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LINDB (leis de introdução)

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1	
	
Estudo	da	Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro	(LINDB).	
	
	
Marcelo	Timbó	
		 1. Natureza	da	Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro.		2. Noções	terminológicas.		2.1. 	Validade.	2.2. 	Vigência.	2.3. 	Eficácia.	2.4. 	Vigor.	3. Primeiras	palavras	sobre	a	Lei	de	Introdução.	3.1. Origem	da	prática	hermenêutica.		3.2. Estrutura	da	Lei	de	Introdução.	4. LINDB	e	a	lei	como	fonte	primária	do	direito	brasileiro.		5. Regras	quanto	à	vigência.		5.1. 	Vacatio	Legis.	5.2. 	Norma	corretiva	(§§	3º	e	4º,	do	art.	1º)	.	5.3. 	Art.	2º:	princípio	da	continuidade.	5.4. 	Modalidades	de	revogação:	Derrogação	a	Ab-rogação.	5.5. 	Vedação	à	repristinação	(art.	2º,	§	3º,	LINDB).	6. Princípio	da	obrigatoriedade	da	norma	(art.	3º,	LINDB).	7. Formas	ou	métodos	de	Integração	da	Norma	Jurídica	(Arts.	4º	e	5º,	LINDB).	7.1. Ordem	prevista:	analogia	è	costumes	èprincípios	gerais	de	direito.	7.2. Analogia.	7.3. Costumes.	7.4. Princípios	gerais	de	direito.	7.5. Equidade.	8. Aplicação	da	norma	jurídica	no	tempo	(art.	6º	da	LINDB).		8.1. Ato	jurídico	perfeito	(§	1º).	8.2. Direito	adquirido	(§	2º).	8.3. Coisa	Julgada	(§	3º).	9. Aplicação	da	norma	jurídica	no	espaço	(arts.	7º	a	19	da	LINDB).		9.1. Art.	 7º	 -	 lex	 domicilli,	 para	 as	 regras	 da	 personalidade,	 nome,	capacidade	e	direitos	de	família.	9.2. Art.	8º	-	lex	rei	sitiae.	9.3. Art.	9º	-	locus	regit	actum.	9.4. Art.	10	–	lex	domicilli,	para	sucessão	por	morte.	9.5. Art.	11	–	regras	quanto	às	sociedades	e	fundações.	9.6. Art.	12	–	competência	da	autoridade	judiciária	brasileira.	9.7. Art.	13	e	14	–	ônus	probatório	de	fato	ocorrido	no	exterior.	
2	
	 9.8. Arts.	 15	 e	 16	 –	 requisitos	 para	 execução	 no	 Brasil	 de	 sentença	estrangeira.	9.9. Art.	17	–	vedação	de	eficácia	de	leis	estrangeiras	contrárias	ao	nosso	ordenamento.	9.10. Art.	18	–	casamento	de	brasileiro	no	exterior.		9.11. Art.	 19	 –	 validade	 de	 atos	 praticas	 pro	 cônsules	 brasileiros	 no	exterior.	
	
	
	
	
	
	
	
1. Natureza	da	Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro.		
	
	Inspirada	no	direito	alemão	e	francês,	a	técnica	legislativa	brasileira	fez	a	 opção	por	 tratar	das	normas	 atinentes	 à	 elaboração,	aplicação	e	revogação	
das	 leis	 em	 corpo	 legislativo	 separado	 do	 Código	 Civil,	 posicionamento	 mais	coerente,	por	se	tratar	de	normas	sobre	a	aplicabilidade	das	leis	em	geral1.	A	 lei	 de	 introdução	 surgiu,	 primeiramente,	 com	 o	 nome	 de	 Lei	 de	
Introdução	 ao	 Código	 Civil	 (LICC),	 através	 do	 Decreto-Lei	 n.	4.657/42,	 tendo	sido	alterada	recentemente	sua	denominação,	pela	Lei	n.	12.376/2010,	passando	a	se	chamar	Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro,	acertadamente,	posto	que	é	lei	que	se	aplica	à	todo	ordenamento	jurídico	e	não	apenas	ao	Código	Civil.	Aplica-se	mesmo	no	campo	do	direito	público.	A	LINDB	é,	portanto,	uma	 lex	legum:	um	conjunto	de	normas	sobre	
normas,	um	surdroit,	um	superdireito,	um	sobredireito,	um	Direito	coordenador	do	Direito.	Com	a	maestria	habitual,	a	Professora	Maria	Helena	Diniz	explica	que	a	LINDB	“não	rege	as	relações	da	vida,	mas	sim	as	normas,	uma	vez	que	indica	como	
interpretá-las	ou	aplicá-las,	determinando-lhes	a	vigência	e	eficácia,	suas	dimensões	
espaciotemporais,	 assinalando	 suas	 projeções	 nas	 situações	 conflitivas	 de	
ordenamentos	 jurídicos	 nacionais	 e	 alienígenas,	 evidenciando	 os	 respectivos	
elementos	de	conexão”2	.		
																																																													1	DINIZ,	 Maria	 Helena.	 Lei	de	 Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro	 interpretada.	 18ª	 ed.,	rev.	e	atual.	–	São	Paulo:	Saraiva,	2013,	p.	21.	2	Idem,	p.	22.		
3	
	
2. Noções	terminológicas.	
	
	 Para	realmente	entender	as	regras	da	Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro	precisamos	compreender,	primeiramente,	os	conceitos	abaixo,	evitando	imprecisões	e	confusões.			
2.1. Validade.	
	
	
Válida	 é	 a	 norma	 que	 está	 compatível	 com	 o	 sistema	 jurídico	(ordenamento)	que	ela	integra.	É,	pois,	um	conceito	puramente	lógico-formal.	
Válida	 é	 a	 norma	 que	 observa	 todas	 as	 condições	 formais	 e	
materiais	estabelecidas	pelo	próprio	sistema	jurídico.	Caso	 uma	 norma	não	 cumpra	 algumas	 destas	 condições	 formais	 ou	
materiais	 estabelecidas	na	própria	Constituição	Federal	devemos	 reconhecer	 a	sua	inconstitucionalidade.		A	validade	pode	se	verificar	de	duas	formas:	
⇒ Validade	Formal:	 observância	 das	 normas	 referentes	 ao	 seu	
Processo	 de	 Criação.	 Veja	 o	 art.	 60,	 §§	 1º	 e	 2º,	 CF/88,	 que	estabelecem	 regras	 formais	 (relativa	 ao	 processo	 de	 criação)	 que	devem	ser	observadas;	
⇒ Validade	 Material:	 observância	 das	 normas	 referentes	 às	
matérias	passíveis	de	normatização,	sob	dois	aspectos:	
§ se	as	partes	legislativas	(entidades	federativas)	são	
as	corretas	para	o	caso;	
Exemplo:	 ver	 art.	 22,	 CF.	 As	 matérias	dispostas	 neste	 artigo	 são	 de	 competência	privativa	da	União.	 Se	algum	outro	ente	 federado	resolver	 legislar	 sobre	esta	matéria,	 sem	a	devida	autorização	por	Lei	Complementar3,	a	norma	será	inconstitucional,	 por	 vício	 material	 quanto	 à	iniciativa	legislativa.		
																																																													
3	CF,	 art.	 22,	 parágrafo	 único:	 Lei	 Complementar	 poderá	 autorizar	 os	 Estados	 a	 Legislar	 sobre	
questões	específicas	das	matérias	relacionadas	neste	artigo.		
4	
	
§ se	o	conteúdo	legislado	está	correto.		
Exemplo:	 Da	 leitura	 de	 diversos	dispositivos	 da	 Constituição,	 podemos	 perceber	que	 o	 direito	 de	 ir	 e	 vir	 é	 assegurado	constitucionalmente	 (ver	 arts.	 1º,	 III,	 3º,	 I,	 5º,	 XV,	CF).	Assim,	se	surgisse	uma	lei	 infraconstitucional	que	cerceasse	o	direito	de	ir	e	vir,	também	seria	considerada	 inconstitucional,	 por	 vício	 material.	Como	garantia	individual	que	é,	uma	norma	que	determinasse	 de	 alguma	 forma	 a	 abolição	 ao	direito	de	ir	e	vir	não	poderia	nem	mesmo	ser	alvo	de	 emenda	 à	 constituição 4 .	 Só	 a	 própria	constituição	pode	trazer	exceções	ao	direito	de	ir	e	vir5.		
2.2. Vigência.		
Norma	vigente	é	a	norma	que	está	dentro	do	corte	de	tempo	que	vai	do	 momento	 em	 que	 ela	 passa	 a	 ter	 força	 vinculante,	 normalmente	 após	 o	período	de	vacatio	legis,	até	a	data	em	que	ela	é	revogada	ou	em	que	se	esgota	o	
prazo	prescrito	para	sua	duração,	como	no	caso	das	normas	temporárias.		Após	a	 sua	promulgação,	 a	norma	passa	 a	 ser	 existente.	Mas	 isto	não	significa	 que,	 existindo,	 promulgada,	 a	 norma	 já	 tenha	 vigência.	A	 vigência	 só	
ocorrerá	 após	 o	 período	 de	 vacatio	 legis,	 que	 começa	 a	 ser	 contado	 da	 sua	
publicação.	
Vigente	 é	a	norma	que	está	compatível	 com	o	sistema	jurídico	que	ela	integra.	É,	pois,	um	conceito	puramente	temporal.		
2.3. Eficácia.	
	
Eficaz	é	a	norma	que	está	apta	a	produzir	concretamente	efeitos	no	sistema	jurídico	(ordenamento)	que	ela	integra.	A	eficácia	é	a	qualidade	do	texto	normativo	vigente	de	poder	produzir,	ou	irradiar,	no	seio	da	coletividade,	efeitos	jurídicos	concretos6.	
																																																													
4	Neste	sentido,	ver	art.	60,	§	4º,	CF/88.	
5	Exemplo:	art.	139,	CF/88.	
6	DINIZ,	Maria	Helena.	Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro	interpretada.	18ª	ed.,	rev.	e	atual.	–	São	Paulo:	Saraiva,	2013,	p.	70.	
5	
	 A	 norma	 pode	 depender	 ou	 não	 de	 outras	 normas	 para	 a	 plena	produção	de	efeitos	e	concretização	de	sua	função	eficacial.	Por	este	viés	(aptidão	para	produzir	efeitos	em	dependência	de	outras	normas),	podemos		classificar	as	normas,	segundo	tradicional	classificação	proposta	no	Brasil	pelo	Professor	José	Afonso	da	Silva,	em:		
2.3.1. 	Normas	de	Eficácia	Plena.	Sua	aptidão	para	produzir	efeitos	 é	 imediatamente	 concretizada,	 ou	 seja,	 não	 depende	 de	qualquer	outra	norma	para	ter	sua	função	eficacial	garantida.	Esta	é	a	
regra	geral	dos	comandos	normativos:	as	normas	têm	eficácia	plena	e	aplicabilidadedireta,	imediata	e	integral7.		
2.3.2. Normas	 de	 Eficácia	 Limitada	 (que	 dependerá	 de	
complementação).	 Neste	 caso,	 há	 necessidade	 do	 surgimento	 de	outras	normas	para	que	a	norma	de	eficácia	 limitada	se	torne	apta	a	produzir	 concretamente	 seus	 efeitos8.	 Sem	 lei	 que	 a	 regulamente,	 a	norma	 de	 eficácia	 limitada	 não	 produzirá	 efeitos.	 Só	 produzirá,	segundo	 José	 Afonso	 da	 Silva,	 os	 mínimos	 efeitos	 de	 vincular	 o	legislador	infraconstitucional	aos	seus	vetores.	Assim,	podemos	dizer	que	sua	eficácia	será	ampliada	quando	surgir	a	lei	regulamentar.		
2.3.3. Normas	de	Eficácia	Contida	(norma	restringível	ou	
redutível).	 É	 aquela	 norma	 que	 já	 produz	 efeitos,	 desde	 de	 sua	entrada	em	vigor,	mas	estes	efeitos	podem	vir	a	ser	restringidos.	Ao	contrário	 das	 normas	 de	 eficácia	 limita,	 onde	 haverá	 verdadeira	ampliação	 dos	 seus	 efeitos	 com	 o	 surgimento	 de	 norma	 reguladora,	nas	 normas	 de	 eficácia	 contida	 a	 sua	 aplicabilidade	 pode	 vir	 a	 ser	
restringida9.			
2.4. Vigor	(força	da	norma).	
	O	conceito	de	Vigor	da	norma	está	relacionado	a	sua	força	vinculante,	ou	seja,	à	impossibilidade	de	os	sujeitos	subtraírem-se	ao	seu	império.		
																																																													
7	Exemplo:	art.	5º,	IX,	CF/88.	
8	Exemplos:	arts.	18,	§	2º,	25,	§	3º,	33,	37,	VII,	CF,	princípios	institutivos,	ou	ainda	arts.	6º	(direito	à	alimentação),	196	(direito	à	saúde),	205	(direito	à	educação),		princípios	programáticos	etc.	
9	Exemplos:	art.	5º,	XIII,	CF	–	OAB	e	o	exame	de	ordem;	art.	5º,	XXVII,	CF	c/c	art.	41	da	Lei	nº	9.610/98	(Lei	do	Direito	Autoral);	art.	184,	CP;	ou	ainda,	art.	5º,	incisos	VII,	VIII,	XV,	XXIV,	XXV,	XXXIII,	CF/88	etc.	
	
