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Direito das coisas

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  
 Clóvis Beviláqua: direito das coisas “é o complexo de normas 
reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas 
suscetíveis de apropriação pelo homem. Tais coisas são, 
ordinariamente, do mundo físico, porque sobre elas é que é 
possível exercer o poder de domínio”. 
 É o ramo do Direito Civil que tem como conteúdo relações 
jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou 
determináveis. 
 
 
 
Coisa: é o gênero do qual bem é espécie. É tudo o que existe objetivamente, com 
exclusão do homem. 
Bens: são coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e 
contêm valor econômico. 
 Somente interessam ao direito coisas suscetíveis de 
apropriação exclusiva pelo homem, sobre as quais 
possa existir um vínculo jurídico, que é o domínio. 
O direito das coisas resume-se em regular o poder 
dos homens, no aspecto jurídico, sobre os bens e os 
modos de sua utilização econômica. 
O direito das coisas (CC, Livro III) trata do direito 
real pleno, isto é, da propriedade, tendo por objeto 
coisa móvel ou imóvel corpórea, do próprio titular; 
e dos direitos reais limitados, incidentes sobre coisa 
alheia. 
 A respeito dos direitos reais, da obra clássica de Orlando Gomes, 
devidamente atualizada por Luiz Edson Fachin, podem ser retiradas 
duas teorias justificadoras: 
 a) Teoria personalista – teoria pela qual os direitos reais são relações 
jurídicas estabelecidas entre pessoas, mas intermediadas por coisas. 
Segundo Orlando Gomes, “a diferença está no sujeito passivo. 
Enquanto no direito pessoal, esse sujeito passivo – o devedor – é 
pessoa certa e determinada, no direito real seria indeterminada, 
havendo nesse caso uma obrigação passiva universal, a de respeitar o 
direito – obrigação que se concretiza toda vez que alguém o viola”. 
Essa teoria nega realidade metodológica aos Direitos Reais e ao Direito 
das Coisas, entendidas as expressões como extensões de um campo 
metodológico. 
 b) Teoria realista ou clássica – o direito real constitui um poder 
imediato que a pessoa exerce sobre a coisa, com eficácia contra todos 
(erga omnes). O direito real opõe-se ao direito pessoal, pois o último 
traz uma relação pessoa-pessoa, exigindo-se determinados 
comportamentos. 
 A última teoria parece ser a que melhor explica o fenômeno. 
 O direito das coisas, como visto, trata das relações jurídicas 
concernentes aos bens corpóreos suscetíveis de apropriação pelo 
homem. Incluem-se no seu âmbito somente os direitos reais. Faz-se 
mister, portanto, estabelecer a distinção entre direitos reais e 
pessoais, para delimitar e precisar o objeto do direito das coisas. 
 Segundo a concepção clássica, o direito real consiste no poder 
jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com 
exclusividade e contra todos. No polo passivo incluem-se os 
membros da coletividade, pois todos devem abster-se de qualquer 
atitude que possa turbar o direito do titular. No instante em que 
alguém viola esse dever, o sujeito passivo, que era indeterminado, 
torna-se determinado. Os direitos reais têm como elementos 
essenciais: o sujeito ativo, a coisa e a relação ou poder do sujeito 
sobre a coisa, chamado domínio. 
 O direito pessoal, por sua vez, consiste numa relação jurídica pela 
qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada 
prestação. Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como 
elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação. 
DIREITOS REAIS DIREITOS PESSOAIS 
PATRIMONIAIS 
Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito 
ativo) e uma coisa. O sujeito passivo não é 
determinado, mas é toda coletividade (sujeito 
passivo universal). 
Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito 
ativo – credor) e outra (sujeito passivo – 
devedor) 
Princípio da publicidade (tradição e registro) Princípio da autonomia privada (liberdade) 
Efeitos erga omnes. Os efeitos podem ser 
restringidos. 
Efeitos inter partes. Há um tendência de 
ampliação dos efeitos. 
Rol taxativo (numerus clausus), segundo a visão 
clássica- art. 1.225, CC. 
Rol exemplificativo (numerus apertus)- art. 425, 
CC- criação de contratos atípicos. 
A coisa responde (direito de sequela) Os bens do devedor respondem (princípio da 
responsabilidade patrimonial) 
Caráter permanente. 
Instituto típico: Propriedade. 
Caráter transitório, em regra. 
Instituto típico: Contrato. 
 A disciplina dos direitos reais observa, dentre outros, os princípios 
adiante elencados, que traçam o seu perfil e norteiam a sua disciplina, 
enfatizando as suas características próprias, que os distinguem dos 
direitos pessoais ou obrigacionais: 
 Princípio da aderência, especialização ou inerência; 
 Princípio do absolutismo; 
 Princípio da publicidade ou da visibilidade; 
 Princípio da taxatividade ou numerus clausus; 
 Princípio da tipicidade; 
 Princípio da perpetuidade; 
 Princípio da exclusividade; 
 Princípio do desmembramento. 
 O aludido princípio estabelece um vínculo, uma relação de senhoria 
entre o sujeito e a coisa, não dependendo da colaboração de nenhum 
sujeito passivo para existir. O direito real gera, pois, entre a pessoa e a 
coisa uma relação direta e imediata. 
 No direito real, todavia, a pessoa do devedor, se existe, é secundária 
ante a primordial importância da res. É com esta que o vínculo jurídico 
se apega, de tal sorte que o titular do direito pode reivindicar a coisa, 
onde quer que ela se encontre, seja quem for o devedor 
 Tal princípio é encontrado no art. 1.228 do Código Civil, que faculta 
ao proprietário usar, gozar e dispor da coisa, e reavê-la do poder de 
quem quer que injustamente a possua ou detenha, bem como nos 
diversos direitos reais, de acordo com a função desempenhada por 
cada qual. 
 Os direitos reais se exercem erga omnes, ou seja, 
contra todos, que devem abster-se de molestar o 
titular. Surge, daí, o direito de sequela ou jus 
persequendi, isto é, de perseguir a coisa e de 
reivindicá-la em poder de quem quer que esteja (ação 
real), bem como o jus praeferendi ou direito de 
preferência. 
 Os direitos reais sobre imóveis só se adquirem com o 
registro, no Cartório de Registro de Imóveis, do 
respectivo título (CC, art. 1.227). 
 Sendo oponíveis erga omnes, faz-se necessário que 
todos possam conhecer os seus titulares, para não 
molestá-los. Os que recaem sobre móveis só se 
adquirem depois da tradição (CC, arts. 1.226 e 
1.267). 
 O registro e a tradição atuam como meios de 
publicidade da titularidade dos direitos reais. 
 A lei enumera de forma taxativa os direitos reais, não 
ensejando, assim, aplicação analógica da lei. O número dos 
direitos reais é, pois, limitado, taxativo, sendo assim 
considerados somente os elencados na lei (numerus clausus). 
 O art. 1.225 do Código Civil enumera, além da propriedade, 
mais onze (superfície, servidões, usufruto etc.). São direitos 
reais não apenas os apontados no dispositivo em apreço, mas 
também outros disciplinados de modo esparso no mesmo 
diploma e os instituídos em diversas leis especiais. 
REQUER UMA LEITURA MAIS APROFUNDADA. 
Os direitos reais existem de acordo com os tipos 
legais. São definidos e enumerados determinados 
tipos pela norma, e só a estes correspondem os 
direitos reais, sendo, pois, seus modelos. 
 Somente os direitos “constituídos e configurados à 
luz dos tipos rígidos (modelos) consagrados no 
texto positivo é que poderão ser tidos como reais. 
Estes tipos são previstos pela lei de forma taxativa”. 
A propriedade é um direito perpétuo, pois 
não se perde pelo não uso, mas somente 
pelos meios e formaslegais: 
desapropriação, usucapião, renúncia, 
abandono etc. 
 Não pode haver dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma 
coisa. Duas pessoas não ocupam o mesmo espaço jurídico, deferido 
com exclusividade a alguém, que é o sujeito do direito real. Assim, não 
é possível instalar-se direito real onde outro já exista. No condomínio, 
cada consorte tem direito a porções ideais, distintas e exclusivas. 
 É certo que, nos direitos reais sobre coisas alheias, há dois sujeitos: o 
dono e o titular do direito real. Mas, em razão do desmembramento da 
propriedade, cada um deles exerce, direta e imediatamente, sobre a 
coisa, direitos distintos, vale dizer, sem a intermediação do outro. 
 No caso do usufruto, por exemplo, o usufrutuário tem direito aos frutos, 
enquanto o nu-proprietário conserva o direito à substância da coisa. 
 Conquanto os direitos reais sobre coisas alheias tenham 
normalmente mais estabilidade do que os obrigacionais, 
são também transitórios, pois, como exposto, 
desmembram-se do direito-matriz, que é a propriedade. 
 Quando se extinguem, como no caso de morte do 
usufrutuário, por exemplo, o poder que existia em mão de 
seus titulares retorna às mãos do proprietário, em virtude 
do princípio da consolidação. Este, embora seja o inverso 
daquele, complementa-o e com ele convive. 
A doutrina menciona, com efeito, a existência 
de algumas figuras híbridas ou intermédias, 
que se situam entre o direito pessoal e o 
direito real. Constituem elas, aparentemente, 
um misto de obrigação e de direito real. 
 Obrigação propter rem é a que recai sobre uma pessoa, por força de 
determinado direito real. Só existe em razão da situação jurídica do 
obrigado, de titular do domínio ou de detentor de determinada coisa. É 
o que ocorre, por exemplo, com a obrigação imposta aos proprietários e 
inquilinos de um prédio de não prejudicarem a segurança, o sossego e a 
saúde dos vizinhos (CC, art. 1.277). 
 Embora o Código Civil não tenha isolado e disciplinado essa 
modalidade de obrigação, pode ela ser identificada em vários 
dispositivos esparsos e em diversas situações, por exemplo: 
 ■ na obrigação imposta ao condômino de concorrer para as despesas de 
conservação da coisa comum (CC, art. 1.315); 
 ■ na do condômino, no condomínio em edificações, de não alterar a 
fachada do prédio (CC, art. 1.336, III); 
 ■ na obrigação que tem o dono da coisa perdida de recompensar e 
indenizar o descobridor (CC, art. 1.234); 
 Ônus reais são obrigações que limitam o uso e gozo da 
propriedade, constituindo gravames ou direitos oponíveis erga 
omnes, por exemplo, a renda constituída sobre imóvel. Aderem 
e acompanham a coisa. Por isso se diz que quem deve é esta, e 
não a pessoa. 
 Para que haja, efetivamente, um ônus real e não um simples 
direito real de garantia (como a hipoteca, ou o privilégio 
creditório especial), conforme foi dito, é essencial que o titular 
da coisa seja realmente devedor, sujeito passivo de uma 
obrigação, e não apenas proprietário ou possuidor de 
determinado bem cujo valor assegura o cumprimento de dívida 
alheia. 
 Embora controvertida a distinção entre ônus reais e obrigações propter rem, 
costumam os autores apontar as seguintes diferenças: 
 ■ a responsabilidade pelo ônus real é limitada ao bem onerado, não 
respondendo o proprietário além dos limites do respectivo valor, pois é a 
coisa que se encontra gravada; na obrigação propter rem, responde o 
devedor com todos os seus bens, ilimitadamente, pois é este que se encontra 
vinculado; 
 ■ os primeiros desaparecem, perecendo o objeto, enquanto os efeitos da 
obrigação propter rem podem permanecer, mesmo havendo perecimento da 
coisa; 
 ■ os ônus reais implicam sempre uma prestação positiva, enquanto a 
obrigação propter rem pode surgir com uma prestação negativa; 
 ■ nos ônus reais, a ação cabível é de natureza real (in rem scriptae); nas 
obrigações propter rem, é de índole pessoal. 
 Obrigações com eficácia real são as que, sem perder seu caráter de direito a uma 
prestação, transmitem-se e são oponíveis a terceiro que adquira direito sobre 
determinado bem. Certas obrigações resultantes de contratos alcançam, por força 
de lei, a dimensão de direito real. 
 Embora os direitos reais só possam ser criados por lei, nossa legislação traz 
exemplos de relações contratuais que, por sua importância, podem ser registradas 
no cartório imobiliário, ganhando eficácia que transcende o direito pessoal. 
 Podem ser mencionadas, como exemplos: 
 ■ a obrigação estabelecida no art. 576 do Código Civil, pelo qual a locação pode 
ser oposta ao adquirente da coisa locada, se constar do 
 registro; 
 ■ a que resulta de compromisso de compra e venda, em favor do promitente 
comprador, quando não se pactua o arrependimento e o instrumento é registrado 
no Cartório de Registro de Imóveis, adquirindo este direito real à aquisição do 
imóvel e à sua adjudicação compulsória (CC, arts. 1.417 e 1.418). 
 Direito Real Pleno: a Propriedade. 
 Direitos Reais Limitados ou Sobre coisa alheia: 
 De Gozo ou fruição: Superfície, Servidões, Usufruto, Uso, 
Habitação, Direito do promitente comprador, Concessão de uso 
especial para fins de moradia e Concessão de direito real de uso. 
 De Garantia: Penhor, Hipoteca, e Anticrese. 
  
