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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA CURSO DE PEDAGOGIA REGIANE MORAES DE MORAES BRINQUEDOTECA: uma pesquisa exploratória em escolas da educação infantil Brasília – DF 2011 2 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA CURSO DE PEDAGOGIA REGIANE MORAES DE MORAES BRINQUEDOTECA: uma pesquisa exploratória em escolas da educação infantil Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia com Licenciatura em séries iniciais e Educação Infantil do Instituto de Educação Superior de Brasília, como requisito parcial para obtenção de grau de Licenciatura em Pedagogia. Orientadora Prof° Ms. Milene de Fátima Soares Brasília - DF 2011 3 REGIANE MORAES DE MORAES BRINQUEDOTECA: Um estudo de caso em escolas de educação infantil Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia aprovado pela Banca Examinadora com vista à obtenção do Grau de Licenciatura em Pedagogia – séries iniciais e Educação Infantil do Instituto de Educação Superior de Brasília. Brasília,DF .... de novembro de 2011. Banca Examinadora : __________________________________________________ Prof.ª Ms.Milene de Fátima Soares. __________________________________________________ Prof.ª Ms. Francisca Javiera Gallardo Conejera. Brasilia – DF 2011 4 Aos meus pais por todas as oportunidades, cuidados e incentivo. Ao meu marido pela paciência, compreensão e amor a mim dedicado. Às minhas amadas e queridas filhas. À Professora Milene Soares pelo carinho, atenção e dedicação. 5 AGRADECIMENTOS Aos meus pais Selma e Fábio por todo apoio, carinho e incentivo. Pelas palavras de conforto ao longo de toda a minha jornada acadêmica. Ao meu querido João por todo o suporte afetivo, apoio e compreensão. Às minhas filhas Larissa e Cecília, que são a razão do meu viver. Aos meus irmãos Fábio e Flávia, que sempre torcem e vibram com cada conquista minha. À tia Sônia pelo carinho e incentivo. Às professoras Francisca Gallardo e Selma Maquiné pelo apoio e incentivo. À professora Milene de Fátima Soares em especial, por me proporcionar oportunidades que serão levadas comigo e que sempre influenciarão em minha vida pessoal e profissional, e principalmente por ter acreditado no meu trabalho. Por fim, agradeço a todos que acreditam em mim, e que não foram citados aqui, mas que fazem parte de toda a minha jornada. 6 RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo investigar o contexto da brinquedoteca escolar na educação infantil, que atende crianças na faixa etária de 4 e 5 anos, em escolas particulares de Brasília – DF. Como fontes de pesquisa foram abordadas teorias a partir da concepção de autores, como Piaget (apud Kishimoto 2008), Wallon (apud Kishimoto 2008) e Vigotsky (2007) e da autora brasileira Kishimoto (1992, 2000 2008), pois suas teorias abordam acerca do desenvolvimento da criança relacionado ao lúdico. Este trabalho também contou com a contribuição de Cunha (1992 e 2007), já que suas teorias abordam a brinquedoteca. A pesquisa foi realizada em 5 escolas particulares de Brasília- DF com 6 professoras de educação infantil que atendem crianças na faixa etária de 4 e 5 anos. Através dessa pesquisa foi possível identificar que há um equivoco quanto à utilização desse espaço, pois apesar das professoras colocarem que esse espaço é voltado para a brincadeira, grande parte não utiliza essa finalidade. Palavras-chave: Brinquedoteca. Educação infantil. Formação de professores. 7 LISTA DE QUADROS Quadro 1:Conceito de atividade lúdica.......................................................................35 Quadro 2:O papel do professor na atividade lúdica...................................................38 Quadro 3:Conceito de Brinquedoteca........................................................................39 Quadro 4: Brinquedoteca presente na escola............................................................40 Quadro 5: Papel da brinquedoteca.............................................................................42 Quadro 6:Utilização da brinquedoteca.......................................................................43 Quadro 7: Visita a brinquedoteca...............................................................................44 Quadro 8: Materiais....................................................................................................47 Quadro 9:Orientação acerca da brinquedoteca.........................................................48 8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Idade..........................................................................................................33 Gráfico 2: Atuação......................................................................................................34 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Escolaridade..............................................................................................34 Tabela 2: Atividades lúdicas......................................................................................37 Tabela 3: Materiais existentes na brinquedoteca......................................................45 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABBri - Associação Brasileira de Brinquedotecas. APAE- Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. ECA - Estatuto da Criança e Adolescente. LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. MEC - Ministério da Educação. PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. PNE- Plano Nacional de Educação. RCNEI - Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................12 2.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................14 2.1 A Educação Infantil na Europa.............................................................................14 2.2 A Educação Infantil no Brasil e a Legislação.......................................................16 2.3 Brinquedo, Brincadeira e jogo..............................................................................21 2.4 Piaget, Wallon, Vigotsky e a dimensão lúdica......................................................22 2.5 O que vem a ser uma Brinquedoteca?.................................................................24 2.5.1 A Brinquedoteca e sua historicidade.................................................................25 2.5.2Os tipos de brinquedoteca e suas especificidades............................................262.6 E a formação do educador na perspectiva do lúdico?.........................................29 3. METODOLOGIA.....................................................................................................31 4 ANÁLISES E DISCUSSÃO DE RESULTADOS......................................................32 4.1 Dados gerais acerca dos professores pesquisados.............................................32 4.2 Dos questionários obtidos....................................................................................35 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................50 REFERÊNCIAS..........................................................................................................52 APÊNDICE.................................................................................................................54 12 INTRODUÇÃO As atividades lúdicas são inerentes ao ser humano. Desde a antiguidade até os dias atuais as atividades lúdicas estão presentes na vida humana, inclusive, muitas vezes, com mais presença na vida da criança. Vários autores, tais como Kishimoto (1992, 2000 2008), Piaget (apud Kishimoto 2008), Vigotsky (2007) e Wallon (apud Kishimoto 2008), que serão apresentados ao longo dessa pesquisa, abordam a questão da ludicidade e reconhecem o seu papel na aprendizagem e desenvolvimento infantil, inclusive na aprendizagem escolar. Sendo assim, cabe ao pedagogo propiciar o ato de brincar no âmbito escolar, favorecendo situações que promovam a aprendizagem da criança sendo um planejador e mediador desse processo. A brincadeira, o jogo e o brinquedo não são meros passatempos na educação infantil, são instrumentos que auxiliam no desenvolvimento geral da criança contribuindo de forma enriquecedora para promover a aprendizagem. Segundo Friedmann (2006), a atividade lúdica infantil nos revela informações essenciais sobre a criança como suas emoções, seu estágio desenvolvimento, a formação moral e a forma de interagir com seus colegas. Atualmente, no ambiente educacional, principalmente da educação infantil, existe uma preocupação em criar espaços voltados para atividades lúdicas, haja vista que educadores reconhecem a importância dos jogos, brincadeiras e do brinquedo no desenvolvimento da criança, faltando muitas vezes, reconhecer seu papel diante desses aspectos. A Brinquedoteca é um espaço no qual pode ser trabalhado esse desenvolvimento pois, segundo Cunha (2007, p. 15), “Na Brinquedoteca a construção do