6	
	 Não	devemos	confundir	vigor	com	a	vigência	norma.	Uma	norma	pode	não	ser	mais	vigente	e	ter	vigor,	se	disser	respeito	a	situações	consolidadas	sob	sua	vigência:	isto	é	o	que	se	denomina	ultratividade.	Diante	 de	 tudo	 quanto	 exposto	 até	 aqui,	 podemos	 dizer	 que	 uma	
norma	pode	ser	válida	mas	não	ser	vigente	 (vacatio	legis).	Pode	ser	válida	e		
vigente,	 mas	 não	 ter	 eficácia	 (normas	 de	 eficácia	 limitada).	 Pode	 não	 ser	
vigente	e,	no	entanto,	ainda	ter	vigor,	para	as	situações	ocorridas	durante	a	sua	vigência.		
	
	
3. Primeiras	palavras	sobre	a	Lei	de	Introdução.	
	
	
3.1. 	Origem	da	prática	hermenêutica.			Na	França,	antes	da	entrada	em	vigor	do	Código	Civil	Napoleônico,	de	1804,	que	estabelecia	as	regras	no	âmbito	privado,	detectou-se	a	necessidade	de	editar	 uma	 norma	 legal	 que	 regulasse	 a	 aplicação	 de	 todas	 as	 outras	 normas	jurídicas	no	Estado.		Esta	 prática	 de	 uma	 Lei	 de	 Introdução	 ao	 Código	 foi	 adotada	 pelos	demais	ordenamento	jurídicos	europeus	de	tradição	romano-germânica,	tendo	chegado,	por	consequência,	ao	nosso	sistema	jurídico.				
3.2. 	Estrutura	da	Lei	de	Introdução.			A	 Lei	 de	 Introdução	possui	 dezenove	 artigos,	 divididos,	 do	modo	que	veremos	 a	 seguir,	 levando-se	 em	 consideração	 o	 conteúdo	 da	 norma,	 segundo	Professora	Maria	Helena	Diniz10:	
Ø Disciplina	o	início	da	obrigatoriedade	da	lei	(art.	1º)	–	vigência	da	norma.	
Ø Disciplina	 do	 tempo	 de	 obrigatoriedade	 da	 lei	 (art.	 2º)	 -	 vigência	 na	
norma.	
																																																													
10	(DINIZ,	Maria	Helena.	Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro	interpretada.	 18ª	 ed.,	rev.	e	atual.	–	São	Paulo:	Saraiva,	2013,	p.	23)	
7	
	
Ø Garantia	da	eficácia	global	da	ordem	 jurídica,	não	admitindo	a	 ignorância	da	 lei	 vigente,	 que	 a	 comprometeria	 (art.	 	 3º)	 –	 obrigatoriedade	 das	
normas.		
Ø Garantia	dos	mecanismos	de	integração	das	normas,	quando	houver	lacuna	(art.	4º)	–	integração	normativa.		
Ø Critérios	de	hermenêutica	jurídica	(art.	5º)	–	interpretação	das	normas.	
Ø Direito	intertemporal	(art.	6º)	–	aplicação	no	tempo.	A	 partir	 deste	momento,	 a	 LINDB	 trata	 de	 normas	 sobre	 a	 disciplina	 da	
aplicação	da	norma	no	espaço:	
Ø Direito	Internacional	Privado	Brasileiro	(arts.	7º	ao	19);	
§ Normas	relativas	à	pessoa	e	à	família	(arts.	7º	e	11);	
§ Norma	relativa	aos	bens	(art.	8º);	
§ Norma	relativa	às	obrigações	(art.	9º);	
§ Norma	relativa	à	sucessão	por	morte	ou	por	ausência	(art.	10);	
§ Norma	relativa	à	competência	judiciária	brasileira	(art.	12);	
§ Norma	 relativa	 à	 prova	 dos	 fatos	 ocorridos	 em	 país	 estrangeiro	(art.	13)	
§ Norma	relativa	à	prova	de	direito	alienígena	(art.	14);	
§ Norma	 relativa	 à	 execução	 no	 Brasil	 de	 sentença	 proferida	 no	exterior	(art.	15);	
§ Norma	de	proibição	do	retorno	(art.	16);	
§ Norma	relativa	à	proibição	de	aplicação	de	leis,	atos	e	sentenças	de	outro	país	no	Brasil,	quando	ofensivas	ao	nosso	ordenamento	(art.	17);	
§ Normas	 relativas	 a	 atos	 civis	 praticados	 pelas	 autoridades	consulares	brasileiras	no	estrangeiro	(arts	18	e	19).			
4. LINDB	e	a	lei	como	fonte	primária	do	direito	brasileiro.				Como	 já	 dito,	 o	 direito	 brasileiro	 sempre	 foi	 filiado	 historicamente	 à	escola	 da	 chamada	 Civil	Law11,	 de	 origem	 anglo-germânica,	 pela	 qual	 a	 lei	 é	 a	
																																																													
11	Entretanto,	modernamente,	 sabemos	 que	 o	 direito	 brasileiro	 não	 é	 um	 sistema	 puro.	 O	mais	 correto	seria	dizermos	que	o	 sistema	brasileiro	é	um	sistema	híbrido,	pois	 traz	consigo	características	 tanto	do	
Civil	Law	como	do	Common	Law.	Uma	prova	disso	é	a	crescente	valorização	do	costume	jurisprudencial	
8	
	fonte	primária	do	sistema	 jurídico.	Assim	sendo,	a	regra	geral	é	que	será	papel	do	julgador	aplicar	a	 lei,	prévia	e	abstrata,	ao	fato	jurídico,	posterior	e	concreto.	Esta	atividade	de	encaixe	da	norma	ao	caso	concreto	é	chamado	de	subsunção.	A	norma	jurídica	é	um	imperativo	autorizante.	Esta	noção	não	pode	ser	esquecida,	 jamais.	Trata-se	de	um	 imperativo,	 pois	emanada	de	autoridade	competente,	 sendo	 dirigida	 a	 todos	 (generalidade).	 Constitui-se,	 pois,	 de	 um	processo	de	autorizar	ou	não	determinadas	condutas.		Concebida	 a	 lei	 como	 fonte	 primaz	 do	 direito,	mas	 não	 como	única	 e	exclusiva	 fonte,	 passaremos	ao	 estudo,	 em	 separado,	 dos	dispositivos	da	Lei	 de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro.			
5. Regras	quanto	à	vigência.			De	plano,	é	importante	ressaltar	que	a	vigência	das	normas	é	estudada	com	a	conjugação	de	dois	diplomas	legais:	a	LINDB,	art.	1º,	e	a	Lei	Complementar	nº	95/98.		
5.1. Vacatio	Legis.		
LINDB,	 art.	 1º.	 Salvo	 disposição	 contrária,	 a	 lei	
começa	 a	 vigorar	 em	 todo	 o	 País	 45	 (quarenta	 e	
cinco)	dias	depois	de	oficialmente	publicada.		
§	1.º	Nos	Estados	estrangeiros,	a	obrigatoriedade	
da	lei	brasileira,	quando	admitida,	se	inicia	3	(três)	
meses	depois	de	oficialmente	publicada.			 	 A	 vacatio	 legis	 é	 justamente	 o	 período	 em	 que	 a	 lei,	 embora	publicada,	 aguarda	 a	 data	 de	 início	 de	 sua	 vigência,	 para	 que	 todos	possam	 ter	ciência	de	sua	publicação	e	de	seu	conteúdo.	A	vacatio	legis	poderá	se	ocorrer	das	seguintes	formas:	a) seguir	a	regra	geral,	de	só	começar	a	vigorar	após	45	dias	da	
sua	publicação,	ou	3	meses	nos	Estados	estrangeiros	(quando	se	admitir	a	aplicação	da	lei	brasileira);	
																																																																																																																																																																																														no	 nosso	 ordenamento	 (característica	 do	 sistema	 Common	Law,	onde	 os	 precedentes	 jurisprudenciais	constituem	principal	fonte	de	direito)	notadamente	pela	emergência	da	súmula	vinculante	como	fonte	de	direito,	diante	da	Emenda	Constitucional	n.	45/2005,	que	incluiu	o	art.	103-A	no	Texto	Maior.	
9	
	 b) excepcionalmente,	 ter	 a	 data	 inicial	 de	 vigência	 e	 vigor	 da	norma	foi	fixada	expressamente.	É	o	que	está	previsto	na		expressão	“salvo	
disposição	contrária”,	do	caput	do	art.	1º.	Por	exemplo,	o	Código	Civil	de	2002,	previuum	prazo	de	vacância	de	um	ano	a	partir	de	sua	publicação	(art.	 2.044,	 CC).	 Tendo	 sido	 publicado	 em	 10/01/2002,	 a	 doutrina	 e	 a	jurisprudência	 entendem	 que	 o	 Código	 Reale	 entrou	 em	 vigor	 no	 dia	
11/01/2003.		Sobre	o	 assunto,	 o	 art.	 8º,	 caput,	 da	 Lei	 Complementar	95/98,	 afirma	que:	
	A	vigência	da	lei	será	indicada	de	forma	expressa	e	
de	modo	a	contemplar	prazo	razoável	para	que	dela	se	tenha	
amplo	 conhecimento,	 reservada	 a	 cláusula	 “entra	 em	 vigor	
na	 data	 de	 sua	 publicação”	 para	 as	 leis	 de	 pequena	
repercussão.		Assim,	 se	 a	 lei	 for	 uma	 norma	 de	 pequena	 repercussão	 social	 ela	poderá	se	autodeclarar	vigente	de	imediato,	a	partir	da	data	de	sua	publicação12,	sem	 a	 necessidade	 de	 um	 período	 de	 vacatio	 legis,	 de	 acordo	 com	 a	 Lei	Complementar	n.	95/1998.	Oportuno	 mencionar	 que,	 nos	 termos	 do	 art.	 8º,	 §	 1º,	 da	 Lei	Complementar	 95/1998,	 a	 contagem	do	 prazo13	para	 entrada	 em	 vigor	 das	 leis	que	 estabelecem	 período	 de	 vacância	 far-se-á	 com	 a	 inclusão	 da	 data	 da	
publicação	e	do	último	dia	do	prazo,	entrando	em	vigor	no	dia	subsequente	à	sua	consumação	integral.	Pouco	importa	se	o	dia	subsequente	à	sua	consumação	integral	 cairá	 ou	 não	 dia	 útil.	Mesmo	 que	 caia	 em	 um	domingo	 ou	 feriado,	 por	exemplo,	a	lei	começará	a	ter	vigência	e	vigor.	
Atenção!	A	lei	passa	por	3	fases	fundamentais	para	que	tenha	validade	e	 eficácia:	 elaboração,	 promulgação	 e	 publicação.	 Somente	 após	 a	“publicação”	é	que	começa	o	prazo	de	vacatio	legis,	que	geralmente	vem	previsto	na	própria	norma,	normalmente	no	 final	do	 texto.	Para	confundir	os	candidatos	em	concursos,	 às	vezes,	 os	 avaliadores	mencionam	a	promulgação	 da	 lei	 como	início	do	prazo	de	vacância,	quando	em	verdade	é	a	data	da	publicação	que	deve	valer	como	marco	inicial.			
																																																													12	Em	se	tratando	de	normas	administrativas	(decretos,	resoluções,	portarias),	esta	será	a	regra	geral,	ou	seja,	tais	normas	entram	em	vigor	na	data	de	sua	publicação.		13	Nos	prazos	de	direito	material,	a	contagem	dos	prazos	se	faz	de	acordo	com	o	art.	132,	CC,	ou	 seja,	 salvo	 disposição	 legal	 ou	 convencional	 em	 contrário,	 os	 prazos	 serão	 computados	
excluindo-se	o	dia	do	começo	e	incluindo-se	o	dia	do	vencimento.	§	1º:	se	o	vencimento	cair	em	feriado,	considerar-se-á	prorrogado	o	prazo	até	o	dia	seguinte	útil.	§	2º:	meado	considera-se,	em	qualquer	mês,	o	seu	décimo	quinto	dia.	§	3º:	os	prazos	de	meses	e	anos	expiram	no	dia	de	igual	número	do	de	início,	ou	no	imediato,	se	faltar	exata	correspondência.		
10	
	
