Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
OPORTUNIDADES E DESAFIOS DA ATIVIDADE DE CABOTAGEM NO BRASIL: UM LEVANTAMENTO DO POTENCIAL DA CABOTAGEM VOLTADO À INTEGRAÇÃO ENTRE MODAIS E SEUS RESPECTIVOS GARGALOS ATRAVÉS DOS COMPONENTES LOGÍSTICOS OPERACIONAIS Ramon Gabriel Duarte de Oliveira (UEPA ) Ramon.eng@hotmail.com.br RODRIGO FERNANDO PINHEIRO (UEPA ) rodrigopinheiro.eng@gmail.com O presente estudo busca mapear o cenário atual da atividade de cabotagem brasileira, evidenciando as oportunidades e desafios da mesma. Para isso, foram levantados dados relacionados à integração entre modais, sondando os gargalos existentees com base nos componentes logísticos operacionais. Inicialmente, definiram-se os conceitos de cabotagem, intermodalidade e dos componentes logísticos operacionais, servindo como base para a caracterização do cenário em questão. Para a caracterização, foram analisados os seguintes componentes logístico operacionais presentes na atividade de cabotagem: Instalações, caracterizando os portos brasileiros, atividades e equipamentos utilizados na mesma; Estoques, mostrando- se quase que em sua totalidade a estocagem de granéis líquidos e sólidos e a qualidade observada no nível de serviço em relação a manutenção da integridade das cargas; Transportes, caracterizou-se a infraestrutura, com relação aos navios utilizados e suas respectivas capacidades; Informações, com o mapeamento dos processo burocráticos presentes na atividade. Por fim, foram propostas melhorias direcionadas aos componentes logísticos operacionais presentes na atividade de cabotagem ligados à intermodalidade, priorizando o componente Informação, propondo a desburocratização, facilitando a intermodalidade e agilizando o processo como todo. Palavras-chave: Cabotagem, Componentes Logísticos Operacionais, Intermodalidade XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 2 1. Introdução Em relação à logística brasileira, os modais que podem ser incorporados e/ou melhorados com características que permitam contribuir para redução do custo total e que ainda possam integrar atributos sustentáveis as operações logísticas, mostram-se estratégicos. Nesse cenário, a atividade de cabotagem revela-se como uma opção consistente para um país, que como o Brasil, disponibiliza em sua extensão territorial com uma costa de 7400 km e com crescimento econômico ainda concentrado na região litorânea (CNT, 2013). Segundo ANTAQ (2013) há um conjunto de 42 empresas aptas para a navegação de cabotagem e que disponibilizam uma frota de 155 embarcações com capacidade instalada de transporte de 3 milhões de toneladas e com idade média de 16,5 anos. Com essas características, entre 2010 e 2012 houve o transporte de 402 milhões de toneladas, com alta concentração para granéis líquidos e sólidos, representando 92 % das cargas transportadas, sendo o restante para cargas soltas e conteinerizadas (CNT, 2013; ANTAQ, 2013). Porém, ao analisar os números supracitados e o potencial da cabotagem brasileira, é possível classificá-la com baixo grau de eficiência, considerando sua capacidade. Segundo CNT (2013) esse panorama é reflexo das altas tarifas, elevada burocracia nas operações e carência da infraestrutura portuária, idade elevada da frota, além do número bastante limitado de embarcações. Nesse sentido, o presente trabalho busca caracterizar integração da atividade de cabotagem brasileira em relação a outros meios de transporte, através dos seus componentes logísticos, buscando expor suas possíveis potencialidades e gargalos. Para tanto, houve um levantamento teórico em livros, artigos e sites como meio de inferir possíveis respostas sobre indagações inerentes ao título do artigo. Assim, como canal sistematizador à abordagem do estudo, o artigo foi dividido em 5 seções. Sendo a primeira uma introdução ao tema estudado e, em seguida, uma segunda seção com levantamento bibliográfico e documental, para embasar deduções da integração de modais e cabotagem nacional. Para caracterização do estudo tem-se a terceira seção, evidenciando a metodologia da pesquisa estudada. Nesse contexto, na quarta seção buscou-se analisar e XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 3 propor as potencialidades e gargalos da cabotagem em relação à sua integração a outros modais através dos seus componentes logísticos operacionais. A última seção limitou-se a expor considerações finais sobre o artigo. 