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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA AS ATUAÇÕES DO PSICÓLOGO EM INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS JESSICA PEREIRA CARDOZO Itajaí (SC), 2009 JESSICA PEREIRA CARDOZO AS ATUAÇÕES DO PSICÓLOGO EM INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Msc. Kátia Simone Ploner Itajaí (SC), 2009 2 AGRADECIMENTOS Agradeço a energia superior cósmica que rege todo o universo, Deus. Se não fosse de Sua vontade, nada estaria se concretizando. Agradeço a meus pais Varinia e Wilney, pela oportunidade de cursar uma faculdade e por estarem começando a acreditar na minha escolha de vida, a Psicologia. Agradeço a todos os meus amigos, que sempre me acolheram, até nos meus momentos de estresse, ouviram minhas angústias, participaram de todas as etapas e me agüentaram filosofar e desabafar sobre as injustiças do mundo. Desculpem as ausências. Agradeço ao Reinaldo, o mais especial do mundo, amigo fiel e sempre presente. Interessado cada vez mais na psicologia e no tema desta pesquisa. Obrigada por disponibilizar o computador para que eu a terminasse. Agradeço a professora Maria Celina Ribeiro Lenzi e ao psicólogo Luciano Pedro Estevão por aceitarem gentilmente em participar da minha banca avaliadora. São pessoas que admiro e sei que compartilham do mesmo carinho pelo assunto. Agradeço a minha orientadora, Kátia Simone Ploner, por me ensinar de maneira tão apaixonante o que é o envelhecimento. Em todos os nossos momentos juntas, sempre me surpreendo com seu astral, sua história e sua postura profissional. Nossas semelhanças me fortalecem. Agradeço a disposição e atenção dos psicólogos que aceitaram participar desta pesquisa, me incentivando a continuá-la apesar das dificuldades. Agradeço a psicóloga Mônica Karloh, pela oportunidade de estágio. As tardes de sexta-feira trouxeram muitas inspirações para esta pesquisa. 3 SUMÁRIO RESUMO ----------------------------------------------------------------------------------------- 4 1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------ 5 2. EMBASAMENTO TEÓRICO ------------------------------------------------------------ 8 2.1 Envelhecimento ---------------------------------------------------------------------------- 8 2.2 Instituições de Longa Permanência para idosos --------------------------------- 11 2.3 Psicologia e Velhice ----------------------------------------------------------------------15 3. ASPECTOS METODOLÓGICOS ----------------------------------------------------- 18 4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ------------------------------------------- 23 5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS --------------------------------------------------- 27 5.1 Demanda e atividades ------------------------------------------------------------------ 27 5.2 Condições de trabalho ------------------------------------------------------------------ 39 5.3 Facilidades --------------------------------------------------------------------------------- 42 5.4 Dificuldades -------------------------------------------------------------------------------- 46 5.5 Benefícios ---------------------------------------------------------------------------------- 51 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------------------------------------ 55 7. REFERÊNCIAS ---------------------------------------------------------------------------- 59 8. APÊNDICES -------------------------------------------------------------------------------- 67 8.1 Apêndice A --------------------------------------------------------------------------------- 67 8.2 Apêndice B --------------------------------------------------------------------------------- 68 8.3 Apêndice C -------------------------------------------------------------------------------- 70 4 AS ATUAÇÕES DO PSICÓLOGO EM INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS Orientador: Kátia Ploner Defesa: 26 novembro de 2009 Resumo: O envelhecimento populacional é um fenômeno cada vez mais presente em nossa sociedade. O aumento no número de idosos no país implica também no aumento de serviços prestados a esta população e de equipamentos sociais aptos a atendê-los. Existem diversos lugares que recebem idosos, principalmente instituições de longa permanência para idosos (ILPI). Diante disto, esta pesquisa teve como objetivo geral: conhecer as atuações do psicólogo em instituições de longa permanência para idosos. E como objetivos específicos: analisar a demanda da atuação da psicologia nas ILPIs; identificar quais atividades os psicólogos executam nas ILPIs; comparar a relação entre as condições de trabalho com as demandas identificadas pelos psicólogos nas ILPIs; levantar as facilidades e dificuldades identificadas pelos psicólogos nas atuações em ILPIs; e investigar os benefícios que os psicólogos identificam quando atuam em ILPIs. Para isso, com base no método de pesquisa qualitativo, foram realizadas entrevistas semi- estruturadas com seis psicólogos da região do Vale do Itajaí que possuíam ou que já possuíram alguma relação de trabalho com ILPIs. Os resultados indicam que as principais demandas de trabalho nas ILPIs são os idosos, seus familiares e os funcionários e que a atuação do psicólogo deve ser pautada em ações como diagnóstico, interação entre os idosos, participação em equipe interdisciplinar, grupos de atendimento e informação aos familiares, idosos e funcionários, escuta individualizada com idosos e funcionários. Os benefícios foram relativos a melhora da comunicação e da integração entre idosos e equipe profissional, bem como atendimentos mais humanizados aos idosos. Palavras-chaves: idosos, instituições de longa permanência para idosos, psicólogos. Sub-área de concentração (CNPq): 7.07.05.00-3 – Psicologia Social Membros da banca: Msc. Luciano Pedro Estevão __________________________ Psicólogo Convidado Msc. Maria Celina Ribeiro Lenzi ____________________________ Professora Convidada Msc. Kátia Simone Ploner ______________________________ Professora Orientadora 5 1 INTRODUÇÃO Sabe-se que neste início do século XXI, o envelhecimento populacional é um fenômeno cada vez mais sentido no mundo. Não só o aumento da expectativa de vida, mas também a redução da taxa de fecundidade e o declínio na mortalidade da população contribuem para o rápido aumento de idosos no país e no mundo (FREITAS, 2004). O Brasil vem se destacando como um país em que a população idosa cresce de forma acelerada. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006) indicam que tem havido um crescimento maior no número de idosos em relação a outros segmentos etários. Entre 1980 e 2000, o número de pessoas acima de 60 anos teve um aumento de 101%, enquanto a população total cresceu aproximadamente 43%. Existe a projeção de que em 2025 o Brasil será o sexto país no ranking mundial com o maior número de idosos, atingindo 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos (OLIVEIRA; VAGETTI; WEINHEIMER; 2007). Estima-se que em 2020, 1 em cada 13 brasileiros terá 65 anos ou mais. O crescimento desta faixa etária, faz aumentar os serviços prestados a essa população e equipamentossociais aptos a atendê-los. Existem diversos lugares que recebem essas pessoas como escolas para a terceira idade, centros de convivência, centros de tratamento-dia (estes estabelecimentos atendem os idosos apenas durante o dia, continuando a família responsável pelos cuidados dos mesmos a noite e nos finais de semana), grupos para terceira idade e, principalmente, instituições de longa permanência [ILPI] (PAVARINI, 1996). Crescendo esta população no país, também cresce o número de idosos que residem em instituições de longa permanência para idosos (FREITAS et al, 2002). Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), para substituir termos como, asilos, abrigos, casas de repouso e similares, a nova terminologia a ser adotada deve ser “Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI)” (CREUTZBERG; GONÇALVES; SOBOTTKA, 2008). Portanto, no decorrer deste trabalho adotaremos esta terminologia. No entanto, Born (1996) denuncia que o Brasil não está preparado para lidar com os problemas decorrentes do envelhecimento, devido a falta de 6 programas focalizados para os idosos institucionalizados. Este fato acaba prejudicando a promoção em saúde para tal população e aumenta ainda mais a incidência de idosos em instituições asilares (CHAVES et al., 2009). Apesar de leis e medidas destinadas aos idosos, como a Política Nacional do Idoso de 1994, a Política Nacional da Saúde do Idoso de 1999 e do Estatuto do Idoso de 2003, a implantação de políticas públicas efetivas em relação ao idoso institucionalizado ainda é deficitária. Embora não existam dados oficiais atuais a respeito do número de ILPIs e o número de idosos institucionalizados no Brasil, Côrte e Ximenes (2007) estimam que existem aproximadamente 107 mil idosos vivendo em instituições. Assis e Pollo (2008) apontam que em 2005 a União financiou 1.146 instituições para 24.859 idosos. Essa situação ocorre devido as famílias não terem condições de cuidar de seus idosos em casa e/ou por não terem recursos financeiros para conseguirem outra forma de assistência. Diante das mudanças relacionadas ao aumento no número de idosos e dos institucionalizados, é importante que os mesmos se prepararem para um novo tipo de configuração social, e a sociedade em contrapartida, também