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Trabalho IED CONCLUSO

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1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho se propõe a esclarecer, de maneira sucinta as principais correntes jurídicas que influenciam na concepção do Direito, como o Direito é entendido e interpretado pelos juristas e jusfilósofos.
A Ciência Jurídica e a Filosofia Jurídica estudam o problema do conceito de Direito no decorrer da história, com auge no século XIX e seguintes, causando diversas interpretações acerca do mencionado conceito, resultando na criação de várias correntes de pensamento jurídicos, todavia, este trabalho estudará algumas dessas correntes, as de maior repercussão. Mesmo um magistrado atual vê-se em dificuldade em interpretar e aplicar a norma ao caso concreto, devendo partir de algumas das correntes jurídicas que serão apresentadas, tais como, o jusnaturalismo, o juspositivismo e suas ramificações (escola exegética, normativismo, sociologismo), o historicismo, o tridimensionalismo jurídicos, entre outras.
Assim, mostra-se importante o presente estudo, no sentido de que se tentará trazer à tona como essas correntes de pensamento jurídico influenciam na interpretação e aplicação do direito pelos juristas em sentido amplo, assim estudando as correntes de pensamento em pauta, é possível entender como a ideia de Direito se desenvolveu na história do direito, bem como entender como os grandes representantes da Ciência Jurídica e da Filosofia Jurídica interpretaram o Direito e quais os fundamentos que eles usaram para isso.
Não obstante o fator histórico, parte-se ainda dessas concepções, na realidade atual, para interpretar o Direito. Considerando a interpretação jurídica como sendo a definição do sentido objetivo da norma, bem como o alcance dela, infere-se que os estudos dos fundamentos e das correntes que influenciaram na elaboração desta norma são imprescindíveis ao jurista.
Para uma melhor compreensão do estudo, faz-se necessário apresentar o que são Fundamentos Jurídicos, para depois se conhecer as principais correntes de pensamento jurídico.
2 FUNDAMENTOS JURÍDICOS
Como é de natural do ser humano, todos os fenômenos e fatos que são merecedores de serem investigados. Do mesmo modo, o Direito como fenômeno social, não é excluído dessa necessidade humana de explicação racional e empírica dos objetos. Por conseguinte, a visão do Direito como simples fato destituído de fundamentação não obteve êxito na história.
Em cada um dos momentos históricos vividos pelo homem, foram atribuídos argumentos às regras de conduta para justificar a obediência a elas pelas pessoas sob o seu domínio. Primeiramente, se reconheceu a força como imperativo da norma, depois, esta força foi embasada na vontade divina. Posteriormente, houve um endeusamento das normas, e mais tarde, os direitos do homem foram reconhecidos.
Em cada um desses momentos explicava-se o direito a partir de premissas ou fundamentos, indagando-se o conteúdo das normas jurídicas. Assim, a questão do conteúdo do Direito resumia-se na seguinte pergunta: “Qual deve ser o conteúdo do direito, ou melhor, quando é válido o conteúdo direito”.
Essa tendência dos juristas e filósofos em atribuir conteúdo as regras jurídicas de determinada época fez surgir as correntes de pensamento jurídico. Por correntes, entende-se que, os grandes caminhos percorridos pelo pensamento jurídico, pelo qual grande número de juristas perseguiu uma fundamentação universal para o direito ou uma explicação exaustiva para o fenômeno jurídico.
3 as correntes jurídicas – principais idealizadores, pressupostos, explicações acerca do direito.
3.1 JUSNATURALISMO
Jusnaturalismo, ou Escola do Direito Natural, entende-se a imensa corrente de jusfilósofos e juristas que davam primazia aos princípios anteriores ao homem, os princípios e regras ditos naturais, justas, como o princípio da dignidade humana e o princípio do direito à vida. Pode-se dizer, em linhas gerais, que essa escola foi fundada no pressuposto de que existe uma lei natural, eterna e imutável; uma ordem preexistente, de origem divina ou decorrente da natureza, ou, ainda, da natureza social do ser humano.
Para os jusnaturalistas: A lei natural é imutável em seus primeiros princípios. O direito natural, imanente à natureza humana, independe do legislador humano. As demais normas, construídas pelos legisladores, são aplicações dos primeiros princípios naturais às contingências da vida, mas não são naturais, embora derivem do direito natural.
O jusnaturalismo passou por três estágios na história, compreendendo três vertentes: a teológica, a humana e a racionalista. A primeira, com vigência na Idade Antiga e na Idade Média, o direito natural ligava-se à Religião.  O fenômeno jurídico estava subordinado à vontade divina. A escola teológica posiciona Deus como legislador, acusando as condutas a serem consideradas ilícitas e impondo punições graduadas conforme o bem ofendido. Assim, em suma, esta fase do jusnaturalismo embasava-se nas leis advindas de Deus.
A segunda fase, uma versão intermediária do direito natural na Idade Média, de cunho tomista, divide o direito natural em: normas eternas, naturais, humanas e divinas. As eternas são universais e atemporais. As naturais são fruto da busca pela felicidade terrestre. As humanas são criadas pela Razão. E as divinas são produto da criação divina.
A terceira fase, o jusracionalismo, contou com o jurista holandês Hugo Grócio, considerado o “pai do direito natural”, para laicizar o conceito de direito natural, bem como defender que os princípios do direito natural são frutos da razão.
Segundo a escola jusracionalista, o método para conhecer a ordenação natural é a Razão. É através da razão que, voltando-se para si mesma, investiga, para descobrir na própria consciência, os princípios e as leis naturais, válidas desde sempre.
Em suma, o jusracionalismo procura humanizar o direito natural e afastá-lo da dependência divina, tornando-o autônomo e acessível a todos aqueles que estivessem dispostos a usar a razão para conhecê-lo. Diz GAMA que:
Objetivamente, os defensores dessa corrente tentam evidenciar a autonomia do direito, funcionando de forma independente com relação aos demais ramos do conhecimento. Naturalmente, a norma decorre do trabalho do legislador numa operação semelhante ao exercício da razão humana diante dos casos que se lhe apresenta.
Atualmente, o jusnaturalismo vislumbra o direito natural apenas como um conjunto de princípios que orientam o legislador na elaboração das leis positivas. Princípios estes que não podem ser preteridos, sob pena de injustiça na ordem jurídica. São compreendidos, pois, pelos princípios fundamentais como o direito à vida, o direito à liberdade, o direito à igualdade de oportunidade e participação, o direito ao mínimo de civilidade, etc. Foram esses princípios que nortearam os legisladores da Declaração de Direitos Humanos.