2. Referencial teórico 2.1 Definição de Cabotagem De acordo com a legislação brasileira, a navegação de cabotagem é definida através da Lei Nº 9.432, de 8 de janeiro de 1997 Art. 2º, IX. Art. 2º, IX navegação de cabotagem: a realizada entre portos ou pontos do território brasileiro, utilizando a via marítima ou esta e as vias navegáveis interiores (BRASIL, 1997). 2.2 Intermodalidade A integração entre modais é explorada atualmente com o intuito de redução de custos e otimização da cadeia logística, tendo em vista o tamanho e a diversidade geográfica do Brasil, são de suma importância para o desenvolvimento da mesma no país. De acordo com Ribeiro e Ferreira (2002) intermodalidade pode ser definida como a integração entre modais, com o uso de vários equipamentos, como conteiners. (...) A integração entre modais pode ocorrer entre vários modais: aéreo-rodoviário, ferroviário- rodoviário, aquário-ferroviário, aquário-rodoviário ou ainda mais de dois modais. Dessa forma, a combinações entre modais visam obter vantagens da economia de cada um e, assim, fornece um serviço integrado com um custo total mais baixo (BOWERSOX; CLOSS; COPPER, 2007). Para Chopra e Meindl (2003), é fundamental que o transporte intermodal crie uma relação entre preço/serviço que não pode ser oferecida por um único meio de transporte isolado. Em continuidade, Chopra e Meindl (2003) indicam como questões chaves na indústria intermodal a oferta de intercâmbio de informação para facilitar as transferências de cargas entre os diferentes meios, pois estas operações podem gerar atrasos, prejudicando o tempo de entrega. 2.3 Histórico da cabotagem brasileira XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 4 De acordo com CNT (2013), o desenvolvimento da navegação de cabotagem no Brasil tem uma forte relação com a história do país. Sua origem remonta à chegada dos portugueses e está intrinsecamente relacionada à existência de uma extensa costa marítima e ao processo de colonização, realizado a partir de uma estrutura de povoamento do litoral para o interior, com o estabelecimento de feitorias e, posteriormente, de capitanias hereditárias (Figura 1). A essa época, a cabotagem representava a única forma de interligar os portos brasileiros para a realização das atividades comerciais internas. Como se observa na citação a cima, a importância da cabotagem para o Brasil foi evidenciada junto ao seu descobrimento, sendo primordial para a colonizaçãoe desenvolvimento comercial interno do país. Fatos estes nos levam a pensar qual o motivo, após um longo tempo, da navegação de cabotagem ainda não ser utilizada de acordo com seu potencial no Brasil. 2.4 Componentes Logísticos Operacionais Fator chave para o alcance da liderança logística é o conhecimento da arte de combinar a competência operacional com as expectativas e solicitações fundamentais dos clientes. Essa competência permite agregação de valor ao longo dos processos logísticos até ao consumidor final (BOWERSOX; CLOSS; COPPER, 2007) Dessa maneira, os processos de gerenciamento eficiente das operações logísticas estão na habilidade de utilizar componentes logísticos de maneira que haja a adição de valor ao longo dos elos da cadeia de suprimento. Para Oliveira et al. (2015) apud Alencar e Melo (2012), a classificação dos componentes logísticos pode ser realizada em duas categorias: Operacionais e Estratégicos. Os componentes operacionais são aqueles fortemente ligados às atividades logísticas da organização, dessa maneira, sendo necessária sua análise para criação de estratégias logísticas, assim como, para melhoria do desempenho da cadeia de suprimentos em termos de responsividade e eficiência (CHOPRA E MEINDL, 2003). Para Oliveira et al. (2010) podem ser considerados como componentes estratégicos de desempenho, o custo e o nível de serviço, uma vez que são os indicadores gerados a partir destes dois componentes que são mais percebidos por fornecedores e clientes. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 5 Conforme Fleury, Wanke e Figueiredo (2000), Ballou (2006) e, em especial, Chopra e Meindl (2003) definem como componentes operacionais: a) Instalações Para Chopra e Meindl (2003), as instalações são os locais para ou de onde os estoques são transportados, dessa maneira, podendo o estoque ser transformado em outro estado (fabricação) ou ser armazenado até ser despachado para outro estágio (armazenagem). Estrategicamente, as operações comerciais, a quantidade, o tamanho e o relacionamento geográfico das instalações têm influência direta sobre a capacidade e o custo do serviço ao cliente (BOWERSOX; CLOSS; COPPER, 2007). Em consonância para Ballou (2006), indagações sobre quanto ao número, tamanho e localizações das instalações devem estar sempre interligadas em relação aos principais mercados a serem atendidos e o produto a ser estocado. b) Estoques Para Corrêa (2014), os estoques são o acúmulo de recursos materiais entre etapas de um processo de transformação e há quatro tipos básicos de estoques: Estoques de matérias-primas e suprimentos, estoques em processo, estoque de produto acabados e estoque de materiais para manutenção, reparo, consumo e movimentação. Os estoques são componentes existentes devidos às incertezas relacionadas às características da demanda. Todavia é importante entender as razões pelas quais os estoques surgem para fornecer quais são os motivos inevitáveis e quais são evitáveis, de forma que, que todos os motivos evitáveis possam constantemente ser combatidos e, em relação aos inevitáveis haja, o dimensionamento correto (CORRÊA, 2014). Através do exposto, Chopra e Meindl (2003) descrevem que o desvio entre suprimento e demanda, fornece ao estoque uma propriedade importante para aumentar a quantidade de demanda atendida por uma instituição, pois permite que sempre os produtos (bens ou serviços) estejam prontos e disponíveis no momento que o cliente desejar. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 6 Contudo, é necessária a definição de políticas de estoques, afim de que haja o fornecimento de um nível de serviço adequado às expectativas dos clientes. Assim, para Fleury; Wanke e Figueiredo (2000) as políticas de estoque necessitam ser formuladas abordando: 1) quanto pedir; 2) quando pedir; 3) quanto manter em estoques de segurança e 4) onde localizar, ainda em continuidade, para responder essas indagações, é necessário considerar o valor agregado do produto, a previsibilidade da demanda, exigências dos consumidores finais, prazo de entrega e disponibilidade do produto. c) Transporte Segundo Chopra e Meindl (2003), o meio de transporte é a maneira pela qual um produto é deslocado de um ponto a outro na rede da cadeia de suprimento. Porém, a forma como o material ou produto será transportado depende das vantagens e desvantagens relacionadas à infraestrutura de transporte, ao volume a ser transportado, aos canais logísticos existentes, à confiabilidade da entrega e aos custos de movimentação, além de pode ser acrescida outras variáveis (BERTAGLIA, 2009). A análise do meio de transporte torna-se importante, pois é ele que acarreta a maior contribuição, em muitos casos, em relação ao custo total em uma cadeia, dessa maneira, necessitando de um gerenciamento eficiente para que sempre haja a maximização de agregação de valor de lugar ao cliente (BARBOSA JUNIOR; LEITAO & MELO, 2009). Resumidamente, para o alcance da eficiência, considerando o ponto de vista logístico, três fatores são fundamentais para mensuração do desempenho nos transportes: Custos, velocidade e consistência (BOWERSOX; CLOSS; COPPER, 2007). d) Informações Para Chopra e Meindl (2003) a informação serve como mecanismo de conexão entre os diversos estágios de uma empresa ou da cadeia de suprimentos, acarretando a possibilidade de colocar em prática benefícios de maximização da lucratividade total da cadeia. Porém ainda é necessário o processamento dessas informações para definição de importância (quanto são valiosas) para redução de custos. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 7 Nesse contexto, tecnologias que servem de suporte para a análise de dados ganham relevância. Para (BOWERSOX; CLOSS; COPPER, 2007) estas ferramentas facilitam o compartilhamento de informações tanto dentro da empresa quanto entre parceiros da cadeia e auxiliam na tomada de decisões gerenciais. 