deve se reestruturar e se reeducar para conviver com essa realidade. Dessa maneira, é importante o olhar da Psicologia sobre a velhice, mas como afirma Neri (2005) a Psicologia brasileira ainda possui poucos registros feitos de maneira sistemática e característica sobre a velhice e há pouca difusão de informações científicas e profissionais sobre o assunto. Araújo, Coutinho e Santos (2006) especificam que na Psicologia Social, em particular, a velhice é ainda um tema recente de estudo. Porém, nas últimas décadas as pesquisas sobre este grupo social vêm crescendo, demonstrando a importância da compreensão deste fenômeno por uma ótica biopsicossocial. Em relação ao trabalho dos psicólogos com idosos, Neri (2005) indica que estes profissionais estão encontrando um novo campo para a Psicologia em instituições asilares, casas de repouso particulares, instituições públicas, entre outros espaços destinados a esta população. O trabalho com idosos, especialmente institucionalizados, são temas do meu interesse desde os primeiros períodos da graduação em Psicologia e a disciplina no curso sobre envelhecimento firmou meu amor pelo assunto. A 7 partir de intensos contatos voluntários, curriculares e pessoais que tive com ILPIs surgiu a escolha do tema. Sempre me indaguei a respeito da real contribuição que um psicólogo pode oferecer a estes espaços que são tão pouco observados pela nossa sociedade, qual seu trabalho e que atividades pode realizar. É notório que as ILPIs sofrem de grande carência e fragilidade, sendo um contexto propício a uma intervenção psicológica, mas o que de fato pode ser realizado pelos psicólogos e como pode ser realizado? Dessa maneira, com esta pesquisa, pretende-se responder a pergunta: Quais as atuações do psicólogo nas instituições de longa permanência para idosos? Logo, esta pesquisa teve como objetivo geral, conhecer as atuações do psicólogo em instituições de longa permanência para idosos. Para atingi-lo foi elaborado os objetivos específicos, que são: analisar a demanda de atuação da Psicologia nas ILPIs; identificar quais atividades os psicólogos executam nas ILPIs e quais eles acreditam que poderiam ser realizadas; comparar a relação entre as condições de trabalho com as demandas identificadas pelos psicólogos nas ILPIs; levantar as facilidades e dificuldades reconhecidas pelos psicólogos nas atuações em ILPIs; e por fim, investigar os benefícios da atuação de psicólogos em ILPIs. Para isso, com base no método de pesquisa qualitativo, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com seis psicólogos que possuem ou já possuíram relação de trabalho com ILPIs. Demonstrando que o psicólogo pode atuar com os idosos, familiares e funcionários, por meio de diferentes atuações e estratégias, que serão descritas nesta pesquisa. Durante o levantamento bibliográfico foi encontrado pouco material científico a respeito da atuação do psicólogo em ILPIs, o que evidenciou a necessidade de maiores investimentos para pesquisas na área. Pois como já foi explicado, esta demanda vem crescendo e se demonstra bastante vulnerável e frágil. Novos estudos poderão proporcionar maior esclarecimento sobre o processo de envelhecimento, melhorando a compreensão e capacitação dos profissionais que trabalham nessa área, podendo então, oferecer melhores condições de atendimento a esta população. Demonstrando assim, a relevância social e científica da pesquisa. 8 2 EMBASAMENTO TEÓRICO Em geral, a literatura científica está focada nas possibilidades de intervenção com idosos de boa saúde e com condições financeiras favoráveis, visando promover um envelhecimento com qualidade. O mesmo não ocorre a respeito dos que não compartilham de tais características e vivem em ILPIs, mas ainda assim, serão apresentados a seguir as referências que subsidiaram este trabalho, focalizando os temas envelhecimento, ILPI, a relação entre a Psicologia e a velhice e a atuação dos psicólogos nas ILPIs. 2.1 Envelhecimento Por mais que a população esteja ficando longeva, viver mais não significa viver melhor, pois o aumento da expectativa de vida não implica no aumento da qualidade de vida da população. Segundo a ONU (2003, apud FREITAS, 2004) a descoberta dos antibióticos, a criação das unidades de terapia intensiva e das vacinas e o conceito da mudança de estilo de vida foram fatores que contribuíram para o aumento da longevidade. Os avanços da tecnologia e da Medicina também foram fatores determinantes para a mudança do perfil demográfico da população. A composição etária de uma população depende da relação entre o binômio fecundidade/mortalidade, ou seja, o aumento da expectativa de vida não é o único fator que determina o aumento no número de idosos. Para uma população se tornar envelhecida, não só o número de idosos deve aumentar, como também o número de jovens deve reduzir (FREITAS, 2004). Para Netto (2002) o processo de envelhecer começa a acontecer desde o momento de concepção da vida e só termina com a morte. Durante este processo é possível observarmos fases do desenvolvimento humano, que podem ser consideradas como marcadores biofisiológicos do envelhecimento, por exemplo, a puberdade e a velhice. O envelhecimento é um processo biológico, psicológico e social. Neste sentido, Hahne (2006, p. 107) escreve que o envelhecimento é um processo contínuo durante a vida e começa a ser percebido: 9 Funcionalmente,quando começa a depender de outros para o cumprimento de necessidades básicas, considerando as limitações físicas ou mentais que podem ocorrer na velhice; economicamente, ao deixar o mercado de trabalho através da aposentadoria; cronologicamente, depende do desenvolvimento socioeconômico de cada sociedade, de medidas de prevenção à saúde e de boas condições para viver. Magesky, Modesto e Torres (2009) explicam que o envelhecimento é um processo dinâmico, que acarreta em transformações biopsicossociais no indivíduo, sendo que este processo modifica a vida dos sujeitos de acordo com o meio social em que vivem. Novaes (1997, p. 52 apud MAGESKY; MODESTO; TORRES, 2009) explica que envelhecer: Implica fazer elaborações sociais partindo de novos dispositivos histórico-sociais na determinação de diferenças. Assim, a velhice não se constitui numa etapa “naturalizada” do curso de vida, mas em vivências permanentemente construídas de acordo com diferentes modos de subjetivação. Freire (2000) acrescenta que os sujeitos envelhecem de forma diferente, dependendo da organização de suas vidas, das circunstâncias históricas e sociais em que viveram, das doenças que tiveram e da interação entre fatores genéticos e ambientais. Martins (2007) ressalta que um dos fatores que influenciam na forma com que a pessoa encara seu envelhecimento são suas crenças e valores, expressos através das maneiras com que cada sujeito lida com os eventos estressores de sua vida. Como lembram Benedetti, Lopes e Mazo (2001) a Organização Mundial de Saúde considera nos países desenvolvidos, idoso aquele com idade cronológica igual ou superior a 65 anos, já nos países em desenvolvimento, como no Brasil, idoso é aquele com 60 anos ou mais. No entanto, Freitas (2004) explica que para nenhuma disciplina científica a idade cronológica é a causadora do envelhecimento. A cronologia funciona apenas como um ponto de referência e um elemento organizador da vida marcada por tempos. Paralelo a cronologia, coexistem fenômenos biopsicossociais que também devem ser considerados na idade e no desenvolvimento (ÁVILA; GERALDO; ROSA, 2005). 10 Para resumir, Neri (2001) explica que a idade é um conceito formado socialmente, e as fases da vida como a infância, a adolescência, a vida adulta e a velhice fazem parte dessa construção social, em que normas reguladoras determinam as oportunidades e requisitos que cada idade deve desempenhar. Em nossa sociedade, o significado de envelhecimento e velhice geralmente é atribuído a elementos negativos ao longo do tempo, o que é resultado de uma construção sócio-histórica que ocorre nas relações sociais e até nos interesses ideológicos e econômicos da sociedade (TEIXEIRA, 2006). Segundo Novaes (1997) a velhice deve ser compreendida através da pluralidade de influências sócio-culturais que o sujeito recebe. O que leva as representações sociais da velhice e dos idosos se diferenciarem em distintos contextos. Vale ressaltar que o complexo termo da representação social é aqui compreendido como, o conjunto de sentidos que circulam e se produzem entre os sujeitos e a sociedade, sobre os diferentes objetos do mundo (JOVCHELOVITCH, 2004). Embora a senescência faça parte do processo natural do envelhecimento, ela realmente acaba por comprometer alguns aspectos físicos e cognitivos das pessoas. Devido a isto, Neri (2005) explica que a velhice geralmente, é relacionada apenas com doenças, com o declínio irreversível e com a morte. O idoso ainda hoje é visto com preconceitos e sem perspectivas de desenvolver potencialidades ou habilidades. Estes estereótipos e preconceitos excluem um grupo do seu contexto, que é permeado por normas e valores socialmente aceitáveis, autorizando a desumanização com o outro, o que acaba servindo como justificativa para as violências e desprezos que lhes são lançados (JODELET, 2001). A distorcida representação social de que a velhice é apenas a última fase da vida e permeada por perdas, contribui para a segregação da população idosa em toda a sociedade. No entanto, os autores Oliveira, Vagetti, Weinhemer (2007) acreditam ser possível que as pessoas idosas preservem sim suas capacidades funcionais e seus papéis sociais. Py (2004) reargumenta a necessidade de desvincular o envelhecimento com a ideia de perda, pois este processo implica também em aquisições. 