5.2. Norma	corretiva.				Norma	 corretiva	 é	 aquela	 que	 visa	 afastar	 os	 equívocos	 importantes	cometidos	no	texto	legal	(erros	materiais).	Pode	ocorrer	em	duas	situações:	
⇒ se	a	publicação	da	norma	corretiva	ocorrer	antes	da	lei	nova	entrar	 em	vigor,	 ou	 seja,	 ainda	durante	 o	 período	de	vacatio	
legis	(art.	1º,	§	3º,	LINDB),	será	considerada	uma	republicação	do	 texto	 legal	 e	 o	 prazo	 recomeçará	 a	 correr	 da	 nova	
publicação,	para	a	parte	alterada;	
⇒ se	 as	 correções	 do	 texto	 ocorrem	quando	 a	 lei	 já	 estiver	 em	vigor,	 a	 correção	 será	 considerada	 lei	 nova	 (art.	 1º,	 §	 4º,	LINDB).	Entretanto,	 se	 o	que	 se	pretende	 é	uma	alteração	 substancial	 da	 lei	 e	não	a	correção	de	um	simples	erro	material,	a	alteração	só	poderá	ser	 feita	por	uma	nova	lei,	independentemente	do	momento,	seja	ainda	na	vacatio	da	lei	a	ser	modificada	ou	não.				
5.3. 	Artigo	2º:	princípio	da	continuidade.			O	 art.	 2º	 da	 LINDB	 consagra	 o	 princípio	 da	 continuidade,	 pelo	 qual	 a	norma,	a	partir	de	sua	entrada	em	vigor,	 tem	eficácia	contínua,	até	que	outra	
norma	 a	 modifique	 ou	 revogue,	 desde	 que	 não	 seja	 temporária	 (prazo	 de	validade	 pré-determinado)	 nem	 circunstancial14.	 Assim,	 uma	 lei	 só	 pode	 ser	revogada	por	outra.	No	Brasil,	o	costume	não	pode	revogar	lei,	como	acontecia	no	Direito	Romano.	A	revogação	de	lei	por	costume	chama-se,	doutrinariamente,	de	
desuetudo	ou	desuso	da	lei,	o	que,	repita-se,	não	se	admite	no	Brasil.		A	 lei	 posterior	 revoga	 a	 anterior	 quando	 expressamente	 o	 declare,	quando	seja	com	ela	incompatível	ou	quando	regule	inteiramente	a	matéria	de	que	tratava	a	lei	anterior	(art.	2º,	§	1º,	LINDB).	Exemplo:	o	Código	Civil	regulou,	de	 forma	 completa,	 as	 relações	 jurídicas	 sobre	 condomínios	 edilícios	 –	 aqueles	que	 possuem	 partes	 comuns	 e	 particulares	 -	 (arts.	 1.331	 a	 1.358),	 revogando,	desta	forma,	a	Lei	nº	4.591/64,	naquilo	que	regulava	a	matéria	(arts.	1º	a	27).	O	art.	9º	da	Lei	Complementar	95/98	afirma	que,	preferencialmente,	a	revogação	de	uma	lei	deve	ser	expressa.		
																																																													
14	Exemplo	de	lei	circunstancial:	lei	específica	para	o	período	das	Olimpíadas	no	Rio	de	Janeiro.	
11	
	 Entretanto,	a	lei	nova,	que	estabeleça	disposições	gerais	ou	especiais	
a	par	(ao	lado)	das	já	existentes,	não	revoga	nem	modifica	a	lei	anterior	(art.	2º,	§	 2º,	 LINDB).	Exemplo:	 o	Código	Civil	 dispôs	de	 forma	especial	 sobre	 a	 locação	(arts.	565	e	578),	não	prejudicando	a	 lei	anterior	que	dispunha	sobre	a	 locação	imobiliária,	 permanecendo	 incólume	 (Lei	8.245/91).	Outro	 exemplo:	 o	 art.	 777,	CC,	 afirma	que	 as	normas	dispostas	no	Código	Civil	 sobre	o	 contrato	de	 seguro	aplicam-se,	no	que	couber,	aos	seguros	regidos	por	 leis	próprias.	Neste	caso,	há	uma	complementação.	
	 	