conhecimento é uma deliciosa aventura, onde a busca pelo saber é espontânea e prazerosa”. De acordo com a autora supracitada, a brinquedoteca é um espaço que pode proporcionar à criança a oportunidade de desenvolver atividades lúdicas de forma vivencial, contribuindo significativamente para o desenvolvimento educacional e social. Nesse espaço, o pedagogo pode atuar resgatando a importância do brincar, desenvolver atividades que visem o crescimento intelectual do educando 13 estimulando assim, as várias habilidades, a criatividade, as relações, a afetividade e inteligência, permitindo que ela adentre ao mundo da ludicidade. A escolha do tema deu-se por meio de uma série de observações ao longo do curso de graduação, e em instituições públicas e particulares onde pude vivenciar diversas experiências na Educação Infantil a partir dos estágios obrigatórios, nas quais, pude observar que não há uma utilização pedagógica da brinquedoteca no ambiente escolar, e quando há, nem sempre existe um propósito, e em muitas escolas esse espaço é usado como um mero depósito de jogos e brinquedos. Observou-se também que os professores nem sempre se interessam por planejar atividades e participar com as crianças, nesse espaço, pois mesmo sabendo que a atividade lúdica pode contribuir com o desenvolvimento infantil, não concebem a importância pedagógica. Assim essa pesquisa, pode contribuir para a maior valorização do espaço da brinquedoteca na educação infantil, estimulando o meio acadêmico a buscar novas perspectivas acerca desse tema. Já na educação pode contribuir para que os professores possam fazer um melhor uso desse espaço, auxiliando e facilitando o processo de aprendizagem, assim como nos cursos de Pedagogia a fim de estudar e aprofundar este tema para entender melhor o papel do professor. A partir da importância de incentivar a atividade lúdica na educação infantil e da contribuição do professor para o espaço da brinquedoteca, este trabalho estará norteado pela seguinte questão de pesquisa: O que vem a ser a brinquedoteca escolar na educação Infantil? Sendo assim, a presente pesquisa tem como objetivo geral investigar o contexto da brinquedoteca escolar na educação infantil, que atende crianças na faixa etária de 4 e 5 anos, em escolas particulares de Brasília – DF. Dentre os objetivos específicos, esse trabalho pretende: identificar as concepções dos professores sobre a utilização pedagógica da brinquedoteca escolar; identificar as atividades desenvolvidas no espaço da brinquedoteca escolar e verificar a formação do professor quanto à utilização pedagógica da brinquedoteca escolar. 14 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Esta fundamentação teórica baseia-se no lúdico resgatando a historicidade da educação infantil, abordando também o que vem a ser uma brinquedoteca no ambiente escolar, como os professores concebem este espaço, a sua utilização e a formação dos professores. Para elaboração teórica temos os seguintes autores: Almeida (2000), Cunha (1992 2007), Friedmann (1992, 2006), Ignachewski (2009), Kishimoto (1992, 2002 e 2008), Piaget (apud Kiskimoto 2008), Oliveira (2010), Vigotsky (2007) Wajskop (1992) e Wallon (apud Kiskimoto 2008). Para isso, iniciaremos com um breve resgate acerca da educação infantil ao longo dos séculos, desde a Europa ao Brasil. Adentraremos no Brasil e discutiremos, questões sobre os conceitos de lúdico, brinquedo, brincadeira, a educação infantil e suas legislações, assim como o que vem a ser a brinquedoteca, sua utilização na escola e o papel do professor. 2.1 A Educação Infantil na Europa Segundo Oliveira (2010), por um longo período a educação da criança era considerada responsabilidade da família ou do grupo social ao qual ela estava ingerida. Nos séculos XV e XVI começaram a surgir novos olhares sobre a criança, a educação deveria respeitar a natureza infantil, autores como o filósofo holandês Erasmo e o filósofo francês Montaigne acreditavam que se deveria estimular a atividade da criança e associar o jogo à aprendizagem. Ainda de acordo com autora acima, a partir dos séculos XVIII e XIX, com a intensificação da escolaridade obrigatória na Europa em decorrência da Revolução Industrial, começa haver uma preocupação em preparar a criança para ingressar na vida adulta. Segundo Oliveira (2010, p. 62) “A criança passou a ser o centro do interesse educativo dos adultos: começou a ser vista como sujeito de necessidades e objeto de expectativas e cuidados”. Ainda no século XVIII é resgatado o valor da brincadeira na aprendizagem, ideia essa que havia sido defendida na antiguidade por Platão. 15 Conforme Oliveira (2010), o filósofo Jean Jacques Rousseau (1712-1778), criou uma proposta educacional que se opunha a delegar a educação das crianças pequenas a preceptores, pois para ele a mãe desempenha o papel de educadora natural da criança. Ao afirmar que a infância não era apenas uma preparação para a vida adulta, mas que tinha valor em si mesma, Rousseau transformou a educação de seu tempo. Comuma visão diferenciada sobre educação Rousseau, demonstrou que a criança deveria aprender através de uma conquista ativa, ou seja, por meio da experiência, da observação e com formas variadas de contato com a realidade. Suas ideias criaram condições para fomentar discussões em relação à brincadeira infantil. De acordo com Oliveira (2010), as concepções educacionais do educador suiço Pestalozzi (1746-1827) também contribuíram significativamente com a educação moderna, pois para ele o ato de educar deveria ocorrer em um ambiente natural, e a educação deveria se preocupar com o desenvolvimento afetivo da criança. Destacou ainda o valor educativo do trabalho manual, e a necessidade da escolar treinar a vontade e desenvolver as atitudes morais dos alunos. Ainda conforme a autora, o educador alemão Froebel (1782-1852) levou adiante as ideias de Pestalozzi e em 1837, criou o primeiro jardim de infância, que visava à liberdade para aprender sobre si mesmo e sobre o mundo. Sua pedagogia incluía atividades cooperativas e jogos fortalecendo os métodos lúdicos na educação, e assim como Pestalozzi valorizou a atividade manual, confeccionando brinquedos que contribuíram no processo de aprendizagem da aritmética e da geometria. Depois de Froebel surgiram outros educadores com concepções variadas acerca da educação, como o médico belga Decroly (1871-1932), que defendia um ensino voltado para o intelecto, a médica psiquiatra italiana Maria Montessori (1879- 1952) que remonta o jogo educativo para a educação de cada um dos sentidos e o educador Freinet (1896-1966) que valorizou o jogo como atividade educativa, que contribuiu com ideias e práticas pedagógicas que são ainda utilizadas até hoje na 16 educação infantil. Nota-se que a criança começa a ser valorizada como um ser diferente do adulto, assim, novas concepções de educação também vão ressurgindo. 2.2 A Educação Infantil no Brasil e a Legislação. A história da educação infantil no Brasil acompanha, de alguma maneira, a história dessa área no mundo, porém com características próprias. Por volta do século XIX, de acordo com Oliveira (2010), observa-se iniciativas de proteção à infância, e em 1875 e 1877 são criados os primeiros jardins de infância no Rio de Janeiro e São Paulo. Nesse período, Rui Barbosa (1849-1923), que ocupava o cargo de deputado, considerava essa fase como a primeira etapa do ensino primário e em 1882 apresentou um projeto de reforma de instrução no país, chamada de Reforma Geral de Ensino, que distinguiu salas de asilo, escolas infantis e jardins de infância. Temos aí um grande diferencial na organização escolar ao adequar cada faixa etária, considerando assim os diferentes tipos de desenvolvimento humano. Segundo Oliveira (2010), a educação infantil no Brasil, passou por várias mudanças ao longo da história, com o processo de urbanização e industrialização ocorreram mudanças na estrutura familiar no que se refere ao cuidado com as crianças. A partir dessa sucessão de fatos, por volta da década de 20, surgiram as primeiras regulamentações do atendimento de crianças pequenas em escolas maternais e jardins de infância. Com o crescimento e avanço em termos de desenvolvimento, o país teve de buscar adequações e começar a reconhecer a infância, já que os filhos dos trabalhadores precisavam de cuidados enquanto eles não estavam presentes. Ainda conforme a autora, a grande mudança na educação no que diz à infância respeito ocorreu em 1961 com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4024/61), que incluía o jardim de infância ao sistema de ensino. Assim dispunha essa lei: Art.23 – A educação pré- primária destina-se aos menores de até 7 anos, será ministrada em escolas maternais ou jardins- de- infância. 