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Estrutura da Mate´ria II - Exercı´cio no 2 Bruno C. Credidio Professora Maria do Rosa´rio Zucchi 2 de setembro de 2014 a) Para a Fı´sica Cla´ssica, quando uma partı´cula e´ arremessada em direc¸a˜o a uma barreira de potencial com V maior do que a energia E da partı´cula, a partı´cula tem probabilidade 1 de ser refletida, enquanto que quando a energia E e´ maior do que V , tem probabilidade 1 de que seja transmitida ate´ o outro lado da barreira. Para a Fı´sica Quaˆntica, no entanto, existe uma probabilidade, ainda que pequena, de a partı´cula ser transmitida no primeiro caso e refletida no segundo. Quando a partı´cula e´ transmitida atrave´s de uma barreira com potencial maior que sua energia, a este fenoˆmeno e´ dado o nome de tunelamento. Este e´ um to´pico importante para a Fı´sica Nuclear, pois explica o decaimento de a´tomos radioativos, ao emitirem partı´culas α - compostas de dois pro´tons e dois neˆutrons, como um nu´cleo do a´tomo de He. As partı´culas α emitidas na˜o teˆm energia maior do que o potencial gerado pelo nu´cleo de seu a´tomo, no entanto, sa˜o observadas. Portanto, na˜o existe explicac¸a˜o cla´ssica para este acontecimento, podendo apenas a Fı´sica Quaˆntica explicar o fenoˆmeno. b) Chamemos de ΨI, Ψ2 e Ψ3 as equac¸o˜es de onda correspondentes a treˆs regio˜es, I, II e III, respectivamente, onde a regia˜o I corresponde aos x anteriores a` barreira (x < a), II aos x interiores (0 < x < a) e III aos x ulteriores a esta (x > a). Como a energia E das partı´culas α, nesta situac¸a˜o, sa˜o menores do que o potencial V da barreira, na regia˜o I havera´ a incideˆncia de ondas e parte delas sera˜o refletidas de volta; em II, ocorrera´ a transmissa˜o das ondas oriundas de I e a reflexa˜o destas ondas no outro extremo da barreira; e em III, a onda apenas sera´ transmitida pois na˜o ha´ potencial nesta regia˜o que as fac¸a retornar. As soluc¸o˜es da equac¸a˜o de Schro¨dinger em I e III sa˜o exponenciais complexas e, em II, exponenciais simples: Ψ1(x) = Ae ikx + Be−ikx Ψ2(x) = Ceβx +De−βx Ψ3(x) = Feikx (1) Se substituirmos estas soluc¸o˜es de volta na equac¸a˜o de Schro¨dinger: − }2 2m d2Ψ(x) dx2 + V0Ψ(x) = EΨ(x) (2) Observando que V0 = 0 nas regio˜es I e III e V0 = V na regia˜o II, obteremos que: k = √ 2m(E− V0) } = √ 2mE } , e β = √ 2m(V − E) } (3) Em ambas as interfaces da barreira, x = 0 e x = a, Ψ(x) deve ser contı´nua, bem como dΨ(x) dx . Assim, para x = 0: Ψ1(0) = Ψ2(0) (4) Ae0 + Be0 = Ce0 +De0 (5) A+ B = C+D (6) e: dΨ1(0) dx = dΨ2(0) dx (7) ikAeikx − ikBe−ikx = βCeβx − βDe−βx (8) ik(A− B) = β(C−D) (9) 1 E, em x = a: Ψ2(a) = Ψ3(a) (10) Ceβa +De−βa = Feika (11) e: dΨ2(a) dx = dΨ3(a) dx (12) βCeβa − βDe−βa = ikFeika (13) β(Ceβa −De−βa) = ikFeika (14) Para que encontremos a probabilidade de tunelamento da partı´cula, precisaremos do coeficiente de trans- missa˜o T , que e´ uma relac¸a˜o entre as amplitudes