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MISSÃO PAPA CHARLIE DIREITO PENAL – PARTE GERAL https://www.youtube.com/watch?v=idT4aBJF8LI&t=1334s 1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL 1.1 Princípios Penais A infração Penal é gênero que comporta duas espécies, ou seja, CRIME e CONTRAVENÇÃO PENAL. Em primeiro plano devemos ter em mente que a infração penal é uma divisão “DICOTÔMICA”, ou seja, O GÊNERO SÓ COMPORTA DUAS ESPÉCIES. No ordenamento jurídico brasileiro, crime é sinônimo de delito. 1.1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana É um fundamento constitucional (art. 1.º, III, CF). Cuida-se de um princípio regente, que envolve o Direito como um todo, produzindo reflexos no Direito Penal. É base e meta do Estado Democrático de Direito, focado em dois prismas: Objetivo, para garantir o mínimo de subsistência do ser humano; Subjetivo, para assegurar o bem-estar individual, calcado na autoestima e na respeitabilidade diante da sociedade. Os princípios penais devem convergir para a dignidade humana, garantindo a sua concretude e limitando os excessos punitivos do Estado. 1.1.2 Princípio da Legalidade C onsiste em estatuir que a regulamentação de determinadas matérias deve ser feita, NECESSARIAMENTE, por lei formal. Ou seja, somente a LEI em sentido estrito, Emenda Constitucional e Lei Complementar podem descrever crimes e cominar penas. Os demais textos legais (Lei delgada, Decretos, Medidas Provisórias, etc.) NÃO PODEM FAZER ISSO. ATENÇÃO! Medida Provisória não pode versar sobre matéria de direito penal. A emenda constitucional nº 32 de 2001, c ontém expressa proibição de se editar MP disciplinando direito penal, processual penal e processual civil (art. 62, §1.º, inc. I, "b", da CF - acrescido pela Emenda Constitucional nº 32 de 2001). "Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É VEDADA a edição de MEDIDAS PROVISÓRIAS sobre matéria: I – Relativa a: ... b) direito penal, processual penal e processual civil; Portanto, somente através de LEI , constituída a partir de regular processo legislativo na Câmara dos Deputados, Senado Federal e Presidência da República, admite-se a descrição de uma conduta como criminosa, fixação da respectiva pena ou mesmo inovação na disciplina dos institutos da Parte Geral do Código Penal. Outro aspecto relevante sobre o princípio da legalidade é a exigência de que a lei deve ser taxativa na descrição do delito, contendo condutas certas. A taxatividade da norma https://missaopapacharlie.org/ 1 MISSÃO PAPA CHARLIE repugna o tipo delineado de forma vaga e indeterminada. A cominação da sanção, do mesmo modo, também não pode ser vaga, indefinida, sem definição de limites mínimos e máximos de pena. 1.1.2.1 Princípio da Reserva Legal Não há crime sem que, antes de sua prática, haja uma lei descrevendo-o como fato punível. Do mesmo modo que não pode haver pena sem lei anterior que a contenha. Portanto, é lícito qualquer conduta que não esteja definida em LEI penal incriminadora. O princípio da reserva legal NÃO é sinônimo do princípio da legalidade, é espécie. Significa a submissão e o respeito à lei, ou a atuação dentro da esfera estabelecida pelo legislador. Este princípio encontra previsão no art. 1º, do Código Penal, e no art. 5º Constituição Federal. Art. 5º [...] XXXIX - Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; O princípio da reserva legal aplica-se, de forma ABSOLUTA, às normas penais incriminadoras, excluindo-se de sua incidência as normas penais não incriminadoras. 1.1.2.2 Princípio da Anterioridade da Lei Penal Por tal princípio, a norma penal (diga-se, a mais severa) só se aplica aos fatos praticados APÓS sua vigência. Novamente neste ponto a Constituição Federal recepcionou tal garantia penal, pois prevista no inc. XL do seu art. 5º. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XL - a lei penal NÃO RETROAGIRÁ , salvo para beneficiar o réu; No entanto, surge situação interessante quando a lei penal mais severa entra em vigor no momento em que está sendo praticado o crime continuado (art. 71 do Código Penal). Aquele que, por uma questão de política criminal, o legislador entendeu pela punição de apenas um dos delitos contidos na cadeia delitiva, majorando, contudo, a sanção dele, diante da pluralidade de fatos. Nesse aspecto, dois entendimentos são possíveis, e já verificados nos tribunais, mas o STF se pronunciou a respeito: Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao CRIME CONTINUADO ou ao CRIME PERMANENTE , se sua vigência é ANTERIOR à cessação da continuidade ou da permanência. 1.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela Este princípio surgiu com a ideia de afastar da esfera do Direito Penal situações com pouca significância para a sociedade. Observe um pronunciamento do STF sobre o tema: STF HC 92961: A mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica constituem os requisitos de ordem objetiva autorizadores da aplicação do princípio da insignificância. https://missaopapacharlie.org/ 2 MISSÃO PAPA CHARLIE Ou seja, para se aplicar o princípio da insignificância, deve ser levar em conta os seguintes critérios, que DEVEM SER CUMULATIVOS: 1. MÍNIMA OFENSIVIDADE DA CONDUTA; 2. AUSÊNCIA DE PERICULOSIDADE SOCIAL DA AÇÃO; 3. REDUZIDO GRAU DE REPROVABILIDADE DO COMPORTAMENTO; E 4. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO JURÍDICA ATENÇÃO!! O simples fato de um objeto ter um reduzido valor patrimonial não quer dizer que ele não é importante para quem o detém. STJ - HC 60949 PE – DJ 17.12.2007: O pequeno valor da res furtiva (objeto do furto) não se traduz, automaticamente, na aplicação do princípio da insignificância. Há que se conjugar a importância do objeto material para a vítima, levando-se em consideração a sua condição econômica, o valor sentimental do bem, como também as circunstâncias e o resultado do crime, tudo de modo a determinar, subjetivamente, se houve relevante lesão. ATENÇÃO!! ESTE PRINCÍPIO NÃO SE APLICA SÓ AOS DELITOS CONTRA O PATRIMÔNIO. 1.1.4 Princípio da Alteridade Ninguém pode ser punido por causar mal APENAS A SI PRÓPRIO. 1.1.5 Princípio da Intervenção Mínima Segundo este princípio, o Direito Penal deve ser utilizado com muito critério, devendo o legislador fazer uso dele SOMENTE nas situações realmente NECESSÁRIAS de serem rigidamente tuteladas. Ou seja, é a última ratio . STF - HC 92463/RS – DJ 30.10.2007: O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. 1.1.5.1 Princípio da Fragmentariedade A fragmentariedade significa que cabe ao Direito Penal atribuir relevância somente a pequenos fragmentos de ilicitude. Existem, assim, inúmeros comportamentos cujo caráter ilícito é conferido pelo ordenamento jurídico, mas somente uma pequena parcela interessaao Direito Penal, notadamente a que corresponde aos atos mais graves, atentatórios dos bens mais relevantes para a vida em comum, ou seja, o direito penal não intervém quando o conflito puder ser resolvido por outros ramos do direito. 1.1.6 Princípio da Intranscendência da Personalidade ou responsabilidade pessoal. Segundo este princípio, ninguém pode ser responsabilizado por um fato que foi cometido por um terceiro. Tal princípio tem base constitucional: Art. 5º [...] XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, https://missaopapacharlie.org/ 3 MISSÃO PAPA CHARLIE estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; Segundo o STF , o postulado da intranscendência impede que sanções e restrições de ordem jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator. Por isso, estabelece-se, em preceito constitucional, que a pena não passará da pessoa do delinquente. 1.1.7 Princípio da Individualização da pena A pena será individualizada, nos termos da lei, conferindo-se a cada condenado a exata proporção do que merece. Individualizar é transformar a pena abstratamente prevista em lei, em sanção concreta, de acordo com o feito realizado, na exata medida de quem é o seu autor. 1.1.8 Princípio da Confiança Este princípio prega que todos possuem o direito de atuar acreditando que as demais pessoas irão agir de acordo com as normas que disciplinam a vida em sociedade. Assim, quando alguém ultrapassa um sinal VERDE e acaba colidindo lateralmente com outro veículo que avançou o sinal VERMELHO, aquele que ultrapassou o sinal verde agiu amparado pelo princípio da confiança, não tendo culpa, já que dirigia na expectativa de que os demais respeitariam as regras de sinalização. 