11 Algumas dessas aquisições são verificadas nas relações com o outro e no investimento nas pessoas queridas. A respeito da imagem do idoso, Sommerhalder e Nogueira (2000) enfatizam que ao idoso sobressai o preconceito de que são doentes, improdutivos para o trabalho e precisam ser ajudados em tudo. Os autores acreditam que pesquisas científicas equivocadas têm dado amparo a mídia e aos meios de comunicação para divulgar a imagem errônea de que a velhice é uma fase relacionada somente a perdas. No entanto, Brink (1983) explica que realmente os idosos apresentam maiores riscos de desenvolverem doenças mentais do que as outras pessoas, pois as principais desordens mentais e emocionais decorrem das crises biopsicossociais que os mesmos podem enfrentar nesta fase da vida. Estas crises se caracterizam por sensações de perda, sentimento de inferioridade e depressão. Como explica Scharfstein (2004), sabendo que a nossa sociedade é constituída para a desvalorização do velho, é importante compreendermos como o idoso interioriza sua realidade social e como ele introjeta esses valores socioculturais. A identidade social que os idosos constroem de si, é feita a partir de práticas discursivas situadas no contexto em que ele está inserido. Conhecendo estes movimentos, podemos pensar em formas de empoderá-los, ou seja, reconhecer, apoiar e encorajar suas habilidades e aptidões (SCHARFSTEIN, 2004). Sendo assim, é importante o trabalho dos profissionais de psicologia em instituições que recebem idosos, logo, as ILPIs serão contextualizadas. 2.2 Instituições de Longa Permanência para idosos (ILPI) Conforme Freitas e Mincato (2007), os asilos são a modalidade mais antiga e universal de atendimento ao idoso fora do convívio familiar. Como aponta Groisman (1999), a institucionalização de idosos surgiu ao longo do século XIX, para atender as demandas dos velhos pobres, sem-família e/ou os mentalmente enfermos, o que as classificavam de maneira assistencialista e de caridade. Segundo Pereira (2004, apud MAGESKY; MODESTO; TORRES; 2009, p. 218) o perfil do idoso institucionalizado se caracteriza por aspectos 12 como: a) o nível de sedentarismo, b) carência afetiva, c) perda da autonomia devido a incapacidades físicas e mentais, d) falta de familiares para ajudar no cuidado e, e) falta de suporte financeiro. Estes aspectos acabam refletindo na incidência de limitações e comorbidades, bem como na falta de independência e de autonomia dos idosos. Espitia e Martins (2006) explicam que existem diversos fatores culturais, sociais, psicológicos e biológicos para uma família optar pela institucionalização de seu idoso, como por exemplo, a pobreza, os conflitos intergeracionais, a saída dos membros da família para o mercado de trabalho e o aparecimento de determinadas patologias que podem gerar dependência. Muitas vezes já não há mais espaço para os idosos na casa dos filhos ou a renda da família não consegue suportar os gastos relativos à saúde do idoso e/ou o pagamento de um cuidador. A institucionalização do idoso em uma ILPI é também uma alternativa para situações de saúde, como: necessidade de reabilitação, estágios terminais de doenças, ausência temporária do cuidador e níveis de dependência muito elevados (CHAIMOWICK; GRECO 1999). Sendo aqui caracterizado como idoso dependente, aquele que não consegue proverde forma auestounoma suas próprias necessidades (FREITAS, 2004). Davim et al. (2004) observam que no Brasil, por mais que uma grande proporção dos idosos seja institucionalizada por motivos de dependência ou patologias físicas e mentais, as principais causas ainda são a miséria e o abandono. Em contrapartida, Creutzberg et al. (2008) lembram que nem sempre os idosos são abandonados por suas famílias. Como explica Assis e Pollo (2008) a modernização da sociedade acarreta em mudanças também na família brasileira. Os autores (DAVIM et al., 2004) advertem que as ILPIs devem ser respeitadas por representarem uma possibilidade de escolha e não devem ser lembradas apenas na hora de amparar os idosos que não podem ficar com seus familiares. Neto (1987, apud OLIVEIRA; VAGETTI; WEINHEIMER, 2007, p. 58) “explica que as instituições para idosos surgem como uma resposta natural da sociedade para atender essas pessoas desprovidas de recursos, ou as famílias 13 que não tem condição de assumir” os cuidados que a pessoa idosa necessita. Diante de todos estes dilemas e das transformações socioeconômicas a família acaba por ter que optar pela institucionalização. De um modo geral, o melhor lugar para uma pessoa viver é ao lado de sua família ao invés de instituições. Como explicam Freitas et al. (2006), a família é considerada a base e o habitat das pessoas. No entanto, devido as transformações culturais e socioeconômicas que a humanidade vem sofrendo, as famílias estão se constituindo de maneiras diferentes. Para Martin et al. (2007) é cada vez mais comum o predomínio das famílias nucleares, compostas por pai, mãe e filhos, e das famílias monoparentais. Estas mudanças no seio familiar acarretam em transformações nas práticas educativas da família, o que enfraquece o suporte oferecido aos idosos (MARTIN et al., 2007). Pois como apontam Freitas e Ribeiro (2006) a pessoa idosa exige do ambiente familiar cuidados referentes aos aspectos culturais, psicossociais, fisiológicos e psicológicos. Segundo Freitas et al. (2006) as alterações familiares distanciam os idosos de seus entes, sendo comum a perda total de contato com os mesmos. Estes fatos contribuem para um grande aumento de idosos em instituições. No entanto, Oliveira, Vagetti e Weinheimer (2007) enfatizam que a institucionalização do idoso deve ser o último recurso a ser utilizado pela família, somente após terem se esgotado todas as demais tentativas. É importante lembrar que muitos idosos vão para ILPIs por motivos físicos, mas lá acabam desenvolvendo problemas mentais. Pois segundo Brink (1983) a institucionalização é a solução psicologicamente menos desejável ao idoso. Quando não há outra alternativa, Fragoso (2008) indica que as ILPIs devem apenas complementar a ação da família, e não substituí-la . No entanto, Pavarini (1996) pontua que morar com a família não é garantia de uma velhice bem sucedida. Pois em casa, às vezes os cuidados necessários não são devidamente realizados. Segundo Assis e Pollo (2008) a casa pode ser um local com situações precárias e maus tratos, o que acaba por comprometer o bem-estar e a vida do idoso. Ramos (2002 apud Creutzberg et al. 2008) complementa que a relação dos idosos com amigos da ILPI pode ser maior do que com familiares, pois eles gostam de compartilhar as experiências de um mesmo cotidiano. E a instituição 14 é um espaço que pode favorecer a criação de novos vínculos significativos. Embora dificilmente seja identificada esta situação nas ILPIs. Concordando com o que Guidetti e Pereira (2008) escrevem, a institucionalização constitui para o idoso um espaço privado de seus projetos, pois ele se afasta de sua família, casa, amigos e das relações nas quais sua história de vida foi construída. Além disso, a institucionalização em geral, se caracteriza por perda da liberdade, abandono pelos filhos, aproximação da morte e ansiedade devido aos tratamentos de saúde realizados pelos funcionários da instituição (BORN, 1996). Davim et al. (2004) apontam fatores negativos na institucionalização do idoso, como o isolamento social e a inatividade física e mental. Os autores reforçam que geralmente as ILPIs são locais inapropriados e inadequados às necessidades do idoso, visto que não oferecem assistência social, cuidados básicos de higiene e alimentação adequados. A fim de regularizar e fiscalizar o serviço de ILPIs, a portaria 810/89 do Ministério da Saúde (BRASIL, 1989) prevê as normas e os padrões para o funcionamento de casas de repouso, clínicas geriátricas e outras instituições destinadas ao atendimento de idosos, o documento as define como: Instituições específicas para idosos os estabelecimentos, com denominações diversas, correspondentes aos locais físicos equipados para atender pessoas com 60 ou mais anos de idade, sob regime de internato ou não, mediante pagamento ou não, durante um período indeterminado e que dispõem de um quadro de funcionários para atender às necessidades de cuidados com a saúde, alimentação, higiene, repouso e lazer dos usuários e desenvolver outras atividades características da vida institucional. Segundo o Regulamento Técnico que define as normas de funcionamento para as ILPIs da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA apud IPARDES), RDC n°283, de 26 de setembro de 2005, es tas instituições devem prestar atendimento integral institucional ao seu público- alvo, pessoas de 60 anos ou mais, dependentes ou independentes, que não dispõem de condições para permanecer com a família ou em seu domicilio. Devendo proporcionar serviços nas áreas social, médica, psicológica, de enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, odontologia, entre outras. No entanto, em relação às ILPIs, os autores Davim et al. (2004) analisam que são poucas as ILPIs que contam com uma equipe 15 multiprofissional especializada para assistir adequadamente os idosos e que visem um trabalho que possibilite mantê-los independentes e auestounomos. As instituições funcionam como “reformatórios ou internatos, com regras de entradas e saídas, poucas possibilidades de vida social, afetiva e sexual ativa” (SILVA, 1997 apud DAVIM et al., 2004, p. 520). Funcionando até como “depósitos de pessoas”, mas fundamentados na ideia de amor e acolhimento, as instituições acreditam ser suficiente disponibilizar um lugar para os idosos morarem e receberem cuidados físicos. Muitos idosos se encontram em situação de exclusão, marginalização e sem reconhecimento da sociedade. A população idosa vive em condições degradantes e humilhantes, “contradizendo os princípios e objetivos de uma sociedade democrática e defensora da dignidade humana”. (ANDRADE, 2003 apud OLIVEIRA; VAGETTI; WEINHEIMER; 2007, p. 57) Tendo em vista a fragilidade acima apontada, evidencia-se a importância do profissional de Psicologia com foco no envelhecimento, atuar em ILPIs. 