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Forma Estrutural II- coisas de arquitetura

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Forma estrutural II 
Publicado em 11/10/2013 | Deixe um comentário 
 
As primeiras construções em ferro fundido e forjado 
 
Ponte sobre o rio Severn, Coalbrookedale. 1777 – 
1779. Projeto de Thomas Pritchard. Execução de 
Abraham Darby III. Comprimento total: 60 m. 
Vão central: 30,5 m 
Se pudéssemos determinar um dia, um único 
dia, como o primeiro da edilícia moderna, talvez 
mesmo da arquitetura moderna, este seria um 
dos dias possivelmente do ano de 1735, 
exatamente aquele em que, em Coalbrookdale, 
um lugarejo no centro da Inglaterra, perto de 
Birmingham, Abraham Darby, patriarca de uma 
família de industriais homônimos utilizou o 
carvão mineral em lugar do carvão vegetal para 
fundição de ferro. Com este procedimento, a qualidade do ferro aumentaria e o preço cairia. Em 1847 tal feito foi 
divulgado, embora desde 1940, Darby utilizaria regularmente o processo para obter o ferro gusa, de maneira 
industrial. Este fato mudaria a face do mundo. A partir de 1760, a produção de ferro pelo novo método aumenta 
expressivamente, e passa então a ser usado primeiramente na construção de ferrovias e pontes, e no início do 
século XIX, também na construção civil e na arquitetura. 
Inicialmente servia-se do ferro fundido. Sua primeira utilização na construção civil foi na construção da Ponte sobre 
o Rio Severn, perto da fundição dos Darby, em Coalbrookdale. Isto aconteceu em 1775. Foi projetada pelo Arquiteto 
Thomas Pritchard e construída por Abraham Darby III. Sem nenhum precedente onde se basear – pinos, rebites, 
soldas não existiam ainda – tiveram que conceber um processo de ligação entre as peças por meio de cunhas e, para 
a forma final, utilizaram o modelo das conhecidas pontes de alvenaria. O resultado foi um belo trabalho, e ainda 
existe como testemunho deste romântico pioneirismo. 
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 Fábrica de linho em Shrewsbury. perto de Coalbrookdale, 1797. Projeto de Charles Bage. 
Em 1786, o arquiteto Victor Louis utiliza-se de uma estrutura de ferro para cobrir o Teatro Francês, em Paris. Esta é 
possivelmente a primeira aparição do material em um edifício. Uma outra estrutura pioneira é o trabalho de Charles 
Bage, uma fábrica de linho em Shrewsbury, perto de Coalbrookdale, construído em 1797; um edifício com 5 
pavimentos de 12 por 55m. Pela primeira vez, provavelmente, não foi usada a madeira em um edifício. Pilares e 
vigas internas de ferro fundido, os pavimentos em abóbadas de tijolos com pouca flecha; as paredes externas em 
alvenaria. A substituição da madeira era uma imposição da época, considerando-se que os edifícios eram iluminados 
artificialmente por candelabros, e os incêndios frequentes. 
Usando sistema semelhante, Matthew Boulton e James Watt constróem em Salford, perto de Manchester, em 1801, 
uma fábrica de algodão de sete pavimentos, com área construída consideravelmente maior. A partir de então, este 
sistema construtivo se torna comum. O passo seguinte seria dado apenas em 1847, por William Fairbairn, ao propor 
a utilização de vigas duplo T de ferro forjado, sobre pilares de ferro fundido; finas placas de ferro substituíam as 
abóbadas rebaixadas de tijolos. Esta placas eram recobertas por argamassa de cimento: estávamos a um passo da 
construção de concreto armado. 
 