1.1.9 Princípio da Lesividade ou Ofensividade Exige que a conduta criminalizada tenha APTIDÃO para ofender o bem jurídico que a norma pretende tutelar. Não se exige, em todos os casos, a efetiva lesão, pois nos crimes de perigo, basta que o bem jurídico seja exposto a risco de dano para que o crime se configure (sem que haja violação ao princípio da ofensividade). 1.1.10 Princípio da Adequação Social Preconiza que não se pode reputar criminosa uma conduta tolerada pela sociedade, ainda que se enquadre em uma descrição típica. Trata-se de condutas que, embora formalmente típicas, porquanto subsumidas num tipo penal, são materialmente atípicas, porque socialmente adequadas, isto é, estão em consonância com a ordem social. É bom lembrar que a jurisprudência não aplica o princípio da adequação social para as casas de prostituição e da pirataria. Então apesar de serem aceitos pela população, ainda são crimes. 1.2 A Lei Penal no Tempo e no Espaço (pode ser anos ou horas) 1.2.1 Lei Penal 1.2.1.1 Conceito A lei penal é a fonte formal imediata do Direito Penal e é classificada pela doutrina majoritária em incriminadora e não incriminadora. Dizemos “INCRIMINADORAS” aquelas que criam crimes e cominam penas. Sua estrutura apresenta dois preceitos, um primário, que expõe a conduta (matar alguém) e um secundário, que determina a pena (reclusão...). https://missaopapacharlie.org/ 4 MISSÃO PAPA CHARLIE Diferentemente, as leis penais NÃO INCRIMINADORAS são as que não criam delitos e nem cominam penas, e subdividem-se em: PERMISSIVAS e EXCULPANTES. Permissivas: “Autorizam” a prática de condutas típicas. Exemplo: Art. 23 do CP. Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Exculpantes: Estabelecem a não culpabilidade do agente ou caracteriza a impunidade de algum crime. Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. [...] § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Interpretativas:Explicam determinado conceito, tornando clara a sua aplicabilidade. É o caso do artigo 327 do CP, que explica o conceito de funcionário público para fins penais: Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. 1.2.2 A Lei Penal no Tempo A REGRA GERAL no Direito Penal é a da prevalência da lei que se encontrava em vigor quando da prática do fato, ou seja, aplica-se a LEI VIGENTE quando da prática da conduta ( tempus regit actum). https://missaopapacharlie.org/ 5 Exculpante Lei PenalLei Penal IncriminadoraIncriminadora Preceito Primário + Preceito Secundário Preceito Primário + Preceito Secundário Não IncriminadoraNão Incriminadora Permissiva Exculpante Interpretativa Permissiva Exculpante Interpretativa MISSÃO PAPA CHARLIE 1.2.2.1 Atividade e Extratividade da Lei Penal Atividade: É quando a lei vigente aplica-se aos fatos ocorridos durante a sua vigência (regra). Irretroativa: NÃO pode voltar no tempo (lei mais severa ou nova lei incriminadora) Extratividade: É quando a lei se movimenta no tempo ( exceção ) . Explicita as exceções à regra da teoria da atividade. Com efeito, por via de exceção, uma lei posterior pode retroagir para beneficiar o réu ( novatio legis im mellius ) (art. 2º do Código Penal), da mesma forma que uma lei temporária ou excepcional pode ultragir (ultratividade da lei penal), em razão de sua essência, conforme preceitua o artigo 3º do Código Penal. Há duas espécies de extra-atividade: a retroatividade e a ultratividade. Retroatividade: Aplicação da lei NOVA mais benéfica . A lei penal aplica-se a fatos ocorridos ANTES da sua vigência. Ex: Lei penal benéfica. Ultratividade: Aplicação da lei ANTIGA mais benéfica. A lei penal JÁ REVOGADA (excepcional, temporária ou revogada) aplica-se aos fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo após terem cessado seus efeitos. A ULTRATIVIDADE (o poder de agir fora do tempo de vigência) da lei penal é a característica das leis excepcionais ou temporárias, que permite a estas serem aplicadas aos fatos praticados durante a sua vigência, mesmo depois de estarem revogadas. Ex de ultratividade: 1980 - Promulgação da lei 1984 1985 – Revogação da lei I------------------------------------------I-----------------------------------------I////////////////////////////////////////// Prática do fato criminoso Ultratividade Projeção I____________________________I_________________I Andamento do Processo Sentença com base na lei revogada Vacatio Legis: é o prazo legal que uma lei tem para entrar em vigor. https://missaopapacharlie.org/ 6 Extratividade da Lei Penal Retroativa Volta no tempo (lei mais benéfica) Ultrativa Lei penal, depois de revogada, continua a regular fatos ocorridos durante a vigência. MISSÃO PAPA CHARLIE REVOGAÇÃO de lei penal é EX NUNC , ou seja, não retroage para punir, apenas parabeneficiar. Isso não infringe o princípio constitucional da retroatividade da lei mais benéfica. O poder da ultratividade é tão acentuado que, se revogada a lei excepcional ou temporária, e outra mais benigna sobrevier, esta NÃO RETROAGIRÁ . A LEI EXCEPCIONAL ou TEMPORÁRIA possui ULTRATIVIDADE, ou seja, continua projetando sua eficácia, aplicando-se aos FATOS PRATICADOS EM SUA VIGÊNCIA. 1.2.2.2 Princípio do Tempus Regit Actum É o princípio que rege a aplicação da lei penal no tempo. Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior DEIXA DE CONSIDERAR CRIME, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 1.2.2.3 Abolitio Criminis Lei que vem para excluir um crime que existe, mas ela SÓ EXCLUI OS EFEITOS PENAIS , OS EFEITOS CIVIS PERMANECEM . Não se confunde a descriminalização com a despenalização, haja vista que a descriminalização retira o caráter ilícito do fato, enquanto que a despenalização é o conjunto de medidas que visam eliminar ou suavizar a pena de prisão. Assim, na despenalização a conduta ainda é considerada um crime. Segundo os princípios que regem a lei penal no tempo, a lei abolicionista é NORMA PENAL RETROATIVA, atingindo fatos pretéritos, ainda que acobertados pelo manto da coisa julgada. Isto porque o respeito à coisa julgada é uma garantia do cidadão em face do Estado. Logo, a lei posterior só não pode retroagir se for prejudicial ao réu. ATENÇÃO! Entende a maioria da doutrina, inclusive o Supremo Tribunal Federal, que é perfeitamente possível abolitio criminis por meio de MEDIDA PROVISÓRIA. 1.2.2.4 Lei Penal Mais Branda - Novatio Legis In Mellius É o tema do art. 2º, parágrafo único do CP que trata da RETROATIVIDADE da norma penal mais branda Art. 2º[...] Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Nas duas hipóteses a norma penal se apresenta mais benéfica ao autor do fato e, por isso, terá efeitos retroativos, atingindo fatos praticados antes de sua vigência. Por ter dado tratamento mais brando ao fato, ou por não mais considerá-lo crime, a norma retroagirá para beneficiar o autor. A lei benéfica pode retroagir seja para possibilitar a aplicação de pena menos severa, seja para contemplar situação em que a conduta tipificada passe a não mais ser crime. Também nessa situação, diante do princípio da reserva legal (só a lei em sentido estrito pode tratar de matéria penal), não se admite a via da Medida Provisória para tornar mais amena a sanção ou abolir o crime. Assim, o réu não pode ser beneficiado https://missaopapacharlie.org/ 7 MISSÃO PAPA CHARLIE com a edição de MP que deixe de considerar criminosa determinada conduta, ainda que tal diploma legal o beneficie. A lei penal que, de qualquer modo, beneficia o agente tem, em regra, efeito extra-ativo, ou seja, pode retroagir ou avançar no tempo e, assim, aplicar-se ao fato praticado antes de sua entrada em vigor, como também seguir regulando, embora revogada, o fato praticado no período em que ainda estava vigente. A única exceção a essa regra é a lei penal excepcional ou temporária que, sendo favorável ao acusado, terá somente efeito retroativo. (CESPE_2013_PC-DF) Portanto, a retroatividade é AUTOMÁTICA, DISPENSA CLÁUSULA EXPRESSA e alcança inclusive os fatos DEFINITIVAMENTE JULGADOS! A lei penal inconstitucional MAIS BENÉFICA: compreende-se, nesta situação, que o vício de inconstitucionalidade não pode prejudicar o réu (STJ - RHC 3.337-1). Normas mistas (com elementos de direito material e processual): as disposições de direito material, mais favoráveis, devem ser retroativas, quando dissociáveis das de direito processual. Sendo elas indissociáveis, se a disciplina das matérias (processual/material) não admitir tratamento distinto, não se pode cogitar a retroatividade da norma mais benéfica. (STF - HC 74.695-SP). 