2.3 Psicologia e velhice Devido ao foco das pesquisas até 1940 serem na Psicologia da infância e da adolescência e por a ciência que estuda o envelhecimento (Gerontologia) começar a expandir somente no fim da década de 1950, Araújo e Carvalho (2005) analisam que os estudos da Psicologia sobre a velhice são relativamente recentes. Freitas et al. (2002) estudaram o percentual de artigos científicos na área de Gerontologia e Geriatria, em diversas abordagens, entre o período de 1980 a 2000. Verificou-se que houve um aumento de 9,8 % nos estudos da abordagem psicológica. Os autores atribuem este aumento as alterações emocionais decorrentes do envelhecimento, não serem mais vistas como conseqüência da idade, aumentado o interesse em pesquisas que busquem afastar o estereótipo de que velhice e alterações psicológicas não estão associadas. Nestesentido, Neri (2005, p. 17) explica que: A psicologia do envelhecimento focaliza as mudanças nos desempenhos cognitivos, afetivos e sociais, bem como as alterações em motivações, interesses, atitudes e valores que são característicos 16 dos anos mais avançados da vida adulta e dos anos da velhice. Enfoca as diferenças intra-individuais e interindividuais que caracterizam e que afetam o funcionamento psicológico dos indivíduos mais velhos. Neri (2005) indica algumas possibilidades de trabalho para os psicólogos do envelhecimento em diferentes contextos, tais como orientações e acompanhamento a sujeitos e a instituições; na geração de programas de promoção de qualidade de vida e de mudanças de atitudes; em trabalhos de reabilitação cognitiva e apoio psicológico aos idosos; ações informativas; e na prestação de serviços psicológicos a instituições prestadoras de serviços sociais. A mesma autora (NERI, 2005) pontua as principais atuações dos psicólogos especializados em serviços a idosos: avaliação psicológica; intervenção psicológica; informação; psicoterapias individuais e grupais; tratamento de déficits e de distúrbios cognitivos e psicomotores; reabilitação cognitiva dos idosos; orientação e aconselhamento a familiares de idosos; assessoria a instituições públicas e privadas que amparam e cuidam de idosos e suas famílias; assessoria, planejamento, e execução de programas de promoção em saúde na comunidade e em promoção social para idosos; apoio psicológico a profissionais que cuidam de idosos; e participação em equipes multiprofissionais. Com relação às ILPIs, Neri (2005) indica que a Psicologia pode contribuir para o bem-estar dos idosos, oferecendo treinamentos para aprimorar habilidades profissionais e apoio psicológico a profissionais que trabalham com idosos, assessoria no planejamento e na avaliação de serviços. O profissional ainda pode organizar o espaço físico que o idoso freqüenta e reside, como ILPIs e outros ambientes. Cabe ao psicólogo também explicar as possibilidades e alternativas sobre a institucionalização ou não de uma pessoa idosa. Ainda assim, quando um paciente é institucionalizado, o terapeuta ainda tem responsabilidades sobre ele e não exclui a necessidade de intervenção psicoterapêutica. Segundo Brink (1983), o meio psicoterapêutico pode promover ao idoso a possibilidade de cuidar de si próprio e dos outros, estimulando sua autonomia. Magesky, Modesto e Torres (2009) compreendem que é trabalho da Psicologia estimular, improvisar, problematizar, refletir e questionar sobre os 17 aspectos relacionados aos idosos institucionalizados. Além disso deve auxiliar em reflexões coletivas, para que estes possam assumir novos papéis diante da cruel realidade da velhice. E promover a produção e reconfiguração de subjetividades que estimulem uma postura crítica diante das situações cotidianas. Neste sentido, é que se destaca a importância de pesquisar o que os psicólogos podem realizar nas ILPIs. 18 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS Esta monografia é uma pesquisa exploratória com base no método qualitativo. Segundo Martins e Bicudo (2005) a pesquisa qualitativa busca uma compreensão particular de fenômenos, ou seja, de entidades que se manifestam em uma determinada situação. Este tipo de pesquisa procura introduzir um rigor, diferente da precisão numérica, para fenômenos que apresentam dimensões pessoais, e que não são possíveis de serem estudados quantitativamente. O que possibilita apresentar resultados mais significativos tanto para os sujeitos envolvidos, como para o contexto ao qual a pesquisa está inserida (MARTINS; BICUDO, 2005). Na pesquisa qualitativa os dados são coletados pela comunicação entre sujeitos, e tratados através da interpretação dos mesmos. Sendo a interpretação, uma forma de ponderar os sentidos e significados expressos nas palavras e sentenças obtidas na comunicação dos participantes da pesquisa (BICUDO; MARTINS, 2005). 3.1 Participantes da pesquisa Esta pesquisa foi realizada com seis psicólogos que atuam ou já atuaram em ILPIs. Sendo três psicólogos que estavam atuando no momento da realização da pesquisa em ILPIs da região, mediante contratação (Itajaí e Balneário Camboriú). E três psicólogos que durante a formação em Psicologia, realizaram o estágio do programa da área clínica do curso, em uma ILPI que mantinha convênio com a UNIVALI. A busca por estagiários ocorreu devido a dificuldade em encontrar psicólogos nas ILPIs. Em uma pesquisa realizada para caracterizar todas as ILPIs do estado do Paraná, o Instituto paranaense de desenvolvimento econômico e social (IPARDES, 2008) constatou que de 405 profissionais entrevistados em todo o estado, apenas 4 eram psicólogos. O que demonstra o baixo número destes profissionais trabalhando em ILPIs em outras regiões também. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, na qual o critério numérico não garante a representatividade dos resultados, os sujeitos que possuem uma relação significativa com o problema a ser investigado já correspondem a população ideal, pois possibilitam envolver a totalidade do problema de 19 pesquisa investigado em suas variadas extensões (MINAYO, 2000). O número de entrevistados também se limitou por se tratar de um trabalho de conclusão de curso, no qual o tempo é restrito. Ressalta-se que a fim de manter o anonimato dos participantes da pesquisa, os entrevistados serão identificados por nomes de anjos. Dessa forma, para uma melhor visualização, encontra-se a seguir um quadro que caracteriza os dados de cada participante. As identificações estão organizadas segundo a seqüência da realização das entrevistas, os dados expostos são: idade, sexo, tempo de formado, tempo que atua/atuou em ILPI e cargo (se atuou como profissional ou estagiário). No texto, para melhor leitura e compreensão, os psicólogos contratados por ILPIs serão identificados com ‘P’ e os profissionais que atuaram como estagiários nas ILPIs com ‘E’, entre parênteses. Quadro 1: Caracterização dos participantes segundo entrevistas realizadas de agosto a setembro de 2009/ Vale do Itajaí (SC). Anjo Ariel Rafael Caliel Damabiah Elimiah Vasahiah Idade 29 anos 25 anos 38 anos 29 anos 51 anos 26 anos Sexo Feminino Masculino Feminino Feminino Feminino Feminino Tempo de formado 7 anos 2 anos 16 anos 3 anos 3 anos 4 anos Tempo que atuou em ILPI 3 anos 6 meses 7 meses 3 anos 1 ano 6 meses Cargo Profissional Estagiário Profissional Profissional Estagiário Estagiário 3.2 Instrumentos 20 A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista semi- estruturada (APÊNDICE C), a qual foi formulada com base no referencial teórico encontrado e nos objetivos estabelecidos da pesquisa. De acordo com Gil (1999, p. 117), estas são adequadas para coletar o que “as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem, desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes”. Zanelli (2002, p. 84) contribui explicando que as entrevistas semi- estruturadas “proporcionam abertura para que o entrevistado possa discorrer, nos limites de interesse da pesquisa, do modo como lhe parecer melhor”. 