3- Metodologia A partir das relações descritas no processo de elaboração de pesquisas científicas por Gil (1991), este artigo pode ser caracterizado como um estudo explicativo através de pesquisa documental e bibliográfica. Dessa maneira, considerando os parâmetros estabelecidos por Miguel et al. (2012) para interpretação da problemática desenvolvida, buscou-se uma abordagem qualitativa. Essa metodologia se fez necessária pelo objetivo de se caracterizar desempenho das operações relacionadas à cabotagem e sua integração a outros modais com auxílio de estatísticas fornecidas por relatórios técnicos, para então, posterior avaliação através dos componentes logísticos operacionais. Buscou-se ao longo da pesquisa indicar o potencial da cabotagem para o Brasil como meio de aumentar a eficiência da matriz logística brasileira através de uma maior integração, mas também expor as fragilidades intrínsecas dessa atividade em comparação a sua realidade atual (gargalos). Para isso, houve a divisão da elaboração desse artigo em duas etapas: (1) construção de Referencial teórico sobre aspectos logísticos referentes ao título do artigo, para que em seguida, fosse possível (2) analisara cabotagem brasileira com enfoque na atividade de intermodalidade. 4- Análise da cabotagem voltada à integração modal O transporte hidroviário em geral possui limitações que estão diretamente interligadas a especificidades geográficas, necessidade de hidrovias (marítimas e internas) e ao estabelecimento de instalações (Portos). Dessa maneira, há uma limitação intransponível que limita a coleta e distribuição de suprimentos e/ ou produtos ao considerar apenas o modal aquaviário para algumas regiões beneficiadas com características favoráveis a essa modalidade (proximidade de rios e mares). Porém, é possível ganhos logísticos ao realizar a XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 8 integração com outros modais, gerando assim, combinações que aproveitem vantagens do modal aquaviário como a grande capacidade de carga, baixo custo de transporte (longa distâncias) e baixo consumo de combustíveis por tonelada transportada e que transponham limitações como a incapacidade de gerar uma entrega porta-a-porta e as já citadas. Nesse sentido, a cabotagem possui grande potencial para redução do custo total logístico ao ser interligada a outros meios de transporte no Brasil, todavia tendo com um grande desafio tentar conseguir um fluxo contínuo de mercadorias e suprimentos através das transferências entre outros modais, para que o resultado final seja mais eficiente e eficaz em relação ao utilizar apenas um modal. Assim, é possível identificar pontos positivos e gargalos através dos componentes logísticos operacionais em relação à intermodalidade, utilizando a cabotagem como um dos modais. 4.1 Análise dos Componentes Logísticos Operacionais a) Instalações Nesse estudo as instalações foram caracterizadas como os portos com infraestrutura para atividade de cabotagem, sendo um total de 28 (CNT, 2013). É possível observar através da Figura 1 que quase todos os estados litorâneos, exceto Piauí e Sergipe, possuem portos e com características para atender a navegação de cabotagem. Figura 1- Portos da navegação de cabotagem Fonte: CNT (2013) XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 9 Entretanto, segundo CNT (2013), os portos brasileiros possuem limitações físicas para a atividade de cabotagem, ocasionados principalmente pela preferência de se atender cargas provenientes de exportação e importação que geralmente possuem maior valor agregado, dificultando a atracação e, com isso, aumento do tempo de espera, uma vez que, não há espaço específico para atender a navegação de cabotagem. Em relação as atividades e equipamentos necessários nos portos brasileiros, para a atividade de cabotagem e intermodalidade, pode-se ressaltar um ponto importante com base nos relatórios CNT (2013) e ANTAQ (2013): Baixa produtividade em alguns portos em relação a operação de contêineres, por falta de equipamentos adequados. Este fator resulta em diminuição do nível de serviço que poderia ser proporcionado pelos portos através unitização das cargas, aumentando a facilidade para atividades intermodais e melhoria da eficiência das operações, em geral, de transbordo, além gerar infraestrutura para transporte de cargas com menor volume por cliente (maior flexibilidade) e com maior valor agregado. b) Estoques Os estoques relacionados a cabotagem são em sua grande maioria graneis líquidos, como é possível observar na Tabela 1. Tabela 1 - Principais grupos de mercadorias transportadas na cabotagem – 2010 a 2012 Fonte: ANTAQ (2013) Foi estudado como estoque para a cabotagem o estoque em trânsito (dentro dos navios), em processo de liberação (fiscalização) e na consolidação e desconsolidação dessas cargas XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 10 (portos-cliente/cliente-portos). Atualmente, há a necessidade de grande quantidade de estoques para que haja o ganho em escala ao transportar através da cabotagem, devido à pouca utilização de mecanismos que viabilizem maior flexibilidade de volume transportado, como ocorria com uma maior utilização de contêineres que possibilitaria a pulverização de usuários em um mesmo navio, diminuindo os níveis de estoques por embarcador e a possibilidade de aumento de variedades de produtos transportados (Faria, 2013 ; CNT, 2013 ; ANTAQ, 2013). É valido ressaltar o alto nível de serviços percebidos pelos clientes em relação a manutenção da integridade das cargas, como foi aferido através de pesquisas com 105 usuários do transporte de cabotagem (Figura 3). Para a atividade de intermodalidade, é fundamental manter o mesmo nível de serviço (integridade das cargas/ confiabilidade), além de mecanismos que possibilitem a liberação desses estoques e fluxos entre estes modais, de maneira rápida, para que a cabotagem agregue valor as operações logísticas e torne-se um modal eficaz para ser utilizado e combinado com outros e, assim, contribuindo para redução do custo total. Gráfico 1 – Avaliação da integridade das cargas (%) Fonte: CNT (2013) c) Transportes Em relação ao componente de transporte da cabotagem, é possível caracterizar sua infraestrutura, parcialmente, através dos tipos de navios e suas respectivas capacidades em TPB (Tonelada por peso bruto), deste modo, através do Gráfico 2, é possível ver uma elevada concentração da capacidade para transporte destinada a transportar graneis líquidos e sólidos (Petroleiro, Graneleiro, Gases Liquefeitos e Tanque Químico), e baixar capacidade para XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 11 demais cargas, acarretando dificuldade para uma maior integração entre modais como rodoviário, que usualmente transportam produto perecíveis e/ou de maior valor agregado. Gráfico 2 - TPB dos principias tipos de embarcações (x1.000) Fonte: ANTAQ (2013) Entretanto, outras características podem ser descritas a partir da Quadro 1, como menor consumo de combustível, transporte eficiente para longas distâncias e caraterísticas importantes para o meio ambiente, como menor emissão de poluentes. Entretanto, Segundo Fonseca (2015) e CNT (2013) o Transporte de cabotagem ainda apresenta alto custo de Implementação (aquisição de embarcações) e Operacionalização (tripulação, licenças, manutenção e reparo, seguros, administração etc) resultando em frotas com idade média elevada e um baixo número de embarcações (155). Para a atividade de intermodalidade, é necessário que os veículos de diferentes meios tenham atributos que permitam transportar a mesma carga, podendo-se então, indicar as embarcações brasileiras de cabotagem como um gargalo para interligar a outros modais, apesar destas oferecerem características positivas. Quadro 1- Características do transporte de Cabotagem. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 12 Fonte: ANTAQ(2013) e CNT (2013) d) Informações Informações nos processos intermodais se caracterizam como fatores chave, pois o ganho de eficiência conquistado durante cada meio adotado para o transporte não pode ser prejudicado por dificuldades de transferência de carga entre modais, assim, como no atraso e/ou perda de velocidade de uma das etapas, devido a processamento ineficiente de informações e, assim, resultando na diminuição da eficiência do processo como um todo. Dessa maneira, para o transporte de cabotagem, a burocracia exigida torna-se um gargalo. Segundo CNT (2013), é necessário que, no interior de uma embarcação haja no mínimo 44 documentos, fiscalizados pela Marinha brasileira e Vigilância sanitária, além de mais 9 certificados, dependendo do tipo de carga transportada. Na Figura 2 é possível observar os documentos exigidos para averiguação e etapas de entrada e saída das embarcações nos portos brasileiros. O problema burocrático de documentação para transporte de cabotagem é um reflexo do mesmo tratamento dado para o transporte de longo curso, mesmo sendo a cabotagem um transporte local (CNT,2013). Figura 2 – Etapas e Documentos necessários para entrada e saída de portos brasileiros XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 13 Fonte: CNT (2013) Para Barbosa (2013), "A burocracia está estrangulando os portos no Brasil. No mundo