17 Art.24 - As empresas que tenham a seu serviço mães de menores de sete anos serão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa ou em cooperação com os poderes públicos, instituições de educação pré- primária. Nota-se que, pela primeira vez, o governo se preocupou em estipular leis voltadas para a inclusão do jardim de infância ao sistema de ensino, tentando garantir acesso a educacional às crianças menores de até 7 anos, mobilizando inclusive as instituições empresariais que tinham interesse nos seus trabalhadores. Percebe-se que pelo sistema econômico adotado pelo país na época, a maioria da população não tinha uma condição de vida satisfatória, o que propiciou o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho e a necessidade de cuidar das crianças. Com isso aumentou a procura por creches que atendiam crianças por período integral, e dessa forma o governo precisou tomar essa medida para atender a nova realidade. Em 1971 foi formulada a nova legislação sobre o ensino, Lei 5692/71, que trouxe novidades significativas para essa área, ao dispor que: “Os sistemas velarão para que as crianças de idade inferior a 7 anos recebam educação em escolas maternais , jardins de infância ou instituições equivalentes”. Verifica-se que a necessidade se tornou grande e urgente, muitos movimentos ocorreram durante ao período de ditadura militar. Assim, após este período, as lutas pelo direito às creches continuaram e, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, ficou definido legalmente que os pais, a sociedade e o Estado têm que respeitar e garantir os direitos das crianças, conforme no artigo 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência e opressão. A Constituição reconheceu que a educação em creches e pré-escolas era um direito da criança e um dever do Estado que deveria ser cumprido nos sistemas de 18 ensino. De acordo com o Art.208, inciso IV da referida Constituição: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...] atendimento em creche e pré- escola às crianças de zero a seis anos de idade”. Na década de 90, houve a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, lei federal 8069/1990, que concretizou os direitos da criança e do adolescente promulgados pela Constituição de 1988. Percebe-se que, devido às demandas relacionadas à mão de obra e à necessidade de desenvolvimento do país em decorrência do novo contexto mundial de globalização da economia e da expansão tecnológica das fontes de informação que ocorreram nas décadas finais do século XX, foi necessário criar uma lei que reorganizasse em alguns pontos a educação brasileira. Desse modo, em 1996, houve a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), que estabeleceu a educação infantil como etapa inicial da educação básica (art. 21/ inciso I), e determinou algumas finalidades que estão descritas no artigo 29: A educação infantil, primeira etapa da educação básica tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. No artigo 30 incisos I e II (1996, p. 46), é estabelecido que a Educação Infantil seja oferecida em creches ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; e pré-escolas para crianças de quatro a seis anos. Cabe ressaltar que em 2006 a Legislação Educacional Brasileira estabeleceuo ensino fundamental de 9 anos, com matrícula obrigatória a partir dos 6 anos de idade e a Educação Infantil passou a compreender a faixa etária de 0 a 5 anos de idade. A LDB 9394/96 resgata também a figura do professor e redimensiona o seu papel, pois ele deve participar da elaboração de projetos pedagógicos e da adaptação dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN à realidade em que atua, assim como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI. 19 Nesse sentido é preciso pensar na formação do professor como está descrito no artigo 62 da referida lei: A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admita para formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. Nesse caso, o professor também precisa passar por um processo de transformação que vise a sua formação e preparação para poder executar as tarefas que são determinadas pela nova LBD, na tentativa de acabar com a questão do despreparo e da improvisação no sistema de educação. Dentro dessa perspectiva, o Ministério da Educação - MEC buscou estratégias de formação, capacitação e inovação pedagógica com o intuito de alavancar a qualidade do ensino, em especial, na educação básica. Com as novas concepções sobre o desenvolvimento cognitivo e da linguagem advindas da Psicologia que passam a ser mais estudadas, ocorreram profundas mudanças nas propostas pedagógicas, Plano Nacional de Educação - PNE que tem como objetivo estabelecer metas de qualidades que proporcionam as crianças um desenvolvimento integral de suas identidades, capazes de crescerem como cidadãos cujos direitos à infância são reconhecidos. Foram produzidos diversos documentos para nortear a qualidade educacional, dentre eles, na educação infantil, o RCNEI. O RCNEI aborda características fundamentais que contribuem com a implementação de práticas educativas, que valorizam a discussão e a socialização de propostas que visam o desenvolvimento e a aprendizagem da criança. Porém, apesar de ajudar o professor na sua prática docente, esse referencial não é de cunho obrigatório. Dessa forma o RCNEI (1998, vol.1, p. 63) aponta objetivos que devem contribuir para que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades: • desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações; 20 • descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar; • estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças,fortalecendo sua autoestima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social; • estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais,aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração; • observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade,percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação; • conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade; • utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva; • brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos,desejos e necessidades; Dessa forma observa-se que o RCNEI procura atender o desenvolvimento integral da criança, inclusive, dando ênfase ao brincar que é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. A partir do RCNEI é possível perceber que o brincar deve permear a educação infantil, já que a brincadeira é uma linguagem infantil que permite ao professor observar o processo de desenvolvimento da criança, registrando suas capacidades emocionais, sociais, cognitivas e de uso das linguagens, no intuito de os professores conhecerem e estudarem o assunto. Desse modo, passa a oferecer subsídios teóricos sobre o tema também para os cursos de formação de professores. Nota-se a necessidade de valorização do brincar dentro das escolas de educação infantil, propiciando vivências, recursos concretos e espaços para que possam ocorrer experiências diversas. 21 2.3 Brinquedo, Brincadeira e jogo. De acordo com Kishimoto (2000), no Brasil, termos como jogo, brinquedo e brincadeira ainda são empregados de forma indistinta, o que revela que não há um conceito definido nesse campo. Segundo a autora supracitada o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e seu uso é indeterminado, não havendo presença de regras organizando o seu uso. O brinquedo permite à criança a representação do que ela vivencia na sua realidade, estimulando o uso da imaginação. Com isso ele difere do jogo, pois estabelece uma relação direta com a criança. Desse modo: O vocábulo “brinquedo” não pode ser reduzido à pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem uma dimensão material, cultural técnica. Enquanto objeto, é sempre suporte para a brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil. (KISHIMOTO, 2000, p. 21) Sendo assim a brincadeira é a ação que a criança concretiza ao adentrar no mundo lúdico, ou seja, quando ela imagina, cria, inventa e apresenta um comportamento espontâneo, livre de regras, podendo ou não, utilizar de um brinquedo Ainda de acordo com as ideias de Kishimoto (2000, p. 13), “definir o jogo não é uma tarefa fácil”, pois o jogo pode ser visto como: O resultado de um sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto social, um sistema de regras, e um objeto. Dessa forma o jogo assume um papel conforme o contexto que ele está inserido. No primeiro caso, o jogo assume a imagem que cada sociedade lhe atribui, no segundo caso, um sistema de regras identifica no jogo uma estrutura que segue uma sequencia, que especifica sua modalidade e no terceiro caso, o jogo enquanto objeto. Sendo assim, é possível notar que há uma diferença significativa entre os 3 níveis de diferenciação do jogo e que o professor deve conhecê-los para facilitar o seu uso no cotidiano. 