 
Pavilhão 
Real de 
Brighton. 
1815-23. 
Arquiteto 
John Nash. 
Vista 
externa e 
interior da 
cozinha. 
Todas estas experiências, entretanto, interessam enquanto evolução da técnica de construir, porém estes edifícios 
não fazem parte da história canônica da arquitetura ocidental. Para esta última, a primeira experiência da utilização 
do ferro foi no Pavilhão Real de Brighton, a partir de 1815, construído pelo arquiteto real John Nash para o Príncipe 
Regente, depois George IV. Este edifício, marcante sobretudo pelo seu estilo, misto de indiano, mourisco e gótico, 
antecipando em algumas décadas o dito ecletismo sintético, inaugura o uso do ferro fundido e forjado na grande 
arquitetura: pilares, escadas, balaustradas e mesmo a estrutura dos caprichosos domos da cobertura, em forma de 
bulbo faziam uso do novo material. 
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Biblioteca Sainte Geneviève, em Paris, 1843-50. 
Henry Labrouste. 
Procedimentos técnicos semelhantes serão 
utilizados por Henry Labrouste, 
primeiramente na Biblioteca Sainte 
Geneviève, em Paris, e depois na Biblioteca 
de Paris, 1858-68. Os edifícios, com paredes 
exteriores de alvenaria, em estilo neoclássico, 
tem no seu interior esbeltas colunas de ferro 
fundido sustentando arcos de meia-volta em 
ferro forjado, que por sua vez apoiam domos 
hemisféricos. Em 1854, do outro lado do 
Atlântico, James Borgadus constrói para os 
editores Harper & Brothers, em Nova Iorque, um edifício de cinco pavimentos no qual não apenas a estrutura 
interior é de ferro fundido, mas também as fachadas são compostas com este material, estruturando grandes 
superfícies de vidro. Os pilares e vigas exteriores são moldados com formas e elementos decorativos renascentistas, 
ambigüidade característica do oitocentos. Um outro exemplo marcante deste conflito tipicamente oitocentista entre 
estilo e técnica construtiva é o Museu de Oxford, de 1859, dos arquitetos Thomas Deane e Benjamin Woodward, 
arquitetos simpatizantes das teorias pré-rafaelistas de John Ruskin: Um embasamento de alvenaria com formas 
góticas, sustentando grandes arcos em forma de ogiva, estes porém de perfis de ferro, cobertos com um teto de 
vidro. Também a Estação Ferroviária de St. Pancras, em Londres, 1864: por fora o monumento máximo do 
revivalismo gótico, de Sir Gilbert Scott, por dentro uma grande cobertura de ferro, o maior vão livre até então (74 
m), do engenheiro William Henry Barlow. 
 
Estação ferroviária de St. Pancras, em Londres, 1864. Sir Gilbert Scott e W. H. Barlow 
Porém o abandono dos muros externos em alvenaria se constituirão em um passo decisivo para se chegar à forma 
estrutural do edifício como hoje a praticamos. Merece ainda especial citação, como edifício canônico da evolução da 
estrutura metálica, a Fábrica de Chocolates Mernier, em Noisiel-sur-Marne, perto de Paris, construído em 1872. Esta 
fábrica edificada sobre o Rio Marne, um procedimento comum para fornecer força motriz às máquinas, apoia-se 
sobre quatro suportes de ferro sustentados por quatro grandes pilares mergulhados nos rio. Trata-se do primeiro 
edifício com esqueleto de ferro, na acepção moderna. Nele a alvenaria serve apenas como vedante. Uma concepção 
engenhosa, utilizando-se do antigo conceito da estrutura de enxaimel de madeira, com o ferro como material 
estrutural 
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Moinho Salnier. Fábrica de Chocolates Mernier. Noisiel. 
1872. 
O ferro fundido entretanto não satisfazia 
inteiramente aos construtores pioneiros. Este 
material é obtido através da matéria prima 
derretida e lançada sobre formas na posição 
horizontal. Se a forma, geralmente de areia oleada, 
gesso ou cerâmica, saísse do nível poderia 
acontecer que um pilar, destinado a receber 
grandes cargas, teria paredes tão finas que 
comprometeriam todo o sistema. Assim aconteceu 
na construção da Fábrica Pemberton, em Lawrence, 
Massachussets, em 1860. Os americanos não tinha 
a experiência dos europeus tanto no cálculo como 
na fundição. Esta estrutura cedeu sobre seu próprio 
peso, matando duzentas pessoas, e 
desencorajando a construção em ferro fundido. A 
construção em aço laminado em perfis 
padronizados L, I, T e duplo T, como hoje praticamos encontrará sua maturidade somentepor volta de 1890, com o 
Fair Building , em Chicago, de William Le Baron Jenney. 
 