 O nosso direito protege não só a posse correspondente ao 
direito de propriedade e a outros direitos reais como também a 
posse como figura autônoma e independente da existência de 
um título. 
 A posse é protegida para evitar a violência e assegurar a paz 
social, bem como porque a situação de fato aparenta ser uma 
situação de direito. É, assim, uma situação de fato protegida 
pelo legislador. 
 Como se pode verificar, a posse distingue-se da propriedade, 
mas o possuidor encontra-se em uma situação de fato, 
aparentando ser o proprietário. 
 Todavia, se o possuidor não é realmente o titular do direito a 
que a posse se refere, das duas uma: 
 o titular abstém-se de defender os seus direitos e a inércia vai 
consolidando a posição do possuidor, que acabará 
eventualmente por ter um direito à aquisição da própria coisa 
possuída, por meio da usucapião; ou 
 o verdadeiro titular não se conforma e exige a entrega da coisa, 
pelos meios judiciais que a ordem jurídica lhe faculta, que 
culminam na reivindicação e permitem a sua vitória. Enquanto 
não o fizer, o possuidor continuará a ser protegido. Assim, se o 
titular do direito não toma a iniciativa de solicitar a intervenção 
da pesada máquina judicial, as finalidades sociais são 
suficientemente satisfeitas com a mera estabilização da 
situação fundada na aparência do direito. 
 1.ª – Teoria subjetiva ou subjetivista – Seu principal idealizador 
foi Friedrich Carl von Savigny, entendendo a posse como o poder 
direto que a pessoa tem de dispor fisicamente de um bem com a 
intenção de tê-lo para si e de defendê-lo contra a intervenção ou 
agressão de quem quer que seja. A posse, para essa teoria, possui dois 
elementos: a) o corpus – elemento material ou objetivo da posse, 
constituído pelo poder físico ou de disponibilidade sobre a coisa; b) 
animus domini, elemento subjetivo, caracterizado pela intenção de ter a 
coisa para si, de exercer sobre ela o direito de propriedade. Diante do 
segundo elemento, para essa teoria, o locatário, o comodatário, o 
depositário, entre outros, não são possuidores, pois não há qualquer 
intenção de tornarem-se proprietários. Em regra, essa teoria não foi 
adotada pelo CC/2002 até porque as pessoas elencadas por último são 
consideradas possuidores. A teoria subjetiva da posse somente ganha 
relevância na usucapião,como se verá adiante. 
 2.ª – Teoria objetiva ou objetivista – Teve como 
principal expoente Rudolf von Ihering, sendo certo que 
para a constituição da posse basta que a pessoa disponha 
fisicamente da coisa, ou que tenha a mera possibilidade 
de exercer esse contato. Esta corrente dispensa a 
intenção de ser dono, tendo a posse apenas um elemento, 
o corpus, como elemento material e único fator visível e 
suscetível de comprovação. O corpus é formado pela 
atitude externa do possuidor em relação à coisa, agindo 
este com o intuito de explorá-la economicamente. Para 
esta teoria, dentro do conceito de corpus está uma 
intenção, não o animus de ser proprietário, mas de 
explorar a coisa com fins econômicos. 
 Entre as duas teorias, é forçoso concluir que o CC/2002, 
a exemplo do seu antecessor, adotou parcialmente a 
teoria objetivista de Ihering, pelo que consta do seu art. 
1.196. 
 Em suma, basta o exercício de um dos atributos do 
domínio para que a pessoa seja considerada possuidora. 
Ilustrando, o locatário, o usufrutuário, o depositário e o 
comodatário são possuidores, podendo fazer uso das 
ações possessórias. 
 Pela atual codificação privada, pode-se dizer que todo 
proprietário é possuidor, mas nem todo possuidor é 
proprietário. 
 
 Essas novas teorias, que dão ênfase ao caráter econômico 
e à função social da posse, aliadas à nova concepção do 
direito de propriedade, que também deve exercer uma 
função social, como prescreve a Constituição da 
República, constituem instrumento jurídico de 
fortalecimento da posse, permitindo que, em alguns 
casos e diante de certas circunstâncias, venha a 
preponderar sobre o direito de propriedade. 
Teoria sociológica de Perozzi 
 Para o referido autor, a posse prescinde do corpus e do 
animus, e resulta do “fator social”, dependente da 
abstenção de terceiros, que se verifica costumeiramente, 
como no exemplo por ele fornecido de um homem que 
caminha por uma rua com um chapéu na cabeça. 
 Há, nesse caso, posse, pois quem tem o chapéu na cabeça 
torna aparente que quer dispor dele só, e todos, 
espontaneamente, abstêm-se de importuná-lo. 
Teoria sociológica de Saleilles 
 Por seu turno, a teoria da apropriação econômica de 
Saleilles preconiza a independência da posse em relação 
ao direito real, tendo em vista que ela se manifesta pelo 
juízo de valor segundo a consciência social considerada 
economicamente. 
 O critério para distinguir a posse da detenção não é o da 
intervenção direta do legislador para dizer em que casos 
não há posse, como entende Ihering, mas, sim, o de 
observação dos fatos sociais: há posse onde há relação 
de fato suficiente para estabelecer a independência 
econômica do possuidor. 
Teoria sociológica de Hernandez Gil 
 