22 2.4 Piaget, Wallon, Vigotsky e a dimensão lúdica. Para entendermos a importância de alguns aspectos da ludicidade na educação infantil, se faz necessário resgatar teorias de autores como Piaget, Vigotsky e Wallon, que contribuíram significativamente nos proporcionando uma importante compreensão do desenvolvimento infantil. Segundo a pesquisadora brasileira, Kishimoto (2008), para Piaget cada ato de inteligência define-se pelo equilíbrio entre assimilação e acomodação. Assimilação é o processo cognitivo, pelo qual o sujeito incorpora um novo dado, eventos ou situações dentro de formas de pensamento, que formam as estruturas mentais organizadas. Acomodação é a criação de novos esquemas ou a modificação de esquemas já existentes para incorporar novos aspectos do ambiente existente. Desse modo temos também obrincar como um recurso que pode ser mais explorado e observado na escola desenvolvendo a criança, seu pensamento, linguagem, emoção, cognição, afetividade, entre outros. Sendo assim: Durante o ato de inteligência, adapta-se às exigências do ambiente externo, enquanto ao mesmo tempo, mantém sua estrutura mental intacta. O brincar, neste caso, é identificado pela primazia da assimilação sobre acomodação. Ou seja, o sujeito assimila eventos e objetos ao seu eu e suas estruturas mentais. (KISHIMOTO, 2008, p. 39). Ainda para a autora supracitada, Piaget, em suas pesquisas, observou ao longo do período infantil três sistemas de jogo: de exercício, simbólico e de regras. O jogo de exercício aparece por volta dos 18 meses de vida, e caracteriza-se pela repetição de movimentos e ações, por puro prazer funcional de executar atividades motoras. O jogo simbólico será melhor caracterizado adiante. Já os jogos de regras possibilitam a socialização da criança, pois a partir das regras nas brincadeiras ocorrem novas interações entre os indivíduos. Porém, enfatizaremos, devido ao tema da presente pesquisa, que ocorrem por volta da idade de 4 e 5 anos, os jogos simbólicos. 23 Conforme Kiskimoto (2008), na perspectiva piagetiana, estes jogos surgem por volta do segundo ano de vida com o aparecimento da representação e da linguagem e tem a função de assimilar a realidade. Assim, o papel da escola infantil é propiciar através do faz-de-conta que a criança descubra o mundo, realize sonhos e fantasias, revele e resolva conflitos interiores, medos e angústias, aliviando tensões e frustrações. Por meio dos jogos simbólicos a criança desenvolve a sua autoexpressão representando vários papéis, ou seja, imita situações da vida real. Ainda de acordo com Kishimoto (2008), com aparecimento do jogo simbólico a criança ultrapassa satisfação da manipulação. Ela vai assimilar a realidade externa ao seu eu, fazendo distorções ou transposições. O professor tem o papel de pesquisar, planejar e executar atividades diversas e, em espaços diversos a fim de possibilitar à criança vivências e aprendizagens diversas nas quais ele pode ser o observador, o participante, conhecendo e podendo planejar ações mais desafiadoras para a criança a fim de desenvolver suas habilidades e potencialidades. Na concepção de Wallon, “a atividade lúdica é uma forma de exploração, de infração da situação presente” (Kishimoto, 2008 p. 41). Dessa forma Wallon, classifica os jogos em 4 tipos :Jogos funcionais, que representam os movimentos simples, como o movimento do corpo;Jogos de ficção que enfatizam o faz-de-conta, no qual a criança assume papéis sociais brincando ;Jogos de aquisição, no qual a criança aprende vendo e ouvindo e os jogos de construção, em que a criança reúne, cria, combina, modifica objetos. Dessa forma é muito importante que o professor, compreenda cada fase da criança, pra intervir de maneira adequada, proporcionando o crescimento e favorecendo a brincadeira na educação infantil. De acordo com Kishimoto (2008), Vigotsky valoriza o fator social, mostrando que no jogo de papéis a criança cria uma situação imaginária, incorporando situações do contexto cultural adquirido por meio da interação e comunicação. Diante disso, é com o auxilio do jogo e da brincadeira que a criança toma consciência da sua realidade e dos desafios que lhe são propostos, emancipando-se das restrições das situações em seu cotidiano. Ainda de acordo com Vigotsky (2007) no brinquedo a criança começa separar significado do objeto de forma espontânea. Desse modo, a criança, com auxilio do brinquedo, alcança uma 24 definição funcional de conceitos ou de objetos, e as palavras tornam-se parte de algo concreto. Conforme Kishimoto (2008), Piaget e Wallon ao analisarem a origem do comportamento lúdico concordam que ele provém da imitação, que representa uma acomodação do objeto. Segundo a autora, Wallon observa na imitação uma participação motora do que é imitado, e uma continuação da imitação do real, ou seja, por meio de jogos e outros ritos, as crianças executam simultaneamente os mesmos gestos e atitudes entregando-se aos mesmos ritmos. Diante dessas teorias Piaget, Wallon e Vigotsky concordam que a imitação é origem de toda a representação mental e a base para o aparecimento do jogo, daí a importância de valorizá-la no contexto escolar, oferecendo espaços e situações para que ocorram experiências com o brincar. 2.5 O que vem a ser uma Brinquedoteca? Segundo Cunha (1992), a brinquedoteca é um espaço preparado para estimular a criança a brincar, permitindo acesso a uma variedade de brinquedos, em um ambiente especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a explorar, a sentir, a experimentar. Desse modo, a brinquedoteca é um espaço voltado para o desenvolvimento de atividades lúdicas, que estimula o desenvolvimento global das crianças. Esta autora ressalta que a brinquedoteca deve ser preparada de forma criativa e convidativa a brincar, um lugar em que a criança seja tocada pela expressividade da decoração, pois a alegria, o afeto, e a magia devem ser evidentes. Diante dessa concepção, podemos agregar a brinquedoteca ao espaço escolar a fim de oportunizar à criança acesso a vários brinquedos, brincadeiras e jogos, de aprender de forma lúdica e consequentemente suprir a escola de um espaço que auxilia no desenvolvimento cognitivo e social, respeitando o direito que toda criança tem de brincar. 25 2.5.1 A Brinquedoteca e sua historicidade O trabalho com brinquedos, assim como a grande maioria dos métodos e recursos pedagógicos começaram a ser desenvolvidos a partir da necessidade de ajudar a estimular crianças deficientes, de acordo com que já apresentamos os educadores Pestalozzi, Froebel e Montessori foram os pioneiros no reconhecimento da importância da manipulação de brinquedos para a aquisição de experiências, pois no brinquedo observa-se auxilio indispensável para o desenvolvimento educacional. Segundo Cunha (1992), por volta de 1934, na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, surge à primeira brinquedoteca, com a finalidade de emprestar brinquedos como um recurso comunitário. Este serviço é chamado de Los Angeles Toy Loan. Mas foi na Suécia em 1963, que a ideia de emprestar brinquedos foi mais desenvolvida e expandida, e assim surgiu à primeira Lekotek, com o objetivo de emprestar brinquedos e dar orientação às famílias de excepcionais sobre como poderiam brincar com seus filhos para melhor estimulá-los. Na Inglaterra, a partir de 1967, surgiram as Toy Libraries, bibliotecas de brinquedos, um lugar em que as crianças podiam escolher brinquedos para levar para casa. De acordo com a autora supracitada, em 1971 com a inauguração do Centro de Habilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE de São Paulo foi realizada uma exposição de brinquedos pedagógicos, que visava mostrar aos pais de excepcionais, profissionais e estudantes o que havia no mercado para ajudar no desenvolvimento dessas crianças. A partir do sucesso desse evento, o centro transformou-se em um Setor de Recursos Pedagógicos dentro da APAE, e em 1973 implantou o Sistema de Rodízios de Brinquedos e Materiais Pedagógicos, a Ludoteca. Desse modo, em 1981, nasceu à primeira brinquedoteca no Brasil, com a Brinquedoteca Indianópolis, assim denominada pela precursora desse trabalho a pedagoga Nylse Cunha. Esse tema se expandiu tanto que em 1984 foi criada a Associação Brasileira de Brinquedotecas - ABBri, em São Paulo. Hoje em dia, esse 26 espaço oferecevários cursos e palestras, inclusive cursos de formação que tratam desta perspectiva. A brinquedoteca é um espaço privilegiado que vem crescendo e com finalidades diferentes, sendo utilizada esta nomenclatura em diversos locais, como hospitais, shopping, supermercados e em outros como as escolas de educação infantil, foco deste trabalho e que vamos discorrer adiante. 