Fair Building em construção. Chicago. 1890. William Le 
Baron Jenney. 
 
Grandes exposições, grandes mercados e 
magazines 
Sabemos que as técnicas construtivas muito se 
beneficiaram dos progressos técnicos necessários em 
outras áreas da atividade humana no seu projeto 
revolucionário industrial. Antes de o ferro fundido e 
forjado ser usado na construção de edifícios o fora na 
construção de pontes; antes dos perfis de aço 
laminado ensejarem a execução de arranha-céus, 
foram usados em trilhos para ferrovias. Assim as grandes exposições, independente do serviço que prestaram à 
indústria do século XIX, para divulgação da produção dos países e dos avanços técnicos disponíveis, foram também 
importantes para a edilícia e arquitetura na criação de grandes espaços e ambientes adequados à modernidade 
oitocentista. 
 
Palácio de Cristal. 
Londres, 1851. 
Projeto e 
construção Joseph 
Paxton. 
 
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O Palácio de Cristal, Londres, 1851, foi o primeiro de uma série de edifícios dedicados a exposições industriais 
internacionais. 75 000 m2 de área total, 3 800 toneladas de ferro fundido, 700 toneladas de ferro forjado, 84 000 m2 
de vidro, porém nenhuma solução revolucionária, do ponto de vista técnico. Seu idealizador, Joseph Paxton, 
simplesmente aumentou em muito a escala de um tipo de edifício que já vinha realizando havia vinte anos, os 
Jardins de Inverno ou Greenhouses, um tipo de edifício voltado para o lazer muito comum no século XIX, cujo 
principal interesse era a exposição de plantas decorativas. Projetado em sete semanas, produzido em seis meses, 
montado em quatro meses, todo este processo aconteceu de 26 de julho de 1850 a 1 de maio de 185l, data da 
abertura ao público. Este edifício inaugura uma era, a das construções totalmente industrializadas. 
A partir de então, segue-se uma série de exposições internacionais. Paris abrigaria quatro delas, ainda no século XIX: 
em 1855, 1867, 1879 e 1899. Nova Iorque teria o seu Palácio de Cristal em 1853. Viena promove um grande 
exposição em 1873. A Filadélfia fez a sua em 1876. A grande Exposição Mundial Colombiana, de 1893, em Chicago, 
no dizer de alguns historiadores, marca o início do declínio das grandes exposições. No século XX, quando a industria 
se torna realidade do dia-a-dia, não necessita mais de exposições universais, pelo menos não como eram no século 
XIX. 
 
 
Exposição Universal de Paris. 1889. Galeria de Máquinas. Arquiteto Ferdinand Dutert , engenheiro Victor Contamin. Demolida em 
1910. 
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Estas exposições teriam sempre edifícios marcantes, que pudessem se tornar emblemáticos do evento que 
abrigavam. Nenhuma delas entretanto superaria a exposição de Paris de 1879, que comemorava o centenário da 
queda da Bastilha e que estaria destinada a ser o momento mais alto das exposições internacionais. Para a 
construção edilícia seria também um ponto alto com a sua Galeria de Máquinas, 420 m de comprimento, 115 m de 
vão livre. “Difícil para um olho acostumar-se a tais inimagináveis dimensões“, diria um visitante. Além da gigantesca 
galeria, a exposição exibiria também a Torre Eiffel, síntese da experiência de Gustave Eiffel em fundações e 
estruturas metálicas, e também, juntamente com a galeria, síntese de todo o conhecimento humano a respeito da 
construção civil. Sua imagem, hoje indissociável da Cidade Luz, para o poeta Duchamp-Villon ”…mais do que um 
algarismo, um número… uma obra-prima de energia matemática…tirada do domínio subconsciente da Beleza… à 
qual nosso espírito deve se submeter… se busca a emoção nas artes…e na arquitetura“. Essa imagem era, entretanto, 
para muitos contemporâneos, “uma ameaça, uma vergonha, uma monstruosidade…que dominava Paris como um 
alfinete de cabeça“. 
 