Segundo o mencionado professor espanhol, a 
“função social” atua como pressuposto e como 
fim das instituições reguladas pelo direito. Na 
sua doutrina, as grandes coordenadas da ação 
prática humana, que são a necessidade e o 
trabalho, passam pela posse. 
 Ainda em sede doutrinária, a ideia de função social da posse consta de 
enunciado aprovado na V Jornada de Direito Civil, de 2011, com a 
seguinte redação: “A posse constitui direito autônomo em relação à 
propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o 
alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores 
de tutela” (Enunciado n. 492). 
 Pode-se afirmar que o princípio da função social da posse é implícito 
ao CC/2002 pela valorização da posse-trabalho, constantes dos 
seguintes dispositivos legais: 
 – Art. 1.238, parágrafo único, do CC – Reduz o prazo de usucapião 
extraordinária de quinze para dez anos se o possuidor tiver estabelecido 
sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter 
produtivo. 
 – Art. 1.242, parágrafo único, do CC – O prazo para a usucapião é 
reduzido de dez para cinco anos, se os possuidores tiverem 
estabelecido no imóvel sua moradia ou nele realizado investimentos de 
interesse social e econômico. 
 – Art. 1.228, §§ 4.º e 5.º, do CC – Consagra a desapropriação judicial 
privada por posse-trabalho. 
 Tendo a propriedade uma função social reconhecida 
no Texto Maior, o mesmo deve ser dito em relação 
à posse. Desse modo, é mais correto afirmar que o 
CC/2002 não adota a tese de Ihering pura e 
simplesmente, mas sim a tese da posse-social, 
sustentada por Perozzi, Saleilles e Hernandez Gil. 
Pode ser afirmado que o debate entre Ihering e 
Savigny encontra-se superado. 
 O conceito de posse, no direito positivo brasileiro, indiretamente nos é 
dado pelo art. 1.196 do Código Civil, ao considerar possuidor “todo 
aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes 
inerentes à propriedade”. 
 Como o legislador deve dizer em que casos esse exercício configura 
detenção, e não posse, o art. 1.198 do mesmo diploma proclama: 
“Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de 
dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em 
cumprimento de ordens ou instruções suas”. 
 O parágrafo único do dispositivo em tela estabelece presunção juris 
tantum de detenção: “Aquele que começou a comportar-se do modo 
como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, 
presume-se detentor, até que prove o contrário”. 
 Para tanto, o agente terá de demonstrar, de forma inequívoca, que 
deixou de conservar a posse em nome de outrem e de cumprir as 
ordens e instruções suas. 
 Evidentemente que, “se essa mudança decorrer de uma causa ou fato 
lícito, o detentor transmutar-se-á em possuidor justo, em relação àquele 
de quem houve a coisa. Assim, se o empregado adquirir o bem que até 
então pertenceu ao patrão, ele deixará de ser detentor, e tornar-se-á 
justo possuidor da coisa. Se, no entanto, a modificação de 
comportamento for oriunda de força própria proibida, o fâmulo da 
posse tornar-se-á possuidor precário da coisa, em relação ao possuidor 
anterior”. 
 Complementa o quadro o art. 1.208, prescrevendo: 
 “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim 
como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, 
senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade”. 
 Portanto, o conceito de posse resulta da conjugação dos três 
dispositivos legais mencionados. 
 Para Ihering, o que distingue a posse da detenção é um 
elemento externo e, portanto, objetivo, que se traduz no 
dispositivo legal que, com referência a certas relações 
que preenchem os requisitos da posse e têm a aparência 
de posse, suprime delas os efeitos possessórios. A 
detenção é, pois, uma posse degradada: uma posse que, 
em virtude da lei, avilta-se em detenção. Somente a 
posse gera efeitos jurídicos, conferindo direitos e 
pretensões possessórias em nome próprio: esta a grande 
distinção. 
 Há situações em que uma pessoa não é considerada possuidora, 
mesmo exercendo poderes de fato sobre uma coisa. Isso 
acontece quando a lei desqualifica a relação para mera 
detenção, como o faz no art. 1.198, considerando detentor 
aquele que se acha “em relação de dependência para com 
outro” e conserva a posse “em nome deste e em cumprimento 
de ordens ou instruções suas”. 
 O possuidor exerce o poder de fato em razão de um interesse 
próprio; o detentor, no interesse de outrem. É o caso típico dos 
caseiros e de todos aqueles que zelam por propriedades em 
nome do dono. 
 Os autores em geral, quando tratam da detenção em nosso 
direito, referem-se apenas à hipótese contida no art. 1.198 
(“Considera-se detentor...”). Todavia, o aludido diploma vaialém, uma vez que em mais dois dispositivos menciona outras 
hipóteses em que aquele exercício de fato não constitui posse, 
configurando, portanto, detenção. 
 Assim, a primeira parte do art. 1.208 proclama que “não 
induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância”. A 
permissão se distingue da tolerância: 
 ■ pela existência, na primeira, do consentimento expresso do 
possuidor. Na tolerância, há uma atitude espontânea de inação, 
de passividade, de não intervenção; 
 ■ por representar uma manifestação de vontade, embora sem 
natureza negocial, configurando um ato jurídico em sentido 
estrito, enquanto na hipótese de tolerância não se leva em conta 
a vontade do que tolera, sendo considerada simples 
comportamento a que o ordenamento atribui consequências 
jurídicas, ou seja, um ato-fato jurídico; 
 ■ por dizer respeito a atividade que ainda deve ser realizada, 
enquanto a tolerância concerne a atividade que se desenvolveu 
ou que já se exauriu. 
A segunda parte do citado art. 1.208 do Código 
Civil acrescenta que igualmente não autorizam a 
aquisição da posse “os atos violentos, ou 
clandestinos, senão depois de cessar a violência ou 
a clandestinidade”. 
Assim, os aludidos atos impedem o surgimento da 
posse, sendo aquele que os pratica considerado 
mero detentor, sem qualquer relação de 
dependência com o possuidor. 
Todavia, cessada a violência ou a clandestinidade, 
continuam os mencionados atos a produzir o efeito 
de qualificar, como injusta e com os efeitos daí 
resultantes, a posse que a partir de então surge. 
Outro exemplo de detenção por disposição expressa da 
lei encontra-se no art. 1.224 do Código Civil: “Só se 
considera perdida a posse para quem não presenciou o 
esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de 
retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é 
violentamente repelido”. 
Até que o não presente tenha notícia do esbulho e se 
abstenha de retomar a coisa, ou seja repelido ao tentar 
recuperá-la, o ocupante é mero detentor. Assim, o fato de 
alguém ocupar imóvel de pessoa ausente não faz 
desaparecer a posse do proprietário, sendo aquele tratado 
pelo dispositivo em epígrafe como simples detentor. 
 Pode-se, ainda, dizer que também não há posse de bens 
públicos, principalmente depois que a Constituição 
Federal de 1988 proibiu a usucapião especial de tais bens 
(arts. 183 e 191). Se há tolerância do Poder Público, o 
uso do bem pelo particular não passa de mera detenção 
consentida. 
Nesse sentido, decidiu o Tribunal de Justiça de São 
Paulo: “Reintegração de posse. Área que se constitui em 
bem público, subjetivamente indisponível e insuscetível 
de usucapião. Mera detenção, sendo irrelevante o 
período em que perdura. Liminar concedida”. 
 a) Posse direta ou imediata – aquela que é exercida por quem 
tem a coisa materialmente, havendo um poder físico imediato. 
Como possuidores diretos podem ser citados o locatário, o 
depositário, o comodatário e o usufrutuário. 
 b) Posse indireta ou mediata – exercida por meio de outra 
pessoa, havendo exercício de direito, geralmente decorrente da 
propriedade. Exemplos: locador, depositante, comodante e nu-
proprietário. 
POSSE DIRETA E POSSE INDIRETA 
 Observação – enuncia o art. 1.197 do CC que “A posse direta, de pessoa que 
tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, 
ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o 
possuidor direto defender a sua posse contra o indireto”. 
 No plano dos efeitos, prevê o Enunciado n. 76, da I Jornada de Direito 
Civil: “O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o 
indireto, e este contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil)”. 
Em suma, tanto o possuidor direto quanto o indireto podem invocar a 
proteção possessória um contra o outro, e também contra terceiros. 
Ilustrando, imagine-se um caso em que, vigente um contrato de locação de 
imóvel urbano, o locatário viaja e, quando volta, percebe que o imóvel foi 
invadido pelo próprio proprietário. Nesse caso, caberá uma ação de 
reintegração de posse do locatário (possuidor direto) em face do locador 
(possuidor indireto), eis que o contrato ainda estava em vigor e deveria ter 
sido respeitado. Em outra situação concreta, vigente um contrato de locação 
de imóvel urbano, o locatário não vem pagando regularmente os aluguéis. 
Diante dessa situação, o locador o procura e ambos fazem um acordo para 
desocupação voluntária do imóvel em seis meses. 
 Findo esse prazo, o locatário ainda continua no imóvel. Pode parecer que, 
nesse caso, a ação cabível ao locador é a de reintegração de posse. A 
conclusão está errada, pois a ação cabível é a de despejo, nos termos do art. 
5.º da Lei 8.245/1991 (nesse sentido: TJSP, Apelação Cível 772.237-0/1, 
São Paulo, Trigésima Quinta Câmara de Direito Privado, Rel. Mendes 
Gomes, 27.06.2005, v.u.). 
 Exclusiva é a posse de um único possuidor. É aquela em que 
uma única pessoa, física ou jurídica, tem, sobre a mesma coisa, 
posse plena, direta ou indireta. 
 Assim, a posse do esbulhador, cessada a violência ou a 
clandestinidade, é, perante a comunidade, posse plena 
exclusiva; se ele a arrendar a uma só pessoa, sua posse indireta 
será igualmente exclusiva, como exclusiva será a posse direta 
do arrendatário. 
 A posse exclusiva pode ser plena ou não. Plena é a posse em 
que o possuidor exerce de fato os poderes inerentes à 
propriedade, como se sua fosse a coisa. 
POSSE EXCLUSIVA 
Composse é, assim, a situação pela qual duas ou 
mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes 
possessórios sobre a mesma coisa. Dispõe a 
propósito o art. 1.199 do Código Civil. 
É o que sucede com adquirentes de coisa comum, 
com marido e mulher em regime de comunhão de 
bens ou com coerdeiros antes da partilha. 
Composse “pro diviso” e “pro indiviso”: 
 