3.3 Coleta dos dados Em um primeiro momento, por existir poucos profissionais nesta área e para garantir a realização da pesquisa, foi procurado psicólogos que estavam atuando em ILPIs. A partir de contatos telefônicos com as ILPIs da região (Balneário Camboriú,Itajaí, Blumenau, Brusque, Joinville e Camboriú) foram encontrados apenas três psicólogos em exercício profissional. Para compor a pesquisa, outros profissionais com o perfil desejado, ou seja, que atuem ou que já tenham atuado em ILPIs, foram procurados. Indicados pela professora Kátia Ploner, três profissionais que foram estagiários por um período de 6 meses a um ano, em torno dos anos de 2003 a 2006, de seu programa da área de clínica em uma ILPI foram também convidados a participar da pesquisa. Os estágios aconteciam em duas horas semanais. E foi realizado em uma ILPI da região que tinha convênio com a universidade. Para garantir a futura participação destes sujeitos na pesquisa, os profissionais assinaram o Termo de Anuência (APÊNDICE A). Este termo indicava a confirmação do psicólogo em colaborar com a pesquisa. No segundo momento, após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí, sob número 221/09, em 26/06/09, começou-se a coleta de dados. Antes de cada entrevista foi apresentado e explicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B) para os participantes e posteriormente assinado. Este termo, além de explicar sobre os dados dos pesquisadores e dos objetivos, esclarece os métodos, procedimentos e os 21 aspectos éticos na participação da pesquisa. Também garante o acesso livre ao material coletado referente a pesquisa realizada, assim como aos resultados obtidos e indica que a devolutiva da pesquisa concluída poderá ser feita através da participação da apresentação pública do trabalho ou se preferirem, uma cópia eletrônica da mesma. As entrevistas semi-estruturadas (APÊNDICE C) foram realizadas em horário e local escolhidos por cada participante, de acordo com suas preferências. No entanto, todos os locais preencheram os critérios de sigilo e privacidade, sendo livres de interferências. As entrevistas respeitaram os valores sociais, morais, culturais, religiosos e éticos dos entrevistados. Quanto as transcrições das entrevistas, foram realizadas da forma mais fidedigna possível, garantindo a confiabilidade das respostas e da pesquisa. Os registros dos dados coletados na entrevista foram feitos por um gravador portátil e posteriormente transcritos e analisados. 3.4 Análise dos dados Para analisar os dados coletados nesta pesquisa, adotou-se o método da Análise de Conteúdo. Moraes (1999, p. 9) explica que este método de pesquisa é utilizado para descrever e interpretar conteúdos de documentos e “ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum”. Ela consiste em cinco etapas: a primeira etapa é a preparação das informações, onde as entrevistas foram transcritas; a segunda etapa é a unitarização do conteúdo em unidades, na qual as entrevistas foram impressas e durante a leitura foram sendo criadas as unidades temáticas, a partir das palavras e frases que constituíram os textos, segmentando então os dados em unidades de análise; na terceira etapa foi realizada a categorização das unidades, com a finalidade de classificar as unidades em categorias para extrair a significação de cada elemento segmentado, cada conteúdo foi recortado e colado em folhas de cartolina de acordo com o entrevistado e o tipo de categoria estabelecida, possibilitando uma melhor visualização e comparação das mesmas. Para a elaboração das categorias os critérios estabelecidos por Moraes (1999) foram obedecidos, que são: as categorias foram válidas, exaustivas e 22 homogêneas; e as classificações dos conteúdos foram mutuamente exclusivas e consistentes. Sendo assim, nesta etapa, foram definidas as seguintes categorias: • Demanda e atividades • Condições de trabalho • Facilidades • Dificuldades • Benefícios Por fim, foram realizadas as etapas de descrição e interpretação de cada categoria, a fim de obter uma compreensão das entrevistas (MORAES, 1999), que serão analisadas e discutidas no próximo capítulo. 23 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Este capítulo apresentará os resultados encontrados a partir das entrevistas realizadas, sendo dividido em cinco grandes categorias, criadas conforme descrito anteriormente, a saber: demanda e atividades, condições de trabalho, facilidades, dificuldades e benefícios da atuação do psicólogo nas ILPIs. Para melhor visualização e compreensão das categorias, a seguir serão apresentados os quadros referentes aos resultados encontrados em cada uma das categorias. 4.1 Categoria: Demanda e atividades Na categoria demanda foram encontradas 24 atividades que o psicólogo pode desenvolver em uma ILPI, envolvendo três grupos principais: os idosos, a família e os funcionários. Demanda e atividades I D O S O S Aplicação de testes (MEEM) idosos Brincadeiras em grupo com idosos Atendimento individualizado aos idosos Escuta individualizada Grupos com idosos Grupos de oração Ler e elaborar mensagens Realizar atividades cognitivas Disponibilizar atividades físicas, visando inserção na comunidade Realizar passeios Tirar e expor fotos dos idosos nas ILPIs 24 F A M Í L I A Atender os familiares Grupos para familiares Acompanhar as visitas dos familiares Trazer os familiares que estão distantes para as ILPIs Realizar festas e eventos para integrar familiares e idosos F U N C I O N Á R I O S Trabalhar com os funcionários incentivando a interdisciplinaridade Sensibilizar a diretoria da ILPI Dar suporte emocional aos funcionários Sensibilizar os funcionários para o cuidado humanizado Sensibilizar os funcionários para que trabalhem incentivando a autonomia dos idosos Realizar trabalhos envolvendo a Psicologia Organizacional Verificar o ambiente físico da ILPI 4.2 Categoria: Condições de trabalho Na categoria Condições de trabalho foram encontradas 5 variáveis que influenciam a realização do trabalho do psicólogo em relação as demandas das ILPIs. Condições de trabalho Desempenho de atividades que extrapolam suas competências Tempo restrito Espaço restrito Baixa remuneração Resistências em relação ao trabalho do psicólogo 25 4.3 Categoria: Facilidades Através das entrevistas, foram encontradas 9 facilidades existentes na atuação do psicólogo nas ILPIs. Facilidades Programa Idoso em foco Olhar integral do ser humano que a Psicologia oferece Psicologia e cuidado com a saúde Apoio da coordenação da ILPI Liberdade para realização do trabalho da Psicologia Identificação com o contexto da ILPI Experiência de vida Aceitação dos idosos Aceitação dos familiares 4.4 Categoria: Dificuldades Nesta categoria foram ressaltadas também 9 dificuldades para a realização do trabalho do psicólogo nas ILPIs. Dificuldades Falta de clareza da real atuação do psicólogo nas ILPIs Encontrar psicólogos que trabalhem em ILPIs Falta de vínculo entre os idosos Falta de integração entre os idosos Carga emocional de cuidar de idosos institucionalizados Funcionamento das ILPIs como instituições totais Semelhança em trabalhar com crianças 26 Rotina institucional das ILPIs Acompanhamento da piora de pacientes 4.5 Categoria: Benefícios Foram apontados 17 benefícios em relação a atuação do psicólogo em ILPIs, no entanto, foi destacado maiores benéficos para os idosos. Benefícios Idosos ficaram mais afetivos Idosos ficavam mais felizesIdosos falavam melhor Idosos que não falavam, começam a falar Idosos começaram a se relacionar melhor Idosos começam a se inserir nos grupos Idosos sentiam-se melhores Idosos comiam melhor Idosos dormiam melhor Idosos diminuíam a quantidade de remédios Idosos recebiam atenção Idosos recebiam carinho Idosos sentem saudades dos psicólogos nos finais de semana Idosos sentem falta dos psicólogos Melhorou a integração dos grupos de idosos Funcionários trabalhavam melhor quando os idosos estavam melhores Famílias se mantinham informadas sobre seu idoso 27 5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A seguir, os dados das categorias levantadas serão discutidos e analisados de acordo com o material bibliográfico encontrado sobre à atuação do psicólogo e as ILPIs. A primeira categoria a ser apresentada é referente à demanda de atuação da Psicologia encontrada em ILPIs pelos psicólogos entrevistados. 5.1 Demanda e atividades Esta primeira categoria, teve como objetivo analisar quais demandas de atuação da Psicologia os entrevistados identificam nas ILPIs, diante disso, acredita-se que as atividades realizadas e as atividades que poderiam ser realizadas também englobam esta categoria. Acredita-se que as atividades realizadas pelos psicólogos nas ILPIs sejam em decorrência do levantamento das demandas pelos mesmos e as atividades que eles recomendam ser realizadas, também são demandas, pois indicam “pendências” a serem alcançadas. Maggi e Vanni (2005) apontam ser necessário primeiro realizar uma análise das demandas pelo serviço (que podem ser tanto explícitas, como implícitas) para que se possa conhecer as possibilidades de intervenção no local em que se pretende atuar. Investigar a demanda permite caracterizar a população atendida e refletir sobre os serviços que são oferecidos. Sendo assim, a demanda perpassa pelo público atendido, pois modificando o público, a demanda também será diferente. Neste sentido ressalta-se as características levantadas pelos psicólogos sobre os idosos que residem nas ILPIs, suas limitações, patologias e dependências. O Instituto paranaense de desenvolvimento econômico e social (IPARDES, 2008, p. 76) identificou que “os maiores problemas enfrentados pelos idosos (institucionalizados) são de ordem emocional: solidão, depressão, apatia, estresse, saudade e carência, ou como muitos resumiram, vulnerabilidade emocional”. Como Elemiah (E) pode confirmar: “Eles tem uma carência afetiva muito