No que toca aos caracteres do direito natural, a doutrina tradicional elenca os seguintes: imutável, eterno e universal. Todavia, pode-se enumerar caracteres de uma forma mais detalhada como fez Eduardo Novoa Monreal:
1.Universalidade (comum a todos os povos); 2) perpetuidade (válido para todas as épocas); 3) imutabilidade (da mesma forma que a natureza humana, o Direito Natural não se modifica); 4) indispensabilidade (é um direito irrenunciável); 5) indelegabilidade (no sentido que não podem os direitos naturais ser esquecidos pelo coração e consciência dos homens); 6) unidade (porque é igual para todos os homens); 7) obrigatoriedade (deve ser obedecido por todos os homens); 8) necessidade (nenhuma sociedade pode viver sem o Direito Natural); 9) validez (seus princípios são válidos e podem ser impostos aos homens em qualquer situação em que se encontrem).
Como se pode concluir, o Direito Natural fundamenta-se nos ideais de Justiça. São princípios atemporais e imutáveis, sem os quais, o direito torna-se injusto. São descobertos pela Razão e sistematizados por ela. Além disso, como se verá adiante, o jusnaturalismo se opõe ao juspositivismo, porquanto esta corrente enxerga o direito somentecomo as normas emanadas do Estado, sendo que tudo fora dele não é direito, principalmente o direito natural, que é congênito e anterior ao Estado. Diferentemente do juspositivismo, o único método de interpretação e aplicação da norma, no jusnaturalismo, é o dedutivo, uma vez que as leis naturais são gerais e universais e, portanto, devem ser tomadas como paradigmas absolutos na interpretação do caso concreto.
3.2 JUSPOSITIVISMO
O positivismo jurídico é a doutrina do positivismo de Auguste Comte aplicada no Direito. Parte dos mesmos princípios, nega abstrações metafísicas e especulações sem experimentação fática. Fiel ao positivismo, o positivismo jurídico nega qualquer elemento de abstração no Direito, sobretudo o Direito Natural, por considerá-lo metafísico e anticientífico.
Nessa corrente, o objeto de investigação do Direito deve ser apenas as normas jurídicas existentes e provenientes do Estado, excluindo os juízos de valor do Direito. Para o juspositivista, importa apenas estudar a realidade fática, sem considerar ideias irracionais, como o valor Justiça, do Direito. Por conseguinte, infere-se que os juspositivistas davam primazia absoluta à legislação elaborada pelo poder Legislativo. Em resumo, o Direito Positivo é o único válido no juspositivismo, independente de comportar fundamento ou conteúdo na letra da lei.
A expressão Direito Positivo ganha tal denominação, primeiramente por se opor ao Direito Natural. É positivo porque suas regras são reais, ou no mínimo propensas a se efetivarem. É o direito vigente em determinada sociedade, mutável e reflexo do poder estatal.
Como método de pesquisa e construção, só admite como válido o método indutivo, que se baseia nos fatos da experiência. Para os positivistas, isso garante certeza jurídica, já que o Direito deve estar restrito às normas impostas pelo Estado e escritas.
Os juspositivistas condenam o Direito Natural por considerá-lo não só metafísico, como também conservador, pois os direitos imanentes são tomados como dogmas pelos jusnaturalistas, de modo que toda aplicação normativa ao caso concreto deve partir dos direitos naturais. Segundo os juspositivistas, esse conservadorismo do Direito Natural torna o Direito estático, não acompanhando as necessidades sociais de cada momento histórico, sendo inútil para a ordem social de dado momento.
Em contrapartida, o juspositivismo sofre críticas severas dos jusnaturalistas, por estes considerarem o Direito Positivo um conjunto de normas que não satisfazem o anseio por justiça. As leis positivas só garantem a segurança, mas excluem a justiça e os valores inerentes ao ser humano. O Direito Positivo é válido simplesmente por ser vigente, sem precisar abarcar valores de significação social. Desse modo, o direito justifica as atitudes arbitrárias por quem se encontrar no poder. Foi assim que Adolf Hitler justificou suas atrocidades durante a Segunda Guerra Mundial, por se basear no direito estatal.
Em decorrência do positivismo jurídico, algumas ramificações doutrinárias de formaram, sobretudo a escola exegética, o normativismo jurídico e sociologismo jurídico, explicados na sequência.
3.2.1 ESCOLA EXEGÉTICA
Essa escola firmou conceitos e princípios ainda usados na Dogmática Jurídica contemporânea. Derivada do positivismo jurídico teve seu apogeu no século XIX, principalmente após a codificação francesa. Foi o Código Francês de Napoleão, de1804, que impulsionou a ascensão da escola exegética.
A idolatria do referido código levou aos juristas a darem grande valor ao texto legislativo do código, partindo de pressupostos de completude da lei, isto é, um texto legislativo sem lacunas, como era vislumbrado o Code Napoleão, redundando na criação de um método de interpretação limitada ao texto legal e a intenção do legislador, relegando o hermeneuta a mero aplicador da lei sob a forma mecânica do silogismo. Nesse sentido, o verdadeiro jurista é aquele que parte do Direito Positivo para interpretar e aplicar, não procurando subsídios e respostas fora da lei em sua labuta, uma vez que a lei é completa e perfeita, cabendo ao jurisprudente dar sentido e amplitude de uma lei a partir de outra. Por isso infere NUNES que:
Sendo a lei a única fonte das decisões jurídicas, a resolução de um problema dar-se-ia, então, na conclusão de um silogismo, no qual a premissa maior seria a lei, a premissa menor seria o enunciado do fato concreto apresentado como problema a se solucionar, e a conclusão corresponderia à resolução do problema.
Da assertiva acima mencionada, é possível inferir que o aplicador da lei deveria partir de uma interpretação literal ou gramatical, restrita à mens legislatoris, não significando a rejeição total do direito natural na interpretação normativa, pois se admitia que os códigos eram fruto da razão humana, que é natural.
Explica MARIA HELENA DINIZ que:
Para a escola da exegese, a totalidade do direito positivo se identifica por completo com a lei escrita; com isso a ciência jurídica se apegou à tese de que a função específica do juristas era ater-se com rigor absoluto ao texto legal e revelar seu sentido. Todavia, é preciso não olvidar que o exegetismo não negou o direito natural, pois chegou a admitir que os códigos elaborados de modo racional, eram expressão humana do direito natural, por isso o estudo do direito deveria reduzir-se a mera exegese dos códigos.