inteiro, as mercadorias que chegam aos portos são liberadas em poucos dias. Em Santos, são 21 dias". Em relação a mecanismos facilitadores, que diminuiriam a pulverização de responsável pelo transporte intermodal que proporcionam lentidão no processo de trocas de informação, cargas e solução de problemas, fato este, possivelmente resolvido com a utilização de OTM (Operador de Transporte multimodal) que são operadores que utilizam documentação única para o transporte ao longo de todo o trajeto, e já estão regulados pela Lei 9.611 de fevereiro de 1998. Porém, segundo COPPEAD (2011), alguns fatores são empecilhos para crescimento desse setor: (1) Tributações envolvidas nesse processo, principalmente ICMS (necessidade de reforma tributária) e (2) Seguro obrigatório para obtenção do registro de OTM (complexidade e falta de parâmetros para estipular valores tornam os custos elevados). 5. Considerações finais Mediante a análise do comportamento atual, referente ao cenário da cabotagem no Brasil, no que concerne à integração entre modais e seus respectivos gargalos, através dos componentes logísticos operacionais, notou-se que devem ser tomadas atitudes de desenvolvimento de XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 14 alguns componentes, objetivando a melhoria dos que se caracterizam mais importantes para o aprimoramento do setor. Com relação às instalações, observou-se a presença considerável de portos na costa brasileira (28 portos) com potencial atrativo à cabotagem. Porém é evidente o pouco desenvolvimento destes para a finalidade da cabotagem, principalmente, pelo atendimento preferencial as atividades de exportação e importação, ocasionando gargalos, como um grande tempo de espera para embarque/desembarque de cargas. A infraestrutura voltada para atividades e equipamentos, promovendo a intermodalidade, também se mostrou deficitária, tendo, como exemplo, o baixo desenvolvimento nas operações de contêineres, que reduzem a qualidade e produtividade do serviço. No que diz respeito aos estoques caracterizados na cabotagem, observou-se que o mesmo apresenta bom desempenho, tendo em vista a maior atuação de granéis líquidos (prevalecem combustíveis e óleos minerais) geridos por empresas de grande porte, que presam pela qualidade e desenvolvimento deste componente logístico operacional. Para exemplificar o bom desempenho, ressalta-se o alto nível de serviço percebido pelos clientes em relação à integridade das cargas, válidos para estoque em trânsito e na intermodalidade. Já, no que diz respeito ao transporte, caracterizou-se a frota utilizada na atividade de cabotagem, mostrando- se como maior atuação os navios petroleiros e graneleiros, inibindo, consequentemente, a participação de outros tipos de cargas neste modal, dificultando o desenvolvimento da intermodalidade, principalmente devido a incompatibilidade de meios para o transporte de outros tipos carga. Em contrapartida, a cabotagem é caracterizada como um modal com baixo consumo de combustível, eficiente a longas distâncias e favorável ao meio ambiente, fatores que fortalecem o desenvolvimento da mesma. Mediante o mapeamento dos componentes logísticos operacionais, o componente informações voltado a cabotagem e intermodalidade, foi o que mostrou-se mais deficitário, levando em consideração a burocracia exacerbada presente neste modal. Como consequência desta burocracia, tem-se dificuldades e atrasos nos processos de intermodalidade, gerando um gargalo considerável em todo o processo, reduzindo o interesse e desenvolvimento do modal para os atuais e potenciais clientes. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 15 Portanto, investir no desenvolvimento de portos voltados à cabotagem, impulsionando, consequentemente, a intermodalidade do setor é de suma importância para o componente instalação. Já para o componente transporte, é válida a análise para o desenvolvimento de outros mercados de transporte, disseminando e variando a utilização do modal. Logo, para a viabilidade dos pontos supracitados, deve-se, primeiramente, focar na desburocratização do componente informação, atraindo, consequentemente, os potenciais clientes e facilitando o desenvolvimento da intermodalidade nas instalações (portos). Para concretizar esta proposta, deve-se aprimorar a utilização do OTM, com o intuito da utilização da documentação única, agilizando o processo final que influencia diretamente no processo como todo. REFERÊNCIAS: ANTAQ . CENÁRIO DA CABOTAGEM BRASILEIRA: 2010 A 2012. 