grande”. Sobre o gênero da população que reside em ILPIs, Caliel (P) e Damabiah (P) apontaram que a maioria deles são mulheres. Damabiah (P): “A 28 maioria das idosas aqui são mulheres, nós temos dois homens só, a maioria é mulher”. De fato, como indica Junges, Meneghel e Pavan (2008), no Brasil, a maior parte dos idosos institucionalizados é do sexo feminino. A respeito da caracterização da população que reside em ILPIs, Busse e Blazer (1999) explicam que as pessoas institucionalizadas tendem a ser muito incapacitadas, com diversas limitações e apresentam diferentes transtornos psiquiátricos. Sendo comum a prevalência de pessoas com depressão, delirium, agitação, sintomas de apatia, inatividade, isolamento e demência. Torna-se fundamental conhecer as especificidades de cada idoso institucionalizado. Para tal, é necessário avaliar quais doenças, limitações, comprometimentos que cada um apresenta. Um dos instrumentos utilizados para esta avaliação é o Mini Exame do Estado Mental, indicado por Rafael (E) e Elemiah (E) como uma das atividades realizadas durante o estágio. Rafael (E): “Eu lembro que faziam testes (MEEM) também, até pra ver o nível de demência, porque alguns eram comprometidos em termos de demência, outros nem tanto”. Este exame é um instrumento utilizado com idosos para avaliar as funções cognitivas e rastrear quadros demenciais. Ele é composto por 11 questões, que testam aspectos do funcionamento cognitivo, como: linguagem, orientação (espacial e temporal), memória, cálculo, atenção e processamento (CHAVES et al., 2009). Outros instrumentos também são utilizados para avaliação dos idosos, como a escala de depressão geriátrica e das atividades de vida diária. Estes são úteis, pois fornecem parâmetros quantitativos para o acompanhamento dos idosos (LENARDT, MICHEL, TALLMAN, 2009). Constatou-se que todos os entrevistados registraram as especificidades desta população. Conforme Vasahiah (E) descreve: “Muitos eram cadeirantes, muitos deles tinham demências, Alzheimer, esquizofrenia, eram bipolar, síndrome de Down”. Damabiah (P) caracteriza: “A maioria daqui tem Alzheimer, tem Parkinson, temos duas que são bipolar, todos tem alguma restriçãozinha”. As demências merecem ser destacadas, pois são uma síndrome clínica, na qual ocorre um decréscimo adquirido da função cognitiva, ela se 29 manifesta pela perda de memória e de outras funções superiores (como a linguagem, o julgamento, entre outras), a pessoa com demência perde também a capacidade de se adaptar a novas condições. Estas podem ser classificadas por demências irreversíveis e demências potencialmente reversíveis. As mais conhecidas são: a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson, esclerose múltipla, demência por causas mistas e a demência por múltiplos infartos (LUDERS; STORANI, 1996). Os transtornos demenciais podem englobar comportamentos de alucinações, delírios e depressão (BUSSE; BLAZER, 1999). Todos os entrevistados indicaram a prevalência da doença de Alzheimer entre os idosos. Sendo importante explicá-la aqui, pois esta demência caracteriza-se por um declínio lento e progressivo da memória e de outras funções corticais como linguagem, conceito, julgamento, habilidades visuo-espaciais, bem como prejuízo das funções sociais (LUDERS; STORANI, 1996). Atingindo cerca de 30,6% de pessoas acima de 85 anos (STELLA, 2004). A doença de Alzheimer se divide entre as fases inicial, moderada e avançada. Ela começa se manifestando pelo comprometimento da memória recente, evoluindo para distúrbios da memória semântica e na dificuldade de nomear e elaborar a linguagem (STELLA, 2004). A doença de Alzheimer tende a comprometer as atividades da vida diária, o que caracteriza os idosos com essa doença de uma maneira diferente, precisando de mais cuidados. Uma das doenças citadas é o Parkinson, ela é uma enfermidade neurológica que apresenta sintomas de rigidez e tremor em membros do corpo (MOTTA, 1999). Conhecendo as necessidades especiais de cada sujeito, torna-se possível planejar e adaptar as atividades para que todos possam participar positivamente. Damabiah (P) comenta a importância de atentar para estas especificidades: “No grupo as brincadeiras são mais simples de forma que todas possam participar e terminar (...) pra que todas possam se sentir importantes ali no grupo, tem uns que tem maior capacidade, tem outros que tem menos, mas todas conseguem fazer”. Oliveira, Vagetti, Weinhemer (2007) comentam também ser pertinente uma avaliação biopsicossocial do idoso, pois esta permite atender ao idoso 30 institucionalizado de maneira integral. Investigando o contexto das relações sociais do mesmo, com seus familiares e amigos é possível compreender a evolução de suas doenças. Contribui para um melhor diagnóstico, a comparação entre a participação do idoso em atividades atuais com atividades de períodos anteriores, ou seja, o que o mesmo realizava antes e o que ele consegue fazer agora (STELLA, 2004). De maneira geral, constatou-se nas entrevistas que todos os seis participantes identificaram haver demandas de trabalho com os idosos, os funcionários e a família dos idosos institucionalizados. Como afirma Ariel (P), “É bem amplaessa questão de com quem você vai trabalhar. Você tem todos os idosos, todos os familiares e tem o quadro funcional”. Uma das demandas de trabalho levantadas por dois entrevistados foi o atendimento individualizado com idosos. Segundo Elemiah (E) “Uma das demandas que eu acho que seria importante, é o atendimento individualizado com os idosos (...) através do trabalho de escuta, conhecíamos as pessoas e proporcionávamos uma maior integração entre eles”. Vasahiah (E) complementa: “Poderia ser feito escuta individualizada, porque lá eles não tem muito espaço pra conversar, pra expor o que eles pensam”. Magesky, Modesto e Torres (2009) também compartilham da ideia de criar um espaço na ILPI para que os idosos possam refletir e discutir juntos suas vivências. Segundo Salinas e Santos (2002) escutar os pacientes (idosos) possibilita compreender qual a real demanda dos mesmos e suas questões subjetivas, realizando um melhor diagnóstico e os encaminhamentos necessários. A escuta em geral, é seguida de um aconselhamento, ele se faz importante, pois segundo o Ministério da Saúde (2000, p. 11, apud LIMA, 2005, p. 437) é: Um processo de escuta ativa, individual e centrado no cliente. Pressupõe a capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores, visando ao resgate dos recursos internos do cliente para que ele mesmo tenha possibilidade de reconhecer-se como um sujeito de sua própria transformação. Neri (2005) indica que uma das funções do psicólogo que trabalha com idosos é realizar a psicoterapia individualizada. Busse e Blazer (1999) apontam diferentes abordagens teóricas para conduzirem estas psicoterapias 31 individuais, tais como: a psicodinâmica, a terapia cognitivo-comportamental, a psicoterapia interpessoal, a terapia pela recordação de reminiscência e a psicoterapia existencial. Freire, Silveira e Sommerhalder (2003) complementam com outras abordagens, como a gestalt terapia, o psicodrama e a terapia sistêmica. Complementando a discussão acima, Caliel (P), Ariel (P) e Damabiah (P) realizam esse tipo de atividade e confirmam ser positiva esta ação: Caliel “Eu atendo individualmente. (...) Dizem assim, trabalha aquele idoso, essa semana ele tá agitado, essa semana ele tá agressivo”. Damabiah (P) relata que quando atende individualmente “eu consigo ir mais a fundo com cada um”. Assis e Pollo (2008) explicitam que é importante disponibilizar ao idoso um atendimento em que se valorize sua história, respeitando sua individualidade, autonomia e privacidade, tentando preservar ao máximo seus vínculos e a participação na comunidade. Fragoso (2008) explica que as ILPIs constituem um espaço de geração de significados, rico em simbolismos de rotinas, costumes, crenças e rituais, que devem ser compreendidos e valorizados na medida em que estes expressam a forma com que os idosos experimentam o mundo. A escuta possibilita alcançar a compreensão de tais significados pessoais dos idosos. Sendo assim, é fundamental estudar e validar as informações que os idosos transportam, para poder valorizar cada ser humano em sua individualidade. Outra modalidade de atendimento a população idosa são as terapias em grupo, que favorecem a integração entre os participantes e a percepção de que os problemas vivenciados por eles, não são únicos, o que evoca um sentimento de segurança e promove interações entre os idosos. A terapia em grupo tem como objetivo o crescimento pessoal e a auto-realização (FREIRE; SILVEIRA; SOMMERHALDER, 2003). Embora não seja de fato uma terapia em grupo, cinco psicólogos entrevistados relataram realizar atividades em grupo com os idosos das ILPIs, o que ainda assim, promove benefícios aos mesmos. Rafael (E) conta: “Existia também grupos que aconteciam no asilo, em que a gente falava um pouco sobre a vida, a gente conversava a respeito deles, como eles estavam, as dificuldades que eles tinham”. A entrevistada Damabiah (P) explica: “A 32 gente tem dois grupos para os idosos, um na segunda que é o grupo de oração e outro que é de atividade com a maioria dos moradores”. De acordo com a pesquisa de Guidetti e Pereira (2008) as atividades em grupo apresentam mudanças positivas na comunicação entre os idosos e na própria instituição, pois favorece o fortalecimento de