Embora a interpretação do direito se baseasse na lei, a escola exegética não era estática. Seus teóricos adaptavam-na às exigências do seu tempo, resistindo às críticas ferrenhas dos opositores da época. Tanto que os adeptos da escola exegética elaboraram a interpretação histórica para desvendar a vontade do legislador sob as circunstâncias que o levaram a elaborar determinada lei, possibilitando a abstração do verdadeiro sentido e amplitude da lei no momento da elaboração.
3.2.2 NORMATIVISMO JURÍDICO
A teoria normativista, ou teoria pura do direito, compreende o conjunto de estudos do austríaco Hans Kelsen que reduz o Direito a um só elemento: a norma jurídica. Compreende, pois, “a corrente que define, desenvolve, e fundamenta o direito exclusivamente com elementos jurídicos.” Para Kelsen, o Direito é uma ciência que tem objeto de investigação próprio, desvinculado de qualquer outra ciência, que é a norma jurídica, assim como pugna por um direito geral positivo, sendo a sua teoria de abrangência universal. Nas palavras de Kelsen:
A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial. É teoria geral do Direito, não interpretação de particulares normas jurídicas, nacionais ou internacionais. [...] Como teoria, quer única e exclusivamente conhecer o seu próprio objeto. Procura responder a esta questão: o que é e como é o Direito? Mas já não lhe importa a questão de saber como deve ser o Direito, ou como deve ele ser feito. É ciência jurídica e não política do Direito. Quando designa a si própria como “pura” teoria do Direito, isto significa que ela se propõe garantir um conhecimento tudo quanto não pertença ao seu objeto, tudo quanto não se possa, rigorosamente, determinar como Direito. Isto quer dizer que ela pretende libertar a ciência jurídica de todos os elementos que lhe são estranhos. Esse é o seu princípio metodológico fundamental.
Nesse sentido, Kelsen almeja separar o Direito de todas as demais ciências, a fim de torná-lo ciência autônoma, por isso, a denominação teoria pura, usada por Kelsen. Assim, completa GAMA:
Elevou-se aqui o valor da norma em patamares jamais vistos, apregoando-se que o direito poderia ser contemplado somente com a legislação, devendo todos os esforços jurídicos serem concentrados na elaboração, interpretação e aplicação das regras jurídicas elaboradas pelo poder legislativo. Apregoava-se uma libertação do direito com relação às demais áreas de conhecimento, sendo estudado somente o fenômeno jurídico. A idéia de pureza do direito não permite que o fato jurídico seja estudado sobre qualquer outro enfoque, sejasob a visão sociológica, histórica, filosófica, psicológica... O direito passou a ser concebido como ciência jurídica com métodos próprios, desvinculada das demais ciências.
Segundo a teoria kelsiana, a realidade mundana é separada em dois: o mundo do ser (realidade fática) e o mundo do dever-ser (realidade formal). Kelsen situa o direito neste último, bem como defende a impossibilidade do ser e do dever-ser se unirem ou se fundarem um no outro. Assim, a norma jurídica só poderia fundar outra norma jurídica, sob uma estrutura piramidal, até chegar a Norma Fundamental, que é a primeira norma, a que sustenta todo o ordenamento jurídico. Kelsen diz que para não incorrer no regresso infinito (uma norma fundamentando outra infinitamente) é necessária a consideração da Norma Fundamental, sendo que esta não é fundamentada por nenhuma outra e deve ser pressuposta como válida em si mesma, por uma necessidade lógica do sistema normativo.
Para elaborar essa teoria, Kelsen partiu de uma ideologia positivista, excluindo qualquer juízo de valor, bem como o Direito Natural, da Ciência Jurídica. Desprezando qualquer aspecto valorativo da norma, Kelsen pôde afirmar que expressou o Direito como ele é, e não como deveria ser.
Outro aspecto a ser ressaltado da teoria de Kelsen foi a sua concepção monística de Direito/Estado, Direito subjetivo/objetivo e Direito interno/internacional. Para Kelsen, O Estado é a simples personificação jurídica coercitiva do ordenamento. No mesmo sentido, inexiste direito subjetivo, sendo este um simples resultado do direito positivo. Há, também, a confusão do Direito interno com o Direito internacional, sendo este o que dá legitimidade àquele.
 Destarte, o direito internacional é superior a todos os outros direitos nacionais. Nesse viés, explica GUSMÃO acerca da concepção monística kelsiana ora estudada:
Na ordem unificada, escalonada em pirâmide, abaixo da comunidade internacional, estão os Estados nacionais, as pessoas jurídicas de direito público e de direito privado e as pessoas físicas. Integrou-os Kelsen normativamente, pois só assim poderiam ser juridicamente pensados. Consequência: deixa de haver distinção entre direito e Estado, entre, portanto, teoria do direito e teoria do Estado, por ser o direito a personificação da ordem jurídica coativa, “ponto de imputação” de atos e de efeitos jurídicos, e não, como tem sido equivocadamente sustentado, ente social.
Em síntese, o normativismo jurídico consiste em reduzir o Direito e o Estado à norma, bem como vislumbrar o Direito como ciência autônoma, independente das demais ciências humanas. Tal concepção contribuiu no sentido de que o Direito passou a ser considerado como ciência nas elucubrações dos juristas e dos jusfilósofos. Contribui, também, ao conceber o Direito como um conjunto de normas escalonadas e sistemáticas, numa unidade denominada ordenamento jurídico, onde uma norma se subordina a outra, chegando à norma fundamental.  Analogamente, pode-se dizer que o Direito Brasileiro se estrutura da mesma forma, sendo a norma fundamental a Constituição Federal, e as demais normas subordinadas a ela denominadas de normas infraconstitucionais.
Por outro lado, o normativismo sofre críticas ferrenhas dos juristas antikelsianos, devido à obscuridade da norma fundamental. Do mesmo modo, censura-se a fusão do Estado ao Direito, bem como a indiferença do Direito aos valores, como o ideal Justiça, por considerarem os antikelsianos uma forma de os dirigentes tiranos justificarem suas atrocidades, uma vez que o Direito vigente é válido, indiferente da Moral, e o Estado age juntamente com o Direito como um fim em si mesmo.