1.2.2.5 Lei Penal Mais Grave – Lex Gravior Novatio Legis in Pejus lei nova pior, mais severa NÃO RETROAGE, conforme determinação constitucional. Se a nova lei for mais grave terá aplicação apenas a fatos posteriores à sua entrada em vigor. Art. 5º [...] XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; Entretanto, ela retroage nos casos de crime permanentes (sequestro) e continuados (sequência de crimes) que estiverem em curso quando da promulgação da lei mais severa. *2 A lei penal mais severa aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente iniciados antes da referida lei, se a continuidade ou a permanência não tiverem cessado até a data da entrada em vigor da lex gravior. 1.2.2.6 Nova Lei Penal - Novatio Legis Incriminadora Ocorre quando um indiferente penal (conduta considerada lícita frente à legislação penal) passa a ser considerado crime pela lei posterior. Neste caso, a lei que incrimina novos fatos é IRRETROATIVA, uma vez que prejudica o sujeito. 1.2.3 Lei penal no Espaço Cuida do lugar onde o crime é praticado, servindo como parâmetro para solucionar situações em que um crime inicia sua execução em um determinado território e a consumação dar-se em outro. 1.3 Tempo e Lugar do Crime. 1.3.1 Tempo do Crime https://missaopapacharlie.org/ 8 MISSÃO PAPA CHARLIE Art. 4º - Considera-se praticado o crime no MOMENTO da ação ou omissão , AINDA QUE OUTRO SEJA O MOMENTO DO RESULTADO. A lei em si já sintetiza a teoria adotada pelo Código Penal, que é a TEORIA DA ATIVIDADE. 1.3.1.1 Teoria da Atividade (ou da Ação) O MOMENTO do crime é aquele em que foi praticada a conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o momento do resultado. A doutrina também destaca a existência da teoria do resultado e a mista (nas quais se considera praticado o crime no momento do resultado ou no momento da ação e do resultado, simultaneamente). No entanto, no Brasil, considera-se praticado o crime no MOMENTO em que o autor do fato PRATICOU A CONDUTA, sendo IRRELEVANTE o momento em que se deu o RESULTADO. Portanto, a teoria adotada no CP para o MOMENTO DO CRIME é a TEORIA DA ATIVIDADE. Exemplo: Vítima atingida por disparo de arma de fogo vem a falecer por consequência dos ferimentos 15 dias após o fato, considera-se praticado o crime no momento em que a vítima foi atingida e não no momento em que faleceu. ATENÇÃO!! Aplica-se a lei em vigor ao tempo da conduta, exceto se a lei aplicável no tempo do resultado for mais benéfica. Apura-se a imputabilidade NO MOMENTO DA CONDUTA. 1.3.2 Lugar do Crime Art. 6º - Considera-se praticado o crime no LUGAR em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, BEM COMO onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 1.3.2.1 Teoria do Resultado (ou do Evento) Para essa teoria não importa o LOCAL DA PRÁTICA da conduta, mas sim, o LUGAR ONDE SE PRODUZIU OU DEVERIA TER SE PRODUZIDO O RESULTADO DO CRIME https://missaopapacharlie.org/ 9 Crime - Ação ou Omissão Crime - Ação ou Omissão O momento e o local da CONDUTA são considerados. ResultadoResultado O momento que se deu o RESULTADO é irrelevante. MISSÃO PAPA CHARLIE (adotada pelo CPP). Ou seja, aplica-se a Teoria do Resultado aos crimes em geral, salvo: a) Crime de homicídio (doloso ou culposo): em que pese ser a regra geral o LUGAR do crime onde a vítima faleceu. b)Lei 11.101/05 (Lei de Falências): só há interesse do examinador quando forem praticados crimes falimentares em diversas comarcas e, então, o juízo natural será o do local onde o juiz cível decretar a falência ou homologar o plano de recuperação judicial ou extrajudicial, pouco importando onde tenham sido praticados os crimes. c) Lei 9.099/95 (JECRIM): lugar do crime será onde foi praticada a infração. d) Estelionato mediante emissão de cheque sem suficiente provisão de fundos : só há interesse nas provas quando o cheque é emitido em uma cidade e sacado em outra. O lugar do crime será o do local do banco sacado. e) Estelionato mediante cheque falsificado: como o cheque é falso, não há que se falar em agência. O local é onde se deu efetivamente o prejuízo. f) Crime formal: são compreendidos como sendo aqueles em que não se faz necessária a ocorrência de um resultado naturalístico para sua consumação, bastando a conduta do agente. Caso ocorra o resultado, tem-se o exaurimento do crime, mero indiferente penal. 1.3.2.2 Teoria da Ubiquidade (ou Mista) É a fusão das duas anteriores. Lugar do crime é tanto aquele em que se produziu (ou deveria ter se produzido) o RESULTADO, bem como ONDE FOI PRATICADA A AÇÃO OU OMISSÃO. No entanto, no Brasil, considera-se praticado o crime no MOMENTO em que o autor do FATO praticou a conduta, sendo IRRELEVANTE o momento em que se deu o RESULTADO. *6 ATENÇÃO! Para determinar o LUGAR DO CRIME, aplica-se a teoria da UBIQUIDADE. Para determinar o TEMPO DO CRIME, aplica-se a teoria da ATIVIDADE. Mnemônico L.U.T.A ATENÇÃO!!! Existem algumas situações para as quais NÃO se aplica a teoria da ubiquidade. É o caso dos CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA, OCORRIDOS NO TERRITÓRIO NACIONAL que, segundo pacífica jurisprudência, a fim de facilitar a instrução criminal e a descoberta da verdade real, segue a teoria da atividade. https://missaopapacharlie.org/ 10 LUGAR do crime = UBIQUIDADE. TEMPO ou MOMENTO do crime = ATIVIDADE MISSÃO PAPA CHARLIE 1.3.3 Crime Permanente É o crime cujo MOMENTO CONSUMATIVO se prolonga no tempo. Exemplo: CP, art. 148 - sequestro e cárcere privado. Nos crimes permanentes, enquanto perdura a ofensa ao bem jurídico (Exemplo: extorsão mediante sequestro), o tempo do crime se dilatará pelo período de permanência. Assim, se o autor, menor, durante a fase de execução do crime vier a atingir a maioridade, responderá segundo o Código Penal e não segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Súmula 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime CONTINUADO ou ao crime PERMANENTE, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. *3 Portanto, na hipótese de crime PERMANENTE , deve ser aplicada a lei penal mais grave se esta tiver entrado em vigor antes da cessação da PERMANÊNCIA . 1.3.4 Crime Continuado O instituto do crime continuado é uma ficção jurídica que, exigindo o cumprimento de requisitos objetivos (mesma espécie, condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes), equipara a realização de vários crimes a um só. Exemplo: caixa de supermercado que, dia após dia, e na esperança de que o seu superior exerça as suas funções negligentemente, tira pequeno valor diário do caixa, que pode tornar-se considerável com o passar do tempo. Nos crimes continuados em que os fatos anteriores eram punidos por uma lei, operando-se o aumento da pena por lei nova, aplica-se esta última a toda unidade delitiva, desde que sob a sua vigência continue a ser praticado. https://missaopapacharlie.org/ 11 MISSÃO PAPA CHARLIE Súmula 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. *3 Portanto, na hipótese de crime CONTINUADO , deve ser aplicada a lei penal mais grave se esta tiver entrado em vigor antes da cessação da CONTINUIDADE . 1.3.5 Crime Habitual É o composto pela reiteração de atos que revelam um estilo de vida do agente , por exemplo, rufianismo (CP, art. 230); só se consuma com a habitualidade na conduta. No crime habitual em que haja sucessão de leis, DEVE SER APLICADA A NOVA, ainda que mais severa, se o agente insistir em reiterar a conduta criminosa. 1.4 Lei Penal Excepcional, Especial e Temporária. Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. No que diz respeito ao tema lei penal no tempo, a regra é a aplicação da lei apenas durante o seu período de vigência (ATIVIDADE); a exceção é a EXTRA-ATIVIDADE da lei penal mais benéfica, que comporta duas espécies: a RETROATIVIDADE e a ULTRA- ATIVIDADE. As leis excepcionais e temporárias são AUTO REVOGÁVEIS, ou seja, não há necessidade da edição de outra lei para retirá-las do ordenamento jurídico. É suficiente para tal o decurso do prazo ou mesmo o término de determinada situação. 1.4.1 Lei Especial É a norma que possui todos os elementos da norma geral e mais alguns, chamados especializantes, que trazem um “ minus ” ou um “ plus ” de severidade (ex: crime de homicídio x crime de infanticídio). A lei especial prevalece sobre a geral, que deixa de incidir naquela hipótese. 