vínculos, diminui o isolamento e possibilita uma melhor leitura das necessidades individuais e do grupo de idosos. Yalom (1985 apud BUSSE; BLAZER, 1999, p. 408) cita a eficácia terapêutica que esta modalidade inclui: “retorno a esperança, partilhar informações, altruísmo, desenvolvimento de técnicas de socialização, aprendizado interpessoal, catarse e fatores existenciais”. Nestes grupos a entrevistada Damabiah (P) ressalta realizar algumas atividades, como: trabalhos de memorização, atividades manuais com papéis e com massinha de modelar, a dança sênior, atividades com música, mímicas, jogos de adivinhação, “eles gostam muito de falar de comida, falamos da época deles (...) a gente faz mensagens, eles adoram ler, então a gente tá sempre separando alguma mensagem”. A psicóloga complementa: “essa socialização entre eles também, adoram”. A dança sênior relatada por Damabiah (P) é uma atividade interessante a ser realizada em ILPIs, pois é conjunto sistematizado de coreografias adaptadas as especificidades dos idosos, e podem ser realizadas em pé ou sentadas, sendo de baixo impacto e de curta duração, utilizando músicas alegres e ritmadas (AMARAL, s/d). O grupo de oração citado acima por Damabiah (P) se faz importante, pois segundo Junges, Meneghel e Pavan (2008) indicam, a espiritualidade é uma das formas utilizadas pelos idosos para ajudar a suportar a velhice, a doença e a morte. Brink (1983) escreve que os grupos de estudo e de leitura de textos religiosos tendem a aumentar nos últimos anos de vida, pois a crença religiosa diminui as ansiedades em relação a morte. Para retardar os efeitos deletérios do envelhecimento, Oliveira, Vagetti, Weinheimer (2007) explicam que é preciso trabalhar com o idoso de maneira integral, promovendo uma visão positiva da velhice. Devendo preocupar-se não apenas com os aspectos biológicos e físicos dos idosos, mas da parte motivacional e social também. Para isso, é preciso garantir que os idosos 33 façam exercícios físicos regularmente e mantenham uma atividade cerebral ativa. Programas de promoção de qualidade de vida contribuem para que os idosos institucionalizados tenham um envelhecimento saudável. Para os institucionalizados que ainda tem uma boa saúde, estimulações como treinamentos cognitivos e participação em atividades intelectuais preservam as funções cognitivas. Exercícios semanais, tais como resolver problemas e jogos de memória, aumentam o bem estar psicológico daqueles que os praticam (CHAVES et al., 2009). Portanto, Caliel (P) sugere que “Outra demanda, é fazer com que a área cognitiva, que permaneça assim o mais saudável possível, porque assim, quando eles entram, essa a memória, isso tudo vai perdendo, eles não tem mais a função de ir no banco, eles não tem mais a função de saber o que tá precisando em casa, de pegar o ônibus, de memorizar as coisas do dia a dia mesmo, então vem a comida pronta, então eles não tem a preocupação, isso vai perdendo muito a função cognitiva”. As funções cognitivas são um sistema de atividades mentais integradas como a memória, o pensamento, a aprendizagem, a atenção, a linguagem, as orientações espaço-temporais e as programações de atividades psicomotoras. Estas funções tendem a sofrer mudanças esperadas com o avanço da idade, por exemplo, o declínio da memória e a diminuição na capacidade de realizar atividades psicomotoras finas dentre outras (STELLA, 2004). Pessoas que realizam atividades físicas têmmenos chance de desenvolver um declínio cognitivo, do que as pessoas que não realizam. Fazer atividades é uma forma de o idoso permanecer cognitivamente saudável, diminuir sintomas depressivos e aumentar seu bem-estar (CHAVES et al., 2009). Sobre as atividades físicas, Aguiar, Cardoso e Mazo (2006) indicam que esta prática é uma forma de promover a saúde e ter qualidade de vida, favorecendo positivamente a autoestima e a autoimagem dos idosos, aumentando a alegria e o autoconceito dos mesmos. Os autores ainda indicam que a atividade física no meio líquido, como a hidroginática pode proporcionar benefícios psicossociais aos idosos. 34 Vindo de encontro ao que foi discutido acima, Caliel (P) sugere que os idosos institucionalizados pratiquem esportes: “Eu já entrei em contato com um clube (...) pra fazer hidroginástica (...) ir pra uma piscina já é uma coisa bem legal, sair do local (da ILPI) também já é uma coisa legal, além do benefício que faz a atividade física”. Os asilos (ILPIs) segundo Brito e Ramos (1996) tem como consequência o isolamento, a inatividade física e mental e ainda uma redução na qualidade de vida dos idosos institucionalizados. Para quebrar com este modelo de instituição total, Rafael (E) sugere que se realizem passeios com os idosos, “pra eles se sentirem parte da sociedade”. Segundo Born (1996) um simples passeio de ônibus, saindo das dependências da ILPI pode ser extremamente benéfico. Para Junges, Meneghel e Pavan (2008), os passeios rompem com a rotina asilar, o que possibilita um momento de prazer aos idosos institucionalizados. Brink (1983) explica que as famílias não estão preparadas para enfrentar os serviços necessários que um idoso dependente precisa, nem economicamente e nem emocionalmente. Para isso, sugere um grupo para famílias, para poderem receber informações, adquirir habilidades úteis e apoio emocional. Creutzberg et al. (2007a) ressalta que a família, junto com o idoso, também deve ser foco de atenção da ILPI, pois ela também é o cliente. Como demonstra Ariel (P): “Com muitos dos idosos, a gente trabalha mais com os familiares do que os próprios idosos, devido a doença, e essas restrições que ele têm (...) eles (familiares) procuram para saber como lidar com a doença, os que tem Alzheimer geralmente os familiares ficam meio perdidos”. Damabiah (P) também realiza esta atividade: “Eu faço trabalho com a família também, um acompanhamento (...) tem famílias que não sabem como lidar com o paciente que tem Alzheimer, daí a gente vai lá conversa, faz esse acompanhamento (...) explica a evolução da doença, e até pra entender como eles eram antes, pra família me dar essa visão de como eles eram”. Neri (2005) também indica que é dever do psicólogo orientar e aconselhar os familiares dos idosos. 35 Brink (1983) aponta que um grupo de terapia para os familiares de idosos institucionalizados seria importante, porque assim estes contariam com um apoio emocional e com um espaço para esclarecerem suas dúvidas. Sobre a eficácia da terapia familiar e da orientação da família, Freitas et al. (2006) indicam que este suporte psicológico pode ser muito útil, pois uma terceira pessoa que venha a mediar conflitos entre idosos e familiares favorece uma visão diferencial dessas duas partes que são interdependentes. O grupo com familiares embora não seja desempenhado por nenhum dos entrevistados, é indicada por Caliel (P) como uma atividade que poderia ser realizada: “Colocar (os familiares) numa sala para trabalhar a família, olha quanto trabalho teria ali pra discutir, porque um aprende com o outro, um familiar aprende com o outro”. Caliel (P) sugere o tema da culpa que os familiares sentem por ter que institucionalizar seu idoso, para ser discutido nestes grupos, “A grande maioria, eles se sentem culpados, porque os pais estão lá ou tio, então eu acho que se trabalhasse isso, eu acho que o relacionamento seria melhor, eles visitariam mais”. Em geral, o primeiro encontro entre idoso, família e ILPI traz sentimentos de insegurança, indecisão e culpa para os familiares. Se estas questões não forem bem trabalhadas, sentimentos negativos podem acompanhar essa nova relação que está começando (CREUTZBERG et al, 2007a). Para Elemiah (E) uma das atividades que poderia ser realizada é “Acompanhar as visitas dos familiares nos dias de visita, o psicólogo estar conversando com os familiares para conhecê-los melhor”. O que demonstra a importância de criar um espaço destinado a discutir os sentimentos, angústias e também as dúvidas que permeiam o processo de envelhecimento desde o primeiro contato da família com a ILPI. Complementando a atividade anterior, Caliel (P) sugere que se envolva os familiares em atividades junto com os idosos. A entrevistada Vasahiah (E) aponta ser importante um trabalho de “trazer os familiares dos idosos para dentro do asilo, perto dos idosos”. Segundo Creutzberg et al. (2007a), a família ao recorrer a ILPI busca uma parceria para cuidar de seu idoso, e a instituição em contrapartida espera que a família também ajude nesse cuidado. No estudo realizado pelos autores 36 supracitados foi constatado que essa parceria nem sempre existe e que, é a ILPI após a institucionalização do idoso, quem procura (re)estabelecer essa relação com a família (CREUTZBERG et al., 2007a). Fragoso (2008) entende que a família deve estar presente no cuidado ao idoso institucionalizado, e quando ausente, cabe a ILPI procurar encontrar soluções que permitam a reaproximação da família para com seu ente. No entanto, as instituições podem somente motivar as famílias a visitarem seus idosos e não forçá-las e obrigá-las a participar desta rotina institucional, pois segundo Freitas et al. (2006) podem haver problemas de relacionamento familiar nunca resolvidos. Incluir a família nos cuidados com o idoso é essencial para a qualidade do cuidado oferecido aos mesmos. No entanto, foi identificado por Creutzberg et al. (2007a) que a família dos idosos institucionalizados por vezes