3.2.3 SOCIOLOGISMO JURÍDICO
O sociologismo, ou escola sociológica, surgiu com Émile Durkheim, sociólogo do século XIX que influenciou o Direito com seus estudos. O sociologismo compreende a reunião de conceitos que vislumbram o Direito sob o prisma predominante do fato social, considerando-o mero componente dos fenômenos sociais suscetível de ser estudado segundo nexos de causalidade, assim como ocorre nas ciências naturais.
É, pois, a corrente que se embasa no fato social para explicar o Direito. Aplica-se, aqui, o método sociológico, isto é, investigar a partir do “princípio fundamental de que os fatos sociais devem ser estudados como coisas”, assim como o produto dos estudos da Sociologia Jurídica. Nesse sentido, identifica o Direito não com lei ou com jurisprudência, mas com o fato social. Desvincula o Direito do Estado, concebendo-o como simples fenômeno social, primeiro formado pelo povo na forma de costume e depois transformado em lei estatal.
É corrente positivista por ser fundamentada no empirismo de Émile Durkheim ao defender a investigação do Direito a partir da consideração dele como fato social. Duguit, constitucionalista francês, sob a influência durkheiniana, chega a afirmar que “nada fazer que atente contra a solidariedade social em qualquer uma das formas e fazer tudo o que for de natureza a realizá-la, perpetuá-la e desenvolvê-la.”
Segundo REALE o sociologismo jurídico:
Traduz uma exacerbação ou exagero da Sociologia Jurídica, pois esta, quando se contém em seus justos limites, não pretende explicar todo o mundo jurídico através de seus esquemas e leis, até ao ponto de negar autonomia à Jurisprudência, reduzindo-a a uma arte de bem decidir com base nos conhecimentos fornecidos pelos estudiosos da realidade coletiva.
Portanto, na visão sociológica, o Direito é vislumbrado parcialmente, uma vez que as normas são identificadas como fato social. Devido ao brocardo ubi jus, ubi societas a escola sociológica ganha força no final do século XIX, considerando a existência do direito como simples fenômeno social de controle.
3.3 O PÓS- POSITIVISMO
O pós-positivismo surgiu como uma nova teoria no tocante à normatividade dos princípios após o fracasso filosófico do jusnaturalismo e do colapso político do positivismo jurídico apoiado pela Alemanha Nazista e Itália Fascista.
Tal teoria visa dar aos princípios jurídicos caráter normativo, e estes devem atuar como uma espécie de norma jurídica vinculante.
O pós-positivismo tenta restabelecer uma relação entre direito e ética, pois busca materializar a relação entre valores, princípios, regras e a teoria dos direitos fundamentais e para isso, valoriza os princípios e sua inserção nos diversos textos constitucionais para que haja o reconhecimento de sua normatividade pela ordem jurídica.
3.4 PENSAMENTO JURÍDICO CRÍTICO
A civilização ocidental tem gerado embates resultantes dos posicionamentos de cunho jusnaturalista e positivista, que advieram para prover a lacuna que tutelasse o seguimento populacional com melhor competência em recursos materiais e representações doutrinárias, instituídas para criar o processo argumentativo-dialético capaz de edificar uma base jurídica de caráter privatista.
Os pressuposto de convencimentos que produziram o “ethos” e que estão sendo questionados em razão da sua eficácia atual são: 1- o idealismo individual; 2- o racionalismo liberal e 3- o formalismo positivista. E por que perderam sua legitimidade para a sociedade atual? Provavelmente porque a racionalização desses pressupostos reprimiu, alienou e coisificou o homem. E de que maneira isto aconteceu? O homem, indivíduo participante da máquina produtiva do sistema capitalista tem servido para produzir riqueza, mas tem sido mantido à margem do seu usufruto. O modelo produtivo neoliberal incentiva a concorrência como justificativa para a melhoria dos padrões de qualidade industrial e de serviços, porém, o caráter desafiador da empreitada capitalista resulta em benefícios privilegiados. Os mentores da ideologia do resultado para poucos apoderaram-se dos benefícios produzidos por muitos. E o fizeram baseados nesses pressupostos de convencimentos, cujo caráter essencial tem sido o do idealismo individual, do racionalismo liberal que procurou assentar os seus dogmas nos conceitos que são concretizados nas leis, nos costumes, nas doutrinas, na jurisprudência, ou seja,no formalismo positivista.
A busca de um pensamento insurgente, crítico, e interdisciplinar no âmbito do Direito é o cerne desta empreitada teórico-prática, caracterizada como instrumentalização para a modificação de valores e posturas na busca da realização de uma perspectiva jurídica pluralista.
Urge, no entanto, precisar as expressões “teoria jurídica crítica”, “crítica jurídica”, ou “pensamento crítico” no Direito, que devem ser traduzidos como um modo de pensar questionador do que está normatizado e oficialmente consagrado, seja na dimensão do conhecimento, do discurso, e do comportamento.
Pode-se entender também o pensamento crítico como “a formulação teórico-prática de buscar, pedagogicamente, outra direção ou outro referencial epistemológico que traduza os dilemas fundamentais da modernidade presente”.
É preciso considerar a significação do pensamento crítico como reação mais autêntica da insatisfação de consideráveis segmentos de juristas e doutrinadores sobre a predominante formulação “científica” do Direito e das suas formas de legitimação dogmática.
Evidencia-se a conveniência contemporânea por uma crítica “juspolítico-filosófica” desmistificadora, porquanto o modelo de cientificidade em que se fundamenta o discurso jurídico liberal-individualista e a cultura normativista técnico-formal está em processo de profundo esgotamento. Essa disfuncionalidade origina-se na própria crise de legitimidade. E por consequência, a reavaliação dos pressupostos de convencimento racionais de fundamentação jurídica (jusnaturalismo e positivismo), quando não mais acompanham as transformações sociais e econômicas das sociedades modernas, é medida urgente.
Em relação à práxis, procura-se constituir o Direito como instrumento estratégico de efetiva alteração das práticas reais vigentes, para a construção de uma organização social mais justa e democrática com o objetivo de despertar-lhe uma consciência para uma postura engajada e comprometida com o projeto de “novo” Direito, transformando-se em foro a serviço da justiça, da emancipação e da dignificação do próprio homem.
Em razão do já exposto, deve-se indagar, em virtude da crise de fundamento por que passa a sociedade contemporânea, quais valores legitimam a sua existência? Pois os paradigmas (modelo científico de verdade, aceito e predominante em determinado momento histórico) que produziram um “ethos”, marcado pelo idealismo individual, pelo racionalismo liberal e pelo formalismo positivista, tem sua racionalidade questionada.