1.4.2 Lei Temporária É aquela que permanece vigente durante um determinado período de tempo, tem o PERÍODO DE VIGÊNCIA PRÉ-DETERMINADO . Pode-se dizer que são leis auto revogáveis e são criadas para resolver situações anômalas. Podem ser identificadas pela expressão “decorrido o período de sua duração”. TRAZEM EM SEU TEXTO O TEMPO DETERMINADO DE SUA VALIDADE. 1.4.3 Leis Excepcionais SÃO AS QUE TÊM SUA EFICÁCIA VINCULADA A UM ACONTECIMENTO DO MUNDO FÁTICO. São criadas para atender necessidades transitórias, como por exemplo SITUAÇÕES DE CALAMIDADE PÚBLICA, como as enchentes ocorridas em certas regiões. NÃO É FIXADO PRAZO DE VIGÊNCIA , que persistirá enquanto não cessar a situação que a determinou. Podem ser identificadas na lei pela expressão “cessadas as circunstâncias que a determinaram ”. https://missaopapacharlie.org/ 12 MISSÃO PAPA CHARLIE 1.5 Territorialidade e Extraterritorialidade da Lei Penal. Desdobramentos da lei penal no espaço. https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/lei-penal-no-espaco/15949 1.5.1 Territorialidade Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional . Território é o espaço onde o Estado exerce a sua soberania. Como regra geral, como expressão da soberania, no Brasil se adota o princípio da territorialidade. Portanto, em regra, crimes cometidos no território brasileiro estão sujeitos à lei penal brasileira. Independentemente da nacionalidade do AUTOR e da VÍTIMA do delito, aplica-se a lei brasileira ao crime praticado no território nacional. A exceção, entretanto, está prevista no próprio caput do art. 5.º (convenções, tratados e regras de direito internacional podem prever exceções à territorialidade), o que se considera como uma territorialidade temperada. Como exemplo de exceção ao princípio da territorialidade da lei brasileira, tem-se as imunidades diplomáticas. O Território brasileiro inclui a terra continental (espaço geográfico definido como território nacional), o espaço aéreo e o mar territorial. Espaço Aéreo Nacional: É o espaço aéreo imediatamente acima do nosso território e das águas nacionais (12 milhas náuticas).Para fins de estabelecimento do espaço aéreo, o Brasil segue o Princípio da Soberania Sobre a Coluna Atmosférica. Para as aeronaves se compreende como espaço aéreo nacional a coluna atmosférica, até o limite do mar territorial. Zona Econômica Exclusiva: Corresponde a uma faixa de 200 milhas náuticas, contadas a partir do litoral, caracterizado por ser área de exercício da soberania nacional em relação à exploração dos recursos econômicos. A soberania do Estado brasileiro se estende até o mar territorial (artigo 2º da Convenção de Montego Bay), NÃO SE ESTENDENDO À ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA BRASILEIRA, a não ser para exercício de direitos dirigidos EXCLUSIVAMENTE à "exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais vivos ou não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo" (artigo 56, §1º, alínea "a", da Convenção de Montego Bay). Logo, estando o navio estrangeiro em lugar NÃO sujeito às leis brasileiras E não sendo caso de incidência de quaisquer das hipóteses de aplicação do princípio da extraterritorialidade, NÃO SE APLICARÁ A JURIDIÇÃO PENAL BRASILEIRA. Território Marítimo: O mar territorial compreende a faixa de 12 milhas náuticas (22 Km) contadas em linha reta a partir de um ponto do litoral continental e insular brasileiro. ÁGUAS INTERNACIONAIS ≠ ÁGUAS ESTRANGEIRAS (Dono Nenhum) (Outro Dono) Águas Internacionais: Regiões dos mares e oceanos que não estão sob tutela de NENHUM país . Ou seja, posse internacional, de todo mundo e de ninguém ao mesmo tempo. https://missaopapacharlie.org/ 13 MISSÃO PAPA CHARLIE Águas Estrangeiras: Mares e oceanos sob a soberania de OUTRO país , que não o Brasil. Ou seja, posse estrangeira. 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 1.5.1.1 Princípio do Pavilhão, da Representação ou da Bandeira É um princípio subsidiário. As embarcações e aeronaves são extensões do território do país em que estiverem registradas (bandeira). Os navios e aeronaves de guerra são extensões do território nacional. Assim, os crimes cometidos no interior deles terão aplicação das leis dos respectivos países. ATENÇÃO! Isto não se aplica aos delitos praticados fora das embarcações pelos tripulantes. Neste caso estarão sujeitos à jurisdição penal do Estado em cujo território se encontram. Além disso, quando houver deficiência legislativa ou desinteresse de quem deveria reprimir, aplica- se a lei do Estado em que está registrada a embarcação ou aeronave ou cuja bandeira ostenta aos delitos praticados em seu interior. 1.5.1.2 Navios e Aeronaves Públicas ou Privadas 1.5.1.2.1 Aeronaves e Embarcações NACIONAIS Para efeitos penais, o §1.º do art. 5.º do CP estabelece como extensão do território nacional as embarcações ou aeronaves brasileiras nas seguintes condições: Aeronaves e embarcações BRASILEIRAS , de NATUREZA PÚBLICA OU A SERVIÇO DO GOVERNO, são território nacional ONDE QUER QUE ESTEJAM . Aeronaves e embarcações BRASILEIRAS MERCANTES ou de PROPRIEDADE PRIVADA consideram-se parte do território nacional DESDE QUE ESTEJAM no alto-mar ou no espaço aéreo correspondente ao alto-mar. Os navios oficiais (chefe de Estado/representantes diplomáticos) são considerados extensões do território nacional (mesmo comando do Princípio do Pavilhão). Já aos navios privados (mercantes ou de propriedade privada) em mar de território estrangeiro aplica-se a lei do país estrangeiro em alto-mar, e em mar territorial brasileira, a lei brasileira é a aplicável. 1.5.1.2.2 Aeronaves e Embarcações ESTRANGEIRAS O § 2º estabelece que: § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Ou seja: https://missaopapacharlie.org/ 14 MISSÃO PAPA CHARLIE As AERONAVES ESTRANGEIRAS de NATUREZA PRIVADA em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente ao território nacional (dentro da coluna atmosférica correspondente ao território) submetem-se à lei brasileira; As EMBARCAÇÕES ESTRANGEIRAS de NATUREZA PRIVADA submetem-se à lei brasileira quando em PORTO ou em MAR TERRITORIAL do Brasil. ATENÇÃO! O Princípio da nacionalidade é aplicado INDEPENDENTEMENTE da nacionalidade do agente. Independente se tinham destino brasileiro ou se está só de passagem se estiver no Território Brasileiro e for PRIVADO será lei brasileira . 1.5.1.3 Princípios que Mitigam a Territorialidade O Código Penal adota o princípio da territorialidade TEMPERADA ou MITIGADA por haverem exceções ao princípio da territorialidade. A estas será aplicada a extraterritorialidade. 1.5.2 Extraterritorialidade É quando a lei brasileira é aplicada no exterior. Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados . Este dispositivo descreve situações em que a lei brasileira se aplica a fatos que não foram praticados dentro do território nacional, mas que ainda assim o Brasil se reserva o direito de julgá-los. 1.5.2.1 Princípio Real ou de Proteção Considera a nacionalidade do bem jurídico ofendido ou lesado pelo crime, pouco importando o local da prática do delito ou a nacionalidade do agente. 1.5.2.2 Princípio da Justiça Universal ou Cosmopolita O Estado tem o poder de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do agente ou da vítima, ou local de sua prática. Princípio característico da cooperação penal internacional, porque permite a punição, por todos os Estado, de todos os crimes que forem objeto de tratados e de convenções internacionais (Artigo 7º, II, a, do CP.) https://missaopapacharlie.org/ 15 MISSÃO PAPA CHARLIE Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: II - os crimes: que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; 1.5.2.3 Extraterritorialidade Incondicionada. São hipóteses em que a lei brasileira é aplicada, INDEPENDENTEMENTE DE QUALQUER CONDIÇÃO, conforme o art. 7º, I do Código Penal, que dispõe: Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquiaou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 1.5.2.4 Extraterritorialidade Condicionada. As hipóteses arroladas no inciso II do art. 7.º do Código Penal contêm situações em que o Brasil também pune fatos praticados fora do território nacional. Contudo, a incidência da norma penal brasileira e a ação penal em tribunal pátrio impõem a implementação das condições previstas no §2.