	
5.4. Modalidades	de	revogação:	Derrogação	e	Ab-rogação.		 		
Ab-rogação	ou	revogação	total	(absoluta)	ocorre	quando	se	torna	sem	efeito	uma	norma	de	forma	integral,	com	a	supressão	total	do	seu	texto	por	uma	norma	emergente.	É	o	que	ocorreu	com	o	Código	Civil	de	1916,	de	acordo	com	o	art.	2.045,	do	Código	Civil	de	2002.	O	novo	Código	de	Processo	Civil	de	2015,	em	seu	art.	1.046,	caput,	também	ab-rogou	o	Código	de	Processo	Civil	de	1973.	Já	a	derrogação	é	a	revogação	parcial,	ou	seja,	acontece	quando	uma	lei	 nova	 torna	 sem	 efeito	 parte	 de	 uma	 lei	 anterior,	 como	 se	 deu	 em	 face	 da	primeira	parte	do	Código	Comercial	de	1850	(parte	obrigacional),	conforme	está	previsto	art.	2.045,	segunda	parte,	do	Código	Civil	de	2002.	As	 duas	 modalidades	 de	 revogação	 mencionadas	 acima	 podem	ocorrer	das	seguintes	formas:	
Ø Revogação	 Expressa	 (ou	 por	 via	 direta):	 a	 lei	 nova	expressamente,	 por	 escrito,	 de	 forma	 taxativa,	 declara	 revogada	 a	 lei	anterior	ou	indica	quais	dispositivos	devem	ser	retirados.		
Ø Revogação	 Tácita	 (por	 via	 obliqua):	 situação	 em	 que	 a	 lei	posterior	é	incompatível	com	a	anterior	ou	a	lei	nova	regula	inteiramente	a	matéria	regulada	pela	lei	anterior.		Atualmente,	a	preferência	é	de	que	a	revogação	seja	expressa	ou	por	via	direta,	por	trazer	mais	segurança	jurídica.		A	 revogação	 tácita,	 quando	ocorrer,	 será	por	 conta	de	um	destes	 três	critérios:	
• Critério	hierárquico	–	Lei	superior;	
• Critério	cronológico	–	Lei	nova;	
• Critério	da	especialidade	–	Lei	especial;		Atenção.	 Em	 relação	 ao	 critério	 da	 especialidade,	 precisamos	 ficar	atentos	 ao	 que	 a	 doutrina	 chama	de	 “Diálogo	das	Fontes”,	 que	 determina	 que	 o	
12	
	critério	da	especialidade	deve	ser	invertido	caso	a	norma	geral	preveja	regra	mais	favorável	à	parte	mais	vulnerável,	em	detrimento	da	norma	especial.	Assim,	se	o	Código	Civil	tiver	norma	mais	favorável	ao	consumidor	do	que	o	CDC,	o	CC	deverá	ser	aplicado	em	detrimento	do	CDC,	 invertendo-se	a	regra	prevista	pelo	critério	da	especialidade.				
5.5. Vedação	à	repristinação	(art.	2º,	§	3º,	LINDB).			Efeito	 repristinatório	 é	 aquele	 pelo	 qual	 uma	 norma	 revogada	volta	
ter	eficácia	e	vigor,	por	si	só,	no	caso	da	revogação	da	norma	revogadora.	No	Brasil,	a	regra	geral	é	não	se	admitir	a	repristinação,	salvo:	
ü disposição	expressa	da	lei	em	sentido	contrário;	
ü se	a	lei	revogadora	for	declarada	inconstitucional.	Assim:	1) Norma	A	–válida.	2) Norma	B	revoga	a	norma	A.	3) Norma	C	revoga	a	norma	B.	4) Regra	geral:	norma	A	não	volta	a	valer.	5) Exceção	 1:	 a	 norma	 A	 (revogada)	 só	 voltará	 a	 valer	 com	 a	revogação	 da	 sua	 norma	 revogadora,	 B,	 se	 isto	 vier	
expressamente	 previsto	 na	 norma	 C,	 ocorrendo	 assim	 a	repristinação.	 Caso	 contrário,	A,	 	 revogada,	 não	 volta	 a	 valer	como	a	revogação	de	B,	revogadora.	6) Exceção	2:	se	a	norma	B	 for	declarada	 inconstitucional	pelo	STF	 em	 controle	 concentrado	de	 inconstitucionalidade	 (em	Ação	 Direta	 de	 Inconstitucionalidade,	 por	 exemplo),	 com	efeitos	 retroativos	 (ex	 tunc),	 acontecerá	 o	 que	 a	 doutrina	chama	 de	 efeito	 repristinatório	 da	 norma	A.	 Neste	 caso,	 a	jurisprudência	 considera	 que,	 em	 verdade,	 a	 lei	 B	 jamais	entrou	 no	 ordenamento,	 jamais	 existiu.	 Mas	 atenção:	 esta	exceção	 não	 se	 aplica	 no	 controle	 difuso	 de	constitucionalidade,	por	 esta	modalidade	de	 controle	não	 ter	efeito	erga	omnes.	Também	devemos	 ficar	atentos	para	o	art.	27	 da	 Lei	 9.868/99,	 que	 regula	 ADI	 e	 ADC,	 que	 prevê	 a	possibilidade	 da	 chamada	 “modulação	 dos	 efeitos”	 da	declaração	 de	 inconstitucionalidade,	 determinando	 que	 os	efeitos	 da	 declaração	 só	 tenham	 eficácia	 a	 partir	 do	 trânsito	
13	
	 em	 julgado	 da	 decisão,	 ou	 seja,	 efeitos	 não	 retroativos	 (ex	
nunc).		
	 Deste	 moto,	 no	 controle	 de	 constitucionalidade	 concentrado,	 fala-se	 na	existência	 de	 um	 efeito	 represtinatório	 tácito.	 Assim,	 havendo	 concessão	 de	medida	cautelar	ou	de	decisão	de	mérito	que	declare	uma	norma	inconstitucional,	a	legislação	anterior,	caso	existente,	volta	a	ser	aplicável	(efeito	represtinatório),	salvo	expressa	manifestação	em	sentido	contrário	 (art.	11,	 §	2º	e	art.	27	da	Lei	9.868/99).	 Isto	porque,	 como	dito,	 uma	 lei	declarada	 inconstitucional	 é	uma	 lei	declarada	 nula,	 ou	 seja,	 nunca	 produziu	 efeitos.	 Se	 nunca	 teve	 eficácia,	 nunca	revogou	 nenhuma	 norma.	 Se	 nunca	 revogou	 nenhuma	 norma,	 aquela	 que	 teria	sido	supostamente	revogada	continua	tendo	eficácia15.			
6. Princípio	da	Obrigatoriedade	da	Norma	(art.	3º,	LINDB).		 		Como	vimos,	uma	das	características	da	 lei	é	a	obrigatoriedade.	Esta	obrigatoriedade	surge	para	nós	através	de	uma	ficção	jurídica,	trazida	no	art.	3º	da	LINDB.	Com	a	publicação	de	uma	lei,	através	do	Diário	Oficial,	há	a	presunção	de	que	todos,	a	partir	deste	momento,	conhecem	o	teor	da	lei,	caindo	em	domínio	público.	 Para	uma	corrente	da	doutrina,	entretanto,	a	obrigatoriedade	não	está	justificada	por	uma	 ficção	jurídica	 ou	por	uma	presunção	absoluta	 de	que	 todos	conhecem	 a	 lei,	 até	 por	 que	 isto,	 de	 fato,	 é	 impossível	 na	 prática,	mas	 está	 sim	justificada	 por	 uma	 necessidade	 social.	 É	 a	 chamada	 Teoria	 da	 necessidade	
social,	defendida	por	autores	como	Maria	Helena	Diniz	e	Flávio	Tartuce.	Mas	a	obrigatoriedade	não	é	absoluta.		Existem	 exceções,	 como	 a	 prevista	 no	 art.	 139,	 III	 (erro	 -	 vício	 do	consentimento),	 c/c	 171,	 CC/02,	 o	 chamado	 erro	 de	 direito,	 novidade	 trazida	pelo	Código	Civil	de	2002.	Exemplo:	determinada	pessoa	compra	um	terreno	para	construir	 casa	 de	 praia.	 Depois	 de	 efetuada	 a	 compra,	 no	momento	 em	 que	 foi	solicitar	 o	 alvará	 junto	 à	 prefeitura	 para	 iniciar	 a	 construção,	 o	 interessado	 foi	informado	 que	 a	 construção	 não	 seria	 possível,	 pois	 se	 tratava	 de	 área	 non	
edificandi,	ou	seja,	área	em	que	não	se	pode	construir,	por	força	de	lei	municipal	desconhecida	 pelo	 comprador	 do	 imóvel.	Neste	 caso,	 a	 compra	 e	 venda	poderá	ser	anulada,	por	erro	de	direito.		Tal	dispositivo	não	conflita	com	o	art.	3º	da	LINDB,	pois	a	hipótese	do	art.	 139,	 III,	 é	 quando	 o	 sujeito	 possui	 entendimento	 equivocado	 sobre	 as	
																																																													15	LENZA,	Pedro.	Direito	Constitucional	Esquematizado,	 16ª	 edição,	 São	Paulo:	 Saraiva,	 2012,	 p.	342.	
14	
	consequências	 jurídicas	 da	 norma,	 em	 certas	 situações16.	 Necessário,	 todavia,	que	 o	 erro	 tenha	 sido	 o	motivo	 único	 ou	 o	 principal	 do	 negócio.	 O	 erro	 de	direito	 também	 não	 pode	 ser	 alegado	 para	 anular	 a	 transação17	a	 respeito	 das	questões	que	 foram	objeto	de	controvérsia	entre	as	partes	 -	 art.	849,	parágrafo	único,	CC.	Portanto,	apesar	de	não	ser	absoluta,	a	obrigatoriedade	é	a	regra	geral:	com	a	publicação,	surge	a	obrigatoriedade	da	lei.		 		
7. Formas	 ou	métodos	 de	 integração	 (ou	 colmatação)	 e	 interpretação	 da	
norma	jurídica	(art.	4º	e	5º,	LINDB).			Como	 dito,	 o	 direito	 brasileiro	 sempre	 foi	 filiado	 historicamente	 à	escola	da	chamada	Civil	Law,	de	origem	anglo-germânica,	pela	qual	a	lei	é	a	fonte	
primária	 do	 sistema	 jurídico.	 Assim	 sendo,	 a	 regra	 geral	 é	 que	 será	 papel	 do	julgador	 aplicar	 a	 lei	 (prévia	 e	 abstrata)	 ao	 fato	 (posterior	 e	 concreto).	 Esta	atividade	 de	 encaixe	 da	 norma	 ao	 caso	 concreto	 é	 chamado	 de	 subsunção.	Entretanto,	 a	 subsunção	 pode	 não	 acontecer	 de	 imediato,	 por	 faltar	 a	 regra	 ao	caso	concreto,	surgindo	o	que	se	chama	de	lacuna	legislativa.	
Integrar	as	normas	é	nome	que	se	dá	ao	processo	de	suprir	as	lacunas	existentes.	O	 sistema	 jurídico	 como	um	 todo	 é	 pleno,	 completo,	 justamente	por	existir	mecanismos	de	supressão	das	 lacunas	eventualmente	existentes,	ou	seja,	mecanismos	 de	 integração	 das	 normas.	 Apesar	 do	 sistema	 jurídico	 como	 um	todo	não	possuir	lacunas,	a	norma	jurídica,	por	vezes,	pode	apresentar	lacuna.		 A	 ausência	 de	 lacuna	 do	 sistema	 jurídico	 está	 fundamentada,	doutrinariamente,	no	princípio	da	vedação	ou	proibição	ao	non	liquet	(art.	5º,	XXXV,	CF,	art.	140,	NCPC,	art.	7º,	CDC,	art.	107,		CTN	etc),	ou	seja,	provocando-se	o	juiz,	através	do	exercício	do	direito	de	ação,	não	poderá	o	magistrado	eximir-se	de	 proferir	 decisão	 (afirmar	 non	 liquet	 ou	 “não	 julgo”),	 alegando	 ausência	 ou	lacuna	 de	 norma	 jurídica.	 Em	 outras	 palavras,	 o	 juiz	 não	 pode	 alegar	 que	 não	pode	 fazer	 a	 subsunção	 do	 fato	 à	 lei	 simplesmente	 porque	 não	 existe	 uma	 lei	
																																																													16	O	erro	de	direito	é	tolerado	com	maior	frequência	no	Direito	Penal.	Exemplo:	art.	8º,	da	Lei	de	Contravenções	Penais;	art.	65,	II,	CP,	que	admite	o	erro	de	direito	como	circunstância	atenuante	da	pena.	Já	no	Direito	Civil	a	aceitação	do	erro	de	direito	é	mais	excepcional.	Além	do	art.	139,	III	(vício	de	consentimento),	outra	hipótese	de	erro	de	direito	no	âmbito	civil	está	no	art.	1.561,	CC,	o	 chamado	 casamento	putativo,	 que	 é	 ato	 nulo,	mas	 celebrado	 de	 boa-fé,	 como	 erro	 de	 fato	(casar-se	com	a	irmã,	sem	saber	que	era	irmã)	ou	erro	de	direito,	como	casar	com	o	colateral	de	3º	grau	(tio	ou	sobrinho)	sem	saber	que	é	proibido.		17	Código	Civil	Comentado:	doutrina	e	 jurisprudência	–	Coordenador	Cezar	Peluso,	9ª	ed.	rev.	e	atual.	–	Barueri,	SP:	Manole,	2015.	
15	
	específica	 para	 o	 caso	 que	 está	 sendo	 analisado18.	 A	 Paz	 Social	 precisa	 de	 uma	decisão	por	parte	do	juiz,	que	não	pode	negá-la.			 Assim,	 quando	 a	 lei	 for	 omissa,	 o	 juiz	 decidirá	 o	 caso	 de	 acordo	 com	 a	
analogia,	os	costumes	e	os	princípio	gerais	de	direito.			 Perceba,	desde	 já,	que	o	uso	da	equidade	não	está	previsto	no	art.	4º	da	LINDB.	Assim,	 regra	 geral,	 o	 uso	da	 equidade	não	 será	 permitido,	 a	menos	que	outro	dispositivo	legal	expressamente	preveja	a	aplicação	da	equidade.			 Diferentemente	de	integrar	as	normas,	quando	há	lacuna	ou	inexistência	de	norma	 para	 o	 caso,	 pode	 acontecer	 de	 existir	 mais	 de	 uma	 norma	 para	 o	
mesmo	 caso	 concreto,	 o	 que	 se	 chama	 de	 ANTINOMIA	 (lacunas	 de	 colisão).	Antinomia	é	a	presença	de	duas	ou	mais	normas	conflitantes,	válidas	e	emanadas	de	autoridade	competente,	sem	que	se	possa	dizer	qual	delas	merecerá	aplicação	em	 determinado	 caso	 concreto.	 Ambas	 as	 normas	 são	 vigentes,	 mas	 estãoem	choque,	 pois	 regulam	 o	 mesmo	 caso,	 imputando-lhes	 soluções	 logicamente	incompatíveis.			 Os	critérios	utilizados	para	a	solução	das	antinomias	normativas,	como	já	mencionado,	 são:	 1)	 Cronológico;	 2)	 Especialidade;	 3)	Hierárquico.	 Se	 apenas	 a	utilização	de	um	dos	critérios	é	suficiente	para	a	solução	do	conflito	de	normas,	diz-se	que	a	antinomia	é	de	1º	grau.	Se	dois	critérios	forem	utilizados,	a	antinomia	será	 de	 2º	 grau.	 Se	 os	 critérios	 resolverem	o	 conflito,	 se	 diz	 que	 a	 antinomia	 é	
aparente.	Se	o	conflito	não	for	resolvido	pelos	critérios	acima,	a	antinomia	é	real.	Na	 antinomia	 real,	 a	 solução	 será	 a	 utilização	 dos	mecanismos	de	 integração	
das	lacunas	da	lei,	previstos	no	art.	4º	da	LINDB.				
7.1. Ordem	 prevista:	 analogia	 	è	 costumes	 	è princípios	 gerais	 de	
direito.				A	primeira	indagação	que	surge	é	se	a	ordem	prevista	no	art.	4º	da	LINDB	deve	ser	rigorosamente	seguida	ou	não.		Numa	 visão	 clássica,	 a	 resposta	 é	 afirmativa:	 sim,	 devemos	 seguir	 esta	ordem	 proposta.	 Este	 entendimento	 é	 ainda	 majoritário,	 defendido	 por	 Clóvis	
																																																													18	Mas	esta	regra	do	amplo	conhecimento	do	direito	pelo	juiz	(narra	mim	factum,	dabo	tibi	jus	ou	narra-me	 os	 fatos	 que	 eu	 te	 darei	 o	 direito),	 que	 fundamenta	 o	 non	 liquit,	 admite	 exceções,	previstas	no	Novo	CPC,	art.	376:	o	juiz	não	conhecerá	obrigatoriamente	a	lei	quando	se	tratar	de	direito	municipal	 (de	 outro	município	 distinto	 de	 onde	 o	 juiz	 exerça	 sua	 jurisdição),	 estadual,	estrangeiro	ou	consuetudinário.	Entretanto,	os	países	do	Mercosul	estabeleceram	o	Protocolo	de	Las	Leñas,	de	cooperação	jurídica,	estabelecendo	que	as	normas	jurídicas	dos	países	integrantes	do	 Mercosul	 são	 presumidamente	 conhecidas	 pelos	 juízes	 destes	 países	 (Brasil,	 Argentina,	Paraguai,	Uruguai	e	Venezuela).	Os	documentos	destes	países	não	precisam	também	de	tradução	juramentada	para	ter	valor	jurídico	no	Brasil.	
16	
	Beviláqua,	Washington	de	Barros	Monteiro,	Maria	Helena	Diniz,	Cristiano	Chaves	e	Nelson	Rosenvald,	dentre	outros19.	Entretanto,	 modernamente,	 podemos	 até	 afirmar	 que	 esta	 sequência	continua	sendo	a	regra,	mas	nem	sempre	será	obedecida,	tendo	em	vista	a	força	normativa	 e	 coercitiva	 que	 foi	 conferida	 aos	 princípios	 fundamentais	 após	 a	CF/88.	 Para	 esta	 nova	 corrente,	 os	 princípios	 gerais	 do	 direito	 (viver	honestamente,	não	lesar	a	ninguém,	dar	a	cada	um	o	que	é	seu)	são	identificados	com	 os	 princípios	 fundamentais	 (como	 a	 dignidade	 da	 pessoa	 humana	 e	 a	função	social),	que	certamente	não	serão	aplicados	somente	após	a	analogia	e	os	costumes	 e,	 ainda,	 se	 não	 houver	 norma	 prevista	 para	 o	 caso	 concreto.	 Os	princípios	fundamentais	são	os	fundamentos	do	próprio	ordenamento	e,	por	isso,	têm	aplicação	imediata.	A	 consagração	 da	 força	 normativa	 dos	 princípios	 fundamentais,	principalmente	 após	 a	 CF/88,	 foi	 um	 dos	 maiores	 avanços	 do	 direito	
brasileiro.	Assim,	apesar	de	aparecerem	como	fontes	normativas	secundárias	no	ordenamento	no	art.	4º	da	LINDB,	atualmente,	a	constitucionalização	do	direito	
civil	promoveu	um	verdadeiro	giro	de	Copérnico,	elevando	os	princípios	gerais	
do	direito	 (identificados	 como	princípios	 fundamentais)	ao	 topo	da	pirâmide	
normativa,	como	fundamento	de	toda	a	ordem	jurídica20.	No	Estado	Democrático	de	Direito	houve,	deste	modo,	a	transposição	dos	princípios	gerais	de	direito	para	princípios	constitucionais	fundamentais.			 Portanto,	 atualmente,	 os	 princípios	 são	 normas	 primárias,	 verdadeiras	chaves	de	 leitura	de	 todo	o	ordenamento,	com	eficácia	normativa	 imediata	 (art.	5º,	 §	 1º,	 CF),	 especialmente	 naqueles	 casos	 em	 que	 envolvem	 os	 direitos	fundamentais	da	pessoa	ou	direitos	da	personalidade.			 Deste	 modo,	 pode-se	 dizer	 que	 a	 visão	 contemporânea	 do	 Direito	 Civil	Brasileiro,	que	segue	a	escola	do	Direito	Civil	Constitucional,	não	considera	mais	ser	 obrigatória	 a	 aplicação	 dos	 mecanismos	 de	 integração	 da	 lei	 na	 ordem	constante	do	art.	4º	da	Lei	de	Introdução.		 Tradicionalmente,	 para	 o	 Direito	 Civil,	 “os	 princípios	 constitucionais	equivaleriam	 a	 normas	 políticas,	 destinadas	 ao	 legislador	 e,	 apenas	excepcionalemente,	ao	intérprete,	que	delas	poderia	timidamente	se	utilizar,	nos	termos	do	art.	4º	da	LINDB,	como	meio	de	confirmação	ou	de	legitimação	de	um	princípio	 geral	 de	 direito.	 Mostra-se	 de	 evidência	 intuitiva	 o	 equívoco	 de	 tal	
																																																													19	TARTUCE,	Flávio.	Direito	Civil,	v.	1:	Lei	de	Introdução	e	Parte	Geral/Flávio	Tartuce	–	12ª	ed.	rev.,	atual.	e	ampl.	–	Rio	de	Janeiro:	Forense,	2016,	p.	32.		20	Notem	 que,	 neste	 raciocínio	 doutrinário,	 os	 princípios	 gerais	 do	 direito	 da	 LINDB	 são	identificados	 com	os	 chamados	princípios	 fundamentais.	 Alguns	doutrinadores	 defendem	que,	em	 verdade,	 não	 são	 a	mesma	 coisa.	 Os	 princípios	 gerais	 do	 direito	 são	 aquelas	máximas	 do	direito,	como	não	desejar	ao	outro	o	que	não	deseja	para	si.	Já	os	princípios	fundamentais	são	os	preceitos	normativos	basilares,	como	o	princípio	da	dignidade	da	pessoa	humana,	 fundamento	de	 todo	 o	 nosso	 ordenamento.	 Ademais,	 para	 estes	 autores,	 se	 os	 princípio	 gerais	 do	 direito	fossem	o	mesmo	 que	 princípios	 fundamentais,	 não	 teríamos	 lacunas	 na	 lei,	 pois	 os	 princípios	fundamentais	 possuem	 força	 normativa	 e	 podem	 (devem)	 ser	 aplicados	 diretamente	 ao	 caso	concreto,	em	todas	as	situações.	
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	concepção,	 ainda	 hoje	 difusamente	 adotada	 no	 Brasil,	 que	 acaba	 por	 relegar	 a	norma	 constitucional,	 situada	 no	 vértice	 do	 sistema,	 a	 elemento	 de	 integração	subsidiário,	 aplicável	 apenas	 na	 ausência	 de	 norma	 ordinária	 específica	 e	 após	terem	sido	frustradas	as	tentativas,	pelo	intérprete,	de	fazer	uso	da	analogia	e	de	regra	 consuetudinária.	 Trata-se,	 em	 uma	 palavra,	 de	 verdadeira	 subversão	hermenêutica.	(...)	Em	síntese,	compreendemos	que	aqueles	que	seguem	a	escola	do	 Direito	 Civil	 Constitucional	 (Gustavo	 Tepedino,	 Daniel	 Sarmento,	 dentre	outros),	 procurando	 analisar	 o	 Direito	 Civil	 a	 partir	 dos	 parâmetros	constitucionais,	 realidade	 atual	 do	 Direito	 Privado	 Brasileiro,	 não	 podem	 ser	favoráveis	 à	 aplicação	 da	 ordem	 constante	 do	 art.	 4º	 da	 Lei	 de	 Introdução	 de	forma	rígida	e	obrigatória”21.			 Mas,	como	já	alertado,	o	tema	não	é	pacífico.		 Em	 sentido	 contrário,	 Cristiano	 Chaves	 e	Nelson	Rosenvald	 alertam	para	“não	confundirmos	os	princípios	gerais	do	direito	com	os	princípios	fundamentais	do	sistema	jurídico.	Estes	(princípios	fundamentais)	são	as	normas	jurídicas	com	conteúdo	 valorativo	 (axiológico),	 aberto,	 a	 ser	 preenchido	 no	 caso	 concreto,	possuindo	 nítida	 força	 vinculante,	 normativa.	 É	 o	 exemplo	 de	 presunção	 de	inocência	 no	Direito	 Penal,	 do	 princípio	 da	 ampla	 defesa	 e	 do	 contraditório	 no	Direito	Processual	ou	da	proteção	do	hipossuficiente	no	Direito	do	Trabalho.	São,	em	 palavras	 diretas,	 os	 valores	 adotados	 por	 um	 sistema	 jurídico,	 tendo	 força	normativa	 e	 influenciando	 o	 sistema	 jurídico	 como	 um	 todo.	 Aqueles	 (os	princípios	 gerais	 de	 direito)	 são	 meros	 mecanismos	 de	 preenchimento	 de	lacunas,	 sem	 qualquer	 conteúdo	 valorativo	 e	 com	 características	 universais.	Assim,	 os	 princípios	 gerais	 são	 os	 mesmos	 em	 qualquer	 sistema	 jurídico,	inspirando	 métodos	 para	 colmatar	 vazios	 normativos.	 Nessa	 ordem	 de	 ideias,	
somente	 serão	 utilizados	 os	 princípios	 informativos	 quando	 houver	 um	 vazio	
normativo,	 isto	 é,	 quando	 não	 existir	 para	 um	 determinado	 caso	 concreto	 uma	
norma	 jurídica,	 seja	 uma	 norma-regra,	 seja	 uma	 norma	 princípio.	Trocando	 em	miúdos,	 somente	 serão	 utilizados	 os	 princípios	 gerais	 quando	 ausente	 um	princípio	fundamental”22.			 Particularmente,	 preferimos	 oposicionamento	 dos	 professores	 Flávio	Tartuce	e	Gustavo	Tepedino,	para	os	quais	há	uma	identificação	entre	princípios	gerais	 do	 direito	 e	 princípios	 fundamentais,	 proporcionando	 uma	 alteração	 da	regra	do	art.	4º	da	LINDB,	no	 sentido	de	que	os	princípios	 são	a	base	de	nosso	sistema	jurídico	e	não	mais	apenas	simples	método	de	supressão	de	lacunas.	Mas	repita-se,	tal	tema	ainda	é	bastante	polêmico	doutrinariamente.						
																																																													21	TARTUCE,	Flávio.	Direito	Civil,	v.	1:	Lei	de	Introdução	e	Parte	Geral/Flávio	Tartuce	–	12ª	ed.	rev.,	atual.	e	ampl.	–	Rio	de	Janeiro:	Forense,	2016,	p.	33.	22	FARIAS,	Cristiano	Chaves	de;	ROSENVALD,	Nelson.	Curso	de	Direito	Civil	–	Parte	Geral	e	LINDB.	13.	ed.	São	Paulo:	Atlas,	2015,	p.	92.	
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7.2. 	Analogia.				A	 analogia	 é	 a	 aplicação	 de	 um	 a	 norma	 próxima,	 quando	 não	 há	 norma	específica	prevista	para	um	determinado	caso	concreto.	É	a	aplicação	às	hipóteses	semelhantes	de	soluções	oferecidas	pelo	legislador	para	casos	análogos23.		
Exemplo1:	 o	 art.	 499	 do	 CC/02	 diz	 que	 é	 lícita	 a	 venda	 de	 bens	 entre	
cônjuges24 	quanto	 aos	 bens	 excluídos	 da	 comunhão.	 Já	 em	 relação	 aos	
companheiros	 não	 temos	norma	 específica,	motivo	pelo	 qual	 devemos	 aplicar,	por	analogia,	o	art.	499,	CC.		
Exemplo2:	o	exemplo	clássico	na	doutrina	antes	do	advento	do	CC/02	era	a	incidência	do	Decreto-lei	nº	2.681/12,	que	regulava	a	responsabilidade	civil	das	empresas	 de	 transporte	 em	 estradas	 de	 ferro.	 Tal	 decreto	 previa	 a	responsabilidade	civil	objetiva	das	empresas	de	estradas	de	ferro	e,	por	analogia,	passou-se	a	prever	a	responsabilidade	civil	objetiva	também	para	as	empresas	de	transporte	em	bondes,	ônibus,	caminhões,	automóveis.	Frise-se	que	não	há	mais	necessidade	 de	 socorro	 à	 analogia	 para	 tais	 casos,	 eis	 que	 o	 CC/02	 traz	 o	transporte	 como	 contrato	 típico,	 consagrando	 a	 responsabilidade	 objetiva	 do	transportador,	de	um	modo	geral	(art.	734	–	transporte	de	pessoas	–	e	art.	750	–	transporte	de	coisas).		Em	Direito	Penal	e	em	Direito	Tributário	é	importante	observar	que	o	uso	da	 analogia	 só	 será	 admitido	 in	 bonan	 partem,	 ou	 seja,	 só	 será	 admitida	 para	favorecer	o	réu	ou	o	contribuinte.		
			