Os novos paradigmas que as sociedades vêm a incorporar estão diretamente vinculados à crescente complexidade de conflitos, à heterogeneidade socioeconômica, à concentração do capital, à hipertrofia do executivo, etc. A efervescência dessa multiplicidade fenomênica nos leva a crer que qualquer análise para validar-se deverá identificar os fatores de mudanças responsáveis pela contínua inadequação dos modelos culturais tradicionais.
O conceito de verdade, justiça e legitimidade está sendo constantemente redefinido e exige uma tentativa de entender a noção de crítica para conhecer o emprego desses termos, pois dois grandes pensadores os utilizaram e são alvos de discursos conflitantes ainda nos momentos atuais. São eles: Kant e Marx.
Ao tempo em que Kant objetiva mostrar sua opinião sobre como se formulam os juízos científicos, em Marx a crítica surge como discurso desmistificador das ideologias ocultadas que projetam os fenômenos de forma distorcida.
Pode-se conceituar crítica como um instrumento teórico-prático que permite a sujeitos inertes e mitificados uma tomadas histórica de consciência. Este posicionamento ou equacionamento foi primordialmente levantado por integrantes da Escola de Frankfurt, onde iniciam uma reflexão que se funda na aceitação da contradição e o trabalho permanente da negatividade, presente em qualquer processo de conhecimento.
3.5 CONTRATUALISMO JURÍDICO
Três grandes pensadores modernos marcaram a reflexão sobre a questão política: Hobbes, Locke e Rousseau. Um ponto comum perpassa o pensamento desses três filósofos a respeito da política: a idéia de que a origem do Estado está no contrato social. Parte-se do princípio de que o Estado foi constituído a partir de um contrato firmado entre as pessoas. Aqui entende-se o contrato como um acordo, consenso, não como um documento registrado em cartório. Além disso, a preocupação não é estabelecer um momento histórico (data) sobre a origem do Estado. A idéia é defender que o Estado se originou de um consenso das pessoas em torno de alguns elementos essenciais para garantir a existência social. Porém, existem algumas divergências entre eles, que veremos a seguir:
Hobbes (1588-1679) acreditava que o contrato foi feito porque o homem é o lobo do próprio homem. Há no homem um desejo de destruição e de manter o domínio sobre o seu semelhante (competição constante, estado de guerra). Por isso, torna-se necessário existir um poder que esteja acima das pessoas individualmente para que o estado de guerra seja controlado, isto é, para que o instinto destrutivo do homem seja dominado. Neste sentido, o Estado surge como forma de controlar os "instintos de lobo" que existem no ser humano e, assim, garantir a preservação da vida das pessoas. Para que isso aconteça, é necessário que o soberano tenha amplos poderes sobre os súditos. Os cidadãos devem transferir o seu poder ao governante, que irá agir como soberano absoluto a fim de manter a ordem.
Locke (1632-1704) parte do princípio de que o Estado existe não porque o homem é o lobo do homem, mas em função da necessidade de existir uma instância acima do julgamento parcial de cada cidadão, de acordo com os seus interesses. Os cidadãos livremente escolhem o seu governante, delegando-lhe poder para conduzir o Estado, a fim de garantir os direitos essenciais expressos no pacto social. O Estado deve preservar o direito à liberdade e à propriedade privada. As leis devem ser expressão da vontade da assembléia e não fruto da vontade de um soberano. Locke é um opositor ferrenho da tirania e do absolutismo, colocando-se contra toda tese que defenda a idéia de um poder inato dos governantes, ou seja, de pessoas que já nascem com o poder (por exemplo, a monarquia).
Rousseau (1712-1778) considera que o ser humano é essencialmente bom, porém, a sociedade o corrompe. Ele considera que o povo tem a soberania. Daí, conclui que todo o poder emana (tem sua origem) do povo e, em seu nome, deve ser exercido. O governante nada mais é do que o representante do povo, ou seja, recebe uma delegação para exercer o poder em nome do povo. Rousseau defende que o Estado se origina de um pacto formado entre os cidadãos livres que renunciam à sua vontade individual para garantir a realização da vontade geral. Um tema muito interessante no pensamento político de Rousseau é a questão da democracia direta e da democracia representativa. A democracia direta supõe a participação de todo o povo na hora de tomar uma decisão. A democracia representativa supõe a escolha de pessoas para agirem em nome de toda a população no processo de gerenciamento das atividades comuns do Estado.
3.6 IDEALISMO JURÍDICO
O Idealismo Jurídico é uma escola do pensamento jurídico que busca justificar o conteúdo do Direito. O Idealismo era propagado pelos Filósofos da antiguidade, principalmente Platão, entendendo que os Governantes deveriam ser os próprios Filósofos, pois somente eles conheciam os meios para o Estado Perfeito. 
Contudo, esta escola não foi muito bem recepcionada, porque colocava o povo ao lado da história. Nós sabemos que o povo faz parte do crescimento e evolução da sociedade, assim, pretender deixar o povo como mero receptor de ordens e sujeições não é o melhor caminho. O povo é ator desta evolução. Santo Agostinho também foi idealista, e esta posição está reflexa na Civitas Dei (Cidade de Deus), o qual seria um modelo de Estado para os homens. Pura utopia. Thomas More, em sua obra UTOPIA, também defende o Idealismo.
3.7 HISTORICISMO JURÍDICO
Emuma época na qual a especulação político-jurídica ainda estava submersa em abstrações metafísicas, e em que a história e a lei positiva eram desprezadas, o pensamento de Montesquieu anunciou um direito com o propósito de ser fidedigno às reais condições em que a sociedade surge, existe e evolui. Montesquieu não acreditava que a infinita diversidade de leis e costumes fosse unicamente produzida pela fantasia humana, ou seja, uma obra poética sem relação com a realidade. Em seus tratados – mais precisamente, em “Do Espírito das Leis” –, ele defende a consideração da história como fonte de conhecimento para captar o porquê das condutas humanas que se dá conforme as circunstâncias e examinar a adequação de suas leis a estas. 