º do art. 7.º do Código Penal. § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; (na lei brasileira) d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro CONTRA BRASILEIRO fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve REQUISIÇÃO do Ministro da Justiça . Extraterritorialidade condicionada exige certas condições, a incondicionada, não. https://missaopapacharlie.org/ 16 MISSÃO PAPA CHARLIE Condicionada (Art. 7º, II) Incondicionada (Art. 7º, I) Hipóteses Hipóteses Crimes que por tratado ou convenção, o Brasil se obriga a reprimir Os crimes contra a vida ou liberdade do presidente (condenado aqui no Brasil, mesmo que seja absolvido no exterior). Praticados por brasileiros Os crimes contra o patrimônio ou fé pública da administração Praticados em navios ou aeronaves nacionais ou internacionais, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Os crimes contra a administração por quem estiver a serviço dela Crimes praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do brasil, se, reunidas as condições: Genocídio (agente brasileiro ou domiciliado no Brasil) Não foi pedida ou negada a extradição; Houve requisição do ministro da justiça. Condições: Condições: Entrar o agente no território nacional NÃO EXISTEM O agente é punido pela lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. Ser o fato punível onde foi praticado Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição Não Ter Sido Absolvido No Estrangeiro Ou Não Ter Aí Cumprido Pena (Cumprimento Parcial – Art. 8º Do Cp) Não ter sido perdoado no estrangeiro ou extinta a punibilidade pela lei + favorável 1.5.2.5 Princípio da Nacionalidade ou da Personalidade Aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente, pouco importando o local em que o crime foi praticado; Personalidade Ativa: caso em que se considera somente a nacionalidade do autor do delito (art. 7º, II, b, do CP). Personalidade Passiva: aplica a lei ao nacional que comete crime no exterior, lesando bem jurídico de outro cidadão nacional ou de seu próprio Estado. Nesta hipótese importa somente se a vítima do delito é nacional (art. 7º, § 3º, do CP). Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. As hipóteses arroladas no inciso I do art. 7.º do Código Penal elencam situações em que se aplica a lei brasileira, ainda que tribunal estrangeiro já tenha conhecido o fato e condenado, ou absolvido, o seu autor (conforme §1.º do art. 7. do CP). Considera-se aqui a extraterritorialidade incondicionada. § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. 1.5.2.6 Princípio da Defesa (ou Real) https://missaopapacharlie.org/ 17 MISSÃO PAPA CHARLIE Aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado . Não importa a nacionalidade dos envolvidos, nem o local do crime. No caso da lei brasileira, ela se aplica quando o crime for praticado em detrimento de bem de natureza pública (interesses do Estado). 1.6 Pena Cumprida no Estrangeiro. ATENÇÃO! SENTENÇA ESTRANGEIRA NÃO FAZ COISA JULGADA NO BRASIL. Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Há situações em que os crimes cometidos fora do Brasil, ainda que já julgados no estrangeiro, serão novamente processados no Poder Judiciário brasileiro. Nestes casos, quando houver nova condenação, agora pela lei brasileira, a pena cumprida no estrangeiro abaterá a pena que for imposta no Brasil, na forma deste artigo . Ou seja, admitindo-se que o réu seja condenado no Brasil por crime pelo qual já foi processado e condenado no exterior (nas hipóteses de extraterritorialidade do art. 7.º do CP), a pena cumprida no estrangeiro irá alterar a pena imposta no Brasil: Sendo assim, a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada quando idênticas. Se as penas forem IDÊNTICAS: a pena cumprida no estrangeiro será abatida na que restar fixada no Brasil (ex. duas privativas de liberdade). Se as penas forem DIFERENTES: - aquela cumprida no estrangeiro deve atenuar a pena imposta no Brasil, a critério a ser adotado pelo juiz (ex. uma pena restritiva de direitos e outra privativa de liberdade). 1.7 Eficácia de Sentença Estrangeira Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: I - Obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II - Sujeitá-lo a medida de segurança. Parágrafo único - A homologação depende: a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; https://missaopapacharlie.org/ 18 ExtraterritorialidadeExtraterritorialidade IncondicionadaIncondicionada Penas Indênticas: Compensação Penas Indênticas: Compensação Penas Diferentes: Atenuada Penas Diferentes: Atenuada CondiconadaCondiconada Pena Cumprida: Ok! O Brasil não pune Pena Cumprida: Ok! O Brasil não pune MISSÃO PAPA CHARLIE b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. Em determinadas hipóteses, o Brasil reconhece em seu território os efeitos da sentença proferida por outra nação. Alguns desses efeitos são incondicionais, já que não dependem de qualquer provimento judicial para que se tornem efetivos. Como exemplo tem-se: A reincidência (art. 63 do Código Penal); Detração em relação ao tempo de prisão em país estrangeiro (art. 42 do Código Penal). Outros efeitos só serão reconhecidos no território nacional quando a sentença condenatória estrangeira for homologada pelo Superior Tribunal de Justiça – STJ (artigo 105, I, i, da CF - era STF, agora é STJ). 1.7.1 Limites dos efeitos de sentença estrangeira A execução de pena é ato de soberania; por isso, os efeitos de sentença estrangeira no Brasil são podem, ou não ser dependente de homologação do STJ.ATENÇÃO! Não se aplicam aqui as leis estrangeiras e seus julgados também não podem ser executados. 1.7.1.1 Efeitos que DEPENDEM de Homologação do STJ Os efeitos que sentença penal estrangeira produz no País são: a) Aplicação de medida de segurança ; b) Ressarcimento do dano ou restituição civil, necessitando para tanto da homologação do Superior Tribunal de Justiça (art. 105, i, i, da CF; arts. 787 a 790 do CPP). Esses efeitos ainda dependem da satisfação das condições exigidas no parágrafo único. 1.7.1.2 Efeitos que NÃO DEPENDEM de Homologação do STJ a) Reconhecimento da reincidência (art. 63); b) Requisito para a extraterritorialidade (art. 7º, § 2º, d e e, do cp). Para esses efeitos, não é necessária a homologação, sendo suficiente a comprovação legal da existência da condenação. O objetivo da homologação da sentença deve voltar-se à pretensão de se obrigar o condenado à reparação dos danos civis, restituições e outros efeitos civis, ou, ainda, quando se pretende sujeitar o condenado à imposição de medida de segurança. Para ser homologada no Brasil, a sentença estrangeira está sujeita a duas condições: 1º - A lei brasileira tem que prever as mesmas consequências; 2º - A sentença tem que ter transitado em julgada no país de origem (súmula 420 STF). Art 9º (...) Parágrafo único - A homologação depende: As Hipóteses de aplicação (mantidas as condições supracitadas): a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; Reparação de danos civis, restituições, etc: Tem que ter pedido da parte interessada, pois depende de requerimento da parte interessada https://missaopapacharlie.org/ 19 MISSÃO PAPA CHARLIE b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. Imposição de medida de segurança: impõe a existência de tratado de extradição entre o Brasil e o país de origem da sentença ou requisição do Ministro da Justiça. OBS: A sentença estrangeira homologada no Brasil vale como Título Executivo Judicial (declaração de que há um crime pelo qual a pessoa deve ser condenada). 1.8 Contagem de Prazo. Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Os prazos de direito penal começam sua contagem no mesmo dia em que os fatos ocorreram, independentemente de tratarem-se de dia útil ou feriado, encerrando-se também desse modo. NÃO SE CONSIDERA SE SÃO DIAS ÚTEIS OU NÃO . Além disso, qualquer que seja a fração (horas), conta como um dia inteiro. O prazo penal é IMPRORROGÁVEL (mesmo que termine em dia não útil), o que não impede a suspenção ou interrupção do prazo (ex: prescrição). 1.8.1 Contagem dos Dias: 1.8.2 Contagem dos Meses: Não importa o número de dias de cada mês, o que vale é o calendário. A contagem dos meses é feita até a véspera do mesmo dia do mês subsequente. 