7.3. 	Costumes.				O	costume	é	a	prática	de	uso	reiterado,	com	conteúdo	lícito	(convicção	de	estar-se	 seguindo	 a	 norma	 jurídica).	 Assim,	 além	 da	 reiteração	 (elemento	objetivo)	é	preciso	que	o	seu	conteúdo	seja	lícito	(elemento	subjetivo).	A	aplicação/uso	do	costume	pode	ser:		
⇒ Contra	Legem.	O	descumprimento	das	normas	alegando	costume	é	prática	de	um	ato	ilícito.		
⇒ Secundum	 Legem	 (segundo	 a	 lei).	 É	 quando	 a	 própria	 lei	 prevê	expressamente	a	utilização	do	costume	(usos	habituais	do	lugar)	na	solução	 do	 conflito	 (v.g.,	 arts.	 13,	 187	 e	 445,	 §	 3º,	 CC/02).	
																																																													23	Existem	alguns	 limites	à	 integração	analógica	no	Direito	Penal,	onde	só	se	admite	a	analogia	para	beneficiar	o	réu	(in	bonam	partem),	não	se	admitindo	a	aplicação	de	sanções	por	analogia.	No	Direito	Tributário	também	não	é	possível	a	cobrança	de	tributos	através	da	analogia.	24	Em	regra,	o	regime	de	bens	do	casamento	é	o	mesmo	da	união	estável,	ou	seja,	o	 regime	da	comunhão	parcial	de	bens	–	arts.	1.640	e	1.725,	CC.	
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	 Tecnicamente,	 não	 há	 integração	 normativa	 na	 aplicação	 dos	costumes	Secundum	legem,	uma	vez	que	a	própria	norma	 jurídica	é	aplicada.	 Há	 o	 que	 a	 doutrina	 chama	 de	 subsunção,	 ou	interpretação	 extensiva,	 quando	 ocorre	 apenas	 a	 ampliação	 do	sentido.	
⇒ Praeter	 Legem	 (na	 falta	 da	 lei).	 Estes	 é	 realmente	 o	 uso	 dos	costumes	 que,	 de	 fato,	 serve	 como	 mecanismo	 de	 colmatação	 da	norma.	Ocorrerá	quando	a	 lei	 for	omissa	e	o	magistrado	não	puder	preencher	 a	 lacuna	 por	 analogia,	 poderá	 dirimir	 o	 conflito	 através	dos	 usos	 e	 costumes	 	 de	 um	 determinado	 lugar.	 Exemplo:	reconhecimento	da	validade	do	cheque	pós-datado	(ou	pré-datado).	Como	 não	 há	 lei	 proibindo	 a	 emissão	 de	 cheque	 com	 data	 para	depósito,	 e	 tendo	 em	 vista	 as	 práticas	 comerciais,	 reconheceu-se	 a	possibilidade	de	quebrar	com	a	regra	pela	qual	esse	título	de	crédito	é	 ordem	 de	 pagamento	 à	 vista.	 Tanto	 isso	 é	 verdade	 que	 a	jurisprudência	 reconhece	 o	 dever	 de	 indenizar	 quando	 o	 cheque	 é	depositado	antes	do	prazo	assinalado.	Súmula	370,	STJ:	caracteriza	dano	moral	a	apresentação	antecipada	de	cheque	pré-datado.	Outro	exemplo	 de	 uso	 do	 costume	 praeter	 legem:	 dois	 fazendeiros	pretendem	 cercar	 a	 área	 limítrofe	 entre	 suas	 fazendas.	 Só	 que	 um	dos	fazendeiros	quer	passar	4	fios	de	arame	na	cerca	e	o	outro	quer	passar	 apenas	 4	 fios.	 Não	 há	 lei	 específica	 sobre	 tal	 situação,	devendo	o	juiz	aferir	quais	os	costumes	da	região,	se	é	a	utilização	de	3	ou	4	fios	de	arame	farpado.				
7.4. 	Princípio	gerais	de	Direito.					Confrontados	 com	 as	 outras	 normas	 jurídicas,	 percebe-se,	 como	 já	 visto,	que	os	princípios	são	mais	amplos,	abstratos,	muitas	vezes	com	posição	definida	na	própria	Constituição	Federal.	O	próprio	art.	5º	da	Lei	de	Introdução	traz	um	princípio	importante:	o	fim	
social	 da	 norma.	 O	 magistrado,	 na	 aplicação	 da	 lei,	 deve	 ser	 guiado	 pela	 sua	função	social	ou	pelo	objetivo	de	alcançar	o	bem	comum	(pacificação	social).	A	 aplicação	 de	 princípios	 já	 está	 prevista	 como	 forma	 de	 integração	 de	norma	 no	 direito	 desde	 o	 Direito	 Romano	 (mandamentos	 do	 direito	 romano):	
honeste	 vivere,	 alterum	 non	 laedere,	 suum	 cuique	 tribuere,	 traduzindo,	 viver	
honestamente,	não	lesar	a	ninguém,	dar	a	cada	um	o	que	é	seu.	Até	os	dias	de	hoje,	 alguns	 julgamentos	 se	 fundamentam	 em	 tais	 princípios,	 como	 o	 suum	
cuique	 tribure	 (dar	 a	 cada	 um	 o	 que	 é	 seu),	 usado	 para	 resolver	 ações	 de	cobrança,	quando	há	um	enriquecimento	desproporcional	e	ilícito.	
20	
	 Para	 um	 princípio	 jurídico	 ser	 aplicado	 ele	 não	 precisa	 necessariamente	estar	 expresso	 na	 norma.	 Exemplo:	 princípio	 da	 função	 social	 do	 contrato	 está	expressamente	 previsto	 no	 CC/02	 (art.	 421	 e	 2.035,	 parágrafo	 único),	mas	 não	está	 no	 Código	 de	 Defesa	 do	 Consumidor	 (CDC)	 ou	 na	 CLT.	 Entretanto,	 nada	impede	que	tal	princípio	seja	aplicado	nas	relações	de	consumo	e	trabalhistas.		Oportuno	 ressaltar	 que	 a	 doutrina	 tradicional,	 com	 já	 mencionado,	diferencia	 os	 Princípios	 Gerais	 do	 Direito	 (informativos)	 com	 os	 Princípios	
Fundamentais	 do	Direito.	 Os	 princípios	 gerais	 ou	 informativos	 são	 chamados	também	de	postulados	e	são	não	valorativos,	não	possuindo	 força	normativa.	 Já	os	 Princípios	 Fundamentais	 são	 normas	 jurídicas,	 possuindo	 força	 normativa.	Sobre	o	assunto,	ver	a	obra	prima	Teoria	dos	Princípios	–	da	definição	à	aplicação	
dos	princípios	jurídicos,	do	Professor	Humberto	Ávila,	da	Malheiros	Editores.				
7.5. 	 Equidade.				A	 equidade	 pode	 ser	 conceituada	 como	 sendo	 o	 uso	 do	 bom-senso,	 o	
virtuoso,	a	 justiça	 no	 caso	particular,	mediante	 a	 adaptação	 razoável	 da	 lei	 ao	caso	concreto.	A	equidade	ultrapassa	o	direito	escrito	para	ir	ao	encontro	de	um	ideal	 de	 justiça	 distributiva.	 A	 equidade	 é	 carregada,	 portanto,	 com	 grande	subjetivismo,	pois	será	plasmada	pelos	ideais	individuais	de	justiça,	que	mudam	de	pessoa	para	pessoa.		A	doutrina	 tradicional	não	 entendia	a	decisão	por	equidade	como	meio	de	integração	 de	 normas,	 como	meio	 supletivo	 de	 suprir	 a	 lacuna	 da	 lei,	mas	 sim	como	 mero	 meio	 de	 auxiliar	 a	 sua	 aplicação.	 Veja	 que	 a	 LINDB	 não	 traz	 a	equidade	no	rol	do	art.	4º.		O	uso	da	equidade	ou	da	“justiça	do	caso	concreto”	só	é	admitido	quando	a	lei	 expressamente	 consignar	 a	 possibilidade	 do	 seu	 uso	 pelo	 juiz	 (art.	 140,	parágrafo	 único,	 NCPC),	 ou	 seja,	 atualmente	 a	 equidade	 deve	 ser	 considerada	
fonte	 informal	 ouindireta	 do	 direito,	 podendo	 ser	 aplicada	 excepcionalmente,	repita-se,	somente	quando	a	lei	expressamente	permitir,	tendo	em	vista	o	seu	alto	grau	de	subjetivismo.		A	 equidade	 poderá	 ser	 legal,	 quando	 a	 norma	 permite	 ao	 juiz	 diversas	soluções,	entre	duas	ou	mais	possíveis	(art.	1.584,	§	5º,	CC),	ou	judicial,	quando	não	há	opções	de	solução,	mas	uma	cláusula	aberta,	um	espaço,	que	lhe	permite	julgar	da	melhor	forma	(art.	1.740,	II,	CC).		Exemplos	de	utilização	da	equidade	expressamente	prevista	em	lei:			
Ø art.	15,	da	Lei	nº	5.478/68	(lei	de	alimentos)	–	estabelece	regras	para	a	 fixação	 do	 quantum	 da	 pensão	 alimentícia	 através	 do	 critério	equitativo;	
21	
	