2.5.2 Os tipos de brinquedoteca e suas especificidades Com base nas idéias de Kihimoto (1992), vamos apresentar alguns tipos de brinquedoteca no intuito de demonstrar o quanto esse espaço é muito importante, pois de acordo com Cunha (1992), brincar é coisa séria, e é essencial à saúde física, emocional e intelectual do ser humano, motivo pelo qual esse espaço se faz presente em diferentes contextos além do ambiente escolar. a) Brinquedotecas de comunidades ou bairros Esse tipo de espaço atende populações de um ou mais bairros, e são geralmente mantidas por associações, prefeituras ou organizações filantrópicas. Atendem o público local, oferecendo brinquedos e materiais de jogo para empréstimo às crianças e profissionais. b) Brinquedotecas para crianças portadoras de deficiências físicas e mentais Permite à criança portadora de deficiências físicas e mentais, o desenvolvimento e aprendizagem por meio de brinquedos, integrando a criança na sociedade e na família. c) Brinquedotecas em hospitais. Auxilia na recuperação da criança doente, permitindo a interiorização e a expressão de vivência da criança doente por meio do jogo e ameniza o trauma psicológico da internação por meio da atividade lúdica. 27 d) Brinquedotecas em universidades Formar profissionais que valorizem brincadeiras, desenvolver pesquisas que apontem a relevância do jogo para a educação e dispor de um acervo de materiais de jogo para colaborar com a função docente. e) Brinquedotecas circulantes É uma brinquedoteca itinerante, que leva brinquedos às crianças que moram em lugar distante, permitindo que as crianças de periferia usufruam por algumas semanas ou meses. f) Brinquedotecas em centros culturais Esses espaços estimulam a transmissão da cultura infantil, promovendo concursos e competições de jogos. g) Brinquedotecas nas escolas As escolas infantis geralmente adotam a brinquedoteca com finalidade pedagógica, dispondo de acervos de materiais de jogo e oferecendo espaço para brincar. Esses espaços suprem necessidades docentes relativas à disponibilidade de materiais destinados a promover a aprendizagem e o desenvolvimento infantil. De acordo com as ideias de Kishimoto (1992), a brinquedoteca escolar estimula a interação entre pais e filhos por meio de jogos, assim, como também colabora com a educação dos pais, buscando o aperfeiçoamento na escolha de brinquedos. Segundo Cunha (1992), a brinquedoteca expressa uma filosofia de educação voltada para o respeito ao “eu” da criança e às potencialidades que precisam de espaço para se manifestarem. Dessa forma, a escola deve implantar a brinquedoteca no intuito de preservar a infância, contribuindo com o crescimento saudável da criança e sendo para o professor espaço para reconhecer a criança em seus diversos aspectos de desenvolvimento, seja, observando, participando e instigando novas vivências 28 Diante dessa concepção Cunha (2007), aponta que a brinquedoteca pode oferecer variedades de ambientes e cantinhos diferentes, os quais iremos apresentar a seguir: • Canto do faz de conta: espaço com mobílias, artigos de cozinha, de hospital, de supermercado e camarim; • Canto da leitura: canto para ver figuras ou ouvir histórias; • Canto das invenções: lugar onde as crianças inventam coisas e constroem com jogos de construção; • Sucatoteca: lugar onde são guardados todos aqueles objetos que podem servir para fazer coisas diferentes; • Teatrinho: para poderem criar histórias e manusear fantoches; • Mesa de atividades: em torno da qual poderão reunir-se para jogar ou para fazer qualquer trabalho coletivo; • Estantes com brinquedos: para serem manuseados livremente, sugerindo diferentes formas de brincar; • Oficina: de construção de brinquedos e de restauração de brinquedos quebrados; • Acervo: local com estantes cheias de jogos e quebra-cabeças guardados, mas à disposição das crianças que poderão retirar um de cada vez. Cabe ressaltar a importância desses cantinhos no contexto escolar, pois todos eles propiciam aprendizagem. Cada um com a sua especificidade contribui para o desenvolvimento integral da criança. Por isso mesmo sem a presença da brinquedoteca, e possível verificar alguns desses espaços na própria sala de aula na educação infantil. Desse modo, observa-se que, apesar da variedade de especificidade de cada tipo de brinquedoteca, todas elas destinam-se a promover o desenvolvimento da criança, brincadeiras e socialização, oportuniza a criança a ter contato com o mundo repleto de ludicidade.É essencial que o professor valorize o brinca e que, mesmo se não existir uma brinquedoteca, sejam garantidos momentos para brincar. 29 2.6 E a formação do educador na perspectiva do lúdico? Faz-se necessário buscar às ideias de Ignachewski (2003) no que diz respeito a repensar os cursos de formação de professores da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental e introduzir na sua estrutura curricular a formação lúdica, pois a ludicidade conquista um grande espaço na educação infantil, por ser o brinquedo a essência da infância e seu uso permitir um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento. Isso é importante, pois a partir do momento que os professores conhecerem mais sobre essa realidade vão poder trabalhar com mais segurança, e entender que a ludicidade é de grande valia para a educação e para o desenvolvimento infantil, valorizando o brincar, o jogar como recursos aliados à aprendizagem escolar. Conforme Ignachewski (2003), para que o educador possa introduzir uma atividade lúdica como elemento dinamizador de uma proposta pedagógica, é importante que ele vivencie o lúdico na sua trajetória acadêmica. É necessário que os currículos sejam revistos e analisados, já que há uma nova visão da criança, do jogo, brinquedo, desenvolvimento e aprendizagem. As instituições, em especial, que formam professores, estão se adequando às novas demandas curriculares. Assim, o professor poderá estudar e vivenciar situações compreendendo a relevância das atividades lúdicas no ambiente escolar, É importante o professor conhecer os conceitos e vivenciar práticas lúdicas, a fim de refletir sobre novas ações e planejamentos pedagógicos que norteiam a ludicidade na aprendizagem escolar. A partir dessa necessidade, nos últimos currículos do curso de Pedagogia foram inseridas disciplinas voltadas a formação lúdica do pedagogo, para além da Psicologia, tais como: Oficina de material didático”, “Jogos e brincadeiras”, “Ludicidade, corporeidade e movimento”, no caso da instituição de ensino superior na qual sou estudante. Nesse sentido a formação do educador ganha qualidade, pois além da formação teórica e da formação prática , há a inserção da formação lúdica. 30 Na formação profissional, Wajskop (1992) defende a ideia de que na educação de crianças pequenas, em cursos de Pedagogia, aprende-se freguentemente diversas teorias sobre o brincar e o desenvolvimento infantil sem, no entanto, estabelecer uma relação com práticas educacionais e crianças reais. Geralmente as propostas transmitidas idealizam a infância, criando uma ideia junto as professoresde que ora nada se pode fazer em relação à brincadeira, ora deve ser aproveitada apenas didaticamente, transformando o jogo livre em apenas um simples exercício motor. É preciso valorizar atividades teóricas, práticas e de campo, pois só assim, o professor poderá atuar de forma mais coerente, tendo consciência e sabendo trabalhar atividades lúdicas. Portanto, a brinquedoteca por ser um espaço da criança, pode ser utilizada como local de observação e de conhecimento de forma mais completa. Desse modo, o professor e/ou futuro pedagogo deve vivenciar situações em formação a fim de analisar, discutir os objetivos e as finalidades das situações relacionadas ao brincar, a fim de valorizá-la e não apenas repetir a teoria ou ter os materiais (jogos, brinquedos etc.), mais desenvolver atividades desafiadoras e intencionais. Cabe ressaltar que o brincar não se resume apenas ao prazer, ele é muito mais amplo, pois envolvem perdas, frustrações, alegrias e diante de uma realidade social humana. É preciso também investir na formação do professor que possibilite trabalhar esse leque de possibilidades, envolvendo inclusive valores e a formação humana. Percebe-se que, o educador precisa estudar, experimentar e buscar se preparar para lidar com essa nova realidade dentro da educação, e se abrir ás mudanças e tentativas, estudando, investigando, instigando perguntas e incentivando a criança a novas descobertas. 