Posteriormente, à semelhança de Montesquieu – inclusive, resgatando-lhe conceitos, tais como o do “espírito geral da nação”, adveio a chamada “Escola Histórica do Direito Alemã”, a professar o ordenamento jurídico como algo historicamente identificado, bem como exclusivamente próprio de um determinado povo. Friedrich Carl von Savigny, um dos maiores expoentes dessa escola, sustentava que o direito vive na prática e no costume, que são a expressão imediata da “consciência jurídica popular”. E isto seria devido ao fato de que todo povo tem um espírito, que se reflete numa numerosa série de manifestações, de modo que: moral, direito, arte, linguagem etc. são todos produtos espontâneos e imediatos desse espírito popular (o “Volksgeist”). 
Por sua vez, Karl Marx, que fora aluno de Savigny, acabou influenciado por muitos dos temas por este debatidos (tais como a propriedade), e foi-lhe fiel quanto ao princípio de que o direito procede do social – colocando-se, pois, nas mesmas diretrizes ponderativas empregadas por Montesquieu. No entanto, a perspectiva histórica de Marx possuía um sentido mais funcional do que a de seu antigo professor, não se reduzindo àquilo que considerava uma reverência exagerada às origens. Ele acaba por discordar da concepção de evolucionismo jurídico aplicada por Savigny, evidenciando a necessidade de lutar-se contra leis hostis aos reais costumes do povo, para, então, no âmbito do Estado e da sociedade, sanarem-se as desigualdades acarretadas pelo manejo legal oportunista.
3.8 NEOKANTISMO JURÍDICO
O mundo da experiência não pode fornecer todos os dados do conhecimento. Há também a contribuição subjetiva, uma vez que o espírito não pode ficar indiferente ao mundo dos valores. E, segundo Radbruch, o primeiro ato do espírito, nesse particular, consiste em reivindicar o próprio Eu, libertando-o dos dados da experiência, contrapondo aquele a esta, e separando aquilo que é “valor” daquilo que é “realidade”.
Nesse sentido, ou seja, na procura de um elemento valorativo à realidade jurídica, foi que se manifestou, inicialmente, a reação contra o positivismo jurídico, através, sobretudo, da escola de Windelband, Rickert e Lask, a chamada escola de Baden ao lado do movimento Neokantiano de Marburgo cujos principais representantes – Cohen, Natorp e Stammler – tiveram importante papel na renovação dos estudos jurídicos, orientados de forma especial para a problemática do conhecimento lógico, de inspiração kantiana.
Desenvolvendo ampla atividade cultural em prol da afirmação, no campo do direito, da chamada filosofia dos valores, a Wertphilosophie dos alemães não permaneceu presa a um pensamento único, mas tomou direções diversas em face do problema do conhecimento. Por isso, como salienta o prof. L. Cabral de Moncada, da Universidade de Coimbra, se a vemos permanecer idealista em epistemologia com Rickert, vemo-la tornar-se fenomenológica com Max Scheler, realista com William Stern, e até metafísica com Munsternberg. Além disso, ramificações e derivações num sentido hegeliano não faltam também, como as representadas por Max Ernst Meyer e Munch.
Todas essas tendências, porém, tinham um objetivo comum – afastar-se, o quanto possível, do que consideravam dois escolhos perigosos à Filosofia do Direito – o Direito Natural e o Historicismo. É Emil Lask que argumenta: O Direito Natural destrói, é verdade, a autonomia do empírico pela hispóstase dos valores. Incorre, por isso, no erro da historicidade. O Historicismo, pelo contrário, – não a História, nem mesmo a concepção histórica do direito – destrói toda Filosofia e concepção do mundo. Constitui ele a forma mais moderna, mais difundida e mais perigosa do relativismo, ou seja, o nivelamento de todos os valores.
O que procurava, assim, a nova filosofia do direito era superar a antítese Direito Natural – Historicismo Jurídico, passando de uma concepção monista do Direito, fundada na experiência, para uma concepção dualista, baseada na teoria do conhecimento. Nenhuma orientação filosófica mais adequada para sustentar essa posição do que o idealismo crítico de Kant. Nele foram ambas as Escolas, a de Baden e a de Marburgo – buscar os seus motivos inspiradores, conservando-se, porém, em planos diferentes no modo de aplicar os métodos racionais da filosofia kantiana. Assim é que, enquanto a escola de Marburgo, mais fiel ao pensamento de Kant, lidava com formas gerais do conhecimento, na sua dupla manifestação – a matéria e a forma –, abstraindo-se de qualquer recurso ao “intuitivo material”, a escola de Baden procurou mitigar os excessos desse artifício lógico, orientando o conhecimento para uma esfera particular e individual.
L. Cabral de Moncada assim esclarece esse ponto de divergência das duas escolas: “Ao passo que os neokantianos de Marburgo se deixaram fortemente influenciar pelo pensamento naturalista do século XIX e se conservaram profundamente racionalistas, continuando a fazer derivar o objeto do pensamento das formas gerais do próprio pensamento (como, entre os juristas, Stalmmler e Kelsen), os da escola sudocidental afirmam, pelo contrário, que não é este, o pensamento, que cria só por si o seu objeto, mas que acima dele há necessariamente alguma coisa em harmonia com a qual o pensamento se move e se rege, em ordem a atingir o valor da verdade”.
O método dualista da filosofia dos valores baseia-se na distinção fundamental entre ser e dever ser, natureza e cultura, realidade e valor. Aí o termo cultura não se identifica com o termo valor, como Rickert procurou demonstrar e, com ele, Lask e Radbruch. Rickert partiu do pensamento kantiano, segundo o qual a mente é a única realidade, para concluir que essa realidade devia ser apreciada sob dois ângulos de observação diversos, um em que o observador via a realidade em seu aspecto geral, e outro em que a considerava no seu aspecto particular ou individual. No primeiro ponto de observação o que se nos apresenta é a natureza, no segundo a cultura. Deve-se a Emil Lask a aplicação desse princípio nos domínios da Filosofia do Direito, à qual emprestou valiosa contribuição, através, sobretudo, de seu trabalho “Filosofia Jurídica”, publicado em 1905.
A importância da escola sudocidental alemã da qual é Emil Lask um dos mais notáveis representantes, não se impõe apenas pelo trabalho de procurar conciliar o que no direito há de ideal e de real, mas em descobrir o tríplice aspecto por que deve ser estudado o direito, ou seja, na lição de Miguel Reale, como realidade impregnada de significações normativas objetivas (objeto da Jurisprudência ou Ciência do Direito, segundo o método jurídico-dogmático), como um fato social (objeto da Sociologia jurídica, segundo o método sócio-teorético), ou ainda como valores ou significações, abstração feita da realidade a que aderem e que eles orientam (objeto da Filosofia do Direito, segundo o método crítico axiológico).