2013. Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/portal/pdf/BoletimPortuario/Cenario_da_Cabotagem_Brasileira_2010_2012.pdf>. Acesso em: 02 out. 2015. BALLOU,Ronald H. Logística empresarial: transporte, administração de materiais e distribuição física. 5ªed. Porto Alegre: Bookman. 2006 BARBOSA, Mariana. Cabotagem no Brasil tem potencial para transportar 2,7 milhões de contêineres. Folha de São Paulo.São Paulo, p. 1-1. 17 ago. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/08/1328122-cabotagem-no-brasil-tem-potencial-para-transportar- 27-milhoes-de-conteineres.shtml>. Acesso em: 07 dez. 2015. BARBOSA JUNIOR, I. O.; LEITAO, D. R. C. & MELO, A. C. S. Análise da Cadeia Produtiva do Setor de Carnes Bovinas do Estado do Pará: um estudo focado no desempenho logístico a luz da etapa de abate. XXIX ENEGEP - Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador. 2009. BERTAGLIA, Paulo Roberto. Logística e gerenciamento de cadeia de abastecimento. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. BOWERSOX, Donald J.; CLOSS, David J.; COPPER, M. Bixby. Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 441 p. BRASIL. Lei Nº 9.432, de 8 de Janeiro de 1997.. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9432.htm>.Acesso em: 29 set. 2015. CHOPRA, S;MEINDL, P. Gerenciamento da cadeia de suprimento: Estratégia, Planejamento e Operaçãos. São Paulo: Prentice Hall, 2003 CINTRA, Jorge Pimentel. Reconstruindo o mapa das capitanias hereditárias. Scielo, São Paulo, p.1-12, 29 nov. 2013. Anual. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101- 47142013000200002&script=sci_arttext >. Acesso em: 04 out. 2015. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 16 CNT (Org.). Pesquisa CNT do transporte aquaviário: Cabotagem. Brasília: Cnt, 2013. 116 p. Disponível em: <http://www.cnt.org.br/Imagens CNT/PDFs CNT/Pesquisa Cabotagem 2013/Pesquisa Cabotagem_final.pdf>. Acesso em: 02 out. 2015. COPPEAD (Rio de Janeiro). CNT (Org.). TRANSPORTE DE CARGAS NO BRASIL: Rio de Janeiro, 2011. Color. Disponível em: <www.cnt.org.br/Paginas/Pesquisas_Detalhes.aspx?p=5>. Acesso em: 06 dez. 2015. CORRÊA, Henrique Luiz. Administração de Cadeia de Suprimentos e Logística: O essencial. São Paulo: Atlas, 2014. 264 p. FARIA, Sérgio Fraga Santos. O desafio da Cabotagem: Diagnóstico e perspectivas. Mundo Logítica, Paraná, n. 32, p.31-33, fev. 2013. Bimestral. FLEURY, Fernando; WANKE, Peter; FIGUEIREDO, Kleber F. Logística empresarial: a perspectiva brasileira. São Paulo: Ed. Atlas, 2000. FONSECA, Fernando. Cabotagem no Brasil: São Paulo, 2015. Color. Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/portal/pdf/Palestras/2015/20150407-Fernando-Fonseca-Cabotagem-INTERMODAL- SP-Abril-2015.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2015. MIGUEL, Paulo Augusto Cauchick et al. Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção e Gestão de Operações.2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier: Abepro, 2012. 260 p. OLIVEIRA, Iara Silva de et al. Análise de motivos de devoluções de mercadorias em um centro de distribuição na cidade de Ananindeua: Uma abordagem a luz dos componentes logísticos. In: ENCONTRO INTERESTADUAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO (EINEPRO), 1. 2015, São João da Barra. Anais... . São João da Barra: EINEPRO, 2015. OLIVEIRA, Neófita Maria de et al. Logística e Distribuição: Definições e Evolução da Logística em um Contexto Global. In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO (SIMPEP), 13., 2006, Rio Grande do Norte. Anais... . Bauru, Sp: Unesp, 2006. p. 1 - 5. OLIVEIRA, Renata Melo e Silva de et al. Engenharia de Produção: Tópicos e Aplicações. Belém: Eduepa, 2010. 248 p. RAZZOLINI FILHO, E. Logística: Evolução na Administração Desempenho e Flexibilidade. São Paulo: Juruá, 2006. RIBEIRO, Priscilla Cristina Cabral; FERREIRA, Karine Araújo. LOGÍSTICA E TRANSPORTES: UMA DISCUSSÃO SOBRE OS MODAIS DE TRANSPORTE E O PANORAMA BRASILEIRO. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO (ENEGEP), 22., 2002, Curitiba – Pr. Anais... . Curitiba – Pr: 2002. p. 1 - 8. SILVA, E. L. da; MENEZES, E. M.. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. 4ª ed. Revisada e Atualizada. Florianópolis: UFSC, 2005. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. . 17
Compartilhar