Ø Art.	85,	§	8º,	NCPC	–	autoriza	o	juiz	a	utilizar	a	equidade	na	fixação	de	verba	honorária	devida	pelo	vencido	na	ação.	
Ø Art.	413,	CC	–	determina	que	o	 juiz	 reduza,	equitativamente,	o	valor	da	cláusula	penal	(multa),	quando	a	obrigação	foi	cumprida	em	parte,	reduzindo	 a	 cláusula	 penal	 contratual	 atendendo	 à	 função	 social.	Observe	que	o	CC	usa	a	expressão	o	juiz	“deve”	reduzir	e	não	“pode”	reduzir;	
Ø Arts.	7º	e	51,	CDC,	equidade	em	favor	do	consumidor;	
Ø Art.	8º,	CLT,	equidade	em	favor	do	trabalhador;	
Ø Art.	11,	II	da	Lei	nº	9.307/96	–	Lei	de	arbitragem;	
Ø Art.	 944,	 parágrafo	 único,	 CC,	 que	 afirma	 que	 o	 juiz	 poderá	 reduzir	equitativamente	 o	 valor	 da	 indenização,	 se	 houver	 excessiva	desproporção	 entre	 a	 gravidade	 da	 culpa	 e	 o	 dano,	 saindo	 da	 regra	geral	 que	 é	 calcular	 a	 indenização	 pela	 extensão	 do	 dano	 (art.	 944,	
caput,	CC).					 Terminando	 este	 ponto,	 no	 que	 toca	 a	 interpretação	 da	 norma	 (art.	 5º,	LINDB),	o	julgador	atenderá	aos	fins	sociais	a	que	ela	se	dirige	e	às	exigências	do	
bem	 comum.	 Interpretar	 as	 normas	 de	 acordo	 com	 os	 seus	 fins	 sociais	 é	 a	chamada	 interpretação	 teleológica	 ou	 sociológica.	 Deste	 modo,	 ao	 concluir	 a	interpretação	de	uma	norma,	o	 intérprete	pode	entender	que	a	norma	deve	 ter	sua	aplicação	ampliada	ou	restringida.			 Em	 algumas	 situações,	 a	 interpretação	 da	 norma	 deve	 ser	 sempre	restritiva,	 como	 as	 normas	 que	 estabeleçam	 fiança,	 aval,	 privilégio,	 sanção	 ou	renúncia	(art.	114,	819,	CC	etc).				
8. Aplicação	da	norma	jurídica	no	tempo	(art.	6º	da	LINDB).	
	
		 A	norma	jurídica	é	criada	para	valer	“a	partir	de”,	ou	seja,	no	presente	e	no	futuro,	 não	 no	 passado.	 De	 outro	 modo,	 pode-se	 dizer	 que	 lei	 nova	 é	 não-retroativa.	 Apenas	 eventualmente	 ela	 pode	 atingir	 fatos	 passados,	 desde	 que	esteja	de	acordo	com	os	parâmetros	da	LINDB	e	da	CF/88.	A	lei	nova	é	aplicável	de	forma	imediata	e	geral,	respeitados	o	ato	jurídico	perfeito,	o	direito	adquirido	e	a	coisa	julgada.			 O	 art.	 5º,	 XXXVI,	 da	 CF/88,	 traz	 implícito	 o	 princípio	 da	 segurança	
jurídica:	 “a	 lei	 não	 prejudicará	 o	 direito	 adquirido,	 o	 ato	 jurídico	 perfeito	 e	 a	coisa	julgada”.			 Assim:		 Regra	geral	è	Irretroatividade.		 Exceção	è	retroatividade,	desde	que	prevista	em	lei.		
22	
	
ü Exemplo	1:	a	 lei	penal	benéfica	ao	réu,	 segundo	próprio	mandamento	constitucional	(art.	5º,	XL)	deverá	retroagir.		
ü Exemplo	2:	com	frequência,	no	serviço	público	surgem	leis	que	 fixam,	expressamente,	subsídios	com	efeitos	retroativos.		
ü Exemplo	3:	os	preceitos	relacionados	com	a	função	social	do	contrato	e	 da	propriedade	 podem	 retroagir,	 sendo	 aplicados	 às	 convenções	 e	negócios	celebrados	na	vigência	do	Código	Civil	anterior,	por	expressa	disposição	do	art.	2.035,	§	único,	CC/02	(princípio	da	retroatividade	
motivada	ou	justificada).			 Não	devemos	confundir	retroatividade	da	lei	com	ultratividade	da	lei,	que	é	a	sua	aplicação	mesmo	após	a	sua	revogação.	A	ultratividade	é	mais	utilizada	no	Direito	Penal,	para	beneficiar	o	réu.			 No	Direito	Civil,	aplica-se	a	ultratividade	da	norma	em	alguns	casos	apenas,	como	no	previsto	na	Súmula	112,	STF,	que	prevê	que	a	alíquota	do	imposto	de	transmissão	 “causa	 mortis”	 –	 ITCMD,	 deve	 ser	 aquela	 vigente	 ao	 tempo	 da	abertura	da	sucessão.				
8.1. 	Ato	Jurídico	Perfeito	(§	1º).			O	 ato	 jurídico	 perfeito	 é	 a	manifestação	 de	 vontade	 lícita,	aperfeiçoada,	emanada	 por	 quem	 esteja	 em	 livre	 disposição	 de	 seus	 direitos	 e	 deveres.	 É	aquele	ato	consumado	de	acordo	com	a	lei	vigente	ao	tempo	em	que	se	efetuou.	Exemplo:	um	contrato	celebrado	que	já	tenha	produzido		todos	seus	efeitos.		Não	 devemos	 confundir	 o	 ato	 jurídico	 perfeito	 com	 o	 ato	 jurídico	continuativo	 (ato	 de	 trato	 sucessivo).	 Sobre	 o	 assunto,	 	 ver	 art.	 2.035,	 CC,	 que	determina	que,	em	se	tratando	de	ato	jurídico	continuativo	(de	trato	sucessivo),	a	sua	existência	e	validade	estarão	vinculadas	à	norma	do	tempo	de	sua	celebração,	ao	passo	que	 sua	 eficácia	 estará	 sujeita	 à	norma	atual.	Assim,	por	 exemplo,	 um	casamento	 ou	 contrato	 celebrado	 antes	 do	 Código	 Civil	 de	 2002	 terão	 a	 sua	existência	 e	 validade	 regulados	 pelo	 Código	 Civil	 de	 1916,	 mas	 terá	 a	 eficácia	(efeitos)	regulada	de	acordo	com	o	CC	atual.				
8.2. 	Direito	adquirido	(§	2º).			É	o	direito	material	ou	imaterial	já	incorporado	no	patrimônio	de	uma	pessoa	natural,	jurídica	ou	ente	despersonalizado.			 Consideram-se	 adquiridos	 assim	 os	 direitos	 que	 o	 seu	 titular,	 ou	 alguém	por	 ele,	 possa	 exercer,	 como	 aqueles	 cujo	 começo	 do	 exercício	 tenha	 tempo	prefixo,	ou	condição	preestabelecida	 inalterável,	 a	arbítrio	de	outrem	(§	2º,	 art.	
23	
	6º).	 Os	 benefícios	 previdenciários	 podem	 ser	 dados	 como	 exemplo.	 Assim,	 se	alguém	 já	 completou	 os	 prazos	 legais	 para	 pleitear	 aposentadoria,	mas	 entre	 o	pedido	 da	 concessão	 da	 aposentadoria	 e	 o	 efetivo	 início	 do	 gozo	 do	 benefício	houver	modificação	nas	regras	de	aposentadoria,	aumentando	o	prazo	para	que	possa	 pedir	 o	 benefício,	 tal	 aumento	 não	 atingirá	 quem	 já	 havia	 completado	 o	prazo	anteriormente	previsto.			 O	 conceito	 de	 direito	 adquirido	 é	 fundamentalmente	 patrimonial.	 Não	existe,	por	exemplo,	direito	adquirido	a	um	determinado	regime	jurídico.	Assim,	um	 servidor	 público	 não	 pode	 alegar	 que	 tem	 “direito	 adquirido”	 ao	 regime	jurídico	que	regia	a	sua	relação	com	o	Estado.		 O	STF	também	vem	alegando	que	não	se	pode	alegar	direito	adquirido	em	face	do	poder	constituinte	originário	(ou	até	mesmo	o	derivado).			
8.3. Coisa	Julgada	(§	3º).			
	 É	a	decisão	judicial	prolatada	da	qual	não	cabe	mais	recurso25.		 De	 um	modo	 geral,	 podemos	 dizer	 que	 a	 proteção	 das	 3	 categorias	 (ato	jurídico	perfeito,	direito	adquirido	e	coisa	julgada)	é	praticamente	absoluta.		 Entretanto,	modernamente,	devemos	chamar	a	atenção	para	o	fato	de	que	há	 uma	 forte	 tendência	 material	 e	 processual	 em	 apontar	 a	 relativização	 da	
coisa	 julgada,	 particularmente	 nos	 casos	 envolvendo	 investigação	 de	paternidade	 julgadas	 improcedentes	 por	 ausências	 de	 provas	 em	momento	 em	que	não	existia	o	exame	de	DNA.	A	nova	propositura	da	ação	de	investigação	de	paternidade,	 havendo	 prova	 nova,	 é	 plenamente	 possível,	 ainda	 que	 aquela	 já	tenha	sido	atingida	pela	coisa	julgada.			 Através	da	 técnica	de	ponderação	de	valores,	 desenvolvida	por	Robert	Alexy,	 dentre	 outros	 autores,	 podemos	 chegar	 a	 decisões	 que	 relativizem	 uns	princípios	em	face	de	outros.	No	caso	acima,	da	investigação	de	paternidade	em	processo	 já	 julgado	 improcedente	 por	 falta	 de	 provas,	 estão	 em	 ponderação	 o	princípio	 da	 proteção	 da	 coisa	 julgada	 (art.	 5º,	 XXXVI,	 CF)	 e	 o	 princípio	 da	dignidade	da	pessoa	humana,	do	suposto	filho	(art.	1º,	III,	CF).	Na	colisão	destes	dois	 princípios,	 o	 STJ	 e	 o	 STF	 posicionaram-se	 favoravelmente	 ao	 segundo,	mitigando	a	coisa	julgada.			 		
																																																													
