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Estrutura da Mate´ria II - Exerc´ıcio no 1 Bruno C. Credidio March 2014 1 Descrever a equac¸a˜o de Schro¨dinger a partir dos postulados de de Broglie e Einstein. Ja´ se conhecia o comportamento dual onda-part´ıcula da radiac¸a˜o, postulado por Einstein e resumido em sua equac¸a˜o E = hν (1) que retorna a energia de um fo´ton com frequeˆncia ν e verificado no efeito Compton, quando Louis de Broglie, em 1924, postulou que a mate´ria tambe´m comportava-se desta maneira. Escreveu, enta˜o, que λ = h p (2) associando um comprimento de onda λ a uma part´ıcula de momento p. Esta equac¸a˜o ficou conhecida como o comprimento de onda de de Broglie. Para corpos macrosco´picos usuais, este comprimento de onda e´, em geral, va´rias ordens de grandeza menor do que as dimenso˜es das part´ıculas subatoˆmicas. No entanto, este postulado foi constatado a partir de estudos com ele´trons de baixa energia (na˜o-relativ´ısticos), revelando que, por exemplo, um feixe de ele´trons sofre difrac¸a˜o e interfereˆncia. Para termos ideia das ordens de grandeza envolvidas, tomemos um ele´tron com energia 1 eV = 1,61×10−19 J: E = mv2 2 = mv · v 2 = (mv)2�v 2m�v = p2 2m = 1 eV (3) Seu momento e´, enta˜o p = √ 2m · 1 eV (4) que, substituindo em (2): λ = h√ 2m · 1 eV ≈ 12, 2 A˚ (5) A percepc¸a˜o de que os ele´trons comportam-se como ondas tambe´m tomou tempo pelo fato de as fendas a ser utilizadas para que estes efeitos fossem observados 1 devem ser da ordem de nanoˆmetros, algo que na˜o era trivial de se obter na e´poca. Perguntou-se, enta˜o, como seria a equac¸a˜o de onda que descreveria o movimento de um ele´tron (ou qualquer part´ıcula dotada de massa). Com o intuito de chegarmos a` equac¸a˜o de Schro¨dinger em uma dimensa˜o (para enta˜o ser generalizada para 3 dimenso˜es), inicialmente, utilizaremos os postulados de de Broglie-Einstein, equac¸o˜es (1) e (2). Tomemos tambe´m a energia de uma part´ıcula quando num potencial V , a partir de (3): E = p2 2m + V (6) Assumamos, adicionalmente, que a func¸a˜o deve ser linear em Ψ(x, t), ou seja, da- das duas soluc¸o˜es Ψ1(x, t) e Ψ2(x, t), enta˜o qualquer combinac¸a˜o linear das mes- mas, c1Ψ1(x, t) + c2Ψ2(x, t), c1, c2 ∈ R tambe´m e´ soluc¸a˜o. Isto e´ importante para que as func¸o˜es de onda possam ser somadas para formar padro˜es de inter- fereˆncia. Finalmente, teremos de considerar o caso simples no qual V (x, t) = V0. Quando isto ocorrer, a onda devera´ ser a mais simples poss´ıvel, descrevendo uma part´ıcula livre ja´ que, sem diferenc¸a de potencial entre quaisquer pontos do espac¸o, na˜o havera´ qualquer movimento favorecido para a part´ıcula (analo- gia para o caso cla´ssico, em que na˜o haveria forc¸a sobre a mesma), sendo seu momento e energia conservados (analisemos, primeiro, em uma dimensa˜o x): Ψ(x, t) = sin [ 2pi (x λ − νt )] (7) Lembremo-nos do nu´mero de onda k: k = 2pi λ (8) e da frequeˆncia angular ω: ω = 2piν (9) Tornando (7) em Ψ(x, t) = sin(kx− ωt) (10) De (2), temos que ~p = λ h (11) Substituindo (1) e (11) em (6), obtemos: h2 2mλ2 + V (x, t) = hν (12) Que, usando k de (8) e ω de (9), fica }2k2 2m + V (x, t) = }ω (13) Agora buquemos uma func¸a˜o Ψ(x, t) que, atrave´s de operac¸o˜es de diferen- ciac¸a˜o parcial1, nos retorne algumas das constantes de (13). Para facilitar o 1Buscamos uma func¸a˜o de onda, por isso desejamos que nela haja derivadas parciais para que se parec¸a com as equac¸o˜es diferenciais de onda ja´ conhecidas. 