1.8.3 Contagem dos Anos: Ano conta até o mesmo mês do ano seguinte. https://missaopapacharlie.org/ 20 1º dia 2º dia 3º dia 00:00 do dia 01/01/2001 00:00 do dia 02/01/2001 00:00 do dia 03/01/2001 1º mês 2º mês 3º mês 14 Janeiro (30 dias) 13 Fevereiro (28 dias) 12 Março (31 dias) 1º ano 2º ano 3º ano 15 janeiro 2015 14 janeiro de 2016 13 janeiro de 2017 MISSÃO PAPA CHARLIE Se a norma for mista (penal + processo penal) deve prevalecer a norma penal da contagem da pena. ATENÇÃO!!! Sempre deve ser considerada na operação a diminuição de um dia em razão de ser computado o dia do começo. Desta forma, se a pena é de um ano e teve início em 20 de setembro de 2009, estará integralmente cumprida em 19 de setembro de 2010. O prazo sempre terá natureza penal quando guardar pertinência com o jus puniendi , ou seja, a pretensão punitiva do Estado. 1.9 Frações não Computáveis da Pena Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia (horas) , e, na pena de multa, as frações de cruzeiro (centavos) . As horas, os minutos e os segundos (frações de dias) não são consideradas para efeito de contagem da pena. Nas penas de multa, as frações de Reais (R$), seus centavos, também não são considerados. 1.9.1 Legislação Especial Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 1.10 Diferenças entre Qualificadoras, Agravantes e Causas de Aumento de Pena: 1.10.1 Qualificadora Aumenta diretamente a pena base em um quantum já delimitado, ou seja, define a pena de acordo com o crime praticado e de modo exato. Ex.: Observe o Furto, Art. 155 do CP - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Entretanto, o §4º, do art. 155, do CP, traz as qualificadoras, e a pena passa a ser de Reclusão de 2 a 8 anos e multa. Furto qualificado § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; https://missaopapacharlie.org/ 21 Prazo Penal Inclui o dia do início Prazo Processual Penal Exclui o dia do início e inclui o dia do vencimento. MISSÃO PAPA CHARLIE II - Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - Mediante concurso de duas ou mais pessoas. 1.10.2 Agravantes A disposição sobre as agravantes é feita de modo genérico na lei. Nesta espécie, o juiz verá as particularidades de cada caso. Estão descritas no art. 61 do CP: “São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: (...)”. Ex.: Art. 61 do CP - São circunstâncias que sempre AGRAVAM a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I - a reincidência; 1.10.3 Causas de Aumento A lei também prescreve as circunstâncias pelas quais a pena é aumentada e em quais crimes. Entretanto, a majoração será sempre em frações. Ex.: Art. 155 do CP - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. 1.11 Interpretação da Lei Penal Tem por finalidade buscar o alcance e exato significado da norma penal. A interpretação pode ser dada quanto ao SUJEITO, ao MODO ou ao RESULTADO. 1.11.1 Quanto ao Sujeito que a Elabora Autêntica ou legislativa: Feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração do texto. É contextual quando feita dentro de um dos seus dispositivos esclarecendo determinado assunto - ex.: conceito de funcionário público existente no art. 327, ou posterior, quando a lei interpretadora entra em vigor depois da interpretada. A lei interpretativa tem efeito ex tunc uma vez que apenas esclarece o sentido da lei. Doutrinária: é feita pelos estudiosos, professores e autores de obras de direito, através de seus livros, artigos, conferências, palestras etc. Judicial: é feita pelos tribunais e juízes em seus julgamentos. 1.11.2 Quanto ao Modo: Gramatical: leva em conta o sentido literal das palavras contidas na lei. Teleológica: busca descobrir o seu significado através de uma análise acerca dos fins a que ela se destina. Histórica: avalia os debates que envolveram sua aprovação e os motivos que levaram à apresentação do projeto de lei. https://missaopapacharlie.org/22 MISSÃO PAPA CHARLIE Sistemática: busca o significado da norma através de sua integração com os demais dispositivos de uma mesma lei e com o sistema jurídico como um todo. 1.11.3 Quanto ao Resultado: Declarativa: quando se conclui que a letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer. Restritiva: quando se conclui que o texto legal abrangeu mais do que queria o legislador (por isso a interpretação irá restringir seu alcance). Extensiva: quando se conclui que o texto da lei ficou aquém da intenção do legislador (por isso a interpretação irá ampliar sua aplicação). 1.11.4 Princípio do “in dubio pro reo”: Se persistir dúvida, após a utilização de todas as formas interpretativas, a questão deverá ser resolvida da maneira mais favorável ao réu. Para alguns autores, só se aplica no campo de apreciação de provas, nunca na interpretação da lei. 1.12 Analogia É o que acontece quando não há lei específica para o caso concreto, então emprestamos lei criada para caso semelhante, ou quando lei existente não tiver previsto o caso concreto. Ou seja, c onsiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei (lacuna da lei) a disposição relativa a um caso semelhante. A analogia é também conhecida por integração analógica, suplemento analógico e aplicação analógica. Exemplificando: O legislador, através da lei A, regulou o fato B; o julgador precisa decidir o fato C. Procura e não encontra no direito positivo uma lei adequada a este fato. Percebe, porém, que há pontos de semelhança entre o fato B (regulado) e o fato C (não regulado). Então, através da analogia, aplica ao fato C a lei A. É forma de integração da lei penal e não forma de interpretação. Analogia in malam partem: É aquela em que busca se suprir uma lacuna legal com algum dispositivo que possa prejudicial ao réu. Segundo o STJ e o STF. ISTO NÃO É POSSÍVEL NO NOSSO ORDENAMENTO JURÍDICO. Analogia in bonam partem: Neste caso, busca se suprir uma lacuna legal com algum dispositivo que possa beneficiar o réu e buscar absolve-lo ou amenizar sua pena. Este tipo de analogia é aceito em nosso ordenamento jurídico e desta forma já se posicionou o STF em diversos julgados. Portanto, em matéria penal, a analogia só pode ser aplicada em favor do réu (analogia in bonam partem), e ainda assim se ficar constatado que houve mera omissão involuntária (esquecimento do legislador) - ex.: o art. 128, II, considera lícito o aborto praticado por médico “se a gravidez resulta de estupro” e a prática abortiva é precedida de consentimento da gestante, ou, quando incapaz, de seu representante legal; sendo ela resultante de “atentado violento ao pudor”, não há norma a respeito, sendo assim, aplica-se a analogia “ in bonam partem”, tornando a conduta lícita. Não se admite o emprego de analogia em normas incriminadoras, uma vez que pode violar o princípio da reserva legal . A analogia aplicada a norma penal incriminadora fere o princípio da reserva legal, uma vez que fato não definido em lei como crime estaria sendo considerado como tal. https://missaopapacharlie.org/ 23 MISSÃO PAPA CHARLIE ATENÇÃO!!! Em regra, não se deve usar a analogia em direito penal. EXCEPCIONALMENTE pode-se usar a analogia in bonam partem. 1.12.1 Interpretação Analógica (“Intra Legem”): É possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma sequência casuística, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriores - ex.: o crime de “estelionato”, de acordo com a descrição legal, pode ser cometido mediante artifício, ardil ou “qualquer outra fraude”; o art. 28, II, estabelece que não exclui o crime a embriaguez por álcool ou por “substâncias de efeitos análogos”. 1.12.2 Distinção Entre Analogia, Interpretação Extensiva e Interpretação Analógica 1.12.2.1 Analogia Na ANALOGIA não há norma reguladora para a hipótese. 1.12.2.1.1 Interpretação Analógica A INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA permite incluir inúmeras situações semelhantes. É diferente de Analogia, que pega algo que já existe e assemelha ao ocorrido . Nesse caso, a lei é abrangente e permite múltiplas situações. Ex: Art 121 Matar alguém. § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa (sicário), OU POR OUTRO MOTIVO TORPE; 1.12.2.2 Interpretação Extensiva Na INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA , existe norma reguladora para a hipótese, contudo tal norma não menciona expressamente sua eficácia, devendo o intérprete ampliar seu significado além do que estiver expresso. Ex: Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de ARMA; A lei não define o tipo de arma antão até um pau serve . Vale até mesmo que a arma seja falsa, pois a intensão de assustar a vítima é atingida e, para a vítima, a ameaça é grave. 