Outra notável figura da filosofia dos valores é Gustavo Radbruch, discípulo de Emil Lask, cujas idéias aperfeiçoou e desenvolveu no seu livro “Filosofia do Direito”.
O resumo da filosofia de Radbruch, nos pontos que melhor se ajustam à demonstração de nossa tese, deixa bem claro o critério artificial de sua construção no tocante à concepção ontológica dos valores, assume posição idêntica à de Lask, ou seja, a de consideraro direito como valor autônomo, “cuja esfera positiva de realização é a sociedade”.
A Filosofia dos Valores não viu o direito como uma exigência de valores pessoais, ou, na expressão de Recaséns Siches, “como um meio posto a serviço dos valores éticos da personalidade individual”. Essa breve exposição das ideias dominantes na Filosofia dos Valores é suficiente para mostrar o caráter formal de suas teses, válidas, sem dúvida, como categorias do conhecimento jurídico, mas inadequadas para definir o direito, segundo as concretas necessidades do homem no meio social.
Não se infere daí que essa filosofia tenha desempenhado papel de somenos importância para os estudos modernos do direito. Se é suscetível de crítica pelo fato de haver situado o direito no âmbito das indagações teóricas, só virtualmente referido a realidades concretas, não se lhe pode negar o mérito de haver apontado novos rumos à Filosofia do Direito.
Eminentes juristas de nossos dias, como Kelsen, Garcia Maynez, Carlos Cossio, embora trazendo contribuições originais à colocação do problema do direito, não puderam subtrair-se à influência do pensamento daquela filosofia. Seu mérito maior, no entanto, foi haver rompido com a doutrina então dominante – o positivismo jurídico – restaurando, sob formas fecundas e originais, os temas clássicos da Filosofia do Direito.
3.9 CULTURALISMO JURÍDICO
Segundo o culturalismo jurídico, o Direito é uma criação do homem inserida na cultura (o Direito é um objeto cultural), portanto dotado de um significado, de valores, concebidos conforme cada tempo e lugar. Os significados, os valores mudam, assumem maior ou menor importância conforme cada sociedade, situada em um momento histórico específico. Por exemplo, as noções de justiça, do que é moralmente certo ou errado, mudam conforme o tempo de cada sociedade.
Existem quatro teorias principais no âmbito do culturalismo jurídico, inclusive a Teoria tridimensional do Direito de Miguel Reale. A mesma demonstra que o Direito é composto por três dimensões indissociáveis: a dimensão normativa, isto é, a lei, o ordenamento jurídico; a dimensão fática, isto é, o fato social, o Direito inscrito na realidade social e histórica, e por fim, a dimensão axiológica, que se refere aos valores, incluindo os ideais de justiça.
Do ponto de vista da norma, isto é, da lei, o Direito dispõe sobre os comportamentos individuais e coletivos, mas a norma não pode ser concebida insulada em si mesma, ou seja, isolada do momento histórico, social, cultural e econômico vividos pelo homem no momento da criação das leis – aspectos englobados pelo fato social. Por sua vez, normas e fatos sociais também são atrelados à dimensão valorativa posto que com a criação das leis, a sociedade visa alcançar o ideal de justiça e os fatos sociais são dotados de sentido valorativo pelo homem.
Miguel Reale quis assinalar que o Direito não é algo puramente abstrato, como concebeu Kelsen, ou seja, o Direito situado somente no campo das leis. O Direito é vivido no cotidiano de uma sociedade, que não é estática, muda ao longo da história. Essa sociedade vive problemáticas sociais e econômicas próprias de cada tempo e o Direito acompanha esse movimento. Por isso, a teoria tridimensional destaca que o Direito não é uma estrutura estática, ela é dinâmica, um vir a ser, acompanhando as transformações da sociedade.
Por conseguinte, podemos inferir que o Direito verdadeiro reside nos usos e costumes e na tradição de um povo. É a história desse povo, como resultado de suas aspirações e necessidades, que forma o Direito.
3.10 REALISMO JURÍDICO 
Contemporâneos de Kelsen foram os primeiros autores vinculados ao realismo jurídico, que radicalizou a opção sociológica mediante um rompimento da perspectiva teleológica que as concepções sociológicas anteriores. Os realistas jurídicos mais destacados foram Karl Llewellyn e Jerome Frank, tendo ambos escrito suas principais obras por volta do ano 1930, época de grande crise do estado liberal e de ceticismo acerca de suas instituições. Esse ceticismo mostrou-se especialmente no antinormativismo da corrente realista que, apesar de fixar-se no estudo da atividade judiciária, opunha-se frontalmente ao positivismo normativista da escola analítica.
Para os realistas, a idéia de que as normas jurídicas têm um sentido objetivo que pode ser percebido pelos juristas a partir de um estudo cuidadoso do sistema jurídico não passa de um dogma do idealismo normativista. Porém, apesar de falso, esse mito está fortemente enraizado no modo jurídico de ver o mundo e constitui uma espécie de mito básico do direito. Como essa crença na objetividade do direito é especialmente reforçada pelo discurso judiciário, que trata o direito como se fosse um sistema de normas e as decisões judiciais como deduções silogísticas, Llewellyn sustentava que “la teoría de que las normas deciden los asuntos parece haber engañado durante un siglo, no solo a los ratones de biblioteca, sino a los jueces”.
Inspirado pela psicanálise, Frank chegou a afirmar que o mito da certeza jurídica tinha como principal motivação satisfazer uma necessidade emocional de segurança que era profundamente enraizada no inconsciente das pessoas. Partindo da idéia de que a criança retira sua segurança da crença ilimitada na autoridade do pai, Frank afirmava que a descoberta da limitação paterna levava o adulto a, inconscientemente, tentar “encontrar en el Derecho un substituto de aquellos atributos de firmeza, certeza e infalibilidad que se confieren, en la infancia, al padre”. Portanto, a segurança jurídica seria uma ficção a que recorremos em virtude da permanência de um comportamento infantil e que somente poderia ser superada pelo desenvolvimento de uma verdadeira maturidade emocional.