31 3 METODOLOGIA Esta pesquisa utilizou o método qualitativo e quantitativo. Segundo Menezes e Silva (2001) o método qualitativo é válido porque considera que há um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números e que o ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave. Já o método quantitativo considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. A pesquisa também será exploratória que segundo Bervian, Cervo e Da Silva (2007) não requer a elaboração de hipóteses a serem testadas no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre o assunto de estudo. Considerando a realidade e o contexto pesquisado o projeto utilizou o questionário aberto para a coleta de dados. A utilização do questionário como instrumento de pesquisa foi válido devido a fatores que exercem influência no retorno dos questionários. Segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 195), questionário “É um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional”. Esta pesquisa foi realizada com 6 professores da educação infantil (4 e 5 anos)de 5 escolas do Plano Piloto, Brasília-DF. 32 4 ANÁLISES E DISCUSSÃO DE RESULTADOS Para a realização dessa pesquisa foram contatadas 10 escolas do Plano Piloto, Brasília- DF, sendo que foi observado anteriormente que maioria das escolas públicas não existe um espaço nomeado como brinquedoteca, existe uma sala chamada de multifuncional que tem televisão, DVD, livros e alguns brinquedos e jogos. Das 10 escolas, 5 das coordenadoras afirmaram ter brinquedoteca. A partir desses dados entrei em contato com as escolas com intuito de observar na prática a utilização da brinquedoteca no contexto da educação infantil. Ao primeiro contato, com as escolas, sempre era atendida pelas coordenadoras da educação infantil, e ao explicar a minha pesquisa, todas elas de alguma maneira justificavam que não era possível fazer a observação. Dessa forma, para a realização dessa pesquisa optou-se por um questionário aberto para coletar os dados. Num primeiro momento não tive problemas em relação à aceitação do questionário pelas coordenadoras, mas todas solicitaram que fosse dado um prazo para ser respondido, afirmando que as professoras não teriam tempo para responder na minha presença. Sendo assim, de comum acordo, estipulamos um prazo de 3 dias para as professoras responderem os questionários, porém em algumas escolas precisei retornar mais de 3 vezes para obter os questionários. Nas 5 instituições particulares visitadas foram entregue 10 questionários, e obtive 6 respondidos. Fui muito bem recepcionada nas 5 escolas que tinham brinquedoteca, apenas pude visitar uma delas, porém não obtive autorização para fotografar o espaço. Desse modo, discorro sobre os dados obtidos nessa presente pesquisa por meio dos questionários e da visita a uma das escolas 4.1 Dados gerais acerca dos professores pesquisados Esta pesquisa contou com a contribuição de 6 professoras de escolas particulares do Plano Piloto, Brasília-DF,que atuam com educação infantil e trabalham com crianças de 4 a 5 anos de idade. Todas as professoras são 33 graduadas em Pedagogia, e tem em média de 7 a 20 anos de experiência nessa etapa da educação. A seguir, temos a descrição que caracteriza as professoras participantes: A. Sexo Nas escolas visitadas, observou-se que quase não há presença de professores do sexo masculino na educação infantil, considerando que todos os questionários foram respondidos por professoras. B. Idade Gráfico 1: Idade Das 6 professoras que responderam o questionário observou-se que a maior parte se concentra na faixa etária de 36-40 anos.Nas outras faixas houve um equilíbrio. Nota-se que a faixa etária é bem abrangente, revelando que existem professoras de idades bem variadas atuando nessa etapa da educação como mostra o gráfico acima. 34 C. Atuação Nota-se pelo gráfico abaixo que, as 6 professoras apresentam tempo de atuação na área de educação bastante variado, que vai de 7 a 20 anos. O que nos permite ter um aspecto mais amplo acerca das atividades que elas aplicam na educação infantil. Gráfico 2: Atuação. D. Escolaridade Tabela 2: Escolaridade. Escolaridade Nº de professoras Magistério 2 Superior 6 Pós-graduação 5 35 No que diz respeito à escolaridade, todas as professoras são graduadas em Pedagogia, dentre elas, duas fizeram Magistério e cinco fizeram Pós-graduação nas áreas de Neuropedagogia, Psicopedagogia, Inclusão, Educação Infantil e Libras. Nota-se que das 6 professoras que responderam o questionário, todas procuraram dar continuidade na sua formação, pois as 2 que fizeram o magistério buscaram a graduação em Pedagogia e 4 buscaram a Pós-graduação em áreas que podem contribuir com a sua atuação na educação infantil. A seguir descreveremos e analisaremos as respostas obtidas nos questionário aberto. Ressaltamos que as professoras estarão identificadas como Professoras 1, 2, 3, 4, 5 e 6 a fim de resguardar sua identidade, considerando que esta pesquisa buscou entender a utilização da brinquedoteca no contexto escolar. 4.2 Dos questionários obtidos Quanto às respostas obtidas nos questionários abertos respondidos pelas professoras, temos o seguinte: Pergunta 1: O que você entende por atividades lúdicas? Quadro1: Conceito de atividade lúdica PROFESSORA RESPOSTA 1 “São atividades onde as crianças aprendem por meio do concreto” 2 “São atividades desenvolvidas com material concreto para que os alunos possam aprender de uma forma lúdica e entender melhor o conteúdo trabalhado.” 3 “São atividades que envolvem brincadeiras, onde o aprendizado é realizado de forma recreativa.” 4 “São materiaisconcreto onde os alunos aprendem melhor o conteúdo trabalhado.” 5 “São atividades onde a criança consegue fixar melhor o conteúdo.” 6 “É qualquer movimento que tem como objetivo produzir prazer quando executado, ou seja, divertir o que pratica.” 36 Verifica-se por meio das respostas que ao serem questionadas sobre atividade lúdica, 3 professoras entendem que são atividades em que as crianças aprendem através da utilização de material concreto, 1 associou atividade lúdica ao prazer, ou seja, atividades que despertem alegria na criança, que sejam divertidas e 2 alegam que é uma atividade que ajuda a fixar o conteúdo trabalhado em sala de aula. Nota-se que das 6 professoras apenas 1 associou atividade lúdica a brincadeira, o que nos permite verificar de forma ampla que esse tipo de atividade ainda está muito voltada para o aprendizado e fixação de conteúdo sem se preocupar com a satisfação pessoal da criança. A partir das respostas, observou-se que de modo geral, a prática pedagógica da atividade lúdica está direcionada para o desenvolvimento da aprendizagem da criança, pois nenhuma professora mencionou a importância da atividade lúdica para a formação global do indivíduo, necessária para o desenvolvimento da socialização, da criatividade e das diversas linguagens fundamentais na formação integral do ser humano. 37 Pergunta 2: Cite exemplos de atividades lúdicas que desenvolve com sua turma? Cite a atividade e o local onde costuma acontecer. Ao serem solicitadas a exemplificar as atividades lúdicas as 6 professoras citaram os seguintes elementos descritos na tabela abaixo: Tabela3: Atividades lúdicas Atividades lúdicas Nº de professoras que responderam Fantoche 1 Lego 1 Sucata (tampas e palitos) 2 Música 3 Material dourado 2 Tinta 1 Massinha 1 Argila 1 Cantiga de roda 1 Bingo 2 Jogo da memória 1 Dominó 1 Alinhavo 1 Calendário 2 Quebra-cabeça 1 Observa-se que o que mais apareceu nas respostas foram as atividades com música, pois 4 professoras citaram a música como exemplo, em seguida, vieram os exemplos de sucata(tampas e palitos), material dourado, bingo e calendário. Nesse sentido, existe mais ênfase para música e em seguida, para as brincadeiras dirigidas. Dentre as professoras que responderam sobre o local que costuma acontecer essas atividades, 4 afirmaram que essas atividades costumam acontecer na sala de aula e na área externa da escola . Cabe ressaltar que nessa pergunta as professoras apenas indicaram os materiais didáticos que utilizam, e não descreveram as atividades lúdicas que são 38 desenvolvidas com a turma, daí a dificuldade de compreender o contexto de utilização, considerando que não foi possível observar in loco todos os espaços e atividades desenvolvidas. Pergunta 3: Qual seu papel junto às crianças, considerando as atividades lúdicas na escola? Quadro2: O papel do professor na atividade lúdica PROFESSORA RESPOSTA 1 “Preparar as atividades de acordo com o objetivo que se quer alcançar.” 2 “Interação com ás crianças juntamente com as atividades propostas.” 3 “É levar o aprendizado de forma significativa proporcionando conhecimento e interação com a bagagem que tenho.” 4 “Interação com ás crianças juntamente com as atividades propostas.” 5 “Importante.” 