1.12.2.2.1 Espécies a) Legal ou legis: o caso é regido por norma reguladora de hipótese semelhante. b) Jurídica ou juris: a hipótese é regulada por princípio extraído do ordenamento jurídico em seu conjunto. c) In bonam partem d) In malam partem 1.12.2.2.1.1 In bonam partem https://missaopapacharlie.org/ 24 MISSÃO PAPA CHARLIE A analogia é empregada em BENEFÍCIO do agente. HC/97676 - 03/08/2009: É perfeitamente aplicável a analogia in bonam partem, a fim de extinguir a punibilidade do réu, garantindo-se a aplicação do princípio da isonomia, pois é defeso ao julgador conferir tratamento diverso a situações equivalentes. 1.12.2.2.1.2 In malam partem a analogia é empregada em prejuízo do agente. Isto não é possível no nosso ordenamento jurídico STJ - REsp 956.876/RS - 2007/0124539-5: Não cabe ao Julgador aplicar uma norma, por assemelhação, em substituição a outra validamente existente, simplesmente por entender que o legislador deveria ter regulado a situação de forma diversa da que adotou; não se pode, por analogia, criar sanção que o sistema legal não haja determinado, sob pena de violação do princípio da reserva legal. 1.13 Irretroatividade da Lei Penal. Princípio da Irretroatividade da Lei está na constituição Art. 5.º XL- A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Salienta-se que quando duas ou mais legislações tratarem do mesmo assunto de modo distinto, estaremos diante do famoso conflito de leis penais no tempo. Este conflito tem de ser resolvido através de dois outros princípios. São eles: 1.13.1 Irretroatividade da Lei mais severa: Ex: Lei “A”, já revogada, estabelece pena de 8 anos e lei “B”, vigente, de 12 anos. Esta última não retroagirá. Deve-se observar que há exceções, como, por exemplo, a aplicação da lei vigente (mesmo que mais grave) aos crimes permanente e continuado , conforme preceitua a Súmula 711 do STF; e nas leis penais intermitentes (temporária e excepcional. 1.13.2 Retroatividade da Lei mais benéfica: Lei “A”, já revogada, estabelece pena de 12 anos e lei “B”, vigente, de 4 anos. Esta última retroagirá. 1.14 Conflito Aparente de Normas Penais O conflito aparente de normas ocorre quando duas ou mais normas se assemelham e, por isso, aparentemente são aplicáveis ao mesmo caso. Assim, cabe ao intérprete verificar em qual tipo penal se enquadra determinada conduta. Segundo a doutrina, os elementos caracterizadores do conflito aparente de normas são: a) A unidade do fato (se a ação/omissão qualifica um só crime, ou se é mais de um); b) Pluralidade de normas (várias normas que abordam a mesma ação/omissão);c) Aparente aplicação de todas as normas (concurso de crimes aparente); d) Efetiva aplicação de apenas uma delas . Há quem entenda que a alternatividade de núcleos verbais configurando um único tipo penal (como tráfico de drogas que aceita vários verbos como núcleo do tipo) caracterize o conflito aparente de normas, mas ESSE ENTENDIMENTO NÃO É ADOTADO PELO CESPE. https://missaopapacharlie.org/ 25 MISSÃO PAPA CHARLIE 1.14.1 Princípio da Especialidade A normal especial tem tudo que a geral tem e mais um pouco. Sua particularidade se aplica a questões mais especificas que a norma geral. Ex: Homicídio (norma geral) X Infanticídio (norma especial) Portanto, em caso de conflito de normas, o operador deverá comparar os tipos penais e encontrar os elementos gerais e especiais. No caso se existirem elementos especiais, a norma especial deverá sobressair à norma geral. 1.14.2 Princípio da Subsidiariedade Aplica-se o tipo penal subsidiário quando a conduta não se subsume perfeitamente ao tipo penal principal, mais abrangente. Para tanto, o intérprete compara normas para definir a melhor. Quer dizer que há dois ou mais delitos autônomos que descrevem o fato, de modo que o operador deverá interpretá-los e concluir que um delito será subsidiário (norma menos abrangente), enquanto que outro será primário (norma mais abrangente). Subdivide-se em expresso e tácito. Ocorre a subsidiariedade EXPRESSA, quando a própria norma reconhecer seu caráter subsidiário, admitindo incidir somente se não ficar caracterizado o fato de maior gravidade. Exemplo, art. 132, CP: Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, se o fato não constituir crime mais grave. No caso da SUBSIDIARIEDADE TÁCITA a norma nada diz, mas, diante do caso concreto, verifica-se seu caráter secundário. Exemplo: crime de roubo em que a vítima, mediante emprego de violência, é constrangida a entregar a sua bolsa ao agente. Aparentemente, incidem o tipo definidor do roubo (norma primária) e o do constrangimento ilegal (norma subsidiária), sendo que o constrangimento ilegal, no caso, foi apenas uma fase do roubo, além do fato de este ser mais grave. 1.14.3 Princípio da Consunção ou Absorção https://missaopapacharlie.org/ 26 Conflito de normas Conflito de normas Princípio da Especialidade Princípio da Especialidade A norma especial deve sobressair à norma geral. A norma especial deve sobressair à norma geral. Princípio da Subsidiariedade Princípio da Subsidiariedade Um delito será subsidiário e o outro será primário. Um delito será subsidiário e o outro será primário. Princípio da Consunção ou Absorção Princípio da Consunção ou Absorção Ocorre quando um crime constitui o meio necessário, da preparação ou execução de outro. O mais grave absorve os demais. Ocorre quando um crime constitui o meio necessário, da preparação ou execução de outro. O mais grave absorve os demais. Princípio da Alternatividade Princípio da Alternatividade Quando várias ações ou omissões representam um único crime. Quando várias ações ou omissões representam um único crime. MISSÃO PAPA CHARLIE De acordo com a atual jurisprudência do STJ, a aplicação do princípio da consunção pressupõe a existência de ilícitos penais que funcionem como fase normal de preparação ou de execução de outro crime com evidente vínculo de dependência ou subordinação entre eles. Ao contrário do que ocorre no princípio da especialidade, aqui não se reclama a comparação abstrata entre as leis penais. Comparam-se os fatos, inferindo-se que o mais grave consome os demais, sobrando apenas a lei penal que o disciplina. Quando a norma definidora de um crime constitui o meio necessário, ou fase normal, da preparação ou execução de outro crime, aplica-se o princípio da consunção. O operador compara os fatos e o mais grave absorve os demais. Ex: lesões corporais que são absorvidas pela tipificação do delito de homicídio. ATENÇÃO!! No crime de homicídio por arma de fogo, para o STJ: Se adquirir arma de fogo SOMENTE para o homicídio aplica-se o princípio da CONSUNÇÃO E SÓ RESPONDE POR HOMICÍDIO. Se já havia adquirido a arma de fogo para outro fim NÃO APLICA O PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO E RESPONDE PELOS DOIS CRIMES (porte de arma e homicídio). 1.14.4 Princípio da Alternatividade É aplicado quando a norma despuser de várias formas de realização do delito, de modo que, se o agente praticar um ou mais atos do delito, e desde que exista nexo causal entre as condutas os atos configuram em um único crime. Ex: Lei de drogas: Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: Se o agente cometer todas as ações supracitadas, ainda sim, o crime é um só, o Tráfico De Drogas ATENÇÃO!! Princípio da Subsidiariedade X Princípio da Consunção https://missaopapacharlie.org/ 27 CrimeCrime ProgressivoProgressivo 1 crime com várias ações delituosas para uma vontade 1 crime com várias ações delituosas para uma vontade Ex: Homicídio com arma de fogo (porte ilegal) Ex: Homicídio com arma de fogo (porte ilegal) ComplexoComplexo Fusão de duas condutas para formar um tipo novo. Fusão de duas condutas para formar um tipo novo. Ex: Latrocínio (roubo + homicídio) Ex: Latrocínio (roubo + homicídio) Progressão criminosa Progressão criminosa Pluralidade de designos (vontade). o agente pratica um crime e depois outro. Pluralidade de designos (vontade). o agente pratica um crime e depois outro. Ex: Homicídio e depois furto Ex: Homicídio e depois furto MISSÃO PAPA CHARLIE Crime Progressivo X Progressão Criminosa 2. INFRAÇÃO PENAL 2.1 Relação de causalidade Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão SEM A QUAL o resultado não teria ocorrido. Só se pune o agente pelo crime que ele queria ou assumiu o risco de cometer (elemento subjetivo). 