 Podem os compossuidores, também, estabelecer uma divisão de fato 
para a utilização pacífica do direito de cada um, surgindo, assim, a 
composse pro diviso. 
 Permanecerá pro indiviso se todos exercerem, ao mesmo tempo e sobre 
a totalidade da coisa, os poderes de fato (utilização ou exploração 
comum do bem). 
 Na composse pro diviso, exercendo os compossuidores poderes apenas 
sobre uma parte definida da coisa, e estando tal situação consolidada 
no tempo (há mais de ano e dia), poderá cada qual recorrer aos 
interditos contra aquele que atentar contra tal exercício. 
 Em relação a terceiros, como se fossem um único sujeito, qualquer 
deles poderá usar os remédios possessórios que se fizerem necessários, 
tal como acontece no condomínio (CC, art. 1.314). 
Não se deve confundir composse (várias posses 
concomitantes sobre a mesma coisa) com posses 
paralelas, também denominadas posses múltiplas, em 
que ocorre concorrência ou sobreposição de posses 
(existência de posses de natureza diversa sobre a mesma 
coisa). Neste caso, dá-se o desdobramento da posse em 
direta e indireta. 
Posse justa – é a que não apresenta os vícios da violência, da 
clandestinidade ou da precariedade, sendo uma posse limpa. Segundo o 
art. 1.200 do Código Civil, “é justa a posse que não for violenta, 
clandestina ou precária”. Posse justa, destarte, é aquela isenta de vícios, 
aquela que não repugna ao direito, por ter sido adquirida por algum dos 
modos previstos na lei. 
Posse injusta – apresenta os referidos vícios, pois foi adquirida 
por meio de ato de violência, ato clandestino ou de precariedade, nos 
seguintes termos: 
o Posse violenta – é a obtida por meio de esbulho, for força física ou 
violência moral (vis). A doutrina tem o costume de associá-la ao crime de 
roubo. Exemplo: movimentopopular invade violentamente, removendo e 
destruindo obstáculos, uma propriedade rural produtiva, que está sendo 
utilizada pelo proprietário, cumprindo a sua função social. 
o Posse clandestina – é a obtida às escondidas, de forma oculta, à 
surdina, na calada da noite. É assemelhada ao crime de furto. 
Exemplo: movimento popular invade, à noite e sem violência, uma 
propriedade rural que está sendo utilizada pelo proprietário, 
cumprindo a sua função social. 
o Posse precária – é a obtida com abuso de confiança ou de direito. 
Tem forma assemelhada ao crime de estelionato ou à apropriação 
indébita, sendo também denominada esbulho pacífico. Exemplo: 
locatário de um bem móvel que não devolve o veículo ao final do 
contrato. 
 A posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida 
por ações do juízo possessório, não contra aquele de quem se 
tirou a coisa, mas sim em face de terceiros. Isso porque a posse 
somente é viciada em relação a uma determinada pessoa 
(efeitos inter partes), não tendo o vício efeitos contra todos, ou 
seja, erga omnes. 
 Posse de boa-fé: O Código Civil brasileiro, no art. 1.201, conceitua a 
posse de boa-fé como aquela em que “o possuidor ignora o vício, ou o 
obstáculo que impede a aquisição da coisa”. Decorre da consciência de se 
ter adquirido a posse por meios legítimos. 
 No âmbito do direito das coisas, a posse de boa-fé, aliada a outros 
relevantes elementos, segundo expressiva síntese de Caio Mário da Silva 
Pereira: 
 ■ cria o domínio, premiando a constância e abençoando o trabalho; 
 ■ confere ao possuidor, não proprietário, os frutos provenientes da coisa 
possuída; 
 ■ exime-o de indenizar a perda ou deterioração do bem em sua posse; 
 ■ regulamenta a hipótese de quem, com material próprio, edifica ou planta 
em terreno alheio; 
 ■ ainda, outorga direito de ressarcimento ao possuidor pelos melhoramentos 
realizados. 
 É de suma importância, para caracterizar a posse de boa-fé, a crença do 
possuidor de se encontrar em uma situação legítima. Se ignora a 
existência de vício na aquisição da posse, ela é de boa-fé; se o vício é 
de seu conhecimento, a posse é de má-fé. Para verificar se uma posse é 
justa ou injusta, o critério, entretanto, é objetivo: examina-se a 
existência ou não dos vícios apontados. 
 Posse de má-fé – situação em que alguém sabe do vício que 
acomete a coisa, mas mesmo assim pretende exercer o domínio fático 
sobre esta. Neste caso, o possuidor nunca possui um justo título. De 
qualquer modo, ainda que de má-fé, esse possuidor não perde o direito 
de ajuizar a ação possessória competente para proteger-se de um ataque 
de terceiro. 
Transformação da posse de boa-fé em posse de má-fé: 
 art. 1.202 do Código Civil dispõe a respeito da transformação da posse de 
boa-fé em posse de má-fé. 
 Destarte, no que respeita aos frutos, benfeitorias e acessões, “não se há de 
perquirir apenas se a posse foi adquirida com boa ou má-fé, mas se no 
momento da colheita daqueles, ou da realização destas, a boa-fé persistia. 
Apenas enquanto perdurar a boa-fé o possuidor torna seus os frutos 
colhidos, e faz jus à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis, com 
direito de retenção, podendo, ainda, levantar as voluptuárias que não lhe 
forem indenizadas. Também para fins de usucapião exige-se que a boa-fé 
persista durante todo o lapso prescricional. 
 A conversão da posse “não se verifica no momento em que o possuidor tem 
conhecimento da existência do vício ou do obstáculo, mas, sim, quando as 
circunstâncias firmem a presunção de que não os ignora. Essa 
exteriorização é inevitável, porquanto não se pode apanhar, na mente do 
possuidor, o momento preciso em que soube que possui indevidamente”. 
 Costuma-se fixar o momento da transmudação do caráter da posse em 
função do procedimento judicial intentado contra o possuidor, parecendo a 
alguns, como observa Orlando Gomes, que deve ser o da propositura da 
ação, a outros o da citação inicial, ou, ainda, o da contestação da lide. 
Posse natural: 
 É a que se constitui pelo exercício de poderes de fato sobre a coisa, ou, 
segundo Limongi França, a “que se assenta na detenção material e 
efetiva da coisa”. 
Posse civil ou jurídica: 
 É a que se adquire por força da lei, sem necessidade de atos físicos ou 
da apreensão material da coisa. Exemplifica-se com o constituto 
possessório: A vende sua casa a B, mas continua no imóvel como 
inquilino; não obstante, B fica sendo possuidor da coisa (posse 
indireta), mesmo sem jamais tê-la ocupado fisicamente, em virtude da 
cláusula constituti, que aí sequer depende de ser expressa. 
 Posse civil ou jurídica é, portanto, a que se transmite ou se adquire pelo 
título. 
a) Posse ad interdicta – constituindo regra geral, é a posse que 
pode ser defendida pelas ações possessórias diretas ou interditos 
possessórios. Exemplificando, tanto o locador quanto o locatário 
podem defender a posse de uma turbação ou esbulho praticado 
por um terceiro. Essa posse não conduz à usucapião. 
b) Posse ad usucapionem – exceção à regra, é a que se prolonga 
por determinado lapso de tempo previsto na lei, admitindo-se a 
aquisição da propriedade pela usucapião, desde que obedecidos os 
parâmetros legais. Em outras palavras, é aquela posse com olhos à 
usucapião (posse usucapível), pela presença dos seus elementos. 
A posse ad usucapionem deve ser mansa, pacífica, duradoura por 
lapso temporal previsto em lei, ininterrupta e com intenção de 
dono (animus domini – conceito de Savigny). Além disso, em 
regra, deve ter os requisitos do justo título e da boa-fé. 
Posse pro diviso 
Configura-se quando cada compossuidor se localiza em 
partes determinadas do imóvel, estabelecendo uma 
divisão de fato. Neste caso, cada compossuidor poderá 
mover ação possessória contra outro compossuidor que o 
moleste no exercício de seus direitos, nascidos daquela 
situação de fato. 
Posse pro indiviso 
Caracteriza-se quando os compossuidores têm posse 
somente de partes ideais da coisa. 
 art. 1.204: “Adquire-se a posse desde o momento em 
que se torna possível o exercício, em nome próprio, de 
qualquer dos poderes inerentes à propriedade”. 
A sua aquisição pode concretizar-se, portanto, por 
qualquer dos modos de aquisição em geral, como, 
exemplificativamente, a apreensão, o constituto 
possessório e qualquer outro ato ou negócio jurídico, a 
título gratuito ou oneroso, inter vivos ou causa mortis. 
 Os modos de aquisição da posse costumam ser classificados em: 
 Originários: quando não há relação de causalidade entre a posse atual 
e a anterior. É o que acontece quando há esbulho, e o vício, 
posteriormente, convalesce. Adquire-se a posse por modo originário, 
segundo Orlando Gomes, quando não há consentimento de possuidor 
precedente. 
 Derivados: quando há anuência do anterior possuidor, como na 
tradição precedida de negócio jurídico. Neste caso ocorre a transmissão 
da posse ao adquirente, pelo alienante. 
 Se o modo de aquisição é originário, a posse apresenta-se escoimada 
dos vícios que anteriormente a contaminavam. Assim, se o antigo 
possuidor era titular de uma posse de má-fé, por havê-la adquirido 
clandestinamente ou a non domino, por exemplo, tais vícios 
desaparecem ao ser ele esbulhado. Neste caso, inexistindo qualquer 
relação negocial com o esbulhador, este se transforma em titular de 
uma nova situação de fato. 
 Já o mesmo não acontece com a posse adquirida por meios derivados. 
O adquirente a recebe com todos os vícios que a inquinavam nas mãos 
do alienante. Assim, se este desfrutava de uma posse violenta, 
clandestina ou precária, aquele a adquire com os mesmos defeitos.De 
acordo com o art. 1.203 do Código Civil, essa posse conservará “o 
mesmo caráter” de antes. A adquirida por herdeiros ou legatários, por 
exemplo, mantém os mesmos vícios anteriores (CC, art. 1.206). 
 O art. 1.207, segunda parte, do Código Civil traz uma exceção à regra 
de que a posse mantém o caráter com que foi adquirida, ao facultar ao 
sucessor singular unir a sua posse à de seu antecessor, para os efeitos 
legais. Assim, pode deixar de fazê-lo, se o quiser. 
 Embora a aquisição da posse possa concretizar-se por qualquer dos 
modos de aquisição em geral, é ela adquirida, originariamente: 
■ pela apreensão da coisa: A apreensão consiste: 
 na apropriação unilateral de coisa “sem dono”. 
 na retirada da coisa, de outrem, sem a sua permissão. 
■ pelo exercício do direito; 
 Pelo exercício do direito adquire-se a posse dos direitos reais sobre 
coisas alheias. Não é o exercício de qualquer direito que constitui 
modo originário de aquisição da posse, mas daqueles direitos que 
podem ser objeto da relação possessória, como a servidão, o uso 
etc. Exemplo de exercício de direito: a passagem constante de água 
por um terreno alheio, capaz de gerar a servidão de águas. Pela 
apreensão, adquire-se a posse das coisas propriamente ditas. 
Exemplo de apreensão de coisa: o cultivo de um campo 
abandonado. 
■ pelo fato de se dispor da coisa ou do direito. 
 O fato de se dispor da coisa caracteriza conduta normal do titular 
da posse ou domínio. Constitui desdobramento da ideia de 
exercício do direito, pois possibilita a evidenciação inequívoca da 
apreensão da coisa ou do direito. 
 
