores Se um transmissor de 4 a 20 mA tiver o sinal de 4 mA (zero do instrumento) ajustado a 50°C e com um alcance de 100°C (span), ou seja, 20 mA indica 150°C, pode-se definir o ganho do transmissor como: 𝐾𝑀 = ∆𝑇(𝑚𝐴) ∆𝑇𝑀(°𝐶) = 𝑓𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑠𝑎í𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 = 20−4 150−50 = 0,16 𝑚𝐴 °𝐶 18 Figura 26 – Gráfico temperatura medida versus sinal do transmissor Observando o gráfico acima relacionando a temperatura medida com o sinal de corrente, uma relação de semelhança de triângulos dá: 𝑓𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑠𝑎í𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 = 20−4 150−50 = 0,16 𝑚𝐴 °𝐶 = 𝑇(𝑚𝐴)−4 𝑇𝑀(°𝐶)−50 ∴ 𝑇(𝑚𝐴) = 0,16𝑇𝑀(°𝐶) − 4 Ou seja, o sinal de controle será a temperatura medida vezes o ganho subtraído o zero do instrumento. SÍNTESE A quinta aula de Processos Químicos Industriais apresenta para o aluno de Engenharia de Produção uma introdução à instrumentação e controle. Apresentamos alguns tipos de medidores de pressão, temperatura e vazão e falamos sobre os princípios do controle industrial. Expanda seus conhecimentos pesquisando o assunto nas referências. REFERÊNCIAS BEGA, E. A. Instrumentação industrial. 2. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2006. 0 5 10 15 20 25 50 100 150 Te m p er at u ra e m m A Temperatura medida
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