6 “De extrema necessidade. O educador deve ser preparado para auxiliar as crianças em toda e qualquer tipo de brincadeira seja ela espontânea ou orientada.” Percebe-se que na maioria das respostas o papel das professoras é de agente do processo de aprendizagem, no qual 2 professoras afirmam que tem o papel de interagir com as crianças junto às atividades e 1 tem o papel de tornar o aprendizado significativo. Dessa forma, cabe ressaltar a importância do papel do pedagogo em propiciar essas atividades no ambiente escolar, sendo mediador desse processo de aprendizagem, estimulando, contribuindo e ajudando na formação global da criança, revelando muitas vezes informações que contribuem para o desenvolvimento da mesma e auxiliando a trabalhar os conteúdos curriculares, seja como observador ou participante. Aí retomamos as idéias de Ignachewski (2003) ao dizer que para que o educador possa introduzir uma atividade lúdica como elemento dinamizador de uma 39 proposta pedagógica, é necessário que ele tenha vivenciado o lúdico na sua trajetória acadêmica e de vida. É necessário que os currículos sejam revistos e analisados, já que há uma nova visão da criança, do jogo, brinquedo, desenvolvimento e aprendizagem. Percebe-se a necessidade de estudar mais sobre este assunto com os professores, a fim de entender o que vem a ser mediar uma atividade lúdica. A mediação deve ir para além de dar uma resposta para a criança, mas sim instigá-la a descobrir cada sentido e significado, por isso, planejar as atividades, pensar no que pretende ao levar as crianças para a brinquedoteca, assim como o que será observado naquela atividade e como esse professor vai participar ou não das brincadeiras. Pergunta 4: Para você, o que é uma brinquedoteca? Quadro3: Conceito de Brinquedoteca. PROFESSORA RESPOSTA 1 “É um local onde a criança vivencia situações com papel social, por meio da brincadeira.” 2 “Mais um recurso na escola para que se possa desenvolver os conteúdos trabalhados.” 3 “É um local onde se tem opções de objetos, brinquedos, espaço que as crianças exploram sua imaginação.” 4 “Mais um espaço para trabalhar a socialização das crianças.” 5 “Um lugar repleto de brinquedos onde pode ser trabalhado vários conteúdos com os alunos.” 6 “É um lugar próprio reservado aos brinquedos, criado para dar a criança a oportunidade de brincar e mergulhar em seus sonhos.” Por meio das respostas descritas, nota-se que a maioria das professoras identificou a brinquedoteca como um espaço reservado aos brinquedos, no qual também pode ser trabalhado o papel social, o conteúdo, a imaginação e a socialização, apenas uma professora mencionou que seria um lugar para a criança 40 ter oportunidade de brincar. Apenas as professoras 3 e 6 definiram a brinquedoteca como um espaço preparado para brincar, mergulhar em sonhos e explorar a imaginação. Segundo Cunha (1992), a brinquedoteca é um espaço preparado para estimular a criança a brincar, que possibilita um acesso a variados brinquedos dentro de um ambiente especialmente lúdico. É um lugar que convida a criança a explorar, a experimentar e sentir. Desse modo, a brinquedoteca no ambiente escolar pode desenvolver tudo que foi citado pelas professoras, porém sem perder a sua verdadeira essência que é o de favorecer a brincadeira. Pergunta 5-Na sua escola existe brinquedoteca? Por quê? Quadro 4: Brinquedoteca presente na escola. PROFESSORA RESPOSTA 1 “Sim, para que as crianças vivenciem esse rico momento de brincar.” 2 “Sim. Para desenvolver o método da escola juntamente com as atividades propostas.” 3 “Sim, mas fica reservada somente a guardar os brinquedos e jogos.” 4 “Sim. Não sei. 5 “Não. Existe ludoteca.” 6 “Sim.” Das 6 professoras que responderam o questionário, 5 afirmaram que na escola em que atuam existe esse espaço, porém com finalidades diferentes, tais como: desenvolver o método da escola;somente guardar os brinquedos e jogos e brincar.Tive a oportunidade de conhecer a brinquedoteca da escola em que as professoras 1 e 2 atuam,na verdade esse espaço que é denominado de brinquedoteca, é uma sala com mesas e cadeiras para as crianças sentarem, não há brinquedos e jogos, e segundo a coordenadora da escola também não é desenvolvida nenhuma atividade com as crianças nesse espaço. Observou-se na verdade que esse espaço é reservado para as crianças ficarem aguardando os pais 41 ao final da aula. Nessa escola, existem espaços diversificados na sala de aula, como o canto da leitura, com uma estante cheia de livros infantis e tapetes de E.V.A para as crianças sentarem e ouvirem histórias contadas pela própria professora, brinquedos variados tanto para meninos como para meninas, e na área externa um parquinho com brinquedos variados que é de uso comum da educação infantil. Percebe-se que existe um equivoco conceitual e prático do que vem a ser uma brinquedoteca, a professora 1 afirma que é um espaço para vivenciar o momento de brincar, já a professora 3 diz que o espaço é apenas para guardar jogos e brinquedos, e por isso não permitiram que observa-se o local com a justificativa de que é apenas um depósito. A professora 6 afirmou ter o espaço na escola, porém, não respondeu por quê. Das 6 professoras que responderam,1 respondeu que existe uma ludoteca, que segundo Almeida(2003) é uma sala que contém os mais variados tipos de jogo pedagógicos, porém, é usada apenas para armazenar os jogos e brinquedos. As demais professoras afirmaram que também, existem brinquedos, casinha de boneca fora e dentro da sala de aula e parquinho na área da escola. Nota-se que o brincar parece ser presente na escola, e não há uma clareza do que seja uma brinquedoteca. Desse modo, percebe-se que ainda não há uma preocupação em ter um espaço com recursos diversos no ambiente escolar voltado para o brincar, no caso a brinquedoteca,e quando há, não existe uma preocupação em estruturar o espaço para atender as crianças de acordo com os objetivos de uma brinquedoteca escolar, que segundo Kishimoto(1992) é o de suprir a escola de brinquedos e materiais de jogo necessários às atividades pedagógicas, estimular a interação entre pais e filhos por meio de jogos, oferecer um espaço para o desenvolvimento de brincadeiras e incentivar a autonomia e desenvolver a capacidade crítica. Ainda temos que estudar, testar e avançar bastante em relação a prática voltada ao brincar, em alguns casos, existem materiais didáticos, mas muitas vezes, não estão acessíveis às crianças e/ou não há um planejamento em relação às atividades para abordar o manuseio, as trocas, as relações, as descobertas que estes materiais que existem, resgatando também o papel do professor diante destas situações, que não envolve análise comportamental e sim pedagógica. 42 Pergunta 6- Para você qual o papel da brinquedoteca na escola? Quadro 5: Papel da brinquedoteca. PROFESSORA RESPOSTA 1 “É um local onde a criança vivencia situações com papel social, por meio da brincadeira.” 2 “Para desenvolver o método da escola juntamente com as atividades propostas.” 3 “Proporcionar ao educador forma diversificada para trabalhar e ambiente diferenciado para as crianças explorarem.” 4 “Seria mais um espaço onde as crianças desenvolveriam a socialização.” 5 “Interessante, divertido, desenvolve a imaginação da criança.” 6 “É estimular as crianças a brincarem, desenvolvendo a criatividade e aprendendo a valorizarem as atividades lúdicas.” As 6 professoras apresentaram percepções diferentes acerca do papel da brinquedoteca na escola, porém são percepções que se completam, pois a brinquedoteca é um local que serve para desenvolver a certos objetivos que foram citados como: Desenvolver socialização, imaginação e estimular a criança a brincar,vivenciar situações. Nota-se que elas colocam que o papel da brinquedoteca é de certa forma, propiciar o desenvolvimento, viver, simular situações da vida real, trabalhar o imaginário, outra disse que é para desenvolver o método da escola, outra colocou a questão de o espaço proporcionar outras formas de atividades. Assim, resgatamos a ideia do RCNEI ao tratar do objetivo destinado ao brincar dentro das escolas expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades. 43 Pergunta 7- Você utiliza esse espaço? ( ) Sim ( ) Não. Caso a resposta seja positiva, como utiliza? Quadro 6:Utilização da brinquedoteca. PROFESSORA RESPOSTA 1 “Sim. Fazendo mediações e observações na hora da brincadeira.” 2 “Sim. Pra desenvolver as atividades propostas de cada série.” 3 “Não. Na escola fica como depósito para os brinquedos e jogos.” 4 “Não.” 5 “Não.” 6 “Não. Quando necessito de algum brinquedo busco e uso em sala.” Das 6 professoras que responderam o questionário apenas 2 afirmaram utilizar a brinquedoteca e 4 não utilizam. As que afirmaram que fazem uso desse espaço disseram utilizar com o propósito de mediar e observar a brincadeira como no caso da professora 1, e a professora 2 busca desenvolver as atividades propostas de cada série. A partir dos dados presente no quadro, observa-se também que, a utilização da brinquedoteca no contexto escolar parece restrita, limitando-se a buscar o brinquedo que é sempre definido pela professora, e nesse caso, a criança não participa da escolha do que deseja brincar, a professora busca desenvolver atividades direcionadas. Assim, relembramos Vygotsky (2007) ao enfatizar que é através dessa atividade, o brincar (ato de escolher, manusear, fazer de conta) que a criança desenvolve iniciativa, expressa o seu desejo e internaliza as regras sociais. Das 4 professoras que não utilizam esse espaço,1 reafirma que a brinquedoteta é usada como mero depósito de brinquedos. Percebe-se um equivoco conceitual acerca do que vem a ser a brinquedoteca. Dessa forma, sendo a brinquedoteca um espaço voltado para a criança, os professores deveriam estimular o uso desse espaço, levando em conta que o brincar desempenha um papel importante na estruturação do pensamento, das emoções auxiliando no desenvolvimento e na aprendizagem. Sendo esses fatores fundamentais para o desenvolvimento global da criança. De certa forma, percebe-se por meio das respostas analisadas até o presente momento que existe um certo entendimento do que a brinquedoteca propicia desenvolver, no entanto, na prática, 44 falta pensar nestas atividades, seja livre, no sentido de o professor não intervir ou mais dirigidas quando o professor estabelece tipos de jogos e brinquedos, assim como brincar em cantinhos específicos ou com determinados colegas. Pergunta 8- Você costuma levar as crianças a brinquedoteca? ( ) Sim ( ) Não. Caso a resposta seja positiva, para que leva as crianças? Quadro 7: Visita a brinquedoteca. PROFESSORA RESPOSTA 1 “Sim. É um local onde a criança vivencia situações com papel social, por meio da brincadeira.” 