Há aquisição derivada ou bilateral quando a posse 
decorre de um negócio jurídico, caso em que é 
inteiramente aplicável o art. 104 do Código Civil. A 
posse, neste caso, é transmitida pelo possuidor a outrem. 
A aludida transmissão pode decorrer: 
■ de tradição; e 
■ da sucessão inter vivos e mortis causa. 
 ■ Tradição real: envolve a entrega efetiva e material da 
coisa. Pressupõe, porém, uma causa negocial. 
 ■ Tradição simbólica: é representada por ato que traduz 
a alienação, como a entrega das chaves do apartamento 
ou do veículo vendidos. Estes não foram materialmente 
entregues, mas o simbolismo do ato é indicativo do 
propósito de transmitir a posse, significando que o 
adquirente passa a ter a disponibilidade física da coisa. 
 ■ Tradição ficta: ocorre no caso do constituto 
possessório (cláusula constituti) e da traditio brevi manu. 
Constituto possessório 
 Dá-se o constituto possessório quando o vendedor, por exemplo, 
transferindo a outrem o domínio da coisa, conserva-a, todavia, em seu 
poder, mas agora na qualidade de locatário. A referida cláusula tem a 
finalidade de evitar complicações decorrentes de duas convenções, com 
duas entregas sucessivas. 
 A cláusula constituti não se presume. Por ela, a posse desdobra-se em 
direta e indireta. O primitivo possuidor, que tinha posse plena, 
converte-se em possuidor direto, enquanto o novo proprietário se 
investe na posse indireta, em virtude do acordo celebrado. O 
comprador só adquire a posse indireta, que lhe é transferida sem 
entrega material da coisa, pela aludida cláusula. 
 No constituto possessório, o possuidor de uma coisa em nome próprio 
passa a possuí-la em nome alheio. 
“Traditio brevi manu” 
 A traditio brevi manu é exatamente o inverso do constituto 
possessório, pois se configura quando o possuidor de uma coisa 
alheia (o locatário, v.g.) passa a possuí-la como própria. É o 
que sucede quando o arrendatário, por exemplo, que exerce 
posse com animus nomine alieno, adquire o imóvel arrendado, 
dele tornando-se proprietário. 
 Pelo simples efeito da declaração de vontade, passa ele a 
possuir com animus domini. Assim, o que tem posse direta do 
bem em razão de contrato celebrado com o possuidor indireto, 
e adquire o seu domínio, não precisa devolvê-lo ao dono, para 
que este novamente lhe faça a entrega real da coisa. 
Sucessão na posse 
 A posse pode ser adquirida, também, em virtude de: 
 ■ sucessão inter vivos; e 
 ■ sucessão mortis causa. 
 Preceitua o art. 1.206 do Código Civil que “a posse transmite-
se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos 
caracteres”. O art. 1.207 do mesmo diploma, por sua vez, aduz 
que “o sucessor universal continua de direito a posse do seu 
antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à 
do antecessor, para os efeitos legais”. 
 Proclama o art. 1.205 do Código Civil: 
“A posse pode ser adquirida: 
I — pela própria pessoa que a pretende ou por seu 
representante; 
II — por terceiro sem mandato, dependendo de 
ratificação”. 
Em outras palavras, a posse pode ser adquirida pelo próprio 
sujeito que a apreende, desde que capaz; por seu 
representante legal ou convencional (caso do herdeiro e do 
mandatário); ou até por terceiro que não tenha mandato, 
desde que haja confirmação posterior, com efeitos ex tunc 
ou retroativos. 
 art. 1.223: “Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do 
possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196”. Em suma, 
cessando os atributos relativos à propriedade, cessa a posse, que é perdida, 
extinta. 
 • Pelo abandono da coisa (derrelição), fazendo surgir a coisa abandonada 
(res derelictae). 
 • Pela tradição, entrega da coisa, que pode ser real, simbólica ou ficta. 
 • Pela perda ou destruição da coisa possuída. 
 • Se a coisa for colocada fora do comércio, isto é, se for tratada como bem 
inalienável (inconsutibilidade jurídica – art. 86 do CC). 
 • Pela posse de outrem, ainda que contra a vontade do possuidor, se este não 
foi manutenido, ou reintegrado à posse, em tempo competente. 
 • Pelo constituto possessório ou cláusula constituti, hipótese em que a 
pessoa possuía o bem em nome próprio e passa a possuir em nome alheio 
(forma de aquisição e perda da posse, ao mesmo tempo). 
 Por fim, nos termos do art. 1.224 do CC, “só se considera 
perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, 
tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando 
recuperá-la, é violentamente repelido”. Em outras palavras, se 
o possuidor não presenciou o momento em que foi esbulhado, 
somente haverá a perda da posse se, informado do atentado à 
posse, não toma as devidas medidas necessárias ou se sofrer 
violência ao tentar fazê-lo, não procurando outros caminhos 
após essa violência. 
 De início, prevê o art. 1.214 do CC que “o possuidor de boa-fé tem 
direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos”. Complementando, 
dispõe o parágrafo único desse comando legal que os frutos pendentes 
ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de 
deduzidas as despesas da produção e custeio. Devem ser também 
restituídos os frutos colhidos com antecipação. 
 Ilustrando, um locatário está em um imóvel urbano e, no fundo deste, 
há uma mangueira. Enquanto vigente o contrato, o locatário, possuidor 
de boa-fé amparado pelo justo título, terá direito às mangas colhidas, 
ou seja, percebidas. Se o contrato for extinto quando as mangas ainda 
estiverem verdes (frutos pendentes), não poderão ser colhidas, pois são 
do locador proprietário. Se colhidas ainda verdes, devem ser 
devolvidas ao último, sem prejuízo de eventuais perdas e danos que 
couberem por este mau colhimento. 
EFEITOS DA POSSE QUANTO AOS FRUTOS 
Determina o art. 1.215 do CC que os frutos naturais e 
industriais reputam-se colhidos e percebidos logo que 
são separados. Já os frutos civis reputam-se percebidos 
dia por dia. Ilustrando, a manga é tida como colhida 
quando separada da mangueira; os juros são percebidos 
nos exatos vencimentosdos rendimentos, como é 
comum em cadernetas de poupança. 
No que concerne ao possuidor de má-fé, nos termos do 
art. 1.216 do CC, ele responde por todos os frutos 
colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa 
sua, deixou de perceber, desde o momento em que se 
constituiu de má-fé. Todavia, esse possuidor tem direito 
às despesas de produção e de custeio. A ilustrar, se um 
invasor de um imóvel colhe as mangas da mangueira do 
terreno, deverá indenizá-las, mas será ressarcido pelas 
despesas realizadas com a colheita. Por outra via, se 
deixaram de ser colhidas e, em razão disso, vierem a 
apodrecer, o possuidor também será responsabilizado. 
 Repise-se que, nos termos do art. 96 do CC, as benfeitorias 
podem ser necessárias (as essenciais, pois visam à conservação 
da coisa principal), úteis (aumentam ou facilitam o uso da coisa 
principal) e voluptuárias (de mero luxo ou deleite, pois 
facilitam a utilidade da coisa principal). Anote-se, para os fins 
possessórios, que as benfeitorias não se confundem com as 
acessões, que, nos termos do art. 97 do CC, são as 
incorporações introduzidas em outro bem, imóvel, sem a 
intervenção do proprietário, possuidor e detentor. 
 1.ª – O possuidor de boa-fé tem direito à indenização por benfeitorias 
necessárias e úteis. Ilustrando, vigente um comodato de um imóvel, o 
comodatário terá direito de indenização pela reforma do telhado 
(benfeitoria necessária) e pela grade da janela (benfeitoria útil). 
 2.ª – O possuidor de boa-fé não indenizado tem direito à retenção 
dessas benfeitorias (necessárias e úteis), o ius retentionis, que persiste 
até que receba o que lhe é devido. 
 3.ª – No tocante às benfeitorias voluptuárias, o possuidor de boa-fé tem 
direito ao seu levantamento, se não forem pagas, desde que isso não 
gere prejuízo à coisa (direito de tolher, ou ius tollendi). 
Exemplificando, vigente o empréstimo de um imóvel, se o comodatário 
introduziu um telhado na churrasqueira, que pode ser removido, não 
sendo essa benfeitoria paga, poderá levá-la embora, pois a retirada não 
desvaloriza o imóvel. O mesmo raciocínio não vale para uma piscina 
construída no imóvel, pois a sua retirada gerará um prejuízo ao 
principal. Somente as piscinas removíveis podem ser retiradas, como 
aquelas de plástico para brincadeira das crianças. 
 Cumpre destacar que, no tocante à locação de imóvel urbano, há regras 
específicas relativas às benfeitorias previstas nos arts. 35 e 36 da Lei 
8.245/1991. 
A proteção conferida ao possuidor é o principal 
efeito da posse. 
Dá-se de dois modos: 
o pela legítima defesa e pelo desforço imediato 
(autotutela, autodefesa ou defesa direta), em que o 
possuidor pode manter ou restabelecer a situação de 
fato pelos seus próprios recursos; e 
o pelas ações possessórias, criadas especificamente para 
a defesa da posse (heterotutela). 
 Legítima defesa: Quando o possuidor se acha presente e é turbado 
no exercício de sua posse, pode reagir, fazendo uso da defesa direta, 
agindo, então, em legítima defesa. Se, entretanto, a hipótese for de 
esbulho, tendo ocorrido a perda da posse, poderá fazer uso do desforço 
imediato. É o que preceitua o art. 1.210, § 1º, do Código Civil. A 
expressão “por sua própria força”, constante do texto legal, quer dizer: 
sem apelar para a autoridade, para a polícia ou para a justiça. 
 Desforço imediato: A legítima defesa não se confunde com o 
desforço imediato. Este ocorre quando o possuidor, já tendo perdido a 
posse (esbulho), consegue reagir, em seguida, e retomar a coisa. A 
primeira somente tem lugar enquanto a turbação perdurar, estando o 
possuidor na posse da coisa. O desforço imediato é praticado diante do 
atentado já consumado, mas ainda no calor dos acontecimentos. Pode o 
guardião da coisa exercer a autodefesa, em benefício do possuidor ou 
representado. Embora não tenha o direito de invocar, em seu nome, a 
proteção possessória, não se lhe recusa, contudo, o direito de exercer a 
autoproteção do possuidor, consequência natural de seu dever de 
vigilância. 
 Devem ser observadas as regras processuais previstas a partir do art. 920 do 
CPC. 
 Três são as situações concretas que possibilitam a propositura de três ações 
correspondentes: 
 