das ondas incidentes e transmitidas: T = F∗F A∗A (15) Para isso, necessitaremos encontrar relac¸o˜es entre as constantes A, B, C, D e F. Afim de simplificar os ca´lculos, chamemos: γ = β k e Γ = Feika (16) Assim, temos: F = Γe−ika (17) (11) fica: Ceβa +De−βa = Γ (18) E (14): −iγ ( Ceβa −De−βa ) = Γ (19) De−βa − Ceβa = Γ iγ (20) Somando (18) e (20): 2De−βa = Γ(1+ iγ) iγ (21) D = Γ(1+ iγ) 2iγ eβa (22) Subtraindo (18) e (20): 2Ceβa = Γ(iγ− 1) iγ (23) C = − Γ(1− iγ) 2iγ e−βa (24) Substituindo C e D em (6): A+ B = Γ 2iγ [ (1+ iγ)eβa − (1− iγ)e−βa ] (25) = Γ [ eβa + iγeβa − e−βa + iγe−βa 2iγ ] (26) = Γ [ eβa − e−βa 2iγ +�� iγeβa +��iγe −βa 2��iγ ] (27) = Γ [ 1 iγ sinh(βa) + cosh(βa) ] (28) A+ B = Γ [ cosh(βa) − i γ sinh(βa) ] (29) 2 E, fazendo o mesmo em (9): A− B = β ik ( − Γ(1− iγ) 2iγ e−βa − Γ(1+ iγ) 2iγ eβa ) (30) = iγΓ ( e−βa − iγe−βa 2iγ + eβa + iγeβa 2iγ ) (31) = iγΓ ( − i γ eβa + e−βa 2 +��iγ eβa − e−βa 2��iγ ) (32) A− B = Γ [cosh(βa) + iγ sinh(βa)] (33) Somando (29) e (33) obtemos A: 2A = Γ [ 2 cosh(βa) + ( iγ− i γ ) sinh(βa) ] (34) A = Γ [ cosh(βa) + i 2 ( γ− 1 γ ) sinh(βa) ] (35) De posse de (17) e (35), podemos calcular T a partir de (15), nos dando a amplitude da onda transmitida na regia˜o III em relac¸a˜o a` amplitude da onda incidente na regia˜o I. Para isso, encontremos A∗A: A∗ = Γ [ cosh(βa) + i 2 ( γ− 1 γ ) sinh(βa) ]∗ (36) = Γ [ cosh(βa) − i 2 ( γ− 1 γ ) sinh(βa) ] (37) A∗A = Γ 2 [ cosh2(βa) + 1 4 ( γ− 1 γ )2 sinh2(βa) ] (38) Assim, T pode ser calculado: T = Γ 2 Γ 2 [ cosh2(βa) + 1 4 ( γ− 1 γ )2 sinh2(βa) ]−1 (39) Utilizando a identidade cosh2(x) − sinh2(x) = 1⇒ cosh2(x) = 1+ sinh2(x) (40) teremos: T = [ 1+ sinh2(x) + 1 4 ( γ− 1 γ )2 sinh2(βa) ]−1 (41) T = 1+ 1+ 1 4 ( γ− 1 γ )2 ︸ ︷︷ ︸ 1 4 (γ+ 1 γ ) 2 sinh2(βa) −1 (42) Retornando aos valores, a partir de (16) e (3): γ = β k = √ 2m(V − E) }√ 2mE } = √ ��2m(V − E) ��2mE (43) 3 Assim, T fica: T = 1+ 1 4 (√ V − E E + √ E V − E )2 sinh2(βa) −1 (44) = [ 1+ 1 4 ( V − E E + E V − E + 2 ) sinh2(βa) ]−1 (45) = [ 1+ 1 4 ( (V − E)2 + E2 + 2E(V − E) E(V − E) ) sinh2(βa) ]−1 (46) = [ 1+ 1 4 ( V2 +��E2 −��2VE+��E2 +��2VE−��2E2 E(V − E) ) sinh2(βa) ]−1 (47) = [ 1+ 1 4 ( V2 VE− E2 ) sinh2(βa) ]−1 (48) = [ 1+ 1 4 ( VE− E2 V2 )−1 sinh2(βa) ]−1 (49) = 1+ sinh2(βa) 4 ( VE−E2 V2 ) −1 (50) T = 1+ sinh2(βa) 4 ( E V − E 2 V2 ) −1 (51) T = [ 1+ sinh 2(βa) 4 E V ( 1− E V )]−1 , β = √2m(V − E) } (52) Como T e´ o coeficiente de transmissa˜o da onda, este nos da´ a amplitude da onda que tunela atrave´s do potencial em relac¸a˜o a` onda que incide sobre ele, ou seja, e´ a probabilidade P de tunelamento para a partı´cula incidente na barreira. Se considerarmos que βa e´ muito grande, podemos, na expressa˜o final de T , abrir novamente o sinh2(βa) em exponenciais (sem esquecermos de multiplicar o denominador de volta por 22) e dizer que e−βa → 0, sobrando apenas a exponencial positiva que, elevada ao quadrado, se torna e2βa. O termo