3 “Sim. Pra desenvolver as atividades propostas da cada série.” 4 “Não. 5 “Não.” 6 “Não.” 7 “Não.” Com base nas respostas descritas acima, apenas 2 professoras levam as crianças a brinquedoteca e 4 disseram não levar. Das 2 que afirmaram que usar esse espaço, 1 desenvolve atividades de acordo com a série e a outra utiliza para as crianças brincarem. De modo geral, podemos observar que mesmo tendo o espaço na escola, não há estímulo para as crianças frenquentarem a brinquedoteca com regularidade e finalidades, em especial, brincar. Nesse sentido, é preciso que seja trabalhada a importância do brincar, de se frequentar esse espaço e de outros tipos de atividades, sejam mais livres ou mais dirigidasque podem ser desenvolvidas a cada ida. Apesar de ao longo de todas as das respostas do questionário, algumas professoras demonstrarem que compreendem a função lúdica dos jogos e dos brinquedos, no entanto, o momento de ir a este espaço não é prioridade na rotina escolar, desconsiderando as respostas que dizem que a brinquedoteca ajuda no desenvolvimento das crianças. 45 Pergunta 9- Marque com X os materiais existentes na brinquedoteca da sua escola: Tabela4: Materiais existentes na brinquedoteca Materiais N° de brinquedotecas que possuem esse material 1. Livro de pano 5 2. Telefone 4 3. Panelinhas e todo tipo de utensílios de cozinha 5 4. Mobilinhas e objetos domésticos 4 5. Bonecas 4 6. Máscaras, chapéus, fantasias e capas 4 7. Fantoches 5 8. Bichinhos de plástico e de pelúcia 4 9. Massa para modelar 3 10. Quebra-cabeça simples 5 11. Tambor, pandeiro e corneta 3 12. Carros, caminhões, trenzinhos e aviões 4 13. Pianinho ou xilofone 3 14. Cabanas e casinhas 3 15. Balde e pazinha 4 16. Bloco de construção 5 17. Material para pintura e desenho 2 18. Jogos: damas, dominó, loto... 4 19. Jogos de circuito 3 20. Carrinho de boneca 4 21. Livros de história 3 Os materiais descritos na tabela acima foram colocados conforme a teoria de Cunha (2007), na qual afirma que, para o brinquedo representar um desafio para a criança, deve estar adequado ao interesse, às necessidades e às capacidades da etapa de desenvolvimento em que ela se encontra. Dessa forma diante do contexto dessa pesquisa que abrange a idade de 4 e 5 anos os materiais dividem da seguinte forma: Período pré-conceitual: 2 a 4 anos, nessa fase a criança parte da imitação do seu cotidiano, brinca de faz de conta e pode usufruir os seguintes brinquedos: Livro de pano; 46 Telefone; Panelinhas e todo tipo de utensílios de cozinha; Mobilinhas e objetos domésticos; Bonecas; Máscaras, chapéus, fantasias e capas; Fantoches; Bichinhos de plástico e de pelúcia; Massa para modela; Quebra-cabeça simples; Tambor, pandeiro e corneta; Carros, caminhões, trenzinhos e aviões; Pianinho ou xilofone; Cabanas e casinhas; Balde e pazinha. Período intuitivo: 4 a 7 anos, nessa fase a criança a criança esta mais hábil e gosta de montar e desmontar , assim como de desenhar.Gosta de ouvir histórias e é capaz de inferir o final e de prever situações.O grupo de amigos passa a ser importante, estabelece e cobra regras e gosta de competições e de jogos com amigos.Brinquedos sugeridos: Bloco de construção; Material para pintura e desenho; Jogos: damas, dominó, loto; Jogos de circuito; Carrinho de boneca; Livros de história. Dessa forma os materiais que mais se destacaram foram: livro de pano, panelinha e todos os tipos utensílios de cozinha, fantoche, quebra-cabeça simples e bloco de construção, pois eles aparecem em 5 brinquedotecas e que são característicos da faixa etária de 2 a 4 anos, com exceção do bloco de construção que compreende a faixa de 4 a 7 anos .Já o material que menos aparecem são : a massa de modelar,tambor, pandeiro e corneta, pianinho xilofone, cabanas e 47 casinhas, material para pintura e desenho e livros de história, presentes no período pré-conceitual , destinado a faixa etária de 2 a 4 anos. Cabe ressaltar que a brinquedoteca que eu pude observar, na realidade não havia nenhum destes materiais, todos que foram citados pela professora 1 na realidade estavam armazenados em sala de aula . Pergunta 10- Dos materiais marcados no item anterior quais você utiliza com as crianças? Por quê? Quadro 8:Materiais . PROFESSORA RESPOSTA 1 “Todos, em momentos dirigidos e livres.” 2 "Todos, depende muito da atividade que será trabalhada.” 3 “Utilizo o fantoche, para contar histórias, jogos importante para o raciocínio e massinha, desenvolve coordenação” 4 “Não utilizo nenhum. 5 “Todos, porque são úteis para o desenvolvimento psicomotor da criança.” 6 “Uso bloco de construção, auxiliam na aprendizagem das crianças, evoluindo no raciocínio abstrato.” Observa-se que de modo geral as professoras utilizam os materiais descritos na tabela 4,com a finalidade pedagógica de desenvolver a cognição da criança. Apenas a professora 1 usa o material em momentos livres e a professora 4 não utiliza nenhum dos materiais. Desse modo é preciso repensar nas atividades pedagógicas que são realizadas nesse espaço e nos brinquedos que podem ser utilizados, pois dessa forma as crianças poderiam explorar mais e fazer novas descobertas, o que contribuiria muito mais para o seu desenvolvimento nos diversos aspectos. 48 Pergunta 11- Você recebeu orientações ou curso acerca do tema “lúdico” na escola, em especial, da brinquedoteca? Onde? Quando? Escreva um pouco sobre isso. Quadro 9:Orientação acerca da brinquedoteca. PROFESSORA RESPOSTA 1 “Não.” 2 “Não. No curso de graduação foi trabalhado na matéria de didática o lúdico, e hoje percebo o tanto que é importante para o crescimento dos meus alunos.” 3 “Não, o que conheço e desenvolvo é através de pesquisas e buscas próprias.” 4 “No curso não recebemos esse tipo de orientação, hoje percebo o quanto é importante e de grande valia essa prática.” 5 “Não.” 6 “Na graduação. Como educadora preciso me conscientizar da necessidade de resgatar o brincar nas escolas e lembrar da grande importância para a criança do faz de conta , do fantoche, dramatizações, brincadeiras de roda. Cantigas e etc.” Dentre as 6 professoras que responderam o questionário, 2 receberam conhecimentos sobre o tema na graduação, 5 não receberam, porém a professora 2 afirma que na graduação o lúdico foi trabalhado na matéria didática. De modo geral, as professoras sabem da importância de se trabalhar considerando a ludicidade, o brincar, o jogar, mas não apresentam respostas condizentes com uma prática pautada no que conhecem. Algumas professoras vão em busca de informações acerca do assunto, como no caso da professora 3, que o que conhece e desenvolve é através de pesquisas e buscas próprias. A professora 6 reconhece que como educadora precisa conscientizar-se da necessidade de resgatar o brincar nas escolas, exemplificando com alguns materiais didáticos e atividades lúdicas. Dessa maneira, conclui-se que as professoras, de modo geral, não recebem nenhum tipo de orientação acerca do lúdico, e nem em relação à brinquedoteca tanto no processo de graduação, como na própria escola em que atuam. Por outro 49 lado as escolas parece não valorizar muito o lúdico, pois a preocupação está voltada quase que exclusivamente para o desenvolvimento cognitivo da criança, não levando em conta que na brinquedoteca com o auxilio do brinquedo é possível trabalhar todas as dimensões do desenvolvimento: socioafetivo, cognitivo e psicomotor. Desse modo, Almeida (2003), afirma que o sentido real, verdadeiro e funcional da educação lúdica estará garantido se o educador estiver preparado para realizá-lo. 50 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa buscou trabalhar um assunto que é muito estudo, a brinquedoteca, porém que na prática muitos dos professores não sabem como atuar, e desenvolver atividades dentro desse espaço. Nesse sentido estudar esse assunto nos deu oportunidade de conhecer a realidades de algumas escolas
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