2 processo, vamos utilizar a func¸a˜o senoidal simples (10). Observemos os seguin- tes fatos: ∂2Ψ(x, t) ∂x2 = ∂2 ∂x2 [sin(kx− ωt)] = −k2 sin(kx− ωt) = −k2Ψ(x, t) (14) e ∂Ψ(x, t) ∂t = ∂ ∂t [sin(kx− ωt)] = −ω cos(kx− ωt) (15) A equac¸a˜o (14) nos ajuda bastante pois retorna uma das constantes desejadas e tambe´m a pro´pria func¸a˜o Ψ(x, t). Mas a (15) na˜o, porque ela retorna um cosseno ao inve´s de um seno (ou vice-versa caso a func¸a˜o inicial fosse um cosseno). No entanto, temos, aqui, uma dica de que a func¸a˜o de onda que desejamos pode ser escrita com a derivada parcial segunda no espac¸o de Ψ(x, t) e com a derivada temporal primeira de Ψ(x, t) e, tambe´m, observando (13), com a func¸a˜o potencial V (x, t). Por tentativa, escrevemos α ∂2Ψ(x, t) ∂x2 + V (x, t)Ψ(x, t) = β ∂Ψ(x, t) ∂t (16) Em que α e β devem ser determinados. Vamos aqui, novamente, considerar o caso do potencial constante, V (x, t) = V0 usando Ψ(x, t) de (10). Aplicando em (16): −αk2 sin(k|x| − ωt) + V0 sin(kx− ωt) = −βω cos(kx− ωt) (17) Observando esta equac¸a˜o, vemos que na˜o podemos fazeˆ-la concordar com (13). Se ao lado direito tive´ssemos uma func¸a˜o seno ao inve´s de cosseno, poder´ıamos cancelar todos os senos e enta˜o conseguir´ıamos atribuir valores a α e a β que concordem com (13). Para contornarmos este problema, vamos modificar um pouco a func¸a˜o inicial (10): Ψ(x, t) = γ sin(kx− ωt) + cos(kx− ωt) (18) Agora, teremos: ∂2Ψ(x, t) ∂x2 = −k2 [γ sin(kx− ωt) + cos(kx− ωt)] (19) e ∂Ψ(x, t) ∂t = −ω [γ cos(kx− ωt)− sin(kx− ωt)] (20) que, substituindo em (16), nos dara´: −αk2[γ sin(kx− ωt) + cos(kx− ωt)]+ +V0[γ sin(kx− ωt) + cos(kx− ωt)] = = −βω[γ cos(kx− ωt)− sin(kx− ωt)] (21) Que, reduzindo, [−αk2γ + γV0 − βω] sin(kx− ωt) + [−αk2 + V0 + γβω] cos(kx− ωt) = 0 (22) 3 Agora, para que esta equac¸a˜o seja verdadeira, basta que os coeficientes do seno e do cosseno sejam iguais a zero. Podemos escrever enta˜o −αk2 + V0 = βω γ (23) −αk2 + V0 = −γβω (24) Subtraindo (23) de (24): βω γ + γβω = 0 (25) βω(1 + γ2) = 0 (26) γ = ±i (27) Que, substituindo de volta em (24), nos da´ −αk2 + V0 = ∓iβω (28) Que podemos comparar com (13) e encontrar α: α = −}2 2m (29) e β: β = ±i} (30) A escolha do sinal de i na˜o e´ relevante. Portanto, colocando os resultados obtidos de α e β em (16), temos, finalmente, a equac¸a˜o de Schro¨dinger : − } 2 2m ∂2Ψ(x, t) ∂x2 + V (x, t)Ψ(x, t) = i} ∂Ψ(x, t) ∂t (31) ou, generalizando para todas as coordenadas, − } 2 2m ∇2Ψ(~r, t) + V (~r, t)Ψ(~r, t) = i}∂Ψ(~r, t) ∂t (32) Ainda podemos definir o operador E como E = i} ∂ ∂t (33) Assim, a equac¸a˜o de Erwin Schro¨dinger na forma resumida fica − } 2 2m ∇2Ψ + VΨ = EΨ (34) 4 2 Questa˜o 2 Um poc¸o de potencial quadrado infinito de largura a pode ser descrito como V (x) = ∞, x < a (regia˜o 1) ⇒ ψ10, −a/2 < x < a/2 (regia˜o 2) ⇒ ψ2∞, x > a (regia˜o 3) ⇒ ψ3 (35) Como os potenciais sa˜o infinitos, as regio˜es 1 e 3 sa˜o proibidas a` part´ıcula, portanto ψ1 = ψ3 = 0 e´ nula e chamaremos ψ2 simplesmente de psi. Na regia˜o 2 o potencial e´ nulo para qualquer tempo t (V (x, t) = 0), logo a equac¸a˜o de onda e´ um ψ(x) e a equac¸a˜o de Schro¨dinger para a part´ıcula nesta regia˜o e´, tambe´m, independente do tempo. Transformando (34) numa equac¸a˜o independente do tempo com V = 0, temos − } 2 2m d2ψ(x) dx2 = Eψ(x) (36) Propomos, aqui, uma soluc¸a˜o geral para (36): ψ(x) = A sin(kx) +B cos(kx) (37) Os termos no tempo podem ser desprezados pois na˜o ha´ dependeˆncia no tempo na situac¸a˜o trabalhada. Para mostrar que (37) e´ uma soluc¸a˜o geral de (36), fazemos d2ψ(x) dx2 = d2 dx2 [A sin(kx) +B cos(kx)] = (38) = d dx [Ak cos(kx)−Bk sin(kx)] = (39) = −[Ak2 sin(kx) +Bk2 cos(kx)] = (40) = −k2[A sin(kx) +B cos(kx)] = (41) d2ψ(x) dx2 = −k2ψ(x) (42) E aplicamos este resultado em (36): }2k2 2m � ��ψ(x) = E�� �ψ(x) (43) E = }2k2 2m (44) Esta equac¸a˜o da´ a energia E da part´ıcula num poc¸o de potencial infinito, onde k e´ o nu´mero de onda dado por (8). De (3), temos que E = p2 2m (45) Logo p = √ 2mE (46) 5 E a partir do postulado de De Broglie, (2), temos a relac¸a˜oentre λ e p. Utili- zando (46) nesta relac¸a˜o nos da´ λ = h√ 2mE (47) Que, aplicando em (8) resulta em k = 2pi √ 2mE h = √ 2mE } (48) Retornando a (44) com o resultado de k, teremos }2k2 2m = E (49) }22mE }22m = E (50) 0 = 0 (51) Provando, assim, que (37) e´ soluc¸a˜o de (36). Aplicando as condic¸o˜es de continuidade sobre x = −a/2 e x = a/2, onde ψ1 e ψ3, respectivamente, sa˜o nulos, vemos que ψ tem no´s nas paredes do potencial. Desta forma, temos as equac¸o˜es A sin( ka 2 ) +B cos( ka 2 ) = 0 (52) e A sin(−ka 2 ) +B cos(−ka 2 ) = 0 (53) Como sin(−x) = − sin(x) e cos(−x) = cos(x), obtemos −A sin(ka 2 ) +B cos( ka 2 ) = 0 (54) Somando (52) com (54), temos 2B cos( ka 2 ) = 0⇒ B cos(ka 2 ) = 0 (55) E, subtraindo (52) de (54), tmeos 2A sin( ka 2 ) = 0⇒ A sin(ka 2 ) = 0 (56) Na˜o ha´ valor para k que zere tanto o seno quanto o cosseno das equac¸o˜es acima, nem, tampouco, desejamos fazer A e B iguais a zero, pois assim ter´ıamos ψ(x) = 0 e simplesmente a part´ıcula na˜o existiria na regia˜o 2, quando sabemos que isto na˜o e´ verdade. Enta˜o, tomemos duas classes de soluc¸o˜es: A = 0 e cos( ka 2 ) = 0 (57) 6 ou B = 0 e sin( ka 2 ) = 0 (58) Para a primeira classe: ψ(x) = B cos(kx) = 0 em que cos( ka 2 ) = 0 (59) E para a segunda classe: ψ(x) = A sin(kx) = 0 em que sin( ka 2 ) = 0 (60) Os valores de k para a primeira classe devera˜o ser tais que ka �2 = npi �2 (61) kn = npi a , n = 1, 3, 5... (62) E para a segunda classe ka 2 = npi (63) kn = 2npi a (64) kn = npi a , n = 2, 4, 6... (65) Observemos que n = 0 resulta em ψ(x) = 0 e, portanto, esta soluc¸a˜o sera´ descartada. Utilizando (62) e (65) em conjunto, de modo que seja soluc¸a˜o para ambas as classes de soluc¸a˜o, temos kn = npi a n = 1, 2, 3, 4... (66) Aplicando o kn de (66) em (44), teremos a energia da part´ıcula para cada modo n da func¸a˜o de onda ψ(x): En = }2k2n 2m = pi2n2}2 2ma2 = n2h2 8ma2 , n = 1, 2, 3... (67) No problema tridimensional a ser resolvido aqui, vamos utilizar que n2 = n2x + n 2 y + n 2 z (68) Ja´ que cada direc¸a˜o da onda tem um modo independente. Para o estado mais fundamental, cada uma das componentes de n valera´ 1. Assim, teremos a equac¸a˜o da energia para uma part´ıcula de massa m (por exemplo, um ele´tron) confinada num poc¸o de potencial tridimensional de largura a em seu estado fundamental: E = 3h2 8ma2 (69) 7 E, substituindo o valor da constante de Planck, h = 6.63 × 10−34 m2kg/s, chegamos a E = 1.65× 10−67 ma2 (70) Agora, calculemos os itens propostos: (a) A energia de um ele´tron confinado num a´tomo de Carbono. O raio dado e´ de 0.182 nm, ou 1.82× 10−8 m. Este sera´ o valor substitu´ıdo em a da equac¸a˜o (70). A massa do ele´tron e´ 9.11 × 10−31 kg. Assim, substituindo estes valores em (70), teremos E = 1.65× 10−67 9.11× 10−31 · (1.82× 10−10)2 = 5.47× 10−69 10−31 · 10−20 = (71) E = 5.47× 10−18 J (72) A energia necessa´ria para a primeira ionizac¸a˜o do a´tomo de carbono e´ 11.3 eV = 1.81× 10−18 J. O resultado encontrado esta´ na mesma ordem de grandeza, podendo ser considerada bastante satisfato´ria. (b) A energia de um ele´tron confinado no cu´cleo do a´tomo de Carbono. Usando (71) como base, apenas modificando o valor de a, temo 8 Descrever a equação de Schrödinger a partir dos postulados de de Broglie e Einstein. Questão 2
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