25	Oportuno	 ressaltar	 o	 elemento	 caracterizador	 da	 coisa	 julgada	 é	 a	 impossibilidade	 de	
interposição	de	recurso	e	não	o	decurso	do	prazo	para	ajuizamentode	ação	rescisória.	A	ação	
rescisória	 destina-se	 justamente	 desconstituir	 a	 coisa	 julgada	 já	 existente,	 sendo	 esta		requisito	 indispensável	 à	 propositura	 da	 mencionada	 ação.	 Trocando	 em	 miúdos,	 somente	 é	possível	 ajuizar	 com	 uma	 ação	 rescisória	 quando	 se	 pretende	 rescindir	 uma	 sentença	 que	 já	tenha	produzido	coisa	julgada.		
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9. Aplicação	da	norma	jurídica	no	espaço	(arts.	7º	a	19	da	LINDB).					 Estes	artigos	(arts.	7º	a	19)	trazem	regras	de	Direito	Internacional	Público	e	Privado,	motivo	pelo	qual	esta	matéria	interessa	mais	a	estes	ramos	jurídicos.			 Faremos	 aqui	 apenas	 os	 comentários	 que	 interessam	 ao	 nosso	 ramo,	Direito	Privado.		 Em	 função	da	 soberania	dos	países,	 a	norma	possui	 aplicação	dentro	dos	limites	territoriais	do	próprio	país,	como	regra.			 Em	outras	palavras,	os	marcos	de	incidência	são	as	fronteiras	do	ente	que	editou	 a	 norma:	 princípio	 da	 territorialidade,	 que	 é	 a	 regra	 geral.	 Não	 só	 os	limites	 físicos	 do	 Estado	 sujeitam-se	 ao	 princípio,	 estendendo-se	 aos	 seus	consulados,	 embaixadas,	 navios	 de	 guerra	 e	 mercantes	 que	 estejam	 em	 águas	territoriais	 ou	 em	 alto-mar.	 Mas	 o	 princípio	 da	 territorialidade	 é,	 em	 verdade,	moderado,	mitigado	 em	 certos	 casos,	 pois	 admite-se	 situações	 em	 que	 se	 deve	aplicar	as	normas	estrangeiras	no	Brasil	ou	normas	brasileiras	fora	do	Brasil.			 Em	tais	casos,	denomina-se:	princípio	da	extraterritorialidade,	que	pode	ainda	ser	incondicionado	ou	condicionado.			
9.1. 	Art.	 7º	 -	 lex	 domicilli,	 para	 as	 regras	 da	 personalidade,	 nome,	
capacidade	e	direitos	de	família.			A	 regra	do	 lex	domicilli	 está	 consagrada	no	art.	 7º,	 da	LINDB,	 segundo	a	qual	devem	ser	aplicadas,	no	que	concerne	ao	começo	e	fim	da	personalidade,	as	
normas	do	país	em	que	a	pessoa	for	domiciliada	(estatuto	pessoal).		O	critério	adotado	pela	LINDB	para	o	direito	de	família	(também	para	as	regras	 sucessórias,	 como	 veremos	 no	 estudo	 do	 art.	 10,	 LINDB,	 e	 para	 a	
personalidade,	 o	 nome,	 a	 capacidade),	 não	 é	 o	 do	 jus	 sanguinis,	 ligado	 à	nacionalidade	dos	pais,	independentemente	do	local	do	nascimento	da	pessoa.	O	critério	adotado	é	o	jus	domicilii,	segundo	o	qual	a	norma	a	ser	aplicada	é	aquela	vigente	 no	 local	 de	 domicílio	 da	 família,	 observando-se	 o	 local	 onde	 ela	 se	estabeleceu	com	ânimo	definitivo.		Esta	regra	vale,	como	dito,	para	os	casos	que	versarem	sobre:	o	começo	e	o	
fim	 da	 personalidade,	 o	 nome,	 a	 capacidade	 e	 os	 direitos	 de	 família.	Entretanto,	quando	a	pessoa	não	tiver	domicílio	certo,	como	no	caso	dos	ciganos,	moradores	de	rua,	circenses	etc,	considerar-se-á	domiciliada	no	lugar	em	que	se	encontre	(art.	73,	CC).			 As	 regras	 quanto	 à	 aplicação	 das	 normas	 ao	 casamento	 também	 estão	previstas	nos	parágrafos	do	art.	7º,	da	LINDB.	Celebrado	o	casamento	no	Brasil,	devem	 ser	 aplicadas	 as	 regras	 brasileiras	 quanto	 aos	 impedimentos	
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matrimoniais	 (os	 impedimentos	matrimoniais,	 em	espécie,	 estão	no	art.	1.521,	CC/02).			 O	 casamento	 entre	 estrangeiros	 pode	 ser	 celebrado	 no	 Brasil,	 perante	autoridades	diplomáticas	ou	consulares	do	país	de	ambos	os	nubentes	(art.	7º,	§	2º,	LINDB).			 Caso	 os	 nubentes	 tenham	domicílios	diversos,	 deverão	 ser	 aplicadas	 as	regras,	 quanto	 à	 invalidade	do	 casamento,	 do	primeiro	 domicílio	 conjugal	 (art.	7º,	§	3º).	Esta	norma	é	para	regular	as	situações	em	que	os	cônjuges	residam	em	países	diferentes	ao	tempo	da	celebração	do	matrimônio.	De	acordo	com	a	norma,	as	hipóteses	de	anulação	do	casamento,	por	exemplo,	serão	aquelas	previstas	na	
lei	 vigente	 no	 pais	 em	 que	 o	 casal	 fixar	 o	 seu	 primeiro	 domicílio	 após	 as	
núpcias.			 Quanto	 às	 regras	matrimoniais	 relativas	 ao	 regime	de	 bens,	 seja	 ele	 de	origem	 legal	 ou	 convencional,	 deverá	 ser	 aplicada	 a	 lei	 do	 local	 em	 que	 os	
cônjuges	 tenham	domicílio.	 Em	havendo	divergência	 quanto	 aos	 domicílios,	prevalecerá	o	primeiro	domicílio	do	casal	(art.	7º,	§	4º).			 Oportuno	observar	que,	após	a	Emenda	do	Divórcio	(EC	66/2010),	o	lapso	temporal	estabelecido	no	art.	7º,	§	6º,	da	Lei	de	Introdução	(um	ano),	assim	como	todos	os	prazos	mínimos	para	a	 concessão	do	divórcio	 foram	banidos	do	nosso	sistema	jurídico.	Este	é	o	entendimento	do	STJ.		 		
9.2. 	Art.	8º	-	lex	rei	sitiae.			No	que	se	refere	aos	bens,	a	LINDB	prevê	que	deve	ser	aplicada	a	norma	do	
país	em	que	esses	se	situam.		Se	aplica	a	lex	rei	sitiae	para	os	bens	imóveis,	bens	móveis	permanentes	e	
todos	 os	 direitos	 reais	 (à	 exceção	 do	 penhor,	 pois	 é	 direito	 real	 de	 garantia	sobre	bens	móveis).	Quanto	aos	bens	móveis	carregados	pelo	proprietário	e	ao	penhor,	aplica-se	a	lei	do	país	em	que	ele	for	domiciliado	(mobília	sequntur	personam).				
9.3. 	Art.	9º	-	locus	regit	actum.				Ao	tratar	das	obrigações,	a	Lei	de	Introdução	consagra	a	regra	de	que	deve	ser	aplicada	a	lei	do	local	em	que	as	obrigações	foram	constituídas.	Ler	artigo.	Os	parágrafos	1º	e	2º	do	art.	9º,	LINDB,	trazem	as	duas	mitigações	à	regra	geral.		Quanto	 ao	 parágrafo	 2º	 do	 art.	 9º,	 devemos	 entender	 que	 esta	 regra	 se	aplica	 aos	 contratos	 internacionais	 (lugar	 em	 que	 residir	 o	 proponente)	 ao	
26	
	passo	que	devemos	aplicar	o	art.	435,	CC/02	para	os	contratos	nacionais	(lugar	em	que	o	contrato	foi	proposto).				
9.4. 	Art.	10	–	lex	domicilli,	para	a	sucessão	por	morte.					 A	sucessão	por	morte	ou	por	ausência	obedece	à	norma	do	país	do	último	domicílio	do	de	cujus,	corroborando	o	disposto	no	art.	1.785,	CC/02.		 As	regras	e	vocação	hereditária	para	suceder	bens	de	estrangeiro	situados	no	nosso	País	serão	as	nacionais,	desde	que	não	sejam	mais	favoráveis	ao	cônjuge	e	aos	filhos	do	casal	as	normas	do	último	domicílio	(art.	10,	§	1º,	LINDB).		 Para	 fazer	 o	 inventário	 de	 bens	 situados	 no	 Brasil,	 lembre-se	 de	 que	somente	o	 juiz	brasileiro	é	competente	para	 tal	ato,	de	acordo	com	o	art.	23	do	NCPC,	mesmo	que	os	bens	sejam	de	estrangeiro.	
	 	
	
	
	
	
	
9.5. Art.	11	–	regras	quanto	às	sociedades	e	fundações.				 Tal	dispositivo	trata	das	sociedades	e	fundações	particulares	estrangeiras.	Para	estes	casos,	o	Brasil	fez	a	opção	pela	aplicação	das	normas	vigentes	no	local	da	constituição	da	sociedade	ou	fundação,	pouco	importando	a	lei	do	lugar	onde	se	dá	o	exercício	de	sua	atividade26.	Assim,	 quando	 se	 tratar	 de	 pessoa	 jurídica	 de	 direito	 privado,	 os	 sócios	podem	ter	nacionalidade	e	domicílio	diversos,	como	também	haver	subscrição	do	capital	social	em	vários	Estados.	Diante	destas	situações,	a	LINDB	manda	a	aplicar	o	 direito	 que	 vigorar	 no	 local	 da	 constituição	 da	 sociedade	 e	 da	 fundação	 de	caráter	privado.	Observação.	A	 regulação	 das	 sociedades	 nacionais	 está	 nos	 arts.	 1.126	 a	1.133,	 CC,	 enquanto	 que	 as	 sociedades	 internacionais	 têm	 sua	 regulamentação	entre	os	arts.	1.134	a	1.141,	CC.	Já	 o	 parágrafo	 2º,	 do	 art.	 11,	 da	 LINDB,	 trata	 de	 restrições	 às	 pessoas	
jurídicas	de	direito	público	externo	quanto	à	aquisição,	ao	gozo	e	ao	exercício	de	direito	real	no	território	nacional.	Deste	modo,	as	pessoas	jurídicas	de	direito	público	externo	são,	por	lei,	absolutamente	incapazes	para	adquirir	a	posse	ou	a	propriedade	 de	 imóvel	 situado	 no	 Brasil	 ou	 de	 bens	 suscetíveis	 de	
																																																													26	DINIZ,	Maria	 Helena.	 Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro	interpretada.	 18ª	 ed.,	rev.	e	atual.	–	São	Paulo:	Saraiva,	2013,	p.	363	
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	desapropriação,	como	direitos	autorais,	patentes	de	invenção,	direitos	reais	sobre	a	coisa	alheia	de	fruição27.	Entretanto,	o	art.	11,	§	3º,	abre	exceção	ao	parágrafo	anterior,	permitindo	a	aquisição	de	 imóveis	situados	no	Brasil	por	pessoas	 jurídicas	de	direito	público	estrangeiro,	 desde	 que	 sejam	 destinados	 às	 sedes	 dos	 representantes	diplomáticos	 ou	 agentes	 consulares.	 A	 exceção	 vale,portanto,	 apenas	 àqueles	imóveis	imprescindíveis	à	prestação	dos	serviços	diplomáticos.		
	
	
9.6. 	Art.	12	–	competência	da	autoridade	brasileira.	
	
	
	
Ø É	 competente	 a	 autoridade	 judiciaria	 brasileira,	 quando	 for	 o	 réu	domiciliado	no	Brasil	ou	aqui	tiver	de	ser	cumprida	a	obrigação;	
Ø Só	à	autoridade	judiciaria	brasileira	compete	conhecer	das	ações	relativas	a	imóveis	situados	no	Brasil.		Atenção	aqui	a	dois	pontos:		a) Parágrafo	 1º	 –	 quanto	 aos	 imóveis	 situados	 no	 Brasil,	 a	 competência	 da	autoridade	judiciaria	brasileira	é	absoluta	(art.	23,	I,	NCPC).	b) Parágrafo	 2º	 –	 o	 exequatur	 (ou	 “cumpra-se”)	 relacionado	 com	 uma	sentença	estrangeira	é	homologado	no	STJ,	de	acordo	com	a	nova	redação	dada	 ao	 art.	 105,	 CF/88,	 pela	 EC	 45/2004	 (antes	 era	 atribuição	 do	 STF).	Para	que	o	STJ	dê	o	exequatur28,	 a	parte	 interessada	deve	comprovar	que	houve	o	 trânsito	em	julgado	da	 sentença,	que	esta	é	compatível	com	o	
ordenamento	 interno	 e	 que	 ainda	 sejam	 observadas	 as	 regras	processuais	 dispostas	 entre	 os	 arts.	 961	 a	 965	 do	 NCPC.	 Assim,	 por	exemplo,	uma	sentença	que	preveja	pena	de	morte	no	exterior,	não	poderá	ter	 o	 “cumpra-se”	 aqui	 no	 Brasil,	 posto	 que	 não	 compatível	 com	 nosso	ordenamento.	Entretanto,	se	alguém	contrai	dívida	de	 jogo	em	Las	Vegas,	Estados	Unidos,	onde	a	execução	de	dívida	de	jogo	é	permitida,	e	não	paga,	vindo	 para	 o	 Brasil,	 tal	 dívida	 poderá	 ser	 aqui	 cobrada.	 Não	 poderia	 ser	cobrada	 aqui	 se	 a	 dívida	 tivesse	 sido	 contraída	 aqui	 em	 nosso	ordenamento,	 que	 proíbe	 a	 execução	 de	 dívida	 de	 jogo.	 Mas	 nosso	ordenamento	 permite	 a	 cobrança	 de	 uma	 dívida	 contraída	 legalmente,	 o	que	 possibilitaria	 a	 execução	 de	 uma	 dívida	 contraída	 em	 estado	estrangeiro	 que	 a	 permite.	 Por	 fim,	 uma	 vez	 concedido	 o	 exequatur,	 a	sentença	estrangeira	será	cumprida	por	 juiz	 federal	de	primeira	 instância	(art.	109,	X,	CF).	
																																																													27	Idem,	p.	374	28	Observação.	A	lei	12.036/2009	revogou	o	parágrafo	único	do	art.	15	da	LINDB,	que	dizia	que	a	sentença	meramente	declaratória	não	precisaria	do	exequatur.	Entretanto,	com	sua	revogação,	até	as	sentenças	meramente	declaratórias	precisam	do	“execute-se”	
28	
	 		