Torre Eiffel. Arquitetos Koechlin, Nougier, e Sauvestre. Engenheiro Gustave 
Eiffel. Exposição Universal de Paris. 1889. 
Mesmo antes do aparecimento das exposições, já o cidadão comum 
havia descoberto o prazer de passear em uma rua coberta com vitrines 
de ambos os lados, assim como os comerciantes havia descoberto as 
vantagens de ter sua loja lado a lado com outras, criando uma 
concentração propícia para as vendas. O ferro e o vidro apontariam 
para a solução: a galeria comercial. Todas as metrópoles teriam as 
suas galerias, ponto de encontro da sociedade elegante e excelente 
ponto comercial. Uma das primeiras foi a Galerie d’Orleans, no Palais 
Royal, em Paris, construída em 1829-31, por Pierre Fontaine. A Galeria 
Vittorio Emanuel, em Milão, projetada pelo arquiteto Giuseppe 
Mengoni em 1865, e terminada em 1871, foi das mais significativas, 
também por sua localização, pois ligava a Piazza del Duomo com a 
Piazza della Scalla, dois importantes marcos da cidade, com mais de 
duzentos metros de galeria. A Galeria Humberto I, em Nápoles, 
projetada por Emanuelle Rocco em 1887 e inaugurada em 1892, era a 
maior de todas, unido com suas abóbadas edifícios de 4 pavimentos. 
 
 
 
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Galeria Humberto I, Nápoles. 1887 –1892. Arquiteto 
Emanuelle Rocco. 
Também os grandes mercados e os magazines, ou 
lojas de departamentos, uma criação do século XIX, 
iriam provocar grandes avanços na construção em 
ferro. A mais importante dessas construções é o 
Mercado Central de Paris (Les Halles Centrales), 
projetado pelo arquiteto Victor Baltard e construído 
em 1855, parte da grande reforma de Haussmann e 
executado sob sua influência direta. Uma construção 
simples – “Preciso apenas de grandes guarda-chuvas, 
e nada mais”, dizia Haussmann. O projeto de Baltard 
era menos interessante que os projetos de outros 
dois arquitetos, Horeau e Flachat, porém mais 
exeqüível. 
 
Mercado Central de Paris (Les Halles Centrales). 
1855. Arquiteto Victor Baltard. 
Os grandes magazines também não tinham 
modelo no passado, e, em épocas de 
industrialização, constituíam-se no ponto de 
ligação entre o produtor e o consumidor. 
Possivelmente o primeiro deles, o Au Bon 
Marché, obra de Gustave Eiffel e Louis-Auguste 
Boileau, em Paris, 1876, repetia nos seus 10 000 
m2 os materiais das exposições e mercados, o 
vidro, que banhava de luz natural todas as partes do edifício. Os grandes magazines foram construídos em todas as 
grandes metrópoles e deram à arquitetura edifícios exemplares como o Fair Building, em Chicago. 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
GIEDION, Sigfried. Espace, Temps, Architecture. Bruxelas, La Connaissance, 1968. 
FOSTER, Michael (Ed.). The Principles of Architecture. New York: Mallard,1989. 
JORDAN, Robert Furneaux. História da Arquitetura do Ocidente. Lisboa. Editorial Verbo, 1985. 
MIGNOT, Claude. Architecture of the 19th Century. Colônia: Taschen, 1994. 
BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1976. 
PEVSNER, Nikolaus. Os pioneiros do desenho moderno. Lisboa: Ulisseia, 1962. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

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