 
 
 
 
 As três medidas cabíveis são autorizadas pelo art. 1.210, caput, do 
CC/2002. 
 Como se pode perceber, no caso de ameaça, a ação de interdito proibitório 
visa à proteção do possuidor de perigo iminente. No caso de turbação, a 
ação de manutenção de posse visa a sua preservação. Por fim, no caso de 
esbulho, a ação de reintegração de posse almeja a sua devolução. 
No caso de ameaça à posse (risco de atentado à posse) = caberá ação de interdito proibitório. 
No caso de turbação (atentados fracionados à posse) = caberá ação de manutenção de posse. 
No caso de esbulho (atentado consolidado à posse) = caberá ação de reintegração de posse. 
Legitimação ativa: 
 Condição de possuidor: Exige-se a condição de possuidor para a 
propositura dos interditos (CPC, art. 926), mesmo que não tenha título. 
O detentor, por não ser possuidor, não tem essa faculdade. Não basta 
ser proprietário ou titular de outro direito real. Se somente tem o 
direito, mas não a posse correspondente, o agente terá de valer-se da 
via petitória, não da possessória, a não ser que se trate de sucessor de 
quem detinha a posse e foi molestado. Com efeito, o herdeiro ou 
sucessor mortis causa encontra-se, em matéria possessória, em situação 
privilegiada, pois presume a lei que “continua de direito a posse do seu 
antecessor” (CC, art. 1.207). Assim, não necessita provar a sua posse 
anterior, mas apenas a do de cujus. Ao sucessor a título singular é 
facultado unir a sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. Desse 
modo, se este tinha posse e foi esbulhado, àquele será facultado 
assumir sua posição, para o fim de ajuizar a competente ação 
possessória contra o terceiro. 
 