Contrapondo-se a essa ficção, Frank sustentava que não era possível conhecer o direito relativo a uma situação senão a posteriori, pois até que um tribunal decidisse a questão, não se pode dizer que havia uma norma jurídica que regulasse esse problema[5]. Era preciso, pois, encarar a ausência de previsibilidade das decisões jurídicas e construir uma teoria jurídica não fundada em quaisquer idealismos. Portanto, era preciso admitir que as normas tinham um papel bastante menor do que lhe era atribuído pela teoria tradicional, sendo que, em muitos casos, o conhecimento das regras jurídicas serve muito pouco para prever as decisões de um juiz, pois as decisões judiciais são fortemente influenciadas pelas preferências e aborrecimentos pessoais dos juízes, bem como por seus preconceitos e estados de ânimo.
Rejeitada, assim, a função idealista da ciência jurídica, restava-lhe apenas concentrar-se no estudo do modo como as decisões eram efetivamente tomadas. Na medida em que o discurso tradicional partia do pressuposto de que o direito deveria ser algo que ele não era, ele conduzia os juristas a desenvolver visão idealista do direito. Contra essa perspectiva, o realismo jurídico inspirou-se em Holmes e Max Weber para propor uma visão descritiva do direito, que explicasse como o direito efetivamente era, em vez de desenvolver um ideal de como ele deveria ser. Com isso, sua questão principal já não era mais o que deveria fazer um juiz?, mas o que efetivamente fazem os juízes?. Opera-se, então, uma mudança de foco dos estudos jurídicos, que passa da análise das regras para uma análise do real comportamento dos juristas, especialmente dos juízes. Tratava-se, portanto, de uma perspectiva sociológica que visava exclusivamente a descrever o funcionamento efetivo da atividade judicial.
Percebe-se, então, que a teoria realista constitui um discurso externo e não um discurso interno, pois pretende analisar o direito da perspectiva de um observador que se limita a descrever o os fatos tal como ele os vê, identificando por via indutiva os padrões de comportamento típicos dos juízes. Nesse sentido, Llewellyn afirmou que, ao lado das teorias jurídicas (legal doctrines), seguem as técnicas jurídicas (crafts of law), sendo que não se pode estudar o direito semter em conta os ideais e tradições que subjazem a essas técnicas, pois isso significaria deixar de lado metade do efetivo modo de funcionamento do direito. É essencial aos juristas, portanto, conhecer o modo como pensam e atuam os juízes de primeiro grau, os tribunais do júri e os tribunais de segunda e terceira instâncias, bem como levar em conta as diferenças entre as técnicas de julgamento utilizadas em cada um desses órgãos.
Percebe-se, assim, o discurso realista não visa a explicar o que os juízes deveriam fazer, mas simplesmente a descrever o que eles efetivamente tendem a fazer, tratando-se, pois, de um discurso despido da carga prescritiva. Neste ponto, o realismo diferencia-se das teorias sociológicas anteriores, especialmente da sociological jurisprudence, pois, enquanto elas tinham como finalidade básica oferecer aos juízes um modelo dogmático que orientasse a aplicação do direito, o realismo limitava-se a oferecer uma descrição do modo como o poder judiciário efetivamente operava.
O resultado dessa opção é que, em vez de fundar um discurso dogmático, o realismo origina um discurso estratégico, substituindo a clássica busca da solução juridicamente correta pela tentativa de estabelecer estratégias adequadas para influenciar um determinado juiz no sentido de que ele venha a tomar a decisão desejada pelo jurista. Como bem notou o jurista Edgar Bodenheimer, a adoção dessa perspectiva significa que os realistas norte-americanos passaram a estudar os fenômenos jurídicos desde a perspectiva do advogado.
Esta é uma peculiaridade muito importante, dado que marca uma diferença em relação à maioria das outras teorias jurídicas que têm no juiz a sua figura principal. Enquanto as teorias jurídicas são normalmente centradas na figura do juiz e na pergunta “o que o juiz deve fazer para resolver adequadamente os casos a ele submetidos?”, o realismo concentra-se na figura do advogado e na tentativa de identificar as formas efetivas de atuação dos juízes, inclusive para capacitar os advogados a prever os resultados de um processo e a influenciar as decisões judiciais conforme seus interesses.
Ao partir da figura do advogado e não do juiz e ao adotar uma perspectiva meramente externa da atividade judicial (buscando unicamente descrevê-la, sem participar de seus pressupostos metafísicos), não faz sentido dentro do realismo jurídico a busca de uma resposta correta, dado ser impossível estabelecer critérios de correção. Nessa medida, por mais que possa oferecer uma descrição bastante minuciosa dos modos como se processa a atividade judicial, o realismo não pode (nem tem pretensões) a elaborar uma teoria hermenêutica dogmática, dado que o discurso dogmático é sempre um discurso interno (parte do dogma de que as normas têm algum sentido e que vinculam o juiz) e prescritivo (na medida em que oferece critérios para o agir e não apenas descrições de fatos).
4 conclusão
Buscou-se neste trabalho expor a influência das principais escolas jurídicas na interpretação e concepção do Direito. Tais escolas, buscaram entender o Direito de acordo com seus fundamentos e pressupostos particulares.
Cada escola buscou enxergar o Direito dentro de uma diretriz especifica, por exemplo: o Jusnaturalismo como um conjunto de normas imutáveis provenientes da vontade divina. Enquanto o Juspositivismo interpreta o Direito como o conjunto de normas emanadas do Estado. Enquanto que na escola histórica, a manifestação jurídica emana do povo.
Com isso, conclui-se o trabalho, onde foi apresentado de forma sucinta as principais escolas jurídicas e seus fundamentos e pressupostos, e principais idealizadores.
REferências bibliograficas
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução ao estudo do direito. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
DURKHEIM, Émile. O suicídio. Tradução: Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
GAMA, Ricardo Rodrigues. Curso de introdução ao direito. Curitiba: Juruá, 2005.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. 18ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 2000.
REALE, Miguel. Filosofia do direito. 18ª ed. São Paulo: Saraiva,1998.
REALE, Miguel. Lições preliminares do direito. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1986.
CENTRO DE ENSINO UNIFICADO DO MARANHÃO – CEUMA
ESCOLAS DO DIREITO
SÃO LUÍS 
- 2017 –
CENTRO DE ENSINO UNIFICADO DO MARANHÃO - CEUMA
LEONARDO BARBOSA SOARES CPD 82127
CURSO DE DIREITO 1º PERÍODO
ESCOLAS DO DIREITO
	Trabalho apresentado a disciplina Introdução ao Estudo do Direito – IED, Profª Ana Carla Almeida, como pré-requisito para complementação de nota do 1º bimestre do curso de Direito Noturno, turma 65132 
SÃO LUÍS 
- 2017 -

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