2.1.1 Superveniência de causa independente § 1º- A superveniência de causa relativamente independente EXCLUI A IMPUTAÇÃO quando, POR SI SÓ, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. Em outras palavras: é uma causa que veio depois, está ligada, mas é totalmente independente. Há uma vítima e dois crimes, geralmente sequenciais e desconectados. Ex: No caso de uma briga em que um dos envolvidos morre em decorrência dos ferimentos, ainda que está não tenha sido a intenção do agressor, ele responderá pelo resultado. https://missaopapacharlie.org/ 28 Comparam-se as NORMAS para escolher a mais abrangente à situação Comparam-se os FATOS para chegar ao mais grave que irá definir a norma. Tem uma vontade e comete vários delitos para atingir o objetivo. Tem uma vontade. Consegue o que quer e, então, se aproveita da situação para cometer outro delito. MISSÃO PAPA CHARLIE 2.1.1.1 Caso Fortuito É quando um elemento externo ao crime, gera o resultado pretendido ou outro diverso. Ex: A atira em B, com a intensão de mata-lo. B é levado para o hospital e, no caminho, morre em decorrência de um acidente de trânsito que envolveu a ambulância. A responderá portentativa de homicídio, pois, apesar de a intenção de matar , houve quebra do nexo entre a ação e o resultado. 2.1.1.2 Força Maior É quando um elemento externo ao crime, inevitável e imprevisível gera o resultado pretendido ou outro diverso. Ex: A atira em B, com a intensão de mata-lo. B é levado para o hospital e lá morre em decorrência de um tiro de bala perdida. A responderá por tentativa de homicídio, pois, apesar de a intenção de matar , houve quebra do nexo entre a ação e o resultado e a morte foi provocada por razão inevitável. 2.1.1.2.1 Cirurgia STF e STJ entendem que, caso a vítima morra em decorrência de cirurgia necessária para reverter quadro de morte (vítima de tiro na cabeça) o agente responderá pelo crime de homicídio consumado, pois NÃO HÁ QUEBRA DO NEXO CAUSAL. Mas, caso a morte seja resultado de erro médico, então HÁ QUEBRA DO NEXO CAUSAL e o médico responde pelo homicídio culposo (imprudência/imperícia) e o agente responderá por tentativa de homicídio. 2.1.1.2.2 Infecção hospitalar A atira em B, com a intensão de mata-lo. B é levado para o hospital e, durante ou após o tratamento de ferimento decorrente de agressão, vítima more em decorrência de infecção hospitalar. Neste caso, o STF e STJ entendem que NÃO HÁ QUEBRA DO NEXO CAUSAL e o agente responderá por homicídio doloso. https://missaopapacharlie.org/ 29 AçãoAção Resultado imediato Resultado imediato Responde pelo crime que quis cometer. Responde pelo crime que quis cometer. Intervenção (socorro) Intervenção (socorro) Resultado postergado Resultado postergado Caso FortuitoCaso Fortuito Força MaiorForça Maior CirurgiaCirurgia Infecção Hospitalar Infecção Hospitalar MISSÃO PAPA CHARLIE 2.2 Relevância da Omissão § 2º- A omissão é penalmente relevante quando o omitente DEVIA E PODIA AGIR para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei OBRIGAÇÃO DE CUIDADO, PROTEÇÃO ou VIGILÂNCIA; Polícia, Bombeiro, agente penitenciário, médico, enfermeiro, pais que abandonam os filhos, etc. b) de outra forma, ASSUMIU a responsabilidade de impedir o resultado; Segurança, mãe/pai/baba de bebê, tutor, guardião, etc. c) com seu comportamento anterior, CRIOU O RISCO DA OCORRÊNCIA DO RESULTADO. Quando o agente assume a responsabilidade por uma algo que não consegue fazer e, assim, gera o resultado (ex: chamar alguém que não sabe nadar para nadar, dando garantia que consegue ajuda-lo. No entanto, em alto mar a pessoa começa afogar e n. O agente responde por imprudência, negligência ou imperícia. 2.2.1 Agente Garantidor (Garante). É o agente que tem o poder/dever (imposto por lei) de agir. Em uma situação em que ele tenha o poder/dever de impedir o resultado e se omite, ele responderá pelo resultado. 2.3 Elementos do Crime 2.3.1 Crime O crime é um gênero de infração que se divide em duas partes (dualista ou dicotomia): Crime (previsto no CP e nas leis especiais ou extravagantes) e contravenção penal (previsto no código de contravenção penal). A diferença está na pena. Infração Penal ≠ Infração Administrativa Crime = Delito Contravenção Penal = Crime Anão ≠ Previlégio e Princípio da Insignificância. NÃO é crime de pequeno potencial ofensivo. https://missaopapacharlie.org/ 30 ≠Infração PenalInfração Penal CrimeCrime Contravenção Penal Contravenção Penal MISSÃO PAPA CHARLIE Na prática, não existe hoje diferença essencial entre reclusão e detenção. A lei, porém, usa esses termos como índices ou critérios para a determinação dos regimes de cumprimento de pena. Reclusão: Se a condenação for de reclusão, a pena é cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. Detenção: Na detenção, cumpre-se em regime semiaberto ou aberto, salvo a hipótese de transferência excepcional para o regime fechado. Prisão Simples: A prisão simples é prevista para as contravenções penais e não para crimes. Pode ser cumprida nos regimes semiaberto ou aberto, NÃO SENDO CABÍVEL O REGIME FECHADO. OBS: O princípio da Insignificância não é crime, nem contravenção penal. É fato ATÍPICO. Princípio da Insignificância: também chamado de (crime de bagatela) o princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como um crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu e não apenas na diminuição e substituição da pena ou não sua não aplicação. Para ser utilizado, faz-se necessária a presença de certos requisitos: Mínima ofensividade da conduta do agente, Nenhuma periculosidade social da ação, Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento Inexpressividade da lesão jurídica provocada (exemplo: o furto de algo de baixo valor). ATENÇÃO! Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, para se caracterizar hipótese de aplicação do denominado “princípio da insignificância” e, assim, afastar a recriminação penal, é indispensável que a conduta do agente seja https://missaopapacharlie.org/ 31 CrimeCrime ReclusãoReclusão Mais pesado que detenção. Mais pesado que detenção. A pena começa em regime fechado. A pena começa em regime fechado. DetençãoDetenção A pena pode começar em regime semi-aberto. A pena pode começar em regime semi-aberto. Contravenção PenalContravenção Penal Prisão SimplesPrisão Simples MultaMulta MISSÃO PAPA CHARLIE marcada por ofensividade mínima ao bem jurídico tutelado, reduzido grau de reprovabilidade, inexpressividade da lesão e nenhuma periculosidade social. Princípio da Intervenção Mínima (ou da subsidiariedade): Estabelece que o Direito Penal só deve atuar na defesa dos bens jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica das pessoas e que não podem ser eficazmente protegidos de forma menos gravosa. Desse modo, a lei penal só deverá intervir quando for absolutamente necessário para a sobrevivência da comunidade, como última ratio. O princípio da intervenção mínima é o responsável não só pelos bens de maior relevo que merecem a especial proteção do Direito Penal, mas se presta, também, a fazer com que ocorra a chamada “descriminalização”. Se é com base neste princípio que os bens são selecionados para permanecer sob a tutela do Direito Penal, porque considerados como de maior importância, também será com fundamento nele que o legislador, atento às mutações da sociedade, que com sua evolução deixa de dar importância a bens que, no passado, eram da maior relevância, fará retirar do ordenamento jurídico-penal certos tipos incriminadores. 2.3.2 Teoria do Crime A teoria do crime é tripartida (exige três elementos para considerar o fato um crime). Para que um indivíduo tenha a real capacidade de cometer uma infração penal é importante entender alguns conceitos básicos: a) Deve existir uma conduta humana, ou seja, somente seres humanos possuem a capacidade de agredir, seres irracionais (animais) somente atacam. Contudo, caso um animal seja utilizado para o fim de atacar por uma pessoa, essa estará cometendo um crime. Exemplo: Homem que atiça seu cão contra seu inimigo. https://missaopapacharlie.org/ 32 Infração PenalInfração Penal Conduta HumanaConduta Humana Ataque (quando não tem conduta humana) Ataque (quando não tem conduta humana) Agressão (quando tem conduta humana) Agressão (quando tem conduta humana)ConscienteConsciente VoluntáriaVoluntária
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