 Possuidores diretos e indiretos: Têm ação possessória contra 
terceiros, e também um contra o outro. Tal possibilidade 
encontra-se, agora, expressamente prevista na parte final do art. 
1.197. Havendo posse escalonada ou em níveis (locador, 
locatário, sublocatário), em que há um possuidor direto e mais 
de um possuidor indireto, é preciso verificar qual das posses foi 
ofendida na ação movida entre eles. Entretanto, contra 
terceiros, há legitimação concorrente dos possuidores de 
diferentes níveis, podendo instaurar-se litisconsórcio não 
obrigatório. 
Legitimação passiva 
 O autor da ameaça, turbação ou esbulho e o terceiro: A legitimidade 
passiva nas ações possessórias é do autor da ameaça, turbação ou 
esbulho (CPC, arts. 927, II, e 932), assim como do “terceiro que 
recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o era”, isto é, de má-fé, como 
expressamente dispõe o art. 1.212 do Código Civil. Contra o terceiro 
que recebeu a coisa de boa-fé não cabe ação de reintegração de posse, 
pela interpretação a contrario sensu do citado dispositivo legal. Contra 
este terá o esbulhado a ação petitória. 
 Pessoa privada de discernimento ou menor de idade: Se a turbação e o 
esbulho forem causados por pessoa privada de discernimento ou menor 
incapaz de entender o valor ético da sua ação, o legitimado passivo será 
o encarregado de sua vigilância (curador, pai ou tutor), a quem 
competirá responder por autoria moral, se, tendo conhecimento do ato, 
não tiver recolocado as coisas no statu quo ante, voluntariamente, ou 
por culpa in vigilando. 
 A pessoa que ordenou a prática da turbação ou esbulho: A 
ação pode ser proposta tanto contra o autor do ato 
molestador como contra quem ordenou a sua prática, ou 
contra ambos. Mesmo que oturbador proceda como 
representante legal ou convencional de outrem, e dentro dos 
limites do mandato, o possuidor molestado não é obrigado a 
saber que se trata de representação. 
 O sucessor “mortis causa” ou “inter vivos”: O herdeiro a 
título universal ou mortis causa também é legitimado 
passivo, porque continua de direito a posse de seu antecessor 
(CC, art. 1.207), com as mesmas características. Já o 
sucessor a título singular ou inter vivos somente estará 
legitimado para responder à ação de reintegração de posse 
se, nos termos do retromencionado art. 1.212 do Código 
Civil, “recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era”, ou 
seja, de má-fé. 
 Pessoas jurídicas: Legitimada passivamente para a ação é a 
pessoa jurídica de direito privado autora do ato molestador, não 
o seu gerente, administrador ou diretor, se estes não agiram em 
nome próprio. Também são legitimadas as pessoas jurídicas de 
direito público, contra as quais pode até ser deferida medida 
liminar, desde que sejam previamente ouvidos os seus 
representantes legais (CPC, art. 928, parágrafo único). Quando 
o Poder Público desapossa alguém sem o processo 
expropriatório regular, não há dúvida de que pratica esbulho. 
 Nomeação à autoria e denunciação da lide: Muitas vezes, o 
turbado ou esbulhado propõe ação contra simples prepostos, 
que praticam os referidos atos a mando de terceiros, por 
desconhecimento da situação fática. Para corrigir esse 
endereçamento errôneo da demanda, há um expediente técnico 
processual: a nomeação à autoria. Se o demandado é simples 
detentor (CC, art. 1.198), nomeia à autoria (CPC, art. 62); se é 
possuidor direto apenas (CC, art. 1.197), denúncia da lide ao 
possuidor indireto (CPC, art. 70, II). 
 Conversão de ação possessória em ação de Indenização: Permite-se 
que o possuidor possa demandar a proteção possessória e, 
cumulativamente, pleitear a condenação do réu nas perdas e danos 
(CPC, art. 921, I). Se, no entanto, ocorreu o perecimento ou a 
deterioração considerável da coisa, só resta ao possuidor o caminho da 
indenização. Seria, com efeito, destituída de efeitos práticos a 
condenação na devolução de uma coisa inexistente ou sem interesse 
para o possuidor. É o juiz obrigado, nesse caso, a tomar em 
consideração o fato novo (CPC, art. 462). Tais prejuízos podem 
ocorrer, todavia, depois de ajuizada a ação de reintegração de posse. 
Embora já não possa ser apreciado o pedido de proteção possessória, 
nada impede que a pretensão indenizatória seja deferida, mas somente 
se formulada na inicial, cumulativamente com o pedido de proteção 
possessória. Se a perda tiver lugar depois da sentença, mas antes de sua 
execução, deve aplicar-se, aduz o mencionado autor, por analogia, o 
disposto no art. 627 do Código de Processo Civil, segundo o qual “o 
credor tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa, 
quando esta não lhe for entregue, se deteriorou, não for encontrada ou 
não for reclamada do poder de terceiro adquirente”. 
 A fungibilidade dos interditos: O princípio da fungibilidade das ações 
possessórias está regulamentado no art. 920 do Código de Processo 
Civil. Desse modo, se a ação cabível for a de manutenção de posse, e o 
autor ingressar com ação de reintegração, ou vice-versa, o juiz 
conhecerá do pedido da mesma forma e determinará a expedição do 
mandado adequado aos requisitos provados. É uma aplicação do 
princípio da mihi factum dabo tibi jus, segundo o qual a parte expõe o 
fato, e o juiz aplica o direito. Impõe-se o apontado princípio da 
fungibilidade ou da conversibilidade somente às três ações possessórias 
em sentido estrito: manutenção de posse, reintegração de posse e 
interdito proibitório. Inadmissível o seu emprego entre uma ação 
possessória e a ação de imissão na posse ou reivindicatória, ou entre 
uma possessória e uma ação de despejo. Se tal ocorrer, o autor será 
declarado carecedor, por falta de interesse processual adequado, não 
podendo uma ação ser aceita por outra. 
 Cumulação de pedidos: O diploma processual permite a cumulação de 
pedidos, na inicial da ação possessória. Dispõe, com efeito, o art. 921 
do Código de Processo Civil: 
“É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: 
I — condenação em perdas e danos; 
II — cominação de pena para caso de nova turbação ou esbulho; 
III — desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de sua 
posse”. 
 A cumulação é facultativa e pode ocorrer sem prejuízo do rito especial, 
embora os agregados ao possessório não tenham tal conteúdo. 
 O pedido de cominação de pena é cominatório típico e equivale a um 
interdito proibitório incidental a uma ação de turbação ou esbulho. É 
também facultativo, e nada obsta que seja requerido para a hipótese de 
o réu infringir o mandado de manutenção ou reintegração liminar. 
Desde que o autor dispense o rito especial, pode formular outros 
pedidos cumulados ao possessório, por exemplo, o de rescisão do 
compromisso de compra e venda e o demarcatório (CPC, art. 951). 
 Caráter dúplice das ações possessórias: Na relação jurídico-
processual, é o autor quem em regra formula o pedido. O réu a ele se 
opõe, pleiteando a improcedência da ação. Essa polarização é 
estabelecida pelo direito material, que determina a priori a legitimação 
ativa e a passiva para a causa. Quando o requerido oferece, 
eventualmente, reconvenção, em verdade propõe outra ação, que se 
processa nos mesmos autos. Todavia, em alguns casos, 
excepcionalmente, inexiste essa predeterminação das legitimações. A 
situação jurídica se apresenta de tal modo que qualquer dos sujeitos 
pode ajuizar a ação contra o outro. Quando isso acontece, diz-se que a 
ação é de natureza dúplice. O legislador tornou dúplice a ação 
possessória, permitindo que o juiz, independentemente de reconvenção 
do réu, confira-lhe a proteção possessória, se a requerer na contestação 
e provar ser o legítimo possuidor. Dispõe o art. 922 do Código de 
Processo Civil. Desse modo, tendo a lei conferido caráter dúplice às 
ações possessórias, não se faz necessário pedido reconvencional. Se se 
julgar ofendido em sua posse, o réu pode formular, na própria 
contestação, os pedidos que tiver contra o autor. A razão da faculdade 
reside na circunstância de que, no pleito possessório, ambas as partes 
costumam arguir a condição de possuidores, devendo o juiz decidir 
qual deles tem melhor posse. 
 Distinção entre juízo possessório e juízo petitório: A ação 
possessória é o meio de tutela da posse perante uma ameaça, turbação 
ou esbulho. A sua propositura instaura o juízo possessório, em que se 
discute o ius possessionis (posse autônoma ou formal). A ação petitória 
é o meio de tutela dos direitos reais, de propriedade ou outro. No juízo 
petitório se invoca o ius possidendi (posse causal). no juízo possessório 
não adianta alegar o domínio, porque só se discute posse. No juízo 
petitório, a discussão versa sobre o domínio, sendo secundária a 
questão daquela. Enquanto estiver tramitando a ação possessória, nem 
o réu, nem o autor podem ajuizar, paralelamente, a ação petitória para 
obter a declaração do seu direito à posse. A consequência prática da 
proibição é que poderá o possuidor não proprietário, desde que ajuíze 
ação possessória, impedir a recuperação da coisa pelo seu legítimo 
dono, pois este ficará impedido de recorrer à reivindicatória até que a 
possessória seja definitivamente julgada. 
 Procedimento - ação de força nova e ação de força velha: 
Dispõe o art. 924 do Código de Processo Civil. As referidas 
normas estabelecem um procedimento especial, cuja principal 
diferença e vantagem é a previsão da medida liminar. Esta, 
porém, só será concedida quando a ação for intentada dentro de 
ano e dia da turbação ou esbulho;caso contrário, o rito será 
ordinário, não perdendo a ação, contudo, o caráter possessório. 
Isso significa que somente haverá o rito especial, constituído de 
duas fases (a primeira para a concessão de liminar), se a ação 
for ajuizada no prazo de ano e dia da turbação ou do esbulho, 
caso em que a possessória será considerada “ação de força 
nova”. Passado esse prazo, o rito será o ordinário e a ação, “de 
força velha”, seguindo-se, então, o prazo para a contestação, a 
instrução e o julgamento. Em relação à ação de força velha, 
repise-se que essa segue o rito ordinário, não cabendo liminar 
para os devidos fins. Todavia, segundo o entendimento 
majoritário da doutrina e da jurisprudência, cabe tutela 
antecipada nessa demanda, conforme reconhecido pelo 
Enunciado n. 238 CJF/STJ, da III Jornada de Direito Civil. 
 A exigência de prestação de caução: Prescreve o art. 925 do estatuto 
processual civil. Muitas vezes, a concessão de uma liminar paralisa a 
realização de obras vultosas e pode acontecer que, a final, não seja 
confirmada. O requerido, então, fará jus à indenização dos prejuízos 
sofridos. Para garantir-se, poderá o réu, após a concessão da liminar, 
exigir que o autor preste caução, na conformidade dos arts. 826 a 838 
do Código de Processo Civil, provando a falta de idoneidade financeira 
deste para arcar com as perdas e danos. Não prestando a caução, a 
coisa litigiosa será depositada judicialmente. A caução poderá ser: 
o real (consistente em imóvel, joias, dinheiro); ou 
o fidejussória (carta de fiança). 
 Incumbe ao réu, a qualquer tempo, a prova da falta de idoneidade 
financeira do autor. Meras increpações ou suspeitas, não alicerçadas em 
prova sólida e convincente da carência patrimonial e da ausência de 
condição para suportar os ônus de eventual improcedência da ação, 
dentro de um critério de probabilidade, não ensejam a imposição da 
prestação de caução. 
 A diferença está apenas em que “o possuidor tem direito a ser 
mantido na posse em caso de turbação e reintegrado no de 
esbulho”, como estatui o art. 926 do estatuto processual. Por 
sua vez, semelhantemente, prescreve o art. 1.210 do Código 
Civil de 2002 que o possuidor tem direito a ser mantido na 
posse em caso de turbação e restituído no de esbulho. A 
turbação distingue-se do esbulho porque, com este, o possuidor 
vem a ser privado da posse, ao passo que naquela, embora 
molestado, continua na posse dos bens. 
 A ação de manutenção de posse, pois, é cabível na hipótese em 
que o possuidor sofre turbação em seu exercício. 
 Em caso de esbulho, adequada é a de reintegração de posse. 
REQUISITOS: 
Dispõe o art. 927 do Código de Processo Civil: 
“Incumbe ao autor provar: 
I — a sua posse; 
II — a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; 
III — a data da turbação ou do esbulho; 
IV — a continuação da posse, embora turbada, na ação de 
manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração”. 
 
 Posse: Sendo a posse pressuposto fundamental e comum a todas as formas 
de tutela possessória, o primeiro requisito para a propositura das referidas 
ações (CPC, art. 927) é, pois, a prova da posse. Quem nunca a teve não 
pode valer-se dos interditos. A primeira verificação a fazer, sempre que se 
proponha uma ação possessória, é se há prova da posse do autor e se o 
direito violado é suscetível de posse. Não o sendo, o interdito deve ser 
repelido in limine”. Assim, a pessoa que adquire um imóvel e obtém a 
escritura definitiva, mas não a posse, por exemplo, porque o vendedor a 
retém, não pode socorrer-se da ação possessória, porque nunca teve posse. A 
ação apropriada, nesse caso, será a de imissão na posse. Na possessória, o 
autor terá de produzir prova de que tem posse legítima da coisa e que a 
manteve, apesar da turbação, ou que tinha posse e a perdeu em virtude do 
esbulho praticado pelo réu. 
 Turbação: O segundo requisito é a prova da turbação ou do esbulho 
praticado pelo réu. O autor terá de descrever quais os fatos que o estão 
molestando, cerceando o exercício da posse. Por exemplo, deverá provar 
que o réu vem penetrando em seu terreno para extrair lenha ou colocar 
animais no pasto, ou vem-se utilizando de determinado caminho sem sua 
permissão. Turbação é todo ato que embaraça o livre exercício da posse. Os 
fatos ou atos dessa natureza autorizam a manutenção, não sendo necessário, 
para tanto, que haja dano ou prejuízo material. 
 Esbulho: O esbulho consiste no ato pelo qual o possuidor se vê 
privado da posse mediante violência, clandestinidade ou abuso 
de confiança. Acarreta, pois, a perda da posse contra a vontade 
do possuidor. Quer a perda resulte de violência, quer de 
qualquer outro vício, como a clandestinidade ou a 
precariedade, cabe ao possuidor a ação de reintegração de 
posse, a fim de ser restituído na posse da coisa (CC, art. 1.210). 
 Data da turbação ou do esbulho: Exige a lei, em terceiro 
lugar, a prova da data da turbação ou do esbulho. Dela depende 
o procedimento a ser adotado. O especial, com pedido de 
liminar, exige prova de turbação ou esbulho praticados há 
menos de ano e dia da data do ajuizamento. Passado esse prazo, 
será adotado o rito ordinário, não perdendo, contudo, o caráter 
possessório (CPC, art. 924). O prazo de ano e dia é de 
decadência; portanto, fatal e peremptório, ou seja, não se 
suspende nem pode ser ampliado ou reduzido pela vontade das 
partes. 
 Do ponto de vista prático, esclareça-se que, no caso de invasão 
parcial de um terreno, a ação cabível não é a de manutenção de 
posse, mas a de reintegração. 
 A terceira ação tipicamente possessória é o interdito 
proibitório. 
 Tem caráter preventivo, pois visa a impedir que se concretize 
uma ameaça à posse. 
 Para cada etapa, destarte, prevê-se uma ação específica. Assim, 
se o possuidor está apenas sofrendo uma ameaça, mas se sente 
na iminência de uma turbação ou esbulho, poderá evitar, por 
meio da referida ação, que venham a consumar-se. 
 Não é qualquer receio que constitui ameaça suscetível de ser 
tutelada por meio da ação de interdito proibitório. 
 REQUISITOS: art. 932 do Código de Processo Civil. A ação de 
interdito proibitório pressupõe, portanto, os seguintes requisitos: 
o posse atual do autor; 
o ameaça de turbação ou esbulho por parte do réu; 
o justo receio de ser concretizada a ameaça. 
 