sente não ter o que fazer na ILPI, o que diminui a freqüência das visitas. Para oportunizar uma adequada e acolhedora integração da família neste contexto, é necessário que haja um preparo dos diferentes profissionais da instituição para receber esses familiares. Vale ressaltar que se os familiares sentem-se desamparados, o mesmo acontece com pessoas da comunidade que visitam as instituições. Um dos momentos em que as famílias geralmente estão presentes e participam, são nos eventos e festas da instituição. Damabiah (P) comenta sobre as festas realizadas na instituição: “As idosas adoram as festas e as famílias também”. Segundo Creutzberg et al. (2007a) estes eventos são propícios a uma integração entre as famílias e a ILPI. Fragoso (2008) argumenta que existe a necessidade de prestação de cuidados e atenção não só aos idosos e familiares, mas também aos restantes intervenientes, funcionários e estrutura organizacional. Todos os seis entrevistados frisam a importância de um trabalho com os funcionários: Rafael (E) “Os funcionários é uma demanda paralela importantíssima (...) de trabalhar a saúde emocional deles, e um programa de qualidade de vida”. Elemiah (E) ressalta também que “seria importante um trabalho sensibilizando a diretoria da ILPI”. Segundo Assis e Pollo (2008) para proporcionar um atendimento de qualidade a toda instituição, é necessário que as ILPIs disponibilizem aos funcionários um espaço para reuniões, estudos e supervisões. Este espaço 37 também deve ser utilizado pelos profissionais para exporem suas angústias e dúvidas. É o que Ariel (P) proporciona: “A gente faz bastante reuniões, pra estar sempre em contato. Quando tem alguma divergência, a gentesenta, conversa, faz uma dinâmica, faz alguma coisa pra tirar esse mal estar ou qualquer desentendimento, que comprometa o trabalho”. Para Born (1996), o papel do psicólogo nas ILPIs deve contemplar o atendimento aos idosos e também orientar os demais profissionais da instituição com relação aos problemas que os idosos apresentam, tentando compreender e interpretar as dificuldades junto a eles. Neri (2005) também reconhece o valor de um apoio psicológico a profissionais que trabalham com idosos. Ariel (P) explica: “Acontecem situações que as pessoas (funcionários) se abalam com as coisas que acontecem aqui dentro. Mas a gente dá o suporte”. Damabiah (P) relata a importância de sensibilizar os funcionários para um cuidado humanizado com o idoso: “As vezes eles (funcionários) trabalham muito tecnicamente (...) deve ter um cuidado humanizado, voltado pra ele (idoso) e não só pra necessidade física dele, mas voltado pro emocional também, e até como uma forma de trazer ele, o idoso pra se sentir dono da situação”. De acordo com Fragoso (2008) o tipo da qualidade do cuidado dispensando aos idosos institucionalizados, suscita a possibilidade de que eles estabeleçam novas relações sociais. Porém os autores DAVIM et al (2004) alertam que grande parte das ILPIs não estão qualificadas para possibilitar estas expressões individuais, o que acaba despersonalizando os sujeitos e os afastando do convívio familiar e social. Fragoso (2008) cita que aumentar a responsabilidade e adequar as tarefas para que os idosos institucionalizados tenham maior controle de suas vidas, resulta em efeitos positivos ao estado e a saúde dos mesmos. Pois muitas vezes, é a falta de controle e de autonomia que ocasiona complicações e problemas aos idosos. De acordo com o autor supracitado “a regra é não impor limites desnecessários; os cuidados profissionais devem permear obsessivamente a autonomia e o protagonismo do idoso” (FRAGOSO, 2008, p.60). 38 Esta é uma das atuações que Caliel (P) pontua: “Trabalhar com eles (funcionários) pra que eles possam escolher a roupa deles (idosos), as que tenham mais a cara deles, resgatar as atividades parecidas com as que eles faziam em casa, porque tudo isso se perde, é coisa tão pequena, mas que faz a diferença pro idoso”. Dois entrevistados sugerem que se realize um trabalho de Psicologia Organizacional na ILPI, segundo Elemiah (E): “precisaria de um psicólogo organizacional”. A psicologia organizacional, também conhecida como psicologia do trabalho, segundo Azevedo e Cruz (2006, p. 90) é uma área de especialização da Psicologia que tem como fenômeno principal o trabalho e “busca descrever e explicar fenômenos e processos psicológicos na atividade de trabalho a partir das condições estabelecidas pelo meio técnico e social”. Segundo Fragoso (2008), as ILPIs formam uma organização sistêmica, em que todos os constituintes se influenciam mutuamente. Cabe ao psicólogo organizacional implementar alguns princípios no atendimento aos idosos, tais como: desenvolver atenção integral aos mesmos, tendo em vista todas as dimensões inerentes ao ser humano; cuidado multi e interdisciplinar, valorizando o trabalho em equipe e promovendo a troca de saberes; estimular relações de cooperação; e ainda incentivar a formação continuada dos profissionais da ILPI. Sobre este último aspecto, três entrevistados salientam a importância de buscar uma especialização na área de envelhecimento (Gerontologia). Damabiah (P) diz “É importante a gente se atualizar, então eu estou vendo de começar minha pós esse ano”. Cabe também ao psicólogo estar atento à organização dos espaços que o idoso frequenta (FRAGOSO, 2008; NERI, 2005). O ambiente institucional deve garantir momentos de privacidade; incentivar o senso de orientação espacial; ser funcional e adaptado as condições físicas e psíquicas dos residentes, disponibilizando estímulos para combater a depressão e passividade dos idosos. Elemiah (E) indica como atividade a ser realizada: “A verificação de banheiros adequados com barras, pisos antiderrapantes e rampa”. É importante também criar na ILPI um ambiente com aparência familiar e agradável, com decorações que valorizem as histórias e tradições dos 39 residentes. De preferência personalizando e registrando as identidades dos idosos (FRAGOSO, 2008). Foi o que a entrevistada Vasahiah (E) percebeu: “Uma coisa legal, foi que tiramos fotos e deixamos com eles e a instituição pendurou. Eles gostaram de se ver nelas. Porque era uma coisa que eles próprios construíram”. Diante de tantas demandas é interessante saber se as ILPIs disponibilizam as condições necessárias para a realização desses trabalhos. Sendo este o tema que será apresentado a seguir. 5.2 Condições de trabalho Pretende-se aqui discutir sobre as condições de trabalho oferecidas pelas ILPIs, em relação às demandas identificadas. Ou seja, se há uma relação coerente entre o que se disponibiliza ao psicólogo, para o que tem para ser feito na instituição. No entanto, é importante ressaltar que através das entrevistas, percebeu-se a diferença e as limitações entre as respostas dos psicólogos que atuavam como profissionais em ILPIs e dos psicólogos que foram somente estagiários em ILPIs. Os estagiários ficavam em média duas horas semanais nas instituições, com condições e atividades pré definidas para o estágio, o que limitava a atuação como psicólogo e suas possibilidades de intervenção. Cinco psicólogos, sendo dois profissionais e três estagiário, apontaram que as condições de trabalho não contemplam todas as demandas identificadas. Caliel (P) responde “Não, de jeito nenhum”. A única entrevistada que respondeu contemplar foi Damabiah (P), pois no seu caso, ela foi contratada apenas para trabalhar com os idosos, no período vespertino: “O horário pra elas (idosas) está suficiente (...) se talvez acontecer de começar a trabalhar com os funcionários, vai precisar com certeza de um espaço e de um tempo maior”. Entre as principais condições de trabalho levantadas, destaca-se o tempo, o espaço físico e a remuneração que as ILPIs oferecem. Quando perguntada a respeito das atividades que realiza, Caliel (P) relatou desempenhar alguns trabalhos que acredita-se aqui, não ser função do psicólogo, pois na verdade, o mesmo poderia estar realizando outras tarefas mais pertinentes a psicologia, já que o tempo de trabalho é restrito. São 40 atividades de “oficina de bijuteria, patchwork, costura, fuxico e dia da beleza”. Segundo Yamamoto e Diogo (2002), por não conter profissionais suficientes nas ILPIs, os funcionários acabam por desempenhar atividades que extrapolam seus graus de competência. O que acarreta numa sobrecarga de funções e até em carga horária excessiva. Isso também foi sentido por Ariel (P): “mas a questão é que eu não fico aqui tempo suficiente (para desenvolver um grupo com idosos) (...) e cuido da parte organizacional da instituição (...) faço folha de pagamento tudo, só pra tu teres uma noção”. Creutzberg, Gonçalves e Sobottka (2007b) explicam que o pagamento dos funcionários ocupa um alto custo mensal para as ILPIs, o que acaba justificando o número reduzido de funcionários contratados, as poucas horas de trabalho e os baixos salários que eles recebem. Sobre o tempo e a remuneração Caliel (P) comenta “Não, o tempo não contempla, muito pouco tempo, o espaço. O tempo é muito pouco, quantidade de horas muito pouco, a remuneração pelo que eu trabalho, eu não estou lá pela remuneração, (...) eu não dependo só daquela remuneração, porque ela me falou que foram várias psicólogas lá, e não foi acertado, claro por causa do valor, mas porque elas dependiam daquele trabalho, mas como eu tenho outro, isso então eu acho que
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