9.7. Art.	13	e	14	–	ônus	probatório	de	fato	ocorrido	no	exterior.					O	art.	13,	LINDB,	se	refere	à	prova	dos	fatos	ocorridos	no	estrangeiro.	Assim,	para	se	determinar	de	qual	parte	deva	ser	o	ônus	da	prova	de	determinado	fato	ocorrido	no	estrangeiro,	deve-se	recorrer	a	lei	do	local	onde	o	fato	ocorreu.	Assim	também,	os	meios	de	prova	a	serem	admitidos	devem	ser	aqueles	permitidos	na	lei	do	local	onde	o	fato	ocorreu	ou	o	ato	foi	celebrado.		Percebe-se	 então	 que	 o	 ônus	 da	 prova	 e	 os	meios	 de	 prova	 regular-se-ão	pela	 norma	 vigente	 no	 Estado	 onde	 se	 passou	 o	 fato.	 Entretanto,	 o	 modo	 de	produção	dessas	provas	em	juízo,	por	pertencerem	à	ordem	processual,	reger-se-á	pelo	nosso	direito,	caso	a	ação	se	processe	em	jurisdição	brasileira.		Entretanto	 os	 tribunais	 brasileiros	 não	 admitirão	 espécies	 de	 prova	 que	nosso	 ordenamento	 desconheça.	 Assim,	 se	 a	 lei	 alienígena	 permitir	 a	 prova	 de	venda	 de	 imóvel	 com	 valor	 acima	 de	 30	 salários	 mínimos	 por	 instrumento	particular,	 o	 juiz	 brasileiro	 não	 poderá	 aceitar	 o	 instrumento	 particular	 como	meio	probatório.	Já	o	art.	14,	LINDB,	determina	que	não	conhecendo	a	 lei	estrangeira,	o	 juiz	poderá	 exigir	 de	 quem	 a	 invoca	 prova	 do	 texto	 e	 de	 sua	 vigência.	 O	 direito	nacional	não	precisará	ser	alegado	nem	provado	pelos	 interessados.	Entretanto,	se	o	juiz	entender	que,	no	caso,	deva	ser	aplicada	norma	estrangeira,	pode	pedir	a	cooperação	das	partes	para	que	tragam	à	juízo	a	respectiva	norma.					
9.8. Arts.	 15	 e	 16	 -	 requisitos	 para	 execução	 no	 Brasil	 de	 sentença	
estrangeira.					A	 sentença	 estrangeira	 não	 pode	 ser	 diretamente	 executada	 no	 Brasil	 por	não	ter	sido	proferida	por	autoridade	brasileira.	Assim,	para	poder	ser	executada	no	Brasil,	tal	sentença	precisará	ser	submetida	a	apreciação	pela	jurisdição	local,	para	 só	 assim	 poder	 produzir	 seus	 efeitos.	 A	 esta	 “aprovação”	 da	 sentença	estrangeira	se	confere	o	nome	de	exequatur.		O	juízo	de	deliberação	de	sentença	estrangeira	será	regulado	pelos	arts.	960	a	965,	do	Novo	CPC,	para	as	demandas	cíveis	e	pelo	art.	787,	CPP,	para	as	 lides	penais,	 devendo,	 nos	 dois	 casos,	 obedecer	 ainda	 aos	 requisitos	 do	 art.	 15,	 da	LINDB.		
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	 Já	o	art.	16,	LINDB,	trata	da	vedação	ao	retorno,	pela	qual	a	norma	de	direito	internacional	 privado	 deve	 ser	 aplicada	 ainda	 que	 esta	 remeta	 a	 causa	 à	jurisdição	brasileira.	Esta	 norma	 tenta	 evitar	 o	 chamado	 conflito	 negativo	 de	 jurisdição,	 que	ocorre	quando	a	norma	de	direito	internacional	privado	de	um	Estado	estabelece	a	 competência	 de	 outro	 país,	 ao	 passo	 que	 a	 norma	 de	 direito	 internacional	privado	deste	último	país	ordena	que	se	aplique	o	direito	do	primeiro	Estado.		Exemplo:	 na	 determinação	 da	 capacidade	 de	 um	 inglês	 domiciliado	 na	Alemanha.	Levada	a	ação	ao	 foro	 inglês,	aplicar-se-á	a	norma	alemã,	por	estar	a	pessoa	domiciliada	na	Alemanha	e	por	mandar	a	norma	de	direito	internacional	inglesa	praticar	a	lei	do	domicílio	(lex	domicilii).	Entretanto,	se	a	lide	se	processar	no	tribunal	alemão,	este	indicará	como	competente	a	lei	inglesa,	pois	a	norma	de	direito	internacional	privado	alemão	ordena	a	aplicação	da	lei	nacional,	 já	que	o	interessado	é	de	nacionalidade	inglesa.	Temos	então	um	conflito	negativo29.	Outro	 exemplo:	 um	 juiz	 brasileiro	 tem	 de	 apreciar	 a	 capacidade	 de	 um	brasileiro	domiciliado	em	Portugal.	O	art.	7º,	LINDB,	determina	que,	nesse	caso,	deve	 ser	 aplicada	 a	 lei	 domiciliar	 (lex	 fori),	 portanto	 a	 lei	 portuguesa,	 pouco	importando	 que	 alei	 de	 direito	 internacional	 privado	 de	 Portugal	 venha	 a	submeter,	em	retorno,	à	lei	brasileira,	a	decisão	do	caso.				
9.9. Art.	 17	 –	 vedação	 de	 eficácia	 de	 leis	 estrangeiras	 contrárias	 ao	
nosso	ordenamento.				De	acordo	com	as	regras	estudadas	até	então,	é	possível	que	a	lei	estrangeira	seja	 aplicada	 no	 Brasil,	 excepcionalmente.	 Entretanto,	 se	 tal	 norma	 vier	 a	contrariar	a	ordem	pública,	a	soberania	nacional	e	os	bons	costumes,	 tal	norma	não	terá	eficácia	no	Brasil,	devendo	ser	aplicada	a	norma	nacional.			
9.10. Art.	18	–	casamento	de	brasileiro	no	exterior.				Tratando-se	 de	 brasileiros	 que	 estão	 no	 exterior,	 ainda	 que	 sejam	domiciliados	 no	 Brasil,	 as	 autoridades	 consulares	 brasileiras	 são	 competentes	para	lhes	celebrar	casamento,	exercer	funções	de	tabelião	e	de	oficial	de	registro	civil	de	atos	acontecidos	no	estrangeiro.		Estamos	 diante	 de	 uma	 caso	 de	 aplicação	 da	 norma	 no	 espaço	 de	 acordo	com	a	territorialidade	mitigada,	pois	aplicar-se-á	a	lei	brasileira	no	estrangeiro.	Esta	 excepcional	 possibilidade	 de	 aplicação	 da	 lei	 brasileira	 pelas	 autoridades	consulares,	mesmo	no	exterior,	teve	redação	alterada	pela	Lei	12.874/2013,	que	acrescentou	 o	 parágrafo	 primeiro	 ao	 art.	 18	 da	 LINDB,	 permitindo	 que	 as	
																																																													29	DINIZ,	Maria	 Helena.	 Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro	interpretada.	 18ª	 ed.,	rev.	e	atual.	–	São	Paulo:	Saraiva,	2013,	p.	446.	
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autoridades	consulares	brasileiras	possam	celebrar	a	separação	consensual	e	o	divórcio,	não	havendo	filhos	menores	ou	incapazes	do	casal,	desde	que	as	partes	estejam	 assistidas	 de	 advogado.	Neste	 caso,	 os	 cônsules	 estarão	 aplicando	 a	 lei	brasileira	em	território	estrangeiro.			
9.11. Art.	 19	 –	 validade	de	 atos	 praticados	 por	 cônsules	 brasileiros	 no	
exterior.				 Este	dispositivo	é	uma	regulamentação	do	artigo	anterior.	Importante	notar	que,	 assim	 como	 os	 anteriores,	 tal	 dispositivo	 não	 exige	 que	 os	 brasileirossituados	 no	 exterior	 tenham	 domicílio	 no	 Brasil	 ou	 em	 terras	 alienígenas	 para	terem	seus	pedidos	processados	pelas	autoridades	 consulares	brasileiras.	Basta	apenas	se	tratar	de	brasileiro.		
	
	
Bibliografia.	
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Civil	–	27.	Ed.-	São	Paulo:	Saraiva,	2010.	__________,	Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro	interpretada.	 18ª	 ed.,	 rev.	 e	atual.	–	São	Paulo:	Saraiva,	2013.		FARIAS,	Cristiano	Chaves	de;	ROSENVALD,	Nelson.	Curso	de	Direito	Civil	–	Parte	Geral	e	
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Geral.	12.	ed.	rev.	atual.	–	São	Paulo:	Saraiva:	2010.		GOMES,	 Orlando.	 Introdução	 ao	 Direito	 Civil	 –	20.	 ed.	 atual.	 de	 acordo	 como	 o	 novo	Código	Civil.	Rio	de	Janeiro:	Forense,	2010.	LÔBO,	Paulo.	Direito	Civil:	parte	geral.	3ª	ed.	–	São	Paulo:	Saraiva,	2012.	LOTUFO,	Renan.	Código	Civil	Comentado:	Parte	Geral	(arts.	1°	a	232).	–	2.	ed.	atual.	–	São	Paulo:	Saraiva,	2004.	RODRIGUES,	Sílvio.	Direito	Civil,	Volume	1	–	Parte	Geral.	34.	Ed.	São	Paulo:	Saraiva,	2007.		TARTUCE,	Flávio.	Manual	de	direito	civil:	volume	único.	4ª	edição,	rev.	atual.	e	ampl.	–	Rio	de	Janeiro:	Forense;	São	Paulo:	MÉTODO,	2014.	TARTUCE,	Flávio.	Direito	Civil,	v.	1:	Lei	de	Introdução	e	Parte	Geral/Flávio	Tartuce	–	12ª	ed.	rev.,	atual.	e	ampl.	–	Rio	de	Janeiro:	Forense,	2016.			
		
Questões	de	concurso.		
01)	 (Ano:	 2014.	 Órgão:	 DPE-PR.	 Prova:	 Defensor	 Público).
Acerca	 da	 Lei	 de	
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Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro,	considere	as	seguintes	afirmativas:		1.	 Os	 princípios	 gerais	 de	 direito,	 estejam	 ou	 não	 positivados	 no	 sistema	 normativo,	constituem-se	 em	 regras	 estáticas	 carecedoras	 de	 concreção	 e	 que	 têm	 como	 função	principal	auxiliar	o	juiz	no	preenchimento	de	lacunas.		2.	 De	 acordo	 com	 o	 ordenamento	 jurídico	 brasileiro,	 o	 efeito	 repristinatório	 da	 lei	revogadora	 de	 outra	 lei	 revogadora	 é	 automático	 e	 imediato	 sobre	 a	 velha	 norma	abolida,	prescindindo	de	declaração	expressa	de	lei	nova	que	a	restabeleça.		3.	 A	 revogação	 de	 uma	 norma	 por	 outra	 posterior	 tem	 por	 espécies	 a	 ab-rogação	 e	 a	derrogação,	 e	pode	 ser	 expressa	ou	 tácita,	 sendo	que,	neste	último	 caso,	 é	obrigatório	conter,	na	lei	nova,	a	expressão	“revogam-se	as	disposições	em	contrário”.		4.	A	lei	em	vigor	terá	efeito	imediato	e	geral,	respeitados	os	atos	jurídicos	consumados,	mesmo	que	nulos.
 	5.	 A	 cessação	 da	 eficácia	 de	 uma	 lei	 não	 corresponde	 à	 data	 em	 que	 ocorre	 a	promulgação	ou	publicação	da	lei	que	a	revoga,	mas	sim	à	data	em	que	a	lei	revocatória	se	tornar	obrigatória.			Assinale	a	alternativa	correta.		a) Somente	as	afirmativas	1,	3	e	4	são	verdadeiras.
 	b) Somente	as	afirmativas	2	e	5	são	verdadeiras.		c) Somente	as	afirmativas	1	e	5	são	verdadeiras.		d) Somente	as	afirmativas	3,	4	e	5	são	verdadeiras.		e) Somente	as	afirmativas	1,	2,	3	e	4	são	verdadeiras.			
02)	(Ano:	2012.	Banca:	FEPESE.	Órgão:	DPE-SC.	Prova:	Defensor	Público).
 Sobre	a	
Lei	de	Introdução	às	Normas	do	Direito	Brasileiro,	é	correto	afrmar:		A)	A	lei	revogada	se	restaura	por	ter	a	lei	revogadora	perdido	a	vigência.
 	B)	As	correções	a	texto	de	lei	já	em	vigor	não	se	consideram	lei	nova.		C)	A	lei	posterior	revoga	a	anterior	apenas	quando	expressamente	o	declare.
 	D)	A	 lei	 começa	a	vigorar	em	 todo	o	país	quarenta	e	 cinco	dias	depois	de	ofcialmente	publicada	 e	 se,	 antes	 de	 entrar	 a	 lei	 em	 vigor,	 ocorrer	 nova	 publicação	 de	 seu	 texto,	destinada	a	correção,	o	prazo	continua	correndo	da	primeira	publicação.		E)	 Consideram-se	 adquiridos	 assim	 os	 direitos	 que	 o	 seu	 titular,	 ou	 alguém	 por	 ele,	possa	exercer,	como	aqueles	cujo	começo	do	exercício	tenha	termo	pré-fxo,	ou	condição	preestabelecida	inalterável,	a	arbítrio	de	outrem.				 	
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Gabarito:			 1- C	2- E

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