 COMINAÇÃO DE PENA PECUNIÁRIA: O interdito proibitório 
assemelha-se à ação cominatória, pois prevê, como forma de evitar a 
concretização da ameaça, a cominação ao réu de pena pecuniária, caso 
transgrida o preceito. Se a ameaça vier a concretizar-se no curso do 
processo, o interdito proibitório será transformado em ação de 
manutenção ou de reintegração de posse, concedendo-se a liminar 
apropriada e prosseguindo-se no rito ordinário. 
 A petição inicial deve atender ao que dispõem os arts. 921, 927 e 928 
do Código de Processo Civil. 
 Delimitação do objeto da ação: Não se pode ajuizar ação possessória 
sem que o objeto da ação seja perfeitamente individualizado e 
delimitado. Do contrário, a sentença que eventualmente acolher o 
pedido não poderá ser executada. A posse que se protege na ação 
possessória é a certa e localizada. 
 Identificação das partes: As partes devem ser identificadas com 
precisão, indicando-se “os nomes, prenomes, estado civil, profissão, 
domicílio e residência” (CPC, art. 282, II). Os nomes e qualificações de 
todos os coautores podem, para facilidade, ser fornecidos em relação 
anexa à inicial. 
 Já se decidiu, todavia, que enganos sem consequências devem ser 
tolerados, encarando-se a exigência “dentro de certa relatividade, 
porque pode acontecer que onome certo do réu seja ignorado ou 
inacessível ao autor”. 
 Valor da causa: A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que 
não tenha conteúdo econômico imediato (CPC, art. 258). O art. 259 
não especifica qual o valor a ser atribuído às ações possessórias, mas 
declara, no inc. VII, que o valor da reivindicatória será o da “estimativa 
oficial para lançamento do imposto”. Tendo em vista que ambas visam 
à posse do bem, inexiste razão para se diferenciar a orientação. 
 
 Requisitos: art. 928 do Código de Processo Civil. Provada a posse 
anterior do autor e a turbação ou o esbulho ocorridos há menos de ano 
e dia, o juiz determinará a expedição de mandado de manutenção ou de 
reintegração de posse initio litis, antecipando a proteção possessória 
pleiteada, que será confirmada ou não na sentença final. A liminar 
inaudita altera parte, isto é, sem ouvir o réu, será deferida se a petição 
inicial estiver devidamente instruída com prova idônea dos fatos 
mencionados no art. 927 do diploma processual: posse, data da 
turbação ou do esbulho etc., como se infere do art. 928. A não 
satisfação dos referidos requisitos não importará, desde logo, na 
extinção do processo, mas tão só na denegação do mandado liminar. A 
apreciação da prova fica ao prudente arbítrio do juiz. 
 Indeferimento da liminar: Tem-se entendido que, apesar do 
caráter dúplice das ações possessórias, é impossível o 
deferimento de liminar ao réu, bem como que é incabível a 
reintegração liminar quando o pedido é cumulado com o de 
rescisão do compromisso de compra e venda, em razão da 
necessidade de ser seguido o rito ordinário. 
 Descabimento de medida cautelar e de tutela antecipada 
nas ações de força nova: Também descabe medida cautelar em 
contraposição a liminar concedida na possessória (JTACSP, 
94/159, 116/114), bem como a tutela antecipada genérica 
(CPC, art. 273), nas ações de força nova, admitida somente nas 
de força velha, em que o rito é ordinário, sem liminar. 
 Justificação prévia: Se a petição inicial não estiver devidamente 
instruída, o juiz determinará que o autor justifique previamente o 
alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for 
designada (CPC, art. 928). Os termos imperativos do aludido 
dispositivo legal (“o juiz determinará”) conduziram à formação de uma 
corrente jurisprudencial no sentido de que o magistrado não pode 
indeferir a liminar antes de feita a justificação prévia. 
 Parece-nos, no entanto, que não se pode admitir que ele, ex officio, 
determine a justificação quando não tenha sido requerida sequer nessa 
forma alternativa. Se o autor só postulou a liminar com base na 
documentação da inicial, ao juiz não é lícito determinar justificação. A 
propósito, decidiu o Superior Tribunal de Justiça: “O art. 928 do CPC 
não obriga o juiz, em qualquer circunstância, a mandar realizar a 
justificação, na hipótese de indeferimento da liminar de manutenção 
ou reintegração de posse”. 
 Concessão de liminar contra pessoa jurídica de direito público: art. 
928 do Código de Processo Civil. Tal regra deve ser observada ainda 
que devidamente provados os requisitos do art. 927 do mesmo 
diploma. Incluem-se “no privilégio as pessoas de Direito Público 
externo (v.g., Estados soberanos estrangeiros) e, sem as dúvidas que 
antes ocorriam, os entes autárquicos. Não se incluem, contudo, as 
chamadas empresas públicas, e menos ainda as de capital misto, que 
são pessoas de Direito Privado, assim como as concessionárias e 
permissionárias de serviços ao público”. 
 O prazo para a manifestação do representante da ré será fixado pelo 
juiz. Se este não o fizer, deve-se entender que se aplica o genérico de 
cinco dias do art. 185 do aludido diploma. Se ficar comprovado o 
desapossamento definitivo do bem e o seu emprego em obra pública, o 
autor será julgado carecedor da ação, devendo então propor a ação de 
desapropriação indireta. 
 Contestação e rito ordinário: Concedida ou não a liminar, 
deverá o autor promover, nos cinco dias subsequentes, a 
citação do réu, para que ofereça contestação (CPC, art. 930). Se 
for realizada a justificação prévia, com citação do réu, o prazo 
para contestar contar-se-á da intimação do despacho que deferir 
ou não a liminar (parágrafo único). 
 As ações tipicamente possessórias, destinadas à defesa 
exclusiva da posse, são as três já referidas. Há, no entanto, 
outros procedimentos em que, por forma direta ou indireta, a 
posse também é protegida. 
 Não se revestem tais ações de natureza eminentemente 
possessória, uma vez que o pedido se funda ou no direito de 
propriedade, ou no direito obrigacional de devolução da coisa, 
ou na proteção contra atos judiciais de constrição etc. 
 A ação de imissão na posse era regulada pelo Código de Processo Civil 
de 1939 no art. 381, que dispunha competir tal ação: 
o aos adquirentes de bens, para haverem a respectiva posse, contra os alienantes ou 
terceiros que os detivessem; 
o aos administradores e demais representantes das pessoas jurídicas, para haverem 
dos seus antecessores a entrega dos bens pertencentes à pessoa representada; 
o aos mandatários, para receberem dos antecessores a posse dos bens do mandante. 
 A hipótese mais frequente é a primeira, em que o autor da ação é 
proprietário da coisa, mas não possuidor, por haver recebido do 
alienante só o domínio (jus possidendi), pela escritura, mas não a 
posse. Como nunca teve posse (CPC, art. 927, I), não pode valer-se dos 
interditos possessórios. Porém, quando ocorre a transmissão da posse 
jurídica ao adquirente, não acompanhada da entrega efetiva do imóvel, 
o alienante torna-se esbulhador, ficando o primeiro autorizado a propor 
contra ele ação de reintegração de posse. 
 O atual Código de Processo Civil não tratou da ação de imissão na 
posse. Nem por isso ela deixou de existir, pois poderá ser ajuizada 
sempre que houver uma pretensão à imissão na posse de algum bem. A 
cada pretensão deve existir uma ação que a garanta (CC, art. 189). Nas 
aquisições de bens ocorrem, com frequência, situações que ensejam a 
imissão: o vendedor simplesmente se recusa a entregar o imóvel, ou 
nele reside um terceiro, que não aceita a ocupação. 
 É ação de natureza petitória, pois o autor invoca o jus possidendi, 
pedindo uma posse ainda não entregue. 
 Compete a ação de nunciação de obra nova, segundo dispõe o art. 934 
do Código de Processo Civil: 
o “I — ao proprietário ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra nova em 
imóvel vizinho lhe prejudique o prédio, suas servidões ou fins a que é destinado; 
o II — ao condômino, para impedir que o coproprietário execute alguma obra com prejuízo 
ou alteração da coisa comum; 
o III — ao Município, a fim de impedir que o particular construa em contravenção da lei, 
do regulamento ou de postura”. 
 Tal ação, também chamada de embargo de obra nova, reveste-se de 
caráter possessório pelo fato de poder ser utilizada também pelo 
possuidor. Mas não visa, direta e exclusivamente, à defesa da posse. 
Não existe conflito possessório sobre a mesma coisa, mas, sim, uma 
obra que afeta o uso pacífico de outra coisa. 
 O objetivo da ação em apreço é impedir a continuação da obra que 
prejudique prédio vizinho ou esteja em desacordo com os regulamentos 
administrativos. O seu fundamento encontra-se na preservação ao 
direito dos vizinhos (CC, art. 1.299), bem como nas disposições dos 
arts. 1.300, 1.301 e 1.302, que impõem ao proprietário o dever de 
construir de maneira que o seu prédio não despeje águas, diretamente, 
sobre o prédio vizinho, proibindo-o, ainda, de abrir janelas, ou fazer 
eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e meio do terreno 
vizinho. 
 É pressuposto

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