somado em 1 se torna desprezı´vel e enta˜o inverte-se a frac¸a˜o e o expoente da exponencial se torna negativo, pois toda a expressa˜o esta´ elevada a -1, nos dando a probabilidade de a partı´cula atravessar a barreira: T = P ≈ 16 E V0 ( 1− E V0 ) e−2βa (53) Foi mostrado que, ainda assim, βa e´ muito grande e torna o coeficiente desta exponencial, tambe´m, insig- nificante. Ficamos enta˜o com: P ≈ e−2βa (54) P ≈ exp [ −2 √ 2m(V0 − E) }2 a ] (55) Agora, de posse da expressa˜o para a probabilidade de tunelamento, usemos os dados fornecidos para calcular seu valor nume´rico. A massa da partı´cula esta´ expressa em MeV/c2 e a constante de Planck, h, em J.s. Transformemos, enta˜o, h para seu valor em MeV/c2, ficando 4.136× 10−21 MeV, e } sendo 6.582× 10−22. 4 Assim, teremos: P ≈ exp [ −2 √ 2 · 4 · 931.5 · (26.4− 8.78) (6.582× 10−22)2 · 17.9× 10 −15 ] (56) ≈ exp (−2 · 3030.84× 102 · 2 · 17.9× 10−15) (57) P ≈ exp(−1.055× 1012) (58) Que e´ um valor extremamente pequeno. Agora o ca´lculo do tempo da meia vida t1/2: t1/2 = ln(2) 1.1× 1021 · exp(−1.055× 1012) (59) t1/2 = 0.630× 1021 exp(−1.055× 1012) (60) Que e´ extremamente grande e na˜o bate com as medidas experimentais.A expressa˜o para a probabilidade esta´ correta, pois foi verificada em diversos em casos e e´ uma boa aproximac¸a˜o. Nos resta apenas, enta˜o, considerar que a barreira desenhada na˜o condiz com a realidade; o que faz sentido, porque de maneira alguma a barreira de botencial gerada pelo nu´cleo do a´tomo seria retangular com um valor constante. Nos itens a seguir calcularemos de maneira mais condizente com a realidade. c) Utilizando, agora, a aproximac¸a˜o das cinco barreiras de potencial, calculemos o tempo de meia vida novamente. Utilizando o produto das probabilidades, que e´ de 2.47× 10−15, temos: t1/2 = ln(2) ×1021 · 2,47× 10−15 (61) t1/2 = 2.551× 10−5 s = 25.5 µ s (62) d) O valor encontrado no item anterior pode ser considerado pro´ximo do experimental, de 0.3 µs, dado que o me´todo utilizado e´ bastante aproximado. Para melhorar a aproximac¸a˜o, um bom procedimento seria dividir a barreira de potencial em tantas barreiras menores quanto possı´vel, fazendo com que o ca´lculo final se torne uma aproximac¸a˜o suave do potencial que o nu´cleo realmente gera, que e´ bem diferente de uma simples barreira retangular. Certamente por isso o primeiro ca´lculo resultou num valor ta˜o baixo para a probabilidade; nossa aproximac¸a˜o retangular para o potencial talvez pudesse ser feita de maneira mais realista se ao menos a altura do potencial fosse igual a` me´dia do potencial entre x = 0 e x = a, pois desenhar um potencial com a altura constante igual a` maior altura do potencial do nu´cleo e´ simplesmente um absurdo, ja´ que seu valor cai rapidamente com a distaˆncia da partı´cula ao nu´cleo, e na˜o se mante´m num valor alto por uma distaˆncia ta˜o longa. 5
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